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Poucos intelectuais, estudiosos ou professores, voltados para estudos da lingua em seus diversos aspectos, ou em algum aspecto particular, ter conseguido praticamente o reconhecimento una- rime de seu talento e da importéncia de seu tra- balho como o Prof. Manuel Said Ali. ‘Ao lado de titulos conhecidos como os das obras gramaticais, das Dificuldades da Lingua Portu- uesa, dos Meios de Expressao e Alteragdes Se- manticas, outros ha que nao tiveram a mesme sorte e merecem, no entanto, a mesma atencao, como este Versificacao Portuguesa, que, mais di- vulgadlo agora com esta edigao da Edusp, poderé também prestar servigo, como 0s demais. Seus trabalhos sempre tiveram preocupacao didatica, buscaram a simplicidade de expresso, a clare- za, Esse cuidado nao lhe tirou nenhum mérito, nao Ihe roubou nenhum elogio. Tornou-o, sequramen- te, mais admirado. Aleitura desta obra com certeza aumentaré o rnimero dos que estudam suas obras e ainda mais 0 dos que as aproveitam. OH.L.C, ISBN 85-314-0498-3 9 my It! ficagao portuguesa Ww I1y divs [eer 3 Manuel Said Ali Ida (21.10.1861 eee ecco e eee en eM on formacao intelectual de varias personalidades bra- Pee aCe end colegas, alunos, aprendizes, discipulos nasdiscipli Cees ee eens os de qualidade, deixaram a marca de seus culdados e de sua preocupacao com 0 rigor do eure ce arg lise dos fatos estudados. Suas obras, especialmen- eee Cee ee mae a Cee eee Ca Rae ced Mant ie ee ey face nov: Seen) contribuigao original. Se nao foi pioneiro no trata- Geen tures een) Scena ee Pee See Uae TEM ae ages Pay Peau area Tee ee rsE to TERE Pree Sea atte ema Cocoa ae Sony f Tete icc TOE ee mee Ra ST Ee sic) de exemplos e, como os que sairam da me vra, coerente e seguro, que obriga, entretanto VERSIFICACAO PORTUGUESA CSP Reitor Vice-reitor ka Jacques Mareoviteh ‘Adotpho José Melfi EDITORS DA UNIVERSIDADE DE SAO PAULO Sergio Miceli Pessoa de Barros Plinio Martine Filho Heitor Ferraz Rodrigo Lacerda Sergio Miceli Pessou de Barros (Presidewe) Davi Arrigucci Je, Oswaldo Paulo F Tupa Gomes Corréa VERSIFICACAO PORTUGUESA M. SAID ALI Prefacio de MANUEL BANDEIRA be Copyright © 1999 by M. Said Ali Dados Intrnacionss de Catalogaio na PublicacSo (CIP) (Camara Brasileira do Liv, SP, Brasil) Ali, Manoel Said ‘Versfcagio Portuguesa /M. Said Al preficio de Manuel Bandei- 1. ~Sto Paul Eitora da Universidade de Sto Paul, 1999. ISBN 85.314.0498-3 1.Poesia 2, Poca 3.Poruguts~ Versiiess0 4, Versifica Ho 1. Bandeirs, Manuel, 1886-1968. IL Titulo. 99.0293 epp-808.1 Indice para cago sistemaico: 1. Versifcago : RetSrien Litraura 811.08 Direitos reservados & ‘Edusp ~ Editora da Universidade de Sto Paulo A. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374 66 andar ~ Ed, da Antiga Retoria ~ Cidade Universitvia (05508000 ~ Sto Paulo - SP ~ Brasil Fax (011) 818-4151 ‘Tel (011) 818-4008 ou 818-4150 -worw usp brfedusp ~ e-mail: edosp@edu.usp.be Printed in Brazil 1999 Foi feito 0 depésito legal *Merso de Cinco Silabas ...s.rsnsenenenseree SuMARIO Prefacio - Manuel Bandeira VeRstFICAGAO PORTUGUESA 15, Classificagao dos Versos Contagem das Silabas.. RIM oer Silabas Fortes ¢ Silabas Fracas COUPE ener sine Cavalgamento (Enjambement) Limites do Verso oss Verso de ‘Trés Silabas...... ‘Verso de Quatro Silabas..... M. SAID ALL Verso de Seis Silabas Verso de Sete Verso de Oito Silabas Verso de Nove Silabas.... Verso de Dez Silabas ‘Verso de Onze Silabas... Dodecass labas labo. Verso Alexandrino . Rima Versos sem Rima. Versos Soltos. Estrofes Poesia e Prosa 59 6 77 7 81 85 101 107 121 125 129 145 PREFACIO © compéndio Versiricagio Porrucuesa, ora editado pelo Instituto do Livro, parece-me, nao obstante a sua brevidade e concisio, o mais inteligente € incisivo que sobre a matéria jé se escreveu no Brasil, senao também em Portugal. © eminente Prof. Said Ali, de quem tive a honra de ser aluno de alemao no Colégio Pedro IL, m diocze aluno de uma turma cujos ases eram Sousa da Si veira, Antenor Nascentes, Artur Moses ¢ Lopes da Costa, © Prof. Said Ali, a quem devemos tantas contribuigdes ma- Bistrais a0 estudo do nosso idioma, nao € um. poeta. Mas ise intimo conhecimento da poesia latina e da poesia das-grandes literaturas ocidentais d4-Ihe.competéncia Pasa.versar 0 assunto com uma autoridade que nao terd talysa:atualmente nenhum poeta de lingua portuguesa ™ saro aur No Brasil os compéndios anteriores a este no passa- vam de um decalque, com pequenas variantes, do Trata- do de Metrificagdo Portuguesa, de A. F. de Castilho. A sis- tematizagio de Castilho, como a de Malherbe na Franca, se por um lado prestou grandes servigos no sentido de policiar a técnica poética, por outro lado teve como con- seqiléncia um empobrecimento da expressiio. Os nossos parnasianos ainda agravaram 0 defeito. No caso dos hia- tos, por exemplo. Atidos com demasiado rigor ao concei- to escultural da forma, renunciaram a um elemento musi- cal que estava tio dentro da tradic20 portuguesa e do qual 0s grandes poetas da nossa lingua tiraram tantas vezes efei- tos admiraveis. Ainda que nao apresentasse outros altos méritos, teria o presente trabalho este de defender o hia- to, sacrificado durante varias décadas pela “usual e meca- nizada contagem das silabas”. O mestre vai mais longe ¢ admite, fundado nos exemplos de Shakespeare ¢ Milton, as pausas intencionais, independentes de vogais em con- tato € preenchendo o lugar de ura silaba. H4 varios ca- sos desta espécie no nosso Gongalves Dias. Para os que nao sentem na estrutura do verso o valor do siléncio in- tencional est errado aquele da poesia “Seus Olhos”: As vezes, oh, sim, derramam tho fraco Comenta 0 Prof. Said Ali: “Consta a poesia de 49 ver- sos dodecassilabos, sendo o segundo € o tiltimo de cada estrofe reduzido a um s6 hemistiquio: 0 ritmo é rigorosa- mente formado com 0 metro anfibraco, quadruplicado em cada verso completo. O mesmo metro nos versos cur- VERSIFICAGAO PORTUGUESA tos, que Vao até a silaba quinta (anfibraco completo + anfibraco inacabado), Nao se pode imaginar maior apuro em compor versos tao formosos. $6 de propésito delibe- rado usaria 0 poeta a pausa em lugar de uma silaba’’ Ao verso citado de Gongalves Dias chama Said Ali dodecassilabo. £ uma das novidades deste precioso livri- nho voltar a0 uso antigo de tomar 0 verso grave como critério para a especificagio e denominagao dos versos. Castilho abandonou pela tradicao francesa a das outras linguas romanicas. Assim 0 verso que era chamado hen- decassilabo passou a denominar-se decassilabo, A licao do mestre portugués foi aceita pelos parnasianos e pelas escolas que thes sucederam. Havera vantagem no retro- cesso? E um caso por discutir e naturalmente provocaré debates. Pessoalmente prefiro 0 critério