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“TEORIA DA DEPENDENCIA” OU ANALISES CONCRETAS DE SITUACOES DE DEPENDENCIA? “ FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (*) Texto apresentado no 2." Semindrio Latino- americano para el Desarrollo (promovido pela FLACSO, sob o patrocinio da UNESCO em novem- bro de 1970, Santiago, Chile) para comentar a co- municagtio de F, C. Weffort. “Notas sdbre a teoria da dependéncia: teoria de classe ou ideologia na- cional?” ‘ Nos tltimos anos a insisténcia com que se tem fala- do na América Latina sébre a dependéncia e as confu- sdes em térno do tema sao tantas que a primeira reacgio ‘de quem, de qualquer forma, tem alguma parte de res- | ponsabilidade na proposic¢éo do tema é a de fazer 0 mea ‘culpa. Por outro lado, parece quase inutil entrar numa ' discusséio quando ela j4 assumiu uma conotacéo ideolé- ; gica téo forte que se torna dificil analisar os textos e as ¢ idéias em que se apdia. O mea culpa a que me refiro nao deriva do reconhe- cimento de um equivoco intelectual quanto ao ponto de * partida, mas decorre de que poderia ter sido previsto 0 - efeito de um movimento critico que partia de idéias que rocam a ideologia e que, por isto mesmo, provavelmente terminaria mergulhado nela, E Nos trabalhos que escrevi sébre dependéncia existe = uma dupla intencdo critica. Por um lado — e- éste as- ‘ pecto da critica parece-me que ficou claro, e foi menos combatido — critica-se as andlises do desenvolvimento que abstraem os condicionamentos sociais e politicos do processo econémico e critica-se as concep¢ées evolucio- nistas (das etapas) e funcionalistas (especialmente a teoria da modernizacio) do desenvolvimento. A critica se faz mostrando-se que o desenvolvimento que ocorre é capitalista e que n&o pode desligar-se do processo de expansio do sistema capitalista internacional e das con- digdes politicas em que éste opera. Por outro lado, a : ‘.eritica se orienta para mostrar — o que é 6bvio, mas . fas andlises fica muitas vézes relegado a segundo. plano — que a andlise “estrutural” dos processos de formacéio do sistema capitalista s6 tem sentido quando referida histdricamente. Que quer dizer isto? Quer dizer, basicamente, que as estruturas condi- clonantes s&o o resultado da relac&o de fércas entre clas- at ses socials que se enfrentam de forma especifica em funcéo de modos determinados de producéo. Trata-se, portanto, de valorizar um estilo de andlise que apanha os processos sociais num nivel concreto. Ora, a partir déste momento, a critica nao se orien- ta apenas contra “a direita”, mas também contra seto- res, em geral preponderantes, da esquerda intelectual. Tedricamente é insatisfatorio substituir as andlises ins- piradas na “teoria do desenvolvimento” por outras tan- tas que insistem, de forma geral e indeterminada, em que © processo do desenvolvimento capitalista se di em pro- veito da burguesia e de que nas condicées da América Latina e do desenvolvimento do capitalismo internacio- nal éle é uma expresso do imperalismo. Dai a idéia, simples e, parece-me, clara, de que a utilizag&io da nog&o de dependéncia sé ganha sentido e é de proveito quando pde em evidéncia que: “el concepto de dependencia (...) pretende otorgar signi- ficado a una serie de hechos y situaciones que aparecen conjuntamente en un momento dado y se busca establecer por su intermedio las relaciones que hacen inteligibles las situacio- nes empiricas en funcién del modo de conexién entre los componentes estructurales internos y externos, Pero lo exter- "no, em esa perspectiva, se expresa también como un modo particular de relacién entre grupos y clases sociales en el ambito de las naciones subdesarrolladas” (7). P&ginas adiante no mesmo livro se explicita mais ainda que o conceito de dependéncia serd utilizado como ‘uum tipo de concepto “casual-significante” — implica- ciones determinadas por un modo de relacién histérica- mente dado — y no como concepto meramente mecdnico- causal, que subraya la determinacién externa, anterior, para luego producir consecuencias internas” (2). Com o conceito de dependéncia, buscava-se revalo- rizar, portanto, dois aspectos de significacéo metodolé- gica precisa: (1) Carooso, F. H. e Pareto, E. — Dependencia y desarrollo en América Latina. México, Siglo XXI. 1969, pag. 19-20. (2) Idem — op. cit. pag. 20. a8 a) as andlises do processo histérico de constitul- co da periferia da ordem capitalista interna- cional devem explicar a dinamica da relagéo entre as classes sociais no nivel interno das nagées (no caso das situacées de dependéncia mantidas a partir da existéncia de Estados Nacionais). b) os condicionantes externos, isto 6, o modo de produco capitalista internacional, “o Impe- rialismo”, o mercado externo etc. (ou seja, tanto os aspectos econdémicos como os politicos do capitalismo), reaparecem inscritos estrutural- mente tanto na articulacéo da economia, das classes e do Estado com as economias centrais e com as poténcias dominantes, como na ar- ticulagéo dessas mesmas classes