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Resumo
Trata-se de artigo científico que define a garantia constitucional da não
autoincriminação como vigente no processo penal e suscita sua aplicabilidade no
direito administrativo disciplinar por meio de uma teoria geral da infração
administrativa, que engloba elementos e garantia constitucionais e processuais
penais. Em virtude da dúvida acerca da aplicabilidade da garantia em oposição aos
princípios da administração pública, especialmente a militar, foram apresentados
precedentes históricos, doutrinários e jurisprudenciais para confirmar a tese,
sugerindo uma mudança de paradigmas na administração pública e concedendo
àqueles que a ela se subordinam, a segurança jurídica do garantismo.
Abstract
This is a scientific paper that defines the constitutional guarantee of the privilege
against self-incrimitation as seen in criminal proceedings and proposes its
applicability in administrative disciplinary law through a general theory of
administrative violation that envelops constitutional and criminal procedure elements
and guarantees. Due to the doubt about the applicability of of the guarantee in
opposition to the principles of public administration, especially militaries, some
historical, doctrinal and jurisprudential precedents were presented in order to confirm
the theory, suggesting a change of model in public administration and giving to those
who are legally under its yoke, the legal security of guaranteeism.
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O autor é 1º Tenente da Polícia Militar do Estado do Paraná, Formado Pela Academia Policial-Militar
do Guatupê em 2008 e Especialista em Polícia Judiciária Militar pela mesma instituição. Acadêmico
de Direito na Universidade Federal do Paraná, também é Especialista em Direito Administrativo
Disciplinar pela Universidade Tuiuti do Paraná. Estudioso do Direito Constitucional e sua relação com
o Direito Administrativo Disciplinar e com o Direito Militar, participou em 2010 e 2011 de Grupo de
Estudos em Direito Militar da Academia Brasileira de Direito Constitucional. Presta serviços na
Corregedoria-Geral da Polícia Militar do Paraná desde 2012 na presidência e análise de processos
administrativos disciplinares. eduardotitao@pm.pr.gov.br http://lattes.cnpq.br/2702086830146618
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Sumário
6. Conclusão 17
7. Referências 18
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―Você tem o direito de permanecer calado. Tudo o que você disser poderá ser
usado contra você no tribunal‖. Este aviso, comumente visto nos filmes
hollywoodianos e séries policiais estadunidenses, é parte dos direitos conhecidos
como Miranda Warnings (ou Avisos de Miranda). A declaração remete ao caso
Miranda vs. Arizona1, leading case da garantia da não autoincriminação, julgado pela
Suprema Corte dos Estados Unidos em 1966 que, a partir do pressuposto
constitucional estabelecido pela 5ª emenda2, de 1791, estabelece os parâmetros
para sua aplicação nas justiças estaduais e inclusive em interrogatórios pré-
processuais.
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O caso foi predecessor de uma Landmark na Suprema Corte dos Estados Unidos, que adotam o
sistema de Common Law. A corte entendeu que toda declaração feita em resposta a um
interrogatório, tanto à autoridade policial ou judicial, deve ser precedida da informação, ao acusado,
de seu direito de permanecer em silêncio, de consultar um advogado e de não se autoincriminar.
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Amendment 5. No person shall be held to answer for a capital, or otherwise infamous crime, unless
on a presentment or indictment of a Grand Jury, except in cases arising in the land or naval forces, or
in the Militia, when in actual service in time of War or public danger; nor shall any person be subject
for the same offence to be twice put in jeopardy of life or limb; nor shall be compelled in any criminal
case to be a witness against himself, nor be deprived of life, liberty, or property, without due process
of law; nor shall private property be taken for public use, without just compensation. Indictment by a
grand jury requires the decision of ordinary citizens to place one in danger of conviction. Double
jeopardy means that when one has been convicted or acquitted, the government cannot place that
person on trial again. The self-incrimination clause means that the prosecution must establish guilt by
independent evidence and not by extorting a confession from the suspect, although voluntary
confessions are not precluded. Due process of the law requires the government to observe proper
and traditional methods in depriving one of an important right. Finally, when the government seizes
property to use in the public interest, it must pay the owner fair value. (5ª emenda à Constituição dos
Estados Unidos da América. Disponível em <http://www.senate.gov/civics/constitution_item/
constitution.htm#amdt_5_1791>)
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Tal visão foi superada, pois não coadunava com os ideais de Igualdade,
Liberdade e Fraternidade e com as garantias do Estado de Direito.
