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GFE 9 Om Mh “13 a O; misica para a mente Dea el=re= preton or-llon eel AR: sabores essenciais Colecione o Olhar Adolescente. TAH BLZA :-))? — © Olhar Adolescente é a nova série em quatro edigdes da revista Mente & Cérebro. Uma obra de referencia para pais, educadores e profissionais da satide preocupados coma formacao dos jovens deste pais. Em cada edicao, respeitados especialistas das areas de neurociéncias, psicologia, psiquiatrie, educasao e medicing, entre outras, apresentam estudos classicos e as pesquisas mais recentes sobre temas especificos, tecendo um painel multidisciplinar de cada um dos assuntos abordados. Os artigos so escritos em linguagem clara e ricamente ilustrados para vocé compreender melhor os intrincadas e fascinantes processes fisicos, mentais e socioculturais que nos levam a vida adulta oye) al dee Baek ae adolescente te Paes ga Rien 1: TEMPO ‘CAMINHOS. 4 ESPELHOS DE PAIXOES DA COGNICAO DA SOCIEDADE mecto neste NTO ABSTRATO Des: ViNCULOS FAMILIARES SEOn ‘ Gikias, MUSICA E cODIGos VALORES E CONS VIRTUAIS JULGAMENTO MORAL DIAROSE ETRANSGRESSAO MMRIORIDADE PENAL DE adc ahte Uma sérieespecialde WT soli a0 seu jornaleiro Duetto tu acosse wurutlojaductto.com.br SUMARIO 6 Portas da percepgao ates Aidéia de cinco sentidos esté ultrapassada, POM ca piocasvens mal ta eee ia 10 contusao de sensacoes pe Massie Bane Asinestesia ndo ¢ doenga, mas fenémeno sensorial quase sempre relacionado 4 memiéria ea criatividade acima da média 16 Tecnologias para sentir jaan FE ei clogn ecreeiissay ei fice Bev cpentnau aes ce tas 24 células a beira da morte kamsDeen Entender a formagao e a degeneragao macular do cristalino ajuda cientistes a combater doengas como. Alzheimer ¢ aids 32 chips que ajudam a enxergar Ket Boats Sistemas eletrnicos inspirados no funcionamento cerebral podem sera hase para implanies de silicio ea restauragao da visio 40 othos em disputa vesouni Risoe tne Die Roos hme Ere nentosteiion fentmeno vsul que sada a entender como océrebro resolve conflitos de pereepgao A6 cérebro atinado Neate Qual o segredo do poder da musica? Em busca de respostas, Gentistas desvendam o que Sonne elec tines ease wawimentectrero.cmnon 3 54. Emocao a fior da pele Fear eda, Cine Ciere Fane Nica Rentarb Kontez Algumas miisicas nos afetam a ponto de provocar arrepios. O ‘que faz com que essas obras tenham esse efeito sobre nds? 60 Ao alcance das maos ibecesteas Fas ee OE ase oka = trend Go ree 68 vivendo com fantasmas ice ‘Como nas historias de terror, a0 longo dos séculos a sensagaio de dor intensa dos membros-fantasmas tem assombrado médicos € pacientes . 78 aromas da atragao Douctas ets Una estrucura discreta, que conecsa 0 nariz ao cérebro e passou despercebida por séculos, €essencial pare a atragio sexual 84. Para driblar o gosto amargo Novos aditivos enganam o cérebro, fazendo-o acreditar que eeiic rade ce usin ee sreerimentecerabro.com br Dineron¢EnAL:ALIREDO NASTARL DIRETOREXECUTIVG: ANTONIOCOSTA DIRETORA Do GRUPO CONHECIMENTO: ANACLAVDIATEERABL ESPECIAL SEGREDOSDOS SENTIDOS EDAGAO MENTEECEREERO {(edacnomecOdietioeditoral com be) EDITORA: Glues Lest DIORA ASSISIEN Es Locara Ctstnte REVISAO fea Adora coon. laa tl Lcuraoch ete Roberto Maka “RADUGAO: Ea Seaps, lode Olvera, Nac Howl Sulokriger Talat EDITORA DEARTE: Smane Olea Veira ASSISTENTES DEARTE: atane Santer de Oia eMac So PESQUISA CONOGRAFICA: is NatoGnoenagio) ‘Sra ercare Capea Fxceta PRODUCAO GRANICN: sarerera STRATAMENTO DE IMAGEM: Caria Vie Cra Zao qa Sper ds Wonca riagageselichat Sevag 35 (2tz5iteebery, Alemanhe fbIToR:Canten konneber DINGTORES CERENTES: artustonloe Thomas Ments6Cérsbre éumapubleago da Ediour, Segmen'o-Dueto Editorial tda, com cantesio inttiacona fomecdo pela Gao, sb lena de Scientific American, ne fun Cunna Cage, 412 = 33 Pinheeos~ So Fale, SP Cepsosiat oor Tel. 