CAPITULO 3 A CONSTRUGAO DO INSULAMENTO BUROCRATICO E DO CORPORATIVISMO E A NACIONALIZACAO DO CLIENTELISMO (Com Getilio Vargas a Revolugao de 30 inaugurou um longo periodo de state building, caracterizado pela intervengio na economia e pela centra- lizagio politica e administrativa, processos que se intensificaram apds 1937, com a instauragio da dtadura do Estado Novo, também chefiada por Getili. Durante os 15 anos do primeiro governo Vargas (1930-45), trés novas, gramaticas para as relagGes entre Estado e sociedade foram experimenta- das pelas agénciase regulamentos recém-criados: implementou-sealegis- Iago corporativista, ¢ foram criadasinstituigSes corporativistas;ensaiou- se'0 insulamento burocrético, através da criagio de novas agéncias ¢ ‘empresas estatais; buscou-se instaurar o universalismo de procedimentos, principalmente através de tentativas de reforma do servigo pablico e da Jmplantacao de um sistema de mérito Estas novas graméticas “modemizantes” interagiram com uma antiga, 0 clientelismo, que foi traduzido para as insttuigdes formas por meio da ope- ragio de um sistema politico que beneficiava os grupos locas ¢ estaduais remanescentes do periodo altamente descentralizado da Repablica Velha, ‘no qual as méquinas politicas desempenharam um papel fundamental. Exte capitulo retratainicialmente @ evolugio histricae a insttuciona- lizagio das trés novas gramaticas modernizantes surgidas com a Revolu- ‘gio de 30 e mostra como elas interagiram e se amalgamaram com os ar- Fanjos clientelistas previamente dominantes. Mostra ainda como 0 gover- no federal, cada vez mais forte, concentrou em suas maos € “nacionalizou” (s meios para o clientelismo. Para tanto, sero analisados o quadro ins- titucional e 0 conjunto de polticas, inaugurados pelo processo de state building implementado a partir de 1930 e patrocinado pelo novo regime. «48 AGRAMATICA POLITICA Do BRASIL PANO DE FUNDO: 0 DESAFIO A MoperNizacao Do ESTADO BRASILEIRO. A Repiiblica Velha (1889-1930) caracterizo vadora,oligai 1m, em oposicao & ordem privatista tradicional? Estes debates ¢ crises desembocaram finalmente na Revolugio de 30, interesses diferentes — e mesmo antagénicos O novo regime implementou a cenraizagio mas teve de contentar, a0 ineemo feMPO, os grupos rurais, os grupos indusireis emergentes, os Tatts, cs profisionais de classe médlia eos operition Ione significou a incorporar e domesticar os qabalhadores, proteger a burguesia cafeeia e meenieer © aparetho de estado, na busca do universalismo de procedime nes Longe de destruir as bases locas e personalistes da Repiiblica Velha, 0 te reg 9 POs-30 sustentouse nels para conseguir apoia' bee ‘movimen- ett ainda mais claro apés 1937, quando editions instalou, ¢ 0 ‘ltadorteve de se apoiar ainda mais fortemente cre medidas ndo-univer-[A CONSTRUGAO DO INSULAMENTO BUROCRATICO 49 salsa para conter as presses regionals eloctis.O resultado fi seiogto sels Priamos para substituir 05 lepslativos locas € nomeagio de sr ementores para desempenhar a fungio de governador de estado € prefeito em todo pais. ‘No Ambito do governo federal, a nova oxdem pés-30 contribuiu para jnsntecionalizar a gramética da troca generalizada que caracterizou 2 Repablica Velha. Uma vez que o Estado de compromisso signtioaya @ nada de decisdes as vezes contraditrias para apradar a gTupos OpOStOS, S primeiro governo Vargas conferu expressio institucional 3s pressbes cotta o clientelismo, criando no interior do aparelho de Estado tenses aire seus partidérios eos defensores do universalismo de procedimentos. ‘Com