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de anlise formal e estilstica de obras e compositores. Ou seja, uma esttica musical no
sentido mais concreto do termo. Os estudos sobre Faur, Debussy, Liszt so disso claros
exemplos
Parte significativa da filosofia de Janklvitch constitui uma metafsica e antropologia do
tempo. Seguindo a lio de Bergson, Janklvitch procura pensar sub specie durationis.
O tempo entendido como devir - sob a perspectiva da fluida durao e da descontinuida-
de do instante constitui o objecto privilegiado da metafsica. O tempo, sendo a essncia
da msica, esta torna-se uma dimenso privilegiada para pensar temporalidade. Por isso,
Janklvitch afirma que a msica d que pensar, ou seja, que a msica testemunha do
facto de que o essencial em todas as coisas um no-sei-qu inapreensvel e inefvel1,
semelhante ao devir que o modo de ser de toda a realidade. No se trata de tomar a
msica como ilustrao de teses especulativas ou como metforas do discurso metafsico.
Trata-se, de algum modo, de pensar musicalmente, meditar o tempo sem qualquer
espacializao e na perspectiva da vivncia concreta.
Que modo de pensar este? Trata-se de um pensamento no analtico-discursivo mas
intuitivo: no dialctico mas concreto, um pensamento pensante que faz corpo com o
prprio devir: para alm das relaes formais e das determinaes quiditativas. Um pen-
samento sub specie durationis que adere irreversibilidade do tempo, movimento ima-
nente prpria vida
Assim, a msica no coloca-nos em contacto privilegiado com o objecto por excelncia
da filosofia - o tempo, no apenas no sentido metafsico, mas no sentido existencial: a
msica faz aluso tacitamente a uma espcie de tragdia longnqua e difusa, a um trgico
sem causa que o trgico da existncia; este trgico imotivado a irreversibilidade do
tempo2.
Referncias
JANKLVITCH, Vladimir. Quelque part dans linachev. Paris: Gallimard, 1978.
______. Debussy et le mystre de linstant. Paris: Plon, 1976.
______. La Musique et lIneffable. Paris: Le Seuil, 1968.
______. Faur et linexprimable. Paris: Plon, 1974.
______. Liszt et la rhapsodie: essai sur la virtuosit. Paris: Plon, 1979.
______. La Prsence lointaine: Albeniz, Sverac, Mompou. Paris: Le Seuil, 1983.
______. La Musique et les Heures. Paris: Le Seuil, 1988.
1 JANKLVITCH, Vladimir. Quelque part dans linachev. Paris: Gallimard, 1978. p. 24-25.
2 Idem. Ibidem, p. 268.
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