de Castilho, isto €,@ contagem até a ultima silaba t6nica. As sflabas étonas dos versos graves ¢ esdrtixulos nao influem na estrutura dos mesmos: podem influir na do verso seguinte. Assim na poesia “Valsa”, de Casimiro de Abreu: Pensavas, Cismavas, E estavas Tao pallida Entao; + Qual palida Rosa Mimosa, No vale, Do vento SAtD att Cruento Batida. No sexto verso a tiltima silaba de “pélida” pertence na realidade ao verso seguinte “Rosa”, que tem uma sila- ba a menos, como era de necessidade, sem 0 que se que- braria o ritmo uniforme do poema Basta esse tinico exemplo para mostrar que o ni- mero de silabas, como a rima, a aliteracao, © parale Mo, o encadeamento, etc., n4o sAo mais do que elemen- tos organizadores do ritmo, finalidade soberana na es- trutura formal do poema. O ritmo como 0 entende mui- to justamente 0 Prof. Said Ali, observado tanto na sua forma positiva como na negativa ~ siléncio, pausas, in- terrupg pode faltar no poema sem prejuizo do ritmo. E por isso que ousamos discordar do sébio mestre quando afirma que o ouvido moderno “reclama a rima como beleza natural e essencial da poesia”. Natural, sim; essencial, de modo nenhum. O préprio mestre dissera dois paragra- fos atrés que “a poesia nao rimada requer elevacio de idéias, vigor de expressio, inversdes € outros a que permitam realgar bem certas silabas acentuadas, sem © que os versos mal se distinguirao da prosa chata”, Logo, a rima nao é essencial. A especificacio € exemplificagio dos metros é feita neste compéndio com evidente superioridade sobre os demais ja escritos em lingua portuguesa, E de desejar que em futura edigdo dé © Prof. Said Ali maior desenvolvimento a sua obra, contemplando Qualquer dos elementos acima mencionados icios VERSIFICAGAO PORTUGUESA nela as formas fixas, estudando o verso livre moderno, € a este respeito tomamos a liberdade de Ihe chamar a atengao para 0 notivel ensaio de Pedro Henrique-Urefa, En Busca del Verso Puro. Deus conceda a0 provecto mes. tre bastante vida ¢ satide para contemplar este outros trabalhos. Manet Banoetea Cardoso, responsive! A Edusp agradece a Antonio Manvel Bande pelos direitos aucorais da obra de Manuel Bandeira, a permissio de publi- cago deste Prefici VERSIFICACAO PORTUGUESA CLASSIFICACAO Dos VERSOS Nas linguss romanica a especificagio e denomina- 40 dos versos regulam-se pelo ntimero de silabas cont das segundo regras métricas algo diferentes do que a usual andlise fonética nos ensina. Adota-se um sé critério de contagem para as linhas com diferenca de uma ou duas silabas por terminarem em palavra oxitona, paroxitona ou proparoxitona. Diz-se entdo que o verso € agudo, grave ou esdriixulo, sem pre- judicar a especificacio de pentassilabo, hexassilabo, etc. © verso esdrixulo nada influi na contagem, visto que, segundo convencao antiga que prevalece tanto para © Portugués como para o espanhol € o italiano, em Proparoxitono posto no fim da linha contam por silaba nica as duas cue se seguem a tOnica. O verso esdrixulo € tratado como se fosse verso grave. Sar Att Em lingua francesa, finalizam os versos, de acordo com a acentuagio prépria do idioma, ou em silaba t6ni- ca, ou em tonica seguida de e mudo, possibilidades essas que se designam com os nomes de rimas masculinas € rimas femininas. £ de regra alterné-las, podendo a estro- fe conter umas € outras em igual nimero. B os versos franceses classificam-se segundo os da primeira espécie. [As outras linguas romanicas, de prosédia tao diferen- te, regulam-se pelo verso grave, forma preponderante, como em geral sao mais numerosos os vocabulos de final Atona. E por isso que 0 alexandrino, verso de doze sila- bas para os franceses, introduzido na poesia castelhana, adquire nova definigao: “Verso alejandrino a la francesa, verso que consta de trece silabas". Em espanhol, como em italiano, consideram-se formadas de 5, 7, 11 silabas linhas que para os franceses nao teriam senao 4, 6, 10. Dante em De Vulgari Eloquentia chama pentassila- bo, heptassilabo e hendecassilabo aos versos graves que contenham respectivamente 5, 7, 11, incluindo a étona final. Nao faz conta do verso agudo. Compe a Divina Comédia com 0 soberbo hendecassilabo, desdobrando, em duas silabas, ai, of, e, ou, quando se achem no fim das linhas, ¢ usando, na mesma posi¢ao final, com o intento de preencher a undécima, as formas tree, 2e, fue, giite, pitte, em lugar de tre, 8, fu, gitt, pitt, inicas empregadas no interior ¢ no comeso dos versos. Em todo 0 poema nao se apontam mais de 32 linhas com terminacao aguda (hendecassilabos reduzidos). Petrarca nao € menos favordvel ao verso grave. Em suas composicées nao chegam a meia dtizia os versos oxitonos. por diéres VERSIFICAGAO PORTUGUESA ‘A predominancia consideravel dos versos de termi- nagio paroxitona nao € privilégio do idioma italiano. No poema Os Lusiadas nao se desdobram ditongos no fim das linhas; no se supre a falta da undécima com vogal paragdgica. Ainda assim, entre os 8816 versos figuram somente 471 agudos; quer dizer, no chegam a 6%. ‘A terminacdo em silaba 4tona d4-nos impressio de um movimento ritmico perfeito, que suavemente descai e acaba no ponto onde deve. Sentimo-nos, pelo contra- rio, como que forcados a uma parada stibita, antes do tempo proprio, quando chegamos ao fim de algum ver- so agudo interposto entre os graves. Usado de quando em quando na poesia séria, agrada como elemento de variedade. Presta-se, no entanto, & poesia jocosa, na qual as vezes aparece seguidamente para aumentar o efeito cémico. Poetas, gramaticos, retéricos, quer em Portugal, quer no Brasil, tomaram 0 verso paroxitono como critério para a especificagao. Os 94% (desprezando a fracao) dos ver- sos graves dos Lusfadas foram considerados como hen- decassilabos perfeitos; 0s poucos versos agudos restan- tes como hendecassilabos imperfeitos, desfalcados de uma silaba A. F. de Castilho, no Tratado de Metrificag@o Portu- guesa, propés troca e inversio das normas até entao se- guidas, estribando-se em argumentos sibilinos e confu- sos. Deveriam contar-se, a seu ver, as silabas somente até a Ultima ténica; primeiro, porque, “chegado a acentuada, j se acha preenchida a obrigagao”. Como se 0 poeta es- tivesse desobrigado de compor versos graves. Para que “ SAD ALE entdo recomendar-Ihe, em outra pagina, que Ihes dé am- pla preferéncia? Em segundo lugar, “porque é absurdo qualificar de hendecassilabo 0 verso que conta somente dez silabas”. E seré menos absurdo chamar por sua vez decassila- bos aos versos largamente preponderantes, que constam de onze silabas bem contadas? Provavelmente no foram bem as razées alegadas que induziram o autor a propor a novidade; mas, antes, © sistema arbitrario que usou de dividir as linhas em metros, devendo estes fechar sempre em