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ÍNDICE
Prólogo 2
PRÍMI-HISTÓRIA 6
Capítulo primeiro3
Capítulo II 23
Capítulo III 33
Capítulo IV 43
Capítulo V 51
Capítulo VI Destino não encontrado!
Capítulo VII Destino não encontrado!
SUPRANORMAL 86
Capítulo VIII 86
Capítulo IX 98
Capítulo X Destino não encontrado!
INICIAÇÃO 99
Capítulo XI 112
Capítulo XII Destino não encontrado!
Capítulo XIII 140
Capítulo XIV 149
Capítulo XV 162
APOCALIPSE 140
Capítulo XVI 164
Capítulo XVII 164
O ESTRANHO 190
Capítulo XVIII 190
O DIÁRIO LUMINOSO DO CÉU 194
Capítulo XIX 194
Capítulo XX 200
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O homem honrado é aquele que luta contra o esnobismo do embrutecimento,
do conformismo e do inconformismo, contra as religiões, as instituições, as
falsas liberações e os valores duvidosos impostos pelas máfias político-
religiosas.
O homem honrado é aquele que, com freqüência, se encontra muito só.
É necessário desmitificar a História dos homens tal como nos foi contada pelas
conjuras de contra-verdade.
Prólogo
Os sinais luminosos que se crêem ver no céu, os textos insólitos gravados nos
pampas do Peru, do Chile e sobre as colinas da Inglaterra não são os típicos
enigmas que suscitam nossa curiosidade.
Conheces o imenso geoglifo, uma roda perfeitamente circular de vinte rádios
perfeitamente retos, que se vê do avião quando se sobrevoa a região de Béziers?
Ouviste falar da misteriosa cidade de Brion enterrada sob as cepas de Santo-
Estefânio, na Gironda, das cidades subterrâneas de Naours, de Besse-en-
Chandesse, da cidade submersa de Rochebonne perto do vulcão que ameaça
surgir no litoral da ilha de Yeu?
Conheces:
— As medicines wheels (rodas curadoras) do Canadá?
—O museu secreto de Jaime Gutiérrez, em Bogotá, análogo ao de doutor
Cabrera?
— O enigmático povo cariba que, antes de abandonar nosso planeta, operava
cirurgicamente ao estilo dos curandeiros filipinos?
— O efeito Girard: Torcer uma barra de aço só por meio do pensamento?
— Os universos da anti-física, onde tudo é possível: Voar, levitar, passar através
das paredes, desdobrar-se, etc.?
— O gerador de azar: Um pedaço de matéria mais inteligente que um sábio
catedrático?
Queres penetrar mais adiante nos meandros do labirinto esotérico?
Leste o mais iniciático, o mais formoso conto cósmico imaginado pelo Velho do
deserto de Kuch: O feiticeiro da cidade de Luz?
Queres saber por que a França é cem vezes mais poderosa que URSS e Estados
Unidos no plano atômico? E como poderia aniquilar as duas super potências?
Queres ter a certeza, as provas de que a biblioteca pré-histórica do doutor
Cabrera é tão autêntica como a impostura daqueles que a contestam?
Robert Charroux fez pra ti uma relação dos últimos mistérios conhecidos de
nosso globo, as últimas mensagens deixadas pelos Antepassados Superiores
cuja civilização precedeu à nossa.
Poucos especialistas viram e interpretaram todo o insólito que Robert Charroux
descobriu, não garimpando nas obras de seus colegas ou mediante compilação,
senão indo ao próprio sítio, como de costume.
E, nos arquivos de outros mundos, nos convida a saborear essas investigações
dedicadas a todos os amantes do misterioso e do ignoto.
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YVETTE ARGAUD
PRÍMI-HISTÓRIA
Capítulo Primeiro
«Faz 1.500 anos, diz nosso amigo-correspondente Guy Laclau*, antes dum
cataclismo que transtornou a região sudoeste de França, o estuário da Gironda
apresentava uma geografia muito distinta da que conhecemos».
A costa era muito recortada, salpicada de numerosas ilhas e, ali onde se
encontra o estuário, se estendiam planícies pantanosas e malsãs.
Os povoados estavam construídos sobre as terras altas ou sobre os alicerces
rochosos nas proximidades da trilha pré-histórica Mediterrâneo-Oceano que
conduzia aos locais do sílex, do sal e depois ao cobre ou ao estanho.
Bordéus, capital dos bituriges vivisci, com o nome de Burdigala, tomava já um
grande auge como o demonstram os relatos do astrônomo grego Cláudio
Ptolomeu e as medidas das estradas da tábua de Peutinger.**
Quanto aos bituriges vivisci, se consideravam os reis do mundo celta, e
praticavam, segundo se diz, o azougamento com prata e enviavam o estanho
bretão às regiões meridionais.
Por conseguinte era perfeitamente lógico que cidades-etapas se situassem todas
ao largo das vias terrestres e marítimas Burdigala-Royan pra remontar
seguidamente até Saintes, Rochefort, Chátelaillon, La Rochelle, Les Sables-
d'Olonne, Nantes, Le Baule e o país de Armor.
Duas dessas cidades deixaram lembrança duradoura, apesar de que em nossos
dias se encontram enterradas pela areia e o lodo da Gironda: As cidades de
Brion e Pampeluna.
A CIDADE DE BRION
Essai sur deux ports antiques de vestuaire de la Girónde (Ensaio sobre dois antigos costumes de
vestuário da Gironda), de Guy Laclau, segundo os arquivos da Sociedade arqueológica de Bordéus.
A tábua de Peutinger, que está datada do século XV, é um valioso mapa-itinerário do império romano,
A SENHORITA DE BRION
Certamente, lendas, sem fundamento mas muito bonitas pra ser contadas,
foram inventadas sobre a cidade de Brion e têm, ao o menos, o mérito de
perpetuar a lembrança dum porto antanho importante e relegado, pouco a
pouco, ao interior das terras pelos despejos de aluvião.
Há um bom número de séculos Brion via o curso do rio se afastar pouco a
pouco de suas muralhas.
Naquele tempo um honrado mercador morreu deixando uma sucessão bastante
embrulhada e dívidas que obrigaram Elina, sua filha única, a vender o armazém
e as diversas terras que formavam parte da herança.
O credor aproveitou a inexperiência de sua devedora pra recuperar dez vezes o
que havia emprestado mas lhe deixou, simulando magnanimidade, uma estreita
faixa de pântano que se estendia ao largo do rio durante mais duma hora de
posta de cavalo: Duas mil toesas (4km).
— Filha minha, eis aqui terrenos que representam um excelente ponto de caça.
— Disse a sua jovem vítima — Os patos e as galinholas abundam chegada a
temporada!
Elina não compreendeu a ironia* do comentário já que demasiada preocupação
habitava sua formosa cabeça.
Dissemos que a jovem era bonita, muito bonita?
No entanto teve que ganhar a vida, duramente, trabalhando aqui e ali, se
contentando a miúdo em cear com sopa de pão. E os moços de Brion não lhe
prestavam atenção, dado o muito pobre que era.
Contemplando a água do Gironda deslizar até o mar, se comprazia, às vezes, em
sonhar:
Galinhola significa, também, cabeça de paturi (pessoa muito tonta ou distraída), perua. Paturi é uma
espécie de pequenos patos de arribação.
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— Ah! Se eu fosse rica algum belo rapaz da cidade se daria conta, seguramente,
de que sou bonita sob meu cabelo mal penteado e meu caparazão1 de barro.
Elina, que vivia numa cabana edificada em sua marisma, ia cada vez menos à
beira do rio, cujas ribeiras fugiam até o sol nascente a uma incrível velocidade.
Antanho a cabana estava a algumas toesas do Gironda. Agora distava mais de
50 pérticas de arpende*, o qual era uma boa ganga para a jovem que já não
chafurdava na lama ao ter consolidado as terras.
Passaram alguns anos.
Elina estava, então, em plena beleza, já que havia podido arrendar terras pra
vinhedos e pra pasto, havia feito construir uma casinha e, não habitando já um
feudo de barro e charco, podia se dedicar a se assear muito cuidadosamente.
E o Gironda retrocedia, retrocedia incessantemente, até o ponto que um dia
Elina não pôde ver os limites de sua propriedade. Se havia convertido no partido
mais rico de Brion.
Em tal condição se permitiu ao luxo de se casar com o capitão da fortaleza,
voltar a comprar a casa de seu pai e levar à ruína o credor desonesto.
Uma vez Deus havia recompensado a virtude!
Deus ou a Natureza benfeitora.
Ou, mais exatamente, os caprichos do vento e das correntes do rio. Mas o certo
é que a cidade de Brion era, antanho, um porto que agora dormita sob as ricas
terras do Medoque, muito perto dos vinhedos de Santo-Estefânio, um dos mais
reputados da França.
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Os historiadores Galy-Aché, Leo Drouyn e Claude Masse identificam
Noviomagus com a cidade de Brion mas nosso colega Robert Colle** é mais
prudente quando escreve: «Cidades romanas certo é que desapareceram
totalmente: Onde encontraríamos, agora, Noviomagus, a Novioregum do
itinerário de Antonino e o Portus Santorum?»
Seria, acaso, o Fá, Royan, os terraplanos de Tolón, a enseada da ilha de Aix ou,
mais provavelmente, a desembocadura do Seudre?
Tomando por referência a Robert Colle, podemos situar, aproximadamente, uma
dezena de cidades antigas enterradas no Sudoeste:
— Virson, submersa no mar ou sepultada na região de Aigrefeuille-d'Aunis.
— Montlion, perto de Bédenac.
— Gana ou Gériot, em Suzac na desembocadura do Gironda.
— Tamnum ou Lamnum na tábua de Peutinger, no Fá-de-Barzan.
— Olipe, enterrada perto de Soulac, na altura da bóia das olivas.
— Nossa-senhora-de-Buze, perto da Tremblade, cuja igreja estava enterrada em
1565, posto que o cronista Elie Vinet entrou nela fazendo uma abertura no teto,
já que o resto do edifício se encontrava sob a areia.
O altar de Nossa-senhora-de-Buze foi levado à igreja da Tremblade. Em 1968 a
cidade e sua igreja já não eram mais que uma lembrança apagada pela areia da
duna.
Contes et légendes d'Aunis et de Saintonge (Contos e lendas de Aunis e de Saintonge), de Robert Colle,
edições Rupella, A Rochela, 1965.
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Em 1680 se viam, ainda, vestígios das torres, das muralhas e dos fossos que
limitavam a cidade pelo lado de terra.
Em 1688 vi os vestígios duma grande torre do lado norte, os duma cortina
militar e de outra torre com muros de ótima alvenaria.
Existem indícios aparentes de que o castelo era a entrada da ilha e que o porto
estava do lado do mar a Oeste. Do lado de terra havia, ainda, nove casas sobre
o borda dos fossos e uma pequena igreja distante, aproximadamente, 100
toesas da costa (200m).
»Uma igreja existia, antanho, no castelo, ao lado do mar, posto que o senhor
barão de Chátel-Aillon disse a pessoas fidedignas que um camponês lhe
comentou que seu avô se havia casado na igreja que estava perto da ilha de
Aix».
A MISTERIOSA ANCHOINE
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Mais ao norte, no Loire atlântico, se fala de Es-coublac, povoado olvidado e
recoberto pelas dunas, perto da Baule.
Em Anjou o povoado de Arcy teria sido submerso pelo Loire e sua lembrança
estaria perpetuada pelo nome duma aldeia próxima: Gué-d'Arcy, no município
de São-Martinho-de-La-Place, no Saumurois.
Outra cidade igualmente sepultada, diz a lenda, foi a de Conquereuil, ao sul-
sudeste de Redon.
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Sobre a mesma latitude, mas mais a leste, a 5km oeste-sudoeste de
Chátellerault, entre Naintré e o rio Vienne, outra cidade desaparecida expõe um
enigma histórico: Vieux-Poatiê.
Nesse lugar, há cerca de 2.000 anos, se elevava uma cidade importante como o
atesta o resto do que era um anfiteatro numa aglomeração galo-romana.
Era a altura do Poatiê galo?
A cidade estava, ainda, habitada no ano 742, data na qual os dois filhos de
Carlos Martel, Pepino e Carlos Magno, repartiram entre si o império franco.
Se vêem, ainda, vestígios de casas e uma muito alta fachada de muralha de
pequena envergadura lavrada com arcadas e uma porta monumental, com uma
altura de 6m a 7m.
A uns 200m um valioso menir realça a antiguidade céltica do lugar e possui
uma das raras inscrições galas que se têm conservado.
Se lê a frase seguinte gravada na pedra: Ratn-brivation Fronty Tarbeilnios iev,
que significa: «Tarbelino consagrou perto da ponte este monumento a Frontus».
Desgraçadamente os anos apagam as lembranças mais emotivas. Raros são os
que vão ver o menir e ninguém sabe, já, se Vieux-Poatiê, a cidade olvidada, foi a
primeira capital do Poatu.
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YS, A CIDADE SUBMERSA
A CIDADE DE EN-BAS
A imersão de Ys remonta ao final da idade de Bronze, há 4.000 anos, ou ao século IV ou V de nossa era.
Alguns opinam que a lenda evoca a desaparição da Atlântida.
3 Antigo nome de Paris
La Bretagne des druides, des bardes et des légendes (A Bretanha dos druidas, dos bardos e das
forma de taça vulvar e os menires esculpidos pra representar falos. A arte sagrada dum povo é
representativa de seu pensamento, de sua aspiração, de sua inibição e de sua libido. A relacionar também
aos cultos eróticos de Khajuraho e de Konarak, na Índia, da África negra, e ao culto à castidade entre os
cristãos e os judeus.
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Se aceita, mais geralmente outra versão, que é a dos escritos tradicionais muito
antigos.** O rei Grad Ion teria encontrado nos países do norte uma rainha de
maravilhosa beleza: Malgwen, rainha do mar, que trouxera consigo até a
Cornualha.
Durante a travessia, a bordo do barco, Malgwen, antes de morrer de parto,
parira a pequena Dahut.
O rei depositou todo seu amor na princesa e, a pedido dela, fez construir pra ela
a grande cidade de Ys, cujo alicerce se encontrava nitidamente sob do nível do
oceano.
Ys era, pois, segundo a expressão de Jean Markale, uma cidade de En-Bas (de
Baixo) e Dahut podia se engalanar com o título de Rainha do Mar.
As sereias, oceânides e outras criaturas do reino marinho jamais tiveram muita
reputação de castidade, mas Dahut, mais que elas, mais que Messalina, se
distinguia por sua sede de luxúria e convertera toda a cidade à vida de
desenfreio e de orgia.
Em cada noite um criado musculoso lhe trazia, pra servir a seu prazer real, um
belo moço eleito na alta sociedade ou entre o povo.
O amante devia acudir mascarado pra preservar sua identidade, segundo lhe
diziam, e Dahut se encarregava, seguidamente, de lhe proporcionar a mais
louca, a mais perversa, a mais inesquecível noite de amor.
Pouco antes da aurora o criado musculoso vinha tomar a seu cargo o
companheiro de prazer de sua ama e, no momento de lhe recolocar a máscara,
atuava tão torpemente e com tanta brutalidade que o desgraçado caía morto,
estrangulado, a seus pés!
Só faltava, em seguida, atirar o cadáver ao abismo dos montes de Arrez, perto
de Huelgoat.***
De fato, Dahut era uma criatura do Destino engendrada pra que se realizassem
os escuros desígnios dos quais o homem não tem consciência e estava escrito
que, nascida sobre a água, regressaria a seu elemento natural porque sua mãe
era, provavelmente, uma oceânide.
Essa é a razão pela qual, numa noite de festa, enquanto o vinho esquentou sua
imaginação, Dahut experimentou o desejo imperioso, independente de sua
vontade, de fazer de Ys uma cidade verdadeiramente submarina.
Desse modo, como sua mãe, a bela Malgwen, se converteria em Rainha do Mar
e teria por reino e capital uma cidade incomparável.
Depois daquela festa em que todo mundo bebera mais que de costume Dahut
entrou suavemente, descalça, ao quarto de seu pai e lhe furtou as chaves das
quais dependia a proteção da cidade.
O eminente erudito Jean Markale, em seu livro Les celtes (Os celtas), edições Payot, 106, Bd. São
Germano, Paris, 1969, cita Le lai de Graelent-Meur (O poema de Graelent-Meur), de Marie de France, Le
mystére de saint Gwénnolé (O mistério de são Güenole) (século XVI) e A vie des saints bretons (A vida dos
santos bretões), de padre Alberto o Grande (século XVIII) que contaram a lenda introduzindo nela a
temática cristã habitual em seu tempo.
A princesa de Ys, diz a tradição, tinha um castelo na borda do precipício. Era o castelo Ghibel, cuja
ATLANT-IS?
Cremos haver escutado dizer ao escritor Pierre-Jakez Helias que existia também
uma cidade de Ys em Lanhelin (llle-et-Vilaine). Nos cafés do povo se conta a
lenda dessa cidade chamada das bonitas peles porque estava habitada por
mulheres transparentes.
Quando bebiam vinho se lhes via descer pela garganta.**
Desde logo às lendas de cidades submersas iam sido enxertados mitos morais e
religiosos: Castigo do céu aos habitantes por sua impiedade, seu egoísmo ou
sua maldade.
É a história de Sodoma e de Gomorra que começa, a menos que o final da
Atlântida ou da cidade de Ys não tenha inspirado o das duas cidades da
Palestina.
O mesmo mito é reencontrado com Vinheta submersa no mar Báltico, não longe
da ilha alemã de Wollin, perto do estuário do Oder.
Com boa vista se poderiam distinguir os telhados e campanários de Vinheta no
fundo d’água e, no domingo na manhã, com bom ouvido, se podiam escutar os
sinos de suas igrejas!
Os habitantes teriam sido castigados por sua avareza e sua impiedade. No
entanto, não podem morrer e sua cidade é eterna!
A cada cem anos, durante a noite, emerge dágua e revive em todo seu
esplendor durante uma hora. Depois regressa ao abismo durante um século.
Vinheta poderia ser liberada do castigo que a afeta se um mercador da cidade,
ao reaparecer sobre a água, recebesse uma moeda em troca duma mercadoria.
A mesma interpolação cristã*** tem lugar com Ys: Havendo aferrado o galo-
veleta dum campanário com sua âncora, um pescador mergulhou ao mar para
soltar e assistiu uma missa.
Essa lenda pertence também à tradição de Bresse. Na aldeia de Trois-Demoiselles, perto de Saint-
Germain-du-Bois (Saóne-et-Loire) viviam três garotas de maravilhosa beleza. Quando bebiam vinho tinto
se via baixar pela garganta, cuja pele era fina e transparente como gaze.
O mito é idêntico à lenda da cidade submersa do lago de Issarles
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No momento da oferenda o pobre homem, não tendo moeda encima, nada deu
e voltou à superfície da água.
Se pudesse ter dado o menor óbolo, a cidade de Ys teria emergido, o que teria
sido uma grande desgraça!
Com efeito, uma profecia diz: Quando Ys surgir Paris perecerá.
Com o transcurso dos anos o mito de Ys se converteu em símbolo de difamação
da sociedade e dos cultos a nossos antepassados em benefício ao cristianismo,
enquanto que em sua origem ilustrava a luta incessante dos homens contra o
mar e do mar contra os homens.
Estrabão diz que os címbrios atiravam venábulos contra as ondas durante as
festas rituais.
Aristóteles relata que os celtas não temiam os tremores de terra nem as ondas
invasoras, senão unicamente que o céu lhes caísse sobre a cabeça!
Não cabe dúvida que esses ritos e sentimentos têm relação com os grandes
acontecimentos geofísicos geradores de afundamento e de destruição de cidade.
A LEXÓBIA DO REI-BRUXO
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SÃO-PEDRO-DE-VARENGEVILLE (Sena Marítimo). Entre Ruão e Caudebec:
Cidade enterrada na aldeia da Fontaine, sobre um subterrâneo acondicionado
com nichos, pilares e banquetas.
BOSVIE (Sena Marítimo). Entre Brachy e Greuville: Cidade romana desaparecida
com numerosos tesouros.
SAINT-LAURENT (Sena Marítimo). Município de Gueures, cidade desaparecida
com sua igreja. O sino teria sido atirado a um poço.
AMIONS (Loire). A 26km ao sul de Roanne. A cidade, com seus habitantes
egoístas e malvados (o tema não varia muito!), foi enterrada pela magia duma
jovem senhora que, se supõe, era a Virgem. Ela perguntava sobre o caminho até
Souternon e ninguém se havia dignado indicar.
ORMONT. As Roches-des-Fées do Ormont, nos Vosgos, dominam a cidade de
Saint-Dié. São três enormes cubos de grés coroando uma gruta cuja abertura é
tão estreita que há que se deslizar por ela como um réptil. Depois a gruta se
alarga e se faz bastante ampla. Mais longe, mas a entrada está bloqueada, se
estende a cidade das Fadas, onde dormita toda uma população de bebês onde
cada um espera seu dia pra fazer sua aparição na vida. Volta a se encontrar aqui
o mito da mãe gestante e do estreito compartimento comunicando com a gruta
uterina.
BELLEY (Ain). Cidade submersa pelo lago de Bart.
PALADRU (Isére). A antiga cidade de Ars teria sido submersa no estanque da
Combe, perto do povoado de Versare e o povoado medieval de Colletiéres
(século XI). Está na água do lago Paladru.
ISSARLÉS. Lago de Ardéche, a 30km a vôo de pássaro ao sul-sudeste do Puy.
Profundidade 128m, altitude 1.000m. Produzido pelo desabamento no granito.
Há 2.000 anos Issarlés era uma cidade bela e florescente onde passou Jesus.
Pediu caridade mas ninguém lhe deu, nenhum vaso de água, nenhum pedaço
de pão. Abandonou, pois, a cidade mas, na última casa, uma mulher lhe
ofereceu pão e leite.
Jesus, com o coração cheio de rancor, lhe anunciou, então, que ia destruir
Issarlés, mas que ela poderia se salvar se se pusesse, imediatamente, em
marcha e não voltasse a cabeça no momento do cataclismo. A boa mulher se
voltou ao ouvir a água impetuosa alagando os habitantes e destruindo suas
casas e ficou ela convertida em rocha. Se trata, evidentemente, duma copia
cristã do afundamento da cidade de Ys e da destruição de Sodoma.
CIDADE-DE-DEUS (Bajos-Alpes). A leste de Sisteron, perto da estrada
Departamental 3, sobre o bancal4 chamado Les Planeaux, se teria elevado
antanho uma cidade denominada Teópolis, domínio dum certo Dardanus do
qual se lê o nome sobre a Pedra Escrita margeando a D3.
ROQUEBILLIÉRE (Alpes Marítimos). Povoado enterrado por um desprendimento
de terra em 1926.
DRAP (Alpes Marítimos). Povoado antigo destruído e enterrado por um tremor
de terra no século XVI.
CIMIEZ. Cemenelum, capital da província romana, está enterrada sob o bairro
residencial de Niza.
POVOADOS SUBTERRÂNEOS
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Capítulo II
A NASCA CHILENA
Há numerosas interrupções na evolução dos homens: Não existe elo entre os símios e o homem, brusca
desaparição do neandertal, detenção inexplicada da civilização do período magdaleniense, etc.
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A Nasca do Peru, o pampa Colorado, principalmente, é, de fato, uma imensa
página branca de creta5, salpicada de oxidação, de pó e de calhau que lhe dão
aspecto grisáceo ou, mais exatamente, pardo-violeta.
Basta passar uma escova no pó superficial e então o substrato branco aparece e
pode servir de linha ou de desenho.
No Chile, às vezes, é o mesmo fenômeno que ocorre, outras vezes as cores lisas
do desenho são zonas purgadas ou, ao contrário, postas de relevo com calhaus
amontoados.
Em muitos lugares do Peru inscrições recentes são feitas com uma planta
chamada ichu que se arraiga superficialmente lá onde se a deposita, ou bem
com calhaus cuidadosamente dispostos.
O Candelabro dos Andes está desenhado mediante fossos na areia mole
(profundidade do eixo central: 0,60cm a 0,75cm, profundidade dos outros
ramos: 0,20cm a 0,30cm).
Na Inglaterra os traços são conseguidos liberando o solo cretáceo de sua casca
de erva e de terra superficial.
Que saibamos, exceto pros homens gigantes das colinas do Dorsete inglês,
desenhados por fossos ou sulcos na terra, os geoglifos de nosso globo estão
quase sempre motivados pela natureza branca do solo...
Em resumo, é o quadro branco o que provoca a escritura e não a escritura que
cria o quadro.
Daí pensar que os geoglifos não são mais que passa-tempo de pastores ou de
povos ociosos, não há mais que um passo.
Provavelmente é verdade, em determinados casos. Por exemplo, na Inglaterra:
Os cervos e os cavalos das colinas de Dorsete são ex-votos, representações
gratuitas, aduladoras, homenagens rendidas a animais particularmente
estimados.
Embora alguns tenham acreditado ver nisso uma representação mágica com
desejo de proliferação, de repovoamento ou esperança de boa caça.
Mas em todas as outras partes do globo os geoglifos têm uma explicação e os
do Chile lembram os sinais traçados ainda em nossos dias pelos ciganos e os
andarilhos pra assinalar os lugares de boa hospitalidade e aqueles que mais vale
excluir do roteiro de caminhada.
A NASCA DE ATACAMA
O CURACA DE UNITAS
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A oeste do povoado de Tarapaca se vê um caos de penhascos sobre os quais
estão gravados, a cinzel, personagens estilizadas, serpentes, círculos, lhamas e
animais parecidos a tartaruga e a iguana.
Os arquitetos dos geoglifos eram, também, gravadores sobre pedra.
O GIGANTE DO LAGARTO
1949, por um libreto de Maria Reiche intitulado Mystery on the desert (Mistério no deserto), Editora Médica
Peruana, Azangaro 906, Lima. E em 1974 pelos livros O enigma dos Andes, de Robert Charroux e As pistas
de Nasca, de Simone Waisbard. editora Plaza & Janes. Coleção Outros Mundos.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
testemunhos e os indícios extremamente perturbadores dos quais voltaremos a
falar.
Sobre a vertente norte do morro Unitas um grupo de desenho reproduz formas
humanas retangulares com grandes cabeças mas sem perna (apagadas).
A técnica habitual de varredura do solo está reforçada pela colocação de pedras
planas recalcando a borda das figuras.
OS PASTORES DE BAIXADA
AS LHAMAS DE TILIVICHE
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Sobre a ladeira da falha de Tiliviche, muito perto da estrada Panamericana, se
vê, em débil relevo, um grande friso representando lhamas e alpacas como
filmadas em pleno movimento e de perfil.
De fato, é necessário, ademais duma boa luz rasante, se colocar sobre a colina
oposta à falha pra distinguir nitidamente os detalhes.
No meio do rebanho parece se reconhecer um homem com os braços
separados. Outro, sem dúvida o pastor, esgrime uma huaraca (funda), abaixo e
à esquerda.
No meio das lhamas um felino, talvez um puma, corre em sentido contrário aos
outros animais.
A NASCA DE AREQUIPA
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
A zona arqueológica se estende 5km por cima do vale do rio Majes num
mosaico desértico de dunas e penhascos escarpados, representando cenas de
dança, pesca, personagens, lhamas e linhas geométricas.
Touro Morto ostenta, provavelmente, o recorde dessas pedras gravadas que
alcançam o número de várias dezenas de milhares.
Do alto da montanha se pode ver um imenso 8 traçado sobre as pendentes e
nossa correspondente e amiga, a senhora Bridget Butterworth, localizou, desde
um avião, vários geoglifos semelhantes aos de Nasca.
Mas a maior descoberta de Linares Málaga é a tapeçaria do pampa de Siguas na
borda da Sul-Panamericana, a uma e meia hora de carro desde Arequipa.
Se distingue o geoglifo duma colina próxima que domina o vale e, com boa luz
rasante, os desenhos aparecem muito nítidos com uma espécie de grecas
bordadas de debruns duplos.
O centro da tapeçaria, mais exatamente um tapete, é um grande retângulo de
30m de comprimento por oito ou dez de largura.
A dimensão do geoglifo é de 60m X 30m. A técnica utilizada é a do sulco largo
de 0,30cm a 0,60cm. com profundidade de 5cm a 10cm.
Estudada pela universidade nacional de São Agostinho, de Arequipa (UNSA), o
tapete de Siguas está catalogado como um caso único de geoglifo,
fundamentalmente diferente dos de Nasca.
Sua orientação, ao fundo do vale, é norte-sul. Isto é, está dirigido até Cuzco.
UNS PAPÉIS PRECIOSOS
Quanto ao Candelabro dos Andes, as múmias de Paracas e as pedras gravadas de Ica, se remeter a O
enigma dos Andes, de Robert Charroux. Há que fazer constar que o Candelabro dos Andes, esse geoglifo
de sulco, como o tapete de Siguas, também está orientado, norte-sul, contrariamente ao que havíamos
escrito no enigma dos Andes. Fomos induzidos a erro por uma bússola avariada.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
É importante fazer finca-pé em que Garcilaso da Vega, filho dum ilustre capitão
espanhol e duma princesa inca, tomou deliberadamente o partido dos
antepassados de sua mãe e cala sobre tudo o que é desfavorável aos incas.
Não ocorre o mesmo com o pai Oliva, que não teme descrever tudo o que vê e
contar tudo o que ouve dizer sobre o passado fabuloso daqueles aos quais
chama os ingas.
Tudo induz a pensar — escreveu — que os ingas eram uma raça estrangeira.
A miúdo se faz referência, inclusive em Garcilaso, a uma língua particular que
somente era falada e compreendida pelos membros da família imperial...
Para assegurar seu domínio, os ingas haviam feito um trabalho admirável: Era a
construção de duas grandes estradas que se estendiam toda ao largo de duas
cadeias de montanha. Uma, que se chamava a trilha dos ingas, se estendia
desde Pastos até Chile, num trajeto de 900 léguas (3600km). Tinha 24 pés
(7,8m) de largura e a cada 4 léguas (16km) se encontravam vastos edifícios
chamados tambos. Continham grande provisão de víver, de roupa e de tudo o
que podia ser necessário. A cada meia légua (2km) se colocavam sentinelas que
transmitiam as mensagens dum a outro correndo com grande rapidez.
»A outra estrada tinha 25 pés (8,12m) de largura e estava flanqueada, a cada
lado, por um muro elevado. Corria através das planícies, desde Piura até Chile,
onde se reunia com a outra».
Depois de haver falado do reinado dos incas, padre Oliva se estendeu sobre o
fundador do império, Manco Capac, e entrou, então, numa continuação
assombrosa e fecunda em revelação.
Não pude encontrar, nalgum historiador, informação sobre o origem de Manco
Capac, quando alguns papéis que me entregou doutor Barthélemy Cervants,
cônego da santa igreja de Charcas, caíram em minhas mãos.
«Foram escritos a tenor dos relatos de Catari, que ocupara a função de
quipocamaio (leitor de quipos ou quipus, cordões de nós que faziam as vezes de
livros ou de memorando) junto aos últimos ingas, função herdada de seus
antepassados, descendentes de Ylla que, como já foi dito mais acima, foi o
inventor dos quipos..».
«Catari relata, pois, que depois do dilúvio universal, que os índios tinham um
perfeito labirinto e ao qual chamavam pachacuti. Os primeiros homens que
chegaram à América, seja adrede ou empurrados por uma tempestade,
abordaram Caracas, onde se multiplicaram e se espalharam em todo o Peru...»
Os incas, convertidos em soberanos do Peru, descendem dum cacique
denominado Tumbe ou Tumba.
Otoya, um dos dois filhos do cacique, cruel e bêbado, escapou duma
conspiração e se entregou a toda classe de exações que somente foram
cessadas com a chegada duma tropa de gigantes.
Esses o fizeram prisioneiro e supliciaram seus súditos com maus tratos.
»Não traziam mulher com eles e se entregavam ao crime contra natura, de modo
que Deus, irritado, os fez perecer sob o fogo do céu... A tradição relata que
esses gigantes haviam vindo sobre balsas formadas por grossas peças de
madeira e que eram tão grandes que a cabeça dum homem comum lhes
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
chegava apenas aos joelhos. Escavaram poços muito profundos que se vêem
ainda hoje na ponta Santa Elena e que estão cheios de água potável. Se
encontra, ainda, nesse lugar ossamentas humanas duma estatura prodigiosa, e
dentes que pesam até 14 onças (430g!). Eram tão enormes que eu custaria
acreditar se não tivesse visto (sic). É provável que esses gigantes eram da
mesma raça que aqueles que desembarcaram na Nova Espanha (México) e dos
quais se descobrem, ainda, ossamentas no distrito de Tlascala».
Esses invasores, dos quais nos fala o padre Oliva, teriam alguma relação com os
gigantes da ilha de Páscoa,* tão estimados por Francis Mazière e que são, de
certo modo, seus filhos espirituais?