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Nameros wubos podem er Selitados 20 oar, antral deatendimeno a eto. 30388300 ea peo ste wvrojatuetto ura labial ria de nés rio percehe exatamente 0 quanto eles sio gran des, julgamos erroneamente sua velocicade ea que dlistincias se encontram, o que, aliés, é uma que _naio causa freqiente de acidentes, Nfo_—condiz com 0 resolvemos esses probkinas nos que € falado, Perguewe a tortusando internamente sobre qualquer pessoa que soira de «pais on quantos sentdes «stig ervaquect sre como um eth gogpouetas gman enwolvdos, mas com acriago deme pode desencadara dor Pos: eaeGure mane um todo perceptual. st fungi sivelmente, todos nds temos essa quetém ohos, quanto cerebral superior ousea, conical facldacleemmeioroumenor grax Mas compexo 0 Tomemos 0 estranho caso da ¢ € por isso que 0 bs € az pi pete sinestesa, fendmena de contami: Obviamente, ¢ conkisio da sensors pritnos nagao dos sentidos quenio chepa_nomerclatura nio aiuda, Aleumas aseruma doenca. As formas mas coiascomumente rotuadas como freaientemente relatadas slo sentir “sentido nfosto nada diso (ent sons, leas, nimeros ou paves dode perda, eextosentido etc), Ein associadoea cores. Atéhem recen- _compensagio, nosso rligio biol temente as pessoas com sinestesia _gico, que marca o tempo interno cram ignoradis, corsideradas de- do organism, deveria serincluido lizantes ¢, 4s vezes, confundidas nessa lista Ou seria isso parte da com doentes mentais. Elas sto percepgao, ¢ nav de um sentido? capazes de falar, com a maior Como de hibito, o destino naturalidade, sobre a textura de da ci@ncia € contestar crengas um aroma, o sabor das diferentes cotidianas e desfazer mitos, De- letrasoua melodia do gostodeum —_ pendemos muita de nessoaparato péssego, Oque iso nosiniormaé sensor, edizerque ee ri0€ do COP a «que os sentdlos nio G0 entidades importante a principio pode pare- Yeon Porspctve, independentese quea percengio — cermaiquice, Mais cedooumais 1974. 6 seu produto final. tarde, porém,essahistériade cinco Percepga0 Ebem possivel eueo cérebro sentides vai parar na lta de lino © realidadle steja onganiza f r ‘entifica, fazenclo mnhia a = Intredugo a0 excisorn eadonan erate ce, aren camara te aided mente essaespéciede “misniadosgeracioespontinene afrenoloain, Penwentiva Artois sentidas’ como partedoprocessa- entre outros absurdos. =e. Comes Perini. mento perceptive. Acumulam-se eresmu — Imago, 1993, ronsamenteceretroxomar 9 SINESTESIA 10 Confusao wando escrevo uma equagio na lousa vejo (os nsimerose as letras cle Cores diferentes, E me pergunto: que diabos meus alunos ‘yeem A frase € do americano Richard Feynman, Nobel de Fisica em 1965, Ele faz parte de um grupo de pessoas para quem 0 ntimero dois pode ser amarclo, a palavra carro tem gosto de geléia de morango € a nota [4 evoca a imagem de um circulo, por exemplo. Essas sto algumas das experiéncias sensoriais que povoam 6 cotidiano das pessoas com sines- tesia, Sia sensagGes dificeis de imaginar, mas tremendamente reais para quem as vive, tantoque os sinestésicos pensam que todae as pessoas cém as mesmas perepcies, Fles caramente sabem que so dotados de uma caractesfstica particular, mas Go tardam muito a descobrir seu extraordinério potencial criativo. Estima-se que 0 fendmeno atinja uma em cada 300 pessoas. A sinestesia € um fenomeno de coniaminagio dos sentidos em que um nico estimulo ~ vistal auditivo, ollativo ou tstil ~ pode desencadear a pereepgao de dois eventos sensoriais diferentes e simultancos, Hé pessoas, por exemplo, que toda vez que sentem um odor {real}, escutam certo som {imaginécio). Outros enxergam em cor uma letra do alfabeto escrita com tina preta, Néo se trata de um transtomo temporério na maioria dos casos, ainda que haja algumas rarissimas excegties; por isso uum doe principais cvitérios para o diagnéstico da sinestesia é suo estabilidade ao longo do tempo. Geralmente a associagéo entre estimulo ¢ HENTTACEaEBRO + SETIDOS A sinestesia nao 6 doenga, mas sim um fenémeno sensorial quase sempre relacionado a meméria criatividade acima da media ‘torido ‘enquanto #e ouve As quatio estacdes de Vivaldi, ou desfrutar antecipadamente 0 