silaba tonica. Claro € que desta maneira cada verso acusa uma sobra que fica suspensa no ar sem fazer parte de metro algum; sobre a que se pretende fazer vista grossa com a nova contagem. Sabemos que os poetas muitas vezes compéem es- trofes que encerram linhas destoantes do tipo geral pelo niimero menor das silabas, com © propésito de dar im- Pressio de estacada ou parada prematura; mas nao com- preendemos a ficc4o do eclipsamento da dtona terminal justamente nos versos mais numerosos e considerados capitais, nem a necessidade de acomodar a metrificago a um sistema forcado, contrario a indole da poesia portu- guesa, como espanhola ¢ italiana. O alvitre proposto por autor de tanto renome tem sido ultimamente aceito sem exame nem discussio quer entre nés quer entre os lusitanos. Nas paginas seguintes tornaremos ao critério antigo, Hendecassilabos (e nao decassilabos) sio para nds os versos dos sonetos dos Lusiadas, completos os que acabam em silaba atona, in- VERSIFICAGAO PORTUGUESA completos 0s que param na décima. Em octossilabos (e nao heptassilabos) se escreveram Minha terra tem pal- meiras, Ob que saudades que tenho, em decassilabos O guerreiros da taba sagrada e assim por diante. a CONTAGEM DAS SILABAS Na contagem das silabas do interior do verso fun- dem-se freqiientemente em silaba tinica a terminagao vocilica atona € 0 inicio vocdlico da palavra imediata. Costuma-se dizer que houve “absorgio” ou “elisao”, exigida pela técnica versificat6ria, como se 0 fendmeno fosse alheio ao falar de todos os dias. Se absorver, elidir, significam eliminar, suprimir, ou incorporar uma coisa em outra, nao se dara isso senao em caso de serem as vogais em contato iguais ou pare- cidas. Nao ha com qu’amor, led’e cego, porqu'as maos se. Ninguém lé verso diferentemente da prosa comum, absorvendo vogais em cada linha. Nem ha jeito de dar sumigo a algum dos fonemas em ja a luz, no assento, e os bares, etc. E, apesar de tudo isso, senao por hipétes ™ aw SAID ALL sem fazermos violéncia a expressao usual, os versos soam com o ntimero exato de silabas € 0 desejado mo- vimento ritmico. Examinemos 0 caso a luz da moderna fonética. Duas ‘ou mais vogais sucessivas, proferidas destacadamente, isto €, fazendo vibrar de novo as cordas vocais para cada qual, valem por outras tantas silabas ou elementos silabi- cos. Proferidas, porém, com uma s6 emiss4o de voz, por: tanto ligadas, produzem ditongos, descendentes ou as- cendentes, e tritongos, combinagées que valem por uma silaba ou parte de uma silaba, E este 0 nosso caso. Achamo-nos em face do fend- (0 resultantes do con- tato prontincia rapida de vogais pertencentes a pala- vras distintas, Ud, ud, (como em qual, ritual, quanto) aparecem (tanto em poesia como em prosa) em do alto, rosto alvo, prado amplo; ué, ué, ué (sueto, doente) em do ermo, fraco ente; u6 em o homem; uai (quais, iguais) em do airoso, etc. E étono (que se aproxima de i atono) pode combinar-se com outra vogal, formando ditongo meno de ditongagio ou tritonga descendente, como em fere-o, ou ascendente iti, id, ou, talvez, passara e 4tono a semivogal: de um (ditim), e os Gitis ou yrs), A prontincia fraquissima de vogais atonas em conta- to permite certas combinagdes de que nao ha paralelos no interior dos vocdbulos. Se ocorrem em versos as seqtiéncias ad (a alma) & Ga (ja a), como elementos silabicos, € porque se profe- rem com a mesma emissio de voz, modificando apenas a disposigao do tubo bucal para a transigao do fonema VERSIFICAGRO PORTUGUESA abafado e fraco a0 @ aberto e forte, ou vice-versa, Ha aqui o fendmeno da ditongagio, com a diferenga que os ditongos propriamente ditos resultam de vogais desse~ melhantes. © desdobramento de ao (preposic¢io + artigo) em duas silabas @ 0, praticado as vezes na poesia antiga, de- nuncia pronéincia ocasional ou regional da época. Exem- plos bastantes de Cristévao Falcao e Camées retine Sousa da Silveira em suas copiosas € excelentes anotagdes a0 poema Crigfal, Atibuo a uma ou outra dessas causas so- @ por soe (Falco) € sa-e, ca-e, por sae, cae algumas Vv zes nos Lusiadas. Parece também que em alguns lugares de Portugal soava a terminaglo ia sem insergio de y: Ma-ria (duas silabas), a-le-gria (ués sflabas), a par dos freqientissimos Ma-ri-ya (wes silabas), a-le-gri-ya (quatro silabas). Muito conhecidas sto as hesitagbes sau-da-de e sa- u-dade, pie-dade e pi-e-dade. ‘A leitura ritmica do verso permite a ligacao das vo- gais, embora em palavras separadas por sinais de pontu: Ao. Por outro lado, uma pausa intencional do poeta, nao indicada por sinal grafico, pode separar vogais de ordi- nario unidas, passando estas a funcionar como silabas ou elementos silabicos distintos. A regularidade da uniao fonética de vogais em con- tato pertencentes a dois ou mais vocdbulos pressupde leitura algo acelerada e persisténcia deste movimento em todos os versos do poema. Casos ha, entretanto, que de- mandam leitura mais vagarosa, de que podera resultar hiato, isto é, separagao das vogais, % “ % Sato Att O génio poético de Camées sentiu por vezes ser ne- jo sobrepor-se & usual ¢ mecanizada contagem de sflabas. O lento ou addgio que requerem 0s versos. ces Fla por onde passa, 0 ar ¢ 0 vento Sereno faz, com brando movimento (IX, 24) estende-se a0 verso imediato Jé sobre / os Idélios montes pende. A segunda linha de Um Bramene, pessoa preminente Pera / 0 Gama / vem / com passo / brando escreveu-a o poeta para ser lida com andamento lento em harmonia com os passos vagarosos dados no ato solene. Seria de mau gosto recitar apressadamente a descri- ¢80 do fenémeno crepuscular, em que o sol pouco a pouco se vai sumindo no horizone. Dai o lento em Levava / aos antipodas o dia. Contraste de pensamentos ¢ contraste na maneira de ler os versos em Lusfadas X, 57-58. Ao alegro Abrolhos férreos mil, passos estreitos, Tranqueiras, baluartes, langas, setas, ‘Tudo fico que rompas € sometas VERSIFICAGAO PORTUGUESA sucede 0 addgio Mas na / India / cubiga / ¢ ambigio Que claramente pde aberto o rosto Contra Deus ¢ justiga, te Faro Vitupério nenhum, mas s6 desgosto, © nosso Casimiro de Abreu magistralmente serve-se da pausa em Meu Deus, eu sinto € tu bem sabes que eu morro Respirando / este ar. Parece que as palavras acompanham o gesto da res- piragao dificultosa Guerra Junqueiro, muito de propésito, porque a si- tuacao requer enunciagao lenta, usa em Regresso ao Lar esse estribilho: Minha velha / ama, que me estis fitando ‘A metrificagao rotineira vé nos casos apontados, e outros semelhantes, descuido ou inabilidade do poeta. Esto ainda por estudar as pausas intencionais, inde- pendentes de vogais em contato. Em geral, nao influem na contagem das silabas. Algumas vezes, porém, preen- chem o lugar de uma silaba; outras vezes, desfazem