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474 FERNANDA MARINELA ocorre com 0 contrato das agéncias executivas (comentdrio acima). No que tange aos Srgios, a situagdo é ainda mais critica, considerando que séo simplesmente feixes de competéncia que nao gozam de personalidade jurfdica e, portanto, nao gozam de qualquer autonomia, estando subordinados & estrutura hierarquica da Administraga0 Publica. Destarte, é um absurdo admitir a celebracdo de um contrato para conceder a ampliagao de algo que essas estruturas possuem. A competéncia desses drgios é definida pelo Chefe do Poder Executivo, por exem- plo, o Presidente da Republica para o ambito federal, utilizando-se do exercicio de seu Poder Regulamentar, que deve ser praticado nos limites da lei, conforme estabelece o art. 84, IV, da CF. Assim, se 0 Presidente pode determinar por meio de um simples ato unilateral, nao tem sentido fazé-lo por meio de contrato. Em razao de todos esses absurdos, muitos doutrinadores esto considerando o dis- positivo como no escrito, apontando-o como regra incompativel com todo o orde- namento jurfdico. Para tentar salvar tal disposig&o, parte da doutrina deposita suas esperangas na sua lei regulamentadora, admitindo que ela venha como um passe de magica, para tornar a norma vidvel. Essa exigéncia de lei para regulamentar a situagdo estd prevista na parte final do citado dispositivo (art. 37, § 8%, da CF) 16. CONVENIOS E CONSORCIOS O fundamento constitucional para esses instrumentos é 0 art. 241 da CF. Também hé disciplina sobre o assunto na Lei n® 8.666/93, art. 116, que dispde: “Aplicam-se a disposiges desta Lei, no que couber, aos convénios, acordos, ajustes ¢ outros instru- mentos congéneres celebrados por érgaios e entidades da Administre O convénio representa um‘acordo firmado por entidades politicas, de qualquer espécie, ou entre essas entidades e os particulares para realizacao de objetivos de cardter comum, buscando sempre interesses recfprocos, convergentes. Difere do contrato administrativo, tendo em vista que, neste, os interesses perseguidos sao divergentes. O consércio consiste em um acordo de vontades firmado entre entidades estatais da mesma espécie, para a realizag3o de objetivos de interesses comuns, por exemplo, consércio entre dois Municipios. Esses acordos representam instrumento de descentralizagdo administrativa, consistindo numa forma de fomento em que os interesses perseguidos sao convergentes, | comuns a todos os participantes que recebem, em razio disso, a denominagao de: participes. Nos convénios e consércios, cada ente colabora de acordo com suag possibilidades, e a responsabilidade incide sobre todos. Forma-se uma cooperagaa associativa que nao adquire personalidade jurfdica. No que tange & autorizagio legislativa para celebragao de convénios e consércies apesar da exigéncia em algumas constituigdes estaduais ¢ leis organicas municipais, 7 orientagao do Supremo Tribunal Federal é pela inconstitucionalidade dessa formalis, dade, por implicar 0 controle legislativo sobre atos administrativos do Poder Executic Capituto 7 Vo, em situagao nao prevista na Constituigao"'. Todavia, se o convénio ou consércio envolverem repasse de verbas nao Previstas na lei orgamentéria, nesse caso, exige-se a autorizacao legislativa. Segundo a disposigao legal, art. 116, § 1, da Lei ne 8.666/93, a celebracao de Convénio, consércio, acordo ou ajuste pelos Srgaos ou entidades de Administracao Publica exige a elaboragio de um plano de trabalho que, em regra, € proposto pela organiza¢ao interessada e precisa ser aprovado previamente pelos participes do ajuste. Esse plano de trabalho deve obedecer a algumas exigéncias, estabelecendo expressa mente as seguintes informagées: a) a identificagao do objeto a ser executado; b) as metas a serem atingidas; c) as etapas ou fases de execugao; d) 0 plano de aplicagao dos recursos financeiros; e) 0 cronograma de desembolso; f) a previsio de infcio e fim de cada etapa e da execugao total do objeto; g) a comprovagiio, tratando-se de obra e servigo de engenharia, de que os tecursos préprios para complementar a execugao do objeto esto