a Revolugio de 30, Geto assumiu 0 poder enfrentando uma série de enormes desafios: na politica interna, uma coalizio de apoio fragmentada; na economia interna, uma grave depress que ameagava & poderosa oligarquia cafecira ¢ a arrecadagio do Estado; no ambito das Telagoes eeonémicas intemacionais, um dramético estrangulamento das txportagées e a necessidade imediata de renegociar a divida,associads @ fortes press6es de bancos estrangeiros, que queriam impor condigdes para femprestar dinheiro ao Brasil. Este conjunto multifacetado de desatios ‘exigia pronta agio por parte do governo. ‘Vargas respondeu a esta sobrecarga de desafios com um conjunto de medidas, que se iniciaram em 1930 e estenderam-se até 1945, mudando para sempre a face do Brasil. O processo de mudanga entéo desencadeado Folufa: a) intervengio estatal na economia, através da criaglo de agencias fe programas, poiticas de protegio ao café ¢transferéncia de todas as de ‘isbes econémicas relevantes para a esfera do governo federal; b) centra~ lizagio politica reforma administativa, acionalizagio emodernizagio do aparelho de Estado; ¢)redefinigio dos padres de relacionamento entre ‘oligarquias locais e estaduais, intensificagao das trocas entre 0 governo federal e os grupos estaduais, com a simultinea centralizagio dos ins- trumentos para o exereicio do clientelismo; d) incorporago do trabalho ‘emi moldes corporatives. (0 conjunto de medidas postas em prética por Getilio deu expresso institucional a um labirinto de tendéncias aparentemente contraditorias, Primeiro, o universalismo de procedimentos foi perseguido pela reforma do servigo piblico e pelo estabelecimento do sistema de mérito, sob a supervisto do Departamento de Administragio do Servigo Pablico(DASt). Segundo, oinsulamento burocrtico foi conseguide com as recém-criadas autarguias, com as aividades do mesmo DAs? — em seu papel de érgio consultive da Presidéncia e de agéncia de formulagéo de politicas — ¢$0 ‘AGRAMATICA POLITICA DO BRASIL cnais tarde com a etiacao de empresas ante a: Tetceito, 0 cliemtelismo fo; exercido através de um intricadey conjunto Nas financas pablicas, a desordems en dissipagao havi inten etPios fundamentais, com exeonan © abusiv Gamesma forma e, muitas vesee acontecia qui 8 solugdo dos primeizos.* Um breve resumo das respostas esse conjunto de desafios demonstrard Como 0 governo Vargas alterou Profundamente a face do pais as razéeg ene’ © Presidente se sentiujustifiends Para pronunciar um discurso tao nas 1d0s. Muitos dete, agentes pessoas do Presidente, foram escothides 4 fleas dos antigos “tenentes* inn Jovens © modemizantes oficine do Exército que tinham Patticipado da Revolugd Jovens oficiais substitu, iti i[ACONSTRUGKO DO INSULAMENTO BUROCRATICO St {A posigdo do interventor enfeixava enorme prestigio ¢ volumosos recursos proprios a patronagem.” De fato, muitos interventores tomnaram- fe importantes lideres politicos dos partidos conservadores do perfodo 45. Para substtuit 0s “carcomidos” e governar os estados, os inter~ Nentores tiveram de firmar coalizées com facgdes das oligarquias es- taduais, o que certamente enfraqueceu o impeto revolucionério das novas administragoes. Esse processo de coalizio com facgées das oligarquias assumiu contor- nos diferentes em diferentes estados, sendo que alguns passaram por um periodo de conflito aberto com os “tenentes” © com 0 govemo federal, nies de entrar em acordo com este dltimo. Em Minas Gerais, onde a politica era muito fragmentada, ficou claro desde o inicio que a adminis- tragio federal “modemnizante” viria a se desentender com as importantes ¢ resistentes oligarquias locais * Em Sao Paulo a coalizio entre os “te- nentes” e aoligarquia local passou por vérios estigios, desde 0 comego da nova administragio, e foi gravemente ameacada pela Revolugio Cons- titucionalsta de 1932. Somente depois de derrotar a insurreigio 0 governo federal pode reiniciar suas tentaivas de se aproximar da oligarquia paulis- ta? Jéem Pernambuco, Getilio estabeleceu uma coalizao com as facgoes mais periféricas da oligarquia do interior, ¢ ao mesmo tempo promoveu aberturas populistas em direglo aos pobres urbanos. Esta estratégia abriu mais espago para a autonomia fedcral em relacio a oligarquia dominante até ent, Para neutralizar uma oligarquia, Vargas firmava coaliz6es com facg6es oligérquicas periféricas."” Entretanto, no plano federal o regime prosseguiu na diregio da centra- lizagio e da racionalizagio. As agbes iniciais de Vargas foram precedidas por uma lei de poderes especiais decretadas em 11 de novembro de 1930, gue lhe conferia poderes legislativos e executivos. Antes do final de 1930 Geto jf tinka criado dois novos ministérios: Educagio ¢ Satide € Trabalho, Indistia e Comércio. Em 1931, além de criar uma comissao para analisar as finangas dos Varios niveis de governo, Getilio nomeou uma comissao legislativa para proceder & reforma dos cédigos legais; reformas legais, entretanto, 36 ganharam impulso apés a instauragdo da ditadura em 1937. Também em 1931 fi criada uma comissdo para centralizar a aquisigio de mateiais para 0 governo (Comisséo Central de Compras). Antes do final desse mesmo ano, Getilio langou o Cédigo dos Interventores, que proibia os estados de contrair empréstimos externos sem prévia aprovagio do gover- no federal, vetava o uso de mais de 10% do orgamento dos estads para$2 AGRAMATICA POLITICA DO BRASIL Depois da Revolugéo "opaganda (DIP), para *mecidas pelo governo Em oposigdo a supastairracionalidade da Repiblica Velha, 0 primeiro Boverno Vargas é também marcado pela forte Preocupacao com coisas racionais. Apés ainstauragdo da ditadera en. 1937, um dos primeiros atos busca da racionalidade, que caracteriza '@nova administraco, Em 1931 foi assinada uma nova lei trabalhista, que “defimin quem podia ser sin- dicalizado, Além disso, o funcionam A estrutura comporativa eriada depois de 1930 ‘contribuiu ainda para a Sranalizagio e a estatizagio dos instrumentos para Clientelismo. A i trio do Trabalho, com seus departamentos, regionais, a Justiga do Trabalho, os sindicatos, 2s federagbes e as contederagdes (..)ACONSTRUGAO DO INSULAMENTO BUROCRATICO 53, _erou milhares de novos empregos.""* A criagio de vérios outros minis- {érios e de dezenas de agéncias produziu milhares de empregos para individuos de classe média, advogados, burocratas ¢ intelectuais, contri- buindo para ampliar a presenga do Estado na vida nacional.” ‘A itadura de 1937 aprofundou o processo de centralizagio e raciona- tizagao. O Poder Legislaivo deixou de funcionar, o Die foi encarregado da ‘censura de filmes, programas de radio e da imprensa,e greves e locautes foram considerados “comportamento anti-social”. ‘A Consttuigao de 1937 foi um documento engenhosamente concebido para cassar abruptamente direitos ¢ garantias de todos 0s cidadios, exceto do govemo federal. Este documento foi exemplarmente complementado pelo decreto-lei n® 1022 (08.04.1939), conhecido como Lei dos Estados e Municipios. O artigo 2° da Consttuiglo de 37 acabava com os simboles, bandeiras ehinos de todos os estados; apenas os sfmbolos