a colisio desagradavel de duas acentuadas. Supre a pausa uma sflaba fraca neste dodecassilabo de Seus Olhos (Gongalves Dias) a Mo SAID ALI As veres, oh, sim, / derramam tao fraco Consta a poesia de 49 versos dodecassilabos, sendo © segundo e 0 tiltimo de cada estrofe reduzido a um s6 hemistiquio: 0 ritmo € rigorosamente formado com o metro anfibraco, quadruplicado em cada verso comple- to. O mesmo metro nos versos curtos, que va0 até a sila- ba quinta (anfibraco completo + anfibraco inacabado). Nao se pode imaginar maior apuro em compor versos tao formosos. $6 de propésito deliberado usaria o poeta a pausa em lugar de uma silaba. Seguiu Shakespeare e Milton, que freqiientemente servem-se da patisa nas mes- mas condigdes, Confronte-se ainda o hendecassilabo Basta! / clama o chefe dos Timbiras (U-Juca-Pirama) Em alguns versos de Castro Alves, talhados para a flabas acen- declamagao, a pausa separa perfeitamente s tuadas consecutivas: “Stamos em pleno mar... / Doida borboleta Albatroz, albatroz! / guia dos mares Albatroz, albatroz! / dé-me estas asas 2% Ritmo Ritmo € 0 que nos impressiona quer a vista, quer 0 ouvido, pela sua repeticao frequente com intervalos re- gulares. Condicao essencial deste conceito € que os nos- sos sentidos possam perceber com facilidade a reitera- 20. A nogio de ritmo nao abrange fatos de cuja periodi- cidade regular, ou por muito espagada, ou por demasia- do ripida, s6 nos certificamos 2 custa de reflexio e es- forgo intelectual. Os olhos notam ritmo no andamento do péndulo, na marcha de um batalhio, e nao o percebem na carreira veloz nem no rastejar. O ouvido sente-o no tique-taque do rel6gio, nas pancadas das horas, no ruido da locomotiva, € nao o nota no tilintar do timpano elétri- co, no zunir dos motores nem em sons que se repitam com intervalos certos de horas ou dias. 30 SAID AL Produzem no ouvido a sensagao do ritmo reitera- g0es superiores a 30 por minuto e inferiores a 140, e en- tre estes limites folgados, nos quais a percep¢ao ji se tor- na dificil, determinamos as gradagdes que, segundo ter- minologia musical, se chamam grave, lento, adagio, an- dante, alegreto, alegro, etc., correspondentes & extensio maior ou menor dos intervalos. Nos exemplos apontados e outros semelhantes, o rit- mo € manifestamente positivo. Podemos também obser- véclo sob forma negativa: siléncio, pausas, interrupgdes, isto é, falhas que se repetem com intervalos iguais, Na linguagem métrica usada nos versos, 0 ritmo po- sitivo pode recair na qualidade, na demora, ou na in- tensidade dos fonemas. © primeiro caso aparece nos versos aliterantes (por exemplo, na poesia do alemao antigo). O ritmo fundado na demora, conhecida pelo nome de quantidade, € proprio da versificagao do grego e latim classicos, que divide as unidades métricas em breves € longas, conforme o menor ‘ou maior tempo que demandam para serem pronunciadas, As modernas linguas européias substituiram tal siste- ma pelo ritmo baseado nas silabas tdnicas, quer dizer, nas que sobressaem por se proferirem com maior inten- sidade. Em harmonia com esta pritica dividimos as sila- bas do verso em fortes € fracas, abandonando as antigas designagdes de longas e breves que ofendem j4 agora 0 rigor cientifico ¢ dao lugar a confusées. Os vocabulos franceses bascule, nature, por exemplo, t¢m ambos acento ténico na segunda silaba; num, entretanto, a vo- gal soa répida (ou breve), noutro demorada (ou longa). VERSIFICAGAO PORTUGUESA Nao se realiza 0 movimento ritmico unicamente nas linhas das:estrofes. Ao contrério de Mr. Jourdain, deve- mos reconhecer que fazemos versos todos os dias, a toda hora, sem darmos por isso. A diferenga esti em que rara- mente se seguem com o mesmo numero de silabas, nem se demarcam com as ligeiras pausas do fim das linhas que compéem a estrofe. Sao versos sem rima, pentassila- bos, hexassilabos, heptassilabos, etc., esparsos sem or- dem entre a prosa comum, As silabas constitutivas do ritmo, isto é, as fortes, dis- tam em geral umas das outras pela interposicao ora de uma, ora de duas fracas. Podem estas elevar-se a trés, permanecendo inalteradas em virtude de pausa depois da primeira ou segunda. Proferidas ligadamente, uma delas, quase sempre a intermédia, soa como semiforte por con- taste, valendo no verso como forte propriamente dita, Quando, pelo contrétio, colidem duas silabas fortes de vocabulos diferentes, sem pausa separativa, atenua-se a intensidade da primeira, que tera valor de silaba fraca. Indicando com o simbolo isto €, com o mesmo simbolo desprovido do sinal de acento, podemos reduzir a esquemas os diversos ritmos empregados na versificagio. A formula mais simples € a da alterndncia bindria, com que se podem fazer versos de qualquer extensio, comcegando com a forte os paris- silabos <= 22 ~ ¢ =n. Duas séries a que, guardada a restriclo de nao se tratar de longa ou breve, como em latim, podemos aplicar as denominagdes classicas respectivamente de forte, ea fraca com ~, ,€ 0S imparissilabos com a fraca ~ trocaicas e imbicas. n “ 2 Sato att As acentuadas adquirem mais realce quando as se- para espaco de duas inacentuadas. Dé-se entio a alter- ndincia terndria, Esquemas: b)~~<~~ 4. fete ert) © movimento chamado dactilico do tipo a) pode aplicar-se ao verso de oito silabas até a pentiltima. la até a peniiltima do antigo dodecassilabo reduzido, ou verso de onze, largamente documentado nos Autos de Devagdo de Gil Vicente. Com a introduco do hendecassflabo se- iano, a alternancia temnaria do tipo gundo o modelo it a) nio pode ir além da quarta silaba. © movimento anapéstico do esquema b) chega até a sexta do verso de nove ¢ de onze, ¢ pode ir até a pent tima no verso de sete e de treze silabas. Nas estrofes for- madas de decassilabos, usam muitos poetas o ritmo anapéstico até a nona sistematicamente desde a primeira até a dltima linha. O movimento anfibriquico do esquema c) € proprio dos versos de seis € doze silabas; poderia estender-se ao de nove, se tal espécie de verso no andasse desprezada. Ap! cado a9 octossilabo; 0 movimento extingue-se na pentiltima, Estruturado, do principio ao fim, com o icto ou sila~ ba forte sempre eqilidistante, segue o verso alternancia (binéria ou ternaria) uniforme. Se, pelo contrario, tem as silabas fortes separadas ora por uma, ora por duas fra- as, usoU-se na sua estrutura a alterndncia combinativa. VERSIFICAGAO PORTUGUESA O emprego do ritmo uniforme, principalmente sob as formas iambica e trocaica, € muito comum na poesia alema e inglesa, modelando-se por um sé tipo de vers ficagio todas ou quase todas as linhas do poema. Nas linguas romanicas e, portanto, em portugués, nao falan- do do verso de doze sflabas, nem dos de onze e dez que dele procederam, as linhas de alternancia uniforme