sabor de uma tora aque ze v8 na vitrine ‘so exemplos de sinestesia cognitiva, diferentemente a verdadeira sinestesia, nesses casos 3 experienc! sensorial nao € percebida como real O cego que tocava cores 0 fildsofo inglés john Locke fei o primeiro a des erever a sinestesia. No Enscio sobre o entencimento ‘humano, de 1690, ele conta a historia de um inte lectual cego que, depois de muito refletir sobre como representar 03 objetos visiveis, orgulha-se de ter finaimente percebide o significado da cor vermelha: “E como 0 som de uma trompa’. Para alguns historiadores, porem, 0 primeiro registro do fendmeno sinestésico € do filésofo Grego Aristételes, que escreveu sobre 0 para: ‘que & aguido ou grave a0 ouvido e aquilo que € dspero ou suave ao tato”, Oconhecimento sobre a sinestesia se ampliou no inicio do séeulo XVIII graces aos trabalhos do fisico inales aac Newton e do matemitico ale Gottfried Leibniz. 0 primeiro estudouo casodeum cego que representava as cores com o timbre dos strumentos musicas; osegundo observou a exis: 12 venrtecéneina + sevrtos percepg30 ocorre apenas em tim sentido: quem vé acor vermelha {imaginétia} toda vez que owvea nota dé (real) ndoescuta a mes- maciora (imaginaria) quando xe qualquer coisa vermelha (real) Totalmente involuntaria, a si nestesia nao pode ser contro- Inda, nem induzida na auséncia do estinulo especifico. E € justamente a incapacidade de controlé-la que a distingue das chamadas sinestesias cogniti- vas, que se caracterizam por ascaciagées de idéias (objetos, conceitos, cores, sons) ¢ de pendem, na maioria das vezes, de oxperiéncias artisticas indi viduais e de condicionamentos culturais. Alguns exemplos de sinestesia cogpitiva sto pensar num campo flosido enquanto se couve As quatio estagaes de Vivaldi cou desfrutarantecipadamenteo sabor de uma maravilhosa toria que se vé na vitrine; em ambos (s casos a pessoa sabe que néo téncia de umarelacio entre as coresque compiem espectrodaltzvisivele as notasdacscalamusica Em 1880, 0 polimata inglés Francis Galton publicou um artigo na Nature no qual descreveu pessoasque, uma vex submetidasa estimulosreais, percebiamatributosinexistentesnestes, por exem- plo, a corde um nimero, Galton intuiu que nao se tratava de simples associagao conceitual, mas de ‘um fendmeno de percepgao contraditoria ‘Acomunidace cientifica recebeu o estudo com cetidsmo, e a maiotia dos pesquisedores preferiu ignorar o fendmeno, que julgavam ser fruto de ‘mentes fantasiosas, sugestiondveis ou propensas ‘aenganar o pesquisador. Os avangos na area no foram ignificativos até a segunda metace do sé- culo XX. Nas décadas de 60 e 70 surgiram muitos estutlos sobreos efeitos sinestésicosde substancias como fcido liséegico, mescalinae psilocibina Sinais misturados Em uma das formas mais comuns de sinestesia, olhar para um ntimero evoca uma Sinais neurais da retina vigam cor especifica. Esse fenomeno aparentemente ocorre porque éreas cerebrais que paraa res 17, também normalmente nao interagem no processamento de cores € numeros, avam umas as ‘chamada de V1, na parte ‘outras nos sinestésicos, posterior do cérebro, onde S40 quebrados om atributos Junge TPO. simples como cor, forma, ‘movimento e profundidace. informagao da cor continua até V4, no giro [Aten fusiforme perto de onde a Lobo temporal impresséo visual de ntimeros érepresentada—e, portanto, local de conexdio cruzada entre as areas de core ‘nmeras (setas rosa e verdes), Finalmente, a.cor prossegue “mais acima’, ara jungao TPO (temporal, parital, occipital), que pode 3 processamento de cor ‘mais sofisticado, Da mesma forma, um estigio posterior ‘da compuitacéo numérica ‘ocorre no giro angular, uma parte do TPO que se oaupa dos conceitos de seatiéncia ‘e quantidade. Isso podria cexplicara sinestesia em pessoas que relacionam Lee Lees sees coaaecen ane dias da semana, esti no campo florida € que é de uma fungio, como 2 alasia significative confunde dlreita preciso comprar a torta, Ja 2 © a amnésia", diz. Portanto, ¢ esquerda, Seu ponto forte