devidamente assegurados, salvo se o custo total do empreendimento recair sobre a entidade ou 6rgao descentralizador. Assinado 0 convénio, a entidade ou rgao repassador dard ciéncia do mesmo a Assembleia Legislativa ou a Camara Municipal respectiva. A aplicagao das receitas decorrentes dos convénios ou consércios esta sujeita a controle pelos drgaos especificos, inclusive pelo Tribunal de Contas. As parcelas do convénio e demais institutos congéneres sero liberadas em estrita conformidade INCISO XXI DO ART. 54 DA CONSTITUIGAO DO ESTADO DO PARANA, que diz: “Compete, privativa- mente, a Assembleia legisiativa: XX! ~ autorizar convénios a serem celebrados pelo Governo do Estado, roan ntiades de direito publico ou privado e ratiticar os que, por motivo de urgéncia ¢ de relovente inte- "esse pubic, forem efetivados sem essa autorizagao, desde que encaminhados & Assembles Legislativa, re no seria dias subsequantes & sua celebragao’, 1. A jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal é fn, Poder eeeGo de que a regra que subordina a celebragdo de acordos ou convénios firmados por ‘rgaos do Foder Executivo @ autorizagao prévia ou ratiticagao da Assembleia Legislativa, fore 0 principio da indepen- Géncia @ harmonia dos poderes (art. 2, da C.F.). Precedents. 2. Agdo Dirota julgada procedente para a Rel. Min. Moreira Alves, STF ~ Tribunal Pleno, DJ: 07.09.2003; ADI 1166/DF, STF - Tribunal Pieno, Rel. Min. limar Galvao, Du: 25.10.2002; ADI 770/MG, STF — Tribunal Pleno, Rel. Min.* Ellen Gracie, DJ: 20.09.2002; AD! 462/BA, STF — Tribunal Pleno, Rel, Min, Moreira Alves, DJ. 18 02.2000; ADI 1865 MC/SC, STF = Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ: 04.02.1999: ADI 165 MG, STF ~ Tribunal Pleno, Rel. Min. Sepulveda Pertence, DJ: 26.09.1997; ADI 177/RS, STF — Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Veloso, DJ: 25.10.1996; ADI 676/RJ, STF ~ Tribunal Pleno, Rel. Min, Carlos Velloso, DJ: 29.11.1996, 475 | FERNANDA MarINELA a) no tiver havido comprovacio da boa ¢ regular aplicagzio da anteriormente recebida, 0 que pode ser verificado pela entidade ow descentralizador dos recursos, ou ainda, pelo drgao competente do sistes controle interno da Administragao Publica; b) verificado desviode finalidade na aplicag: 40 dos recursos, atrasos niio just rogramadas, praticas atentatéri contratagdes e demais atos pratag na execucdo do convénio, ou 0 inadimplemento do executor com reks outras cldusulas do ajuste; ‘adas pelo Sos ou por integrantes do Tespectivo sistema de em cadernetas de Poupanga de instituigao financeira oficial, se a previsio de s for igual ou superior a um més, ou em fundo de aplicagao financeira de curto ©, lastreada em titulos da divida Ptiblica, q €m prazos menores que um més. As receiti 'm ser computadas como crédito do aplicadas exclusivamente no objeto de sua finalidade. Quando da conclusdo, dentincia, Tescisdo ou extingaio do convénio e institutos congéneres, og saldos financeii das receitas obtidas di entidade ou érgao rep; as adq > conv » inclusive os proveni las aplicagdes financeiras tealizadas, e assador dos recursos, evento, sob pena da imediata instaura 17. CONSORCIOS PUBLICOS O consércio puiblico, definido pela Lei n® 11.107, de 06 de abril de 2005, cons em uma forma de colaborago entre os diversos entes politicos, a fim de disci a celebragdo de consércios entre entes puiblicos, Unido, Estados, Distrito Fedes e€ Municipios para a Bestdo associada de servicos piiblicos de interesse comum Projeto de lei foi encaminhado ao Congresso Nacional em 30 de junho de 2004, « tegime de urgéncia constitucional, para ser analisado no prazo de 45 dias. O objetivo desse novo diploma foi regulamentar o art. 241 da Constituicao Fe ral que dispoe: i A Unido, os Estados, o Distrit meio de lei os consércios puibl entes federados, autorizando a como a transferéncia total ou essenciais & continuidade dos ‘0 Federal e os Municfpios disciplinario por ‘ icos e os convénios de cooperagao entre os 4 Bestdo associada de servicos puiblicos, bem Parcial de encargos, servigos, pessoal e bens servigos transferidos, 476 Carituto 7 Para os defensores do novo