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PROVA ESCRITA DE DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Via Académica (Antigo 16°n° 2 alinea a), da Lei n° 2/2008, de 14 de janeiro) 1° Chamada — 30 de junho de 2012 DURACAO DA PROVA ~ 03 horas (0 tempo de duragdo da prova conta-se decorridos quinze minutos sobre a hora fixada para a sua realizacdo, COTACAO ATRIBUIDA A CADA CASO: Caso I —7 valores: 1 questho 2,5 valores 2 questo ~ 1 valor 3° questo — 2 valores 4 questio~ 1,5 valores | ‘aso II - 7 valores: 1° questo ~ 1,5 valores 2 questiio —3 valores 3 questiio — 2,5 valores Caso LL - 6 valores: Tt questio 2* questio— 3* questo. valores ralores 2 valores A) Anténio ¢ filho de Eduardo ¢ de Amélia. ambos falecidos num acidente ocorrido a 08 de setembro de 2010. B) Anténio tem uma irma, Marina, casada em regime de separagdio de bens com Manuel. C) 0 falecido Eduardo era irmao de Raul, pessoa de avultada fortuna e que deixou a sua morte, ocorrida em 01 de abril de 2010, dois palacetes no centro do Porto. Raul faleceu no estado de vitivo. no tendo ento quaisquer ascendentes ou descendentes. ¢ sem fazer testamento. tendo-lhe sucedido. na respetiva heranca, os seus irmaos. D) Em 04 de julho de 2010. o falecido Eduardo ¢ a sua mulher, Amélia, tinham passado a Manuel, seu genro. uma procuracao, nos termos da qual o constituiram seu bastante procurador para «vender pelo preco e condicdes que entender, podendo ele, procurador. ser 0 comprador. o direito ¢ agdo & heranga dos bens deixados por morte de Raul, (...) receber 0 preco. dar quitacdes. oulorgar e assinar, com as cldusulas ¢ condigdes que entender a competente escritura e contrato promessa de compra e venda...» E) Em 05 de agosto de 2010, Manuel celebrou uma escritura piblica, onde se 1é que «cede a ele proprio oulorgante presente, ¢ pelo preco de um mithies de euros, que os seus representados jé receberam, o quinhéo hereditério do mencionado Eduardo...», reportando- se ao referido em D). F) Pelo menos desde a data da outorga da procuracdo referida em D), e até a sua morte. referida em A). Eduardo e mulher, Amélia, residiram com a filha Marina eo genro Manuel. na morada destes. G) Anténio nunca deu o seu consentimento a venda do quinhao hereditario referida em E). e s6 veio a ter conhecimento dela apés o falecimento de seus pais. H) Perplexo com a procuragao e a escritura publica de venda referidas em D) e E), Anténio interpde ago contra a sua imma Marina eo seu cunhado Manuel, pedindo a declaragao de nulidade da venda do quinhio hereditario de seu pai Eduardo (na heranga do irmao Raul), a Manuel, por falta do seu proprio consentimento 1) No decurso da audiéncia de julgamento da agdo referida em H), Anténio deduziu 0 seguinte requerimento: «Ja depois do inicio da audiéncia de julgamento, veio 0 Autor a ter conhecimento de um documento, emitido pelo Centro Nacional de Pensoes, datado de Maio de 1980, onde o falecido Eduardo é considerado grande invalido, atribuindo-se-Ihe a qualidade de pensionista com incapacidade permanente para todo o trabalho. Nesta medida, deduz 0 presente articulado, que esid em tempo, requerendo que este facto seja aditado & base instrutéria». Ouvidos Marina ¢ 0 marido, Manuel (ali Réus), opuseram-se os mesmos a admissibilidade deste requerimento, Face aos dados conhecidos, responda, justificadamente, as seguintes questdes: 1" - Aprecie. do ponto de vista juridico-substantivo, a viabilidade da argumentagaio apresentada por Anténio. referida em H), para fundamentar a procedéncia da aco judicial que interpos (2.3 valores) 2* - Indique qual a decisio judicial que proferiria na ago judicial referida em H), considerando 0 concreto pedido formulado por Anténio. (2 valor) 3* - Pronuncie-se sobre a tempestividade, e a pertinéncia, do requerimento referido em 2 valores) 4° - Suponha que na aco judicial referida em H), 0 pedido formulado por Anténio & de que se declare nula a procuragao outorgada referida em D), porquanto na data em que foi conferida Eduardo nfo se encontrava na posse das faculdades de entender e de querer, nao tendo plena consciéncia do ato que praticou Antonio fundamenta tal pedido na declaragao constante do documento referido em 1). Nada mais se apura em julgamento para além da