Para Nucci (2008, p.41) ―o Estado é a parte mais forte na persecução penal,
possuindo agentes e instrumentos aptos a buscar e descobrir provas contra o
agente da infração penal, prescindindo, pois, de sua colaboração. Seria a admissão
da falência de seu aparato e fraqueza das autoridades se dependesse do suspeito
para colher elementos suficientes para sustentar a ação penal.‖
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Habeas Corpus nº 91.514, 2ª Turma. Rel. Min. Gilmar Mendes. (DJE de 16-5-2008).
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A interpretação conforme a Constituição encontra sua raiz no princípio da supremacia da
Constituição, que visa equilibrar o poder normativo em face da disposição constitucional. Ela
determina os possíveis sentidos de interpretação adequados aos ditames constitucionais. (MOTTA,
2011, p.10)
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Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos, instituído pelo Decreto nº 592 - de 6 de julho de
1992. Art.14, 3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a, pelo menos,
as seguintes garantias: g) de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se
culpada. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica),
instituída pelo Decreto nº 678 - de 6 de novembro de 1992. Art. 8º - Garantias judiciais: 2. Toda
pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for
legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade,
às seguintes garantias mínimas: g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a
confessar-se culpada; e
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Habeas Corpus nº 68.742-3/DF. Plenário. (DJ de 20/04/1993)
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Habeas Corpus nº 80.616, 1ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio. (DJ de 12/3/2004)
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Habeas Corpus nº 79.781, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda (DJ de 9-6-2000.)
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Habeas Corpus nº 94.016, 2ª Turma Rel. Min. Celso de Mello. (DJE de 27/02/2009.)
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Habeas Corpus nº 83.096, 2ª Turma, Rel. Min. Ellen Gracie. (DJ de 12-12-2003.)
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Habeas Corpus nº 79.781-4/SP, 1ª Turma. Rel. Min. Sepúlveda Pertence. (DJ de 09/06/2000)
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TRF 1ª Região; AC 2000.42.00.002195-2/RR
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A menudo, no se contraponen regla y principio sino norma y principio o norma y máxima . Aquí las
reglas y los principios serán resumidos bajo el concepto de norma. Tanto las reglas como los
principios son normas porque ambos dicen lo que debe ser. Ambos pueden ser formulados con la
ayuda de las expresiones deónticas básicas del mandato, la permisión y la prohibición. Los
principios, al igual que reglas, son razones para juicios concretos de deber ser, aun cuando
sean razones de un tipo muy diferente. La distinción entre reglas y principios es pues una distinción
entre dos tipos de normas. El punto decisivo para la distinción entre reglas y principios es que los
principios son normas que ordenan que algo sea generalizado en la mayor medida posible dentro de
las posibilidades jurídicas reales existentes. Por lo tanto, los principios son mandatos de
optimización que están caracterizados por el hecho de que pueden ser cumplidos en diferente
grado y que la medida debida de su cumplimiento no sólo depende de las posibilidades reales
sino también de las jurídicas. El ámbito de las posibilidades jurídicas es determinado por los
principios y reglas opuestos (ALEXY, 1993, p.83-86, grifei)
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extensão no processo administrativo: que seja ela aplicada a todo aquele que, com
seu depoimento possa sofrer dano, não só ao acusado; que seja estendida não só
ao interrogatório, mas a não obrigatoriedade de fornecimentos de meio de prova,
como padrões gráficos, dactiloscópicos ou material genético; e, por fim, que seja
garantida em toda sua amplitude para garantir uma defesa plena no depoimento do
acusado.
6. Conclusão
Numa nova abordagem do direito administrativo sancionador, princípios e
garantias constitucionais e processuais penais podem – e devem – ser utilizados
para suprir as lacunas do texto legal e garantir a estabilidade e segurança jurídicas
aos sujeitos à potestade sancionadora dos Estado.
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Kant (apud Loparic, 2006) abomina a mentira, incompatibilizando-a com o direito e com a ideia do
contrato social, enquanto Nietzsche (1873) a considera útil. O ardil, o engodo, a enganação seriam as
armas do intelecto para garantir a sobrevivência do homem.
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7. Referências