instrumento, ele representa uma forma juridica segura e estavel, afastando as formas convencionais e precdrias que costumavam ser utilizadas para esse tipo de acordo, o que acabava ameacando a propria continuidade do servigo ptiblico. Assim, nao se pode confundir os consércios piblicos com os consércios previstos na lei das S/A. Esse novo instituto € espectfico ao direito publico, j4 que é celebrado entre entes federativos e tem como objeto a prestacao de servicos publicos. Submete-se, portanto, aos princfpios e regras do direito publico. Esse instrumento tem um amplo alcance e os estudos sobre o assunto ainda sao incipientes. Todavia, muitas criticas j4 foram apresentadas, inclusive enquanto tramitava o projeto de lei. Para os criticos, os consércios puiblicos acabam dando um novo sentido & organizagao federativa do pats. Nesse cendrio, ha um alerta dos analisadores do novo diploma que chamam a atengao para os riscos desses consércios em face da autonomia dos entes ptiblicos. A pretexto de uma prestacao de servigos ptiblicos, por meio de gesto associada, a Unido, como parceira do consércio, pode interferir em questées locais dos Estados Municfpios. O fato de poder participar e atuar como consorciada (art. 1°, § 2%, da Lei né 11.107/05), compondo o érgio supremo do consércio puiblico que é a Assembleia Geral (art. 4°, VII, da citada lei), instancia maxima do consércio, composta exclu- sivamente pelos Chefes do Poder Executivo dos entes consorciados (art. 4%, VIII, da mesma lei), ela poder reduzir a autonomia dos demais entes, em virtude do seu poder politico e financeiro. Essa interveng3o obliqua na vida administrativa dos Estados e Municipios conflita com todo o texto constitucional, inclusive com matéria de inter- vengao (arts. 34 e 35 da CF) As regras previstas na nova lei nao se aplicam aos convénios de cooperagao e demais instrumentos congéneres que tenham sido celebrados anteriormente & sua vigéncia. A constituigao do consércio pablico também o distingue dos consércios anteriores, porque podem ser formados por entes de todas as espécies, afastando a exigéncia de que os entes tinham de ser da mesma espécie. Todavia, apenas a Unido pode participar de consércios ptiblicos de que também fagam parte todos os Estados, em cujos territérios estejam situados os Municfpios consorciados. © fundamento para essa disposigao € que colaborar com o Municfpio é uma obrigag&o que pertence em primeiro lugar a0 Estado, o qual abre espaco para a Unido se a sua atuagao for insuficiente. Dessa forma, alguns arranjos so possiveis: consércios entre Municipios; consércios entre Estados; consércios entre Estado(s) e Distrito Federal; consércios entre Municfpio(s) e Distrito Federal; consércios entre Estado(s) e Municfpio(s); consércios entre Estado(s), Distrito Federal e Municfpio(s); consércios entre Unido e Estado(s); consércios entre Unio e Distrito Federal; consércios entre Unio, Estado(s) e Municfpio(s); consércios entre Unido, Estado(s), Distrito Federal e Municfpio(s). No dia 17 de janeiro de 2007, o Presidente da Reptiblica, para dispor sobre as normas gerais de contratagiio de consércios puiblicos, regulamentando a Lei n® 1 1.107 para viabilizar sua execugao, editou o Decreto n* 6.017. 477 | FERNANDA MARINELA a) Objetivos Os objetivos dos consércios ptiblicos serio determinadbos pelos entes da Federagaio que se consorciarem, buscando sempre a prestaciio de servigos ptiblicos de interesse comum, devendo ser observados os limites constitucionai seus objetivos, 0 consércio puiblico poderé: Para o cumprimento de a) firmar convénios, contratos, acordos de qualquer natureza, receber auxilios, contribuigdes e subvengdes sociais ou econémicas de outras entidades e érgdos do governo; b) nos termos do contrato de consércio de direito ptblico, promover desapropriagoes e instituir servidoes, com base na declaracao de utilidade ou necessidade puiblica ou interesse social, realizada pelo Poder Ptiblico; c) ser contratado pela Administragao Direta ou Indireta dos entes da Federagao consorciados, sendo, nesse caso, dispensada a licitagao; d) emitir documentos de cobranga e exetcer.atividades de