nacionais seriam aceitos como politicamente legais. Os estados deveriam ser governados pelo interventor e pelo Departamento de Administragio. Entretanto, 2 ‘maioria das poiticase das legislagdes implementadas pelos estados depen- de aprovagao presidencial. Parasuspender todos os dteitos cvs foi constitucionalmente declarado 0 “estado de emergéncia”, que permaneceu em vigor até 1945, quando extinto pelo regime democritico que sucedeu ao Estado Novo, (© primeiro governo Vargas deu inicio, igualmente, a um processo de insulamento burocrdtico. O DASP,criado pela ditadura em 1937, constitui talver o mais importante exemplo de insulamento burocritico daqueles anos e simboliza a busca da racionalidade que caracteriza 0 periodo. Como um correlato para “racionalizaglo”, a centralizagio, a padronizagio ¢ a ‘coordenagio consttuiram os objetivos méximos do DasP. O sistema ‘coordenador, para empregar um jargio daspiano, teve inicio com a criagio ‘da Comissio Central de Compras em 1931 eprosseguiticom a constituicéo {do Conselho Federal do Servigo Pablico e das Comissoes de Bficiénci ‘em 1936." Em 1938, a criago do DASP coroou a constituigio do sistema organizador. (© DASP era um organismo paradoxal, porque combinava insulamento bburocritico com tentativas de institucionalizagio do universalismo de procedimentos. Criado para racionalizar a administragio piblica e o servigo piblico, 0 departamento preocupava-se com o universalismo de procedimentos em assuntos relacionados com a contratagio e a promogio dos funciondrios pablicos. Nesse aspecto 0 DASP representava a fragio moderna dos administradores profissionais, das classes médias ¢ dos rilitares, tomando-se um agente crucial para a modernizagio da adminis-AGRAMATICA POLITICA DO BRASILACONSTRUGAO DO INSULAMENTOBUROCRATICD 55 smentos com centralizagio, busca esta patrocinada pelo novo regime, foi tim verdadeiro processo de “nacionalizagio” das recursos para o cliente- Tismo, com o governo federal se transformando no tnico e todo poderoso patron. STATE BUILDING: INTERVENGAO NA ECONOMIA ‘A intervengio do Estado na economia, iniciada no primeiro governo ‘Vargas, ji fi analisada e documentada por muitos autores. Sera necessario apenas uma breve referéncia, com o objetivo de completar o modelo que permitiré 0 conhecimento integrado do processo de centralizagao dos recursos clientlista. ‘Oprocesso de intervengio do govemnona economia corre paralelamente {busca da centralizagio politica e administrativa. Um exemplo claro foi a confisco do controle da politica do café das macs de Sao Pauloem 1931, através da ctiagio do Conselho Nacional do Café No final de 1930 Getilio entregou o monopélio do cimbio ao Banco do Brasil. Em 1931 estabeleceu-se também o controle diteto de todas as transagSes em moeda estrangeira de acordo com uma lista de prioridades, governamentais. Em 1932 foi criada a Caixa de Mobilizagio Bancéria (Casto) do Banco do Brasil, como a primeira — e malsucedida — insttuigo de controle monetério ¢ financeiro.” ‘Aintervengo na economia foi realizada de trés maneiras: a) criacio de agéncias regulatérias e adogio de politicas regulat6rias; b) criagio de institutos e agéncias estatais para a “defesa econdmica” de determinados produtos e indistras; ) eriagio de empresas estaais e autarquias. No ‘Anexo esti listadas cronologicamente as novas agéncias ciadas eas mais {importantes iniciativas politicas tomadas no perfodo p6s-30, com o obje~ tivo de documentar a intensidade do processo de construgio do Estado, de centralizacio administativa e de intervengio