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nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA PRESENCA JUDAICA NA TOPONIMIA BRASILEIRA: BRASIL, ORIGEM E MISTERIOS Jane Bichoacher de Glasman (UERI) janeglesman@terra.com.te 1. Iutrodugio Oshistorindares costumam descrever a Histéria do Brasil (e nele, a dos judeus) a partir do descobrimento pelos portugueses. Entretanto, existem desde a [dade Média, teorias- baseadas em evidéncias arqueclé- ices, inguistices¢ literdties sobre a presenga judsica no Brasil remon- tendo ao periodo biblico, noreinedo de Saloméo, tendo chegado osisrae- lites com asnavegagdes feitas em alienga com os fenicios, especialmente ne Amezénia. A proptia origem do mito des Amazonas remeteria a len- das mesopotémices, protagonizadas por fenicios e hebreus, além de vo- cabulos indigenss e denaminagdes geogréficas, como o Rio Solimées (corruptela de Saloméo). Textos biblicos ao mencionarem as terres de Pavvaim, Oftr e Tarshish, onde foram buscer materisis preciosos para a construgo do Templo, foram identificadas por pesquisadores com oBra- sil, Pesquisas sobre o destino das “10 tribos perdidas” reforgaram a hip tese da presenga judaica no pais. Jesuites escreveram sobre semelhangas de costumes de povos indigenes e judeus. Vocébulos de varies linguas indigenas tém arigem semantica hebraica O proprio nome Brasil seria derivado do vocebulo hebraico barzel. Neste trabslho pretendemos apre- senter, descrevendo criticamente, tais hipdteses e os elementos concretos que as corroboram. 2. Comecemos com o nome: Etimologia de Brasil Onome Brasil é anterior ao pris. Aparece cerca de S00 anos antes de 1500. As raizes etimolégices de Brasil séo controversas, sendo as pincipsis um corente, uma érvore ou ume ihe 2.1. O corante ‘As origens mais remotas do termo podem ser encontradas na lin- gua dos entigos hebreus e fenicios o nome de um corante vermelho que les comerciavam que era extraido de um mineral pelos celtas, o cine (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janeice: COFERL, 2001 p.940 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA ‘rio, nome popular do sulfweto de mercivio, um mineral de cor verm = Ihe brilhente utlizedo desde a entiguidade como bese para corentes ¢ pa- 120 vermelhiéo usado em pinture corporel. Hipotese defendida pelo fil6- logo bresleizo Adslino José da Silve Azevedo as resumit em uma 0 snum liwro publicedo em 1967. Segundo ele, os gregos substituirem os fe- nicios no comércio deste produto, a0 qual chamavam de larmabar, ¢ em letim cimabar, em postugués, cinbrio. Devido @ inversio de slebes em idiomas celtes, a pelevre rmabar ere pronunciade barkino, que dare lu gar a barcino, um adjetivo relaivo a enimeis de pelo avermelledo e pas- sou e nomear @ cor vesmelha em vétios idiomes de infludacie celta. A pa: eve gaélica islendesa equuvalente € breazdil, ou simplemente bree, aque depois aparece em castelhano como bercino ou bracino e em port. gués como varzino ou brezino como designagio dada & cor dos bovinos avermethados. Todos estes vocebulos tim o significado geral de verme- tho e confiamem a ocorréncie des gafies celta eitalo-celte, Contudo é no gedlicoirlendés, onde permeneceu mais vivo o substrato céltico, que se documente melhor e ocorréncia do barcina, brakino e breezil A palewe sobreviveu até eo século XVIII, como o documenta o titulo de O'Bresl dedo a um poema do poeta islendés Moare, sendo e pelavra também refe- side pelo folcloriste O'Flaherty. A ligegdo entre o cinabrio e ume ithe mi- fice site pera além do horizonte islandés parece resulter dos contactor comerciais estabelecidos entre fenicios, gregos e celtas a partir do século VI aC, atraves dos quais os celtas impartevam brazil, ou seja 0 verme- Indo de cinslrio, provavelmente