arrecadagao de tarifas e Outros pregos piiblicos pela prestag3o de servigos ou pelo uso ou outorga de uso de bens ptiblicos por eles administrados ou, mediante autorizagaio especifica, pelo ente da Federagaio consorciad ©) outorgar concessdo, permisstio ou autorizagao de obras ou servigos piiblicos, mediante autorizagéio prevista no contrato de consércio publico, que deverd indicar de forma especifica 0 objeto da concessio, permissao ou autorizagao e as condigdes a que deveré atender. Buscando a realizagéio de seus objetivos comuns, também é possfvel que os entes dda Federacao consorciados ou os com eles conveniados fagam ao cons6rcio pilblico a cessdo de servidores, devendo ser observadas a forma e as condigdes da legislagao de cada participe. Essa lei também estabelece mais uma hipstese de dispensa de licitagao, a qual nao foi inclufda na Lei n° 8.66/93. Trata-se da dispensa para a contratagao do consdreio publico pela Administragao Direta e Indireta dos entes consorciados. Tal liberalidade também € criticdvel, Porque mais uma excego ao texto constitucional (art. 37, XI) € criada, por meio de um diploma que nao Tepresenta norma geral de licitagao. A Unio poderd celebrar convénios com os consércios piblicos, com 0 objetivo de viabilizar a descentralizagio ea Presta¢ao de politicas puiblicas, em escalas adequadas. Novamente, os criticos alertam, o que € bem razodvel, para o fato de que, com todos esses poderes, 0 consércio ptiblico seja inconstitucionalmente cquiparado, em diversos aspectos, as unidades que compéem a Federagio brasileira. Esse novo diploma cria uma associagao que pode alterar 0 sentido do federalismo patrio, o qual se distingue pela existéncia de entes com competéncias distintas, cujo relacionamento recfproco € disciplinado pela propria Constituigao Federal. b) Formalizagaio © consércio ptiblico deve ser constituido por meio de um contrato, surgindo, 478 assim, uma nova espécie de contrato administrativo. Para a celebragao dessa avenga, Capituro 7 a condigao prévia é a subscrig’o do protocolo de intengdes, em que os participes definem as diretrizes dessa associagao. No que tange ao Protocolo de intengdes, ele deve conter as seguintes cla necessdrias: a) adenominagio, a finalidade, 0 prazo de duragao e a sede do consércio; b) a identificagao dos entes da Federacao consorciados; c) a indicagao da drea de atuagao do consércio. Considera-se como drea de atu- ago do consércio ptiblico, independentemente de figurar a Unido como con- sorciada, a que corresponde A soma dos territérios: dos Municipios, quando 0 consércio ptiblico for constitutdo somente por Municipios ou por um Estado d) a previsio de que Consércio ptiblico € associagao publica ou pessoa juridica de direito privado, sem fins econdémicos; e) oscritérios para, em assuntos de interesse comum, autorizar o consércio ptiblico a representar os entes da Federacao consorciados Perante outras esferas de governo; f) as normas de convoca¢ao e funcionamento da assembleia geral, inclusive para a elaboragao, aprovagao € modificagao dos estatutos do consércio ptiblico; g) a previsao de que a assembleia geral € a instancia maxima do consércio ptiblico © 0 ntimero de votos para as suas deliberagdes; h) a forma de eleigio ea duragdo do mandato do re resentante legal do consdrcio Gi ¢ PI Bi ptiblico que, obrigatoriamente, deverd ser Chefe do Poder Executivo de ente da Federagao consorciado; © ntimero, as formas de Provimento e a remunera¢ao dos empregados ptiblicos, bem como os casos de contratagao por tempo determinado, para atender a necessidade temporsria de excepcional interesse puiblico; j) as condigoes para que 0 consércio piblico celebre contrato de gestdo ou termo de parceria; k) a autorizagaio Para a gestao associada de servigos puiblicos, explicitando: as competéncias, cujo exercicio se transferiu ao consércio publico; os servicos Ptiblicos, objeto da gestio associadae adrea em que seriio prestados; a autorizagaio para licitar ou Outorgar concessao, permissao'ou autorizagao da prestagaio dos servigos; as condigées a que deve obedecer 0 contrato de programa, no caso entidade de um dos entes da Federagiio