Se postulou a hipótese de que os incas poderiam ser os descobridores e os
invasores de determinadas ilhas do Pacífico. Embora seja pouco provável, nos
parece interessante mencionar essas observações de Anello Oliva.
Sabemos que a autenticidade dos gigantes antigos está fortemente posta em
dúvida. O motivo é devido ao exagero dos relatos tradicionais como aquele em
que a estatura dum homem alcança apenas as joelhos do gigante.
Se tivesse existido uma personagem tão imensa, teria medido de 7m a 8m de
altura, o que é dificilmente crível.
Não obstante, há que ter em conta diversos fatores que demonstram que
homens de muito alta estatura viveram nos tempos antigos.
— Todas as tradições mencionam gigantes.
— O recorde em 1977 é de 2,70m pro americano Robert Wadlow.
— O padre Oliva parece sincero quando fala dos dentes de 14 onças (0,4kg).
Resta saber se eram de homem ou de animal!
Podemos testemunhar um feito que seria facilmente comprovável se nos países
da América do Sul fosse possível obter algo, o que seja, com simplicidade e
facilidade.
Vimos no templete-museu de Tiahuanaco, em 1969, sobre uma estante, uma
série de crânios que vão desde o Cro-Magnon até um crânio gigante que, de
memória, nos parece que deve medir entre 30cm e 40cm de altura.
Em nossos dias esses crânios se encontram no museu arqueológico de La Paz,
mas nos foi impossível, apesar de numerosas diligências, obter fotografia.
A existência de gigantes no antigo império dos incas, se fosse demonstrada,
permitiria considerar novas hipótese sobre os problemas de Nasca, as pedras do
doutor Cabrera e as múmias de Paracas.
«A tradição conservada pelos quipocamaios relata também que, quando a
destruição dos gigantes, se avistou no céu um jovem duma beleza prodigiosa
que lançava contra eles a chama que os destruiu. É provável que fora algum
anjo do céu».
Nos inteiramos, pelo padre Oliva, de que os incas eram uma raça estrangeira no
Peru.
Catari, o quipocamaio, nos abre outros horizontes quando escreve:
A fantástica ilha de Páscoa, de Francis Mazière, editora Plaza & Janes. Coleção A volta ao mundo em 80
livros.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Manco (o primeiro inca), assustado pela tempestade, resolveu não ir mais longe
de Ica e não penetrar dali ao interior das terras...
Seus companheiros o descobriram mais tarde numa espaçosa caverna do lago
Titicaca, escavada pela mão humana.
As paredes estavam recobertas de ornamento de ouro e de prata, e não dava
acesso além duma porta muito estreita...
»Para se reconhecer, os companheiros de Manco se perfuraram os lóbulos das
orelhas e se penduraram grossos aros duma espécie de junco chamado aotora
(aotora = totora = junco). Essa prática parece haver dado origem à casta dos
orelhões)».
Manco saiu, numa manhã, da caverna, na alvorada, com uma roupa feita de
placas de ouro e não teve dificuldade em se fazer reconhecer como rei. «Foi
assim que fundou a monarquia dos ingas».
Tal é o relato de Anello Oliva.
Em certo sentido pode orientar as especulações a propósito de Nasca pelo fato
de que Manco chegou até Ica pra reconhecer seu futuro reino, limitado, então,
pelas pistas e linhas do pampa de Nasca.
Tinham por missão esses traçados deter magicamente a marcha conquistadora
de Manco ou bem, ao contrário, o guiar até as ribeiras do lago Titicaca onde
devia concluir sua missão e seu destino de futuro inca?
É uma hipótese que merece ser estudada, tanto mais que ninguém, até hoje, se
ocupou do tema. Não cremos que Manco tenha detido sua exploração em Ica
pra se dirigir obliquamente até o lago Titicaca onde, finalmente, se deteve.
A Cordilheira dos Andes é um obstáculo que não se desafia impunemente, e
teve ele de descer até Nasca e Arequipa onde encontrou na montanha uma falha
que conduzia a Puno, na borda do lago, e a Chinchillapi (a 140km a sudeste)
onde se encontram as cavernas com pinturas de Mazo Cruz, de Kelkatani e de
Pizaoma.
Lá encontrou os santuários dos mais antigos povos andinos: Os kollas
fundadores do mundo que reinavam há 10.000, anos depois de ter chegado,
não da costa, como se supunha, mas do norte!
De todo modo é necessário recalcar que os gravados rupestres do lago Titicaca,
se bem que aparentados aos do deserto de Atacama, não têm semelhança com
os geoglifos do pampa.
Então, o que seria Nasca? Barreira mágica pra deter Manco ou outro invasor ou
painel de endereço devendo guiar um ou outro até o lago sagrado do futuro
império?
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Capítulo III
NASCAS DA AMÉRICA DO NORTE E DA EUROPA
Apenas esse bípede incômodo, vaidoso e inteligente que é o homem teve a idéia
de se expressar de outro modo além da dança, voz, dente e punho. Começou a
garatujar sobre a terra e sobre a rocha.
Sua primeira escola foi a Natureza, seu primeiro mestre o céu e sua primeira
piçarra o solo.
As escrituras mais antigas que se conhecem são traços, espirais e círculos
gravados sobre as paredes lisas das cavernas.
Houve, seguramente, outras mostras mas não chegaram até nós.
Esses testemunhos antigos, primários ou, às vezes, muito elaborados se
encontram em toda parte do mundo onde a civilização não lacerou, arrasou,
assassinou o passado.
OS MIMBRES DE BLYTHE
O geoglifo é, por definição, gravado sobre o solo, por conseguinte em vão (geo: terra e gliphé:
cinzelagem). Sem embargo, demos a palavra, de acordo com a maioria do público, à imprensa, às revistas
e aos arqueólogos, sobre o sentido de traçado, desenho, gravado ou não, executado sobre o solo.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O motivo é realizado por várias pessoas, de modo muito destro, como uma
mandala hindu.**
Essa mandala, tanto se é redonda, quadrada ou ovalada, está pintada no
sentido do curso do Sol e os cores ficam dispostas numa ordem ritual.
Colocadas num casca de cortiça são distribuídas com arte e podem representar
linhas, figurações animais, geometrias ou sinais de exorcismo.
Quando a mandala está terminada se coloca o enfermo no centro. O bruxo e os
assistentes se entregam a encantamentos rituais a base de cânticos e danças
mágicas.
Seguidamente o enfermo é devolvido a seu hogan (choça de terra ressecada) e o
bruxo espalha o desenho na areia.
Se foi reproduzido num hogan, a habitação é destruída e seus vestígios
enterrados.
Certos geoglifos pintados são dedicados às forças naturais, às plantas, aos
animais ou aos deuses. Então, se lhes deixa perdurar tanto tempo quanto os
preservem o vento e a intempérie.
Na Índia a mandala é um esquema geométrico sagrado em cores simbólicas reproduzindo uma
cosmogonia ou um caminho iniciático, segundo um formulário que somente o bruxo conhece.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Se pensa que o conjunto poderia ser um calendário astronômico ou uma espécie
de centro cósmico onde se produziriam intercâmbios benéficos entre o Céu e a
Terra.
Seria uma clínica pré-histórica, como opinam os esotéricos sobre os
alinhamentos megalíticos de Bretanha, e daí seu nome de medicine wheels,
rodas medicinais, que lhes dá um sentido e poder terapêuticos presumidos.
É uma explicação possível mas, sem dúvida, há que pensar que esse calendário
servia, também, pra fixar as horas e os dias favoráveis pra determinadas
cerimônias rituais.
O templo de Estonerrenge, na Inglaterra, tinha destinação idêntica e, como as
rodas medicinais, estava orientado com pedras ilhadas ou disposições de
monolitos pra indicar os solstícios e os lugares por onde assomam as estrelas
mais brilhantes do céu: Vênus, Sírio, Rigel, Aldebarã.
Ler Le livre du mystérieux inconnu (O livro do misterioso desconhecido), Robert Charroux, editora
Laffont, Capítulo VI. A civilização dos celtas é a mãe de todas as civilizações: Túmulos, pirâmides e
outeiros funerários. A mulher branca dos leni-lenapés. Os mexicanos vieram da Europa. Os ameríndios têm
antepassados europeus, etc.
7 Conjunto de montanhas laterais, que derivam dela e que são, geralmente, mais baixas
É a opinião de John A. Eddy num artigo publicado em National Geographic de janeiro de 1977
8 Cairn: monte de pedras
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
A RODA DE MAJORVILLE
Denominamos geoglifo tudo o que está desenhado sobre o solo, seja em baixo
ou alto relevo, se tendo adotado essa denominação a propósito de Nasca.
Em realidade, Nasca é melhor um desenho que um glifo, e as rodas mágicas de
América não são gravadas, senão construídas.
O homem é um arquiteto e um geômetra e sua civilização está, principalmente,
representada pelo que desenha ou edifica sobre o solo. Em resumo: O que fica
quando quase tudo desapareceu! Nossos antepassados sempre tiveram a
preocupação de se expressar escavando linhas de fossos ou, ao contrário,
alçando taludes.
Avebúria, o grande centro céltico da Inglaterra, está delimitado por um valado
circular de 470m de diâmetro que é um imenso e profundo fosso (glifo).
O templo alado de Barrow, no Lincolnshire é, à vez, um hieroglifo e um geoglifo
formado por taludes e fossos, com um círculo central de 70m de diâmetro e
asas duma centena de metros de largo.
Esses geoglifos, e existem muitos mais, são parentes próximos, com suas
alamedas em forma de serpente, das antigas construções tumulares dos
montículo builders.
Por outra parte, a edificação dum talude ou dum túmulo implica, como
contrapartida, a escavação dum fosso, tanto é assim que o estudo das
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
diferentes nascas não poderia se dissociar da dos morros funerários, dos
montículos, dos salientes e ressaltados.
Stonehenge, como quase todos os monumentos megalíticos, é um templo em
relevo inscrito num geoglifo.
O mame em ruína de Toui Tonga, Polinésia; o de Papara, Taiti; as aras de holocausto, entre os antigos
judeus; tal qual que os zigurates na Assíria-Babilônia, eram construções piramidais de piso.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Os cervos parecem mais recentes. Alguns são, inclusive, deste século.
Simbolizam, à vez, a paixão dos ingleses pela caça e a crença na virtude
redentora atribuída ao animal-imagem de Cristo e a seu poder redentor.
Há uma dezena de geoglifos de cavalo e muitos mais de cervos e de motivos
diversos e recentes que chegam à lenda, como sobre as colinas do Peru.
Aqui e ali uma lembrança atávica impulsionou os autóctones a escrever
mensagens gravadas mas seria necessário fuçar na profundeza do inconsciente
pra discernir o motivo que os fez agir.
Deve se deixar constância dum dado, sem dúvida, de grande importância: A
Nasca da Inglaterra está, «exatamente, sobre a mesma latitude que a Nasca do
Canadá. A linha inglesa dos geoglifos parece marcar a trilha tomada faz já de
5.000 a 10.000 anos pelas tribos de nossa Europa pra ir povoar a América.
AS NASCAS DE FRANÇA
A RODA DE ENSERUNE
Muito conhecida pelos habitantes do Hérault, mas ignorada pela maioria dos
franceses, a roda de Enserune é, provavelmente, o único geoglifo da França.
Vista de avião ou do mirante situado sobre uma colina antiga, se apresenta
como uma imensa e perfeita roda cujos vinte raios se reúnem no centro.
Nosso amigo Max Seguy, de Béziers, que conhece bem o lugar, diz que esse
desenho se parece a uma torta partida geometricamente.
De fato, os raios da roda, cujo diâmetro deve se aproximar dos 4km ou 5km, são
fossos de drenagem separando os vinhedos e os campos de diversos
proprietários.
O conjunto, chamado roda de Enserune ou de Montady, se estende a 6km de
Béziers, entre as estradas que vão, duma parte a Capestang e de outra parte a
Narbona.
Nossa documentação, que nos foi fornecida por Henry Nohet, secretário da
prefeitura de Montady, aponta os detalhes sobre a história do geoglifo, que a
tradição remonta à época dos romanos.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O abade Ginieis descobriu nos arquivos de sua paróquia a carta constitutiva
outorgada em 13 de fevereiro de 1247 pelo arcebispo de Narbona, concedendo a
três senhores da periferia e a um notário de Béziers «o poder e as facilidades pra
secar o estancado de Montady e de transbordar sua água no de Capestang que
pertencia ao mencionado arcebispo».
O estancado não era, então, senão um lago infecto cuja água estancada era
muito malsã.
O ata menciona as disposições seguintes:
«Te dou e aos teus, presentes e a chegar, a faculdade de fazer emanar a água
do estancado pela terra de monsenhor, nos terrenos de Nissan e de Pohilhes
pertencendo a meu mencionado senhor. Te permito também construir túneis,
calçadas, fossos, poços, e as fazer passar nas terras, honras, possessões dos
homens, cavaleiros ou outros que as detenham a título de enfiteuse
(arrendagem a largo prazo) do mencionado monsenhor..».
A obra foi começada no ano 1250 e terminada antes de 1270.
Segue uma larga descrição do túnel em aqueduto de 1.364,33m que passa a
29,10m sob a cresta da montanha e a 16m sob o leito do canal.
OS TRAÇADOS DE ECKWERSHEIM
Na margem dos geoglifos mas, talvez, em relação seu misterioso ignoto, é
interessante assinalar os enigmáticos traçados de Eckwersheim, pequeno
povoado de 800 habitantes no baixo Reno.*
Durante a noite de Natal de 1975 caiu neve e, na manhã seguinte, alguém
observou, estupefato, um sulco contínuo, com largura aproximada de 10cm,
que começava na porta do jardim de sua casa, bifurcava até a horta
Comunicado de Les dernières nouvelles d'Alsace (As últimas notícias da Alsácia), de 27-12-1975.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
contornando as árvores e as cercas-vivas, prosseguindo sobre uma pequena
taipa de 50cm e se perdia repentinamente.
As bordas do sulco estavam cortadas nitidamente como com instrumento
cortante.
Outros traçados idênticos atravessavam as ruas, com grande retidão ou se
convertiam em circunferências perfeitas.
Não havia claro início, nem final detectável... Que animal teria sido o autor. Que
fenômeno poderia explicar?
Igual como em Nasca, tampouco os naturais de Eckwersheim puderam
adivinhar o enigma desses geoglifos!
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Os desenhos e os grafites são, geralmente, formados com pedra ou com pilhas
da planta itchu.
No Chile se retira a oxidação parda do solo pra deixar aparecer zona branca ou,
ao contrário, se amontoam calhaus pardos sobre uma colina de cor clara
(informe de Hans Niemeyer F.).
Em Estados Unidos acontece o mesmo que em Nasca.
No Canadá os geoglifos estão traçados com pedras de cor clara dispostas sobre
um fundo mais escuro.
Na Inglaterra se retira a capa verde herbácea ou das colinas pra deixar aparecer
o substrato cretáceo.
No Chile se encontram geoglifos representando cruzes de Malta, estrelas, sóis, o
qual permite supor uma preocupação com o sagrado, com o culto.
Esses desenhos são, provavelmente, posteriores aos geoglifos de Nasca.
Possivelmente são, inclusive, relativamente recentes, o qual apresenta, por esse
mesmo motivo, grande interesse, já que, esclarecendo a intenção recente, se
têm uma possibilidade de captar a intenção antiga.
A BATALHA DE ICA
Capítulo IV
OS ARGUMENTOS DOS DETRATORES
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
MÁ-FÉ E IGNORÂNCIA
«Não existe, teria dito a diretora do museu São Marcos, associação (?) sobre os
sítios nos quais se diz ter descoberto as pedras gravadas. Não se sabe, sequer,
quais são esses sítios nem de que estão compostos geologicamente, o que é
muito importante pra estabelecer a antiguidade de uma descoberta
Esse texto figura nas obras seguintes: Les fraudes em archéologie préhistorique (As fraudes em
arqueologia pré-histórica), de Veyson de Padenne; Les faux em préhistoire (As falsificações em pré-
história), Boletim da Sociedade Pré-histórica da França; Archeology and false antiquities (Arqueologia e
falsas antigüidades), de R. Munro, Londres, 1905 etc.
Maria Reiche disse, igualmente, em sua entrevista: «Doutor Cabrera não permite que se pegue uma
Mais adiante voltaremos a tratar do jesuíta que efetuou a peritagem das pedras
em 1926. Mas como a senhora Fung pôde ignorar o museu arqueológico de
Carlos Belli, membro correspondente de várias sociedades científicas da
América e professor no colégio nacional?*
Esse museu foi aberto em Ica em 7 de dezembro de 1940 e se podiam ver nele
numerosas pedras descobertas em Ocucaje em 1909!
Querida senhora Fung, ignoravas a escavação de Carlos Belli, que, como outros,
nunca havia ido a Ica nem à pampa de Nasca e também ignoravas o livro de
Hans Dietrich-Disselhof e de Sigwald Linné: L'Amérique précolombienne (A
América pré-colombiana)** onde se fala abundantemente das tumbas e dos
calhaus gravados de Ocucaje!
Desgraçadamente, se somente possuis rudimentos apagados de arqueologia, te
consoles pensando que alguns pré-historiadores do CNRS não estão mais
chocados que tu.***
Um deles, o mais ignorante, o mais presunçoso, disse que nossas descobertas
de Ica, que nossos relatos sobre Nasca eram como no caso Glozel, uma clássica
impostura!
Impostor quando se diz, segundo as datações por termoluminescência
efetuados pelo comissariado francês de energia atômica, que Glozel é
perfeitamente autêntico?
E autor do segredo das Nascas, editado em 1950 pela sociedade dos americanistas de Paris.
Editado por Albin Michel, Paris, 1961
Desde logo, só atacamos uma determinada categoria de pré-historiadores do CNRS, aqueles que datam
o império inca do século XIII! e descrevem as pistas de Nasca feitas de pedras alinhadas... Sentimos o
mais profundo respeito aos verdadeiros arqueólogos tais como os senhores Taleb ou Coppens...
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Impostor quando, depois de cinqüenta, cem arqueólogos, qualificados, depois
de quatro séculos de escavação e de dezenas de livros publicados, se
apresentam as pedras de Ica ao grande público?
OS HUAQUEIROS9 ATERRORIZADOS
Ica e o Peru pré-colombiano. Tomo I, Arqueologia da província de Ica. Empresa editora livraria imprensa
Ojeda, SA, Ica, Peru, 12 de março de 1968.
Erro de professor Pezzia. Ao que sabemos, as pedras gravadas de Ica fizeram sua aparição antes do
século XVIII.
9 Huaqueiro: Saqueador de tumba
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
E teve lugar o jogo sutil de ameaça e de promessa entre os jornalistas astutos e
sem escrúpulo e os pobres camponeses assustados.
Se lhes persuadiu a declarar que todas as pedras procedentes de Ocucaje
haviam sido gravadas por eles. Mas se insistiu muito sobre esse ponto: Todas
as pedras!
Se uma só fosse autêntica, quer dizer, encontrada... o sistema de defesa já não
servia. Era, então, um comércio ilícito e malversação de patrimônio pré-histórico!
Aos cárceres, vamos! E os cárceres de Peru não são, particularmente, atrativos.
Um trabalhador agrícola, Basílio Uchuya, e uma camponesa, Irma de Aparcana,
por um punhado de sóis* reconheceram e admitiram tudo o que se quis: Haviam
gravado todas as pedras de doutor Cabrera, inclusive as que encontrara o
próprio doutor Cabrera e as encontradas antes de que ambos, Basílio e Irma,
nascessem!
Os jornalistas se mostraram magnânimos: Prometeram a impunidade a Basílio
com a condição de que aceitasse gravar ante eles uma pedra falsa!
Mundial publicou nove fotos que mostram o semblante ansioso e assustado do
pobre-diabo. Nove fotos farsa, como se diz no estilo periodístico, já que Basílio
não tinha oficina de gravação nem pedra de reserva nem ferramenta de
gravador. Nada que pudesse testemunhar uma verdadeira atividade de
gravador!
Nem sequer o amontoado de resíduo de pedra, de desperdício, resto de erro e
outras evidências que tivessem demonstrado que, efetivamente, havia
trabalhado sobre centenas de pedras.
E as nove fotos, reproduziam sempre a mesma pedra.
Naquele dia, em Ocucaje, não haviam duas pedras supostamente falsas!
Os jornalistas do Mundial confessam, em sua reportagem, que pagaram a Irma Gutiérrez de Aparcana
(página 42, coluna 2).
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
— Me obrigaram. — Disse.
Se estimam em 50.000, aproximadamente, os cantos rodados disseminados no
mundo inteiro, recolhidos pelos arqueólogos, ocultos nos museus particulares,
principalmente em Estados Unidos, onde Hamilton C. Foreman possui 2.000.
Se Basílio gravou as 11.000 pedras de doutor Cabrera, quem gravou as 39.000
restantes?
Fica bem claro, pra toda mente idônea, que Basílio e Irma mentiram!
Essa história fantástica, elaborada por jornalistas sem escrúpulo, dos quais
alguns são vis plagiários, procede duma maquinação pura e simples, e o
havíamos previsto no prólogo de nosso livro O enigma dos Andes:
«Hoje certificamos que as declarações de Basílio Uchuya e de Irma de Aparcana
são embustes, que a revista Mundial publicou falsos documentos e trucou a
verdade pra desacreditar uma descoberta que seus jornalistas não conseguiram
por falta de talento e boa vista».
Cremos que o leitor já está a par das características dessa sombria história e, no
entanto, não expusemos, ainda, os argumentos contundentes que rebentarão a
verdade sobre o caso de Ica.
Um deles é, no entanto, publicado pelo próprio Mundial mas não há pior cego
que aquele que não quer ver.
Reproduzimos textualmente a declaração efetuada na página 43 da revista, pela
senhora Uchuya, a própria esposa do principal falsário:
Há alguns dias meu marido e a senhora de Aparcana foram trasladados pela
polícia pra que declarassem se as pedras eram falsas ou autênticas. Quer dizer,
se as haviam gravado ou apenas encontrado.
«Então meu esposo disse à polícia que todas as pedras que havia vendido a
doutor Cabrera haviam sido feitas por ele. Que não as havia desenterrado de
algum lugar. A senhora Irma de Aparcana disse igualmente o mesmo».
A coisa já ficava resolvida: As pedras haviam sido encontradas nas tumbas e
então Irma e Basílio iam à cadeia ou haviam sido gravadas por eles... e o caso
ficava concluso!
Que responderias de se te encontrasses em tal situação?
O governador civil de Ica, o engenheiro Enrique Egoaguirre, cavaleiro culto, bom,
humano, compreendera perfeitamente a situação e, apesar de pressões oficiosas
de gente mal intencionada, decretou um embargo.
— Os camponeses de Ocucaje — disse — são gente humilde que ganham a vida
vendendo objetos.
Nos limitamos a suas declarações, sem mais.
A EMISSÃO APÓSTROFES
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Dizemos com orgulho e gratidão: A totalidade, sem exceção, de nossos leitores
e amigos, sempre acreditou, e com razão, na autenticidade das pedras de Ica e
na garantia que representávamos pra eles.
Sobretudo depois da emissão Apóstrofes, na Cadeia 2, em 28 de novembro de
1975, em cujo transcurso, J. P. Adam, autor dum livro sobre a impostura em
arqueologia, declarou que sua obra estava, sobretudo, dirigida contra Robert
Charroux.
Aos que estranhavam nossa ausência no debate Bernard Pivot declarou que
fôramos convidados mas que não havíamos querido acudir.
Esse era tão inexato como os extravios de J. P. Adam sobre Nasca, as pedras de
Ica, Glozel, a ilha de Páscoa, etc.
Esse assombroso arqueólogo, destrutor de engano, encurralado em suas
trincheiras, teve que admitir, ante milhões de telespectadores, que emitia juízo
sobre coisas que jamais vira, posto que não fora a Nasca nem a Ica nem a
Glozel nem à ilha de Páscoa!
— Nem a Montignac-Lascaux, a ver as célebres grutas, porque estão proibidas
ao público!
Marcel Julien, diretor de Antena 2, nos prometera em cinco cartas com titulares
da televisão francesa publicar uma retificação. Sem dúvida, então, fez essa
promessa com boa-fé... mas, finalmente, nada publicou...
Por sua parte, France-Soir e Le Monde fizeram ouvidos moucos pra publicar
uma resposta que somente podíamos impor por via judicial.
O mais virulento, Le Canard Enchainé, não aceitou nosso desafio: Cinqüenta
milhões de francos antigos* de que aportasse a sombra duma prova a suas
afirmações!
Não nos resta remédio além de sorrir, embora um tanto acremente.
Capítulo V
A CONJURA MENTIU: EIS AQUI AS PROVAS
E, no entanto, se tratava de cinqüenta milhões em benefício do instituto Pasteur e da investigação sobre
o câncer.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Foi, de fato, nessa data, quando o jesuíta espanhol Pedro Simão menciona em
seu livro Notícias historiales (notícias 4 e 5) o que chama as pedras gravadas de
Ica. O texto está na Biblioteca Nacional onde todo mundo pode consultar.
Inclusive uma tradição afirma que frei Pedro Simão gravou, ele mesmo, algumas
pedras introduzindo nelas temas religiosos.**
Há cerca dum século personalidades peruanas possuem pedras procedentes do
vale do rio Ica e vários museus têm em sua coleção 800 pedras.
As do museu de Ica e do museu da Aeronáutica do Peru são as mais
importantes mas as mais numerosas são propriedade de arqueólogos que
efetuaram escavações frutuosas com os huaqueiros de Ocucaje.
De fato, se dermos crédito a uma tradição dificilmente controlável mas que confirmam uns indícios e os
temas religiosos tratados sobre algumas pedras, o padre Simão havia conhecido muito no santuário
secreto do morro de Ocucaje. Inclusive o teria até inventariado em parte, mas sem revelar sua existência
e significado. Por extremo zelo devoto e tal como fizeram os clérigos medievais, teria, segundo se diz,
interpolado a mensagem dos Antepassados Superiores intercalando na gliptoteca algumas pedras
gravadas representando o pecado original, a Natividade, a fuga ao Egito e a paixão de Jesus!
10 O século 20
Hermán Buse falou das pedras de Ica em seu livro Introductions au Pérou (Introduções no Peru), Lima,
1965.
Mencionados pela Prensa, de 5 de fevereiro de 1975
52
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Em 1966 os professores Alexandre Pezzia Assereto e Agusto Calvo escavaram
no morro Uhle, do setor da Banda, da fazenda Ocucaje e encontram pedras
gravadas.
«Essa descoberta, escreveu professor Pezzia, proporcionou a afirmação da
autenticidade desses vestígios e o honra de ser o primeiro descobridor pertence
ao senhor Agusto Calvo, que relatou esse acontecimento no suplemento do
periódico El Comercio, de Lima, de 11 de dezembro de 1966, sob o título As
pedras mágicas de Ocucaje... Essa tumba, às quais já nos referimos, do
cemitério Max-Uhle, foi totalmente destruída pelos saqueadores de tumba».
Em 1968 professor Pezzia Assereto, que é diretor do museu de Ica, publicou as
linhas mencionadas anteriormente e a relação das numerosas escavações e
descobertas efetuadas em Ocucaje e em Callango, num livro intitulado Ica e o
Peru pré-colombiano, tomo I, Arqueologia da província de Ica, editado pela
Imprenta Ojeda, SA, Ica, Peru, em 12 de março de 1968.
Reproduzimos mais acima duas páginas do livro com desenhos das descobertas
e de algumas pedras.***
As tumbas de Ocucaje e de Callango e as pedras gravadas encontradas nelas,
segundo as estimativas oficiais, teriam 2.300 anos de antiguidade (época de
Paracas). As pedras gravadas do morro de Ica são, provavelmente, muito mais
antigas.
Numerosos autores, desgraçadamente ignorados pelos pseudoarqueólogos, falaram das pedras do rio
Ica e alguns se estenderam amplamente sobre as escavações feitas em Ocucaje. Eis aqui obras de
consulta: L'Amérique précolombienne (A América pré-colombiana), de Hans-Dietrich Disselhof e Sigwald
Linne (página 152), Paris, Albin Michel. Paracas, Nasca and Tiahuanacoid cultural relationship in South
Coastal Peru, Memoirs of Society of American Archaelogy (Paracas, Nasca e relação cultural tiauanacóide
no litoral sul do Peru, Memórias da Sociedade de Arqueologia Americana), 13 Salt Lake City, 1957
(estudos sobre uns meses de escavação em Ocucaje). Ica e o Peru pré-colombiano, Alexandre Pezzia
Assereto, Ica, 1968. Ver também Álbum histórico da civilização nasca, Peru, Edições de Bronze, Lima,
1921, de Carlos Belli. O Segredo das Nascas, de Próspero L. Belli, (1950), etc.
53
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
De El Dominical, de 27-8-1971, sob o título «O segredo das 11.000 pedras.
Possibilidade dum cataclismo arqueológico?»:
«É difícil admitir tais coisas que sobrepujam nossa imaginação. Mas isso é
possível, posto que aqui, diante de nossos olhos, estão as pedras e porque se
podem fabricar uma, duas, três, quarenta, mas não onze mil!»
1973: Entrevista de Robert Charroux e doutor Cabrera.
O assunto é ainda ignorado, salvo pelos iniciados. É certo que alguns
arqueólogos conhecem as pedras de Ocucaje e de Ica, mas somente quatro
homens captam o caráter fantástico, único, da descoberta: Doutor Cabrera,
Robert Charroux, coronel Ornar Chioino Carranza e engenheiro Borit. Ninguém
mais*.
Doutor Cabrera e Robert Charroux decidem revelar as pedras de Ica, primeiro na
França e na Europa.
De El Comércio, do 17-3-1974:
Por ele, depois de ter analisado detalhadamente os argumentos pró e contra a
autenticidade das pedras, chegamos à conclusão de que, efetivamente, toda a
história é estranha ou ilógica mas nenhum dos argumentos opostos à
autenticidade das pedras resultou convincente.
«Consideramos que o ilógico (pelo menos aparente) do conteúdo das pedras é
melhor uma prova a favor da autenticidade que o contrário».
Em 12 de março de 1974 Robert Charroux foi ao Peru em companhia de seu
editor Robert Laffont e de seu diretor de coleção Francis Mazière pra serem
testemunhas da realidade da existência das pedras.
Robert Charroux e doutor Cabrera sabem que haverá uma forte oposição da
parte da conjura maligna.
Francis Mazière ficou fascinado e convencido.
Robert Laffont está muito interessado mas o problema da autenticidade não é,
declarou, de sua incumbência.
Na Prensa do 4 de janeiro de 1975, com má vontade, doutora Maria Reiche
modificou suas precedentes declarações:
«Não duvido que hajam pedras autênticas e que merecem estudo mas a maior
parte é confusa. Há coisas confusas que não correspondem à realidade».
Se lê em A Prensa do 5-2-1975:
A primeira conclusão, após o exame dessas pedras e a confrontação dos objetos
considerados autênticos com aqueles feitos pelos Uchuya, foi que a comparação
não era possível. Os símbolos das primeiras são extremamente complicados
com relação ao caráter tosco daqueles que se gravam atualmente.
Muitas pessoas colecionaram, há muito tempo, pedras gravadas de Ica e dão fé
da autenticidade.
Doutor Hércules Bendezú, aderindo às apreciações de doutor Nimio Antezana,
de Ica, assegura que, se existe pedra falsa, não se pode negar a autenticidade
Indiquemos, não obstante, que a revista belga Bufoi, 13 Berkenlaan, 2610 Wilrijk-Amberes, reproduziu,
no #32, um artigo de Gordon Steven sobre as pedras de Ica.
54
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
milenar da maior parte. O advogado iquenho11 afirma que teve a oportunidade
de ver os mencionados glifos em primeira vez, em Nasca, há mais de quinze
anos (portanto, até 1958).
«Declarou, igualmente, não conhecer pessoalmente senhor Cabrera Darquea
mas que a tarefa de investigação do doutor devem ser objeto de respeito...»
Senhora Zenaida Galegos, professora e arqueóloga, compartilha a mesma
opinião. Diz: «Atualmente, através de todo Ica, se fala e se especula sobre as
pedras e mais particularmente sobre a imensa coleção do doutor Cabrera
Darquea quem, por se haver dedicado a ele por completo, foi vítima de
numerosos comentários desfavoráveis... É quase uma tradição humana tratar de
louco o homem que mantêm tese revolucionária».
Doutor Julio C. Tello afirmou que as pedras são conhecidas desde tempos
imemoriais. Seus pais e seus avós já lhe haviam falado delas.
É um fato bem conhecido que, há muitos anos, os doutores Nimio Antezana,
Hércules Bendezú, os professores Edda Flores, Yolanda Velázquez, Gonzalo
Maurial e os universitários Absalón Díaz, Paulino Palluqui e Octavio Elias,
encontraram pedras gravadas em Ocucaje, as conservam em sua coleção e as
consideram perfeitamente autênticas.