de origem iberice, através de mercedo- res que vinham por mar desde terres dstentes. Por essa époce, o celtisma ‘brekino e o italo-celte verzino suplentaram respectivamente 0 grego kin- nnsbar ¢ 0 germanico zinnober, todas com sentido efim, como nome de- quele mineral A oxigen de pelewa gnélica OBracil ¢ 0 celta Hy Breasil, que significa descendentes do vermelho, au os do vermelho, onde 0 s € iguel 07 (de onde Hy Breccil), do celta breasil, breacil pera vermelho. Res salte-se que 0 ¢ do celta breasil s0 foi transliterado pelo s latino por ma- nifesto exxo de interpretago grafic. Neste contexto 0 vocatulo O’Bracil, o: do vermelho, passou a constitur une referdncia eos gregos ¢ fenicios, os quais ao deixerem de comercias 0 cinabrio com os celtes como que desspereceram nes brumas do Atléntico, tomanclo-se wm povo mitico e afortunedo, que nunca voltou a Inlenda, porque vivie feliz na misteriosa ¢ peradisiece ithe do Brezil Esta ihe do Brazil foi depois incorporade no contexto mais vasto das (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janeice: GOFERL, 2001p 941 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA iihes miticas lignndo-se & grande tradigio atlintica das ilhas de Sio Brandio, Eduardo Bueno, em sue obra "A viagem do descobrimento', diz que onome Brezil vem do celta bress, que deu origem a0 verbo inglés to Bless (abengost). Assim, Hy Brasil signficerie "terra sbengonda” 2.2.Ailha A ithe Brasil, acigineriamente Hy Breasail, também chameds Hy Brasil, Hi-Brecil, Hybracil, L-Breasil, Bracl, Brazille, Bracir, Breci Bracie, Bracil, Bracir. Bacil, Berzil, Braxil, Braxili, Breille, Oral, O Brassil e Brisilge, é ume ilha mitolégica irlendesa que foi representada em muitos mapas do Oceano Atléntico de 1325 a 1965. Sua locelizagéo mais usual é a sudoeste da Inlenda, © nome da ithe deriva do islendés Hy-Breasail (ihe de Breacal), selacionacla @ Bresal ou Breasal, dewida e mego dos sidhe, relacionada na mitologis islendesa como Breasal Btarlam Grease, o Alto Rei do Mun- 49) Btimologicamente, Breasal vem do celta brestelo ou briso, tute, ‘oatelha (Proto-Indoewopen blverH, "quebras”) + udl-os "chee", de ande se desivesie Brisco-udlos, Bressual (esceico) ¢ Breasal “chefe dos guet- seisos". Quendo Breasal money, sue pire fmeréia (Bare Breasail) foi deiada @ deriva no Oceano ¢ o cesregou até a ithe invisivel chemada Hy Breasal, imaginede como ume tesa de prazer perpetuo e festjos, andlo- ge eos Campos Elisios da mitologie gga, onde Breasal reine sobre os mortos priilegiados, originalmente os hesdis que perderem « vida em ‘tala Um lenda o associa @ tumba neolitica de Dowth, conhecide tem- ‘bém como Sidhe Breasail. Segundo ume lend, Breacal tentou canstruir uma tare até 0 céu. Outta lenda refere-se a um Breasal que construiu ume torre em Bragange, Portugal, de onde, numa noite de inverna, seu filo Ith viu a Inlanda ¢ decicku visté-Ie, o que levou os milésios a conguistarem a ilha ‘aos Tuatha de Danaan, seus antigos donos. Hé ainda um lendétio rei Bresal B6-Dibad da Islanda, que reinow de 151 a 140 aC. segundo uma tradigio e de 210 #199 aC, de acordo com outra Terie tomado o poder depois de meter seu predecessor e go (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janece: GOFERL, 2011 p92 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA vernado onze anos, durante os quais houve uma praga do gado que dei- ou s6 um touwo e uma novilhe vivos, Na Ielende, Breasal ou Breasail veio a tomas-se um nome relat vvamente comum. O sento islendés Brecen (480 aC) tinhe como nome snterice Breacal. Ui Breasal (Silos de Breasel) é um dos entigos clés do nordeste de Islenda. Seu texritario era criginalmente chamado Ui Breasail Macha Foi mais terde chamado Clarm Breasal ox, em