consorciados; os critérios técnicos para cdlculo do valor das tarifas e de outros Pregos ptiblicos, bem como para seu Teajuste ou revisdo; 479 tS FERNANDA MARINELA lo direito de qualquer dos contratantes, quando adimplente com suas obrigagées, oe expr 0 pleno cumprimento dts cltusules do contrato ike consircic puiblices m) deve definir o ntimero de votos que cada ente da Federagao consorciado possui | na assembleia geral, sendo assegurado um voto a cada ente consorciado. E nulaa cldusula do contrato de consércio que preveja determinadas contribuigdes financeiras ou econdmicas de ente da Federagiio ao consércio ptiblico, salvo a doagao, | destinagdo ou cessio do uso de bens méveis ou iméveis e as transferéncias ou cesses | de direitos operadas por forga de gestdo associada de servigos publicos. O protocolo de intengdes deveré ser publicado na imprensa oficial. O contrata, q de consércio ptiblico sera celebrado com a ratificagdo, mediante lei, do protocolo de, intengées. Entretanto, nada impede que o contrato de consércio ptiblico, caso assi preveja sua clausula, seja celebrado por apenas uma parcela dos entes da Federags que subscreveram o protocolo de intengdes. 4 A citada ratificagao pode ser realizada com reservas que, entes subscritores, implicam 0 consorciamento parcial ou c: a ratificago ser dispensada, quando aceitas pelos: i ‘ondicional, podenda quando o ente da Federagao, antes de subscrever Protocolo de intengdes, disciplinar por lei a sua participagao. A ratificago realizada apés dois anos da subscrig&io do Protocolo de intengdes, dependers de homologacae da assembleia geral do consércio piiblico, Diferentemente do que se defendia nas associagGes anteriores a essa lei, o consércia ptiblico adquirira personalidade jurfdica, podendo ela ser de direito puiblico, no caso de significado tradicional que a palavra consércio tem no direito patrio. Tratando-se de personalidade de direito privado, este seguir os requisitos da le- gislagao civil com algumas ressalvas. O regime é hibrido porque devem ser observadas as regras de direito ptiblico, no que concerne a realizagao de licitagao, & celebragaa! de contratos, & prestagao de contas, inclusive com controle do Tribunal de Contas, & admissao de pessoal, observadas as exigéncias de concurso ptblico. Essa orientagio regra expressa no art. 7° do Decreto n® 6.017/07. Segundo a doutrina majoritaria essa} pessoa jurfdica nao compde a Administragao Indireta!?. Nos casos em que a personalidade juridica € de direito puiblico, o consércio integrs a Administragao Indireta de todos os entes da Federagao consorciados, o que estd sen~ do objeto de muitas erfticas, porque 6 consércio puiblico se torna, por vias transversas, uma nova entidade da Administragao Indireta, ao lado das autarquias publicas e outras, com mais amplo espectro de encargos e competénci das fundagdes s, contrarian- "? Nesse sentido José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 22 ed., Rio Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 220), Odete Medauar @ Gustavo Justino de Oliveira (Consdrcios Puiblicas: ‘So Paulo: RT, 2006, p. 78) e, ainda Celso Anténio Bandeira de Mello (Curso de Direito Administrativo, 26° 480 ed., Sao Paulo: Editora Malheiros, 2009, p. 657). Capiruto 7 do, assim, a previsio constitucional do art. 241 da Constituigao Federal e a propria natureza do federalismo brasileiro. Essa interpretacao, que inclui o consércio como ente da Administragao Indireta, decorre da leitura do art. 41, inciso IV, do Cédigo Civil, com a redagio alterada pela Lei n® 11.107/05. © dispositivo enumera as pessoas juridicas de direito puiblico e, ao lado das autarquias, coloca as associagées ptiblicas. Sendo assim, essas novas pessoas juridi- cas, quando de direito piblico, seguem o mesmo regime que as autarquias, todavia com intimeras outras competéncias e prerrogativas, causando discussdo entre os estudiosos. Hoje, no Brasil, a estrutura da Federagao € trina, sendo disciplinada, na prépria Constituigao, a competéncia territorial de cada ente federativo, cada um deles com distintas areas de poder privativo ou de competéncia comum. Desse