experiéncia sencorial induzida os sinestésicos so pessoas so as faculdades mneménicas, pela verdadeira sinestesia € — absolutamente normais, quenio —_particularmente a memsé: percebida concretamente,como —_manifestam problemascognitives deelarativas eles se lembram de se fosse real xt cutias dislungdes. muicos aimeros de telefon Segundo o psiclogo Jamie datas, senha, fatos ¢ eventos Ward, da Universidade de Canhotos e crlativos Também € comum se recor Londres, a sinestesia nao € —Alguns estudos conduzidos darem com petfeita precisio de doenca "O que a distingue pelo médico Richard Cytowie, _longos difloges de filmes, tre do maioria dos transtornos — pioneiro na pesquisa da sines- _chos de livros e instrugies ver Psiquidtricos ou neuroldgicos é —_tesia, indicam quea memériae ais. O que nao se sabe ainda, © fato de os sinestésicos serem a criatividade dos sinestésicos _entretanto, ése essa capacidade dotadosdeumsintomapositivo, sto superiores as da média da excepcionalsedeve a sinestesia isto €, de uma caracteristica populagdo. Por outro lado, 0 propriamente dita ou a algum ausente na populacio em geral. senso de orientagia. nia to fenimeno carrelaro Os distirbios geralmente se bam assim primeiro sinestésico re caracterizam pela austacia A maioria dos sinestésicos _gistrado na literatura médica ou pelo comprometimento € canhota, ¢ um percentual foi em 1922, de umacrianga de O primeiro caso de sinestesia registrado na literatura médica, de 1922, referia-se a uma crianga de 3 anos e meio ‘nmementcereoocorntr 13, JE, sinestésico desde a infancia, ficou cego aos 42 anos, mas ainda “via” cores ao ouvir certas palavras Mundo codificado pelas cores Em um teste de capacidade de sogregagio Cor especifica a um ntimero especifico podem, instantaneamente, ver um padrio ‘embutido em uma imagem com rkimeres pretos espalhados sebre uma pagina branca, Enquanto uma pessoa com percepsie normal precisa realizar uma pesquisa ‘numero:por-numero para perceber, nesse exemplo, os Zentre os 5 (esquerda), 0 grupo em forma triangular dos 2 sobressal para um sinestésico (alicta) 3 anos e meio. Até hoje niose sabe ao certo em que idade o feedmeno se manifesta, muito menos se as percepgdes cruza. day na infancia sio as mesmas ‘na idade adulta, Nenhum sines: tésico se lembra do momento exato em que comecou a ver a letra A sempre pintada de vermelho ou a nota do exalar um perfume de rosas, Segun- do o professor de psicologia da Universidade de Trieste I, sinestésicos que unem uma Walter Gerhino, durante o periodo de desenvolvimento da aprendizagem percepriva os elementos do sistema sensorial seassociam, de modo estével ¢ regular, a estimulos espeeificos. Nao sabemos que associagoes so apropriadas ow nao. A permanencia das experiéncias sinestésicas na faseadulta pode ser explicada como um pro: cesso de selegio diferenciada das respostas adequadas aos u 5 2:5 5S! (5.95 5.5 esas fg 3.25 5 55 25/2 es soe Stas Soa S Sse 5 5 3. 5 25 55) 286 5 Qo 9S 25 Se ee 5 ge ele So 2 Sees Ie.oos Soom s luma pessoa encara ur objeto central 2 futres (arto) ele parece borrado -invs sinest6sico poderie deduir ondmero exntval pela cor que de evra (= [Nimeros “invisvels” aparecem para sinestésicas em um teste de percepcio. Quando Ju um sinal mais, um énico dgito era um lado cl de ser visto com a visio petiferica (xquerda). Mas se © nimero € circurdado por vel para a pessoa normal, Em conkraste, um 14 svennnscinttna + sexnoos estimulos’, explica psiedlogo. Ouura bipdtese seria a origem genética, que no exclui a pri meira, ao contiério, a comple menta, Nao € rare haver mais cde um sinestésico na mesma fa inilia. Além disso, 0 fendmeno E urés vezes mais freqiiente em mulheres. Alguns pesquisado- res cogitam a participacao do cromossomo X na transmissao dessa caracteristica Letras escondidas Ainda nao ha um teste ine quivoco para diagnosticar a sinestesia, em parte porque a pesquisas sisteméticas na rea tiveram inicio hé poucas décadas. Um dos testes mais usados atualmente, conhecide como teste da genuinidade }, foi desenvolvido pelo professor de psicopatologia Go desenvolvimento Simon Baron-Cohen, da Universidade ce Cambridge. 