inglés, Clanbreeil ou Clanbrassill. Os sobrenomes Brassil, Bracier, Brazil e Braccill sto comims até hoje ne Isenda. Como O'Bracil ¢ atualmente wm nome pro- prioislendés, Hy Bressall 0 Brac, Brasil, Bracil,Bracir so comupteles de palevra gadlica primeizo registro de uma Ihe chemada Brasil data de 1325 ¢ consta da carta do genovés Angel Delorto que a stua a oeste da costa sul da Irlenda Aparece num mape da Cataluahe de 1325-1330, no mapa de Dulcest de 1339, no mapa dos irmAos Pizageni de 1375-1378, no mapa do cartografo veneziano Anckea Bianco de 1436 (onde ja se mencione explicitamente o Mar dos Sargegos). Esta ihe surge no mape atléntico do cartogsafo venezieno Zuane Pizzigano e no mapa anénimo chemado de Weimar, ambos de 1424, com 0 arquipélago dos Acores, ¢ as ilhas Anti- lig, Setanazes Saya e Ymana O historiedor partugués Armando Cotte. sio sugere uma “hipotética eventualidade do conhecimento tardo- medieval dos Agares, do Atléntico Central, dos arquipslagos das Carai- bas ou Antilhas”, bem como do continente americano, pelos portugueses, Teis idhas aparecem de forma idéntica na carta do castografo genovés Battista Beccerio, de 1435 (onde as ilhas lendaties so clara e implicite- mente identificadas com os Agores reais ne expresso adjunte figurente “ills novas ou recentemente descobertas") bem como nas de Bartolo. meuPareto, de 1455, e Gracioso Benincess, de 1470 e 1482. A posigio e as cimensées da ill variam de carte para carte, mas a partir de meados do século XIV ela comega € coloceda no Atléntico Notte centro- ocidental, A procure da Ithe do Brasil foi ume constante nes navegagées re nascentistas do Atléntico até 1624. Os portugueses foram responsiveis por fixar tel nome a uma tara poisinicielmente denominerem ilhe Brasil fAquela que se conhece hoje no arquipelago dos Agares como lihe Tercei- ree onde, muito antes de 1500, ja a peninsula fronteira a cidade de Angra ostentava omame de Monte Brasil, que ainda mentém. Desde 0 oeste da Inlanda, seu lugar iniciel, a posiglo da suposta ilha migrou para oeste, primeiro pare os Agores, de lé deslocou-se para sudoeste, primeiro para Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janece: GFERL, 2001 p94 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA asCareibas, para depois se fixer no litoral do atual Brasil Em 1500, o Brasil como luger mitico jé esteva presente no voce ‘bulésio dos povos do ocidente ewopeu hé muitos séculos. Mes mesmo apés a consegragio do nome Brasil para o continente descoberto, a ilha iitica permanece na cartografia, como no mapa de Femio V ez Dowado, de 1568, 2.3. A madeira ‘A origem do nome Brasil derivada da medsirajé era defendide na époce colonial, onde crises da impartincia deFodo de Burro, Frei Vi cente do Saivedar ¢ Pero de Magalhies Gandavo apressntaran. explice. ges eoncordantes acerca da origem do nome Brasil De scordo com eles Grnome Brasil deriva de pac bras, a designasio de um tipo de madeira empregnds na tntueia de tecidos, nome também conhecido desde « Tdade Medi «inicielmenteustdo pera denominar uma madera proven ente do Malaber e de Sumatra, da qual se extreia ume fnture verm ha (Casalpiea sappan, chamada en inglés brecel wood ox sapparnvood, hoje conhecida em portgués como pat-brasl-de-inda, ptrde-tnt, Gn fureire ou septa. A palavra brasil estava associade ao corante vermelho muito antes dda descoberte e antes mesmo que ailha Brasil aparecesse no mepa: é do- cumentada desde 1085, em 1194, em iteliano e desde 1377 em portugués. Para os defensores deste teoria, o fato de palavra semelhante existir no folclare celta com outro significada e ctimologia ¢ coincidéncie ‘Ao que tudo indica, a comercializegio de brasil no Ocidente re manta ao século IX. Mas ¢ do inicio do século XI um dos mais antigos