e no tipo de organizagaéo econédmica e politica que prevalece no interior de cada situacéo de dependéncia. i Assim, a noc&o de dependéncia (3) é apresentada para pér énfase em um tipo de andlise que recupera a : significacéo politica dos processos econémicos e que con- tra a vagueza das andlises pseudo-marxistas que véem : no imperialismo uma enteléquia que condiciona apenas } do exterior o processo histérico dos paises dependentes, : Insiste na possibilidade de explicar os processos sociais, politicos e econémicos a partir das situacdes concretas e particulares em que éles se dao nas situacées de » dependéncia. B Evidentemente, néo ha qualquer proveito, a partir 4 dai, em substituir simplesmente ‘“o Imperialismo” por a (3) Por isto, ndo se postula, como adiante se reafirmar4, 0 con- celta de dependéncia como “totalizante": “Sin embargo, no seria suficiente ni correcto proponear Ia sustitucién de los conceptos de desarrollo y subde- sarrollo por los de economia central y economia periférica 9 — como se fuesem una sintesis de ambos — por los de economias auténomas y econo- mias dependientes. De hecho, son distintas tanto las dimensiones a que estos conceptos se refieren como su significacién teérica. La nocién de dependéncia alude directamente a las condiciones de existencia y funcio- namiento del sistema econémico y del sistema politico, mostrando las vin- culaciones entre ambos, tanto en Jo que se refiere al plano interno de los ee como al externo”, — (Carnoso, F. H. y Faretro, E. — op. cit., p. 24). 29 outra enteléquia, “a Dependéncia”.. Nao foi isso que se féz no ensaio referido acima, nem em trabalho pos- terior que escrevi sébre a ideologia da burguesia in- dustrial em paises dependentes, A utilidade e a significacgio teérica da nocéio de dependéncia, tal como a concebemos, reside precisamente no contrario: na recuperagéo a nivel concreto, isto é, permeado pelas mediacées politicas (inclusive o Estado Nacional) e sociais (de acérdo com a formacao histé- rica das classes sociais em cada situacéo de dependén- cia), da pugna de interésses por intermédio da qual se vai impondo 0 capitalismo ou a éle se véo opondo férgas sociais por éle mesmo criadas. Est4 claro que o suposto tedrico mais geral que torna possivel éste enfoque 6 o de que nfo existe a distingéo metafisica entre os condicionantes externos e os internos. Noutros térmos: a dinfmica interna dos paises dependentes é um aspecto particular da dinamica mais geral do mundo capitalista. Porém, essa “dinamica geral”, nao é um fator abstrato que produz efeitos con- cretos; ela existe por intermédio tanto dos modos sin- gularizados de sua expressio na “periferia do sistema”, como pela maneira como o capitalismo internacional se articula. Essa “unidade dialética” 6 que leva a recusar a distincéo metafisica (isto 6, que supde uma separacio estatica) entre fatéres externos e efeitos internos, e por consegiiéncia leva a recusar todo tipo de andlise da de- pendéncia que se baseia nesta perspectiva. Quer isto dizer que nao existem “fatéres externos”, ou que, por exemplo, a forma que a produc&o capitalista adota nos centros industrializados nao “afeta” a perife- ria? Obviamente nfo. Quer dizer, simplesmente, que as mudancas ocorridas “no centro” séo concomitantes, estdo relacionadas e encontram expresséo concreta em outras tantas mudancas na periferia. Assim, por exem- plo, se o “conglomerado multi-nacional”’ passa a preva- lecer como forma de organizacio da producio, éle pro- voca uma reorganizagéio da diviséo internacional do tra- balho e leva & rearticulacio das economias periféricas e do sistema de aliancas e de antagonismos entre as classes nos dois niveis, interno e externo. Entretanto, a “ex- 80 io concreta” que o modo capitalista de producgfo encontrar nas dreas dependentes nfo é “automética”: nderA dos interésses locais, das classes, do Estado, los recursos naturais etc. e da forma como éles se foram constituindo e articulando histdricamente. Nisto reside talvez a vantagem fundamental da uti- lizacdo da perspectiva da dependéncia nas andlises: des- loca-se a explicagéo de um plano simplista do condi- cionante externo sébre o interno para uma concepcéo fF mais integrada do relacionamento das partes que com- poem o sistema capitalista internacional. Substitui-se :.um estilo de andlise baseado em determinacées gerais e abstratas (que insistem no Imperialismo, na Luta de - Classes, na Burguesia e na Revolucéo como conceitos * gerais ou, no melhor dos casos, como contradicées in- determinadas) por outro que procura situar concreta- ; mente cada momento significativo de modificagio da producgao capitalista internacional, mostrando como se d& a rearticulagaéo das classes sociais, da economia e do Estado em situacgdes particulares. Ao deslocar dessa + forma o nucleo das explicagdes do processo histérico, assegura-Se, ao mesmo tempo, a possibilidade de encon- trar vias distintas de rearticulacfo de uma situacio de dependéncia para outra, de um periodo para outro. Em resumo, acelta-se que