entremeiam-se no poema com outras de alternancia combinativa. Este processo data de tempos imemoriais, Parece ter sido motivo o intento de fugir A monotonia, Tera tam- bem contribuido a preocupacao da rima, cousa elabora- dissima entre 0s poetas provengais e seus imitadores, es- forgo que se aliviava com a liberdade em distribuir as si- labas acentuadas no interior das linhas. A regularidade do mesmo ntimero de silabas nos versos constitutivos da estrofe ¢ a reiteragao peri6dica das terminagdes rimantes davam ja de si a impressio agradavel do ritmo. O verso pode dividir-se em grupos ritmicos, Sao fa- ceis de determinar na alternancia uniforme: Como / bragos / levan / tados / © san / gue arden / te em mi / nhas vei / as 10 / la Como 0 ar / para o som, / como a luz / para a cor / Jé nao fa / la Tupa / no ulular / da proce / la Teus olhos / to negros, / to puros, / to belos / Se passa 0 / tropeiro / nas ermas / devesas / Nos versos de alternancia combinativa, hesitar-se-4 muitas vezes em demarcat os grupos ritmicos. Recitacao B ia rapida e declamat6ria ¢ leitura menos animada nao dio sempre © mesmo resultado. Aplicamos aos grupos ritmicos de ver nas Iinguas modernas as denominacOes antigas de iam- bo, troqueu, déctilo, ete., sem pensar de modo algum em identificd-los com os chamados pés da metrificaco gre- co-latina, Nomes nao muito recomendaveis nem familia cago usada tes a todos os leitores; mas preferiveis a uma terminolo- gia nova, que seria ainda mais embaragante. Os versos nao deixariam de subsistir como movi- mento ritmico se se escrevessem seguidamente do mes- mo modo que qualquer trecho em prosa. Demandariam, porém, em caso de nao haver rima, certo esforgo para percebermos onde terminam uns e comecam outros. A genial idéia de os dispor em linhas nao s6 acabou com esse inconveniente, mas ainda obriga ao breve siléncio que os separa, igual ao tempo que os olhos gastam em correr do fim de uma linha ao inicio de outra E ritmico este descanso da voz entre as unidades da estrofe, descanso que nem o cavalgamento (enjambe ment) pode impedir. Se a poesia, recitada em viva voz, ou cantada com acompanhamento de instrumento miisico, nasceu, como parece, antes da poesia escrita, com ela também se origi nou 0 sentimento de que nao hasta compor versos se- melhantes, em métrica, uns aos outros, mas que é essen- cial demarcé-los um por um com a pausa que 0 ouvinte deve sentir. A rima veio por a delimitacao em evidéncia. SiLABAS FORTES — SiLABAS FRACAS A determinagao das fortes ¢ fracas depende do acen- ‘© vocabular, da unio das palavras em grupos expiraté- tios € do acento oracional € subordinagao de uns voc bulos a outros Toda palavra nao proclitica nem enclitica tem uma silaba de acentuagio forte, em relacio & qual sao fracas a5 restantes. Posto que parecam, a primeira vista, nivela- das quanto & escassez de intensidade, é certo que ha va- rias grada¢Ges nas sflahas fracas. Apura-as o exame foné- tico; € © ouvido leigo, prestando atencdo, distingue em geral uma tendéncia alternante de fraca ¢ semiforte: qualidade, monuménto, proporcional. Na propria pala- vra esdréixula varia a intensidade das duas wltimas: 1épi- 6, magnifico. " 6 sarp ate Os poetas naturalmente nao sabem ou nao tém idéia clara da lei que rege essas cambiantes de promiincia, Aplicam-na instintivamente e com acerto, tomando por guia 0 ouvido. E por is 0 que vemos valer como semifor- te a oitava silaba dos versos seguintes: No bergo destes pélagds profiindos (C. Atves) Repousa li no ceu etérnaménte (Cam.) Doce abrigo, santissima guarida De quem te busca em lagrimas banhada (Boc.) Pode, por sua vez, enfraquecer-se a tonica de certos vocibulos quando precedem outro que requeira maior realce € a que estejam ligados pelo sentido. Joio de Deus compés a poesia Amores, amores em hexassilabos se- gundo 0 esquema ~ ~*~ ~ ~*~, Repare-se na instabilida- de de acentuagao de certos vocabulos nas linhas seguin- tes, aliés como na prosa comum: Eu tenho um moreno, ‘Teno outro de cor; ‘Tenho um mais pequeno, Tenho outro maior. Eu tenho um moreno, ‘Tenho um de outra cor Tenho conserva 0 acento proprio na primeira e quin- ta linhas; perde-o nas outras por enfatizar-se a palavra imediata, Varia a prontincia de wm, outro de acordo com @ seguinte regra, que, no havendo intercorréncias, se observa geralmente: VERSIFICAGAO PORTUGUESA Os determinativos (possessivos, demonstrativos, etc.), os quantitativos (numerais definidos e indefinidos) e os qualificativos soam como palavras atonas quando ante- postos aos nomes. Usados, porém, em segundo lugar ou sem substantivo expresso, conservam 0 acento ténico. Quanto aos qualificativos, basta lembrar a prontincia usual de bom amigo, filbo mau, casa rica, belo pais, etc: Na versificacio pode esta intensidade crescente falhar por ser polissilabo qualquer dos vocabulos ou por assim 9 exigir a disposicao ritmica, Em versos decassilabos de movimento uniforme se- ~ evidencia-se muitas gundo o esquema ~~ 2~~2~~ vezes 0 enfraquecimento de qualificativo anteposto a substantivo, assim como 0 de verbo anteposto ao sujeito: Rouca vor. comecou-me a chamar (G. DIAS) Falam deuses nos cantos do piaga (Ioem) Nas combinagdes verbais tem visto, pode ser, quer dar, faz ouvir, etc. recai a intensidade de voz no verbo principal, enfraquecendo-se a acentuagao do auxiliar ou modificativo que 0 precede ‘Também perdem 0 acento ser, ter, fazer, dar e ou- tros imediatamente seguidos de adjetivo ou substantivo que Ihes completa o sentido. Esta regra juntamente com outras atras explicadas mostra os movimentos ondulaté- fay~ fete e~2~2~ dos versos ‘Tem o Tarragonés que se fez claro 7 sarp ALL sabe também dar vida com cleméncia la nilo fez erro. A quem para perdé- Em fez claro, dar vida, fez erro outra razao influi ain- da no atenuamento: evitar a colisio de duas silabas igual- mente fortes. A regra falharia com formas verbais mais longas: fariamos, dissemos, etc. Duas silabas fortes consecutivas, porém pertencen- tes a palavras diversas, conservam o acento normal em qualquer hipstese, desde que medeie entre elas uma pausa: Que co brago dos seus / Cristo peleja (CAM) Caminho da virtude, / alto ¢ fragoso Mas no fim / doce e alegre pes) Albatroz, albatroz, / di-me estas asas (C. Atves) "Stamos em pleno mar... / Doido no espago Brinca o luar, dourada borboleta (asst) Nas combinagées, sem pausa, de substantivo € adje- tivo ou adjetivo e substantivo, o movimento ritmico nao suporta a colisdo de duas silabas fortes proferidas com intensidade rigorosamente igual. Ou ha énfase no segun- do vocabulo, logo disparidade de prontincia, rei Mouro, lei Centa, mar Acro, ou recuo, por liberdade poética, da acentuagio final da primeira palavra para uma ou duas silabas atras, conforme as exigéncias