documentos relativos a este comércio na Ewopa’ um registro da alfinde- ge deSt. Omer, de 1085, estipulava o prego de kerka bersil. Nos séculos seguintes, as referéncias a essa madeira vermetha tomam-se mais fre. quentes. A actografia difere de acordo com as regiées © as époces, Exemplos: Brasile (Ferrara, 1194), Bresel (Franga, 1208), Brasill Barce- Jona, 1221), Vergi (Veneza, 1243), Bracil (Roussillon, 1252), Brésil (Dousi, 1273), Brauilis (Medena, 1306), Bresilien (Colénia, 1321), Bris Tien (Nwemberg, 1361) pau-trasil ere entio uma mercadaria de grande velia e potke, ocasionalmente, servir de moede para determinadas tansagdes, camo & pimenta. Assim, um pagamento de cem libras foi autorizado em Génova, (Cedernas do GULF, Val XV,N'5,t.1. Rie de Janeixe: GHFERIL, 2011p dd nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA em 1151, a seco de uma quate parte em prate, outra em livros, outre em. ppimenta e outra em brasil (in bracilem) A primeira referéncia documentel surge mum tratedo comercial de 1193 entre o Duque de Ferrara, na Italia, e um seu vizinho, que inclu ‘grana de Brasil” em uma lista de produtos que tembém inclu incenso e indigo. A expressio “rio de Brasil” se repete em uma carta do mesmo pis cinco anos meis tarde. Segundo Muralt (2006), Marco Palo descreve, em 1260, « abun- dncia do pau-brasil ne ihe de Nicobar, co narte de Sumatra, ¢ « quali- dade do brasil do Cilio e de Quilon, na costa de Melaber."E digo-hes tembém que todas es flarestas deles estéo repletas de érvores nobres e de valor muito grande: sindalo vermelho e branco,[...] brasil” e, a0 des ccever o pais de Lembri, em Sumatra esereve, em 1299: “Eles t&m brasil (verzine) em grandes quantidades. Plantem-no, e quanclo cresce até 0 ta- menho de um pequeno rebenta, olevem e trensplentem, entéo 0 deixem erescer por ts anos, quando o arrancam pela rai2". Ouiras referéncias @ brasil aparece nas escalas dos portos de Bercelone e de outras cidades maritimes no século XIII. Em 1221 encon- txe-se carrega de Brasil (carga de trasil), em 1243 caria de bresil (osixa de brasil) , em 1252, cargua de brazil (carga de bres). Em 1312, ne ci dade de Dublin, surgem as palavras: de brastle venali Tendo sido nomeada a arvore a partir do corante que fomecia, 0 temo Brasil ¢ eplicedo, conforme o contexto, ora & érvare ara @ materia tintoxil ‘Segundo 0 Dicionério Btimolégico da Lingua Porhuguesa de José Pedro Machado (1952), o termo se documenta em portugués, pele pri- smeira vez, em 1377: “Jtem de Sene E de cofeina E de brasil que trotaie- ‘rem ou leuarem também vezinhos pagam dizima.., em Descobrimentos Portugueses, I, p. 53. ‘So depois dos Descobrimentos o mesmo nome de brasil foi apli- cado a madeira de Terra de Vera Cruz usada com o mesmo proposito, « ibicapitange dos tupis (Caesalpiria eclanata, chamada em inglés bracil wood), hoje conkecida como pawtrasil. O carante vermelho do pav- ‘brasil era extraido por imersio de sua sexragem em dgua fervente. Ia 0 sapfo, além desta técnica, fomecia um corante de melhor qualidade se extraido de um material esponjoso existente no seu cere Nosso pais, embora nfo oficialmente, jé era chemado por este (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janeice: COFERL, 2011p 945 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA nome desde cedo. Por exemple, no segundo contrato de axrendamento da terra recém-descoberta em 1503, as tnicas mercadarias mencionadas slo as especiarias ¢ 0 abrasil e no ivro de bardo da nau Bretéa (que partiu de Lisboa a 22 de fevereiro de 1511, dentro do contrato de errendamento a Noronha) registre-se que o destino de viagem era ho Drazill. Nas instru. ses aos responsiveis pela caravela esta dito que poderiam trazer 0 pau- brasil Em Brasil na lenda e na cartografia