0 TG mede a estabilidade da relagio entre estimulas € respastas ao longo do tempo: uma seqiiéncia de centena de estimulos(palavras, cores, sons, odores) & apresen- tada a0 possivel sinestésica; cem seguida suas respostas sen- soriais (cores, formas etc.) so registradas, O teste & repetido em intervales regulares, duran te meses ¢ até mesmo anos. A consisiéncia das respostas entie ‘0s sinestésicos geralmente€ de 70%; nos individuos comuns fica por volta dos 40%. Dutro teste se baseia na pesquisa vistal no interior de uma matriz de letras em branco € preto esto "escondidas’ ow tras letras que o sinestésico diz ver coloridas. Fles costumam enconeré-las mais rapidamen te que os nio-sinestésicos. teste também permite explorar Escritores, pintores e misicos © eescritor russo Vladimir Nabokov (1889-1977) ainda era pequeno quando explicou a sua mie que as cores das letras do alfabeto dos cubinhes de madeira que ganhara estavam “todas erradas". A mie centendeu perieitamente 0 drama do filho porque, além de Ihe ocor- rer o mesmo, ela tinha outras sensagGes estranhas, como ver cores enquanto ouvia misiea. ‘0 compositor russo Alexander Scilabin (1872-1915) incluiu um: tecladdo mudo € luminoso na sinfonia Prometeu, 0 poema do fogo. instrumento deveria acender e apagar !uzes colorides organizadas em forma de raios ¢ nuvens, que se difundiriam pelo ambiente até culminar numa luz branca tao forte que provocaria dor nos olhos da platéia. Contemporaneo de Scriabin, 0 (1866-1944) desenvolveu mais profundamente o conceito de fusio sensorial, explorando a relacdo entre som e cor e valendo-se de termos musicais para descrever suas obras. 0 som amarelo, de 1912, uma mistura de cores, luz, danca e ritmo. "Abandona teu ouvido & misica, abre teus olhos a pintura e para de pensar! Perguntaste somente seo pensamento te tornou ineapaz de entrar emum mundo até agora desconhecido. Se aresposta for sim, o que queres mais?”, escreveu 0 pintor. ‘Amistura entre sonse cores esteve presente na vidadocompositor Indingaro Franz List (1811-1886), que costumavase dirigiraosmmiisicos com frases do tipo “Nao to violeta, por favor’. Sem compreender, 'muitos dles preferiam levar na brincadeira, embora Liszt afirmasse que realmente via cores enquanto regia ou tocava. Outro music sinestésico foi o american Duke Ellington (1899-1974)( foto). © conflito de cores suscitado de estimulos diferentes", explica por uma letraazul quando, por Pietro Pietrini, professor de ‘exemplo, uma vermelha avis: biocuimica clinica ¢ molecular tada. Diante deum"A' pintado da Universidade de Pisa de azul, o sinestésico que sem: pre o vin vermelho leva mais Ativacao cortical tempo para reconhecé-lo - tal Fstudo publicado em 2006 na incongruéncia gera atraso ne revista Cortex revelou que ss processamento da informagio, reas do cértex visual encarre- segundo os pesquisadores. gadlay da percepgio das cores As tecnologias de imagea- (chamadas V4 ¢ V8) ativam-se mento cerebral, principalmen- de modo espectfico quando um te a ressondncia magnética ¢ — sinestésico [é uma seqiiencia a tomogratia por emissio de — de letras. Para Pietrini, esse posittons, deram uma guinada resultado confirma a hipotese significativa nas pesquisas da segundo aqual a experiéncia si- area, "Esses exames permitem —nestésica é real porque a sines- registrar as variagGes no fluxo tésico de fato percebe estimau- sangiiineo nasdiferentes regides los quenao existern no universo do cérebroe apontar quais delas__perceptivo das pessoas comuns. sip ativadas em conseaiéncia Outro caso descrito na mesma publicagio nao deixa dvidas, J. E, 52 anos, ea sinest desde pequeno e visualizava cores quando ouvia os nomes dos cias da semana. Apesar de flearcego aos 42 anos, continue avaa experimentar exatamente a mesma sensagio quanda alguém The dizia segunda-feira ou domingo, por excmple neurologist Megan Ste= ven, da Faculdade Darsmouth em New