Por último, convém, sobretudo, reter a opinião altamente autorizada de coronel
Ornar Chioino Carranza, conservador do museu da aeronáutica do Peru, quem
declarou, substancialmente, que a confusão não é possível entre as
elucubrações torpes e grotescas de Basílio e de Irma e os magníficos gravados
das pedras de doutor Cabrera.
«A coleção — disse — é incontestavelmente autêntica, com a exceção, talvez,
mas não está demonstrado, de algumas escassas pedras que tivessem podido
se deslizar no conjunto».
Tudo o que antecede resolve o problema da autenticidade das pedras. Mas, por
que doutor Cabrera não atacou judicialmente os habitantes de Ocucaje por
difamação?
Poderia dizer: Essas pessoas mentem. Sabem, pertinentemente, que as pedras
são verdadeiras, posto que as recolheram ou encontraram em tumba!
Se o dissesse, poria de novo sobre o tapete o caso: Um processo seria aberto, o
conjunto das pedras seria reconhecido como autêntico, os saqueadores iriam à
cárcere,* mas não deixariam de denunciar doutor Cabrera como cúmplice: Ele
também havia escavado nas necrópole! E ademais, não há comprado objetos...
roubados?
Pra saber se uma mulher está gestante se procede, freqüentemente, o teste chamado de Brouha, que
consiste em injetar urina de mulher a uma rã ou a uma coelha. Por lapaquebradomia (apertura da parede
abdominal) se comprova, nos ovários do animal, se há formação de quisto sanguíneo, o qual daria prova
de prenhez. Mais cientificamente, em nossos dias, se experimenta um teste bioquímico com os prolanes:
Hormônios gonadotropos ou prolanes, hormônios produzidos pela hipófise que excitarão as funções
hormonais das glândulas sexuais.
Os biólogos oficiais reconhecem que, nalgumas semanas, o girino relata a história da vida, inclusive a do
homem.
57
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Capítulo VI
A TORRENTE DESCOBRE A GLIPTOTECA
Eis a chave do enigma: Em 1961 o rio Ica abandonou o curso normal e foi
solapar os morros do povoado de Ocucaje.
A água arrastou a areia dessas colinas desérticas e pôs a nu uma necrópole ou,
mais exatamente, um santuário, onde um povo desconhecido depositou seu
arquivo pré-histórico. Mais de 10.000 pedras recobrem o solo: Basta se agachar
pra recolher.
No entanto, em Ica, há uma inteligêntsia, uma elite que se interessa por outras
coisas além da tagarelice e do futebol: Professores, altos funcionários e, entre
eles, um homem de cultura extraordinária e refinada: Doutor Javier Cabrera
Darquea.
Era o misterioso Doutor Sotil quem ia, segundo se diz, efetuar escavação com os
huaqueiros nas necrópoles secretas de Ocucaje? O que importa?!
Foi, em todo caso, aquele que se aproximou do povo, viu milhares de pedras e
compreendeu, imediatamente, toda sua importância. Tinha de salvar aquele
patrimônio nacional ameaçado de destruição ou de êxodo até Estados Unidos ou
ocidente europeu.*
Constituirá, não por espírito de lucro, a mais fabulosa coleção de pedra gravada
conhecida na história da arqueologia.
Nosso amigo é um ardente patriota e quer que seu país, o Peru, tenha o honra
de possuir essa maravilhosa herança de nossos Antepassados Superiores.
Quer dar a Ica, como já fez Carlos Belli, um museu ao qual já encontrou o nome:
Museu Gliptolítico. Criará sua coleção com seu dinheiro, com seu esforço, sua
investigação, sua inteligência.
«Quero que meu livro seja editado no Peru. — Nos declarou numa carta — Sou
um cientista pesquisador, mas antes de tudo sou peruano e renuncio
voluntariamente, de bom grau, a meus interesses pessoais pra servir à causa
revolucionária e nacionalista do Peru».
Conseqüentemente, com seus honorários de cirurgião, Javier Cabrera comprou,
de 1966 a 1974, as aproximadamente 11.000 pedras com gravuras
interessantes que haviam atapetado o leito do rio Ica.
Deixou aos huaqueiros só as pedras com gravuras triviais, as que compramos
em 1974 e 1976, as que jaziam nos pátios e serviam de poleiro aos patos!
Os sítios e os museus do Peru são, literalmente, saqueados pelos antiquários e mercenários europeus.
Um exemplo: O museu de Paracas foi vendido, clandestinamente, por inteiro, a um comprador belga ou
holandês.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
MINA ESGOTADA: PEDRAS FALSAS
Tudo tem um final, sobretudo as melhores coisas. Chegou o dia em que, depois
de recolher de 10.000 a 13.000 pedras no vale do rio (cifra fantástica), os
huaqueiros não encontraram mais.
Ficavam as tumbas mas era necessário detectar sua altura, escavar, e o
rendimento era infinitamente menor!
Por outra parte, parece ser que somente as pedras do santuário arrasado pela
água levavam as mensagens-gravuras refletindo a civilização e os
conhecimentos dos Grandes Antepassados desconhecidos... Em resumo: Logo
já nada havia pra vender a doutor Cabrera.
Golpe duro a esses camponeses que habitavam um solo ingrato, árido, região
onde a possibilidade de trabalho é quase nula. Foi, então, quando Basílio
Uchuya e Irma de Aparcana tiveram a idéia, muito simples, um automatismo
social natural reunido ao instinto de conservação, de gravar pedras falsas.
Não entrava em seu propósito causar prejuízo a alguém, ainda menos agravar a
fama histórica e pré-histórica de seu país. Aos camponeses de Ocucaje, gravar
pedras representava somente uns quilos de pão, lata de conserva, vinho de Ica,
tecido pra vestuário e ferramenta de uso doméstico.
Irma e Basílio puseram mão à obra: Fracasso total. Não venderam uma só pedra
gravada!
Doutor Cabrera se pôs a rir quando lhe ensinaram suas elucubrações: Era como
se quisessem fazer passar um abrigo de pele de coelho por visão!12
Nunca chegando turista a Ocucaje as falsas pedras, pouco numerosas, ficaram
em poder dos cândidos falsários.
É quase seguro que, com data de primeiro de janeiro de 1975, Basílio e Irma não
haviam gravado mais que uma dezena de pedras, das quais nenhuma
encontrou comprador.
Fomos a Ocucaje em março de 1974 com a finalidade de comprovar se, como o
deixavam entender vago rumor, os camponeses gravavam ou tinham a
possibilidade de falsificar.
Para tirar dúvida oferecemos grande quantidade (na ordem de 200.000 sóis) à
senhora Uchuya e a alguns habitantes de Ocucaje, que riram e, com toda boa-fé
asseguraram que a oferta era magnífica mas que ninguém no povo era capaz de
realizar o trabalho solicitado.
Compramos pedra na casa de Basílio e nalgumas outras.
No dia seguinte de nossa visita, quinta-feira, 14 de março, Basílio foi ao hotel
Turistas, de Ica, nos visitar. Nos fez chamar por um camareiro e, na cercania do
hotel, após um maciço de arbusto, se ocultando, desempacotou uma dezena de
pedras negras.
Compramos algumas mas nossas maletas estavam já pesadamente carregadas.
12 Mustela vison. Carnívoro de pequeno tamanho, corpo alongado, focinho arredondado, patas curtas e
orelhas arredondadas e pequenas. O corpo é de cor uniforme com pêlo castanho muito escuro, quase
preto, exceto o queixo e garganta brancos. Muito valorizado pra produção de casaco de pele.
61
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Naquela data nenhuma pedra gravada se vendia em Ica e toda a cidade ignorava
que pudessem existir, exceto alguns arqueólogos cultos, tais como doutor
Cabrera e professor Pezzia.
No entanto, segundo a aparência dos fatos, Ocucaje teria que ter transbordado
de pedras traficadas, de oficinas de gravura, de armazéns de depósito.
Eis, de fato, o que revela doutor Cabrera em seu livro, capítulo IV, página 124 e
seguintes:
«Apesar de minha insistência para que fossem estudadas e protegidas as pedras
de Ica, a máfia da mentira encontrou uma álibi para se amparar: Atualmente se
pode gravar pedra e se conseguiu que os camponeses gravem outras em
presença de pessoas neófitas na matéria, de modo a que possam certificar que
todas as pedras gravadas de Ica são de recente fabricação..».
Doutor Cabrera assegura que os camponeses, sendo incapazes de fazer gravura
apresentável, utilizam autênticas pedras gravadas, sobre as quais traçam suas
iniciais, datas e acrescentam desenhos de objetos atuais e, às vezes, lendas.
DATAÇÕES ARRISCADAS
Pessoalmente, não cremos que no estado atual da ciência se possa datar pedra
gravada mas devemos mencionar no expediente do assunto as provas que
foram efetuadas nesse sentido.
O químico e mineralogista Maurice Hochschild, de Pisco, afirmou que «a
oxidação natural das pedras que se produz pelo envelhecimento dos minerais,
cobre do mesmo modo as incisões e a superfície não gravada» (relatado pelo
Comércio do 17-3-74).
O estudo da matéria das pedras, realizado na faculdade das minas, de Lima,
indica que se trata de andesita fortemente carbonizada procedente das capas de
correntes vulcânicas correspondendo ao mesozóico (Era secundária), típicas da
região (80 a 130 milhões de anos).
Dureza do núcleo: 4. Dureza da capa exterior: 3. Então pedra que pode ser
facilmente entalhada por qualquer objeto duro e, principalmente, pela obsidiana.
As pedras, aponta a peritagem, estão envoltas por uma fina pátina de oxidação
natural que cobre as incisões das gravuras, fato que permite deduzir sua
antiguidade.
Nos censuraram ter datado os desenhos em 60 milhões de anos, o que é
inexato. Insinuamos sob forma de hipótese a data máxima de 40.000 anos. Mas
está comprovado que determinadas pedras não têm mais que alguns séculos ou
alguns milênios.
Não temos certeza sobre seu grau de antiguidade. Pretendemos somente
testemunhar que não são recentes e, por conseguinte, que são autenticamente
antigas.
63
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
A Conjura perderá prestígio. Mas quando?
Capítulo VII
O ESOTERISMO DAS PEDRAS E DOS MENIRES
Menir significa: Pedra larga. Não é totalmente seguro que men signifique pedra.
Men, man, memez em inglês, em germânico e em céltico significam: Homem e
montanha, que somos tentados ao relacionar com emana (grande, em
sânscrito), com Manu o sábio herói do dilúvio hindu, com Manannan, o mago-
feiticeiro da ilha de Man, umbigo do mundo, com Mannus, o primeiro homem
na mitologia germânica, com emana, o poder das estátuas da ilha de Páscoa.
O menir, na tradição, participa estreitamente da montanha, do poder, de Deus e
do primeiro homem da criação.
Na arqueologia clássica, o dólmen passa por ser mais antigo que o menir.
Mas é um costume dos pré-historiadores oficiais decretar que a porretada
existiu antes do porrete, o rio antes do vale, o tremor de terra antes da Terra e a
bicicleta antes da roda!
Desse modo nos ensinam que a idade do bronze (cobre e estanho) é anterior à
idade do ferro, e que os andaimes, por exemplo em Lascaux, existiu antes da
parede!
Sobre tais bases os pré-historiadores declaram que o dólmen, formado por três,
quatro ou cinco menires suportando uma mesa de pedra, é mais antigo que o
menir!
Se fazendo eco do ponto de vista oficial, o jornalista cientista H. de Saint-
Blanquat, numa revista especializada,* depois de escrever que já não existe
A religião da Gália, escreveu P. Saint-Yves, é um palimpsesto onda escritura romana deixa ler, com
grande esforço, algo sobre as crenças de nossos antepassados. Os nomes dos deuses celtas eram
secretos. Os conhecidos são, na verdade, apenas pseudônimos. No entanto, se sabe que os megalitos
eram chamados pedras de sobrevivência.
Sciences et avenir (Ciências e futuro), #342, agosto de 1975.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
mistério nos megalitos prossegue com essas linhas não menos assombrosas:
«Se tem a certeza de que os menires foram elevados numa época em que se
construíam também os dolmens.
«Mas nenhuma prova existe de que esses menires tenham sido erigidos antes
do -3000».
O mesmo especialista concede -4.400 a -4.600 anos, ou seja, uma antiguidade
de 6.000 a 6.600 anos aos dolmens do Poatu, da Normandia, da Bretanha, de
Portugal e da Escócia!
É verdade que abade Breuil, que não acreditava nas casas dos homens pré-
históricos e em seu labirinto de cimento, escreveu a propósito do forno pra cozer
da Coumba do Pré-Neuf em Noaillé (Correze):
«Os vãos... foram cuidadosamente guarnecidos com pedras menores mantidas
por uma massa de terra argilocalcárea e areia», a qual, salvo erro, é,
precisamente, o cimento usado pelos pedreiros.**
Sejamos sérios, por favor: O menir é mais antigo que o dólmen, posto que é
necessário utilizar menires pra construir um dólmen!
E cai por seu peso, pra todo homem dotado de lucidez, que a pedra levantada
(menir), em todos os países do mundo, remonta à mesma data das primeiras
tumbas que foram edificadas.***
Les hommes de la pierre ancienne (Os homens da pedra antiga) (paleolítico e mesolítico), H. Breuil e R.
Lantier. Edições Payot, Paris.
Em todos os povoados antigos se rodeava a tumba com um círculo de pedras que tinham por missão
fixar o espírito do morto. Em nossos dias as tumbas são, todavia, rodeadas de pedras rematadas por uma
lousa.
Les celtes et l'expansion céltique jusqu'a l'époque de La Tène (Os celtas e a expansão céltica até a época
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O homem vertical teve a grande oportunidade de liberar as mãos (a menos que
essa liberação adquirida anteriormente não tenha motivado sua nova posição).
Certo é que seu pensamento já existia mas se pode dizer que se afirmou com a
destreza de sua mão que podia colher e criar.
A palavra mão, escreveu Dimitri Panine, é, talvez, a mais antiga do mundo e da
língua original, já que a mão foi, em definitivo, a primeira ferramenta e quase o
primeiro pensamento do homem original.
É interessante vincular essa idéia ao menir erguido que servirá pra suportar o
pensamento do homem, inclusive não formulado, inclusive abstrato.
No princípio o homem vertical, por simples impulso mecânico, talvez, como no
menino de nossos dias, traçou com seu dedo um risco no solo. Foi o primeiro
geoglifo e, depois, com um calhau rude, rabiscou sobre uma rocha mole, e
foram os primeiros grafites.
Os traçados primordiais que deviam culminar no símbolo e na escrita foram,
sem dúvida, o risco horizontal, o risco vertical, a quadrícula e, enfim, o círculo.*
O esboço duma civilização acabava de nascer: O homem já tinha,
sucessivamente, a sua disposição os quatro elementos essenciais: O
pensamento, a mão, a pedra e o traçado.
A água e a argila lhe haviam dado a vida, a pedra ia lhe dar o arranque da
civilização com o betel,13 o kudurru,14 a baliza, o menir, o pilar, o obelisco.
Se encontram em numerosas cavernas marcas de mãos ou de pés que são signos de posse, mas a arte
mural mais antiga está representada por meandros, uns entrelaçados e arabescos macarrônicos (espirais),
como dizia o abade Breuil, traçados sobre a argila ou sobre rocha, com os dedos. Se encontram essas
raspaduras digitais nas grutas de Gargas, de Baume-Latrone, de Ganties-Montespan. As marcas de mãos
são freqüentes em Altamira, Castelo, La Pasiega, na España. Nas grutas de Gargas, Trois-Fréres, Portel,
Pech-Merle, Rocamadour, Font-de-Gaume, etc., na França. Existem marcas de pés na argila da gruta de
Niaux, e gravadas na pedra da Roche-aux-Fras, na ilha de Yeu, e na Roche-aux-pieds, de Lanslevillard
(Sabóia).
13 Betel, betilo - Segundo Bochart (1730-1794) essa palavra é fenícia e significa pedra esférica ou
arredondada
14
O PEDERNAL
Os homens da pré-história não tiveram reparo em moldar a argila e em esculpir toscamente a pedra
com forma humana com finalidade religiosa mas não talharam o sílex, exceto pra converter em utensílio
cotidiano. Parece que o tabu da estatura antropomorfa tenha nascido com a tomada de consciência do
divino.
O grande iniciado alemão Jakob Boheme (1575-1624) dizia: «Uma pedra não é, no entanto, mais que
água.» No que concerne à tese de Louis Kervran, ler O livro dos mundos esquecidos, de Robert Charroux,
capítulo XII: A água-mãe e o elixir da imortalidade, a polywater, etc. Publicado por esta editora.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Na Índia do sul e no Ceilão, país dos tamis dravídicos, uma pedra informe
assinala, às vezes, a entrada ou o centro do povoado.
É regada ritualmente a cada dia e se a chama pedra umbilical ou pedra da vida,
o que nada teria de extraordinário, já que esse costume é quase universal, se a
pedra umbilical não tivesse uma particularidade notável e, inclusive, mágica:
Caiu do céu!
Tudo o que vem do país dos deuses é sagrado, por isso os aerolitos ou
meteoritos gozaram de grande veneração entre os povos da Antigüidade,
principalmente quando essas pedras caídas do céu eram tectitas: Pedras
hialinas de cor negra.
Os hebreus, renderam, antanho, culto a essa pedra negra que representava Meni, deusa da fortuna
(Isaías, LXV, 11). Meni era o planeta Vênus que os árabes denominam a Pequena Fortuna e os persas
Nanaia ou Anaíta, duma palavra armênia (II, Macabeus, I, 13, Estrabão XV, 733). Era também a divindade
árabe Emana adorada sob a forma duma pedra pelas tribos instaladas entre Meca e Medina (Corão, Lili,
19).
15 O termo betilo significa casa da divindade. Tipo de estátua muito estilizada, em pedra local, do período
nurágico.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
No templo de Chavim, Peru, se pode ver um grande monolito de serpente
chamado a pedra verde do mundo, que bastava remover, antanho, pra provocar
um dilúvio.
Esse monolito, segundo se dizia, procedia de Vênus, o mesmo que a pedra do
Santo-Graal, a esmeralda verde caída da fronte de Lúcifer.
Por outra parte, é curioso mencionar que os fungos psilocibos do México, país
do Deus venusiano Quetzalcoatle, têm a propriedade de fazer ver toda vida de
cor verde.
A PEDRA DE SAYWITE
A COMPANHEIRA ASHERAT
70
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
A mesma tradição assírio-babilônia faz essa deusa responsável pelo dilúvio
universal.
«O terror que se espalha no universo alcança os próprios deuses... Istar, mais
assustada, sem dúvida, que os demais grita como uma mulher em parto. Se
arrepende de ter apoiado, quiçá, inclusive, provocado a decisão dos deuses. Ela
não desejava um castigo tão terrível (Mythologie genérale (Mitologia geral), F.
Guiraud).»
Istar, na Fenícia, recebia o nome de Astart ou Asherat. Pois bem, Asherat-do-
mar, a Estrela-do-mar,* é a deusa dos rios e dos oceanos.
Um dos poemas traduzidos das tabuletas cuneiformes de Ras Shamra (Síria),
que remonta a 3.400 anos, poderia dar muito o que pensar aos franco-mações
ainda aferrados à fábula do templo de Salomão.
Baal, o maior dos deuses depois de El, e mais recente também. «Não temas —
dizem as tabuletas — recinto sagrado nem templo como é devido a um filho de
Asherat».
Por conseguinte, se lhe construirá um sem intervenção humana, como no caso
do templo de Jerusalém.
Asherat-do-Mar estava encarregada pelo deus El a dar autorização de construir,
e depois ela comunicou a Latpão, o deus que tem o dom da sabedoria, a ordem
de começar a obra...
«Eis aqui que Amat Asherat confecciona os ladrilhos. Uma casa será construída
pra Baal, em sua qualidade de deus, e um recinto sagrado por ser filho de
Asherat».
Baal trabalha, ele mesmo, na construção e derruba com sua serra-raio do céu os
cedros do Líbano.
Como se pode julgar, os próprios deuses não sentem repulsa em se converter
em carpinteiros ou pedreiros: Baal serra, Vênus confecciona ladrilho.
Eis aqui dois formosos e célebres Companheiros do Dever, dois honrados
franco-mações muito mais simpáticos que o tortuoso Salomão!
O templo de Jerusalém foi construído pelos fenícios no século -11. As tabuletas
de Ras Shamra do século 13 são, por conseguinte, se as datações são exatas,
duzentos anos mais antigas. No entanto, o caráter lendário, confuso,
inverossímil da tradição referida ao templo faria supor que as tabuletas fenícias
relatam os verdadeiros detalhes de sua edificação. Em nossa opinião Salomão
açambarcou exatamente uma construção fenícia como os hebreus
açambarcaram ao deus Jeová dos beduínos do deserto. *
Em seu livro notável e iniciático: Le pape des escargots (O papa dos escargôs) (escargô é um caracol
gigante apreciado na culinária francesa), Henri Vincenot recalca a estranheza da oração cristã Ave maris
stella cujo texto é: «Salve, estrela do mar, santa mãe de Deus, mãe permanecendo virgem, porta feliz do
céu, aceites a saudação dos lábios de Gabriel, e mudando o nome de Eva nos estabeleças na paz.» Apesar
de seu título humorístico, Le pape des escargots, de Henri Vincenot, edições Denoel, Paris, 1972, é um
livro de alta iniciação, particularmente no que concerne à igreja cristã druídica e ao simbolismo. Ademais,
esse livro-chave é uma obra-mestra, de leitura cativante.
Ler O livro dos mundos esquecidos, de Robert Charroux. Editorial Plaza & Janes, capítulo XVIII A Bíblia foi
deturpada.
71
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Eis aqui, pois, a Asherat franco-maçônica, fabricante de ladrilho, e a Baal
construtor dum templo que, se não é o edifício antigo de Baalbek, seria, quiçá, o
de Jerusalém.**
Salomão nunca pôs a mão na massa... Asherat, ao contrário, amassava os
ladrilhos.
No Egito, onde não se espera encontrar mais que Ra, o deus Sol, o planeta
Vênus desempenha, também, um papel preponderante.
O iniciador Pta, cujo nome verdadeiro é Ptah-Sokar-Osíris, era um grande
construtor e tinha por emblema a medida codo.
Quanto a Atur, deusa do céu, se a chamava Afrodite entre os gregos. Dama de
Biblos entre os fenícios e rainha do Ocidente.
Era identificada ao planeta Vênus.
O lugar mais alto de Egito é, com Abidos, a imenso altura de Sacara onde se
encontram as tumbas dos reis desde a primeira dinastia, as mais antigas
mastabas (tumbas egípcias) e as mais antigas pirâmides (muito anteriores às de
Gizé). A mais venerável é a pirâmide de gradas do rei Djéser (3a dinastia)
chamada pirâmide de Sacara.
Pois bem, Sacara em egípcio significa: A pedra, o cometa, o planeta Vênus.
Quanta coincidência!
Que relação haveria, pois, entre Vênus, a pedra, a água, a chuva, o Peru, o
Próximo Oriente, Egito e, como veremos, com o menir e o betilo?
Se tomamos por referência as tradições, Deus, Adão, os anjos, os arcanjos e
Lúcifer habitavam, juntos, o céu e no mesmo lugar.
Se sabe que Lúcifer, expulso da morada de Deus, procedia de Vênus. Dele se
deve deduzir que Deus e os arcanjos não habitavam um céu simbólico, abstrato,
senão um planeta especialmente designado.
Leva a crer que a tradição judaico-cristã, a maçônica e as mitologias clássicas
estão fundadas sobre um imenso erro que torna incompreensível o passado dos
homens e das civilizações. É exatamente o que cremos!
aPra abrir as portas do saber utilizamos chaves das quais uma, a primeira, nos
chega diretamente de Vênus, não do planeta que se coze a fogo lento a 500ºC
entre Mercúrio e a Terra, mas Vênus-cometa que, antes de se converter em
planeta estabilizado no sistema solar, errava flamígero nas nuvens, em forma de
cornos de touro, com larga cauda incandescente que inflamava as selvas
tropicais e suscitava terríveis maremotos.
Com essa chave, igualmente muito estimada por Emmanuel Velikovsky,
encontramos explicação lógica, razoável, ao mistério das pedras negras ou
verdes, dos deuses que as habitavam e do segredo dos construtores antigos.
ASSASSINOS DE FADA E DE DAMA BRANCA
Os hebreus, disse Oséias, adoravam um deus sob os carvalhos: Baal. Falando de sua mãe aos hebreus,
o Senhor disse: Oséias — Capítulo II, Versículo 13: — Me vingarei nela dos dias que consagrei a Baal...
Vers. 16: Em tal dia ela me chamará seu esposo e já não me chamará Baal.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
— Nunca está petrificada. — Escreveu — No intervalo das idades geológicas as
próprias rochas se movimentam e as fontes murmuram.
Se nossos antepassados dedicaram culto à pedra é porque a acreditavam
dotada de vida, duma alma, e é altamente provável que estavam com mais
razão que os materialistas de curto alcance e os cristãos supersticiosos que
crêem na matéria inerte.
Certamente, não concedemos crédito aos menires que crescem, às pedras que
giram sobre si mesmas ou que vão beber no rio durante a missa de Natal, mas
lendas estranhas transmitidas sobre esses temas ocultam, talvez no mais
recôndito, assombroso significado.
Os camponeses de outros tempos diziam que houve uma época em que as
pedras eram moles e podiam conservar a pegada dos pés.
Essas pegadas se encontram em toda parte: No Peru e, na França, onde são
atribuídas a Gargântua, ao Diabo, à Virgem, a Jesus, como é o caso na igreja
Santa Radegonda, em Poatiê, ou, não se sabe a que milagre, como no caso das
pedras amassadas de Amélie-les-Bains.
No Limusã, se assegurava que determinadas pedras eram habitadas por
animais. Se falava, nas noites nas veladas, da mandrágora (dragão) que saía na
noite dos pedregais de Frochet (Bussiére-Boffy, Alta-Vienne), dos lobos ou das
serpentes que tinham o poder sobrenatural de surgir da pedra em certas
ocasiões.
O menir de Cinturat, perto de Cieux, é capaz de se defender contra aqueles que
o querem violentar ou escalar.*
Milhares de pedras, de penhascos, de fontes, de árvores eram, antanho, objeto
de culto de nossos antepassados, que, desse modo, autenticamente, honravam
o verdadeiro Deus.
Com o advento do cristianismo a boa religião foi proscrita, perseguida e os
sectários de Jesus destruíram a maior parte dos monumentos, das árvores e
dos monolitos sagrados da Gália.
Em 681 e 682 os concílios de Toledo fulminam os veneratores lapidum. No ano
800 Carlos Magno, no Capitular de Francfort, ordenou a destruição das pedras,
das árvores e dos bosques sagrados.
Em mil anos de sacrilégio sistemático e de insidiosa propaganda, os gênios
benfeitores, as fadas e os deuses protetores do Ocidente foram substituídos
pelas sombrias divindades da Bíblia e os pseudosantos destrutores de nosso
patrimônio nacional.
Foi o impiedoso são Martim quem expulsou de nossas fontes e de nossos
bosques as fadas, as ninfas, as damas brancas e de nossos menires os gênios
que os habitavam.
A partir dessa intromissão o Ocidente ficou contaminado, pervertido, esvaziado
de seu sangue rico, leal e generoso.
À légendes et pierres curieuses du Limousin (Às lendas e pedras curiosas do Limusã), de Albert Pierres
Goursaud, boletim da sociedade de etnografia do Limusã, da Marche e das regiões vizinhas, C.R.D.P., 44,
cours Gay-Lussac, Limoges.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Há dezenas de milhares de anos o homo habilis, assim supomos, depositava
pedras sobre as tumbas dos defuntos.
Em toda parte no mundo se encontram peças alçadas que foram chamadas
colunas ou betilos pelos fenícios, kudurrus pelos assírio-babilônios, balizas ou
pilares pelos índios e, mais antigamente: Menires pelos celtas.
A pedra negra, o meteorito e o sílex foram venerados, o mesmo que a montanha
que salvara os homens do dilúvio. Os antigos asseguravam que Deus habitava
as pedras ou os penhascos, e por ele estava proibido as talhar ou lhes dar forma
por temor a ferir a divindade que ali estava incorporada.
O betilo (do grego baitülos, hebreu bethel: casa de Deus) era particularmente
apreciado no Próximo Oriente, principalmente em Tiro, aonde foi transportado
um aerolito sagrado encontrado pela deusa Astartéia.
Em Pessinonte, na Galácia, a estátua de Cibele, mãe dos deuses, havia, segundo
se diz, caído do céu.
Na lenda hebraica a pedra de cabeceira de Jacó foi erigida em monumento e
chamada Casa de Deus num lugar que era primitivamente a cidade de Luz.*
Milhares de anos antes os povos que edificaram os menires antigos, os da
Escandinávia, França, Portugal e Grã-Bretanha, tinham a mesma crença e nunca
aplicaram a ferramenta sacrílega sobre a pedra bruta.
No entanto, numa época muito antiga, os homens do Cro-Magnon haviam
ousado esculpir a argila pra fazer umas Mater e a pedra pra lhe dar uma tosca
forma humana.
Nada além de tímida infração do tabu, e muito estranho à pedra, pois é
incontestável que, se o quisessem, os hábeis entalhadores de sílex poderiam
produzir uma estatuária.
Com modéstia se limitaram a expressar seu sentido artístico nos machados de
pedra polida que, por uma aberração que é de sua natureza, os pré-historiadores
tomam por ferramenta (não podem ser utilizados como tal), quando, na maior
parte dos casos, são ex-votos ou criações artísticas.
E depois, pouco a pouco, com o desenvolvimento intelectual, a idéia que os
Antigos tinham da divindade se ampliou e se começou a esculpir na rocha pra
dar a forma dum falo, símbolo de potência, de homem, de vida.
À medida que se baixa a escala de latitude e de antigüidade aparecem os
menires: Sem refinar no norte, toscamente talhados no maciço central, com
forma nitidamente fálica e humana na Córsega e cada vez mais elaborados ao
descer até o sul.
Os mais antigos são, pois, os menires de forma tosca. Os mais recentes são os
melhor talhados e os mais antropomorfos.
Um gigantesco passo foi dado desde o penhasco no qual o Homo sapiens dava
um traço no betilo-menir onde começou a expressar seus pensamentos
mediante a gravura e a escrita.
Le monde souterrain (O mundo subterrâneo), de J.-P. Bayard, página 61. Edições Flammarion.
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O pilar de Asoca, na Índia, como o kudurru assírio-babilônio, se converteu num
marco delimitando um território e, depois, sobre esse marco se inscreveram leis,
mandamentos e símbolos divinos.
Os fenícios nunca deixavam de erigir uma coluna que lhes representasse em
toda parte onde instalavam uma feitoria comercial.
Destino prodigioso da pedra: Piçarra colegial do homem pré-histórico, suporte
da primeira escrita e livro primitivo ao mesmo tempo que marco, poste
indicador, material de criação.
Ainda em nossos dias os marcos quilométricos marcam as pequenas estradas
rurais, resquício dum costume que remonta à noite do tempo.
As tábuas da Lei de Moisés, segundo a lenda, eram de pedra talhada.
Talvez se deva estabelecer uma relação entre Emmanuel, o Senhor, e manual,
mãos, mão, a mão.
O Senhor é a mão. O dedo de Deus é o símbolo da mão que construí?
Mais tarde os franco-maçons, herdeiros espirituais do Homo habilis e dos
entalhadores de betilo, consagrarão com a pedra cúbica o simbolismo magistral
que se relaciona com o penhasco talhado.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O celta, ao contrário, é o homem de lar. Certo que é navegante, migrador
também, mas com sólida relação com a casa familiar, com o recinto herdado do
avô, com o odor da pátria, da província, do feudo.
E ambos, não obstante, foram fiéis à tradição, o judeu mais que o celta, mas
jamais um judeu construiu um palácio, uma catedral, talhou uma travessa,
plainou uma tábua, serrado um pé de mesa.
Melusina, que edificou dez e cem igrejas, castelos e fortins, é indubitavelmente
uma Companheira e uma franco-maçona construtora.
Era uma Nossa-Senhora e construía umas Nossa-senhora com agulha
maravilhosa e sem contrapeso, mas onde faltava, com freqüência, a última
pedra.
Como trabalhava na noite havia sempre um acontecimento fortuito: O canto do
galo anunciando o aurora, freqüentemente, e ela não tinha tempo suficiente pra
lançar ao ar o último montículo que havia rematado na construção. Por exemplo:
Em Celles-sul-Belle e em Niort. Essa última pedra faltante simbólica,* se não
figura entre os Companheiros do Dever, se encontra, às vezes, na bíblia hebraica
e entre os franco-maçons.
— São Mateus, XXI, 32: A pedra que foi rejeitada por aqueles que construíam se
converteu na pedra fundamental do ângulo.
— Isaías, XXVIII, 16: Eis aqui o que disse o Senhor Deus: «Colocarei como
cimentos de Sião uma pedra, uma pedra a toda prova, angular, preciosa, que
será um firme alicerce».