antiga. de Gustavo Berroso (4941), a tese segundo # quel onome do Pais deriva da mitica ithe iflen- desa ganhou conctagées antissemites, Pastindo de hipétese, pleusvel, se- guido a qual os nevegadores partugueses conheciam a Ithe Brazil, pois estava reprodieida em viios mapes, Barroso afirmou que houve fuséo des dues vertentes da palewa Brasil na definigio do nome do pais, igno- rando es unénimes referéncies em favor da madeira, Tratava-se de tenter conferir ao nome do pais ume origem mais digna do que uma reles mex cadoria. Ele ¢ explicito: Ali sorgemas que nos incmamos mais agrdivel so expinko e 40 co- safio dos trasilexos. Nio pode haver quam mio prefra que 0 epelide de sea natal sigufigue Tara Abenjonda, Tera dos Afortmados, dos Bem svermrados, of the Best do que recarde fo somenteo wiliri ¢ vulgar co- sci do peu de unt (.) earcdo nos primaxos das da conqusta xo pelos Dartaguesesiealsas que «zeelizarim, amas pelos cistos novos Loronias ¢ Bourke Loronha ¢ Femando de Noronha, primeiro contratadar do comér- cio de pau-trasi, que deunome a ithe da costa do Brasil e que tinha ori- gem judaica (cristfo nove). Brasil, conclui Bauroso, éa terra seferida pelo poeta Griffin: “And they called it O' Brasil, he isle ofthe blest!" Posigo semelhante a de Barroso, sem o antissemitismo, foi defendida por Geral- do Cantarino em seu liwo de 2004, Umailha chamada Brasil. O paraiso inlandis no passado brasileiro. © “Brasil de Portugal" do século XIV aparece no epilogo do “Conto do Padre da Freira”, um dos Contos de Canterbury de Geofirey Chaucer (de 1386), no qual 0 melicioso anfitriéo elogia a beleza do mon- ge que acebou de narrar a fabule do vaidoso galo Chantecler as, verde 5k fsseclirgo eu juro, Sart um condor de galmias dos bens! ois stivessedestjo, como pod te to, ‘Eaquissse ganas, sera cil encons ‘Enuuto mais que sete vezesdezesete ‘Vejum os muistulos dete noire sacerdate, (Que forte amc e gue espindido torent (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janeice: COFERL, 2011p 946 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA ‘mnogo de gio ferortor obo Pato nlotimnscesnande tng Bhs bok cous ra de Porta Isto signfice que os partugueses etam intermeciérios enre os ite lianos eos ingleses no comércio de pau braal-de- inde. Eeomum 0 con. stmidaridentifcer a mercedaria pelo vendedor, nfo do produtor. Os i Gleses chamavam de thay (dn Turquie) « ave afticena que conhecemos Como galinha-d'angole pos vinha através do comércio turco (mas tarde deren o mesmo nome A ave mesicana que eoohecemos como pert) Tgualmente, os bresleros chanavam de piments-do-reino, em conreste com as pimentas vermelhas natives, que ere tezida de india por inter médio do Reino (de Portugn) ¢ de quijo-do-reino o produto holendés ue Ihes cheguve pelomesno ceninho. 3. Poléwica wa imprensa internacional A sevista inglesa Notes and Queries divulgou em suas pégines ume polémica sobre a origem do nome Brasil. Numa note intituleda "América Antes de Colombo, publicads em janeizo de 1862, 0 articu- lista Bolton Comey comentava provas ditas documentais sobre a existén- cia do comércio de pau-brasl (Bracil wood) desde 1279, no porto de Londres, ¢ da designagio Brasil num mapa de 1436, para uma ilha nos Agores, ambas as provas exibides em outro periddico da époce AMERICA BEFORE Consus? on. the merits of Colnmbuy, ard 1. The eartigrae phhig evidence, dated in 1436; of the existent of En Gsland in the Atlantic natned Drasitey ond 3: The arcumption that Bratt wood wna imnposted to Tealy, aud paid tax at the sates of Modena, it 13064 nfso, into England, paying tax at the grtes of London, in. 1270s in 1408) oie, Hie thence fore time “a regular trade with central America Kaul been going’ on for goine two cumirrioe before tive Gest