Hampshire, pesquisou 0 cerebro de J. F por meio de ressonfincia magnética funcional AAs imagens mostraram, mais uma vez, aativagio dasireas V4e V8 ‘Mesmo queele nao vejaas cores de fato, seucérebro continue ave las em respostaa certas palavras’, conchi opesquisador mee Sn i Sinestesia, arte e tecnologia: fundamentos da cromossonia. Sérgio Rodlaw Basbaum. Editora Annablume, 202. Cognitive neuroscience perspectives on synaesthesia Jason B, Mattingley e Jamie ‘Ward (orgs. em Cater, edigao especial 182, vol. 42, 2006. ewscerbrocombr 1S BH BIOENGENHARIA Tecnologias . para sentir 16 delgada pelicula dourada sobre a mesa do Arete Wyatt parece mais uma mbalagem de bombom do que algo para ser usado nos olhos, Se a assopramos, a limina de 2 mili. metros de espesura ondula feito papel cclofane. Sea cesfregamos entre os dedos, emite pequenos chiados. E preciso olhar bem de perto para perceber um padrao impresso nela, que na verdade €um mintsculo arranjo. de fotodiodo que pode atravessar as celulas danificadas da retina ¢, como planeja Wyatt, peice que cegos yoltem a enxergar. Esse pequeno painel solarainda é um prottipo. Durante mais de 15 anos, Wyatt, que trabalha no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) pesquisa materiais capazes de estimulareletricamen: te 06 neurdnios retinianos, No inicio, ele duvidava que 0 projeto pudesse ser bem-sucedido, A retina € mais frégil que um Tengo de papel timido: com espescura de um quarto de milimetro, é facilmente rompida. Em doengas como adegeneracao macular € a retinite pigmentosa, as delicadas células em forma de cones ¢ bastonetes que revestem a parte externa da retina estio mortas, embera as células ganglionares, voltadas para o centro do globo ocu- lar, sobrevivam. Em 1988, o oftalmologista Joseph Rizzo, da Universidade Harvard, fez duas perguntas capciosas a Wyatt: os cientistas poderiam usar a eletricidade para atingir as células ganglionares sobreviventes ¢forcé-las a perceber imagens? Seria possivel desenvolver uma setina eletrénica? Wyatt ¢ Rizzo decidiram tentar ¢ jé esto no segundo protstipe ~ um dispositivo sub-retiniano que processa imagens captadas através de uma mi- niseula cimera acoplada a Geulos especiais, Com financiamento do governo americano, os pesquisa- POR KATHRYN S. BROWN Jornasa dette, Associacéo entre biologia e engenharia permite que cientistas planejem as experiéncias sensoriais do futuro dores do chamado Boston Reti- sistema nervoso tao refinado”, — lesionados poderio voltar a nal Implant Project pretendem —alirma, Portanto, uma solucio ver, assim como ouvidos velhos Iniciar em breve os testes de nio-invasiva e comercialmente demais ainda poderio escutar mplante em animais, acessivel ainda € uma meta Além disso, espera-se que tenha, Wyatt compara a visio pro- —distante no horizonte, mas no mos nariz artificial para farejar piciada por essa prstese retiniana —_inatingivel. Afnal, Wyatt no€o 0 meio ambiente © chips para com oato de tocar pianocom hr inico pesquisidor que caminhe —diagnosticar docngas (ver quadio vasdebore."Apesardosavangos nessa diregdo. Nos préximos we iy 21). "A ciéncia vem des ientficos, nossos instrumentos anos, se ossonhos dos cientistas_cobrindo a poderosa associagila ainda sao rudimentares para um se tornarem realidade, olhos entre biologineengenharia’, diz Os implantes que mimetizam a fisiologia humana ‘Quando sentimos 0 aroma de café ou de alguma comida, estamos usando noss0s receptores, olfativos, que sio muto parecidos com a protuberaincla lranjada figura ao lade. 16 tmithares dels no epitélio ollativ, um fragmento ‘de membrana mucosa dentro das narinas. Basezdos no madlelo fsil6gico do nariz dos ces, bem mais sensivel que o humana, pesquisaderes ‘desenvowveram 0 equipamento (abowo) que pode ser uiado para farejr toxinas e poluentes, Acstrutura que aparece na imagem acima é un pore lecalizado dentro ce uma papilagustativa, das tantas que existememnossatingua Asmolécata: que co :abor aot alimentos penctram por esse pore ereagem com moléculas