do ritmo. Este fend: meno pode dar-se em combinagdes de varias espéci Dante recuow 0 acento em pur fi Gustamente ali) VERSIFICAGAO PORTUGUESA Percontevansi incontro, € poscia PUR Ii Si rivolgea ciascun, voltando a retro, Gridando: “Perch tieni?” e: “Perché burli2” (inf. 7, 28) Igualmente em O me: E'l capo tronco tenea per le chiome Pesol col mano, a guisa di lanterna E quel mirava noi, € dicea: *O me! (inf, 28, 123) Em portugues, a classsica construgao do verso dode- cassilabo com o ritmo anfibréquico pode servir de pedra de toque para verificagao da anomalia. Gil Vicente com- ie ~ poe as linhas de 12 silabas regularmente com a 2 ~~ 4 =; As vezes, porém, a0 lerem-se as pala- vras com a acentuagao do costume, nosso ouvido sente, —o do poeta nao o sentiria menos ~ quebra do ritmo em determinado ponto. Restabelece-se © ritmo certo recuando 0 tom, como Gil Vicente 0 teria feito: ‘Aqui achareis o TEmor de Deus Que é jf perdido em todos estados Aqui acharcis as chaves dos céus Mui bem guarnecidas em CORdoes dourados. (Auto da Feira) SAID AU Contra o principio geralmente observado de rematar © verso com ~ 2 ~, fraca + forte + fraca, iria o seguinte trecho dos Lusiadas, se 0 acento de nagdo nao se deslo- casse; sendo a linha composta segundo o esquema ~ ~ § acabou de oprimir a NAgio forte. Menos facil de interpretar € 0 segundo verso do pri- meiro canto dos Lusiadas: Que da ocidental praia lusitana Pelo que acabamos de expor, deveria ler-se como paroxitono 0 adjetivo ocidental, Por outro lado, porém, devemos lembrar-nos de que © poeta fazia questio de dar relevo a0 qualificativo, soberbo contraste com 0 pon- to de partida do heréi da Eneida. Ocidental, deve, poi ser enfitico, mantendo a sua acentuagio, embora se exal- te ainda mais a expressao praia lusitana. CESURA Entendemos por cesura uma pausa ou corte no inte- rior do verso sem estender a denominagao 4 sobra ou silaba final de vocabulo atingido pelo corte, afastando assim a deplorével confusio que se encontra em alguns compéndios e dicionrios. Pausas separativas de grupos fonéticos e sintéticos ocorrem naturalmente em qualquer ponto do verso. Apli- camos, porém, particularmente o nome de cesura & pausa intencional e usual em um ponto determinado do verso, ‘A cesura, empregada ja no hexametro e no penta- metro da poesia gre; 80 de dois versos menores, como se poderia supor a julgar somente por certo tipo de versos romanticos da Idade Média. E um elemento ritmico préprio da textura a € latina, nao se explica pela jun- do verso longo. ™ 42 sarp Att (© lugar naturalmente indicado para a divisio em duas partes é sem diivida 0 centro do verso; mas a tradi- cdo, menos rigorosa, pode ter-se contentado em fixar a cesura em ponto mais ou menos préximo do centro. O poeta desrespeitara por vezes a regra estabelecida, O sen- timento ritmico impedi-lo-4 de abusar dessa liberdade. ‘As duas partes, nem sempre iguais, em que o verso fica dividido pela cesura, di-se 0 nome de hemistiquios. A cesura € aprecidvel como corte © como pausa nfo finalizan- wando vem apés palavra aguda ou grave, a Pi do esta em vogal que se ligue ao vocabulo seguinte: 0s golpes do gibao // ajunta ¢ achega (Cast) Dos Mouros os batéis // © mar coalhavam (Ip) Nao menos é trabalho // que grande erro (pe) (© vento geme // no feral cipreste © mocho pia ///na marmérea cruz (S. DE PASsOS) Fundindo-se, porém, em silaba tinica, por efeito da colisio de vogais, a silaba derradeira da palavra paroxito- na com a sflaba inicial do vocabulo seguinte, a cesura per- de o sentido de pausa ou nos obriga a imaginar uma pau- sa ficticia. Resta saber onde, neste caso, se localiza a cesura considerada como corte ou limite entre os hemistiquios. de resolver nas composigdes E uma questio dific que permitem cesura ora apés vocabulo oxitono, ora em seguida a palavra paroxitona. Nas composigdes, porém, VERSIFICAGAO PORTUGUESA que seguem uma s6 norma, resolve-se naturalmente o caso duvidoso segundo a regra geral. No alexandrino classico, por exemplo, deve o primei- ro hemistiquio terminar em silaba forte, ¢ o segundo he- mistiquio até a 12* do verso conter 0 mesmo mimero de silabas que © primeiro. Logo, se vier no centro vocabulo paroxitono finalizado em vogal em face de vogal inicial de palavra imediata, a cesura cortaré tal vocibulo, deixando de uma parte a silaba acentuada, € de outra a restante inacentuada, ligando-se esta a voc‘hule do segundo he- mistiquio. Confrontem-se os exemplos seguintes: © fumo ténue sai // do colmo das herdades Riem ao pé da fon / te as frescas raparigas (G, Cresro) Sobre uma folha hostil // duma figueira brava Mendiga que se nu / tre a pedregulho ¢ lava (G. Jonquero) Na Agua mansa do mar // passam trangiilamente (Bure) Sobre as ondas osci / la 0 batel mansamente pew) 4” CAVALGAMENTO (ENJAMBEMENT) A denominagao cavalgamento é preferivel nao so- mente por ser portuguesa, mas ainda porque nos permite fazer uso do verbo derivante em harmonia com © nome, como sucede em francés com enjamber, enjambement. Dizemos que um verso cavalga por cima de outro, quande 0 sentido da frase se interrompe no primeiro ¢ se completa no segundo: Desfez-se a nuvem negra, € cum sonore Bramido muito longe 0 mar soou. Eu, levantando as mos ao santo coro os anjos, que tio longe nos guiou, A Deus pedi que removesse os duros Casos que Adamastor contou futuros. (Canoes) “ 4% Sato Att Eram ja neste tempo meus irmios Vencidos e em miséria postos (oem) Em francés dé-se o nome de rejet 3 palavra ou frase completadora do sentido que ficou suspenso no verso an- terior. Em portugues, podemos dizer parteexcedente, ou 56 excedente. Tais sio nas citagdes acima bramido, dos anjos, casos, vencidos. Segue-se-the geralmente uma pausa, © uso do cavalgamento tem limites. Nao se poe no fim do verso artigo, pronome tono, pronome adjunto, numeral adjunto, preposig40 € certos avérbios e con- jungdes, Ofendem 0 ouvido e bom gosto de hoje caval- gamentos como 0 seguinte, de um estribilho do Cancio- neiro, de D. Dinis De mi viir de vés mal, se Deus nom Pos mal de quantas eno mundo som, Nem nos agrada isto das cantigas de Santa Maria: Tu és a mais fremosa cousa que estes meus Olhos nunca viron; porén seja cu dos teus Servos que tu amas. E muito menos 0 despedagamento de vocabulo, que em uma ou outra das ditas cantigas aparece, imitacao tal- vez de alguns versos de Horacio’ 1, Confrontem-se Et pois *Retribue Ser- VERSIFICAGAO PORTUGUESA © cavalgamento foi por muito tempo considerado como defeito de versificagao, ainda quando se conservas- se alheio a exageros como os que acabamos de apontar. A estincia referente ao gigante Adamastor, em que © poe- ta cumula tés cavalgamentos, no seria tratada com bene- volénci pelos criticos se ousassem erguer taovalto a vista, No