woxyage of Christopher of Cologne.” He means, no doubt, Christefore Colombe alias Almirante D. Grietébal Colon, Bolton pastiu da premissa de identidede entre os nomes brasil ¢ pawbrasil, citendo um autor francés que explicava que a origem do no- ‘me Brasil, dado ao pais, devia-se a "grande quantidade de brasis que 1é se encontre". Os dois documentos do artigo original reelmente treriam a palawe brasil, tanto no mapa quanto ne nota tirada no porto, Para essa (Cedernas do CULE, Val XV,N5,t 1. Rie de Janeice: GHFERIL, 2001 p.947 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA lltime, o articuliste reconhecie que a madeira era conhecida muito antes do Descobrimento do Brasil, sendo chemada de bracil wood desde, pelo menos, onal do século XIII. Quanto & denominagéo de ila, alegou que poderia vir da mesa origem do nome da arvare (brasa, em portugues, que lembre 2 cor vermelha de tinte extreida dele), ou mesmo da rasa cxpelida pelo vuleéo: «ithe Terceita, que recebere o name de Brasil no mapa, é vulednica Aduit that brasi! and Brasil-wood are synony- mous terms—on which point the Prompforium Hl ext reconna que le Brit, contrée de VAmériq néridionale, fut aitst nominé par les Européens & cause dela grande quantitéde bréss qu'on y trouva.” ETM Raynovard, Lezigue Romany i, 258, In the document of 1979, as printed by the estayist, and in the document of 1453, as printed by Mr. Heath, we have four articles — drat gquicksilcer, vermilion, aod verdegris — in the very same order! I conclude, from that circumstance, that many similar instances are on record, and A polémica se estenderia até abril de 1862. Duss mensagens rea- firmeriem origem do nome Brasil. A primeira, citando ume obra de Kidder e Fletcher, “Historie do Brasil e dos Brasileiros", atribuie a Amé tico Vespticio o pioneitisno da expartagio do nosso pau-brasil pera & Europe. Awznzca nerone Corvumus (8"S. 7.) —Kid- der and Fletcher, in their Hisiory of Brazil and the Brazilians (Bhiladelphin), state that it was fromm that part of America that Amerigo Vespuecio carried to Europe the famous dye-wood which so resembled the Brasas or coals of fire used in the chating-paus of the Portuguece, that the latter called the place whence they came the brazas- Jand, and thenoe * Brazil.” ‘J. Donam, ‘A segunda apenas informava @ relagio entre a cor da madzire, 0 nome dela e o nome do pais: Baazrz (2%. x, 449) is from braza, a I coal,” being the colour of the so-called Brazil wood. Tous H. vax Lanse, (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janeice: COFERL, 2011p 948 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA ‘A terceisa note stribuia uma origem hebraica ao nome Brasil, @ partir de barzel, que significa ferro. E pasa seforger a teoria, apresentava dois argumentos linguisticos o pau-trasil também era conhecido como pau.ferro ea expresséo “tio dwxo como o brasil" era carrente na époce evi (9 8.5, 256, be.)'— Tonk ou ea son i ince ageing wt the word be rived from thy Hebren Barze 6 evn roa Heed faa ta Heb eres Eee toe othe Sha ET cack convo, renee fad Dee woe eet le De and a es a Barapa le Te ae ae nce ia me Cee ee 3.1 Barzele Brasil ‘Sem divide « principal origem do nome Brasil repassado a0 nosso pais € 0 pau-bresi, também conhecido camo o citado paw-ferro ou ainda ppauetinte por causa de sua cor vermelho-alarenjacla, como a ferrugem, ou devido @ cor da madeira lembrer brasas de Fogo. Ressaltendo um dos nomes da évore: pau-ferro~ metal que enfer- ruja gerando a cor mencionada — reforge-se a tese da origem hebreica, lingua na qual ferro ¢ bavzel. Existe uma semelhanga fonética entre Bra- sil e barzel, além disso, 0 hebraico nfo é vocelizedo ¢ as duas palewas ppossuem as mesmas consoantes: as letras hebreicas Beit, Resh Zayine Lamed BRZL) fio nos esquegemos que, no periodo colonial, o pau-brasil era também chamado de “madeira judaica”! 