na economia, ocorrido du- rante 0 primeiro governo Vargas. ‘Oavango da intervengio na economia foi entrelagado com o da criagdo «dos meios insttucionais para uma intervengi0 efetiva. No perfodo pés-30 estes processos caminharam paralelamente 8 centalizacio administrative, 2 criagio de novas agéncias e & busca de racionalidade, o que deu origem a muitas agéncias estatas especiais. ‘A informagio tomou-se matéria-prima vital: era necessério conhecer a extensdo da divida piblica, omimero de funcionérios rabalhando no setor pilblico, o mimero de agéncias do Estado. Novas agéncias foram criadas para enfrentar esse desafio.AGRAMATICA POLITICA Do BRASILACONSTRUGKO DO INSULAMENTO BUROCRATICO 57 ta esrutura estatal a partir de 1930. Em 1941 a configuracio do estado Fé alamente complex, antecipando em larga esa 0 seu proceso de expansio nas décadas subseqiientes. "A partir da observacio dos Quadros 2 ¢ 3 pode-se identifica os vé- ios upos distntos de intervengio do Estado, resumidos acima. A varie- ‘ode de agéncias e fungSes existentes no inicio da década de 40 serviv para diferentes objetivos nos anos seguints. Os institut de previdencia eecial, em contraste com as unidades de produgio, serviram a propésitos Clientelistas, perderam sua eficiéncia e terminaram substituidos por um ‘Sistema nacional de previdéncia social, durante o governo militar insta- Jado em 1964, De outro lado, as unidades de producio, dependentes do insulamento burocratico, floresceram, expandiram seu papel e pre- senga e,finalmente, multiplicaram seu nimero para cerca de 500, duran- te 0 regime militar. Os dispositivas corporativistas permaneceram em vigor e se expandiram numa teia de conselhos econdinicos, conferindo iim nitido ar de corporativismo social &s primeiras instituigoes estatais ‘Ainstitucionalizagio do corporativismo, do insulamento burocritico © ‘inicio do universalismo de procedimentos emergiram como resultado e, 420 mesmo tempo, realimentaram 0 processo de construgao do Estado, a centralizacio, a incorporagéo regulada do trabalho € a intervengio na teeonomia. A concentragao. a nacionalizacio dos recursos para oexercicio do clientelismo transformaram 0 governo federal no principal patron © pemitiram a institucionalizagdo combinada das quatro graméticas em “Ambito nacional. A partir desse periodo, o clientelismo no pode mais ser percebido como uma caracteristica de municipios, caciques e coronéis. As quatro graméticas tomaram-se parte do estoque de alternativas politicas do Executivo federal. (0 processo de intervengéo do Estado acelerou-se com a instauragio da itadura em 1937 € com 0 envolvimento do Brasil na Segunda Guerra “Mundial. Ao final do governo Vargas, em 1945, 0 Brasil era um pais bastante diferente comparado A Repiblica Velha. Um aparetho de Estado complexo © centralizado substituiu o velho sistema federativo ¢ liberal, meios tecnocrit ‘casde controle foram criadas econcentrados nas mios do Estado, regulamen- {os corporativas foramn estabelecidos para incorporar o trabalho. Este impressionante processo de construgio do Estado beneficiou-se da existéncia de um regime autoritério, Os arranjos corporativistas, o recém-criado aparelho de Estado eo universalismo de procedimentos do ase jamais tinham operado num ambiente democritico até 1945. Esta estrutura iria agora Ser testada,tie op ouays ‘sein o4n09 oxy) ‘sossiey 22 RH 2 eps ela ap aap naps Peele 2 uae S39 2 uggs omebaag 9 Daas EY SPL, scpyy ciratsventoy “Shenrapon ap eal RMN PIRRRIY opine sary °TEEN SEQEPNaIW em 9 oy Semen ow ommy Sot “aL Sean ny