existe uma “histéria” — e portan- & uma dindmica, prépria de cada situagio de depen- ncia. Esté claro que seria ingénuo pretender transformar a@ nocéo de dependéncia num conceito totalizante. A referéncia feita por Weffort seria correta se correspon- Cesse a autores distintos dos que alude: “em dadas condig6es sociais e politicas internas (que s6 po- dem ser resolvidas por uma andlise de classe), os grupos que detém a hegemonia, ou seja, que dao conteddo a idéia de Nag&o, podem usar a autonomia politica para a inte- grado econdémica. Noutras palavras, nao creio que este- jamos autorizados, por uma referéncia a Nag&o, a precisar a. dependéncia como conceito totalizante que nos daria o principio do entendimento da sociedade como conjunto” (Werrort, F, C, — Notas sobre a “Teoria da dependén- » $1 E ; ; cia”: teoria de classes ou ideologia nacional?”, pag. 10. (*) (**)- Eu, tampouco, creio nisso. A nocéo de dependéncia, tedricamente, no pode fazer mais do que assinalei nas paginas anteriores. Até por um entendimento semantico, quem depende, depende de algo; esta condicionado, nao é condicionante. Pre- tender elevar a nocéo de dependéncia 4 categoria de conceito totalizante 6 um non sens. E, rigorosamente nao é possivel pensar numa “teoria da dependéncia”. Pode haver uma teoria do capitalismo e das classes, mas a dependéncia, tal como a caracterizamos, néo é mais do que a expressao politica, na periferia, do modo de produc&o capitalista quando éste é levado A expansio internacional. Entretanto, Weffort em sua critica — apesar de haver chamado a atencio para implicacdes teédricas im- portantes das andlises de dependéncia — caiu numa es- pécie de armadilha: voltou atrés, do mesmo modo como Kautsky deu um passo atrés nas analises do social- -liberal Hobson sébre o imperialismo, como disse Lenin. Assim, voltou a conceber estaticamente a relacio inter- no/externo e a recorrer a uma dialética abstrata de contradicdes gerais e indeterminadas. No 4mago da critica esté a idéia de que a ambi- giiidade do canceito de dependéncia, que ora se refere a “dependéncia externa”, ora A relaco estrutural ex- pipe interno, decorre em qualquer das duas acepgdes que: “ela oscila, irremediavelmente do ponto de vista teérico, entre um approach nacional e um approach de classe. No primeiro, o conceito de Nac&o opera como uma premis- sa de téda a andlise posterior das classes e relacées de (*) Na versio publicada neste Boletim, Weffort modificou a re- dacfio, sem alterar, contudo, o fundamental. Substituiu a frase final pela seguinte: “Em realidade, nfo creio que a referéncia ao Estado-Na¢so seja premissa segura para a caracterizagéo de um conceito que nos daria © principio do entendimento da sociedade como conjunto” (pag. 9). (**) Ao longo déste trabalho, as citagSes literais e as paginas as quais remeto o leitor se referem ao texto original de Werrort, apre- sentado ao Semindrio da Flacso. $2 produg&o; ou seja, a atribuicko de um cardter nacional (eal, possivel e desejdvel) & economia ¢ & estrutura de classes Joga um papel decisivo na andlise. No segundo, pretende-se que a dindmica das relagSes de produgio e das relacSes de classe determine, em iiltima instancia, o carater (real) do problema nacional” (Weffort, F. C. — op. cit., pag. 7). - Weffort atribui o primeiro approach aos “tedricos do desenvolvimento” e o segundo aos “teédricos da de- ependéncia”. Mas acrescenta que éstes “tendem para o “segundo approach mas partem do primeiro e tratam de = critica-lo”, Weffort cré que o advérbio de sua frase sébre o conceito de dependéncia, que oscila irremediavelmente ; entre a classe e a Nac&o, revela uma disjuntiva tedrica - da qual nfo escapamos, Faletto e eu. “A pergunta que se poderia colocar para os autores é 3 seguinte: trata-se de uma contradig&o real ou de ambigitidade do conceito que pretende definir uma perspectiva totali- zante a partir da idéia de Nagto? Concordo em que a -existéncia de paises (NacSes) econdémicamente dependen- tes e€ politicamente independentes constitui uma “problematica sociolégica” importante. Mas tenho minhas dividas de que a reprodugo do problema no plano do conceito ajude a resolvé-lo” (Weffort, F.C. ~ op. cit. Pag. 9). Minha resposta é: trata-se de uma contradicéo real, e em nenhuma hipétese, da definigaio de uma perspectiva tedrica totalizante. Em nossas analises quisemos evitar essa espécie de dialética formal, que vé na histéria o desdobramento de contradicées univocas. Substituimos éste tipo de dialética pelo que, na linguagem da moda, se diaria uma concepcio das contradigdes como “complexamente — estruturalmente — desigualmente determinadas” ou “sobredeterminadas”. Por isto, insistimos em que a con- tradicgo entre as classes nas situacdes de dependéncia inclui contradigdes especificas entre a Nac&o (o Estado), e o Imperialismo e entre os interésses locais das classes dominantes e seu carater internacionalizante. N&o se reproduz um problema no conceito, mas se constitui o conceito de dependéncia saturado histérica- 83 mente das