eceptoras, que enviam um sina etrica pra océrebro. Os cientistas ainda no produziram uma lingua artificial, mas jédesenvolveram chips (@ deta) {que podem ser usados para avalar a qualidade de bebidas ou 2 pureza da gua, 18 senmitcintean seinoos © neurocientsta John S. Kaver, —engenaria informs abiclogiae altcrnativa co agtcar if ue 0S ADesar dos da Universidade Tufts, queatual- vice-versa’, explica Kauer mercados light e diet tem enorme mente trabalha rum projeto de potencial, Fm 2006, os ameri- AVANCOS, OS nariz eletranico. "Baseamo-nos Dace inofensivo canos consimiram em média ingtrumentos em principios da fisiologia © Para alguns, nesse de tipo de 63,5kgdeacticar Osadocantes 2 isomoe modsligeminitemétlcd ebleboracdoleueiatardide 6 arihea: wars populres hoje’ ainda Sao’ computadorizada para consti segredo do sucesso. Durante so 0 aspartame, a sacarinaeo muito dispositivos, 0 que por sua vez décadas, algamas poucas em- ciclamato de sédio, mas ainda icapealeneeoeslintieariel” gem tcebamiestteaw es, Upcrenn Gmededeune rudimentarcs do ponio de vista médico. A adogantes para oferecer uma parcela significativa dos consi para midores, Quando a inddstria de d es hi zi a alimentos descobrir a fmula CeSeMpenhar perfeita para esse produto - fungdes de uma mistura que proportion ay Cérebro uum sabor doce nitido, breve & estivel -, teré em maos uma tao sofisticado, mina de oro Ereresmo questions Auante. da gustacgéo é relevante. Nos O NOSSO altimos dezanas, vatias equipes de pesquisadores ~ da Univer- sidade da Califérnia om San s cones e bastonetes que constituema retina recebem esses homes por uma razao que esta fotografia evidencia muto bem. Diego, dos InstiturosNacionais Osbastonctes oesscrdalsperaavisiowm pretoebrnceen | de Sate, da Universidade Har- concise dle baixa iluminagio; os cones permitem ver imagens | 1 yard, entre outias instituigdes de _) lords com ala acudad em concies de ata fuming, | eee meee Pessoas com doengas como a retnte pigmentosa © 3 NG coves ter Goreme cars degeneracao macilar costumam perder essas céulase,logo,a || | _sizaram os principaisreceptores, Gapackidedeenergar bloengennelos eso desevoverds | celulares na I{ngua humana, tan implante de retina (aco, Sexquerde) para restauraravieSo, ai ‘ Permitindoaueasceblasgangionares geramenteiniactas || Mecessan08 Para senuinnos 98 em tis doenges, enviem sinais elétricos para o cérebro. i sabores doce, amargo e picante. EE | 0 salgado ¢ o azedo ainda sio ei eL aaa } tum mistério molecular Ciekes pasuaaa entuaue on ermal ce carscal i lsamos varias abordagens no ouvido interno, dentro da qual hi cua UL. gendticas para provar que as Crs Cita ee cai ee ee eee ee es ae cengio do doce e do amargo CGentstas tentam fazer com que se regensrem. |] esto afinadas para responder Resultados positivos ja foram obticos em és s respectivamente, a estimulas Gites ices an ede i ere eee ec eee tants sence apropriadas", explica 9 gene- ticista Nicholas |, P_ Ryba, do eu Hlprel ee Pescul Craniofacial e Dental, que trabalha em estreita colabora- do com 0 biélogo molecular Charles 5. Zuker, do Instituto, Médico Howard Hughes. Ryba e Zuker estudaram seatiéncias de RNA encontra- atracntes ou repulsivos, & pro cowmimentecercrocomb: 19 capil tubardo; oespécin ALGUNS ANIMAIS dae na lingua para descobrir produzem células laes durante toda vida~ &0 caso do os genes que codilicam 05 re ceptores de sabor. Em seguida, criaram camundongos necaute, adultotem cercade sto ¢, nos quais esses genes 20 240 mil delas: ojormn wespmen foram imativados, ¢ observaram as mudangas no paladar dos animais. Por fim, selecionaram receptores celulares espectticos responsiveis pela percepgio de ccextos sabores, Depois de cinco anos de pesquisas, conseguiram identificar uma familia de 30 receptores para o amargo, um secentor principal para o doce € outro para o picanie. Além disso, perceberam que tanto © ser humane como ocamundon go preferem alimentos doces © evita os amargos. Do ponte de vista evolutivo, essa tendéncia nos protegett