emissdo desta declaragao. Aprecie, do pronto de vista juridico-substantivo, a viabilidade desta pretensio. (1.5 valores) CASO II A) Marcolino Empreiteiros, S.A. tinha como unico patriménio imobiliario, inscrito a seu favor, a aquisigao de oito fragdes auténomas. designadas pelas letras «A» a «Hy, do prédio urbano. constituido em propriedade horizontal, sito na Rua das Lamurias, n° 88, na freguesia da Graga. concelho de Lisboa, inscrito na respetiva matriz predial urbana sob 0 artigo 123 descrito na 8? Conservatéria do Registo Predial de Lisboa. sob 0 n° 1234, da dita freguesia B) Da certidao de registo comercial relativa a Marcolino Empreiteiros, S.A... no que diz respeito forma de obrigar a sociedade, consta nomeadamente que «os documentos que responsabilizam a sociedade deverdo ser assinados pelo presidente do Conselho de Administragao ou por dois administradores, podendo ainda obrigar-se relativamente a certos tos ou categoria de atos através de mandatarios » C) Em de 19 de Novembro de 2010, foi celebrada uma escritura publica de compra e venda, relativa as fragdes autonomas referidas em A), ai figurando Matilde Matos na qualidade de procuradora e em representagdo de Marcolino Empreiteiros, S.A., vendedora, ¢ Silva Bento, S.A.. na qualidade de compradora, pelo prego global de € 980,000.00. que a vendedora declarou nos mesmos ato e documento ja ter recebido. D) Matilde interveio na escritura de compra e venda referida em C) apresentando uma procuragao passada por Carolina Silva © Joaquim Sousa, estes na qualidade de administradores em representagao de Marcolino Empreiteiros, S.A., por via da qual declararam constitui-la procuradora da referida sociedade, com poderes para, em sua representagao, alienar as fragdes autonomas identificas em A), procuracdo essa outorgada no 1° Cartério Notarial de Almada, e que consta arquivado sob o n° 123, no mago 200 D. E) Nao houve nenhuma deliberacdo do conselho de administragao de Marcolino Empreiteiros, S.A. autorizando a sociedade a alienar as fragdes aut6nomas referidas em A). F) A quantia de € 980.000,00, referida em C), nfo entrou nos cofres de Marcolino Empreiteiros, S.A. G) Matilde nio informou Marcolino Empreiteiros, S.A. sobre a venda das fragdes autonomas descritas em A), nem lhe prestou contas do dinheiro que declarou ter recebido no ato da escritura referida em C). H) Os Outorgantes da procuragao e da escritura referidas em D) e C) nao pretenderam proceder compra e venda das fragdes auténomas ai mencionadas, mas apenas retiré-las do acervo imobiliario de Marcolino Empreiteiros, S.A., 0 que fizeram por acordo. 1) Os Outorgantes referidos em H) agiram conforme descrito apenas para garantirem os financiamentos que Silva Bento, S.A. - detida por familiares proximos de Carolina Silva e Joaquim Sousa (outorgantes na procuragao) - fizera ao longo dos iiltimos dois anos a Marcolino Empreiteiros, S.A.. J) Os financiamentos referidos em I) rondavam os €1.200.000,00. K) 0 Presidente do Conselho de Administragdo de Marcolino Empreiteiros, S.A desconhecia, até hd pouco mais de um més, a procuragdo e a escritura referidas em D) e C). L) As fracdes auténomas referidas em A) t8m atualmente registada a sua aquisig&io a favor de Silva Bento, S.A. Face aos dados conhecidos, responda, justificadamente, as seguintes questdes: 1? - Qualifique a relag&o contratual existente entre Marcolino Empreiteiros, S.A. ¢ Matilde Matos, conforme referido em D), ¢ identifique o regime legal aplicavel. (1.5 valores) 2° - Marcolino Empreiteiros, S.A. veio a intentar uma ago judicial, pedindo que seja declarada nula a compra e venda referida em C), das frades auténomas referidas em A). Aprecie a viabilidade substantiva desta pretensio. 