You are on page 1of 21
Prof. Dr. Juarez Cirino dos Santos Professor Adjunto de Diteito Penal da Universidade Federal do Parand Teoria da Pena Fundamentos politicos e Aplicacao judicial ICPC Lumen Juris 2005 1. Potitica Crimina £ Direrro PENAL A Politica Criminal constitui o programa oficial de controle so- cial do crime ¢ da criminalidade — uma definigio comum em textos contemporineos de Criminologia' -, enquanto o Direito Penal repre- senta o sistema de normas que define crimes, comina penas ¢ estabele- ce os principios de sua aplicago — um conceito generalizado em tex- tos de Direito Penal.’ No Brasil e, de modo geral, nos paises periféri- os, a politica criminal do Estado exclui politicas piblicas de emprego, salitio, escolarizacio, moradia, sade ¢ outras medidas complementa- tes, como programas oficiais capazes de alterar ou de reduzit as condi- {G6es sociais adversas da populagio marginalizada do mercado de tra balho e dos dircitos de cidadania, definiveis como determinagdes es- truturais do crime ¢ da criminalidade; por isso, 0 que deveria set a politica criminal do Estado existe, de fato, como simples politica penal instituida pelo Cédigo Penal e leis complementares — em iiltima instan- cia, a formulagio legal do programa oficial de controle social do eri- me e da criminalidade: a definigao de crimes, a aplicagio de penas ea execugio penal, como niveis sucessivos da politica penal do Estado, representam a tinica resposta oficial para a questo criminal. Logo, se a politica penal constitui 0 programa oficial para enfrentat 0 problema so- cial do crime ¢ da criminalidade, entio 0 Direito Penal, como formula- i lgal desse programa oficial (descrigio de crimes, cominagio de penas KAISER, Kriminlaje. CE. Miller, 1993, p. 642-643, 2 Comparar ROXIN, Sirgfct. Beck, 1997, § 1, a8. 1-2, p. 1 Nesse sentido, BARATTA, Criminolgia erica ¢etca do Direto Penal. Feeitas Bas- 10s, 1999, 2 edict, p. 203-204. Teoria da Pena ¢ definigdo de principios de execucio penal), realiza o programa de controle social do crime da criminalidade. Como se sabe, a politica penal tealizada pelo Direito Penal élegiti- ‘mada pela teoria da pena, estruturada pelos discursos de rerbaigao do ccrime e de prevengio geral e especial da criminalidade ~ as funries atribu- {das 4 pena criminal pela ideologia penal oficial.* Nessa perspectiva, 2 compreensio da Politica Criminal ~ rectius, politica penal vigente pres- supde 0 estudo das funder atribuidas 4 pena criminal, como instrumen- to principal do programa oficial de controle do crime e da criminali- dade. ‘Mas é preciso esclarecer: a anilise da pena criminal nio pode se limitar a0 estudo das fungdes atribuidas pelo discurso oficial, defini- das como fungies declaradas ou manijestas da pena criminal; a0 contré- tio, esse estudo deve rasgar 0 véu da aparéncia das fungdes deelaradas ou -manifestas da ideologia juridica oficial, para identificar as fungSes reais on latentes da pena criminal, que podem explicar sua existéncia, aplica- io € execugio nas sociedades divididas em classes sociais antagéni- as, fundadas na relagio capital/ trabalho assalariado, que define a separa- Sio forza de trabalbo/ meios de pradugao das sociedades capitalistas con- temporineas. De um modo geral, as formas ideoldgicas de controle social possuem uma dimensio rea/pela qual cumprem a fungio de re- produzir a realidade, e uma dimensio iluséria pela qual ocultam ou en- cobrem a natuteza da realidade reproduzida.* No caso da pena crimi- “Ver BARATTA, Criminlga ete etc do Dire Pena. Fecitas Bastos, 1999, 2 cig, p. 191; comparar ROXIN, Sirafect Beck, 197, §3, 08. 1-32, p. 41-54, 5 CIRINO DOS SANTOS, A criminal radial Forense, 1981, p. 9: "O Dinto (ona cad) ¢ interned necesiri da prada epitlta, no gual nade or, mat, pelo qual tude sore: a ideale aridce da protecio gel de sujitos lives e iguais (chs do dite direlaco-merad) ocuta a desgualdade das res ates de prod 1 (pes de cesses), congo das rages comics tbe otrabalador eas reas de Politica Criminal « Dirito Penal nal, as fungSes deelaradas ou manifestas constituem o discurso oficial da teoria jutidica da pena; ao contritio, as fungdes reais ou latentes enco- bertas pelas fungdes aparentes da pena criminal, constituem o objeto de pesquisa da teoria criminolégica da pena.® ‘Além disso, 0 estudo da relagao entre Politica Criminal e Direito Penal, na perspectiva das fungSes delaradas ou manifesta e das fungBes reat ou latentes da pena criminal, pode explicar a esquizofrenia do pro- ‘gtama oficial de Politica Criminal realizado pelo Direito Penal nas s0-

You might also like