3.2, Extrapolacses misticas cabalisticas Os misticos lembrem que « palawa Barzel pode ser entendide como Mistério do Corapdio. As duas letras mediais RZ formam a palavra raz, que significa mistério, segyedo e as outras dues, LB, formam Lev, coragéo, Os misticos lembram que BRZL ¢ 0 acréstico dos nomes des qua- to esposas de Jaco - Bile, Rechel, Zilpa e Lea, mies das 12 tribos de Ie reel. Assim, o termo representa todo Imael. As 4 mées representam os 4 Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janeice: GOFERL, 2011 p94 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA ndos do Tabernéculo e es posigées onde as tribos acampavem ao seu re- dor, identifica sue localizagio no futuro. ‘A. gomatria de Lev é 32: so os 32 caminhos da sabedaria do co- ragio. 26 € o mimero atémico do Ferro - que é igual a0 valor mamérico do Tevagrama, YHVH A tradigio judaice fala do corpo de Adio ser feito a partir da axgi- 1s vermelha (tice em fe1r6) ¢ seu nome esté ligado ao conceito de dam (sangue), que contém ferro. Essa comparagéo fora feite pelo Rabino Isaac Aborb da Fonseca, primeiro religioso de origem judaica a chegar ao Brasil (ais, a Amai- cal), em 1642, durante a ocupagio holandesa Este pequeno passeio digressivo por ceminhos da mistica hebrai- ca, além de ilustragio, serve como introdugéo & viagem pelas lendas (ou teses) dasnavegagbes do Rei Seloméo ao Brasil. 4. Indios: Hebrens de Salomiio? Desde 0 século XVI, estudiosos tém levantado hipéteses relatives 4 presenga judaica na América — especialmente na Amazénia — desde tempos biblicos. Nenhume de nossas lendas chegou tio perto de ser comprovada como a da fentéstica Sclim nia, regito referente @ Amezé- nia Ocidental. Atribui-se ao Rei Seloméo incwsdes a vaste regifo dos Rios Solimées e Negro, aonde o monerca hebreu teria enviedo neus feni- cias em busca de owo, prata, pedras preciosas e medeiras nobres pare @ construgéo do femoso templo, em viegens que durevam cerca de trés Dom Henrique Onffrey de Theron, etnélogo do século XIX preconizou a origem hebraica dos indigenas brasleisos, afirmando vee. mentemente que os indkos aqui estabelecidos descendem diretamente dos tripulantes das naus do Rei Seloméo, que nos tempos biblicos ancoreram no “celeiro do mundo, nas desertas praias do Atlantico”, Em extenso en- saio, publicado em 1869 no jamal O Globo de Génova, este estudioso defende com srdar cientifico a teoria acerca da procedéncia dos inckos encontrados por Cabral, de naus fenicias e hebreias arremessadas nas praias brasileiras por naufragios, ou ali chegados em viegens premedite- des. Thoron empenha-se em demonstrar que os povos da antignidade mais remota conheciam as Américas (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Jancice: COFERL, 2011 —_p.950 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA Ele sabia latim, grego ¢ hebreica, conhecia a lingua tupi, e tem- bém a Lingue quichua, que ¢ ainda felada nas terras limitrofes entre 0 Brasil e o Peru Néo conformedo com generalizagées, o autor procurou mostrar que existem ts locelidades biblices, Parvaim, Ofir e Tarshish que, segundo ele, se situam no Brasil. A ousadia inovadara da tese con- siste em tentar demanstrar clentificamente suas idéies, por meio da filo. logia e da linguistice Para Thoron, Parvaim é promincia alterada de Partam, porque 0 antigo alfabeto latino confundia ov 01; ood é a vogel i, mutes vezes se lia com a prontincia de ai em hebraico, No texto hebraico, 0 auo de Pavvaim esta escrito Zahav-Paruam (II Cxénicas, 3:6-22), no texto grego dda Septuaginte, ache-se igualmente Param. A tenminagéo hebraica im indice o masculine plural E vem acrescentado