contradigdes particulares que lhe d&o sentido, em sua relacdo com as contradigées gerais (isto é, com as que derivam da expanséo do modo de producfo ca- pitalista internacional) numa combinacéo determinada, concreta. Este procedimento é simplesmente ortodoxo, sempre e quando nao se caia no equivoco de pensar que © conceito de dependéncia é totalizante (como o de mais-valia ou de modo de producdo) ou que esta defi- nido no campo tedrico como parte categorial do modo de producio. Tedricamente, o conceito de dependéncia é “reflexo”, isto 6, decorre da instauracfio de um modo * de producdo que supde a acumulacéo por meio de mo- nopdlios e da reparti¢éo do mundo entre nacgées impe- rialistas, como diria Lenin, Seré explicado por con- ceitos que constituem a teoria do capitalismo na fase imperialista, nio explicara — dbviamente — o Imperia- lismo. Quando, entretanto, o conceito de dependéncia se refere 4s formacdes sociais — como no caso de nosso ensaio — o procedimento adequado para constitui-lo ted- ricamente é o de reter conceptualmente as contradicées que éle quer expressar. Noutros térmos, com a nocéo de dependéncia, nao se pode (nem se desejou) substituir a andlise de classes pela de nacdes, mas a disjuntiva nado é correta porque alude a conceitos cujo estatuto tedrico é desigual. Pre- cisamente o que se pretendeu foi mostrar que concre- tamente, isto é, sem apelar para as contradicdes gerais e indeterminadas das idéias abstratas de classe, Nagao, Estado ou Imperialismo, a contradic&éo entre as classes, nos paises dependentes, passa por uma contradigfo na- cional e se insere no contexto mais geral de uma contra- dic&o de classes no plano internacional e pelas contradi- cdes que derivam da existéncia de Estados Nacionais. A solucgéo que Weffort apresenta para o problema da oposicéo classe-Nacdo (*) nado se sustenta porque parte de varios enganos: nem a Nagao foi por nds con- cebida como principio tedérico explicativo, nem se colo- (*) “Na minha opini§o, a ambiguidade Classe-Nacfo presente na “teoria da dependéncia” deverd resolver-se em térmos de uma perspectiva de classe, para a qual nem existe uma “questdo nacional” em geral (ou a dependéncia em geral) no sistema capitalista, nem a Nacdo € concebida como um principio teérico explicativo” (WerrorT, F. C., op., cit., pag. 8) Sf qualquer questéo nacional ou de dependéncia em ral. Por outro lado, a referéncia a uma “perspectiva ide classe’, de modo indeterminado .como faz Weffort, é insuficiente para uma andalise social concreta. Ao contrario, no ensaio criticado, aceitou-se como ‘contradicfo sobredeterminante a producdo capitalista ‘internacional. Apesar disso, se algum progresso houve ‘na andlise da dependéncia foi a de se haver particula- rizado situagdes de dependéncia, constituidas sempre con- siderando-se simultaneamente a relacéo interno/externo: F economias de enclave, produtores e exportadores nacio- : nais, internacionalizacéo do mercado, por um lado, e, por outro, capitalismo competitivo, capitalismo monopdlico. Entretanto, outra vez aqui essas determinagdes nao fo- ram tomadas sob forma geral, mas, ao contrario, se- ; gundo o modo como se foram constituindo em cada pais. 5 Assim, mesmo a idéia de “capitalismo monopélico” nao foi tomada como um “abre-te Sézamo”, mas foi rede- : finida segundo o modo como éle se organizou nos | paises hegeménicos (Inglaterra, EUA) e segundo o tipo particular de organizacéo capitalista (predominio fi- nanceiro, industrial, industrial/financeiro). Nao se dei- xou de considerar, inclusive as mudancas ocasionadas no nivel puramente organizatério das emprésas, como, por exemplo, formacaéo dos conglomerados. Tanto a Nac&o nfo foi concebida como um princi- pio explicativo, que na terceira situacaéo fundamental de dependéncia aludida no ensaio criticado, o traco carac- teristico é o de internacionalizacio, Entretanto, isto foi erréneamente visto por Weffort em térmos de que “os autores estiveram no limite de abandonar a idéia de Nac&o como premissa teérica e passar, de forma radical, @ uma perspectiva informada, sem ambigiiidade, nas re- lagdes de producdo e nas relagdes de classe”. Nao seria possivel abandonar o que nao se assumira. Como o que nos interessava era a caracterizacéo de situacdes con- cretas de dependéncia, insistiu-se em que a Nacio e o Estado Nacional, de fato, como objeto de estudo’e nao como perspectiva de analise, perderam o significado an- terior. Como conceito, entretanto, a dependéncia, mesmo na situagéo de internacionalizagéo do mercado, na me- dida em que busca caracterizar as relacdes entre clas- 35 ses concretamente situadas, precisa captar o tipo de contradicéo que subsiste entre 0 modo de produgfo pre- valecente, as classes sociais e a organizagao politica, inclusive a Nacéo e o Estado Nacional. E foi isso que se féz, brevemente, nas Ultimas pa- ginas do livro. Em térmos teérico-metodolégicos seria uma volta atr4és, num ensaio que caracteriza situacées de dependéncia, insistir apenas nas contradicées gerais entre relagdes de