Em construção toda solidez do edifício repousa sobre as pedras angulares.
Curiosamente os franco-maçons, talvez por vinculação antiga à religião, tem
conservado em seu ritual a cerimônia da pedra rejeitada em primeiro lugar e que
se converte a continuação no montículo indispensável pra consolidar a
construção.
FALOS E PEDRAS-MÃE
A água, a pedra e a serpente: Três símbolos principais! Sem água, ponto de vida
(pelo menos no sistema biológico de nosso universo), no entanto, a tradição,
sem dúvida, por alguma razão, oculta, confunde a água da vida com a pedra da
vida e a mater.
A serpente guardiã do empíreo (a parte mais elevada do céu habitada pelos
deuses) se enrosca em torno da pedra genitora como se vê sobre os dois
menires do calvário de Doux (Deux-Sevres).
Essa serpente protetora do céu e dos deuses, e que faz pensar irresistivelmente
no espermatozóide, é o princípio atuante, ativo, representa a alma, o movimento
e é a força misteriosa da Terra-mãe (o cundaline, a quimera, a coluna vertebral-
corrente telúrica, a Veia do Dragão).
A pedra, como Eva, a do nome fendido por um V em forma de vulva, diria Henri
Vincenot, é nossa terra mãe, a matriz da humanidade.
A pedra faltante ou rejeitada simboliza o estado do erro na natureza humana, ao mesmo tempo que
rende homenagem à perfeição da divindade que, só, pode construir sem que falte algo, como o quebra-
cabeça que consiste numa tabela de números que só podem ser movidos, um a um, por faltar um.
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As Rochas-das-Fadas do Ormont, perto de Saint-Dié, dominam uma gruta em
forma de vulva onde dormitam, diz a lenda, «toda uma população de bebês, que
espera o dia assinalado a cada um deles pelo Destino, pra fazer sua entrada na
vida».*
Pedras de crio, quer dizer, dando nascimento a menino ou facilitando sua
chegada ao mundo, se encontram quase em toda parte no mundo.
Nos Vosgos as rochas-mães são freqüentes. Se encontro a pedra Kerlinlin, em
Remiremont, as cavidades sagradas do monte Donon, a rocha da Motelotte
onde, diz o Boletim da sociedade de mitologia francesa, citando a Histoire et
Folkore du Donon, de Marie Klein Adam, as fadas haviam estabelecido uma
verdadeira milícia infantil.
Na Suíça são as cúpulas dos penhascos que passam por ter dado nascimento a
bebês.
Nas lendas célticas certos heróis, tais como o rei Conchobar, nasceram sobre a
pedra ou da pedra.
Tradicionalmente a pedra é vivente, pode crescer ou, ao contrário, se encolher e
penetrar sob terra e, por conseguinte, dar a luz.
Daí essa crença universal no poder fecundante das pedras em forma de falo, isto
é, dos menires.
Porque a pedra, por excelência, é o menir que ergue sua forma falóide da Suécia
ao Níger, do Extremo Oriente à América Central. E em toda parte no mundo, o
menir é honrado como Pai engendrador ou catalisador de engendragem.
Em numerosos lugares do sudoeste e de Bretanha, o rito dos deslizamentos
com o traseiro nu sobre certas pedras vulvóides ou falóides, dá a medida da
crença popular no poder fecundante da pedra.
Na Índia este rito é igualmente praticado e o era muito mais, antanho, em
Armênia e entre os lídios, em honra de Anaíta, a Vênus impudica.
Sob forma de menir fálico ela recebia o homenagem anual de milhares de sexos
femininos que acudiam a se esfregar contra a pedra pra adquirir a fertilidade ou
a segurança de ter filhos formosos.
As mais bonitas moças do Ásia Menor eram ritualmente consagradas a Anaíta e
deviam se entregar àqueles que vinham oferecer um sacrifício a ela.
O CADUCEU
O caduceu dos médicos, denominado Hermes ou Mercúrio, não se originou da fábula grega e sim do
símbolo de cópula das cobras. Se observam nele os símbolos de Siva: O touro, a naga, o lingam (falo),
estão reunidos nos anéis do caduceu drávida de Moenjo-Daro e do caduceu sumério-acádio de Gudéia
(-3.000 anos). Se pode ver, também, o símbolo da árvore associado à divindade ou, melhor ainda, o
símbolo dos Iniciadores vindos sobre serpentes voadoras (ou dragões), que ensinaram aos homens a arte
de sanear. Nessa hipótese o dragão voador é o artefato interplanetário e as serpentes são os Iniciadores.
J. Boulnois: Le caducée et a symbolique dravidienne indo-méditerranéenne de Varbre, de la pierre, du
16 O obelisco foi a forma simbólica arquitetônica mais antiga do Egito. Consiste numa coluna
quadrangular alargada montada sobre uma pequena base ligeiramente maior que a dimensão da coluna,
cujos lados vão se reduzindo até chegar ao topo, terminando numa ponta piramidal chamada piramidião.
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Por suposto, é impossível dar vida humana a uma estátua, mas está em nosso
destino esculpir, talhar, desenhar e criar à imagem de Deus.**
O homem tende a povoar a Terra de estátua de pedra com o desígnio
inconsciente de se perpetuar, de se imortalizar.
Houve um tempo, diz uma lenda, em que todas as estátuas de nosso planeta se
animaram e entraram em luta contra os homens que as criaram.*
Se trata, evidentemente, dum símbolo implicando que um dia, sem dúvida,
próximo de nosso século XX, a criação do homem se voltará contra ele e o
aniquilará.
No há sacrilégio em reproduzir a vida, ao contrário, está no programa do homem fazer filhos pra se
perpetuar na continuidade espaço-tempo. Esculpir uma estátua pode ser considerado uma homenagem a
Deus, uma imitação de sua criatura. Tudo está na invenção. Em compensação, confeccionar figurinha com
pretensão de vida é magia negra. Traficar os genes e as arquiteturas biológicas pra modificar o plano
duma espécie vivente é, também, magia negra, um crime, um pecado.
Ao contrário, na mitologia egípcia, o deus Jonsu (O Navegante), exorcista e curandeiro, delegava seus
poderes a uma estátua onde encarnava seu duplo lhe dando a missão de ir ao reino levar a cura a seus
suplicantes.
17 Pontificar: Expor opinião em tom dogmático como sendo verdade inegável
18 Gorro cônico terminado em ponta, geralmente de cartão e coberto de tela, utilizado, especialmente,
A SIDURITA INFALÍVEL
Num poema atribuído a Orfeu as pedras são de dois tipos: As olitas, ou pedras-
serpentes, e as siduritas, ou pedras-estrelas, que têm o dom da palavra,
segundo este relato estranho que demonstra uma vez mais, que os cientistas
investigadores teriam grande interesse em consultar os Antigos.**
Apolo deu a Orfeu uma pedra dotada da palavra, a sidurita infalível.
»Agradou aos outros mortais lhe dar o nome de Orelha Vivente. É uma pedra
redonda, bastante rude, compacta, negra, densa. Veias circulares parecidas a
rugas se extendem em todo lado na superfície».
Essa sidurita esteve a ponto de ser fatal a Heleno, filho de Príamo e adivinho
famoso, a quem a pedra falante que possuía lhe havia predito a ruína de Tróia,
sua própria pátria.
Ulisses obrigou o adivinho a revelar o porvir. Assim os gregos souberam que
Filocteto se apoderaria de Tróia.
Não obstante, Heleno, bem a par da aventura, se casou com a bela Andrômaca
e herdou o trono de Epiro.
A propósito da sidurita, o poema órfico diz:
Eis sabido que Heleno se absteve durante dez dias de ocupar o leito conjugal e
dos banhos públicos e que não se maculou com alimento animal. Lavando a
pedra doce num manancial, a cuidava como a um menino em fralda muito
limpos.
A saciando como a um deus com unção sagrada e azeite, convertia em animada
à pedra mediante cânticos poderosos.
Tu também, se queres ouvir uma voz divina, atues do mesmo modo pra obter
um canal de milagre em tua alma.
«Porque quando te puseres a fazer oscilar entre tuas mãos, de repente ela te
fará ouvir a voz dum recém-nascido..».
Este relato entraria plenamente no expediente dos contos inverossímeis se, em
junho de 1975, o físico soviético Resvi Tilssov, da universidade de Moscou, não
tivesse declarado, de modo muito formal, que duas pedras, pelo menos,
falavam: A ametista e a siderosa.
Pois bem, a siderosa, de fórmula FeOCO2, ou ferro espático atraível por ímã é,
exatamente, a sidurita dos Antigos.
Resvi Tilssov logrou fazer comunicar entre si siduritas ou ametistas distantes
entre si 200m.
Citado por Helena Blavatsky em seu A doutrina secreta, pelo filólogo Louis Michel James Delátre, e
Nostra, #167. É de advertir que a sidurita é o constituinte principal dos meteoritos e dos bólidos.
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As pedras emitem onda, em determinados momentos, mas durante um tempo
muito breve, e são esses contatos que o físico chama linguagem, que decifrado
poderia causar algumas surpresas nos meios oficiais!
Segundo Gérard Gilles (Nostra Ep167), um tratado de física publicado no século
XVIII afirmava já que «a ametista fala a um ímã quando se lhe acerca a ele», o
qual sucede também com a turmalina de Ceilão.
Eusébio, bispo de Cesariana, nunca se separava de suas ofitas* que pronunciava
oráculos com voz tênue parecendo um silvo.
Sanchoniatão dizia dos betilos-menires, que eram pedras viventes e parlantes
mas o que teria pensado da galena, esse sulfato de chumbo (PbS), que, com
inteligência prodigiosa, detectava, em 1927, os sinais elétricos e os convertia em
som, palavra e música com a conivência dos carretéis auto-capacidade e dum
alto-falante?
Bem é verdade que os órgãos basálticos e que as pedras da Orelha de Dionísio,
em Siracusa, têm poderes análogos!
A pedra do Destino de Fál ou Coronation stone ou L'a Fail é uma pedra talhada
que mede, aproximadamente, 0,90m de comprimento, 0,30m de altura e 0,60m
de largura, na qual estão encravados dois anéis de ferro. Seria uma pedra sem
importância se, segundo um rito milenar, cada monarca da Inglaterra não
devesse, pra ser entronizado, se sentar sobre ela e a ouvir gritar, o que passa
por ser a prova da legitimidade do soberano sobre o reino da Irlanda.**
Uma lenda quer que ela seja o betel que sustentava a arca da aliança. Levada
por Jeremias após a destruição de Jerusalém, teria sido plantada sobre a colina
sagrada de Tara e em nossos dias está conservada na abadia de Westminster.
A pedra de Pta, numa tradição egípcia, servia à entronização dos faraós.
Desse modo se estabelece uma ramificação lógica que, começando com a água
aminada, a água-mãe, surgida do calcário, prossegue com o penhasco, a piçarra
dos colegiais da pré-história, e no Próximo Oriente, com o betilo, morada dos
deuses venusianos e, no Ocidente, com o menir acumulador de energia.
Porque a pedra-menir, betilo ou coluna, é indissociável da vida, da potência viril
mas tem, ademais, estreita relação com a transmissão do labirinto e com as
representações mais sábias do gênio humano.
Os antigos tinham tal respeito pela divindade e pelo labirinto que divulgavam,
quase exclusivamente, sobre a pedra o que tinha valor sacro ou secreto.
Os pitagóricos gravavam seus símbolos e as cifras 1,618 e 3,1416 sobre
pedregulhos que levavam como colar.
Um desses símbolos era o número áureo, que é uma relação dos números entre
si. Por exemplo, pro retângulo seria a relação entre a soma de dois lados e a
longitude.
x+1=x2 x2-x-1=0 x=
x-1=x-1 x2-x-1=0 x=
Les siécles et les jours (os séculos e os dias). Horizon 1969, 14, Cours Lieu-taud, Marselha, capítulo II,
página 30. Na sucessão aritmética de Fibonnacci: 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, etc., o
número de ouro é o limite da relação de dois termos sucessivos quando se vai aos termos cada vez
maiores. Se encontra em qualquer sucessão baseada nesse princípio. (Ler facettes, #38, página 9,
direção: B.P. 15. 95220 Herblay, França.) A sucessão de Fibonnacci é tal que cada termo é a soma dos
dois precedentes.
O número áureo é estritamente igual a Sua expressão numérica, irracional, começa por 1,618.
(Facettes, #29, página 9). Em alta iniciação se ensina que o número áureo não é uma aritmética mas está
determinado por intuição e relação harmoniosa entre o homem e o cosmo.
Le monde souterrain (O mundo subterrâneo), de J.-P. Bayard, Edições Flammarion, 1961.
Le pape des escargots (O papa dos escargôs), de Henri Vincenot, Edições Denoel, Paris, 1972, págs.
35-36.
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Sentenças e fórmulas mágicas estavam gravadas sobre as pedras gnósticas ou
basilidianas ou abraxas (amuletos) no século II de nossa era, quando Basilides
ensinava a doutrina dos gnósticos. Essas pedras eram o sanctasanctórum, o
tabernáculo da alta ciência. Quem soubesse ler suas gravuras era sábio e
companheiro de labirinto dos grandes iniciados.
Mais tarde a expressão suprema do saber e da sabedoria devia se cristalizar na
lendária pedra filosofal, graal dos alquimistas e dos cavaleiros da quimera.
Os menires da Bretanha, que conservam tão bem seu segredo, tinham um
destino muito concreto na geografia e na geologia.
Essa é a opinião do arqueólogo Jean Lody, de Rostrenen (Côtes-du-Nord), a
quem os menires eram os marcos duma rede viária primitiva que conduzia aos
sedimentos metalíferos que os povos antigos exploravam.
É uma tese interessante que Jean Lody apóia sobre observações sérias e
copiosa documentação.
É certo que a pedra alçada tem múltiplos significados que variaram com o
transcurso dos anos.
Se pode pensar, com boa razão, que os alinhamentos do Meneque, em
Carnaque, eram, para à mente de nossos antepassados, ao mesmo tempo
estelas funerárias ou de saudade, guerreiros defensores, observatórios
astronômicos* e pilhas conectadas diretamente sobre a serpente telúrica, a
quimera, geradora de fluxo vital revigorante.
O qual era também a função do djed egípcio e das Veias do Dragão dos
chineses.
O menir da ilha de Yeu, que nos fez conhecer doutor André Guillard, é,
incontestavelmente, símbolo fálico, acumulador de potência e de virilidade.
OS GUERREIROS DE FILITOSA
Os estudos de professor Alexander Thom sobre Estonerrenge e Carnaque demonstrariam que esses
monumentos ou sítios eram observatórios astronômicos. Os alinhamentos do Menée, de Kermario e de
Kerlescant teriam sido conectados com o observatório lunar que constituíam o menir gigante de Er-Kroecht
(25m de altura) e pedras de mira. O conjunto teria permitido prever eclipses e determinar os solstícios. Os
investigadores do CNRS inclusive escreveram (La Recherche, #34) que os menires eram computadores!
Estamos longe de pensar que nossos antepassados eram ignorantes. Ao contrário, lutamos pra fazer
reconhecer sua existência e sua qualidade de Antecessores Superiores em determinados terrenos. Mas isso
de qualificar de computador um menir, há um degrau que não franqueamos!
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Com Stonehenge e Carnaque, Filitosa é um dos pólos da pré-história aonde o
homem curioso e culto deve acudir pra refletir sobre o problema obsedante das
pedras alçadas.
Sobre um morro rochoso se ergue a fortaleza flanqueada de estátuas-menires
que são, sem a menor dúvida, à vez falos e guerreiros encarregados de
assegurar uma proteção mágica.
Com seus dólmens, seus monumentos, seu recinto de menires e suas
fortificações, o oppidum de Filitosa atesta dum passado que se remonta de
3.500 a 5.000 anos, e que apresenta ainda muitos enigmas.
A altura foi descoberta por Charles-Antoine Césari que, com suas próprias
mãos, exumou a maior parte das estátuas e dos megalitos que podem agora ser
admirados.
Também a ele se deve o museu, cheio de vestígio e pedra lavrada como não
existe noutra parte.*
Carnaque é o menir informal onde ainda habita o deus e onde se armazena a
potência, considerada benéfica, da terra-mãe.
Filitosa, mais recente, mais suntuosa, assinala, em nosso ponto de vista, o final
do tempo megalítico e uma tomada de consciência onde a magia se enlaça
estranhamente com a arte antropomorfa, da qual o menir é representativo.**
OS PILARES DO CÉU
Tanto faz ser chamado betilo ou pedra alçada o menir sempre teve reputação
mágica, benéfica e, freqüentemente, divina.
Se lhe atribuem tantos poderes que já não se sabe qual lhe caracteriza e lhe dá
significado principal.
Então, ao tomar consciência da multiplicidade de funções possíveis que se lhe
atribuem, se adquire uma convicção que é, com certeza, a expressão da
verdade: Segundo as épocas e os lugares os menires tinham significados muito
claros.
Há tanta diferença entre o menir de Carnaque e o obelisco de Luxor como entre
um dólmen e uma catedral, entre uma lagarta e uma mariposa.
Para os esoteristas o menir é a Árvore sagrada, o eixo do mundo, o centro do
mundo habitado por Deus, a casa e a palavra de Deus. É também o deus
informal, o deus na pedra.
É o Pai vertical, doador de vida, o falo sagrado de todos os povos antigos.
Na Índia é o Lingam sagrado, substância vivente, inteligente e genitora.
Às vezes é o Antepassado, a pedra-mãe que dá a luz à humanidade.
Como pilar, o djed dos egípcios está carregado de influxo benfeitor porque, por
sua base, toca o lombo da quimera, trajeto nas correntes telúricas, e por sua
ponta é receptor das influências celestes.
Filitosa está a 50km ao sul de Ajácio. Se tem fácil acesso em automóvel ao lugar onde há um
restaurante, um museu e um parque onde é agradável errar entre as estátuas armadas, os menires e os
vestígios ciclópicos.
Na Sibéria, na região dos rios Ienissei e Abacã, estão eretos menires ou ídolos ou mulheres velhas
SUPRANORMAL
Capítulo VIII
NAS FRONTEIRAS DO INCRÍVEL
A ciência, tal como está concebida e é ensinada de modo oficial, está fundada
sobre princípios duvidosos que é necessário revisar.
Isso é o que admitem e declaram os físicos mais abertos às realidades da
experiência controlada.
Desde 1976, aqueles que, generosamente, são chamados os sábios, estão
invadidos por uma grande perplexidade: Já não sabem onde se encontram em
Les plus anciens contes de l'humanité (Os mais antigos contos da humanidade), de T. H. Gaster, página
114, Edições Payot, Paris.
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seus conhecimentos e, por pouco, fariam acender uma vela a são Antônio pra
que lhes fizesse voltar a encontrar suas certezas de antanho.
Uma coisa insignificante, um grão de areia, derruba sua magnífica arrogância. O
que é?
Exatamente: A ciência dos bruxos, dos espiritualistas, dos esoteristas, daqueles
de que se tem burlado tanto os chamando empíricos!
E, por uma inversão das coisas, se assiste esse curioso fenômeno: Os físicos
ficando mais empíricos que os empíricos, mais radiestesistas, mais curandeiros
que os curandeiros e mais crentes que os beatos de São-Nicolau-du-
Chardonnet.
Os cirurgiões das ilhas Filipinas são hábeis charlatães que simulam extrair do corpo dos enfermos os
tumores o as infecções que o envenenam, afundando suas mãos nas carnes como si fossem tão fluidas
como a água. E sem deixar cicatriz. Na realidade esses ilusionistas utilizam vísceras e sangue animal pra
fazer crer numa verdadeira e milagrosa intervenção cirúrgica e o paciente, sugestionado, crédulo, cura, em
certos casos, ou fica persuadido que está. Ler O livro do passado misterioso, capítulo IX, Agpaoa, o passa-
parede.
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não estranhava demasiado e, inclusive, em nossos dias se assegura que, no
Tibete, iogues treinados no lung-gom (técnica dos brincos) podem, em estado
de transe, recorrer sem fadiga 500km seguidos a uma velocidade média de
17km/h!
Mas se deve desconfiar de tudo o que procede do Tibete!
Em seu livro Indaba my children (Meus filhos Indaba) o ex bruxo sul-africano
Vuzumazulu Mutwa fala da tribo santa dos Holy ones of Kariba (Os santos de
Cariba) cujos membros viviam completamente nus como os dujobores da
Ucrânia e do Canadá, no desfiladeiro de Cariba (sem dúvida, até Livingstone, na
Zâmbia).
Donde procediam? De que raça eram? Ninguém saberia dizer mas se sabe que
cultivavam até o extraordinário o poder de suas forças mentais.
Por a intercessão de sua faculdade cerebral — escreveu Mutwa — se
aventuravam nas mais perigosas operações cirúrgicas, chegando até a pôr a nu
os cérebros cujo tumor operavam.
Foram os primeiros em amputar membro sem empregar instrumento material,
unicamente por um fantástico desenvolvimento de vontade.
»E, um dia, os santos de Cariba desapareceram da África e da superfície da
Terra, sem deixar rastro e sem abandonar o desfiladeiro!»
O que parece querer dizer que seu próprio país se volatilizou na mudança de
configuração.
O EFEITO GIRARD
A conseqüência de declarações públicas nas quais ressalta demasiado visivelmente sua má-fé, os
racionalistas, compreendendo que estavam perdendo a pouca estima que ainda se lhes concedia, julgaram
oportuno mudar subitamente de opinião. Numa emissão sobre a parapsicologia, de 1 de julho de 1977,
pela Antena 2, doutor Alfredo Krantz, neuropsiquiatra, membro da União Racionalista mas erudito
honrado, reconhecia a autenticidade do fenômeno psi e dos experimentos de Jean-Pierre Girard.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Somente, quiçá, os esoteristas sabem a que se ater: Conhecem o psi desde
sempre e pensam que o Apocalipse, como seu nome o indica, é a hora de
verdade e de revelação.
Nesse sentido J.-P. Girard poderia, muito bem, ser o anjo anunciador do fim do
mundo.
NÃO QUER TIRAR DINHEIRO DE SEU DOM
Jovem, trinta e quatro anos, moreno, magro, de estatura média, casado, sem
filho, o taumaturgo é chefe da promoção médica dum laboratório de produto
farmacêutico. Reconhece que possui um dom excepcional mas declara
rotundamente que não quer obter de dito dom algum benefício pecuniário e que
nunca se exibirá em espetáculo público.
No entanto não oculta que freqüentou ambientes da manipulação como
ilusionista aficionado. Declarou:
Quero somente ajudar ao desenvolvimento da ciência e estou a disposição dos
físicos que efetuem suas atividades nos laboratórios de investigação.
«Atuar em público é muito perigoso. Por dinheiro, quase todo mundo tem a
tentação de cometer fraude. Por conseguinte, prefiro me pôr a salvo de
tentação».
E quando lhe perguntaram a explicação dos fenômenos que produz, respondeu
com grande humildade:
«Não compreendo o que ocorre mas o que faço todo mundo poderá fazer algum
dia. Estou persuadido de que assim será. O essencial é captar as causas
desconhecidas..».
Jean-Pierre Girard, ex-pupilo da beneficência pública, teve infância bem mais
difícil, tanto mais por seus dons precoces de vidência e de percepção
supranormal lhe causavam muitas incômodos.
— Eis aqui uma multiplicação: 17 x 363... Igual a 6.171.
— Quem disse isso? — Perguntava o mestre — Outra vez Girard... sempre Girard,
claro. Como sabes que o resultado é 6.171 se ainda não fizeste a multiplicação?
— Não sei, senhor. Mas deve dar 6.171.
Outra vez, o mestre iniciava uma frase:
— Vejamos, hoje, estudaremos... á, sim... será...
— A batalha de Rocroy!
Era de novo o aluno Girard quem perturbava as funções mentais do bom
pedagogo, incapaz de assimilar como seu aluno podia adivinhar o futuro ou ler
seu pensamento.
Então, como um verdadeiro herói de liga racionalista, sucumbia ao argumentum
baculinum e aplicava uma surra ao jovem vidente, argüindo:
— És uma criatura do Diabo. Dês uma olhada na página de tua lição e
imediatamente a poderás recitar de memória!
Um cura de povo e um racionalista dos pés à cabeça não podem aceitar tais
prodígios sem atribuir ao Diabo ou a uma armadilha!
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Eis aqui o que milhões de telespectadores puderam ver na emissão da FR3
sobre o supranormal em primeiro de abril de 1977, às 20:30h.
Previamente registrado, submetido a prova, apalpado, auscultado. J.-P. Girard
se instalou ante uma mesa, vigiado por eminentes personalidades da ciência e
do ilusionismo, entre eles M. Philibert, diretor de investigação do CNRS,
professor na universidade Paris Sul e pelo cético prestidigitador Ranky.
Um meirinho tomava nota das diferentes fases da ceia.
Se apresentaram, se nossa memória é boa, seis barrotes de metal denominados
performantes procedentes dos oficinas onde se fabrica o Concorde.
Essas barras de ferro, de dimensão aproximada de corrimão redondo duma
escada metálica, haviam sido eleitas sem Jean-Pierre saber, que ignorava sua
natureza, dimensão e origem.
Haviam sido comprovadas sob uma força de 45 niutones,* o qual supera
notavelmente a que pode desenvolver um atleta profissional de peso e halter.
Pois bem, J.-P. Girard, sob o controle rigoroso dos câmaras, do meirinho, do
ilusionista, do físico e de 20 milhões de telespectadores não podia exercer
pressão sobre o material, senão somente o olhar e o roçar com a ponta dos
dedos.
Elegeu uma barra, seja por azar ou porque lhe pareceu mais simpática que as
outras, e a colocou ante ele.
Houve um intervalo de espera bem longo.
As testemunhas espiavam, vigiavam, espreitavam: O taumaturgo, muito sereno,
parecia esperar algo... Um sinal, uma advertência.
E logo se pôs a acariciar a barra, muito suavemente, com a ponta dos dedos,
como se acaricia o seio duma mulher com, parecia, o mesmo fervor, o mesmo
amor concentrado.
Cremos recordar que, segundo seu costume, falou mas sem resultar volúvel, e
as testemunhas mais sensíveis notaram claramente, mas sem o poder analisar,
que algo estava acontecendo ou ia acontecer.
O experimento se prolongou durante breves minutos e J.-P. Girard disse:
— Creio que está torcida!
Retrocedeu a seu cadeirão e aguardou o resultado do controle.
A barra foi examinada cuidadosamente pelos senhores Philibert e Ranky, e
apresentada em primeiro plano, de perfil, ante as câmaras.
Efetivamente, se entortou, muito claramente.
As testemunhas eram formais e fidedignas: Não houve trucagem possível e o
milagre se produziu sem poder ser explicado.
Ranky, o ilusionista, se bem que muito cético a princípio, confirmou
categoricamente a autenticidade do experimento.
— Não houve trucagem. Estou seguro!
É de ressaltar que Monsieur Ranky, criador do comitê de ilusionismo, é um
especialista em fraude dessa índole: Torce barrote de aço e vara de ferro
encerradas em ampolas de cristal.
Se trata de ilusionismo, por suposto, o que dá a seu testemunho todo seu
maravilhoso valor.
O níuton é a força que comunica a uma massa de 1kg uma aceleração de 1m/s.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
J. P. Girard, por seu poder psi, fez levitar objetos, mudou a natureza dum metal,
freou o desenvolvimento dum caldo de cultivo,** entortou barras indeformáveis
por esforço muscular (em metalurgia essas barras são chamadas proveta) mas
pôde, também, transmitir sua faculdade.
É o que fez em 23 de março de 1977, das 14 às 15h, na rádio Montecarlo, onde
foi apresentado pelo professor Robert Tocquet, eminente experto em
parapsicologia.
Vários assistentes e o próprio Robert Tocquet puderam, como ele, entortar
várias varetas de metal.
O professor explicou os fatos nos seguintes termos, frisando que a transmissão
foi involuntária e não forçada por J.-P Girard:
«Eu estava diretamente a sua direita. Entortei uma vareta metálica a tocando
levemente, efetuando a flexão progressivamente e bem visível. A inflexão
definitiva era, aproximadamente, de 3cm. No transcurso da emissão alguns
rádio-ouvintes teriam, igualmente, produzido fenômenos análogos mas é
evidente que, dadas a circunstância, toda comprovação seria impossível».
Como a maioria dos médiuns, J.-P. Girard pode produzir efeitos negativos, mas muito raramente
positivos, como se o efeito psi pudesse destruir mas não criar.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Eis aqui sobre o efeito Girard a opinião dum homem honesto que, por
acréscimo, é um eminente especialista do supranormal e autor de numerosas
obras que lhe conferem autoridade na matéria.*
Desse modo Jean-Pierre Girard realizou milagre de maneira reiterativa, burlou as
leis físicas estabelecidas, desconcertou os físicos e demonstrou, mediante o
experimento, que os fundamentos de nossa ciência não são mais que relativos
e, em todo caso, devem ser revisados.
O biólogo Gunther S. Stent, da universidade da Califórnia, não teme manifestar
que a ciência é empírica e retorna, quando não pode dar explicação, à noção de
alma de Descartes (Science et vie, #703, pág. 26).
— Existe erro nalguma parte! — Clamam os irredutíveis racionalistas que se
negam a crer no razoável pra opor a obstinação estúpida.
No entanto, tudo entra na linha científica, posto que J.-P. Girard fez seus
experimentos ante os comitês mais temíveis da ciência oficial da França,
Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Bélgica, Suíça, Estados Unidos e no
prestigioso instituto Estanforde, da Califórnia.
Durante o simpósio de Reims, J.-B. Hasted emitiu, entre outras hipótese, pra
explicar a dobragem dum metal, a dum deslizamento de planos entre os
monocristais que o constituem. A deformação paranormal poderia, também, diz,
se produzir por um transporte de átomos no túnel quântico.**
Nos encontramos aqui nas zonas duma física que é domínio dos especialistas,
embora nos pareça indispensável evocar sobriamente teorias que incidem com
os universos paralelos caros aos esoteristas.
Hasted respalda sua investigação sobre a teoria, mais ou menos admitida, dos
quanta, mas a hipótese mais fascinante recorre aos universos simultâneos
representados por um «conjunto de equações dinâmicas e de relação comutativa
entre os atuantes deste espaço singular»!
No espaço chamado de Hilbert, uma infinidade de dimensão faz supor a
existência teórica e simultânea de mundos que, praticamente, não devem se
comunicar entre si.
Não obstante, perturbações permitiriam interferência. Por exemplo, nas faixas
desses universos diferentes.
Para o físico de Witt, informou Hasted, a divisão do universo provoca a de nosso
próprio mundo e lhe dá mais que um dom de ubiqüidade: A natureza fantástica
de existir simultaneamente um número infinito de exemplares idênticos.
Neste sentido há milhares de milhões de Terras, de Franças, de Brigitte Bardot e
também de Giscard d'Estaing, de Mitterrand, e de Marcháis (101000, calculou
Hasted!).
Esses exemplares são independentes uns dos outros mas poderiam se
comunicar e, quem sabe, inclusive, se ajudar dum universo a outro.
Os fenômenos são conseguidos dificilmente quando o buraco não tem mais que um milímetro de
diâmetro, e muito facilmente com uma abertura de 5mm.
Pro professor Hans Bender, do instituto de parapsicologia de Friburgo de Brisgóvia, a energia necessária
pra dobrar uma vara metálica procederia, não do médium, senão do próprio objeto. O efeito túnel
concerne franquear uma barreira potencial por um elétron.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Mas essa tese faz abstração dum sério obstáculo: Um deslocamento de objeto e
de energia entre dois mundos!
O que importa?! Nada é impossível aos físicos, e Davi Bohm imagina um tempo
característico durante o qual transições quânticas atômicas não radiativas
poderiam se produzir, pra explicar o milagre da transferência.*
J. B. Hasted, no limite, imagina** o universo como «uma função de ondas únicas
que englobaria miríades de estados estacionários» e este universo seria uma
«combinação linear de todos esses estados» com possibilidade de aparecer,
desaparecer, passar através do opaco, condensar energia e fazer passar dum
mundo a outro.
O físico inglês chegou, inclusive, a admitir a existência dos espíritos, tão
estimados pelos espiritistas, e dum além habitado por numerosas versões de
nós mesmos, assim como também pelos fantasmas de pessoas falecidas há
muito tempo.
Eis aqui algo que trará água ao moinho dos espiritistas.
Não o deploramos, senão ao contrário, mas observemos o caráter revolucionário
do supranormal voltado a entrar na moda graças a Uri Geller, a J.-P. Girard... e
aos curandeiros psíquicos.
físicos em sua peleja com o Misterioso Ignoto. O que frisa até que ponto a imaginação é necessária pra
fazer avançar o labirinto.
Le livre du mystérieux inconnu (O livro do misterioso desconhecido), de Robert Charroux, Os
O doutor norte-americano Henry Ryder julga que a barreira pruma melhora dos
recordes em desporto é mais psicológica que fisiológica. Encontrei o caso de
Bob Beamon, que saltou em longitude 8,90m nos jogos olímpicos do México,
num estado de transe ou, pelo menos, de sobre-excitação devido a um clima
político explosivo.
