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Resumo
Este artigo objetiva repensar a discussão sobre a ética nas boas práticas de Governança
Corporativa, sob o enfoque das diversas correntes do pensamento filosófico. Considerando
questões como a distinção entre Moral e Ética; examinando o conceito de Bem Comum; discutindo
os papéis reservados às empresas; refletindo sobre a relação entre respeito e ética; e tentando
aclarar, para nós mesmos, os valores que determinam os reais interesses da gestão de uma
empresa, concluir pela necessidade do redimensionamento da Ética, em virtude das indiscutíveis
vantagens, para todos, da vida lastreada no respeito ao bem comum, na responsabilidade social,
no diálogo e na participação da empresa nas questões sociais.
Introdução
A Ética nas organizações vem merecendo maior atenção da sociedade. Um reflexo da emergência
das questões éticas pode ser evidenciado no crescente número de Comissões Parlamentares de
Inquéritos, nas privatizações de empresas públicas sem uma maior discussão com a sociedade, bem
como no uso da máquina pública para beneficiar determinados grupos de interesses.
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Não se exige das empresas privadas os mesmos princípios éticos que são exigidos da empresa
pública, embora ambas devam ser produtivas e prestar serviços a essa mesma sociedade. O ideário
liberal sempre defendeu o princípio da separação entre as esferas de atuação pública do Estado,
visto como guardião do interesse coletivo, e privado em que as pessoas, sozinhas ou em grupo,
cuidam dos interesses individuais. Isso significa que as empresas privadas não devem satisfação à
opinião pública, restringindo-se ao âmbito das questões fiscais. Atualmente, a distinção entre o
público e o privado nem sempre é clara a ponto de evitar uma intervenção do Estado na vida
privada. Esse tipo de separação é improvável e prejudicial ao conjunto da sociedade, na medida em
que deixa de atender aos seus interesses.
A Ética é a ciência que tem por objeto as idéias morais filosoficamente justificadas, enquanto a
moral cultiva idéias morais sem justificativa filosófica, com base em hábitos e costumes
consolidados pela sociedade e oficialmente aceitos. Embora muitas vezes confundidas, não
representam a mesma coisa.
O compromisso ético que se exige da empresa pública não é o mesmo da empresa privada. Somos
mais rigorosos com as públicas, quando se sabe que, cada vez mais, ambas caminham para serem
uma coisa só: organizações a serviço da sociedade. O setor público não sobrevive por si só, é
natural que ocorra uma cobrança por parte dos que pagam impostos, da opinião pública. Entretanto,
este fato não isenta as organizações privadas do compromisso ético e da responsabilidade social.
A Ética também é definida como o estudo das ações ou dos costumes, que se consolidam na
realização de um tipo de comportamento. É uma das poucas áreas do saber que se dedica à liberdade
humana em suas realizações práticas. Na Ética, a discussão sobre o problema da liberdade de ação
está associada à questão do Bem e do Mal, do que é Certo ou Errado. Estamos tratando do que
chamamos de Ciência do Respeito. Para entender o tema e encontrar o fundamento da ética pública,
precisamos nos perguntar: O que é respeito? Qual a relação entre o respeito e a ética? Respeitar o
quê? Para que respeitar alguém ou a si mesmo? O que é que eu ganho com isso?
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Professor de Comportamento Organizacional da ESPM-Rio
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Embora a Ética não tenha como objetivo cercear a liberdade em nome dos chamados bons
costumes, o tema moral e ética já foi utilizado como forma de controle social e de conduta.
O filósofo Kierkegaard, entende a ética como antecâmara da religião, porém se fizermos o exercício
de inverter esta lógica, colocando a ética num patamar superior, veremos a fase religiosa como a
fase de aprendizado para a consolidação e a internalização de princípios éticos, da conquista da
cidadania. A fase religiosa não pode estar acima da ética, uma vez que guarda vínculo profundo
com idolatrias e mistificações, que remontam muito mais à estética do que à ética.
O autor dinamarquês classifica a existência humana em três estágios - estético, ético e religioso -
hierarquicamente crescentes de aperfeiçoamento, em relação puramente subjetiva com Deus. Nos
dias atuais, em que prevalece o utilitarismo ético, pode-se concluir que não atingimos nem o
segundo estágio existencial. Se abandonarmos a idéia do indivíduo radical, poderemos imaginar a
construção de uma ética pública em que o comportamento seja pautado em normas gerais, em que o
indivíduo ceda temporariamente, abrindo mão de sua subjetividade a fim de permitir-se e aos outros
um tratamento igualitário.