dos venenos e da comida estragada, mas, por ou- 10 lado, nos tornoe obesos. Em 1988, Zuker se juntou a um grupo de cientistas ¢ empre- sitios para fundar a Senomyx, empresa de biotecnologia com sede em La Jolla, California, cujo objetivo € desenvolver novos aditivos para alimentos © bebidas. Com parceiros como, Coca-Cola ¢ Ne 85 cientistas da Senomyx esto Gabalhando numa molécula potencialzadora do sabor que, se tudo der certo, permitirs fa- bricar alimentos genuinamente doces sem um grio de agticar Combate a surdez Mais do que amplificar a ex: periéncia sensorial, 0 neuro: cientista Jeffrey T. Corwin, da Universidade da Virginia, espera reconstruf-la naaparelho, auditivo. Segundo a Organiza- gio Mundial da Savide, cerca de 250 mithdes de pessoas tém problemasele aucigéo que leva a incapacidade pata o tabalhe. © causa priméria € a pera per- ‘manente de células capilares do wvido interno. © ouvido interme abriga a céclea, estructura em forma de caracol que contém cerca de 16 mil células capilares respon- saveis pela deteceao do som, cade uma das queis eauipada com projecdes semelhantes a fios de cabelo. Fsse precioso estoaue celular & uma dédiva com aqual ja nascemos, depois disso elas no se multiplicam © algumas morrem. Ruidos de alta intensidade, infecgdes, docneas degenerativas © 9 en: velheeimento prejudicam nossa capacidade de ouvir sons que antes eram muito nitidos Degenera¢ao segura Oscientistas sebem que animais tie distintos como o peixe zebra ea galinha continua erando novas células capilares durante toda a vida. O tubario adulto tom cerca de 240 mil deseas células, an passo que 0 animal jovem tem apenas 20 mil, Por que o ser humano é diferente? As células capilares humanas séo mantidas em um estado de "suspensao mitatica’, isto é,s8o impedidas de realizar a divisao celular ¢, logo, nio podem se replica. Uma molécula-chave para essa interrupgio do ciclo de divisio das células capilares € a proteina retinoblastoma ipRb}, Ela inibe a expressio de genes que deflagram 0 processo mitético. Por um lado isso € hom, ia que a pRb participa do processo de supressio do crescimento de tecidos que dé origem a0 clincer, O que 03 neurocientistas se perguntam € se iio seria pessivel modular a aca dessa proteia no owido interno, de forma que as celulas capilares possam se regenerar de forma segura, Um passo importante nessa divecao toi dado por Corwin € colegas de Harvard, de ‘Tults ¢ da Universidade Northwestem Receniemente eles descobriram que, detendo a agéo da pRb em camundongas, as células capi Jares conceguiram se dividir, se Farejando inovagées contra o terrorismo e a poluicao. i Conforme a bioengenheriase desenvolve, os resul tados transcendlem nosso corpo. Os pesquisadores jprojetaram narizeseletrdnicos e chips gustatvos ‘que funcionam com razodvel eficiéncia, Essas ‘verses mecénicas de nés mesmes prometem ;mas quimicas, menitorar eambiente, detectar doencas infecciosas, entre outras coisas ‘Oneurocientistajohn 5. Kauer, da Universida de Tufts, estuda o sistema offativo ha mais de 30 anos. Em 2002, junto com o neurocientista Joel White, também da Tufts, e vérios outros colegas ‘ele ciou uma empresa, a CogniScent, em North Grafton, Massachusetts, para desenvolver um nariz artificial. Bem diferente do nosso nariz, o dispositive de Kauer éamarelo, tem o tamanho de uma caneca parece uma macaneta com uma pequena tela tno meio. Seu segredo tecnoligico, chamado ScenTrak, usa um arranjo de sensores opticamente ativados que mudam de cor quando expostos a identifica certas subs ins. Kauer e Whitebasearama pega nas propriedades olfatiras cle um farejador nato: 0 cao, Onarizartfidal faz como 0 cachorro,fare- Jando o melo incessantemente, Quando detecta um composto-alvo, suaspequenas luzesacendem com uma cor especitica Kauer pensa produzir diferentes narizes para iversosusos, Recentemente ele apresentou uma versio para detectar compostos orgénicos voléteis liberados pelomofo emambientes fechados. Para

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