producéo e relacdes de classe, como pretende Weffort, sem mostrar que elas se articulam, ainda hoje, através do Estado e da Nacdo. Nao se iria além de petigdes de principio e de uma dialética ao nivel da oposicio abstrata entre conceitos, se deixasse- mos de caracterizar precisamente a “ambigiiidade” da situacgéo, sempre e quando se entenda, como o fizemos, que neste caso essa ambigiiidade nada mais 6 do que a forma como a contradicfo aparece, ao nivel da percepgio dos agentes. Uma anilise dialética que nao marcasse as ambigiiidades e que passasse sem mediagdes das re- lacdes de producdo as relacées de classe nfo seria uma analise concreta de movimentos sociais estrutura]-histori- _ camente condicionados, que foi o que pretendemos fazer. Nessa mesma ordem de idéias, tao pouco tem sen- tido contrapor as analises das situagdes de dependéncia com a andlise de Marx sébre o modo capitalista de pro- ducéo. De um lado porque aquelas se referem a for- macées sociais e Marx, ao analisar situagdes concretas, dbviamente nao descurou de considerar os Estados e as NacGées. Por outro lado, o problema nao esté em que Marx tenha escolhido a Inglaterra como exemplo para a investigacdo teérica “das leis gerais do sistema capi- talista, concebido como universal” (sic), como escreveu Weffort, mas sim em que no modo de producéo capita- lista analisado por Marx, 0 suposto era o da livre con- corréncia e nao a produgéo monopdélica e menos ainda o da expanséo imperialista. Seria incrivel supor hoje que a andlise néo devesse considerar os monopdélios, o im- perialismo e, como decorréncia, a dependéncia.., Quanto as teorias da transic&o politica e os equivo- cos na consideragéo dos modelos classicos, francamente, nao conheco quem, inspirado em andlises de dependéncia tenha pensado em transformar a burguesia nacional no 86 “ator privilegiado”. Parece-me, pelo contrério, que fo- ram os autores que sustentaram a importdncia da and- se da dependéncia os que mais criticaram essas analo- gias e os que mais insistiram na internacionalizacaéo das burguesias nos paises dependentes. Ainda uma vez, a critica aqui se endereca a uma idéia que Weffort atri- bul aos analistas da dependéncia — a de que para éles a Nacdo é o verdadeiro conceito explicativo — mas que nao encontra apoio no pensamento e no contexto da obra désses autores. Antes parece ser uma preocupacio — f legitima como problema — do préprio Weffort, que per- £ cebe a importancia da Nacdo como instancia mediadora. Tanto é assim que estou de acérdo com Weffort quando afirma que: “B ao nivel geral, supranacional, ao nivel das relagées de producgfo, que a questdo das possibilidades de desenvolvi- mento do capitalismo na América Latina deve ser colocada, do mesmo modo que é a éste nivel que seria possivel tentar encontrar algum lugar tedrico definido para uma “teoria de dependéncia”. Ou seja, é a éste nivel que a “teoria de de- pendéncia” pode aparecer como teoria explicativa e onde também se pode obter alguma sugest4o para entender sua incapacidade de ir além das premissas nacionais. Por mais que se fale em dependencia interna é inevitdvel voltar 4 ques- t&o de dependéncia externa. Em outras palavras, a “teoria da dependéncia” parece girar em térno de algum tipo de teoria do imperialismo; a questdo é de saber de que tipo de teoria” (Werrort, P. C. ~ op. cit., pag. 15 (*). Entretanto, a questéo nfo é saber a que teoria do imperialismo se liga a idéia de dependéncia, mas sim a de reelaborar a teoria do imperialismo, de modo a mostrar como se d& a acumulacao de capitais quando se indus- (*) Cito baseando-me na verso original. A que se apresenta neste Boletim (cif. pag. 14) altera apenas uma referéncia: a de que & no nivel das relacSes de producSo que se deve encontrar o lugar tedérico para o “problema nacional", Parece-me, novamente, uma simplificagao de quem pensa numa dialética sem mediac6es, urdida na tela de contradi¢6es inde- terminadas. A outra diferenca entre as duas versdes € que na atual se faz referencia a uma teoria socialista e a outra “pequeno-burguesa ra- dical". No acredito que a adjetivagao substitua o rigor e o vigor da demonstragfo. 87 trializa a periferia do sistema capitalista internacional. Eu concordo com Weffort nas criticas a Baran e 4 nocéo de excedente. Nao concordo, todavia, com a maneira simplista como resolve o confronto entre a “teoria da dependéncia” e a teoria do imperialismo. Por varias razées. A primeira é a de que nao existe uma teoria da dependéncia independentemente da teoria do imperialis- mo. O confronto é artificioso. As situacGes de depen- déncia decorrem da existéncia de algum tipo de expansao de capitalismo. Isto foi enfatizado sempre pelos autores citados por Weffort. A segunda é que Lenin, como indica Weffort, estava interessado na elaboracéo de uma expli- cacao econémica (pois, como afirma no prdlogo As edic6es francesa e alema de 1920, a censura tzarista o obrigou a concentrar-se na analise econémica e a referir de modo menos direto as implicagées politicas do tema), ligada