Os negros desejavam demonstrar a supremacia de sua raça sobre a dos
brancos. Atletas negros foram excluídos dos jogos por provocações
intempestivas. Por isso Beamon teria passado a noite toda sem dormir e saltou
num estado psíquico muito particular, sobre-excitado pela cólera, a emoção e o
orgulho racista.
Entre os japoneses, ao contrário, é o misticismo o que estimula os atletas: Antes
do desjejum, uma hora de concentração sobre os ensinamentos de Buda.
O atleta cubano Juan Torena ganhou os 400m e os 800m dos jogos olímpicos
de Montreal em 1976, sustentado pelo pensamento de Fidel Castro!
O ditador cubano, em 1966, manifestava:
«Uns escritorzinhos [sic] disseram que nossos atletas não eram atletas, senão
militantes revolucionários.» É verdade!
O saltador em altura chinês Ni Chin-Chin franqueou a barra a 2,29m e Chuang
Tsé-tung é o melhor jogador de tênis de mesa porque estão sobre-eletrizados
pelo pensamento em Mao.
Citado por André Dumas em La parapsychologie devant la science (A parapsicologia diante da ciência).
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«As encontros do Grande Timoneiro nada têm a ver com bruxaria — declarou
Chuang Tse-tung — mas me submergem num banho regenerante e
revigorante».
Prescindo de treinador. — Disse Ni Chin-Chin — Trabalho no frio, na chuva mas
em comunhão com Mao e em meu silêncio interior.
Uma bomba pode cair, me é igual. Estou seguro de mim! Subo só ao combate,
segundo o princípio maoísta.
»É um arma que os ocidentais não conhecem, e é a mais poderosa.» *
Chama a atenção essa similaridade de juízo: «Estou seguro de mim», disse,
também, Jean-Pierre Girard.
Um se converte em campeão do mundo e o outro torce uma barra de metal
mediante o pensamento criador.
Resulta muito evidente que o que é verdade às raças negras e amarelas, aos
povos jovens e aos crentes do comunismo e do maoísmo, não o é, em absoluto,
à raça branca decadente e aos eleitores burgueses das democracias!
Antanho, Mimoun foi campeão olímpico de maratona pela honra azul, branca e
vermelha de nossa bandeira!
Em nossa época Roger Bambuk nunca baterá um recorde do mundo se
estimulando com o fluido de Giscard d'Estaing.
Capítulo IX
O GERADOR DE AZAR
Numerosas vezes demos nosso ponto de vista sobre a inteligência dos animais,
das plantas, do mineral e dos universos que povoam o infinito.
Tudo têm uma inteligência, desde o grão de areia até o cérebro dum engenheiro,
porque tudo é vida e a vida é inteligência.
O universo é um grande organismo do qual todas as parcelas são as células
interdependentes.
Então, como no corpo humano, como no mecanismo de fagocitose dos glóbulos
enfermos, como na teoria dos quanta de Planck, se produzem sinais,
mensagens, efeitos, incompreensões aos que os sábios, espontaneamente ou a
força, têm de se acomodar!
O efeito Girard é extraordinário.
Mais fantástico é, ainda, o efeito gerador aleatório!
Olivier Costa de Beauregard, diretor de investigação no CNRS, preconiza uma antifísica associada à física
eletrônica e que é, de certo modo, sua imagem invertida, ou melhor, virada. O explica resumidamente
assim: Uma piscina, pés que saem da água, uma saltadora que brota da água e vem pousar sobre o
trampolim (cinema invertido). É a antifísica, uma retrospectiva, uma retrodicção.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Mas se um gerador aleatório pensa e se seu pensamento se converte em
criador, então em que se convertem as certezas em geologia, em biologia, em
matemática, etc.?
Uma cifra tem, talvez, sua individualidade, seu pensamento. Em certos casos
um 5 poderia se converter num 6 do mesmo modo que 1=3 no mistério da
Trindade?
Se o gerador, o gato ou uma potência desconhecida influi no azar, lhe obriga a
dar um privilégio do Vivente organizado, quer dizer, à matéria orgânica, é todo o
conceito darviniano da evolução o que está em jogo!
Pra resumir digamos que a evolução do Vivente se fez se beneficiando de favor e
complacências misteriosas que dariam, aparentemente, mais oportunidade à
vida, ao ritmo, ao movimento que ao estagnação ou à involução.
O livro do passado misterioso, de Robert Charroux, capítulo XVII, Os museus do petrimundo, A gravidez
nervosa da Natureza, etc. Segundo essa tese, a Natureza do mundo pré-histórico no alba da criação se
teria posto a sonhar no amor. Seu fantástico inconsciente pariu, então, fetos e formas da futura criação: O
caos de pedra e as representações zoomorfas e antropomorfas de Fontainebleau e de Montpellier-le-Vieux
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Assim se pode pensar que a consciência ou consciências da Natureza não
deixará o homem se tornar muito perigoso.
Os influxos emissores misteriosos do Vivente natural devem ter em seu total um
impacto fantástico, o qual explicaria de modo racional que a Natureza possa se
vingar e destruir as civilizações.
Neste sentido o Vivente supõe e, sem dúvida, exige um privilégio do orgânico e
da matéria mais organizada sobre a matéria que o é menos.
A Vida supõe igualmente um plano pré-concebido que obriga, ao azar, a dar
preferência ao bebê sobre o ancião, à planta vigorosa sobre a que languesce.
Se é assim, a água que emana dum tubo perfeitamente vertical e que pode se
esparramar igualmente tanto num lado quanto noutro sobre uma superfície
perfeitamente plana, deveria eleger se estender sobre o lado habitado pela
matéria vivente orgânica dos homens, dos prados, dos bosques, mais que sobre
o lado constituído por um deserto de areia ou de matéria vivente debilmente
organizada e inteligente.
A própria vida supõe esse privilégio, esse desequilíbrio requerido que assegura o
movimento, a evolução. Se as oportunidades foram iguais ao equilíbrio e ao
desequilíbrio, a vida cessaria pela supressão do movimento. O azar estaria, pois,
trucado desde seu arranque.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Somente experimentos podem responder de forma racional a essa pergunta
sobre a qual os esoteristas se pronunciaram já de modo positivo com a carga
que impregna o ambiente e os objetos familiares ou mágicos.
Capítulo X
O MISTERIOSO DESCONHECIDO E A DÚVIDA
O EFEITO QUÍRLIAN
Cumberlandismo: Registro das reações inconscientes do sujeito mediante contato com o pulso. O
médium que utiliza esse procedimento deve ter uma sensibilidade supranormal.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
No que concerne ao efeito Quírlian, os argumentos são diversos e contraditórios.
A favor:
O aparato funciona como um campo intenso de alta freqüência e permite
comprovar:
1. A intensidade e a dimensão dos halos bioplásticos.
2. O estado físico da pessoa ou do objeto submetido a prova.
3. Os centros do medo, da dor, a localização dos centros nervosos da
acupuntura.
Seria um verdadeiro detector da vida reconhecido pela doutora Telma Moss, da
universidade dos Anjos (L'autre monde (O outro mundo), 7, rua Decres, 75014,
Paris).
O aparato Quírlian produz curiosos penachos luminosos, principalmente em
torno das mãos, orelhas, cabeça. Nos converte como num matorral ardente. O
efeito se parece às descargas luminosas dos fogos de santelmo, e os espectros
e auras obtidos seriam de natureza eletrostática. (Lucien Barnier, Nostra, #162,
Faubourg Santo-Honório, Paris.)
Para o jornalista Jacques Bergier, o efeito Quírlian, descoberto até 1950 pelo
técnico eletrônico russo Sermión Kirlian, «demonstra de modo científico a
existência da aura».
Já, no século XIV, Paracelso ensinava que a força vital não está prisioneira do
corpo, senão que irradia em torno a ele como uma esfera luminosa que algumas
pessoas sensíveis podem distinguir.
Contra:
Os físicos conhecem, há tempos, o efeito Quírlian cuja explicação não oferece
mistério, segundo a revista Science et vie (Ciência e vida), números 619 e 678.
Eis aqui como qualquer pessoa o pode obter com pouco gasto:
Dispor de duas placas metálicas e as unir mediante um transformador a bateria
de 6 voltes. O transformador dará uma voltagem de 25.000 a 30.000 voltes.
Num quarto escuro, colocar uma película sensível entre placas metálicas.
Colocar a mão sobre o aparato (ou numa folha, uma raiz de árvore ou qualquer
matéria orgânica viva). Se produz em torno dos dedos uma radiação débil mas
visível a olho nu, registrável pela emulsão sensível e que basta revelar como
uma película de máquina fotográfica. As diferenças de intensidade de radiação
são produzidas pelos diferentes efeitos de suor, de umidade, de pressão, etc.
Mas, esse etcétera não está muito claro, já que não explica todos os efeitos
registrados. Nem muito menos!
Em resumo, o objeto provido com um aparato chamado Quírlian é um eletrodo
que receberá um fluxo de elétrons denominado, em física, efeito Coroa.
Esse efeito foi descoberto em 1777 pelo físico alemão Georg Christoph
Lichtenberg, fixado sobre daguerreótipo em 1851 e estudado em 1930 pelo
grande físico Nicolau Tesla.
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O periódico A Prensa, de Lima, acrescenta ao expediente do Ignoto o incrível
caso da senhora Balbina Villanueva Contreras, nascida no povoado de
Huacabamba, distrito de Parcoy, província de Pataz, de 34 anos de idade, que,
atendida no hospital Leão Prado, de Huamachuco, está afetada por uma
dolência que reduz de modo insólito sua estatura corporal, enquanto o
desenvolvimento mental permanece normal.
Em medicina se conhece muito bem a acondroplasia, doença caracterizada pelo
alongamento dos ossos (no sentido do gigantismo), mas, ao contrário, até então
nunca se registrou um fenômeno inverso.
Como, por exemplo, explicar que o perímetro ósseo do crânio diminua, que uma
tíbia ou um fêmur encolha?
No entanto A Prensa, espécie de Le Figaro de Lima, é um periódico sério e os
detalhes que proporciona são perturbadores.
A redução física de Balbina seria evidente, principalmente na cabeça e nas
mãos, que se parecem agora, diz a informação, às dum menino de sete anos.
Se notou, também, que o timbre de voz da enferma se tornava infantil e
dificultoso.
Após solicitar informação a nossos correspondentes peruanos comprovamos
que essa incrível história é verdadeira.
A INICIAÇÃO DA COBRA
Ler nosso estudo sobre esse tema em O Livro dos mundos esquecidos, op. cit. Capítulo XII: A água-mãe
e o elixir de imortalidade. O sapo dos livros mágicos. O sapo iniciado.
A polywater, encontrada em 1962 por B. V. Deryagin e N. Fedakin, da Academia de Ciência de Moscou,
foi acreditada, a princípio, pelo conjunto dos físicos e dos químicos, e controvertida depois.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Opinamos que os aminoácidos genitores da matéria orgânica tiveram
nascimento na água-mãe da Terra original.
Essa água da vida é, muito particularmente, necessária ao menino no ventre da
mãe, como é indispensável ao surgimento e manutenção de toda vida
organizada.
Brama neutro, o Senhor que existe por si mesmo na cosmogonia indiana,
começou a criação fazendo emanar a água de seu pensamento.
Inclusive na Bíblia judaico-cristã, «o espírito de Deus era levado sobre a água»
(Gênese I, 2), como o ovo primordial nas outras mitologias, e em toda parte,
também aqui entra em jogo uma história de serpente.
Em todos os tempos os homens buscaram a água da imortalidade. Os da pré-
história nas grutas porosas de Saint-Privat (Gard) ou nos refúgios sob rocha das
Eyzies, e, mais tarde, na Índia com Alexandre Magno, na América com Cristóvão
Colombo e Ponce de Leão.
Jesus começou a viver como Cristo quando João lhe verteu a água do Jordão
na cabeça.
O batismo, esotericamente, tem esse significado magistral.
Vida, imortalidade = água, serpente.
Os antigos acreditavam que a serpente nunca morria.
— Porque muda de pele! — Disseram os escritores profanos.
Hoje podemos retificar:
— Os antigos não eram ignorantes até esse ponto. Sabiam que a serpente muda
de pele, certamente, mas também sabiam que, como o sapo, podia viver longo
tempo desafiando a experiência vital dos homens.
É à luz dessa crença esotérica que se deve julgar o relato do químico Jean
Hellot.
Não pensamos, nem por um segundo, que J. P. Girard possa fazer armadilha
em seus experimentos.
Não temos o direito de suspeitar de sua boa-fé nem da inteligência e sagacidade
dos que o controlam.
Então: Se o poder psi existe, verdadeiramente, e se é posto em evidência e
autenticado em nosso século19 de materialismo exaltado, então a ciência se
inclinará a outros horizontes e a outras esperanças que não sejam as de ver a
humanidade destruída por uma explosão atômica.
Com essa expectativa nos é necessário inventariar o Misterioso Ignoto
reabilitado, mas evitando cair numa credulidade que seria negativa pra nossos
objetivos.
Há de crer que Rita Celadin, a menina mágica de Pávia, de dez anos de idade,
quando cruza os braços no salão de sua mãe, faz brilhar, repentinamente, a luz
elétrica nas lâmpadas?
Noutras salas olha fixamente o interruptor durante alguns segundos e as
lâmpadas se acendem.
19 O século 20
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Mediante a mesma magia desconhecida faz dançar o piano, brincar o aparador,
ocasiona avaria elétrica e corte de água corrente.
É necessário ter em conta os dez anos de Rita e, sem dúvida, o início de sua
puberdade, duas condições que desempenham um papel determinante na maior
parte dos fenômenos supranormais.
Em Rosenheim, Baviera, uma menina da mesma idade que Rita, perturbava,
sem tocar, a rede telefônica de sua casa. Milhares de manifestações, em
condições análogas ou idênticas, foram registradas no mundo inteiro.
Os fenômenos de anti-física não se produzem, parece, senão com um
catalisador ou, melhor, com uma fonte de energia transcendente que, em geral,
é uma moça em crise de puberdade ou um garoto irritadiço, hiper nervoso ou
que padece acumulação fantástica do poder psi, ou seja, de energia elétrica com
super voltagem geradora de descarga psi-elétrica.
Essa energia consciente, suscetível de ser dirigida, mandada a distância, é o que
explicaria a psicocinesia.
TE LEVANTES E ANDES!
No domingo, 27 de março de 1977, sobre a pista do aeroporto de Tenerife, dois bóingues 747, um
ianque, o outro holandês, colidiram. Houve 579 vítimas. É provável que a cifra dada por Lee Fried esteja
mais próxima da verdade, ao se ter podido ter falecimento nos dias seguintes.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Quando o espírito se equivoca de universo deve suceder que o corpo escapa
também, parcialmente, às leis da física clássica com o fenômeno de
reembasamento das faculdades normais.
Imaginemos uma casa na beira dum rio sobre o qual foi estendida uma viga de
madeira que pode suportar um peso de 50kg.
E não 10g a mais!
Imaginemos que, havendo franqueado essa ponte, uma menina corre perigo de
se afogar no outro lado do rio.
A mãe assiste o drama que está a ponto de se desencadear.
Pesando 55 kg nunca tentou passar sobre a viga. Sabe que se romperia sob um
peso excedente de 5kg.
Mas impulsada pelo intenso desejo de salvar sua filhinha, galvanizada, posta
em transe pela intensidade de sua angústia mas também de sua fé (É
necessário que eu a salve. Estou segura de que a salvarei!), a mãe se equilibra
sobre a viga, a atravessa sem que se rompa e salva a menina.
Crês que seja possível esse milagre:
— A viga que suporta 55kg em vez de 50kg, ou:
— A mãe, num determinado estado agravitacional, não pesando mais que 50 kg
em vez de 55kg?
Crês que outra mãe — tratamos sobre o Misterioso Ignoto do sentimento
maternal — impotente, imobilizada sobre um cadeirão pelo reumatismo, e vendo
logo aparecer, a alguns passos de si, o filho bem-amado, desaparecido na
última guerra, essa mãe levada ao ápice duma felicidade inefável, insensata,
inesperada, possa, de repente, se levantar, abandonar seu cadeirão, olvidar sua
invalidez e se precipitar até o aparecido?
Em 1975, numa garagem, pra salvar seu filho preste a ser esmagado por um
automóvel, uma mãe levantou o pesado veículo... e caiu, seguidamente, em
síncope!
Num acesso de furor os dementes podem arvorar objetos que em situação
normal nem poderiam despegar do solo.
As possuídas do Diabo estão igualmente nesse caso e é sabido que as
convulsionárias do cemitério Saint-Médard, em 1727, se entregaram, perto da
tumba do diácono Paris, a cenas nas quais o milagre ocorria emparelhado com a
insensatez.
Mulheres se faziam crucificar sem sofrer, outras pediam que as espancassem a
golpes de pau o mais violentamente possível... e, aparte alguns galos (e não
sempre!) saíam intatas dessas mortificações!
Fora de transe uma simples bofetada as levaria ao hospital. Mas nem as
pauladas nem o martírio podem contra a fé!
Crês que seja necessário crer àqueles que crêem intensamente?
Os universos paralelos aportam certa resposta a essa pergunta.
INICIAÇÃO
Capítulo XI
O IMAGINÁRIO E A ILUMINAÇÃO
112
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Herdar Deus e herdar seu pai (sem a proposição de) significa se voltar Deus, se voltar a seu pai. É dar a
mesma identidade a Deus e ao homem, ao pai e ao filho. Sobre outro plano, é ter o mesmo tempo, o
mesmo espaço, a mesmo origem, o mesmo destino, a mesma essência, o mesmo código genético.
Aprofundando, Ph. Lavastine sugere que o universo é um vasto sonho, povoado de imaginação. No
transcurso desse sonho Deus se imagina no homem e nos acontecimentos como o que dorme se imagina
em seus fantasmas.
113
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Sylf pariu, espiritualmente, a cidade de Kobor Tigan's* mas todos imaginaram
verdadeiro.
O verdadeiro em seu universo ou nalgum outro que não conhecemos e onde
suscitam suas personagens, como Merlim o mago, mostrador de imagem, fazia
nascer castelos, exércitos, bosques e ninfetas pela onipotência de seu
pensamento criador.
Como dom Quixote suscitava aventura, dulcinéias e gigantes e como Deus
imaginou o universo, ou melhor: Os universos múltiplos que desconcertam a
lógica e fazem que a mentira seja verdadeira e que a verdade seja mentira.**
Porque, finalmente, tudo se confirma, se reúne, converge, coincide: As imagens
do mundo e as imagens inventadas por físicos, poetas e dormentes.
Ler de Christia Sylf: Kobor Tigan's ou le régne des géants (Kobor Tigan's ou o reino dos gigantes),
Edições Robert Laffont, Paris. A um nível nitidamente menos elevado, quando faz vinte anos os pré-
historiadores acreditavam na Antigüidade do Homem de Montbron, na autenticidade do ecantropo de
Piltdown, um precioso apelativo pra uma brincadeira de estudantes de medicina, nas cavernas, únicos
habitáculos dos homens pré-históricos, e em antepassados com só uma antigüidade de 800.000 anos,
afirmávamos, sem prova material senão pela lógica e imaginação que esses decretos oficiais eram
errôneos e que, principalmente, a antigüidade do homem se remontava a milhões e milhões de anos!
Deus sonha o mundo mais que o imagina.
Pessoalmente, não concedemos crédito a uma criação do universo e pensamos que é eterno e existiu
sempre.
Nos mundos da antimatéria, Science et vie (Ciência e vida), #672, página 58.
20 Ver, no final do livro, nota sobre a diferença de nomenclatura numérica entre Américas e Europa.
114
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Conseqüentemente, a luz, supostamente pré-original, engendra uma criação
material: As partículas de natureza oposta: O próton-antipróton, o nêutron-
antinêutron e o elétron-pósitron.
Partículas e antipartículas reagem entre si pra provocar uma transição de fase
ao interior da radiação cósmica», significa que, de certo modo, se converterão
em isômeras, no gênero muito aproximativo: Água e gelo.
Partículas e antipartículas, às vezes, se disseminarão e outras vezes (com maior
freqüência) se reagruparão no cosmo, de modo que matéria e antimatéria
correm o risco de reconstituir a Luz original, o que resultaria numa dupla
transmutação puramente negativa.
Afortunadamente, elementos dispersos na imensidão cósmica escapam a essas
novas interações e constituirão mundos e antimundos, galáxias e antigaláxias.
O Grande Sol original de luz se metamorfoseou parcialmente em universo ao
produzir, ao mesmo tempo, fantásticos campos radiativos.
Por estranho que possa parecer aos empíricos, a maioria dos físicos crêem, de
pés juntos, na existência da antimatéria e dos anti-mundos. Ou seja, num ou em
universos paralelos.*
Por definição o antimundo seria constituído de antipartículas, opostas,
provavelmente de modo simétrico, às partículas de nosso universo, o que
equivaleria a dizer que esse antimundo poderia ser a imagem invertida do
nosso.
O que entre nós é visível, espesso, impermeável, duro, luminoso, pesado,
quente ou escuro, seria no anti-universo, invisível, delgado, permeável, mole,
escuro, leve, frio ou luminoso, etc.
Aqui se trata de simples especulação intelectual porque, como poderíamos
imaginar um anti-universo com anti-galáxias, anti-estrelas, anti-planetas, anti-
homens, anti-mulheres, anti-árvores, anti-rios e anti-montanhas?
No entanto, segundo determinados físicos, esse mundo absurdo, incrível,
impensável, conseqüentemente fantástico, existiria, embora pareça impossível!
Os ocultistas se manifestam:
— Então, esse mundo, do Diabo se se considera que Deus está conosco, ou de
Deus se se crê que Satã leva a batuta, não é esse Outro-mundo do que falam as
mitologias. Ou então esse universo paralelo que, ao interferir, às vezes, com o
nosso, explicaria as desaparições misteriosas, a levitação, a vidência, os ufos e o
supranormal em geral?
É, de certa forma, o que pensam os físicos a propósito de J.-P. Girard.
A TRANSFERÊNCIA MUNDO-ANTIMUNDO
O Grande Sol, dessa vez original, esse Grande Cérebro primevo e total que
continha em potência os universos, os seres e as coisas da criação pode ser, em
certa medida, assimilado ao cérebro humano?
Os esoteristas, a quem a palavra de Hermes Trimegisto e dos grandes iniciados
é uma garantia mais segura de labirinto que as hipóteses dos cientistas,
O físico sueco Oscar Klein supõe um universo original já formado dum mundo e dum antimundo
separados por um escudo protetor: O ambiplasma. O físico russo Sajarov e o estoniano Gustavo Naan
também imaginam universos de matéria e de antimatéria parecidas mas inversas.
115
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
admitem como postulado de fé que o que está acima é como o que está abaixo,
que o que está em Deus está igualmente no mais ínfimo grão de areia.
Ademais, como o diz Ph. Lavastine: Herdamos Deus!
Nessa ótica o cérebro humano teria propriedades e poderes análogos àqueles do
Grande Cérebro primevo.
É certo que não sabemos utilizar esses poderes mas não há dúvida de que os
possuímos.
Quando um homem está iluminado* por uma crença intensa o milagre está a
seu alcance: A mãe adivinha o perigo, o santo levita, caminha sobre a água,
cura doenças consideradas incuráveis, o sábio descobre, o paralítico anda e o
cego recupera a vista.
Não se diz que a fé pode mover montanha, entortar uma vara de metal?
Ao se relacionar, geralmente, o milagroso com a fé, se pode pensar, em forma
de hipótese de trabalho, que fenômenos singulares nascidos no cérebro,
engendram um universo antiparticular análogo ao que foi engendrado pela
iluminação original.
Nessa condição o corpo físico do iluminado passaria dentro doutro mundo.
Pensamos também no fenômeno de ubiqüidade observado sobre as partículas
que se colocam sobre órbitas mais excêntricas quando se lhes aporta um fluxo
suplementar de energia.
Ao contrário, é admitido, em física nuclear, que partículas e antipartículas
podem entrar em combinação, desaparecer como matéria e reaparecer como
radiação eletromagnética. Quer dizer, em grande parte, como luz.
Em resumo: O vai-vem de nosso universo noutro (do mundo ao antimundo)
estaria vinculado a uma espécie de transmutação de nossas partículas materiais
constitutivas em antipartículas, se produzindo o fenômeno à nível da vida
psíquica, a qual não é governada pelas leis do universo do consciente.
O agente eficiente do mecanismo e sua razão residiria numa zona desconhecida
de nosso cérebro e teria como catalisador, senão como determinante, um
potencial de energia-fé.
A transferência de mundo a antimundo assegurada pelo repetidor luz no jogo
dos físicos, sempre foi assimilada, pelos esoteristas, à iluminação.
Coincidência estranha ou labirinto empírico?
Não dissociamos a iluminação da esquizofrenia e das interações que pode ter nossa organização psíquica
com o modo arcaico de pensar (o pensamento primitivo do feto). Em todos esses casos extremos, o legado
genético (os cromossomos-memória) intervém ressuscitando os grandes sentimentos que impressionaram
os homens dos tempos muito antigos: Medo aos cataclismos, beatitude numa espécie de paraíso primitivo
no qual tudo era possível. Nesse processo fenomenal, o espaço-tempo e suas conclusões lógicas adquirem
um valor particular não perceptível por nossas mentes condicionadas. Certos povoados primitivos e,
principalmente, os aborígines australianos que estão, todavia, vinculados com o tempo do sonho
continuam vivendo nesse sistema de irrealidade.
116
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O homem, curioso por natureza, tenta explicar o que a razão dos lógicos não
pode.
As hipóteses de George Gamov permitem certa aproximação à percepção dos
universos paralelos mas não a compreensão dos fenômenos mais freqüentes
tais como: Visão, alucinação, levitação, milagre, etc., onde o inverossímil não
abandona mais que parcialmente nosso universo cotidiano.
Filipe Lavastine se compraz em dizer que o homem é sábio na medida em que é
saboroso, sápido (do latim, sápidas).
Muito bem, os latinos, pra designar um imbecil diziam que era insapidus
(insípido).
O que é gráfico pertence à mesma linguagem do significado e o imaginário tem
mil vezes mais significado e é mais certo que o estudo demonstrado,
comprovado, controlado pelos irrisórios critérios científicos.*
Mas, apesar dos cientistas, o homem tem necessidade de sonhar pra se realizar
plenamente num universo íntimo, imaginário.
Se realizar é um neologismo significativo: Desenvolver toda sua medida, dar
corpo a suas imagens-desejos, a sua ambição, se converter no que se deseja ser
de grande ou de sublime e não o que se é que, em geral, se considera pequeno,
ridículo e injusto.
Sem o imaginário a aventura humana seria inviável.
Impossível se olhar num espelho, ver com a verdade do objetivo fotográfico, a
esposa, os filhos, a casa, julgar a própria obra, o comportamento, a situação, o
porvir, a saúde, a perspectiva de vida, etc., sem misturar nele a esperança, a
inteligência e a qualidade.
Impossível não imaginar, esperar um manhã melhor, um êxito, um futuro
agradável e tranqüilizador.
Senão, seria a desesperança, quiçá o suicídio.
O homem não pode aceitar a vida estritamente presente e estancada.
O imaginário pertence à essência da vida, a seu dinamismo e à evolução natural.
O ritmo, o vivo, estão, fundamentalmente, em previsão imaginária do instante
seguinte.
O presente é atual, o futuro é sempre aleatório.
Poderíamos viver sem o futuro?
Com esse estado de espírito o mecânico sonha ser Ford ou Bugatti. A balconista
sonha ser estrela. O infradotado, dono do mundo.
Sem esses sonhos a vida se converteria num pesadelo. Com esses sonhos
foram conquistados reinos, estabelecidos impérios, descobertos mundos.
Graças a ele Schliemann desenterrou Tróia, Cristóvão Colombo chegou à
América e doutor Cabrera encontrou as fantásticas pedras de Ica.
Sua necessidade é tão vital que certos indivíduos chegam até a substituir a
realidade cotidiana pela irrealidade imaginada.
Foi o caso de todos os dom-quixotes da história e dos aventureiros que se
perderam nas selvas virgens da Amazônia ou nos bosques insólitos da busca ao
Graal.
Todo homem sonha em se converter no que não é, em adquirir o que mais lhe
falta.
Sua individualidade é tripla: O que são, o que crêem ser, o que quiseram ser,
mas, de fato, sua aventura humana evolui sempre em dois planos: Algumas
vezes na irrealidade cotidiana (trabalho, metrô, aperitivo, Mao, macio, cama,
visão benévola do eu). Outras vezes na irrealidade do imaginário (sonhos,
imagens-desejos, aspirações políticas).
Porque o que se chama realidade cotidiana é uma farsa tanto no plano físico
como no plano mental.
A realidade das cores, das formas, dos odores, dos sons, é, como se sabe,
função de nossa percepção precária e de nossa interpretação presumida. O
daltônico não distingue o vermelho do verde; Brigitte Bardot é um cânone de
beleza ou uma mulherzinha bem formada; tal odor é agradável a A.,
nauseabundo a B. e o jaz, segundo os critérios, é uma música ou um barafunda
de decibéis.
Assim mesmo o homem gosta de se julgar formoso, inteligente e bom, mesmo
sendo horrível, tolo e maligno. Em resumo, vivemos numa irrealidade cotidiana
que nos comprazemos em qualificar de realidade.
Na irrealidade do imaginário,* se nos atrevemos a empregar este pleonasmo, ou
irrealidade do interior, participa outro universo, ideal com a maior freqüência (de
pesadelo, às vezes), onde nos deleitamos porque cremos em todas suas peças
ou porque corresponde a nossas imagens-desejos.
Ninguém melhor que o admirável Cervantes soube dar a imagem vibrante da
irrealidade plural e dos universos particulares por ela engendrados.
Por uma campina muito real, há alguns séculos, cavalgava ao passo do mais
lamentável cavalo do mundo o maior dos cavaleiros errantes que nasceu sob o
céu da Espanha: Dom Quixote da Mancha.
Nutrido com as aventuras de Reinaldo de Montaubano, de Amadis de Gaula, de
Palmerim da Inglaterra, de dom Galaor, e dos Cavaleiros da Távola Redonda,
Se pode dizer a irrealidade do imaginário porque o imaginativo é tão real (e irreal) como o cotidiano.
118
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
dom Quixote não punha em dúvida, nem por um instante, que seria seu igual,
senão superior.**
Era, em seu pensamento, uma verdade que surgia da evidência.
Sob esse ponto de vista seu pobre e esquelético rocim, Rocinante, era o mais
fogoso dos cavalos de batalha, o digno Bucéfalo do Alexandre dos paladinos.
Outra evidência pra dom Quixote: Nalguma parte, no final daquele caminho
empoeirado, queimado pelo sol do meio-dia, ia encontrar o Bosque pleno de
aventura e, provavelmente, uma bela jovem de longo cabelo dourado, prisioneira
num torreão.
Um príncipe malvado a perseguia e a loura heroína, inclinada sobre as ameias
da alta torre, o chamava, a ele, dom Quixote da Mancha, com toda a força de
seu desespero.
Na grande instabilidade e flutuação da Lua, do Sol e dos astros, essa Verdade,
fruto da ilusão, habitava no bom cavaleiro e o confortava em sua missão.
Mais vale dizer de imediato que dom Quixote vivia, digamos, 60% no universo
cotidiano, chamado real: O caminho era, sem dúvida, um caminho, o sol era
ardente, a couraça pesada e embaraçosa. E 40% no universo imaginário dos
lances de cavalaria.
A seu lado Sancho Pança representava a multidão, o mundo comum.
Definitivamente: 90% de realidade e 10% de imaginário.
Porque, de qualquer maneira, o bom rústico tinha, também, suas imagens-
desejos, sua imaginação!
Não lhe havia prometido dom Quixote lhe dar uma ilha pra governar? E quando
havia oportunidade lhe recordava a promessa.
Pra acompanhar o Louco sublime não lhe era, também, necessário, sua dose,
sua pitada de loucura e de esperança nalgum ideal?
Os heróis dos livros de cavalaria que dom Quixote toma por modelo são os que se encontram nas
novelas de:
— Feliciano de Silva (século XVI): Crônica dos valorosos cavaleiros dom Florisel de Nicéia e o valoroso
Anaxarte. (Sevilha, 1546.)
— Huon de Vilanova (ou um trovador do século XIII): Renaud de Montauban ou a lenda dos quatro filhos
Aymon.
— Vasco de Lobeira, escritor português de língua espanhola, um dos autores de numerosas novelas de
cavalaria, entre eles Amadis de Gaula, chamado o Cavaleiro do Leão, ou o Cavaleiro da Verde Espada.
— Anônimo: O Poema de Meu Cid.
— Roberto de Boron, Geoffroy de Monmouth e, principalmente, Robert Wace (autor do Brut) que
imaginaram as novelas da Távola redonda.