século passado, Victor Hugo e outros rebelaram- se contra a tirania implantada pelos classicos da literatu- ra francesa, Desde entio 0 cavalgamento deixa de ser um fato raro. E a admiragao pelas obras geniais desses poetas reformadores, ¢ ao memo tempo pela forma do verso por eles mais usado, fez com que se introduzisse em nosso idioma o alexandrino romantico, nome dado a nova feicio do verso de treze silabas. Estendeu-se tam- bém 0 emprego profuso do cavalgamento ao nosso hen- decassilabo. Vo tuo" muit’omildose (Cant, de Sea. Maria, p. 31) Labitursipa, love non probante U= (or,, Odes |, 2, 199 2. Boweau, Art postique, no clogio a Melherbe: Enfin Malherbe vint, et, le premier en France, Fit sentir dans le vers une juste cadence, Les stances avec grice apprirent a tomber, Bele v sur le vers rvosa plus enjamber. a LiMITES DO VERSO Linhas excessivamente curtas, de uma, duas silabas, quer dizer, monossilabo ou dissilabo sem acentuagao fi nal, aparecem as vezes com o valor de eco, refrao, etc no fim ¢ no meio de outras mais longas constitutivas da estrofe. Tais elementos secundérios sio imprestaveis para, por si sés, formar poemas. O verso propriamente dito co- mega com 0 trissilabo. Usam-se linhas dai para cima até um limite determi- nado por tradicao antiga © modificagdes ulteriores. Na cantiga popular portuguesa, os versos graves constam, desde tempos remotos, de oito silabas, as vezes de seis. Durou esta limitag&o até a época em que escritores eru- ditos comegaram a compor poemas uns em octossilabos, ‘outros em versos de onze e doze. Finalmente, em tem- 50 sap att pos mais chegados a nés, abertas as portas ao alexandri- no francés, parece estabelecido que a linha no deve it além de treze silabas. Algumas tentativas modernas de composigées em versos mais longos nao encontraram eco na literatura. Os versos compridos de 14, 16, 18 silabas que se nos deparam na literatura medieval (p. ex., nas Cantigas de Santa Maria por Afonso X, 0 Sabio) resultam da uniao de outros menores (7 + 7, 8 + 8, etc.). Desdobrados grafi- camente — 0 que facilitaria a percepcio do ritmo ~, a rima apareceria em linhas alternadas. Versos longos como o de treze silabas, ¢ ainda ou- tros de ntimero inferior, tém, além da pausa separativa de verso a verso, uma pausa interna, chamada cesura, a qual faz sobressair 0 movimento ritmico VERSO DE TRES SiLABAS [A possibilidade de formar estrofes apreciéveis come- ca com o verso de trés silabas tendo naturalmente a dis- posigao ritmica ~ 2 ~, igual a terminagao de qualquer ver~ so grave de maior extensio silabica. E de uso raro. C: mro de Abreu serviu-se dele na poesia imitativa A Valsa Na mtisica 0 icto cai no comego do compasso; no verso, a silaba forte tem de ocupar o segundo lugar. Consta a referida composi uma, com as elegantes pausas de palavra oxitona nas li- 10 de cinco estrofes de 31 versos cada nhas décima, vigésima, vigésima sexta e na Ultima. Lem- braremos aqui os primeiros versos Tu, ontem, Na danga, M. SA1O ALE Que cansa, Voavas, Coas faces Em rosas Formosas De vivo Lascivo carn Na Valsa Tao falsa, Corrias, Fugias, Ardente, Contente, Tranguila, Se De mim, 2 VERSO DE QUATRO SiLABAS Linhas de quatro silabas (ou trés em verso agudo) inserem-s , para introduzir variedade e graca, nas compo- sigdes em octossilabos, principalmente sendo a estancia longa. Tais linhas denominam-se octossilabos quebrados: Quando me deito no colmo, Sempre sonho que te vejo, Que te falo, e que te beijo A branca, nevada mio. Acordo, pastora, ¢ foges Eu fico mais triste entio, E tale, talver que Elvira Nem se lembre de que Alfeu, Se suspira, ™ 4 SAID AU Se delira, E 86 por motivo seu. (Gonzaca) Terra de pao e de vinho, Quem a fez com seu stor, Sua dor, Seu carinho, Sangue do seu coragio (A. Conzein De Ouivetna) © que saudades tamanhas Das montanbas, Daqueles campos natais! Daquele céu de safira, Que se mira Que se mira nos cristais (Castoano be ABrev) Nao se compdem poemas empregando somente o verso de quatro silabas. Alguns poetas, como Espronce- da, entre os espanhdis, chegam as vezes a formar estin- cias inteiras com o tetrassilabo, subordinadas, todavia, A textura geral do poema em versos de oito silabas. VERSO DE CINCO SiLABAS © pentassilabo teve, na poesia quinhentista, a mes- ma aplicagao que © verso de quatro silabas, Alternava com este na fungao de octossilabo quebrado. Mais tarde, sentiu-se que com o verso de cinco sflabas (movimentos Boece ) bem se podiam compor estrofes € poemas, capazes de rivalizar em concisio € elegincia com © estimado verso de seis silabas Se sta falta, ‘em outra pronta, Que a dura ponta Jamais torceu Ninguém resiste os golpes dela: ” 56 sArD ALL Marilia bela Foi quem tha dew. (Gonzaca) Foram-lhe algozes Os seus extremos; Mortais, amemos, ‘Mas nao assim, (Gangio) Se 0 peito moro Doce conforta Sentisse agora Na sua dor, Talvez nestiora Viver quisera Na primavera De casto amor. C. be Anau) Virgem das Dores, Vem dar-me alento, Neste momento De agro sofrer. (C. Awes) Folha revolta Que anda no chao, Ligrima solta Do coragio; VERSIFICAGAO PORTUGUESA Corpo sem vida, Haste sem flor, Folha caida Do meu amor, (. be Deus) Deixai pesares, Cantai louvores, Ornai de flores Os seus altares, (oe) 7 VERSO DE SEIS SILABAS © poeta, a0 compor versos de seis silabas, pode lan- car mao de qualquer destas trés formas: a)~ bs On Esta Ultima dé mais prazer ao ouvido, ja pelo movi mento acentuadamente ondulatério, ja pela separag4o mais espacada dos ictos. Isto explica 0 vermos muitos poemas compostos unicamente com este ritmo anfibraquico. Exemplos das diversas espécies de hexassilabos: Saudade e suspeitas Altorto € a direito Nao sereis desfei “ saro Att Quando eu for desfeito? Inda 0 frio peito, Inda a lingua fria Por vés bradaria (SA De Min.) A verdura amena, Gados que pasceis, Sabeis que a deveis, Aos olhos de Helena Os ventos serena, Faz flores de abrothos O ar de seus olhos (Cam) A vista furtiva, 0 rriso imperfeito Fizeram a chaga, Que abriste no peito, Mais funda € maior (Gonzaca) Joao de Deus, na graciosa poesia Amor e na humo- tistica Amores, amores, amores, no usou senio o ritmo anfibrquico. Lembrarei de uma e outre apenas: Nao ves como eu sigo Teus passos, nao vés? 0 elo do mendigo sais amigo VERSIFICAGAO PORTUGUESA Do dono talvez! Amores, amores Deixé-los dizer Nilo sou eu tio tola Que caia em casar. Goncalves Dias usou 0 mesmo metro nas quatro es- trofes em hexassilabos de Sonho de Virgem Que sonha a donzeta, ‘Tao vaga, to linda, Benquista ¢ bem-vinda Na terra € no céu? Tirou o nosso poeta partido deste ritmo sobretudo na poesia imitativa. O indio livre cantando os seus feitos aos sons do boré; 0 indio prisioneiro fazendo ouvir a sua bravura no canto de morte, servem-se do mesmo ritmo singelo, em harmonia