a problemas referentes aos paises imperialistas (Weffort, F.C. — op. cit., pag. 19). Mas aqui é preciso notar que Lenin nao estava preocupado apenas com as duas questdes referidas por Weffort — a da aristocracia operdria e a da inevitabilidade da guerra — mas, principalmente, com o névo papel do capital financeiro e com a repartigaio do mundo entre as associagées de capitalistas e entre as grandes poténcias, literalmente. Assim, como o foco de Lenin era a andlise das po- téncias imperialistas, e das economias monopolistas, nado teria que se referir, continuamente, aos paises dependen- tes, mas aos paises imperialistas, Como sublinhou o pré- prio Weffort (contrariamente 4 sua argumentacéo), os paises — e os Estados Nacionais — constituem neste tipo de enfoque unidade de andlise indispensdvel e, de fato, o foram no texto de Lenin. Seu problema era o de mostrar que “el paso del capitalismo a Ja fase de capitalismo mo- nopolista, al capital financiero, se halla relacionado con la exacerbacién de las luchas por el reparto del mun- do” (4) e que estas eram lutas entre Estados Nacio- nais, entre poténcia imperialistas, (4) Lenin, V. 1. — El imperialismo: fase superior del capitalismo. Buenos Aires, Lautaro, 1946, pag. 103. 38 inmanengenaert Entretanto, Lenin se refere também 4 constituic&io F de situagdes de dependéncia, em térmos que nao dife- rem dos sustentados por Faletto e por mim (5): “Puesto que hablamos de la politica colonial de la época del imperialismo capitalista, es necesario hacer notar que el capital financiero y la politica internacional correspon- diente, la cual se reduce a la lucha de las grandes poten- cias por el reparto econdmico y politico del mundo, crean una serie de formas de fransicién de dependencia nacional. Para esta época son tipicos no sdlo los dos grupos fun- damentales de paises que poseen colonias, y as colonias, sino también las formas variadas de Estados dependientes, politicamente independentes, desde un punto de visto formal, pero, en realidad, envueltos por la red de la dependencia diplomatica y financiera. Una de estas formas, la semi- colonia, la hemos indicado ya antes, Como modelo de la segunda citaremos, por ejemplo, la Argentina. “La América del Sur, pero sobre todo la Argentina — dice Schulze-Gaevernitz en su obra sobre el imperialismo bri- ténico —, se halla en una situacién tal de dependencia fi- nanciera con respecto a Londres, que se la puede casi ca- lificar de colonia comercial inglesa”. Seguin Schilder, los capitales invertidos por Inglaterra en la Argentina, de acuerdo con los datos suministrados por el cénsul austrohingaro en Buenos Aires, fueron, en 1909, de 8,75 mil millones de francos. No es dificil imaginarse qué fuerte lazo se establece entre el capital financiero (y su fiel “amigo”, la diplomacia) de Inglaterra y Ja burguesia argentina y los sectores dirigentes de toda su vida econd- mica y politica” (Lenin, V. I. — op. cit, p. 113). , portanto, superficial a caracterizagéo do pensa- mento de Lenin feita por Weffort: “O imperialismo nao se define (para Lenin) a partir de uma premissa politica (a Nagéo) mas como uma fase par- ticular do desenvolvimento capitalista, ou seja,. a partir (5) Note-se que em outras obras Lenin e Trorsky, enfrentaram © problema de caracterizar a situagdo da Russia em que haveria, ao mesmo tempo, uma dependéncia, principalmente com relagéo a Franca, e 0 desenvolvimento de uma base industrial-capitalista. Mas mesmo no estudo sdbre o Imperialismo, fase superior do capitalismo, LENIN ca- 89 das relagSes de produco, com o aparecimento dos mono- polios e a fusfo do capital bancdrio com o industrial” . (Weffort, F. C. — op cit., p. 19). No. Lenin nfo tinha um pensamento economicista, nem deixava de ver as mediacdes politicas como parte inseparaével do “todo” estruturado que éle queria ex- plicar. Ligava sempre a fase particular da acumulacdo capitalista na etapa financeiro-monopolista com a repar- ticéo do mundo entre poténcias imperialistas e com os efeitos dessa sébre os paises coloniais e os dependentes. Cito, ainda uma vez, dentre os muitos textos disponiveis, em abono do que afirmo: “Si fuera necesario dar una definicién lo mds breve po- sible del imperialismo, deberia decirse que el imperialismo es la fase monopolista del capitalismo. Una defin'cién tal compreenderia lo principal, pues, por una parte, el capital financiero es el caital bancario de algunos grandes bancos monopolistas fundido con el capital de los grupos mono- polistas de industriales y, por otra, el reparto del mundo es el transito de la politica colonial, que se expandia sin obstéculos en las regiones todavia no apropiadas por ninguna potencia capitalista, a la politica colonial de do- minacién monopolista de los territérios del globo, entera- mente repartido” (Lenin, V. 1. — op. cit. p. 117). Por fim, nesta “confrontacéo” entre a teoria leni- nista do imperialismo e as andlises da dependéncia, um Ultimo debate. Weffort afirma que a nocao de depen- déncia tem sido concebida como “super-inclusiva” e