— Chrétien de Troyes: Le chevalier au Lion (O cavaleiro em Lião) (homem-unicórnio da rainha Genebra).
— Melquior Pfeizing: Aventuras perigosas do louvável, piedoso e muito renomado herói e cavaleiro
Tuerdank (Carlos o Temerário, duque da Borgonha, que foi uma espécie de dom-quixote e que, como ele,
se equivocou sobre seu tempo. Foi um dos últimos cavaleiros com Francisco I e Henrique IV).
Mencionaremos que, em 1654, foi escrito um livro contra a Cavalaria e contra dom Quixote, por dom
Jerônimo de São Pedro. Seus heróis eram o Cavaleiro do Leão (Jesus) e o Cavaleiro da Serpente (Lúcifer).
O livro está dividido em raízes: Raiz da rosa fragrante. Os capítulos são Folhas da rosa ou Maravilhas. O
título da terceira parte do livro, que jamais foi escrita, devia ser: Flor da rosa odorífera. O livro foi proibido
pelo Index expurgatorias em 1667!
119
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Eis que Sancho Pança, pensando que já passava do meio-dia e que um almoço
lhe cairia muito bem, percebeu, na lonjura, trinta ou quarenta moinhos.
— Senhor, — exclamou — lá vejo moinhos de vento!
E Sancho Pança não mentia:
— Vejas perfeitamente, com teus olhos, ali, no final do caminho, autênticos
moinhos de vento.
Dom Quixote ficou, então, imerso no mais profundo de suas quiméricas
aventuras: A donzela da alta torre lhe suplica que a libere. Ouve suas chamadas
e já não está, senão muito vagamente, a caminho da Mancha. Em resumo, 70%
dele está no bosque da aventura e somente 30% cavalga com Sancho Pança.
Ante as exclamações de seu escudeiro, alça os olhos até o horizonte e protesta
com veemência:
— Sofres alucinação, meu pobre Sancho! O que crês que são moinhos de vento
são, nem mais nem menos, gigantes. Gigantes que se querem me desviar de
minha aventura mas não o conseguirão.
E dom Quixote não mente. Vê, de fato, gigantes. Vê seus corpos maciços, seus
largos braços de 2 léguas (8km) de largura.
De fato, Sancho Pança, pleno do bom senso dos ignorantes, vivia, quase
permanentemente, em sua irrealidade cotidiana, comum, enquanto seu amo, em
transe como Lugue, Gilgamés, Sigurde e Lancelote do Lago, evoluía com a
máxima freqüência nas paragens doutro universo sem, por isso, abandonar
fisicamente o dos homens.
No século XIII, quando um cavaleiro da Távola Redonda saía buscando aventura
ou o Graal, perambulava 50% num mundo geográfico que era a Pequena ou a
Grã-Bretanha, e o restante de seu universo estava em seu pensamento, em sua
imaginação e em sua fé no encanto que lhe permitiria penetrar no Bosque
perigoso.
É o caso das partículas singulares descritas pelo professor Bernard d'Espagnat, do Colégio de França.
120
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Isso é o que imagina J.-B. Hasted com seu universo que é uma função de ondas
únicas onde poderiam existir numerosas versões de nós mesmos.*
Esse fenômeno, que poderia ser produzido sem ubiqüidade, daria explicação às
desaparições totalmente incompreensíveis relatadas nas mitologias, nas lendas
e até na atualidade do século XX, e também às faculdades psi de J.-P. Girard.
Explicaria também a invisibilidade, a imponderabilidade, o passo do + ao –, do
criado conhecido ao nada imaginário, a perda das qualidades inerentes à
natureza do cotidiano, por exemplo, a anulação da gravidade que desemboca na
levitação das que foram testemunhas pessoas cuja boa-fé é difícil negar.
É possível esse tipo de milagre?
As tentativas de explicação não são mais que hipótese fantásticas e vãs, ou
mais se aproximam, em certos aspectos, a uma verdade difícil de crer e
impossível de delimitar?
Seja o que for, tais especulações, que irritam os racionalistas, são sempre bem
acolhidas pelos investigadores e são benéficas àqueles que repelem os tanteios,
o ostracismo e os malefícios duma ciência satânica cujo resultado mais claro no
final deste século XX foi o de mergulhar o mundo na insegurança, medo e
desespero.
Cada vez mais o homem honrado repudia essa ciência que é amoral, perigosa,
sacrílega e fastidiosa. O sonho, a poesia e a irrealidade são mais necessários ao
humano que os foguetes espaciais, que o crânio do australopiteco e a bomba
atômica.
Ver de novo: Aux frontières de l'incroyable (Nas fronteiras do inacreditável), capítulo VIII: Universos
paralelos e universos aberrantes.
Le Paradigme perdu: A nature humaine (O paradigma perdido: A natureza humana), Edições du Seuil,
Paris.
121
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Tentou, por conseguinte, programar o melhor possível sua ação e foi, então,
quando se produziu a possibilidade de erro.
Essa consciência de seu estado e essa presciência dum porvir possivelmente
dramático, desencadeou no homem da primeira era todo um processo de
estados emocionais onde brotaram o riso, o desespero, a esperança, o medo, o
delírio ou a poesia com, afinal de conta, prática de salvaguarda que se
converteram na magia, na religião, determinando a idéia de Deus.
O imaginário se tornou, então, o motor da atividade humana em todas as
direções da arte, da indústria, do comércio e da sociedade.
A imaginação é o maravilhoso resguardo do homem inteligente.
As mitologias e as religiões, escreveu Morin, florescerão sobre a hiper
complexidade de seus dez mil milhões de neurônios e de 1014 dos sistemas e
combinações possíveis pra seu computador celular.*
O risco de erro ficou infinitamente provável tanto ao computador biológico como
ao homem.
Nossa civilização e nossa evolução se encontram, por esse motivo,
automaticamente falseadas já que os biólogos demonstraram que os azares do
ADN e do ARN as condicionam fundamentalmente.
Em resumo, o super cérebro do homem o desconecta das leis naturais e lhe
devolve ao ponto zero do verdadeiro labirinto.
Certo é que o homem sábio, aparentemente, triunfou, posto que dominou a
Natureza, mas é uma vitória pírrica21 da qual não se recuperará.
A autonomia que conquistou está, quiçá, na linha secreta e querida de seu
destino. Nesse sentido é uma criatura privilegiada, o que, a muitos, pode
parecer evidente.
Então não haveria azar, senão relações aleatórias que desembocam no
indeterminismo ou, talvez, também azares providenciais, necessários e,
finalmente, calculados pela inteligência superior.
Nesse caso o destino do homem estaria determinado. Sua imaginação e sua
atração, até os erros úteis, seriam os rasgos característicos de sua evolução.
Os genes têm 8.300.000 combinações possíveis. Na elaboração duma criança as combinações possíveis
entre genes e cromossomos alcançam a cifra de 78 mil milhões.
21 Pirro (-318 – -272) (em grego Πυρρος, em latim Pyrrhus: cor de fogo, ruivo) foi rei do Epiro e da Macedônia, tendo
O PROBLEMA DA GARRAFA
prolongamento dos sábios da universidade de Princetão, em Estados Unidos. O professor Raymond Ruyer,
da universidade de Nancy, apresentou em seu livro: A gnose de Princetão, Edições Fayard, essa ciência
que exige, para ser compreendida, certa inversão de nossos esquemas mentais habituais que desconcerta
e encarrilha até novas perspectivas.
Pros físicos de Princetão o olho é um laboratório que deve transmutar os fótons (quantas de energia
luminosa que não se comportam como onda mas como projéteis, segundo Einstein) em ondas
eletromagnéticas. Existirá, pois, uma diferença de natureza entre os fótons ou grãos de luz e as ondas
eletromagnéticas normais. A natureza da luz é muito mal conhecida e, segundo France-Culture de 9-7-
1977, os físicos ainda não compreenderam o processo da fotografia.
124
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Talvez exista um trajeto inverso das ondas e dos fótons, mas não se está seguro
disso, posto que os biólogos imaginam que pra ver o exterior nosso eu estaria
obrigado a sair de nós, a se exteriorizar também.**
Nessa hipótese se produziria um trabalho fantástico que não se limitaria ao
objeto e ao processo de transformação, senão que transbordaria fora deles, fora
do ser humano e, sem dúvida, fora de nosso universo conhecido.
O observador humano, tu, nesse caso, transcenderia, então, até se exteriorizar,
até se converter numa supraconsciência, super universal no sentido em que
parece ter um fenômeno de ubiqüidade.
Mas o eu consciente e lúcido do observador nada saberia do mecanismo, do
irracional, da magia de seu desdobramento.
A menos que seu prodigioso cérebro imagine o exterior como se, ao sair dum
cine, contemplasse o filme além da tela, sobre o próprio cenário onde foi
filmado.
Esse jogo, excessivamente sábio e complicado pra nosso débil entendimento
tem, sobre um plano menos elevado, o interesse de nos facilitar a aproximação
ao Misterioso Ignoto e aos universos paralelos.
Somente os sábios mais sutis captam esse ignoto insondável que governa
nosso pensamento, nosso comportamento e nossas funções mais elementares.
Como somos ignorantes! Tudo é exato porque tudo é magia, ilusão, maia.
O PECADO DO EU
De fato, esse eu, esse ego que tanto nos preocupa não tem tangibilidade,
realidade muito evidente!
Existimos? Certamente!
Mas, melhor, à maneira duma célula pertencendo ao himalaia universal, e não
como indivíduo consciente, livre, unitário.
Escolhemos nosso sobrenome. Nosso nome de batismo. O cor de nossos olhos,
de nosso cabelo, nossas taras hereditárias, nossa nacionalidade?
Escolhemos nascer no século XX?
Verdade que não?
Então, tentemos encurralar, isolar nosso eu, muito pessoal!
Esse eu, que somente aparece com a evolução, o nascimento das civilizações e
a dissociação do cósmico.
De fato, parece que os homens primitivos não tiveram a preocupação de se dar
um nome próprio. Levavam só o nome do clã, e nem isso é certo.
Os esquimós, não faz ainda muito tempo, quando falavam de si diziam Este
homem.
Entre os negros, a que o racismo se identificou com o espírito tribal, essa
ausência do eu é ainda tão vívida que, por um crime cometido contra um de
seus membros, outra tribo pode, indiferentemente, matar quem quer que seja
que pertença ao grupo rival.
Já o mencionamos mais acima: Está admitido em física nuclear que partículas (grãos de luz, ou fótons)
podem desaparecer como matéria e reaparecer como radiação eletromagnética.
125
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Não se lhe ocorrerá, sequer, ao condenado o pensamento de dizer: Não fui eu,
dado que seu eu está inteiramente integrado no nós.
O mesmo fenômeno impulsiona o homem mordido por uma víbora a se vingar
matando, mais tarde, qualquer víbora.
Porque essas víboras não têm nome próprio, como tampouco o têm a nuvem, a
árvore, a erva, a gota dágua e o grão de areia do deserto.
Todos têm, exatamente, um nome de família: Víbora berus, víbora aspis, nuvem
cúmulo nimbo, etc.
Quando o homem adquiriu consciência de sua individualidade (quando se
separou voluntariamente do todo cósmico: O pecado original) experimentou o
desejo de dar, também, uma identidade às coisas e aos seres da Natureza.
Primeiro classificou por espécie e por gênero pra não cansar demasiado seu
intelecto ainda pouco desenvolvido: Os ruminantes, as rapazes, os carvalhos,
etc.
Depois sua mente obteve os meios de armazenar nomes mais distintivos e
inventou a vaca, o boi, o cervo, o camelo, a águia, o falcão, a encina, o carvalho,
a sobreira, etc.
O mesmo processo seguiu quanto ao sobrenome dos homens.
No princípio foram sobrenomes de profissão: Alfaiate, ferreiro, carreteiro.
Entre os hindus o nome da mulher tinha que ser suave de pronunciar: Sita, Kali,
o nome do guerreiro: Rude e sonoro, o do brâmane: Poderoso e majestoso, o do
paria: Difícil de pronunciar e expressando a abjeção.
Entre os hebreus os nomes tinham um significado místico: Elias e Joel (dois
nomes de Deus) ou representavam uma característica ou qualidade.
Os gregos chamavam os meninos: Filho de fulano, e o homem não adquiria um
nome próprio antes do merecer por uma reputação individual.
Desse modo Aristocles se converteu em Platão devido à largura dos ombros e
foi esse apelido que ficou.
O apelido: O gago, o coxo, o forte, o simples, o audaz, etc., foi sempre mais
representativo do indivíduo que o sobrenome decretado pelas leis.
Cabe ressaltar que o eu pode se converter em nós e assim era no tempo dos
romanos, o Nós majestoso, pra significar que tal tirano, tal césar tinha o poder,
o valor, a força, a beleza, em resumo, o valor de várias pessoas.
Capítulo XII
OS CAMINHOS ENGANOSOS DO LABIRINTO
Não é fácil dar significado concreto aos símbolos e é ainda mais difícil lhes
assinalar uma hierarquia.
Geralmente se concede uma primazia ao sinal de Deus ou do Sol: O círculo,
assim como também a espiral, representam o Divino em sua manifestação mais
total: A evolução e o espaço-tempo.
Os outros símbolos mais correntemente evocados pelos esoteristas são a água,
o fogo, a serpente, o dragão, o labirinto, o falo, o jarro, a suástica, as estrelas, o
unicórnio, etc. Não obstante, se olvidam, com freqüência, os principais: |, —, +,
O.
O | representa ao homem, o — a mulher, o + o acasalamento e o hermafrodita,
ao O o ponto de neutralidade, o nó de tempo e de espaço no que tudo é
diferente ou não existe: O tempo e o espaço do divino.**
Naturalmente, depois dos símbolos principais de Deus, do universo, do triplo
mistério do homem, vêm as representações do falo, do jarro (taça-vulva), do
fogo, da serpente, da água.
Müller, etc.
127
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Esse ser do Deus tirou um costado (e não uma costela) pra criar Eva, mas
também pra criar seu companheiro, vulgarmente representado por Adão na
lenda bíblica e nas especulações da maioria dos esoteristas.
Não temos qualificação pra afirmar seja o que for mas podemos dizer que em
alta iniciação não é questão dum homem primordial, senão dum hermafrodita
primordial e, esperamos que a ciência dos biólogos lançará, algum dia, luz
decisiva sobre este ponto.
Já, a atualidade do século XX poderia despertar a atenção e, inclusive, as
suspeitas daqueles que têm olhos pra ver.
Antanho, e até no século passado, havia a Máter-taça e o Homem-falo.
A Máter sente renúncia por sua missão e, cada vez mais, se nega a procriar pra
permanecer bonita e se transforma na Lilite egoísta e experta em erotismo.
O erotismo substituiu o coito amoroso.
Por sua parte, o homem se afemina e rechaça se tornar pai.
Este processo evolutivo, intelectual e contestatório não se leva a cabo sem
interação com o processo físico. Sem dúvida, é motivado no inconsciente por
uma programação cujo objetivo é, quiçá, justificar pelo absurdo o fim duma raça
decadente.
Já o dissemos: O racismo é a lei superior do mundo orgânico e o pecado é não
ser racista.**
Desde que o homem perde de vista essa noção fundamental se despega de
Deus, do cósmico e se funde no deterioração.
Quando o carvalho esquecer que é carvalho e produzir um fruto distinto da
bolota, então os bosques desaparecerão e o pecado provocará um novo dilúvio.
Porque, no ensino secreto, o dilúvio não tem outro significado que o de castigar
o não-respeito do legado genético e do patrimônio da espécie.
Se pensou, durante muito tempo, com Platão, que a catérese do mundo (sua
destruição, sua pralaia)24 seria causada pelo fogo ou pela água. Logicamente, a
água que aporta a vida também deve proporcionar a morte.
O símbolo do fogo, a chama, tem, também, um valor gerador e destrutor mas,
ademais, evoca o pecado humano ou, melhor, o sentimento de culpa que atingiu
o homem.
Essencialmente, o fogo pertence ao Sol criador, a Deus, e não aos profanos.
O livro do passado misterioso, capítulo XIII: A escritura cromossômica e o pecado... Elogio ao racismo.
Toda a Natureza é racista. O pecado mortal.
24 Pralaia - Segundo a teosofia é o período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que não ocorre
atividade. Dura, segundo o cômputo dos brâmanes, 4.320.000.000 de anos. O período de atividade,
chamado manvantara, tem a mesma duração.
Tomando 360 manvantaras e igual número de pralaias, se obtém um Ano de Brama. A duração de 100
Anos de Brama forma uma Vida de Brama, também chamado de mahamanvantara, durando no total
311.040.000.000.000 de anos. Esse é, segundo Helena Blavatsky, o período de atividade do cosmo, se
seguindo um período de inatividade, chamado maapralaia, de igual duração.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Se o divino é pródigo em água que se infiltra na terra e ali se instala, o é muito
menos do fogo que, de qualquer maneira, remonta ao céu depois de expressar
sua onipotência.
E a onipotência divina é sempre um fenômeno de destruição: Não se contempla
impunemente o rosto de Deus.
Inclusive com lentes de cristais excepcionalmente negros e quase opacos, a luz
mais clara que 100.000 sóis da bomba atômica não deixa de ter perigo aos
olhos e a todo o corpo humano.
Há que se velar o rosto pra olhar a Deus, que tem, também, por símbolo a
bomba atômica e por expressão a explosão nuclear.
A bomba atômica é Deus, por fim redescoberto pelos homens.
Aqueles que estão lúcidos o compreendem: Os outros, muito orgulhosos de sua
ciência fecunda, sutil, e de suas realizações altamente materialistas, se
admiram, se repartem medalha e recompensa mas, no recôndito da consciência,
experimentam uma surda inquietude e maldizem aos bruxos satânicos que,
desde Joliot-Curie a Einstein, redescobriram o fogo de Deus e abriram a caixa de
Pandora.
Na verdade o fogo é tão gerador de invento, de evolução, tão necessários à vida
e à morte, tão magicamente fértil que sempre esteve unido à essência mesma
de Deus ou a seu arsenal divino (o raio).
Ao inventá-lo ou ao recolhê-lo por subterfúgio, o homem imaginou que
ultrapassava seus direitos e furtava algo divino, tabu. Então, se sentiu muito
culpado e acreditou se justificar infamando aqueles que a tradição dizia haver
roubado o fogo celeste.
É assim como o bom Lúcifer* e o admirável Prometeu pagou pelos humanos
sem ser beneficiado com sua gratidão.
Tudo o que é maravilhosamente mágico: O fogo, a fotografia, o rádio, o avião, a
televisão, etc., é, como a bomba atômica, salto do tabu e crime de lesa-
majestade.
Céu por amor aos homens. Jesus não é mais que um usurpador. Deu sua vida terrena mas não teria aceito
fazer doação à humanidade de sua vida eterna. Christia Sylf expõe que Lúcifer poderia ser o admirável
sacrificado que teria permitido o grande experimento em curso sobre a Terra.
Filósofo italiano do século XVI. Opôs à religião cristã a idéia dum mundo infinito, entregue a uma
evolução universal e eterna. Excomungado, degradado, o ilustre pensador foi condenado pelo Santo Oficio
a ser castigado com tanta clemência como se poderia e sem efusão de sangue: Foi queimado vivo!
Resultou benéfico que fosse sacrificado pra que perdurassem suas idéias. Aqui também tem sacrifício ao
deus.
129
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Se pode entender por isso que a humanidade não pode escapar aos tiranos da
política, da ciência, da cultura, que representam o fogo, um fogo de forja onde
perecem e renascem homens que vão ficando, sem cessar, melhor temperados
e aptos pra se liberar de sua escória física e mental.
Por isso mesmo, sem dúvida, posto que o que está acima é como o que está
abaixo, os universos se consomem, se regeneram, se afinam e, a cada vinte ou
cem mil milhões de anos, renascem com componentes mais sutis geradores de
criação e de civilização mais desenvolvida e mais inteligente.
E por isso o ferro brutal, arrancado à mina, se converte em sol cintilante no
coração do braseiro, e depois em relha de arado, folha, espada, poste após ser
moldado e temperado.
Há 4.000 anos, e mais, para pôr de acordo os feitos históricos e os mitos
científicos de seu tempo, os egípcios imaginaram o símbolo da fênix que
representava, esotericamente, ao mesmo tempo o ciclo cósmico, a marcha do
tempo, o transcorrer da civilização e as cheias periódicas do Nilo.
Essas cheias, vitais prà vida econômica do país, eram observadas pelos magos
(sábios, médicos, copistas e sacerdotes) das Casas de Vida, espécie de
academia científica egípcia.
Esses magos notaram que quando acontecia a inundação um pássaro magnífico
planava sobre a água ou pousava numa ilhota.
Era a garça cinzenta de duplo penacho e de largo bico que, nas auroras auro-
rosas ouro vale do Nilo, se recortava, às vezes, hierática, impressionante, sobre
o disco vermelho do deus-sol Ra.
A imaginação popular se comprazia em o crer parido pelo astro da manhã e o
associava ao mesmo Deus, com o touro Mnévis e ao betilo, onde o primeiro sol
se havia levantado no início do tempo.
Essa ave milagrosa, anunciadora da boa-nova, os egípcios a haviam chamado
boinu e os gregos phénix, palavra que significa vermelho, como a palavra fenício
designando a Adão e aos vermelhos, primeiro homem e primeiros habitantes da
Terra.
Quando o ave regressava, principalmente a Heliópolis (Cairo) onde era objeto de
culto, em todo Egito se produzia um estalido de alegria.
— A fênix voltou!
Então se sabia que o arroz cresceria em abundância e que os meninos nascidos
nessa época receberiam uma bênção excepcional. Pouco a pouco a fênix foi
identificada ao Sol. Como ele, parecia surgir sobre a água primordial fertilizante
e «reinava sobre os ciclos trintenal e as festas da vida regenerada», escreveu o
egiptólogo Serge Sauneron.*
Mas foram os gregos, de imaginação ainda mais fértil que os egípcios, que
criaram o mito da ave maravilhosa que, no final da vida, se deixava consumir
pelo Sol apra renascer de sua cinza, às vezes com a forma de verme ou ovo.
O SACRIFÍCIO DO PELICANO
O LABIRINTO
Ver o conceito em imagens que Eduardo Pastor desenhou sob a forma de tarote em seu suntuoso álbum
Le chemin d'images (O caminha das imagens), impresso na oficina de Pastor-Création, em serigrafia
manual, Caminho do moinho, 60950 Ermenonville.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O LABIRINTO DE CRETA
Construído, por ordem do mítico rei Minos, pra servir de prisão ao Minotauro, o
labirinto de Creta supera, em notoriedade, o lago Carum. Os simbolistas mais
expertos se perdem em conjetura sobre esse labirinto, sem dúvida, construído
pra apagar o vestígio dum duplo pecado: O duma ofensa aos deuses e o dum
amor pecaminoso da bela Pasífae a um touro demasiado formoso e demasiado
branco.
Já se conhece a conclusão: Teseu conjurou a calamidade.
A partir deste elemento é possível seguir o fio de Ariana e adivinhar o mistério?
Ler de Paul de Saint-Hilaire: L'enigme des labyrinthes (O enigma dos labirintos). Edições Nardon,
Bruxelas.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Todos esses elementos são frágeis, difíceis de relacionar entre eles e reteremos,
finalmente, o que nos parece essencial: O pecado de Pasífae se acasalando com
um animal e o nascimento dum monstro metade homem metade touro.
A Bíblia relata, no Levítico, capítulo XVIII:
23. Não te unirás a besta, te manchando com ela. A mulher não se porá ante
uma besta, se prostituindo ante ela. É uma perversidade.
24. Não vos mancheis com alguma dessas coisas, pois com elas se mancharam
os povos que atirarei de diante de vós.
Minos era o soberano dum país muito próximo ao Egito, onde abundavam os
deuses semi-homens, semi-chacais ou abutres, íbis, gatos, touros, etc.
Se pode, pois, pensar que em tempos muito remotos os homens adquiriram o
costume de fornicar com animais, com grande prejuízo a sua raça.
Nessa hipótese o labirinto seria o símbolo da luta difícil, arriscada, que os
homens tiveram que travar contra monstros para garantir o domínio do mundo.
Outras explicações: Culto solar contra culto taurino, luta do povo grego contra a
hegemonia cretense (talassocracia), a imagem do circuito abdominal humano
com suas diferentes saídas ou do ovóide cerebral, cuja imagem representativa é
um labirinto análogo ao do abdômen* e, por último, como dizíamos mais acima,
num sentido mais elaborado: Encaminhamento do Adepto pela via do labirinto e
da luz.
Então matar o Minotauro significaria matar o monstro de suas noites, de seus
desejos nefastos pra acessar um dia novo.
Essa última hipótese se vê apoiada pela descoberta efetuada na Bulgária, perto
da célebre estação termal de Kustendil, dum labirinto anterior aos da Grécia
antiga, que conduzia à água milagrosa, muito conhecida pelos trácios, povo
pelágico muito antigo.
Há, também, analogia com a orelha que, estranhamente, reproduz a imagem do feto no ventre materno.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Reduzida a um nível mais popular, a um período mais acessível, a peregrinação
se fez exatamente nas igrejas e nas catedrais e deu origem aos labirintos que os
arquitetos traçaram sobre o enlousado dos monumentos.
Le pays des zendjs (O país dos zendes), por L.-Marcel Devic, Paris, Librería Hachette, 1883.
Histoire da nature, chasse, vertus, propriétés et usage da lycorne (História da natureza, caça, virtudes,
propriedades e usos do unicórnio), de Laurent Catelan, Montpellier, 1624, página 11.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Por definição, o unicórnio era o namorado ao qual se obrigava às piores
humilhações por brincadeira, unicamente por prazer e diversão. O protótipo se
acha em Lancelot ou le chevalier à la charrette et la soumission à la dame (O
cavaleiro de carroça e a submissão à dama), de Chrétien de Troyes.
O SÍMBOLO DO BOSQUE
Le mythe da dame à la licorne (O mito da dama ao unicórnio), de Bertrand d'Aslorg. Edições du Seuil.
Lore of the unicorn (Tradição do unicórnio), de Odel Shepard, Boston, 1930.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Pertence, por natureza e por beleza, à Idade Média do maravilhoso, do bosque
de Brocelândia, à cidade construída sobre e sob do mar. Ou ao meio do lago que
se franqueia por uma ponte invisível.
O unicórnio é a irmã gêmea da Dama do Lago, de Viviana e de Melusina.
Em seu reino secreto, como no da rainha Rianão da mitologia céltica, o tempo
cessa de transcorrer estando perto dela ou a ouvindo falar.*
E regressamos à cidade de Luz com suas formidáveis muralhas, tão espessas,
tão largas, tão altas, sem ameia, sem janela, sem porta.
Mas, como entrar a uma cidade sem abertura?
No entanto, há de haver uma comporta. Há uma comporta em toda parte...
Inclusive no labirinto que, de fato, pode ser um universo de duas dimensões:
Comprimento e largura.
Nesse sentido se pode escapar por acima, como Dédalo, ou por abaixo, como o
rio, a serpente, a quimera!
Nessa aventura iniciática em forma de labirinto, o unicórnio é, quiçá, o carneiro
de corno único que conduz, por uma só via, até o destino dos Filhos da Luz, o
que sabe transcender.
Seu corno tem o poder de transmutação. Por isso é essencial que o adepto
cubra de linho branco pra domesticar o animal e furtar seu labirinto, como
mataria o Dragão, a Serpente, com o mesmo desígnio.
A religião judaico-ocidental cristianizou essa imagem do unicórnio o
transmutando em cervo.
O cervo crístico, perseguido no bosque, se detém, se volta, encara seus
perseguidores, os caçadores e, pela virtude de seus olhos de amor, lhes insufla
a fé.
O unicórnio era, com freqüência, carranca de proa sobre os batéis de alto mar
mas, como a sereia, passava por os arrastar ao fundo.
Se assegura que, antanho, nos tempos do maravilhoso, marinheiros se atiraram
à água, estavam seguros de ver nela o palácio das sereias e dos unicórnios e
habitar ali no luxo dum harém oriental.
Também antanho, se atiravam na água dos lagos pra ver a Dama, Morgana,
Viviana ou Melusina, e aqueles que acreditavam não morriam, senão que viviam
eternamente na cidade do fundo da água.**
Uma cidade ou um reino do que não se poderia escapar nem sequer morrendo,
porque o princípio da imortalidade parece inerente ao dos Outros Mundos.
E regressamos à cidade de Luz, a das muralhas infranqueáveis e dos habitantes
imortais.
Denominador comum ao Unicórnio, a Melusina, a Morgana, a Viviana, à Dama
do Lago e à cidade de Luz: A imortalidade.
Quer dizer: O alimento do Graal que era o caldeirão mágico de Korridwen, com
seu néctar do labirinto e da imortalidade, do que Gwyon havia tragado uma
gota. Que era, também, o jarro adornado de Amrita resultante do batido do
Na tapeçaria De la dame à la licorne (Da dama ao unicórnio), do museu de Cluny, a Dama empunha um
espelho que reflete a cabeça do animal. É a perfeita evocação da passagem ao Outro Mundo.
O advento do supranormal milagroso e da fé reencontrada nos incita a não rechaçar logo a idéia do reino
submarino onde podem sobreviver aqueles que àli foram com a fé.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Oceano primordial (o mar de leite), com seu elixir que jugulava pra sempre a
morte, pelo menos pros deuses.
Os grandes arcanos sempre se relacionam por laços tênues mas poderosos que
são invisíveis ao profano.
O alimento do Graal, do Caldeirão, do Jarro adornado védico é o sangue da
Serpente, do dragão Fafnir que, na mitologia escandinava, dava a iniciação e a
compreensão da linguagem dos pássaros.
Quem bebe o sangue do Iniciado, do Rei, de Deus, adquire seus privilégios.
Ocorria o mesmo com o sangue do unicórnio, ao qual era necessário matar pra
lhe roubar algo precioso, divino.
Seu destino era, pois, perecer, encantar mas perecer, iluminar mas perecer.
Quiçá era, também, seu destino arder sobre uma fogueira, como a fênix.
A vida e a morte são um todo, indissoluvelmente ligados a um e outro destino
que pode tomar a aventura humana: Se apartar da via, obedecer à contestação
de intelectual ou se integrar à ordem no rigor do tempo cósmico.
Ilustra este axioma um dos mais belos contos esotéricos imaginado por um
povo africano.
Capítulo XIII
A MISTERIOSA CIDADE DE LUZ
Segundo certas tradições o menino, ao nascer, aparece com uma luz sobre a
frente, a Estrela, que é a lembrança da vida anterior, o terceiro olho, ainda não
oculto, aberto sobre o domínio do tempo.
Mas o anjo do nascimento, que é também o da morte, apaga essa luz com a
finalidade de provocar a queda fora da eternidade que o menino deve padecer
quando escapa ao Grande-Outra Parte.*
Abreviando: O nascimento representa a ruptura com um imenso passado do
qual o ser é primitivamente depositário, mas que deve rechaçar, e com um
universo do qual deve sair, universo identificado com a mágica cidade de Luz.
Na tradição a cidade de Luz (quiçá a Suz de Abrão que teria se convertido, mais
tarde, na Betel da Palestina) tinha a forma da amêndoa mística (a vulva, o éden
da mulher = amêndoa, em hebreu) e suas muralhas sem porta nem janela, sem
abertura, ascendiam ao céu a uma altura vertiginosa.
Quem vivia nessa cidade cerrada nunca morria e gozava da Idade Áurea.
Os que desejavam morrer deviam se atirar do alto das muralhas do recinto ao
mundo onde existe a morte.
Também Deus experimentou uma mutação em condição análoga: Morreu ao sair da pedra, do universo
cerrado do betilo assírio-babilônico.
Devemos lembrar também de Metis, primeira esposa de Zeus, cujos filhos, como a mãe, deviam saber
mais coisas que todos os deuses e os homens juntos, segundo Hesíodo. Já sabemos como impediu Zeus
aqueles nascimentos privilegiados: Engolindo duma só vez Metis e o menino que ela levava.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
A treva hiperluminosa da iniciada Christia Sylf se identifica com a Grande Luz primordial da cosmogênese
clássica geradora do universo de partículas e de antipartículas. A treva hiperluminosa é um sol negro pelo
fato de que cega e não pode ser percebida.
25 Nenhuma tradição identifica o fruto. A maçã é uma imagem renascentista. Mas não poderia ser, pois
simbolismo e da escritura houve o | = o falo e a O = a vulva. Os antigos não se equivocaram nisso. Antes
de se curvar em forma de éden feminino, de rosa e de espiral, antes de errar em forma de labirinto até o
ponto em que tudo nasce e acaba, o traço primeiro de sua escritura representou um homem, quer dizer,
um falo, ou seja, um menir.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
— Deus não lhe proibiu esse labirinto?* Não o expulsou do Paraíso?