provavelmente com 0 movimento da danga do silvicola. Na Cangao do Tamoio é o pai que nina o filhinho na rede, Acompanham as palavras o ritmo do embalar: Nao chores, meu filho: Nao chores, que a vida E luta renhida. Viver & lutar a eo SAID ALI A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos, S6 pode exaltar E assim por diante nas 10 estrofes dessa linda ber- ceuse, que exprime sentimentos e esperancas do valente Tamoio. VERSO DE SETE SiLABAS S4 de Miranda, CamBes € outros poetas, admirado- res ¢ imitadores da versificacao italiana, ensinaram-nos a empregar 0 verso de sete silabas associado ao de onze em estincias nao isossilébicas. Nao importa que as linhas de sete sejam poucas ou muitas, contanto que na estrofe figurem também linhas de onze. © verso de sete, em tais condigdes, € um hendecassilabo quebrado. Jana Canzone ¢ na Ballata de Petrarca figuraram 0 versos de sete como hendecassflabos inacabados, pr6- prios para avivar a atengio do leitor e em harmonia rit- mica com os hendecassilabos inteiros. Modernamente, Joao de Deus, Castro Alves e outros empregam 0 verso de sete silabas no somente em fun- 20 secundaria, conforme a tradi¢ao, mas ainda como Mo SAID ALE verso emancipado, constituindo por si todas as linhas de varios poemas. Esquemas e exemplos: Orfeu as cordas fere Consola um peito afito Ganhei, ganhei um trono Pagou con morte fria Nao tarda a minha vez Amor nem sonhos tem Deu-lhe dedos ligeiros Desce a0 reino profundo ot (Gonzaca) (ies) pe) (Cam) (Casino DE ABREU) (desi) (Gonzaca) (oes) VERSIFICAGAO PORTUGUESA ‘Onde os membros descanse (pew) Pois permite € consente (Cam) Tais extremos mostrastes (pe) Ardem ricos perfumes (Sk De MIR) ‘Trilhas pela amplidao (CasTRo ALvES) Que rompiam os ares (Cam) A cantar seus amores (or) De fazer seu oficio (oem) No siléncio consiste (oe) Extinguiu-se 0 vulcio (Casino DE ABREU) 6 66 SAtD At Como ¢ fund o sentir WV.2e-2-26 Torno os tormentos graves Olhos que sto to belos Soltam ao vento a vela Fluxo ¢ refluxo eterno ‘Tu jd mataste a sede, Mate-me a sede a mim. Enche de assombro a terra Sempre morreu de amores (ive) am) (oe) (SA De Mix.) (Joko be Deus) oes) (Gonzaca) pen) VERSO DE O1TO SILABAS De todos os versos 0 mais usado € mais popular, em portugués como em espanhol, é 0 de oito silabas, muito antigo nos dois idiomas ¢ conhecido como verso de re- dondilha maior. Desmente o principio ilusério de acen- tuacao obrigatoria em determinadas sflabas, tratando-se de versos cuja estrutura se baseia na alternancia combi- nativa, Castilho deu regras v: de metrificadores mais recentes, € reconhecendo a sua inconsisténcia declara por fim que em um poema de ver- sos octossilabos (ou septissilabos, como Ihes chama) no s6 € cémodo para o autor, mas agradavel ao leitor que os haja de todas as contexturas. Essas contexturas diferentes, de que todos os poetas se utilizam, abrangem todas as localizacdes possiveis das rias e embaracantes, como Mo SAID ALL silabas acentuadas, desde que as separe uma ou duas inacentuadas, Forma: Ama um canto © pescador Ladra a lua como um cao Sente a seiva do porvie Pranto ao riso se mistura Dobra as leis da fantasia és descalgos, bragos nus Sabe ainda ser clemente Em espanhol: Tu los siglos hollarés 68 , Pois, 0 octossilabo segundo estes esquemas: (Casto Aves) (pe) Coes) (Gongatves Dias) (pew) (Casino De ABREU) (idem) (Esproncepa) VERSIFICAGAO PORTUGUESA Mienteas grita maldiciente (Campoamon) Besa a un nifio encantador (oe) Tw ~ O ritmo dos versos deste tipo pode confundir-se com o dos versos do esquema precedente. A primeira si laba nao € necessariamente inacentuada, mas soa como tal na recitagao natural que liga as palavras iniciais, ate- nuando a primeira silaba e reforgando a terceira. Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabi (Gongatves Duss) Leve ruga no semblante oem) Doce tir dos céus encanto oem) Sacudi as frias tampas (Casto AtvEs) Quando © vento rumoreja (Casimano De ABREU) Nunca ouviste a voz da flauta pe) 9 “ SAD ALE Seja grande embora o crime Quando escuto 0 triste mocho {A gemer no meu telhado, Qualquer mal excogitado Nao me deve algum temor. 56 receio que me agoure Mau sucesso ao meu amor I ees oe Gostavam do sol brilhante Gostavam das vivas cores Desertas de branca areia As aves que aqui gorjeiam Nao quero palavras falsas, Nao quero um olhar que minta Nao his de mudar 0 mundo (oe) (Gowzaca) (Gongawves Dias) pes) (ion) pes) Cows) (S& be Min.) VERSIFICAGAO PORTUGUESA Quem diz o que viu nao mente (pes) A tema de aromas cheia, As ondas beijando a areia, a lua beljando 0 mar. (Castano be ABREU) Envolta nas simples galas, Cantando cangées formosas (ves) Bu quero marchar com os ventos, Ginete dos pensamentos (Castmo ALVES) Em espanhok Recé con amor ardiente (CamPoamon) Descansa perpetuamente IDV pets ets ote Coes) Recuerdos del bien que huy6 (Bspnoncepa) Nao eniro tanto nas gracas (Sk De Mn.) n n saro att Sentindo a brisa do tio, Ouvindo 0 melro a cantar (Joke De Lemos) Brincar na fresca verdura Dalgum copado arvoredo (Guerra JunquetRo) Esbelta joga a fragata (Gongatves Dias) Suspensa a amarra tem presa (pent) Cansado doutros esbogos (Casrao Atves) Puxando os carros dourados (pen) Coas trangas presas na fita (Castano De Auneu) Rufando alegre o pandeiro Coes) Mulher mais linda nao ha (pe) VERSIFICAGAO PORTUGUESA Em espanhol. Tocando el mar de colores (Campoamon) Mirad las aguas que corren. (pes) Alli convidan al suefio (EspnonceDa) En mi la ciencia enmudece es) Vig eo Fogem d'ouvir as sereias (Sk De Min.) Tantos murmuram na praca pe) Descem gritando em batalhas (ves) Ha de cair sobre as ondas (Gongawves Dias) Sente a verdura sumir-se (osm) Sei que sto flor de esperanca (Gongatves Diss) n 1" sap aut Dobra a procela no céu (Casrno Auves) E erguem-se as lapides frias Saltam bradando os herdis oe) Pelas pedrinhas saltando (Casino De ABREU) Segue depois seu ceminho Coe) Vinha fitar as estrelas (oem) Deixa corer teu batel Coes) Deu-the 0 divino esplendor (Gurara Junquento) Em espanhol: Muestran sus garras feroces (Campoavon) Siguen cantando las aves (oes) ‘Vagan los aires suaves (oes) VERSIFICAGAO PORTUGUESA Para templar mis enojos Busco mi luz em tus ojos (Espnoncepa) Linhas compostas com qualquer destas cinco séries ritmicas entrelacam-se nas poesias octossilabas de varios modos e sem regularidade de estrofe a estrofe. Demons- tram variedade; mas no é provavel que tudo se deva ao propésito de mudar a técnica. Haveré motivo mais pro- fundo para a passagem a linhas diferentes que parecem exprimir as idéias com toda a naturalidade. O poeta satis- faz ao impulso de assim se expressar, sem preocupagao da variedade, e sem saber dar outra raz4o, sendio que 0 verso Ihe soa bem ao ouvido. ®

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