a Par, porque, efetive- mente, existem na bacia superior do Amazonas, no territerio oriental do Peru, dois rios auiferos, um com o nome de Paru (e conhecido camo Rio Puru), outzo, com o de Apu-Part (4pu-Piot)), e ambos se confundem depois com 0 Ucayali, um dos grandes afluentes do Amazones Os dois ios de nome Paru fezem, no plwel, o Partam dos hebreus. E mais. os sios Peru e ApuParu descem de provincia de Carabeia, e mais aurifera do Peru, estando ai a ica regio de Parvarm. Quando David morreu dei- xou a Saloméo, para a construgéo do templo, 7.000 talentos de prata © 31000 de owo de Of Os topénimos Ofir ¢ Tarshish podem ser também enalisados pela etimologia Para determiner a locelizagéo de Ofis, Thoran diz: no Livro dos Reis, Capitulo 10, versiculo 2, 0 nome esta escrito em hebraico de dois modos Apir e Aypir, ¢, no Capitulo 9, versiculo 28, se escreve Aypira (Ophira), que é 0 name mel prommciado de Jepwé, afluente do Amezo- nas ouSolimées. As dedugdes de Thoran séo tiredes com 0 apoio da filo- ogie, com bese em seu conhecimento do quichua, lingua que sinda se fe- Inne becia superior do Amazonas. Aypira é Jepuxé em consequéncie de ume pemuta de letres, como: em quichua yura follagem, é em basco raya, vaso, em quichua, é hirau e, em caldaico, kiura, etc. Assim, pelos exemplos de permutes © de substituigdes de vogeis, que néo alterem a significagéo des pelavras, de Aypira (Ophird) da Biblia teria vindo do nome do rio Japuré Para identificer a Tarshish biblica, que aparece no Liwo I dos Reis 10:22, Liwo Il das Crénicas 20:36 ¢ 9:21, Jeremias 10:9, Ezequiel (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Janeice: COFERL, 2001p 951 nats DO XV CONGRESO NACIORAL DE LINGUISTICAE FILOLOGIA 27:12, Issies 23:1, Jonas 1:3, Thoran, de nova, recorre & anélise etimolé- gica do topdnimo e decompée a palavra Tershish Para ele, foi a alta Amazénia que no tempo de Selomao secebeu o name de Tarshish, cvja timologia, em lingue quichua, onigine-se de Tari, “descobrir", chichy, "colher ouro miido". Tarshish ¢, pois, oluger onde se descobre e colhe 0 owe mitido, Fargada a abandoner Ofir ¢ Parveim, a frote saloménica di- righu-se para a regiéo da Alta Amazénia, onde o owo ere mais abundante, regifo essa que no tempo de Selaméo recebeu o nome de Tershish, © proprio nome ‘Solimées’ — que designa o curso do Rio Amezo- nas — teria sua origem no nome do sébio Rei Seloméo, cuje forma popu- lee exe Soliméo. Onffroy de Thoran afirma que Solimées é o nome alte- rado (corruptela) de Saloméo, dado ao tio peles frotes do rei sitio. Em hebraico Seloméo € Shlomo e em arabe Soliman A oeste do Pera, dizem as crGnicas dos primeiros dias do Brasil, havia wma imensa tribo com 0 nome de Soliman, que era a do rio. Dai fizeram os portugueses Sclimio, porque costumam mudar o7 final ne vogel o. Em suas palevras: O rio das Amazons, dece dt embocadirs do Ucetl, até + for do rio ‘ego, tem suds onome de Selindes.Pois bom: este fo ¢ nam mais om sino: que o nome aRsrado de Salone, none que 40 jade ro tam dado 4s expecigies do reipoets Orn, o5 crnisas refrem que « oxste do Paré fects tuma grunde tbo conheca pelo mesmo ume de "Selimses™ A fragilidade das coincidéncies linguisticas ou fonéticas pode até esperter suspeite, mas, argumentar que eles sejam pura cesuslidade € adotar ume posture interpretative simplistae intrensigente Relembrando a afirmagio de Cémara Cascudo (2001, p. 64), ‘maioria das tentativas dos etimologistas so apenas “conjecturas”, mas que podem vir a se tornarem “convengdes” sociais: dependendo da “mai- or ou menor habilidade erudita” sustentadas pelo intelectual que as de fende como verdadeiras, (Cedernos do GULF, Vel XV,N'5,t 1. Rie de Jancice: COFERL, 2011p 982

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