raciocinio resultam todos os dispositivos constitucionais sobre o que cabe a cada unidade federativa. Em conflito com essas regras constitucionais, com a desculpa de implementagao de uma gestao associada, a nova lei dispde detalhadamente sobre diversos assuntos, inclusive definindo competéncia comum dos trés entes federativos, o que deveria ser realizado pelo texto constitucional, e nao pela legislagdo infraconstitucional. Os seus drgaios constitutivos ser’io organizados por meio de seus estatutos, que tam- bém devem definir as suas regras de funcionamento. A organizagio ¢ funcionamento dos consércios publicos serao disciplinados pela legislag’o que rege as associagdes ci- Vis, no que nao contrariar a sua lei especifica, Lei n® 11.107/05 (regra do seu art. 15). Para o regime de pessoal, embora os entes consorciados possam ceder servidores (inclusive estaveis), a regra sera a de empregos puiblicos, no ambito préprio do con- s6rcio, cuja criagao depende de previséo do contrato de consércio puiblico que lhe fixe a forma e os requisitos de provimento e a sua respectiva remuneragfo, inclusive quanto aos adicionais, gratificagdes e quaisquer outras parcelas remuneratérias ou de carater indenizatério. Em outras palavras, o regime serd o celetista, mas com concurso publico, conforme regra expressa no Decreto n® 6.017/07, arts. 22 e 23. O consércio ptiblico também tem a possibilidade, enquanto pessoa juridica, de ce- lebrar contratos administrativos, ficando, em regra, obrigados ao procedimento licita- torio. Da mesma forma, somente mediante licitago contratara concessiio, permissaio ou autorizard a prestagaio de servigos ptiblicos (art. 21 do Dec. n® 6.017/07). Para a realizagdo de licitagao, devem ser utilizadas as mesmas regras previstas na Lei n® 8.666/93. Entretanto, os valores estipulados no art. 23 da referida lei, para a definig&o da modalidade aplicavel a cada caso, sio diferentes quando se trata de consércio puiblico, sendo dobrado quando formado por até trés entes da Federagao e triplicado quando formado por maior ntimero. Os limites em que a licitagao € dispen- sAvel também ficam dobrados nos casos dos consércios ptiblicos, ou seja, 20% do limi- te previsto para a modalidade convite (art. 24, pardgrafo tinico, da Lei n° 8.666/93). c) Prestagio de servigos ptiblicos e 0 contrato de programa As obrigagdes que um ente da Federagiio firmar para com outro ou para com © consércio ptiblico, no ambito de gestdo associada em que haja a prestagaio de 481 482 FERNANDA MARINELA servicos puiblicos ou transferéncia total ou parcial de encargos, servigos, pessoal de bens necessdrios & continuidade dos servigos, devem ser constituidas e regul por contrato de programa. O contrato de programa representa uma nova es} contrato administrativo, considerado uma condigéo de validade para essa obrigag Excluem-se, dessa exigéncia, as obrigagdes cujo descumprimento nao acarrete & inclusive financeiros, a ente da Federago ou a consércio puiblico. Portanto, o referido diploma legal também cria uma nova figura juridica, contrato de programa, mas, infelizmente, nao se preocupou em Ihe dar uma ¢ definigao, estabelecendo somente regras genéricas. Esse novo instrumento pro mente ser definido como bem entenderem os consorciados e, ao que parece, um novo tipo de contrato piblico 4 margem da Lei n° 8.666/93, que dispde gerais sobre esses assuntos. Por mais que se procure, nao se encontra uma vin entre o art. 241 da CF, e 0 contrato de programa, o que cria um grande status d certeza juridica. . O contrato de programa pode ser celebrado, conforme previsiio do cont consércio puiblico ou do convénio de cooperagiio, por entidades de direito pub! privado que integrem a Administragao Indireta de qualquer dos entes da Fe por consorciados ou por conveniados, ficando automaticamente extinto, contratado deixe de integrar a Administragao. © contrato de programa deve atender: & legislag’io de concessdes e perils de servicos piblicos, especialmente no que se refere ao calculo de tarifas e de ¢ pregos piblicos; & legislag4o de regulagao dos servicos a serem prestados; e deve procedimentos que garantam a transparéncia