agg SED 7 = = oT Ta = pe craetetsep oxfief wis opeuey> wpquiay) Zr6r ‘teresg, i tied sopessiuupy 2 opetsa om ssyaaousydog sodtai9g 2 sernysnpuy zowavaoomer taney ara car MY ESV =H erro eenes tou epson open wworsenaany Siang SIV «CUIpUT oBSenstuwpy,, Oundsep opel we epeureyD uIgqurEy) 4 BaesD0INg vfad SOPLS|UPLIPY-OUN 2 Opes oF sa}uaoUapIEg SOSLAI9G 9 SELNSRPUY couavad0 _AGRAMATICA POLITICA DO BRASIL ‘STATE BUILDING: O LONGO IMPACTO Dos OBSTACULos INTERNACIONAIS ‘ienstrucéo de modemasestruturas estatais no Basil fi Controlada a partir do século xrx, por elites estatais bem eapaci GRArIco1 Brasil: 1900-1943 ‘Taxa de Importacio como Porcentagem des Rendimentos do Estado 30. ts) 1216 20° 242830 Set 1900 Ano 1943ACONSTRUGAO DO INSULAMENTO BUROCRATICO 6 consumo fomecia a segunda maior fonte de receita do Estado: 21% do fotal da receita em 1930, 20% em 1935, e cerca de 29% em 1942. 0 immposto sobre a renda das pessoas fisicas cuja arrecadago teve inicio em 1924, permaneceu por um longo perfodo como uma fonte irrelevante de receita: era responsével por apenas 2,17% do total da arrecadagao em 1924, 447% em 1929, 7,75% em 1933, 11,82% em 1938, ecerca de 20,52% em 1942 ‘Acestrutura da arrecadacio mostra uma mudanga marcante apenas a pattirda década de 50. Os impostas sobre importagao representavam 11%, 11% € 7% do total da arrecadagio em 1950, 1960-€ 1970, respectivamente. s impostos sobre consumo atingiram os niveis de 63%, 57% e 67% em 1950, 1960 e 1970, nessa ordem. Nesses mesmos ancs, © imposto sobre a renda das pessoas fisicas cresceu para 26%, 32% ¢ 28% do total." grande depressio do final da década de 20 revelou a fragilidade de tum Estado cuja principal fonte de renda depende do comércio exterior. 0 prego do café caiu de 22,5 centavos de délar, em setembro de 1928, para ‘centavos de d6lar, em Setembro de 1931. O comércio exterior do Brasil restringjw-se de forma dramitica: as exportacoes despencaram de 446 milhées dedélares, em 1929, para 181 milhoes, em 1932, e asimportagSes ‘airam de 417 milbGes de délares, em 1929, para 108 milhées, em 1932, ‘Sem moeda forte e com reduzidas receitas de exportacao, 0 pais nio podia pagar sua divida extema; a remessa de ouro foi uma soluglo apenas lemporiria, que levou & dissipacéo das reservas no final de 1931. “A relagio entre o servigo da divida pablica e as exportagies cresceu de (..) 15% para (..) 43% no perfodo mais sério da depressao (1932-33).""" 0 Brasil parou de pagar em setembro de 1931, quando o servico da divida chegou a 30% das exportagies. Os banqueios intemacionais ja estavam descontentes com a estrutura oligérquica e federal do Brasil hé muito tempo. Ao negociar empréstimos para o pais, os bangueiras ingleses freqientemente solicitavam 0 es- tabelecimento de um sistema de govemno mais centralizado. Os banqueiros pediam a centralizacio do processo de contabilidade, a criagio de alguma espécie de banco central ¢ 0 controle federal sobre os'empréstimos contraidos pelos estados. Os banqueiras pretendiam ainda exigir que o governo brasileiro aceitasse a presenca de especialistas estrangeiros para a realizagio de uma auditoria na economia e nas contas nacionais, com o objetivo de recomendar medidas que deveriam ser aceitas pelo Brasil. Em 1924 as Rothschild fixaram uma politica que condicionava a concessio de novos empréstimos a0 pais & concordincia brasileira em reeeber um especialista brRinico. A misséo Montagu, como passou a ser62 AGRAMATICA POLITICA DO BRASIL Geccida, tecomendou que o governo Fedral controlasse os estadon a fim si