Mencionemos que Deus morre ao sair da pedra, do universo cerrado, compacto, do betilo. Igualmente o
menino, ao franquear a muralha, perde uma parte de sua identidade divina. Sai do Éden ou Beth Éden (a
cidade de Éden, o penhasco de Éden, quer dizer, A casa de pedra e de luz, a cidade de Luz).
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Ou seja, o labirinto do passado está escondido nas zonas neurais do cérebro
que nunca são solicitadas.
— As possibilidades da inteligência humana e suas aquisições científicas estão
programadas desde o nascimento e limitadas por um capital de 13 mil milhões
de neurônios* não renováveis com, ao contrário, uma perda irremediável, a cada
dia, de cem a trezentas mil dessas células. A faculdade intelectual do homem
estão, pois, programadas pra durar uma média de oitenta anos.
É de observar que os cem mil milhões de células normais do organismo humano
têm a propriedade de se renovar aproximadamente cinqüenta vezes.
Unicamente, e se adivinha o motivo, as células da inteligência não têm este
privilégio, senão e de modo aleatório, mediante seus prolongamentos, as
dendritas e a axona.
Os neurônios são as células do cérebro (córtex cerebral, cerebelo, tálamo), da medula espinal e dos
principais centros nervosos. Particularmente sensível, recolhem, conduzem e transmitem os estímulos. É
por esse motivo que, vulgarmente, são denominadas sementes de inteligência.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
E o elemento motor mais poderoso das grandes ações humanas é, e foi quase
sempre, o desejo de se destacar ante uma mulher, de a merecer e conquistar.
Não obstante, e contrariamente ao apagamento da estrela frontal do passado,
sabemos que nascemos sendo uma centelha, ou melhor, uma imagem de nosso
pai, de nossa mãe, de nossos avós e de toda a casta de homens até o Adão
primevo, se existiu, até o próprio Deus.
Sabemos que uma parte da história passada, que o cabelo da mãe, os olhos do
pai, os defeitos do avô ou seu gênio pro desenho ou a matemática, são
transmitidos, legados ao menino pelo código genético.
Tudo parece indicar que esse sagrado legado genético aprisiona, seqüestra uma
aventura passada remontando à incognoscível origem do tempo.
De certa maneira todos sabemos. Sabemos que fomos o bandoleiro Cartuche, o
cardeal Richelieu, Carlos Magno, um símio e um vírus ou algum extraterreno
vindo do céu e, antes, um deus cósmico: Lúcifer ou Prometeu.
Sabemos mas é impossível extirpar esse famoso saber, seqüestrado, sem
dúvida, nas zonas neurais que nos são inacessíveis ou que nos é proibido
solicitar.
Por quê? Só temos uma vaga idéia.
O que é importante, disse Christia Sylf, é a saída, a qual, de fato, pode ser uma entrada no eu ou na
Outra Parte original, fora do tempo, por transmutação. Imagem paralela: A Porta do Sol, em Tiauanaco,
permite a entrada e a saída, duma só vez, e por não importa que lado, posto que não dá, nem sobre um
interior nem sobre um exterior. Nesse sentido é o símbolo da passagem, da comporta que leva a outro
mundo.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Na tradição cátara Jesus vem ao mundo pela orelha de Maria** e conserva, por
conseguinte, a estrela da lembrança.
De fato, nenhum evangelista, nem Lucas, o mais prolixo, proporcionou
informação a esse propósito.
Está na linha tradicional pensar que Jesus não veio ao mundo passando pela
porta estreita de Maria sempre virgem.
Saiu, provavelmente, como diz a tradição cátara, ou pelo costado. Ou seja, pelo
seio ou coração de sua mãe.
Fica bem entendido que especulamos sobre o plano simbólico já que, assim
como o demonstra a história escrita nos papiros egípcios 1.500 anos antes de
seu nascimento,*** Jesus é um mito, uma ressurreição de Osíris e tanto um
como outro não tiveram existência real.
Mencionemos que, pra Christia Sylf, Maia e Júpiter, ao ser deuses, as diferentes
partes de seus corpos expressam ou representam diferentes lugares do
universo.
Curiosa relação: A borda e as volutas da orelha lembram, evocam a imagem do embrião humano e, em
acupuntura têm uma correspondência direta com a maior parte dos órgãos.
A documentação sobre a Paixão chamada de Jesus e vivida por Osíris, foi publicada em O livro do
passado misterioso, de Robert Charroux, editora Plaza & Janes, Coleção Outros Mundos.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Acrescenta o autor fenício: «Proporciona a celeridade que quer às hélices que
descreve em sua andadura... Os egípcios lhe acrescentam uma cabeça de
gavião por causa da energia dessa ave...»*
Entre os congoleses a serpente é o veículo dos deuses.
É o totem dos deuses venusianos do México e do Próximo Oriente e o inimigo
hereditário, com a Estrela (Vênus), dos hebreus e dos cristãos.
É Lúcifer portador da Estrela, a Quimera de fronte adornada com um carbúnculo,
Satã o difamado, Melusina Mãe-Luz...
Não é a Serpente de Estrela da mitologia, senão a Serpente-Estrela.
Se acreditou, muito tempo, que as víboras nasciam pelo flanco de sua mãe, o
que lhes evitava esquecer suas vidas anteriores!
Esse símbolo de eternidade vinculado à serpente é representado pelo réptil que
morde a própria cauda, pelo uróboro.
A VIOLAÇÃO DA DONZELA
PANDORA
147
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Ao ampliar o círculo de prospecção se encontraria uma analogia entre a cidade
de Luz e Pandora, Eva e Lilite da mitologia grega.
No tempo de Cronos os deuses e os homens celebravam festejo em comum.
Zeus Olímpico pretendeu impor sua supremacia aos homens e determinar a
parte que correspondia aos deuses na ocasião dos sacrifícios.
Encarregado da partilha Prometeu escondeu os melhores bocados num couro de
boi e os ossos sob uma capa de gordura que escolheu Zeus quem, furioso,
retirou aos homens o fogo inextinguível.
Então Prometeu foi à ilha de Lemnos, onde estavam as forjas de Hefesto, furtou
uma centelha do fogo divino, a escondeu num junco e a deu aos homens.
Zeus, irritado com essa segunda ofensa, enviou ao astuto ladrão um presente
envenenado: A formosa Pandora, modelada por Hefestos, o sublime artesão,
dotada de vida por Minerva e de todas perfeição pelos outros deuses.
Pandora portava como dote um recipiente misterioso, hermeticamente fechado
que, de fato, continha todos os males que deviam afetar a humanidade.
O amo do Olimpo esperava que Prometeu desposaria essa criatura de sonho
mas o herói desconfiou e foi seu irmão, Epimeteu, quem a tomou por esposa.
Pandora, por curiosidade, levantou a tampa do recipiente, deixando assim
escapar e se espalhar pela Terra os cataclismos e as calamidades.
Somente a esperança permaneceu detida sobre as bordas e não levantou vôo.
Foi assim que, depois da Idade Áurea e o paraíso terreno, a desgraça, com a
mulher supremamente bela, apareceu entre os homens.
Sempre furioso, Zeus desencadeou um dilúvio (chamado de Deucalião) pra
aniquilar a humanidade mas, uma vez mais, Prometeu desbaratou o plano do
deus convidando seu filho Deucalião e a sua nora Pirra a construir uma arca pra
sobreviver à inundação.
Num certo sentido se pode pensar que Pandora é uma Melusina.
Veio ela dum Outra Parte diviso, não franqueia a saída pela porta plebéia, senão
que é atirada por cima das muralhas da cidade de Luz e fica privada dessa
memória acáchica, segundo Rudolf Steiner, que representa a estrela do recém-
nascido.
Sem dúvida, inconscientemente (embora se a tenha acreditado pérfida), abriu o
recipiente e obedeceu às ordenes programadas no Outra Parte divino.
Se produz uma espécie de transferência dum mundo ao outro, o Outra Parte
eliminando seus resíduos psíquicos ao os projetar por cima de suas muralhas.
A Idade Áurea, se existiu, talvez não pôde subsistir mais que mediante essa
operação de limpeza e de eliminação que lembra, de modo estranho, a dos
barris de dejeto radiativo dos quais nossa civilização quer se livrar pra continuar
vivendo.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Capítulo XIV
O FEITICEIRO DA CIDADE DE LUZ
26 Boswelia serrata
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Em cada noite, desde que se levantava a Vênus vesperal, tinham a missão
sagrada de seguir as disposições das estrelas e seu curso no céu.
Certa conjunção que se produzia com a Lua era a sinal infalível de que o Rei
devia morrer.
Mas pra seguir a vagabundagem das estrelas era necessário estar muito atento
e os sacerdotes jamais as perdiam de vista, nem um instante, porque se
falhassem perderiam a ordenagem da configuração e não poderiam se
reorientar.
De fato, os sacerdotes constituíam um corpo religioso tão poderoso, senão mais,
que o poder real.
Assim, à imagem do cosmo, Luz tinha a sua cabeça uma trindade a cujo cargo
estava sua vida física e psíquica:
— O Rei, eleito por Deus.
— Os sete Sacerdotes dedicados à observação cósmica e à manutenção do
Grande Fogo sagrado que ardia sobre uma alta colina.
— E a Donzela do Labirinto, aura da cidade, representativa de sua pureza, de sua
imperecibilidade, símbolo também de sua perenidade.
Desde tempos imemoriais seu papel consistia, a cada noite, em esparramar o
leite da Vaca sagrada ao redor do menir branco, o betilo, que se elevava entre o
Grande Fogo e a entrada do Templo.
Então a pedra divina falava ou emitia sons melodiosos que os sacerdotes
interpretavam como uma linguagem, aprovação ou reprimenda, segundo as
notas serem graves ou agudas.
Tão verdade como Deus é Deus e que o espírito é seu profeta, naquele tempo
muito antigo os deuses falavam pela pedra, pelas estrelas, pela boca dos
sacerdotes e pela graça da Donzela do Labirinto que vertia o leite sagrado em
torno do betilo imaculado.
A Donzela ia sempre velada, porque ninguém devia ver seu rosto, e um
unicórnio vivia em sua companhia.
Tinham seu retiro no fundo do Labirinto, espécie de bosque de coluna,
constelado de clareira, que constituía um verdadeiro Dédalo onde somente a
Donzela sabia se orientar. Quer dizer que pra chegar a seu santuário, a sua
câmara secreta, era necessário atravessar o bosque de coluna, tão vasto que
quando se franquearam os primeiros troncos, contornado as primeiras colunas,
dando a volta a outras, já não se sabia aonde se dirigir.
No centro do palácio estava o Divã de Opala, grande sala circular ricamente
decorada de tapete, de tapeçaria, de sofá e de escabelo onde o Rei gostava de
receber seus amigos e os narradores do povo, porque na cidade tão cerrada, tão
separada dos outros mundos, o conto era a diversão mais apreciada e mais
necessária pra fazer esquecer a clausura dourada.
O Rei vivia, pois, repleto mas pensando que, inevitavelmente, um dia os
sacerdotes viriam lhe dizer:
— Vimos os sinais no céu e o betilo falou. Tens de morrer!
E sabia que naquele dia se imolaria a Vaca sagrada, se apagariam os fogos do
Templo, salvo aquele que ardia no alto da colina, o Grande Fogo que nunca
devia se apagar.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Sabia que todos os habitantes de Luz alagariam as brasas no lar, cerrariam as
portas, ocultariam as janelas. Os homens cortariam a barba e as mulheres
fariam oferenda da cabeleira.
Então teria chegado o momento pra ele de ir à outra vida que se conhecia, que
se havia descrito: Uma vida que transcorria num reino subterrâneo, num país
todo verde onde o Rei seria rei e seguiria reinando eternamente.
Mas, de fato, ninguém voltara de lá pra dizer se era verdade! Em resumo, o Rei
tinha medo.
Um dia chegou uma estranha notícia: Sobre o lago dos jardins, procedente do
céu, pousara uma espécie de pássaro grande que pôs um ovo ao mesmo tempo
casca e berço.
O pássaro levantou o vôo e a casca-berço ficou encalhada sobre a ribeira do
lago.
Quando foi aberta, se viu, dentro um menininho que levava na frente uma
mancha clara em forma de estrela.
Então avisaram aos sacerdotes e ao Rei.
Os sacerdotes haviam decidido imediatamente que aquele menino vindo doutra
parte não podia senão perturbar a vida da cidade, que era um indesejável e que
devia morrer.
— Luz somente pode perdurar — afirmavam — se a Lei é estritamente observada!
As estrelas, as montanhas, os bosques e os animais obedecem a essa lei e
assim tudo vai bem.
Todos aqueles que estavam presentes, foram então testemunhas dum feito
extraordinário: O menino, muito pequeno, tinha, no entanto, um dom
prodigioso: Falava como uma pessoa maior e se dirigindo ao Rei, disse:
— Équidnos é meu nome e acabei de nascer neste mundo. Teus sacerdotes são
cruéis. Por que queres que eu morra?
— Porque é a Lei. Aqui, ninguém deve entrar, ninguém deve sair, senão pra
morrer. Ademais, o destino que te reservamos será logo o meu, quiçá amanhã.
O menino replicou em voz muito baixa pra que ao redor não pudessem ouvir:
— Ó, Rei, sei que tua hora nem a minha chegaram. Enquanto eu estiver em tua
cidade nada terás a temer por tua vida.
O Rei estava assombrado ante este discurso procedente duma criaturinha que, a
princípio, não deveria falar.
Tudo o que o céu decretava, tudo o que o betilo decidia, era anunciado pelos
sacerdotes, mas o acontecimento tivera lugar em dia, e as configurações
celestes não puderam pronunciar algum tipo de veredito e a pedra sagrada não
foi consultada.
Um mensageiro viera do céu, convinha lhe fazer honra e o receber com nobre
hospitalidade!
Ficou, finalmente, convencionado que se deixaria o menino viver e que seria
julgado mais tarde.
Équidnos cresceu, cresceu tão bem que ao cabo dalguns dias, dalgumas
semanas, as tradições não são rigorosas neste sentido, se converteu num
garoto, depois num adolescente e, finalmente, num homem muito belo, com
cabelo louro, olhos azuis e um dom de palavra sem cessar mais prodigioso.
Falava, e tudo o que dizia era como uma linguagem divina.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Tudo o que contava era tão apaixonante que o povo parava e não podia ir
embora, não podiam evitar o escutar.
O Rei estava subjugado mais que todo mundo e chegava a esquecer que, um
dia, os Sacerdotes viriam a lhe anunciar a data de seu óbito.
Équidnos sabia muito sobre o porvir e tudo do passado, desde os tempos
originais que dizia ser uma luz deslumbrante, até o tempo dos primeiros
homens e das primeiras cidades.
Por causa desse dom o Rei o queria e ia a escutar cada noite, no Divã de Opala,
as histórias cativantes que se situavam em épocas e em lugares dos quais não
se tinha idéia em Luz.
Escutava, escutava e dormia com um estranho sonho já que, dormindo,
continuava ouvindo o narrador e sonhava com aventuras que excitavam seu
prazer, surpresa e admiração.
Despertava na aurora mas esperava a noite com impaciência porque Équidnos
era o narrador maravilhoso do qual já não podia prescindir. Era como o ópio,
como o haxixe.
Todo mundo em Luz esteve logo a par do acontecimento e se intrigava pra
conseguir o favor de sonhar um conto no Divã de Opala.
Desde que Équidnos falava, era, pra quem escutava, como os primeiros tragos
de haxixe um doce bem-estar e as coisas em torno ficavam enfumaçadas em
imagens embaçadas.
Équidnos seguia falando e quem escutava era como o fumante que, depois de
dez pipas de haxixe de ópio perde a noção da realidade mas pode viver
intensamente o que lhe contam.
E logo, como ao fumar trinta pipas de haxixe, era o êxtase, o embevecimento.
A Corte, os convidados, os servidores, todos escutavam, entendiam,
compreendiam e viviam os contos. Participavam, se convertiam em heróis num
grande sonho desperto. Porque de fato, dormiam muito depressa.
A fama de Équidnos era tão grande que irradiava fora do Divã, como as ondas
da água em torno do salto do peixe, como as ondas do céu em torno do trovão,
tanto era assim que através do bosque do Labirinto chegou ao santuário da
Donzela do Unicórnio...
Como um estremecimento de asas, como um convite, chamado e atração de
ímã.
E, numa noite, o que devia acontecer aconteceu: A Donzela acudiu ao Divã de
Opala.
Naquela noite Équidnos esteve mais prodigioso, mais assombroso, mais
mirífico, mais encantador que nunca.
A estrela de ouro de sua fronte cintilava como a primeira estrela que desperta no
despontar da noite.
Contou histórias dos mares longínquos, de amor e de jardins onde chovem
pétalas de rosa e de amendoeira, onde fontes de água sussurram em ilhas
perfumadas de ilanguilã,27 onde dançam princesas de sonho e jovens deuses de
rosto resplandecente.
27 Nome científico: Cananga odorata. Nome popular: ylang-ylang (ilanguilã), perfum tree, árvore-do-
perfume. Origem: Ilhas Comoro, Malásia, Indonésia e Madagascar. Família: Anonácea.
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E quando falava ocorria que suas palavras mais fascinantes, após vibrar no ar,
se materializavam em flores ou em pedras preciosas cambiantes que caíam
como uma fina chuva no Divã de opala.
E todo mundo ficava alienado de embevecimento como o fumante de ópio ou de
haxixe. E logo todos dormiam.
Todo mundo, exceto Équidnos, todo mundo exceto a Donzela que devorava com
os olhos o narrador. E o narrador devorava da Donzela aquilo que podia ver.
Via muito pouco dela porque, era a Lei, a jovem estava velada e seus véus caíam
até seus tornozelos e os pés da Donzela eram a única parte de sua carne que se
deixava conhecer.
E, na verdade, eram maravilhas da criação, amassados em mel de abelha
alimentada com néctar de acácia, cinzelados como jóias espanholas, pequenos,
delgados, empenados, com dedos largos e finos, de unhas carmesins como
pétalas de rosa.
E, numa noite, quando narrava os olhando com amor, a Donzela perguntara, em
voz muito baixa pra não perturbar os dormentes:
— Por que olhas meus pés?
— Porque, depois do próprio Deus, expresso na criação, são as coisas mais
perfeitas que pode contemplar um olho humano. É também a única coisa
adoravelmente terrena que conheço de ti. És bela, imagino, tenho certeza, mas
teus olhos, boca, cabelo, tudo o que és, pertence ao sagrado, ao inacessível.
Somente te une à Terra o que vejo que te leva e faz dançar teu corpo: Teus pés
miúdos que são tu e tua realidade terrena sem tabu. A quem é permitido adorar.
E enquanto dizia isso Équidnos viu que a Donzela levantava suavemente seus
véus.
Procedente do longínquo confim do Labirinto o bramido furioso do Unicórnio
repercutiu no bosque de coluna, mas ele nem ela prestaram atenção.
Se embriagava a imaginando inteira. Ela o olhava intensamente, o comendo com
os olhos. Em fim ela murmurou:
— Saberás que meu nome é Iona. Tudo o que dizes é, pra mim, cântico de
abelha, de primavera e música celestial. É necessário que sigas falando porque
estou enamorada de ti.
Deixou cair os véus quanto despontou a aurora e partiu ao labirinto onde sabia
se orientar muito bem, sem se extraviar.
O Rei despertou e disse:
— É dia. Urge. É tarde! É tempo de cumprir nossa missão.
E todo mundo despertou.
Todos ficaram atônitos ao ver o solo recoberto de pedras preciosas e todos
partiram até sua ocupação mas ninguém viu nem ouviu o que foi dito entre
Équidnos e a Donzela.
Desde então, todas as noites, depois do dever de seu cargo do betilo, a Donzela
acudiu ao Divã de Opala pra escutar ao narrador.
E a cada noite, também, ela suspendia um pouco mais o véu e era a
recompensa de Équidnos, mas nunca se desvelou totalmente.
Seu mútuo amor se reforçava, se exaltava dia a dia, noite a noite, conto a conto.
A estrela na frente de Équidnos se fazia cada vez mais luminosa, e palpitava
como um coração.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
De fato, era o próprio mistério de sua natureza donde extraía, como duma mina
inesgotável, a suntuosa matéria de sua narrativa. A beleza de Iona acrescentava
as grinaldas de sua magia.
No entanto ambos sentiam uma surda angústia ante o pensamento de que,
um dia, fatalmente, quando o Rei morresse, seu idílio terminaria.
— Os sacerdotes viram os sinais no céu? — Perguntava Équidnos com
freqüência.
— Não! Prosseguem com suas observações. Nenhuma sinal há aparecido, ainda,
e o betilo canta grave e doce.
— Então, não há que esperar mais tempo pra salvar nosso amor e salvar ao Rei.
Sabes que, por nossa culpa, Luz está condenada a desaparecer?
— Me o figuro. — Suspirou Iona.
— Sabes que, além das muralhas, se estende um reino sem fronteira e onde se
vive o tempo suficiente pra amar sem temor e realizar os contos que eu relato,
pela noite, no Divã de Opala? E é tão maravilhoso viver os contos, incluso se ao
final, longínquo, te asseguro, devemos sumir no nada ou prosseguir a aventura
humana no outro mundo sob a terra. E, ademais, não temos escolha.
Équidnos lhe colheu ternamente as mãos e, descendo a voz pra ser ouvido só
por ela, expôs minuciosamente seu plano.
No dia seguinte, após efetuar a oferenda do leite em torno ao betilo, a Donzela
se dirigiu aonde estavam os sacerdotes e lhes disse:
— Sois os Vigilantes, olhais as estrelas e sabeis muito porque lereis no grande
livro do Céu que é a mais bela criação dos deuses.
Os sacerdotes responderam:
— É a coisa mais bela que os deuses fizeram. O Céu e o betilo nos ensinam
tudo.
— Não. Não tudo! — Disse Iona — Équidnos revela segredos que deveríeis
conhecer.
— És sacrílega! — Disseram os sacerdotes — Um narrador não pode dizer mais
que os deuses que fizeram os homens, as mulheres, a Natureza, o universo e o
Céu.
— Équidnos é um enviado do céu. Quando fala, pela graça do Céu, suas
palavras se convertem em música, flor ou pedra preciosa. Deveríeis lhe escutar.
— És sacrílega! — Repetiram de novo os sacerdotes.
Mas Iona se obstinou:
— Falais de modo pouco sensato. Quem não escutou não tem o direito de se
pronunciar. Não podeis saber se Équidnos é um enviado de Deus e deveis
esclarecer esse ponto!
Advogou tão bem a causa secreta que trouxera ao Templo que, finalmente, os
sacerdotes, vacilantes, acederam a sua petição:
— Pois bem, assim seja. Escutaremos o narrador e responderemos a sua
pergunta.
O que foi dito foi feito: Na noite os sete sacerdotes do Templo, numa decisão
totalmente excepcional, foram a se misturar aos ouvintes do Divã de Opala.
Équidnos disse coisas tão maravilhosas como de costume, e desde os primeiros
instantes, o Rei, os assistentes, os sacerdotes, os servidores, se sentiram
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
invadidos por um profundo bem-estar que lhes penetrava como a fumaça de
ópio das primeiras pipas.
Cada um continha seu alento, as serventes deixavam de servir e as aves
noturnas suspendiam seus trinos nos jardins.
E as palavras de Équidnos, quando se exaltava, se convertiam em chuva de
esmeralda e rubi. Falava do que fora e do que seria mais tarde, de cavalgadas
nos bosques perigosos, dum maravilhoso jarro adornado que era necessário
buscar, de muros que, repentinamente, se entreabriam pra deixar penetrar a
universos fabulosos. Contava as façanhas épicas de cavaleiros que eram
formosos, bravos, leais, que se sacrificavam pelo mundo ou por uma dama mas
que, também, buscavam querela pela beleza dum bom morrer.
Jamais se havia escutado algo parecido na cidade de Luz e, por outro lado,
essas aventuras e proezas não haviam, ainda, sucedido e existiam somente em
traços pontilhados nos arcanos do futuro.
O Rei, cortesãos, sacerdotes, convidados, serventes, escutavam num estado
segundo, como se acha o fumante à décima pipa de ópio.
Équidnos continuava contando. Falava da fada dum lago, de reinos submersos
nos oceanos, enterrados em montanhas, e resultava, a cada vez, mais
encantador, mais embriagador àqueles que escutavam e que, rapidamente, se
encontravam como o fumante à vigésima pipa.
E todos dormiam e sonhavam o conto.
No dia seguinte os sacerdotes se interrogaram:
— Que resposta vamos dar à Donzela?
— Ah! — Disse um deles — Talvez não escutamos o bastante. É difícil se
pronunciar. Certamente, esse narrador é excelente e nos faz penetrar num
universo estranho. Mas que seja um enviado de Deus, como pretende a
Donzela, é duvidoso!
— Seria necessário o escutar uma segunda vez! — Sugeriu outro sacerdote.
E na noite regressaram todos ao Divã.
Depois, voltaram em terceira vez, quarta vez, sétima vez e, finalmente,
conquistados e subjugados, enfeitiçados como o Rei, convidados, serventes,
todo mundo, apenas caía a noite, desde que aparecia no poente a luz verde de
Vênus esqueciam sua missão e iam ao Divã de Opala pra ouvir Équidnos e suas
palavras mágicas que viravam ouro e pedras preciosas e faziam nascer no
espaço flores e arabescos, cores e mundos fluidos, reinos e mulheres oníricas.
Mas, nesse momento, já não espreitavam o céu nem Iona ia interpretar a
palavra do deus que habitava o betilo.
Passaram as noites e as semanas com a rapidez silenciosa das horas nas
nuvens dos dias felizes.
Um dia, ao se encontrar com os sacerdotes, Iona lhes perguntou:
— Então o que pensais, agora, de Équidnos?
O Grande Sacerdote replicou:
— É um narrador prodigioso, uma grande maravilha que o Céu nos enviou, mas
uma maravilha satânica, maravilhosamente abominável. Sabes que desde sua
chegada ao Reino a colheita é menos abundante, que as vacas dão menos leite,
que se viu perecer árvores e alguns não mais dão frutos nem maná?
— Sim, sei. — Disse tristemente a Donzela.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
— É um mal presságio prà cidade. Sabes também que perdemos o fio do Céu e
que o betilo sagrado já não deixa ouvir suas palavras? Équidnos conta tão
excelentemente que não miramos as estrelas há mais de trinta luas e agora
estamos perdidos em nosso estudo da configuração. Já nos é impossível nos
orientar e nunca saberemos quando deverá morrer o Rei. Os maus sinais
abundam e não podem ser conjurados, a menos que restabeleçamos a Lei e
condenemos a morte ao Estrangeiro. Cometemos uma grave falta. E tu o mesmo
que nós.
Os sacerdotes participaram ao Rei sua decisão.
O Rei perguntou:
— Não sabeis, então, quando acabará meu reinado?
— Não! — Confessaram os sacerdotes, muito contritos. — Já não sabemos!
O Rei se regozijou muito ante essa resposta. Mas lhe agradou menos saber que
Équidnos devia morrer, porque queria isso sinceramente e já não podia
prescindir dele.
Já não podia prescindir dele do mesmo modo como já não se pode prescindir do
ópio ou do haxixe quando se ficou impregnado por seu eflúvio.
Como, tampouco, o cão pode prescindir do homem, o rio do vale, o homem se
privar do prazer que dá a mulher, o fumante do tabaco, o coração do amor, a
abelha da rosa e a rosa da abelha.
Como, tampouco, o dormente pode prescindir do sonho, já que o sonho é
inerente ao homem mais que sua própria sombra quando faz sol.
No entanto era necessário obedecer à ordem dos sacerdotes que falavam em
nome dos deuses.
Então, com o coração dolorido, o Rei assentiu.
— Será feito segundo vosso desejo. Dentro de três dias, na mudança lunar, o
Estrangeiro será conduzido à Grande Muralha Ocidental e precipitado ao mundo
da morte.
Quando soube disso, Équidnos se limitou a responder:
— Te prometi longa vida, ó Rei, e eis cumprida minha palavra. Pra minha vida
será o que está escrito nas estrelas.
Anunciou a notícia à Donzela quando ela acudiu ao betilo pro rito da noite.
— É cruel e injusto! — Exclamou ela com veemência.
— Não tanto. — Disse Équidnos — Acaso não urdimos uma conspiração pra
salvar nosso amor e a vida do Rei? Se os sacerdotes faltaram a seu dever, se a
Pedra Sagrada já não fala, não sou o primeiro culpado?
Houve entre ambos um grande silêncio que deixava adivinhar a confusão de seu
pensamento, o que acontecia a Iona.
— Devo me submeter à decisão do destino. — Disse, finalmente, Équidnos —
Mas é triste, quando se ama, morrer sem ter conhecido e visto a Donzela de seu
pensamento e de seu coração. Amada minha, se logo devo partir ao reino
subterrâneo, desejaria que fosse com tua imagem pra que ilumine minha noite
eterna. Não me deixarás te ver inteira antes que eu morra?
— Nesta noite... — Respondeu ela.
Um pouco antes do aurora, enquanto os dormentes, salvo os dois enamorados,
viviam seus sonhos, perdidos em oceanos de néctar, Iona fez uma sinal e ele a
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
seguiu. Ela penetrou no Labirinto enrolando um largo fio de seda que marcava o
caminho pro regresso de Équidnos.
O Unicórnio esperava num clareira, furioso e encantado ao mesmo tempo.
— Meu doce guardião. — Murmurou a Donzela — Sinto uma grande pena por te
decepcionar, mas o amor é mais forte que a razão e te rogo me perdoes.
O amansou com ternas palavras, acariciou largamente o corno de cristal e, a
força de mimo, o apaziguou tanto e tão bem que o formoso animal acabou
adormecendo.
— Venhas! — Disse ela a Équidnos.
Se orientava ela entre as colunas como a abelha ao regresso à colméia e seus
pés maravilhosos pareciam interpretar uma sinfonia dançada sobre os
alouçados de mármore e ônix.
E Équidnos penetrou no refúgio íntimo da Donzela como se poderia penetrar no
interior duma jóia, duma pérola ou duma esmeralda. Talvez no interior duma
estrela!
Mas, quem penetrou no interior duma estrela?
Olhava em torno dele, deslumbrado.
Quando voltou a cabeça até Iona, ela deixara cair completamente seus véus.
Somente seus pés maravilhosos estavam ocultos e ela parecia irreal, etérea,
luminosa, fora do espaço-tempo e fora da beleza terrena e divina.
Ele gemeu com êxtase, com inefável felicidade.
Então, lentamente, como jóias tiradas dum estojo, ela se libertou totalmente da
prisão dos véus.
Avançou um passo até ele, verdade sublime, luz material. E como seus pés a
uniam à terra, como abandonava sua leveza, sua luz mudou e Équidnos
compreendeu que ela saía de sua inacessível cidade de Luz, que rompia todas
as muralhas, todos os tabus pra se converter, voluntariamente, em carnal
criatura terrena apta pra amassar e interpenetrar carne humana.
E ela estava ali, ante ele, menina-moça enamorada, arrebatada, aberta como
uma romã muito madura ao sol.
Quem estivesse no Labirinto poderia ouvir os tristes gemidos, tristes até
encolher a alma, do Unicórnio...
Aquilo havia sucedido assim e a estrela havia depositado sua luz, radiação e
imperecibilidade entre os braços do Encantador e do narrador de imaginação
dourada.
Aquele dia devia ser marcado com pedra negra.
Para começar: O Sol se levantou tarde sobre a montanha desde a qual se
elevavam nuvens de vapor sulfuroso.
Em primeira vez na história da cidade se escutou rugir o trovão e relâmpagos
rasgaram as nuvens.
Camponeses disseram que o rio crescia e ameaçava transbordar nos prados. Por
último, se viu com terror como o betilo perdia, pouco a pouco, a cor albina e
enegrecia como pão deixado muito tempo no forno.
Perplexos, os sacerdotes não abandonavam o Templo e se desmanchavam em
oração.
No meio-dia alguém anunciou que se ter presenciado um prodígio incrível.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Bramando de dor ou de ira, não se sabia bem, o Unicórnio saíra do Palácio, dera
três vezes a volta ao Grande Fogo Sagrado, e, com um salto prodigioso se
elevou ao ar, acima das muralhas que franqueou.
E depois se perdeu no horizonte de montanha e céu.
Isso era o que várias pessoas viram e do qual se declaravam convictas.
— É uma grande desgraça. — Gemeram os sacerdotes.
— Se o Unicórnio fugiu e o betilo ficou negro é porque a Donzela do Labirinto
faltou a seus votos. Équidnos a desviou e ambos ameaçam a segurança de
todos.
— Pecaram juntos. Devem perecer juntos.
— Nesta mesma noite. — Acordaram.
O Rei se viu obrigado a se render ante tão justas razões e comunicou ao
narrador a funesta sentença.
Équidnos não pareceu perturbado já que tinha seu plano. Apenas disse ao Rei:
— Não obstante. Rei, reclamo um favor e não me deves negar: Em minha última
noite de vida quero falar na grande praça pública de Luz pra que todo mundo
possa me ouvir. E depois me conduzirão à Grande Muralha Ocidental em
companhia da Donzela.