Hoje, entende-se que o princípio utilitarista, que defende ser obrigação dos governos, proporcionar
maior felicidade possível ao maior número de pessoas, não deve ser preocupação unicamente
governamental, mas da sociedade como um todo e isso depende do nível de conscientização do
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povo, do nível de maturidade das pessoas, da responsabilidade social das empresas e dos
governantes, o que gera uma distribuição igualitária de direitos e oportunidades. Todos desejam a
felicidade e este conceito é cada vez menos subjetivo. A revolução tecnológica, que nos aproximou
a todos, em nível global, possibilitou o reconhecimento de que o conceito de felicidade, pelo
menos, em nível de bens materiais, nos é comum, já que ela mesma, graças ao fenômeno da mídia
internacional, vem uniformizando nossos gostos e valores. Conquanto a felicidade absoluta não
possa ser distribuída através de atos sociais e de reformas, é possível, em certo nível, proporcionar
ao maior número de pessoas o que se pode chamar de bem-estar social, principalmente em se
tratando do nosso país, em que a maioria do povo vive marginalizada, numa espécie de “apartheid”
de tudo o que se concebe como viver dignamente.
Responsabilidade contém sempre a idéia de prestação de contas, onde alguém deve justificar a
própria atuação perante outrem. Este termo, na maioria das vezes, indica a obrigação do
administrador de prestar contas de bens recebidos.
Responsabilidade pressupõe uma realidade mais ampla de responder por aquilo com que se tem
reconhecidamente ou não uma espécie de vinculação, o respeito consistindo em algo mais complexo
e particular. Embora haja margem para confusão, poderemos associar respeito à compreensão e ser
responsável é qualidade de quem respeita.
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Respeito é o ato de agir ou se omitir em nome da liberdade comum. Respeito não é indiferença. A
respeitabilidade se conquista quando se está ciente do que não lhe pertence e do que não lhe diz
respeito, mas mesmo assim cabe um direito universal e um exercício de liberdade.
Respeito ao bem público e preservação são idéias afins, exceto quando o público não conservar
valor para comunidade. O respeito seria uma espécie de certificado de garantia da natureza dos seres
humanos.
Não existe dissociação entre as duas. A Ética pressupõe princípios que precisam ser respeitados
para que a Ética se consolide. No Código de Ética, em leis universais de bom senso, a
respeitabilidade é o filtro natural que seleciona quem está incluído no contexto e quem está à
margem deste. A liberdade necessita da vontade e da compreensão para que se realize.
Respeitar o quê?
Os atributos da respeitabilidade estão restritos a pessoas e aos entes dotados de vida, assim como
seus pertences, seus produtos e elementos da natureza que nós valorizamos. A relação entre
valorização e respeito é subjetiva. Os princípios éticos variam de cultura para cultura, dentro de
cada uma existe um processo de dominação e uma hierarquia de valores.
Para o relativismo ético, a sobrevivência do espírito não é coletiva, mas sim individual. A evolução
individual se dá pelo processo material; já a coletiva se dá pelo processo espiritual. Estando em
outro país, em outra cultura, precisamos tomar conhecimento dos princípios locais, sob pena de
desrespeitarmos sua forma de pensar. Ninguém pode se escusar de suas obrigações alegando
desconhecer a lei. Precisamos expandir nosso entendimento e nos esclarecermos sempre sobre esse
assunto.
A ética durante muito tempo foi considerada como um dificultador para os negócios.
Posteriormente, emergiu a consciência que, empresas que não atuassem com ética nos negócios com
seus clientes, fornecedores, governo e concorrentes, perderiam a credibilidade. A liberdade não
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deve ser irrestrita. Aceitar uma liberdade que não é total, abrir mão do seu livre-arbítrio, para ser
respeitado, ou ser livre totalmente podendo atuar como bem quiser, causando prejuízos aos seus
semelhantes, movido por impulsos irracionais de fazer valer apenas seus interesses.
Este último tipo de comportamento é o que tem predominado. Apesar de tudo a proposta de
liberdade gradual ganha terreno na sociedade brasileira que vem despertando para as vantagens da
sociedade com responsabilidade.
Governança Corporativa
Com o fim da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim, o mundo ingressou numa nova etapa
histórica. O capitalismo praticamente não mais encontrou obstáculo à sua expansão, tendo
alcançado até mesmo os países do antigo bloco socialista. Assim, o mercado financeiro consolidou-
se efetivamente, com a maioria dos países abrindo sua economia. Porém, ao liberarem seus
mercados, as nações tornaram-se como que reféns da conjuntura mundial. Qualquer alteração, seja
dos lucros, queda de ações ou aumento do preço do petróleo, passou a repercutir quase que
instantaneamente no resto do mundo, em razão dos enormes progressos da informática e das
tecnologias da informação de um modo geral.
