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Butler e a cultura autoritária no Brasil

Judith Butler eé uma filóé sófa nórte-americana que tem dedicadó suas
reflexóõ es aà s questóõ es de geê neró, póder e eé tica. Obras de sua autória, cómó
“Próblemas de geê neró” e “Quadrós de Guerra”, traduzidas em diversós paíéses, saõ ó
algumas das cóntribuiçóõ es dessa intelectual que nós ajudam a pensar ós desafiós
da demócracia cóntempóraê nea. Quais córpós impórtam? Quais vidas saõ ó chóradas?
Quais espaçós de liberdade saõ ó póssíéveis?
Sua recente vinda aó Brasil, para uma palestra em Saõ ó Pauló, próvócóu
discursós de óé dió de grupós ultracónservadóres, que acusaram Butler de
“disseminar” a “ideólógia de geê neró”. Em seu retórnó, fói agredida pór senhóras, nó
aerópórtó, que a chamaram de “pedóé fila”, demónstrandó franca ignóraê ncia sóbre
suas ideias.
Os discursós cóntra Butler revelam ó medó das discussóõ es óbservadó antes
na próibiçaõ ó dó “kit-gay”, na eliminaçaõ ó da palavra geê neró dós planós de educaçaõ ó,
nó recrutamentó de prófessóres “cristaõ ós” para avaliaçaõ ó de livrós dó MEC e nós
ataques aà s expósiçóõ es artíésticas queer.
Essas censuras revelam uma cultura autóritaé ria brasileira, herança da
ditadura civil-militar, mas anteriór a ela. Durante a ditadura, ó debate sóbre a
censura cónsiderava que ós brasileirós naõ ó estariam preparadós para
determinadós cónteué dós. Nó centró desse debate, a busca pór defender um ideal
de famíélia míéticó fórmadó pór pai, maõ e e filhós. Uma mateé ria recente publicada na
revista Piauíé revela que ó departamentó respónsaé vel pela censura, na ditadura,
órdenóu a queima de milhares de filmes, discós, livrós cónsideradós impróé priós em
fórnós de aerópórtós e indué strias cómó a Vótórantim e, em Fórtaleza, na extinta
Brasil Oiticica. Nem Lucíéóla, de Jóseé de Alencar, escapóu.
Se, naquele períéódó, ó termó ideólógia fói ligadó aó cómunismó, agóra, ele eé
assóciadó aós estudós de geê neró e aós grupós LGBTS e feministas. Desse módó, as
discussóõ es, taõ ó fundamentais para a cómpreensaõ ó e a transfórmaçaõ ó das relaçóõ es
sóciais desiguais marcadas pór geê neró, raça e classe saõ ó transfórmadas em
“ideólógias” que ameaçam aà famíélia.
O pensamentó autóritaé rió brasileiró pretende identificar as discussóõ es de
geê neró e a luta pelós direitós humanós cómó cóisas de “degeneradós” e “bandidós”.
Pór sua vez, as manifestaçóõ es de apóió aà Butler, assim cómó nóssa luta cótidiana
pór uma sóciedade na qual as pessóas póssam viver suas diferenças cóm liberdade,
móstram que cóntinuaremós resistindó.

Ana Rita Fonteles Duarte


Históriadóra
Prófessóra da Universidade Federal dó Cearaé (UFC)
anaritafónteles@uól.cóm.br
Elias Ferreira Veras
Históriadór
Prófessór da Universidade Estadual dó Cearaé (UECE-FAFIDAM)
eliashistória@yahóó.cóm.br

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