que Lenin se refere ao imperialismo como uma etapa par- ticular, historicamente situada, do capitalismo. E certo que em alguns textos de autores que trata- ram do tema existe essa referéncia abrangente e a — his- racteriza, partir do Angulo oposto (isto é, do processo visto a partir “do centro”), a relagio externa/interna de modo semelhante a que se féz: “los grupos monopolistas capitalistas — cartels, sindicatos, trusts — se reparten entre si, en primer lugar, el mercado interior, apoderéndose de un modo mds o menos completo, de la produccién del pais. Pero bajo el capitalismo, el mercado interior est4 inevitablemente enlazado con el exterior. El capitalismo ha creado desde hace ya mucho tiempo el mercado mundial” (Len, V. I. — op. cit., p. 89). 40 térica, ao conceito de dependéncia. Eu nao as subscrevo. Né&o é correto, entretanto, afirmar que no ensaio de Faletto e meu, ocorra isso. Como ja disse, se alguma vantagem tedrico-metodolégica existe na andalise que fi- zemos das situacées de dependéncia, essa parece-me ter sido a de caminhar no sentido de maior concreticidade. Nao falamos da dependéncia em geral, mas de situagdes de ia. Dependéncia na fase de constituigéo do Estado Nacional e de formagéo de uma burguesia ex- portadora, dependéncia na situagféo de enclave e depen- déncia na etapa de internacionalizacéo do mercado na fase de formacéo de economias industriais periféricas. ~ Subdividimos ainda mais estas “fases’, mostrando que nao constituem etapas, mas formagées sociais especifi- cas que supdem, as vézes, arranjos particulares que con- tém a existéncia das trés situacdes, embora sempre es- truturadas de forma sobredeterminada. E certo que nos referimos 4 dependéncia num pe- riodo anterior 4 plena constituicio do sistema monopé- lico-imperialista, quando falamos da primeira das trés situagdes de dependéncia aqui mencionadas. A razfo para isto é curial e se encontra no préprio Lenin. Cito extensamente ainda uma vez: “Lo que caracterizaba al viejo capitalismo, en el cual do- minaba plenamente la libre concurrencia, era a la exportacién de mercancias. Lo que caracteriza al capitalismo moderno, en el que impera el monopolio, es la exportacién de capital. E) capitalismo es la produccién de mercancias en el grado més elevado de su desarrollo, cuando incluso la mano de obra se convierte en mercancia. El incremento del cambio tanto en el interior del pais como, muy particularmente, en el terreno internacional, es el rasgo distintivo caracteristico del capitalismo. El desarrollo desigual, a saltos, de las dis- tintas empresas y ramas de la industria, en los distintos paises, es inevitable bajo el capitalismo. Inglaterra se con- virtiéd en pais capitalista antes que otros, y hacia mediados del siglo XIX, al introducir la libertad de comercio, pre- tendié ser el “taller de todo el mundo”, el abastecedor de articulos manufacturados para todos los paises, los cuales debian suministrarle, a cambio de ello, materias primas. Pero este monopolio de Inglaterra se vié quebran- tado ya en el tiltimo cuarto del siglo XIX, pues otros varios 4 paises defendiéndose por medio de aranceles “proteccionis- tas”, se habian convertido en Estados capitalistas indepen- dientes. En e! umbral del siglo XX asistimos a la forma- ciém de monopolios de otro género: primero, uniones mono- polistas de capitalistas en todos los paises de capitalismo desarrollado; segundo, preponderancia monopolista de al- gunos paises ricos, en Jos cuales Ja acumulacién de capital habia alcanzado proporciones gigantescas. Surgié un enor- me “exceso de capital” en los paises avanzados” (Lenin, V. I. — op. cit. p. 81-82). A dependéncia compativel com a formacéo de pro- dutores nacionais, é portanto, anterior ao desenvolvi- mento do imperialismo monopolista exportador de ca- pitais. E foi nestes precisos térmos que a caracteriza- mos para o caso da América Latina. Como o “traco distintivo caracteristico do capitalismo” (note-se, nio de sua fase imperialista, apenas) é o incremento do co- mércio interno e externo (coisa arquiconhecida), quando essas relacdes de troca se fazem no Ambito de um co. mércio entre nagées, elas levam a um tipo particular de dependéncia, como foi o caso da América Latina no século XIX, até ao periodo da “enclavizacéo”. Este ultimo, sem “abolir” as contradigdes préprias da forma anterior de dependéncia, agregou novos e particulares tragos distintivos, agora sim, da fase imperialista. Por fim, convém deixar claro que a teoria leninista do imperialismo é insuficiente para explicar 0 que ocorre nas situacdes contemporaneas de dependéncia que se déo em paises cuja industrializagdo se faz sob contréle do capital financeiro internacional, Deixando de lado a discusséo talmidica (6) a que fomos levados para evitar incompreensdes, convém su- blinhar que ao analisar o névo cardter da dependéncia (e neste ponto as contribuicées de Teoténio dos Santos e de seu grupo sfo significativas), o que fizemos foi (6) Sem deixar, naturalmente, de fazer referéncias criticas