A exemplo de todos os países capitalistas, o Brasil pós-abertura política tratou de tomar medidas
liberalizantes abrindo sua economia, privatizou empresas públicas, diminuiu a intervenção do
Estado, estabilizou a moeda, controlou as finanças públicas, fortaleceu o Poder Judiciário, em
cumprimento às exigências da nova ordem econômica. Tudo isso visando, principalmente, tirar
proveito da expansão dos fluxos de capitais e conseguir mercado para seus produtos.
Por outro lado, a globalização e a questão dos fluxos financeiros internacionais impuseram novas
tecnologias e métodos gerenciais, padronizando a gestão financeira a ser adotada pelos agentes que
atuam nesse mercado, através de práticas comuns, que passam a ser consideradas como as melhores.
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O conceito de Gestão é entendido para fins deste trabalho como o ato de gerir, administrar,
conforme dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Temos também na conceituação jurídica
do latin gestio, como o exercício da gerência ou administração2.
Tal padrão de gestão tende a se reproduzir em toda parte, em diferentes situações, empresas, até
mesmo nos fundos de pensão, que têm suas peculiaridades: detêm cotas de empresas e sua gestão
financeira deve levar em conta a performance dessas empresas.
Agora, no entanto, que as conseqüências da globalização já podem ser observadas, e se constata que
muitas das suas expectativas não se concretizaram - que, por exemplo, a globalização só favoreceu
o capital financeiro, as multinacionais e os países ricos, que continuam protegendo sua economia,
aprofundando, assim, o fosso entre nações ricas e pobres; que em termos ambientais e sociais não
houve avanços, já que muitas empresas multinacionais teriam aumentado seus lucros valendo-se da
depredação do meio ambiente e da exploração do trabalho escravo, principalmente do infantil -, que
já sabemos, enfim, que novas tecnologias e métodos gerenciais aumentam a produtividade, mas não
bastam para promover o bem-estar dos indivíduos, propostas alternativas podem ser apresentadas,
com vistas a uma nova mentalidade gerencial mais responsável e ética.
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J.M. Othon Sidou. Dicionário jurídico: Academia Brasileira de Letras Jurídicas, p. 572.
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do respeito às leis do País, toda empresa deve ter uma definição clara de seus valores e dos
princípios de ética relacionados ao seu tipo de negócio.
Considerações Finais
No passado, pensávamos que eficiência – definida como a capacidade de fazer alguma coisa de
forma correta, e pertencente à esfera técnico-administrativa, constituindo um dos objetivos das
empresas, efetivamente relevante para o ser humano - bastasse para justificar a existência das
organizações. Da mesma forma, quando pensamos na eficácia, capacidade de fazer com que a coisa
certa seja feita, pertencente à dimensão econômico-financeira, também de extrema relevância para o
homem e um outro objetivo das empresas, no entanto insuficiente para fornecer uma explicação
sobre o sentido de ser das organizações.
As dificuldades relativas à eficácia ou à eficiência não são “privilégios” das empresas públicas, por
conta das descontinuidades administrativas que impedem o pleno desenvolvimento dos projetos,
pois ocorre igualmente nas empresas privadas, com graves reflexos negativos sobre a sociedade. É
preciso que a gestão passe a incluir a conseqüência, não mais reduzindo suas preocupações aos
resultados. Com a tomada de consciência desse impacto, necessidade há sobre o critério de
efetividade que, como parte constituinte de uma dimensão sócio-política-estratégica, ainda não
consegue dar o sentido mais profundo às ações, o que somente se dará quando tivermos em conta a
dimensão filosófica da gestão, ou seja, o objetivo do ser-em-comum. Somente levando em conta o
seu sentido subjetivo e intersubjetivo, é que poderemos pensar que essas dimensões compõem o
critério de relevância do ser do humano, a dimensão do homem concreto, quando objetivo fim
último será o ser do humano.
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É neste contexto que a Ética, está implicada a toda ação humana e, por esta razão, é vital para a
realidade social. Todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando
constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas,
justas ou injustas.
Por conseguinte, os comportamentos humanos são sempre classificáveis sob a ótica do certo e
errado, do bem e do mal, segundo o padrão de valores vigentes nas sociedades. Embora
relacionadas com o agir individual, essas classificações, como vemos, sempre têm relação com as
matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e contextos históricos.
A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relações
justas. Normalmente, está relacionada às idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por
todo ser humano e cujo alcance se traduz numa co-existência plena e feliz.
O homem é um ser-ao-mundo, que só realiza sua existência no encontro com outros homens, sendo
que, todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas. Nesta convivência, nesta coexistência,
naturalmente há que existir regras que coordenem e harmonizem essas relações. Estas regras, no
seio de um grupo qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir as nossas
possibilidades e os limites a que devemos nos submeter. São os códigos culturais que nos obrigam,
mas ao mesmo tempo nos protegem.
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