protezeraeredibildade brasileira no exterior ede garantie na recursos intleses: jd comprometidos em empréstimos no pasos por alguns es- tados.2? Anos depois, em 1931, seguindo a mesma politica, outro tepresentante dos Rothschild, a Missio Niemeyer, foi envindo a6 Bran apds 0 enten- Thrgette Prévio de que.o governo enviara um convite ae tee esco- Ihidos. Este“convite” era, na verdade, uma exigé iia do governo bit Ae desciava que o trabalho da missioaparecesse publcamente en Finn saver Prestado pelos técnicos ingleses. Os termos beien pole misgaenbm gue o Brasil concordasse com as recomendagoes fens Pela missio convidada? » A insisténcia na centralizagéo refletia, de um lado, a Preocupagio dos bancos com a seguranga de seu préprio dinheito, De Outto, refletia uma ilidade que tera de se alteradacedo ou tarde, sea por ressdo externa proven este brasileira pela modemizacio: 0 sistema eomtibil bento, raticamente , ao havia boas estatisticas nem qualquer infor. Zustto confidvel a respeito da divide. “Até 1916, nunca tivha can publ cado um boletim estaistico. Uma comisséo instalads any 1931, para o cstudo dda divida externa, encontrou uma situagio de “desordem, des- Perdicio ¢ irresponsabilidade” em termos de informagao; era virtualmenteACONSTRUGAO DO INSULAMENTO BUROCRATICO 463, ‘Tanto a Missio Montagu, de 1924, como a Missao Niemeyer, de 1931, recomendaram a adogio de medidas para aumentar a capacidade de controle sobre as finangas ¢ sobre a arrecadagao, orgamento ¢ avaliagio, além da fiscalizagao. Ambas missdes insistiram, ainda, na necessidade de ctiagio de um banco central Se de um lado as pressdes extemas exigiam respostas do Estado no sentido de melhorar seu pr6prio poder de barganha junto aos bancos, de ‘outro essas mesmas pressoes vinham ao encontro de pressées internas, similares, riundas de jovens militares e de administradores profissionais. Accrise de 1929 tomou inevitiveis as respostas do Estado. NOTAS 1. Eul-So0 Pang, “Coroneismo in Nontheast Bra, in Robert Kem (or), The Cociqus, 97 2: Wanderley Guiherme dos Santos, Cdedania sia, 9.7; Robero Schwarz, Ao vencedor as batoas, Vite Nunes Leal, Coronelamo,ensade € voto p13. 3. Otivio lan, O Exado eo planejamento no Brat, Wanderey Guilherme dos Santos, Onde burguesa eliberaamo polio. 4. Bis Fausto, Revolugd de 190: hstriografaehistria, p10 5. Mario Wagner Vieira Cun, O sistema administrative brasileiro, 0-4 {6 Gitadoem Moris L- Cook, Bazi on the March, p278 7-Houve mesmo casos de ministosqoedenaram suaspassporumaine rents, come Fernando Cosa (init da Agra noma inierventrem Seo Pail em 1941)eAgamenon Mogalhes(ministo do Tabata nomeadoiterventoretPeran bucoem 1937. 8. Helena Mara B. Bomeny,“Acstatgi de concilingo: Minas Geis abertura ole dos anos 30° in Angela de Cato Gomes (org), Reanaisnoeconralisagio poltea: pares econtitines nos anos 30. 9. Angela de Csiro Gomes, Repionalomoe cenralizagdo.. op. ci, 237 10, Aspisia Camargo, “Authoriaransm and Populism: Bipolar in he Bazan Poca! Sytem” n Neva Aguat (org), The Sructre of Brasiian Development. 11, Angela de Casto Gomes, “A constrgio do homem aovo: 0 rabalador bear" in Lcia Lippi de Oliveira, Monica Pineta Veloso © Angela de Caso Gomes (orgs), Estado Nov, ieologia e poder. 12, Simon Schwartzman (org), O Estado Novo: um auto-retato Ver embém, do ‘mesmo auto, Tempas Caparena. 13, Wanderley Guilherme dos Santos, Cidadania justia, op. cl. .6. 14. dem 15. Hem, 16, Helasa HT de Souze Manns, Estado ea buroeatizagio do sindicoto no Brasil. 