a alguns erros de Lenin, como por exemplo sua consideragio sébre que “todo monopolio, engedra inevitablemente una tendencia al estancamiento y a la descomposicién” (Lenin, V. 1. — op. cit., p. 131) Le Neste passo, ScHuMpeTER e GALBRAITH ensinam mais do que NIN. 42 mostrar que a divisio do mundo ja nfo se realiza mais, - como na época de Lenin, por uma anexac&o de territé6- rlos e pelo contréle politico-econdmico de areas, para garantir o dominio sébre as fontes de matérias-primas apenas. Em Lenin, esta era a idéia predominante, que se repete sempre. Na caracterizacdo final sébre os qua- . tro aspectos principais tipicos do periodo de que se ocupa- va, Lenin faz referéncias diretas em duas delas, a essa earacteristica essencial do imperialismo. O primeiro as- pecto do imperialismo é, naturalmente, o da monopoliza- cao como conseqiiéncia da concentragéo da producao. Mas o segundo é que: “los monopolios han determinado una tendencia cada dia mds acentuada a apoderarse de las mds importantes fuentes de materias primas, particularmente para Ja industria fun- damental y més cartelizada de la sociedad capitalista: la hullera y la siderirgica” (Lenin, V. 1. — op. cit. p. 163). A terceira caracteristica 6 a de que os monopdlios surgiram dos bancos; ja a quarta, outra vez, 6 a de que os monopdlios nascem da politica colonial, mas que o capital financeiro, na luta pela reparticaéo do mundo, “ha afiadido la lucha por las fuentes de materias-pri- mas, por la exportacién de capital, por las “esferas de influencia”, esto es, las esferas apropriadas para realizar transaciones lucrativas, concesiones, beneficios monopo- listas etc., finalmente, por el territorio econédmico en general” (Lenin, V. I. — op. cit., pags. 163-164). A época histérica que vivemos é outra. Procurou-se caracterizar os efeitos da forma atual de organizacéo e de contréle econémico imperialista sdbre os paises de- Fendentes por intermédio da idéia de internacionaliza- cao do mercado interno e de formacio de uma econo- mia industrial controlada pelo capital financeiro mono- pélico nas situacdes em que as economias industriais dependentes encontram seu mercado nos préprios paises dependentes. Para isto, a “teoria do imperialismo”, tal como se encontra formulada por Lenin, nao é suficiente. As aliancas politicas, a estrutura das classes, as contra- 43 digdes particulares e sua exarcebacéo (7), assumem ou- tras formas. F preciso ter imaginac&o para suscitar as davidas pertinentes a esta nova situacéo e férca teérica para explicd-las como uma situacdo particular de depen- déncia, ligada sempre & forma que a acumulacio e a exportagéo de capitais adotam na economia capitalista internacional. Foi o que se tentou fazer, correndo naturalmente os riscos da incompreensio e do érro. Nao se quis, porém, fazer uma “teoria da dependéncia” apelando a uma nogao totalizadora de dependéncia. Em qualquer caso, entretanto, nfo seria correto subs- tituir o que se féz, ou seja, a andlise dialética de si- twagdes concretas de dependéncia por uma teoria formal das classes que no as situe num contexto no qual o im- perialismo e a dependéncia que lhe corresponde (isto 6, a existéncia de poténcias dominantes e nacdes domina- das) sao referéncia obrigatéria para a andlise das clas- ses. Pensar que com esta substituicao se agrega algo a “uma teoria socialista da revolugéo na América Lati- na” (Weffort, F. C. — op. cit., pg. 20 (*)) quando, como no caso, a intencéo nao é demagoégica, constitui um equivoco que se origina de uma interpretacéo for- malista do que seja a dialética marxista. Para dar passos 4 frente o que é necessério é ir mais longe na andlise das situacées de dependéncia no sentido de ver, em situacdes concretas, como se movem as fércas sociais que podem negar, isto é, superar a condicéo atual da dependéncia. Neste sentido, o ensaio criticado deixa muito a desejar, pois, apesar de sua intencéo, pouco acrescentou — além de uma _ pers- pectiva e de algumas indicagdes de cunho estrutural — ao conhecimento de situacdes particulares capazes de revelar os limites da “reproducao” da situacio de domi- nacgao de classe em paises dependentes. (7) Lenn tinha sempre presente a “correlacfo entre o imperialismo ¢ a intensificacio da opressdo nacional”, e o fato de que o “imperialismo conduz as anexages, & intensificagio da opressdo nacional, e, por con- seguinte, também a exarbacdo das contradicSes” (Lenin, V. I. — op. cit. p. 160-161. (*) Frase suprimida por Werrort na presente versio de sua comunicagfo. 44 EB nesta direco, creto, que se encontra a critica mais legitima ao esférgo feito e para ela deve caminhar - quem estiver interessado, néo em fazer uma “teoria socia- ’ lista” da revolugéo, mas em elaborar uma teoria que permita orientar a pratica, se fér 0 caso, de uma revo- jugdo socialista, ou que permita mostrar as situacdes nas quais tal tipo de revolucao se transforma mais num ‘ anseio enraizado em ideologias do que num caminho socialmente viavel. 45

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