3 valores) 3° - Na agdo judicial referida na questo anterior, Silva Bento, S.A. defende-se, alegando que: fizera financiamentos a Marcolino Empreiteiros, S.A. de valor muito superior a0 das fragdes mencionadas em A); nem sequer procedeu de imediato ao registo da aquisigto a seu favor, 0 que apenas fez jé depois de instaurada a presente apo; ¢ apenas pretendeu garantir com a dita aquisigdo o financiamento que fizera aquela. Indique, sempre fundamentadamente, a viabilidade desta defesa. (2,5 valores) CASO IIT A) Augusto é um alto responsivel da Policia Judiciaria, a que pertence desde o inicio da sua carreira profissional, de cerca de 25 anos; e exerce desde 2008 fungdes governativas na area do combate & corrupsao B) Em janeiro de 2009, Bernardina, designer de joias, foi detida num pais do Sudoeste Asidtico, por suspeita de trafico de estupefacientes, ficando ainda ai retido o aviéo que fretara para a viagem, bem como inicialmente a respetiva tripulagdo, 0 que foi amplamente noticiado. C) Na sequéncia da investigacio dos factos referidos em B), apurou-se que Bernardina tinha por costume fazer-se passar por amiga de pessoas com projesdo nacional, politica ou outra, tendo-o nomeadamente tentado fazer em relagio a Augusto, D) Ainda em janeiro de 2009, Custédio, jornalista do jornal «O Delito», com tiragem de milhares de exemplares, telefonou 4 assessora de imprensa de Augusto, pedindo-lhe que esclarecesse se este era, ou ndo, amigo de inffancia de Bernardina, e se tinha estado, ou nao, presente no casamento de um dos filhos dela. E) A assessora de imprensa de Augusto negou categoricamente qualquer relagdo de amizade entre ele e Bernardina, bem como qualquer presenga dele em evento promovido pela mesma, ou sequer a capacidade daquele de a reconhecer. Esclareceu ainda que o iinico contacto tido se resumiu a abordagem feita a Augusto, hé cerca de vinte anos, por Bernardina, num dos Departamentos Centrais da Policia Judiciéria onde aquele exercia fungdes, com a alegagdo de que teriam frequentado o mesmo liceu (0 que se afigurava a Augusto inverosimil, dada a diferenga de idade de ambos), passando desde entdo aquel a enviar-lhe cartées de felicitagdes, cada vez que assumia novo cargo. F) No dia seguinte a conversa telefonica referida em D) e E), «O Delito» publicava na sua primeira pagina, em lugar de destaque, uma fotografia de Augusto, ilustrando o titulo «Governante confirma - Designer de jéias traficante mandava-the bilhetinhos», remetendo 0 desenvolvimento para a pagina 02. ‘Ai, sob 0 titulo «Designer de jéias perseguia governante com bilhetinhos», afirmava- se: «Augusto, governante com responsabilidades na drea do combate a corrupeao, confirma que foi colega de liceu da designer de jéias Bernardina, e que esta o chegou a contactar hd ‘ndo muito tempo no Ministério da Justi¢a, mas que nunca foram amigos. Confirma ainda que esta mulher, detida no Sudoeste Asidtico por suspeita de trafico de 400 quitos de cocaina, the enviava bilhetinhos a felicitd-lo, sempre que tomava posse de um novo cargo ‘governamental,. Por fim, no mesmo artigo, em itélico, como se correspondesse ao discurso direto de Augusto, reproduzia-se: «Fomos colegas de liceu, mas nunca fomos amigosy, ¢ «Cada vez que eu era nomeado a senkora tinha a gentileza de enviar-me os parabéns e desejar-me felicidades». G) Mercé da noticia referida em F), nomeadamente do tratamento que Ihe foi dado, Augusto foi associado 20 caso de tréfico de estupefacientes referido B), vendo a sua credibilidade profissional diminuida junto dos cidadaos em geral, e tendo alguns vizinhos temporariamente passado a olhé-lo com desconfianga, factos que Ihe causaram profundo pesar, face A sua carreira impoluta ¢ ao exercicio de fungdes governamentais que entio exercia Face aos dados conhecidos, responda, justificadamente, as seguintes questdes: 1° - Podera Augusto reagir judicialmente contra Custédio, por forma a obter uma compensagio pelos danos referidos em G) ? Com que fundamento juridico ? (2 valores) 2* — Suponha que foi proposta uma ago por Augusto contra Custédio, pedindo uma indemnizacdo para reparagao dos danos referidos em G), e que aquele, na sua contestagao, defende ter-se limitado a exercer o direito de informar, relatando factos reais e verdadeiros. Aprecie juridico-substantivamente a pertinéncia desta argumentagdo, e identifique processualmente o tipo de defesa em que a mesma deve ser deduzida. Q valores) 3° - De forma independente das respostas dadas as questdes anteriores, suponha que 0 Tribunal reconheceu a Augusto a efetiva violagdo de direitos de personalidade e a Custédio 0 direito de exercicio da liberdade de imprensa Qual a decisto judicial que proferiria (indicando o respetivo critério legal)? (2 valores)

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