da gest@o econdmica e finance cada servico em relag’io a cada um de seus titulares. No que tange ao dever de licitar, a licitagao ¢ dispensavel na celebragao de co r de programa com ente da Federagao ou com entidade de sua administragao i para a prestag’io de servicos puiblicos de forma associada, nos termos do autori contrato de consércio ptiblico ou no convénio de cooperagao. A clausula de contrato de programa que atribuir ao contratado o exercicia poderes de planejamento, regulagao e fiscalizagio dos servigos, por ele prestados, é considerada nula. O contrato de programa continuard vigente, mesmo quando extinto 0 co publico ou o convénio de cooperagdo que autorizou a gestdo associada de publicos. . d) Recursos financeiros Os entes consorciados somente entregarao recursos ao consércio piiblico contrato de rateio, que seré formalizado em cada exercicio financeiro. Seu pr vigéncia nao serd superior ao das dotagSes que o suportam, com exce¢ao dos co que tenham por objeto, exclusivamente, projetos consistentes em programas € contemplados em Plano Plurianual ou a gestio associada de servigos p CapituLo 7 custeados por tarifas ou outros precos publicos. Esses recursos nao podem ser utilizados para despesas genéricas, inclusive transferéncias ou operagées de crédito. Podera ser exclufdo do consércio ptiblico, apés prévia suspensao, 0 ente consorciado que nao consignar, em sua lei orgamentaria ou em créditos adicionais, as dotagdes suficientes para suportar as despesas assumidas no contrato de rateio. E mais: os entes consorciados, isolados ou em conjunto, bem como 0 consércio puiblico, sao partes legitimas para exigir o cumprimento das obrigagdes previstas no contrato de rateio. O consércio ptiblico deve fornecer as informagdes necessérias para que sejam consolidadas, nas contas dos entes consorciados, todas as despesas realizadas com Os recursos entregues em virtude do contrato de rateio, de forma que possam ser contabilizadas nas contas de cada ente da Federagao, na conformidade dos elementos econdmicos e das atividades ou projetos atendidos, visando & observancia da Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar n® 101/00. A execugdo das receitas e despesas do consércio publico deverd obedecer As normas de Direito Financeiro aplicaveis as entidades publicas, estando 0 consércio sujeito a fiscalizagao contabil, operacional e patrimonial pelo Tribunal de Contas, competente Para apreciar as contas do Chefe do Poder Executivo, inclusive quanto a legalidade, legitimidade e economicidade das despesas, atos, contratos rentincia de receitas, sem prejuizo do controle externo a ser exercido, em raziio de cada um dos contratos de rateio. Nesse diapastio encontra-se a previstio dos arts. 11 ¢ 12 do citado Decreto n@ 6.017/07. €) Alteracao e extingao do consércio piblico A retirada do ente da Federagao do consércio publico dependera de ato formal de seu representante na assembleia geral, na forma previamente disciplinada por lei. Os bens destinados ao consétcio puiblico pelo consorciado que se retira somente serio revertidos ou retrocedidos no caso de expressa previséo no contrato de consércio piiblico ou no instrumento de transferéncia ou de alienagao. A alteragio ou a exting’o de contrato de consércio ptiblico dependera de instrumento aprovado pela assembleia geral, ratificado mediante lei por todos os entes consorciados. A retirada de consorciado ou a exting’io do consércio puiblico no prejudicard as obrigagGes j4 constitufdas, inclusive os contratos de programa, cuja extingao dependerd do prévio pagamento das indenizagdes eventualmente devidas. Enquanto no existir decisdo que indique os responsdveis por cada obrigacao, os entes consorciados responderao solidariamente pelas obrigagdes remanescentes, garantindo Odireito de regresso em face dos entes beneficiados ou dos que deram causa a obrigagao, Os bens, direitos, encargos e obrigagdes decorrentes da gestio associada de serv’ igos ptiblicos, custeados por tarifas ou outra espécie de preco ptiblico, sero atributdos aos titulares dos respectivos servigos. 483

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