17. Ségio Mice, nlecmaise classe rgente no Brasil, 1920-195, p.132(4 —_AGRAMAMICA POLITICA DO BRASIL 18, Reltrio do oast-194,Presiéncia a Replica, 8. 19, Giver B. Siege, "Me Viisitudes of Governamental Reform in Brazil: A Study ofthe base, Tese de Doutorado; Lawcence Graham, "Civil Service Reform in Bras Principles versus Proce Latin American Monogepis 20. Em mites casos o DASPsubstivia outs mecanismos de itermediagio ene 1 govemno federal eos estado. Nas palavas de Maria do Carmo Campelio de Souza, “vedados os canas tadiionas de epresentcio infin. as anlgas € novas cligaguas fram absoridas ou encuraladas nm sistema qu tha como fol as interventeias, acopladas argos breton subordinads 0 DAS, suet, por sua ‘ez, 90 presidente da Replica (.)O papel do DASPé sem dvida decisvo, no plo {ue de real eforma poss er reslizado, mas pela sa fangao na montage daestrutira de poder bureratien a deumcniodetansrssio ene Exeutvo federal aplica dos estado.” Ver Mara o Carma Campelo de Souza, Bstado e partes poiicas no Brasil, 1930-1964, p86, 21. Karl Lowensti, Brasil under Vorgas; Maia do Carmo Capello de Souza, Estado partidos plicos no Brasil, 1930-1964 22 As teases etre represerago politica desempenhatn plo iterentoresea ‘sca da raionalidade empreendia pelo govern federal sio pariculamente bem iusteadas peo decretoeln 1022 de 1938, que proba osinterventores acontatacso de parentes, mesmo disanes, execto par Tangles tempociris que exigsem oi ‘eliade pra a ealizagio de una determinada miso. 23, W. Suzgan, “Industialzaio e politica econtmic: ums interpreta em perspective histriea”, Pexuisa Planejamento Econdmico. 24, Embora o Basi tvesse voiado wma nova Coastiuigo em 1934, « Lel de Seguranga Nacional, aprovada plo Congress em 1935, substitu efto s pderes do Legisltiv. Esta ei permia » Vargas lil por decet, mesmo antes da instlogo a diadura de 1937. Ver Angela Maria de Casto Gomes, A represenagio Geclases.", 0p ct, p37. 25. Carlos Manoel Peléez, Mitra daindustialzagdo brasileira: rica &eoria esrauraista no Brasil; Ati Viele W.Suzgan, “Polca de gover ecresi- ‘mento ds economia braslira, 1889-1945", Monografia 26, Alber Fishlow, “Origins nd Consequences of Impor Substitution in rai”, in Las DiMarco (og) International Economic Developmen. 27, Marcelo de Paiva Abres, “A miso Niemaye, Revista de Adminstragio de Empresos;Saney Hin, -Vatgas and Brazilian Economie Development, 1930-1945: ‘A Reappraisal of His Attude Toward Industaizaon and Planing”, Journal of Economic History. 28. José Murilo de Carvalho, “Poical Elites and State Building: The Case of [Nineteenth Century Bra”, Comparative Studies in Society and History, Alexandre Barros, “The Brazilian Miltary: Professional Socialization, Political Performance, and State Building, Tee de Doutorado. 29, Reltrio do DASP-1941, Presidncia do Replica, p84 100. 30. Fitageraa p.132 3. Eric Balanof, “Development and Intemational Economy” n John Saunders (61g), Modern Brac 532. Marcelo de Paiva Abreu, “A missfo Niemayer"; Maria Lécia Olvera, “A tendénci entalizagio eo fendmeno do autoriarsm”, Dados.[ACONSTRUGAO DO INSULAMENTO BUROCRATICO 6S 38,0 London Timesinsistivem que Sir OtioNiemeycrfoiconvidadoa virao Brasil 4.0 New York Ties noiciow que ele fora enviado a0 Brasil pelos Rothschild. O Trautho de Marcelo de Paiva Abreu confirma a noticia do New York Times. Ver ainda Otivio lanai, Estado e planejamento no Brasil p.1. fargus and Brazilian Economic Development, 1930-1945: A ide Toward Indusralzation and Planning”, Journal of Eco Reappraisal of His Atti omic History, 9.767°8. ‘3. Simon Schwartzman, Bases do autritarismo brasileiro, p.187.