O Rei, muito triste, assentiu e disse:
— Quero que tudo seja feito como desejas.
Por conseguinte, chegado a noite, o povo foi convocado e Équidnos chegou ao
centro da praça sobre um estrado. O rei estava sob seu pálio, velado o rosto.
Iona estava junto ao Rei, também velada mas deixando assomar,
esplendidamente, seus pés maravilhosos pra que Équidnos ficasse por eles
inspirado, penetrado, subjugado, mais fertilmente inspirado e imaginativo.
E Équidnos, naquela noite, foi o Grande Mestre do Verbo. Disse coisas ainda
mais enfeitiçantes que de costume, mais novas e mais desconcertantes. Era
como uma braçada de margaridas primaveris acrescentada a um ramo veranil.
Suas palavras eram mais persuasivas que nunca, mais floridas, mais suntuosas
e se transmutavam em ofitas, essas pedras verdes que são o cérebro, a orelha e
a boca da terra.
Sim, naquela noite Équidnos se superou e foi sublime.
Disse os mistérios do mundo, do céu, de tudo o que os homens buscam saber e
compreender, de tudo aquilo ao qual aspiram e que atrai sua curiosidade.
Os segredos se revelaram como clamados pelos anjos dum apocalipse. E era
como se o Céu se entreabrisse pra desvelar as proibições e o rosto de Deus.
E o povo ria dormindo, se estremecia dormindo, aplaudia dormindo,
maravilhado, subjugado, extasiado e, ao mesmo tempo, confuso ante a imensa
honra e confiança que o Céu lhe testemunhava.
E a estrela de ouro brilhava mais que nunca, palpitava como um coração diante
de Équidnos.
Dizia mil milagres e falava de sete sábios que, pelo privilégio de sua virtude,
começavam a voar como pássaro no céu de Deus.
E seu Verbo era tão terrivelmente mágico que se estivesse desperto, o povo de
Luz poderia ver o Grande Sacerdote, depois outro, e logo um terceiro. E todos os
sacerdotes começando a voar como o Unicórnio, num só impulso, franquear as
altas muralhas e se perder entre as nuvens.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Équidnos continuava como se nada passasse e contava em imagem tudo o que
no inconsciente coletivo, se tramava, se urdia, se concretizava havia dias e dias,
noites e noites, anos e anos.
E, com sua revelação, com a partida dos sacerdotes, Luz se convertia numa
cidade livre!
Livres as estrelas em sua vagabundagem, livre o Rei, livre o povo pra fixar seu
destino. Livre a Vaca Sagrada pra se reunir com a manada, livres os fogos pra
arder ou apagar.
Quando os dormentes despertaram se ouviu um largo suspiro de alívio ascender
da cidade como um grande vento e, como uma nuvem, esse alívio planou
suspenso encima dos palácios e das casas.
Por a magia do Verbo, o universo de Luz mudara e um novo dia despontava
sobre uma civilização nova.
Desse modo aquela coisa impossível se realizara: A vida se evadira de Luz e a
morte pôde penetrar nela, soubera franquear as altas muralhas da cidade.
No espaço dum sonho.
O que é certo é que o povo desperto, maravilhado, gritou subitamente:
— Abaixo os sacerdotes. Viva o rei!
E também o rei gritou:
— Abaixo os sacerdotes!
E era feliz, vencedor, porque sabia que agora ele nem Équidnos nem a Donzela
morreriam pela vontade dos representantes de Deus.
E a partir daquele dia tudo mudou em Luz.
Ninguém mais observou: As estrelas nem o betilo. Os camponeses semearam o
trigo a sua conveniência e toda a Natureza se libertou das leis estritas impostas
pelo céu.
Nunca mais os fogos dos lares foram apagados nem cerradas portas e janelas,
nem cortada a barba dos homens nem, tampouco, a cabeleira das mulheres.
Nada ficou oculto. E, posto que se havia chegado a todo ele, o Rei e seu povo
decidiram abrir uma porta na muralha da cidade.
Os habitantes atacaram vigorosamente, com pás e piquetas, a Grande Muralha
Ocidental pra perfurar o túnel que, atravessando a espessa base, desembocaria
sobre o reino exterior, aonde nenhum vivo chegara.
Depois de dias e dias, semanas e semanas, meses e meses de trabalho, a luz
do Reino Exterior brotou por uma brecha: Luz já não estava só em seu universo!
O Rei ordenou que se alargasse a fenda mas que ninguém traspassasse aquele
umbral. Tudo deveria ser feito em sua ocasião com grande cerimonial.
Inclusive ficou estabelecida a idéia de consultar os deuses mas ninguém
conhecia as fórmulas que os atraíam, a magia que os fazia aparecer e falar.
Se decidiu prescindir do auxilio do Céu.
Na verdade o Rei estava inquieto.
Já não tinha os sacerdotes pra consultar e, consciente de sua responsabilidade
real, se perguntava se não dimanaria um perigo pela violação dos tabus.
— Franquear a muralha sempre foi perigoso!
— É preciso que uma relha proíba a fuga ao reino desconhecido!
— É um projeto razoável. E guardarei a chave da porta infranqueável!
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E o que foi pensado foi dito e o que foi dito foi feito: Uma relha monumental,
enorme, pesada, de barrotes de metal forjado foi cravada no meio do túnel e
guardiões vigiaram a entrada. Assim tudo pareceu voltar à ordem.
Exceto que a Vaca Sagrada freqüentava as manadas de touro, que o Templo
estava deserto, que as colheitas ficavam cada vez mais míseras, que o rio tão
rápido crescia desmesuradamente ou que se diminuía até se converter num
simples riacho e que o betilo estava mudo e negro como um asa de corvo.
Somente pôde explicar as coisas Équidnos, aquele ser milagroso que viera do
Céu numa grande esfera voadora, que nascera dum ovo flutuante sobre a água
do lago e que falava como um mestre escolar desde sua chegada ao mundo.
Mas Équidnos, que compreendia esses sinais precursores de catástrofe se
cuidava muito de desvelar seu pensamento, exceto a Iona, a quem disse um dia:
— Os presságios são cada vez mais sombrios e inquietantes. É preciso partir
nessa noite e buscar refúgio no reino de fora.
— Quero o que queiras, coração aberto e olhos cerrados! — Respondeu ela,
impetuosamente — Falas e creio em cada palavra tua.
Na noite, aproveitando o pesado sonho do Rei, Équidnos entrou na câmara e
com maestria e discrição furtou a chave de ouro do portão, que o soberano
conservava sempre pendurada no pescoço na ponta duma correntinha.
E depois, ambos, o Encantador e a Donzela empreenderam a fuga da cidade
dormente com seu sonho de eternidade, porque todo mundo tinha, ainda, o
privilégio da vida sem limite.
À entrada do túnel os guardiões vigiavam mas, mediante sua magia, Équidnos
os adormeceu num instante.
Então, os fugitivos penetraram no imenso passadiço e chegaram ao portão, que
não tiveram dificuldade em abrir com a chave de ouro.
No entanto a grade rangeu sobre suas dobradiças e creram perceber um
murmúrio de alarma que era, ao mesmo tempo, lamento.
Em sua excitação não fizeram caso e correram à saída e à vida do Reino da terra
prometida.
Adeus Luz, adeus Rei!
De mãos dadas, coração palpitante, franquearam a saída e ficaram quase
assombrados ao se ver vivos.
O ar do outro reino lhes pareceu mais ligeiro, mais puro, mais revigorante que
em Luz, mas, talvez, não era mais que uma impressão de liberdade.
Treparam na montanha que fechava o horizonte e de cujo cume podiam
contemplar a cidade de Luz.
Longínqua já, erguia suas altas muralhas e se divisava no vasto recinto o betilo
alto e negro, as pontas das pirâmides, os pináculos dos monumentos, os
telhados pontiagudos dos templos e as terraços das casas. E também a brecha
que violava o cinturão de muralhas.
E o rio que corria abaixo nas muralhas. Subitamente houve uma brusca
convulsão do solo. A montanha se estremeceu e tremeu como uma besta ferida
de morte.
Esmagada pelas muralhas que eram agitadas por forças internas, a brecha do
túnel voltou a se fechar, até o ponto em que a água do rio, que costumava
160
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
surgir da terra depois de passar sob as muralhas, cessou de emanar como se
um desprendimento bloqueasse o curso.
Équidnos e a Donzela olhavam aquele apocalipse. E não era mais que o princípio
do drama.
A água, detida em seu curso natural, começou a se concentrar na parte baixa da
cidade e, pouco a pouco, irresistivelmente, ascendeu às ruas e às casas,
submergiu as praças públicas, o templo, as pradarias. Ascendeu sem cessar e
formou um imenso lago que era retido pelas muralhas da cidade como vinho na
taça.
Com espanto os fugitivos assistiam o terrorífico espetáculo.
— Estamos perdidos. — Murmurou Iona — Tudo aconteceu por nossa culpa e é o
fim do mundo!
— Eu sabia. — Disse Équidnos — Mas o mundo que acaba em Luz começa onde
estamos.
O caldeirão gigantesco da cidade de Luz se enchia de água e logo transbordaria.
O Templo desapareceu e a água subiu até alcançar o Grande Fogo, até o
submergir.
Se pôs a ferver no gigantesco copo de pedra e brotou até o céu num penacho de
vapor ardente que, mais alto que a mais alta nuvem, se abriu em imenso
cogumelo.
Um relâmpago de calor e de luz ziguezagueou nas nuvens e estremeceu os dois
sobreviventes.
Se fez um silêncio de morte. E uma espantosa crepitação retumbou,
repercutindo mil vezes na montanha, e as altas muralhas arrebentadas caíram
nas cataratas, no maelstrom28 dum oceano furioso.
Transcorreu um tempo, longo, que parecia infinitamente longo e infinitamente
intenso.
Depois, novamente, um silêncio impressionante.
Lá, onde se elevava a maravilhosa cidade de Luz, havia um mar que buscava
seu leito, calmosamente, nas aberturas e as anfractuosidades da montanha.
Se diz, hoje, que Luz, convertida à cidade da Sombra, existe, ainda, na água
profunda dum lago rodeado de altas montanhas tendo em seu centro
geométrico um betilo enegrecido pela incredulidade e impiedade.
Onde?, exatamente. Pouca é a possibilidade de um dia saber!
Também se diz que seus habitantes conservaram a imortalidade mas que são
mortos-vivos.
Vivem mortos como antanho se continuava outra existência no reino
subterrâneo de Osíris.
E tudo aconteceu por um ser vindo doutra Parte, pelo ar. Um ser que, nascido
num ovo, havia, mediante a magia de seu verbo, aportado leis novas na
organização magistral dum reino.
Porque havia sacudido a ordem cósmica, separado o homem do divino e
introduzido o câncer na grande organização celular tradicional.
28Maelstrom ou Maelström. Forma usual de Malstrøm. Usa-se figurativo no sentido de turbilhão, voragem,
movimento vertiginoso de elementos incontroláveis. (Delta Larousse)
Ver nota no final do livro
161
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Mas quem poderia dizer se tal não havia sido a vontade dos deuses que naquele
tempo viviam sobre a Terra?
Équidnos e Iona baixaram ao vale do outro lado da montanha e nunca contaram
a alguém sua fantástica aventura que se converteu numa lembrança oculta no
mais profundo de seu coração.
Viveram assim toda uma vida humana e nunca tiveram filho, já que não eram do
mesmo sangue.
Ao envelhecer a pele de Équidnos ficou reluzente e a estrela de sua frente se
petrificava, se convertia em excrescência de pedra e, depois, em carbúnculo
brilhante como brasa.
Outros disseram que parecia uma esmeralda de centelhas fulgurantes.
Na hora da morte natural foi convertido em serpente e deslizou por uma fenda
da montanha.
Quando chegou a hora de Iona, se converteu numa flor de gerânio, essa planta
odorífera que gosta da borda das janelas pra escutar o que se diz nas casas.
Alguns asseguram que se metamorfoseou em concha marítima, a concha que
retém, difunde e diz as aventuras do mar e dos marítimos.
Gerânio ou concha? Ninguém saberá exatamente e essa história nunca seria
conhecida se o Velho do deserto não se houvesse empenhado em recolher as
pedras do País de Kuch: As ofitas verde escuro estriadas de veios amarelos que
sabem as coisas ocultas e as murmuram àqueles que têm ouvidos pra ouvir.
Mas é uma história verdadeira, tão verdadeira como Deus é Deus e que antanho
os deuses habitavam a pedra, a água e o grande betilo albino que ficou negro
pelos pecados dos homens.
Capítulo XV
NOTAS E COMENTÁRIOS SOBRE O CONTO
Em nosso tempo a seleção de sanidade e de qualidade (idéia de raça superior, banco de esperma) que
deveria sobrepor à seleção natural que já não se observa, seria julgada bárbara e desumana: Supressão
das crianças inválidas, dos meninos-bolha, malformados, mongolóides, cegos. Supressão também dos
adultos preguiçosos, malfeitores, dos assassinos, dos incuráveis, etc. Nossa sensibilidade, os escrúpulos de
nossa consciência deteriorada, nossa covardia nos proíbem o que parece ser uma monstruosidade. Ao
contrário, acudimos em auxilio aos países super povoados, salvamos por alguns anos as crianças que
deveriam morrer de fome, lhes deixando somente o tempo justo antes de morrer pra procriar e aumentar
ainda mais o sofrimento e a indigência de sua nação. A lei cósmica supõe um deus inflexível, justo e não
um deus de amor.
163
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Há séculos se sabe que a Semana Santa é fria, hostil, com riscos de escarcha ou
de granizo. Os jardineiros sabem que o alho plantado na proximidade da Sexta-
feira Santa produz um bulbo com um só dente. Os caçadores, os pescadores, os
horticultores, sabem que nessa época muito concreta a caça e os peixes se
alimentam com tal ou qual planta, freqüentam tal ou qual lugar.
Esse acordo, esse labirinto em relação com as forças da Natureza constituem a
essência mesma do cósmico e fazem que a Páscoa o mesmo que 24 de junho
(São João), como o 23 de setembro, o 21 de dezembro (Natal) são grandes
festas cósmicas.
Se a Igreja persiste em seu desígnio de situar a Páscoa numa data fixa, então já
não haverá acordo com a Lua, com o gelo, com o frio, com Deus.
Os jardineiros, os horticultores, os pescadores, os caçadores, pra se orientar em
suas tarefas e seus costumes, já não poderão consultar o calendário cristão (que
será falso) e deverão se ater à Lua.
É dizer de novo: Diretamente a Deus.
A palavra Páscoa já nada significará, em absoluto, e a cristandade ficará
separada do cósmico.
De fato, já faz muito tempo que a ruptura se consumou!
No Feiticeiro da cidade de Luz, havia, ao princípio, uma relação magistral entre
as atividades humanas cotidianas e as da Natureza.
Essa harmonia tranqüilizava a multidão e lhe persuadia de sua posse do divino
cósmico, aos grandes ciclos, e tudo se voltava incrível e sem dúvida, possível:
Os milagres, a vida eterna, a levitação, o passo dentro do opaco, aos outros
mundos e aos outros universos.
Opinamos que o leitor estará interessado no fenômeno do nascimento duma
lenda.
Vimos (capítulo 1. Subtítulo: Quando Ys surgir Paris perecerá) que a cidade
submersa de Vinheta era eterna como Luz e que, a cada cem anos, ressurgia,
durante uma hora ou uma noite.
Do mesmo modo se pode expor, imaginar, inventar que a cidade de Luz deverá,
também, ressurgir em determinadas épocas ou em determinadas datas e
acrescentar que em tal ou qual lago de montanha se ouvirá, às vezes, tilintar os
sinos de seus templos.
Nas lendas e tradições sempre se dá o mesmo processo, com iguais ritos.
Não era necessário fazer esses comentários ao leitor antes de que lesse o conto.
O adepto os conhecia. O profano devia esperar.
APOCALIPSE
Capítulo XVI
CRÔNICA DOS TEMPOS ATUAIS E VINDOUROS
FENÔMENO DE REJEIÇÃO
O coeficiente intelectual dos amarelos é muito superior ao dos brancos e dos negros. É, quiçá, uma razão
pra ter esperança?
Pralaia: Termo indiano que significa destruição do universo.
165
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Por mais que se fale da evolução darviniana das espécies ou das crenças no
homem, criatura excepcional e privilegiada, não por isso deixa de ser menos
certo que o choque genético dinâmico do planeta sugere reflexões bastante
pessimistas.
Do clã primitivo que compreendia de trinta a cinqüenta indivíduos, a sociedade
humana passou à fase tribal: Cem a trezentos indivíduos, e à de nação: Milhares
ou milhões, e à saturação: Quatro mil milhões de homens e seis a oito mil
milhões dentro de vinte e cinco anos.
Se essa demografia galopante não for freada por cataclismos naturais ou por
genocídios organizados, a qualidade da vida terrena será logo inaceitável.
Então os homens deverão adotar um sistema social similar ao das formigas ou
as térmitas: A vida em vastas concentrações.
Essa visão do futuro, por espantosa que pareça, nada tem de inverossímil, e
semelhante sociedade poderia ser aceita por nossos descendentes se novas
filosofias condicionassem nesse sentido sua mentalidade.*
Esse esquema resulta muito crível pelo fato de que encaixa perfeitamente com
os fatos vividos e o processo natural de equilíbrio que rege o capital genético
das espécies animais.
Não obstante, é prudente formular certa reserva, embora pareça se opor à lei
universal dos ciclos e ao bom sentido puro e simples: Se o homem se voltasse,
sensato, justo e bom, o final de sua civilização poderia ser notavelmente
atrasado.
Há alguns anos comitês científicos formularam a hipótese duma detenção
voluntária do progresso. Muito rapidamente assimilou a futilidade de
semelhante intenção que supunha não somente o fim da corrida nuclear, senão
também limitação de riqueza, de potência, por conseguinte de malignidade,
inaceitáveis tanto aos afortunados como aos reivindicadores incapazes.
Ademais, o sistema implicaria um estrito controle do nascimento, da vida, da
morte: Maltusianismo e eutanásia.
Sob esses sombrios auspícios a população do globo chegou em 1977 à cifra de
largos quatro bilhões de indivíduos, o que é altamente inquietante.
A fome reina. As riquezas naturais do solo se esgotam.
As facções políticas, religiosas, intelectuais, democráticas segregam cada vez
mais o veneno do egoísmo, da violência, da reivindicação de princípio, da
corrupção.
A França, pra citar um exemplo, é tão poderosa como URSS e Estados Unidos
juntos!
E sucede o mesmo com Inglaterra, Israel, Austrália e todos os países que
possuem a bomba atômica.
Porque, em definitivo, a situação se pode imaginar do modo seguinte: Duelistas
vão se metralhar a 3m de distância.
Um dos dois possui duas metralhadoras e o outro uma.
Qual dos dois tem mais possibilidade de matar o outro?
Ou também pode se apresentar assim: Dois homens são condenados a morte.
Roubar, violar, seqüestrar, matar teu pai, tua mãe e teus vizinhos, exterminar milhões e milhões de
seres humanos são crimes, mas não pecados mortais prà humanidade que pode, facilmente, se recuperar
e suportar as piores sangrias. Beber vinho de alta gradação alcoólica, uísque, se empanturrar de foagrá,
de manteiga, de nata, de carne de porco e de caça, com freqüência passada, quer dizer, alterar sua saúde,
recarregar o pressuposto da Segurança Social, privar a sociedade dum elemento são e fatalmente, procriar
crianças diminuídas, inclusive tarados, que a comunidade sã deverá manter a título puramente oneroso, é
um crime inexpiável que destrui irreversivelmente o potencial vital da humanidade. O mais abominável dos
assassinos é menos criminoso que o bom homem obeso, albuminado ou ameaçado de infarto.
167
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
A um cortarão a cabeça. Ao outro a cabeça, o tronco e as pernas.
Qual morrerá primeiro?
Com cega estupidez, ianques e russos (outros também) fabricam e armazenam
bombas atômicas que, em 1982, resulta difícil neutralizar, destruir ou evacuar
fora de nosso globo.*
Muito provavelmente, as bombas ianques jamais serão soltas sobre a Rússia e,
com a mesma probabilidade também, nunca as russas serão lançadas sobre as
cidades ianques.
Em troca, infalivelmente, os dejetos e resíduos radiativos poluirão nossa
atmosfera durante séculos e séculos.
Infalivelmente, também, algumas bombas explodirão e provocarão cataclismos
espantosos.
Porque isso já aconteceu. E várias vezes!
Estados Unidos.
Histoire inconnu des hommes depuis 100.000 ans (História desconhecida dos homens desde 100.000
anos), de Robert Charroux, capítulo VII: Os extraterrenos vieram à Terra. Guerras atômicas na Índia,
página 176.
168
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
arma terrível queimava os elefantes, os soldados, os blindados e os cavalos sem
que o pudesse ver, já que era invisível.
«Esse fogo fazia cair a unha e o cabelo dos homens, branqueava a plumagem
dos pássaros, coloria de vermelho suas patas e as deixava torcidas. Pra conjurar
esse fogo os soldados corriam a se atirar nos rios pra se lavar e lavar tudo o que
deviam tocar..».
Se não se trata dos efeitos da radiação por explosão nuclear será necessário que
os irredutíveis racionalistas de todo matiz encontrem uma explicação satisfatória
a esse fenômeno cataclísmico!
Várias vezes, em Estados Unidos, durante esses últimos anos, bombas atômicas
estiveram a ponto de detonar. Se insinua, inclusive, que duas delas teriam
explodido em seu silo. Fugas radiativas em dez, vinte vezes, tem semeado o
pavor e a perturbação na vizinhança das feitorias nucleares.
O submarino atômico Trescher, em 10 de abril de 1963, afundou no litoral de
Nova Iorque. Não tinha, provavelmente, bombas A ou H a bordo. Em
compensação o Scorpion, que afundou mais tarde no Atlântico entre as Açores
e Estados Unidos, as continha, muito seguramente.
Com ocasião do sismo de Páscoa de 1964, o depósito ianque de bombas
atômicas de Fort Richardson em Ancoragem (Alasca) esteve a ponto de detonar,
ao caírem alguns pinos de segurança.
Os milagres não se reproduzem duas vezes!
Em 1964 anunciamos, em O livro dos segredos traídos,* que em fevereiro de
1958 uma ou várias bombas atômicas detonaram na URSS, na região do lago
Balcache, causando numerosos mortos e milhares de feridos, entre eles dois
generais russos.
Dois anos depois da catástrofe, em 9 de dezembro de 1960, após visitar os
lugares, o professor israelita Lev Tumerman deu detalhes mais concretos.
Na região de Kysthim havia centenas de quilômetros quadrados de terra
devastada: Casas derrubadas, abandonadas, campos ermos, nenhum ser
humano, nenhum animal...
O Governo proibira beber a água dos rios, se banhar neles, comer seu peixe.
A explosão se aconteceu numa feitoria de plutônio.
Há uns quinze anos os produtos agrícolas vendidos no mercado de Cheliabinsk
eram passados pelo contador gáiguer pra controlar contaminação radiativa.**
Em 25 de outubro de 1976, entre a ilha de Osmussar e a base militar soviética
de Paldiski, a nordeste da Estônia, uma explosão acidental teria causado vítimas
muito numerosas. Por suposto o estado soviético atirou um denso véu sobre o
assunto.
O sábio soviético dissidente Jaures Medvedev, atualmente refugiado na Grã-
Bretanha, assegura que aconteceram numerosas catástrofes nucleares na
O gás tóxico era o TCDD, um desfolhante produzido pela fábrica Icmesa de Seveso, na Lombardia. A fuga
mortal aconteceu em 10 de julho de 1976.
Em 1966, por acidente, um B52 americano soltou quatro bombas H perto do povoado espanhol de
Com a mais perfeita má-fé, os sábios que se deixam manipular pelos Governos,
se erigem em garantes da inocência dos experimentos nucleares.
O gerador Super-Fênix de Creys-Malville (Isére) poderá produzir centenas de
toneladas de plutônio, ou seja, o suficiente pra fabricar milhares de bombas
atômicas.
Se detonasse (o que não está excluído), se fugas importantes se produzissem
ou se se desmantelasse, a população da Europa inteira cairia sob uma radiação
mortal.
— Impossível! — Asseguram os técnicos —Tudo controlado, tudo comprovado,
tudo previsto. Um acidente grave não pode acontecer, já que seria estrangulado
imediatamente por medidas eficazes.
Essas sábias palavras foram pronunciadas no sábado, 30 de julho de 1977, às
15:20h, no momento em que um meteorito gigante atravessava o céu de
Madagascar antes de se enterrar a sudoeste da ilha.*
As agências de imprensa anunciaram que o meteorito se teria escindido, afundando o pedaço maior em
terra pantanosa até o lago Ihotry. O impacto foi registrado pelo sismógrafo da estação de Antananarivo às
15:22h. O choque, muito violento, foi precedido por uma intensa luminosidade. Não está excluído que esse
meteorito possa ser um foguete gigante portador de satélites artificiais, que teria caído à terra.
171
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Se caísse sobre Tananarive a cidade seria destruída ou, ao menos, gravemente
danificada.
Imaginemos que um meteorito similar se choque contra o solo na proximidade
de Creys-Malville, como parece indicar essa advertência do céu!
Um meteorito, ou num foguete portador dum míssil! Ou numa zarabatana russa
de nêutrons acelerados... ou também um míssil Cruzeiro ou um Minuteman de
15.000km de alcance, provido de três foguetes atômicos ultra-precisos, uns e
outros soltos imprudentemente no espaço por um artilheiro distraído! O qual já
ocorreu em 1970 com um foguete Athena que, lançado desde Utá com destino a
uma base militar do Novo México, ultrapassou o vôo 2.000km além e se
espatifou em pleno México, no estado de Durango!
— Um meteorito? — Replicam os atomistas — E por que não o trovão de Zeus?
Algumas más mentalidades medrosas teriam melhor tendência a temer as
5.000t (5 milhões de quilos) de sódio líquido que em caso de acidente se
inflamariam espontaneamente em contato com o ar ou a água (o que também
aconteceu com o super-gerador soviético BN 330 de Chevtchenko, na Prikas-
piskaya Nizmenost).
Outros pensam que ao ser o Super-Fênix um super-gerador de nêutron rápido,
seu coração de plutônio poderia se embalar e desencadear uma explosão
atômica.
Os sábios não são charlatães, que diabo! E os super geradores não são
perigosos!
A prova é que se o Super-Fênix se embalasse o plutônio fundido entraria em
contato com o sódio do circuito primário!
— Maravilhoso! — Asseguram nossos bons expertos — O sódio se vaporizaria e
o vapor detonaria. Nada grave, como podem se dar conta!*
Incêndio nas 5.000t de sódio?
— Se fecha a cuba e o sódio se apaga por si mesmo! — Afirmam os do CEA
(Comissariado da Energia Atômica).
Risco de explosão?
— Resultaria como um petardo molhado: Psé! E ainda, nem sequer isso... Por
quê? A causa do efeito Dopler... Não se pensou no efeito Dopler?
Em resumo, o Super-Fênix é muito menos perigoso que uma pistola de ar
comprimido e os técnicos do CEA recomendam encarecidamente a vizinhança
ao super gerador aos ansiosos, fatigados, que necessitam tranqüilidade, paz e
ecologia supranatural.
É igualmente eficaz contra câncer, eczema, tuberculose, asma, cólica e
Monsieur Trigano poderia substituir seus clubes Mediterranée por clubes Super
geradores com banho, navegação a vela e esqui náutico em piscinas de sódio
líquido.
Alguns reticentes ou retardados, como os físicos Edward Teller, pai da bomba
atômica, e Leo Kowarski, pioneiro do Centro de Sarclay, teriam muita inclinação
SE LE REDOUTABLE EXPLODISSE
FAÇAS TU MESMO!
UM SEGREDO A VOZES
Uma bomba atômica artesanal pode muito bem ser fabricada por quem quer
que se disponha a procurar 5kg ou 6kg de plutônio.
Em 29 de abril de 1977 o Los Angeles Times, revelava após dez anos de denso véu, que 200t de urânio
embarcadas a bordo do cargueiro alemão Mayday haviam desaparecido entre Amberes e Gênova, onde
devia ser desembarcado o carregamento! O Governo italiano e a muito respeitável Comissão européia da
Energia Atômica de nada se deram conta. E não fomos nós quem roubou esse urânio!, asseguram os
países árabes. E os israelenses juram sobre a Tora que tampouco foram eles! Quanto aos marinheiros do
Mayday, perderam completamente a memória. E por outra parte se perdeu, também, todo vestígio da
tripulação e da carga. Há que recalcar que com 200t de urânio se podem fabricar mais de 100 bombas
atômicas!
Phillips revelou que utilizara, principalmente, o Manhattan Project e Los Alamos Primer, cujo preço é de
SE O DIABO TENTA
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
na qual se encaixará a massa A. E = tela. F = carga explosiva pra pôr em
contato as massas B e D. G = dispositivo de disparo.
É o tipo mesmo da bomba A de Hiroxima, hoje caduco. Se preferes o sistema de
implosão, tipo bomba de Nagasaque, eis o esquema:
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Se trata de previsão sem consistência, já que se estabeleceu a partir de
observação a curta distância sem ter em conta períodos e ciclos habitualmente
relacionados com toda manifestação eletrocósmica.
Mas a eventualidade dum fim do mundo ou, ao menos, de transtornos
geofísicos consideráveis e catastróficos nos parece de caráter provável.
Em 1984, a mais tardar, a bomba atômica artesanal estará a alcance de
qualquer grupúsculo terrorista. Por exemplo, o grupo 666 de Brigadas
Vermelhas, que não escolheu seu nome por acaso: 666 é a cifra da Besta no
Apocalipse.
É certo que se pode alegar que uma lei sobrenatural, ao longo de nossos três
milênios de civilização, desempenhou o papel de milagrosa salvaguarda.
Nunca um louco envenenou a água potável das grandes cidades.
O chanceler Adolfo Hitler podia, em abril de 1945, destruir o mundo histérico de
seus adversários e de seus partidários, e com eles a totalidade da humanidade,
espalhando 9 gramas de bacilos de toxina botúlica, o tóxico mais poderoso
conhecido.
Não o fez.
Porque se ignora, afortunadamente!, que a bomba atômica é quase brinquedo
infantil em comparação à pavorosa botulina.
O mais potente dos venenos minerais ou vegetais é a batraciotoxina, extraída
duma rã colombiana.31
Dose mortal em micrograma por quilo de peso animal = 3.
Depois vem a tetrodotoxina = 8,5, o curare = 500, o cianuro e o arsénico =
10.000.
As toxinas das proteínas são consideravelmente mais potentes: 70μg
(micrograma) pro veneno de crótalo, 0,07 prà terrível semente de rícino, 0,001
prà toxina tetânica e, em último, pavorosa: A toxina botúlica = 0,00005μg/kg.
Bastariam, pois, oito gramas de botulina pra destruir 4 mil milhões de seres
humanos32.
Mas que sábios aceitariam fabricar o estoque mortal e facilitar o modo de
emprego?
Cabe duvidar!
Febris ante a perspectiva duma guerra meteorológica, que seria catastrófica pra eles, já que são
particularmente vulneráveis, os russos, em setembro de 1976, conseguiram fazer firmar aos ianques o
protocolo dum tratado proibindo as transformações do contexto com fim militar. Os centros ianques da
Jolla, na Califórnia e de Wrangley, no Colorado, estudam, não obstante, estranhos projetos: Desviar
ciclones tropicais até países estrangeiros mediante uma pequena explosão nuclear: Desencadear tremores
de terra injetando água marinha na fenda da crosta terrena, o que também produziria maremoto.
180
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Banquisa do pólo Norte. Os lugares marcados com uma cruz seriam ideais pra
fazer arrebentar bombas atômicas que empurrariam a banquisa no mar de
Beloforte, o mar da Groenlândia e o oceano Atlântico ao oeste. Sobre as costas
da Rússia e da Sibéria, ao leste. Até os 40° e 80° paralelos, a temperatura
abaixaria entre 5° a 10°. Seria o desastre pra Estados Unidos e Urs, mas
também, desgraçadamente, Escandinávia, Europa e Canadá. A banquisa do mar
Glacial Ártico afluiria no mar de Barentes ao mar Branco e bloquearia a grande
base soviética da península de Cola, onde estão habitualmente estacionados
entre 50 e 100 submarinos e uma poderosa frota de superfície.
Os efeitos desse dilúvio teriam, sem dúvida, repercussão até no Pacífico e dele
resultariam terríveis epidemias de peste, cólera e acidentes climáticos
consideráveis que poderiam chegar até a glaciação temporária da Europa.
A temperatura média nos Estados Unidos e Europa baixaria vertiginosamente
entre 10 a 20 graus, impedindo o cultivo e a pecuária durante vários anos.
Cabe imaginar a amplitude de semelhante catástrofe que a humanidade, há
12.000 anos, sofreu pelo menos duas vezes, sem dúvida porque a civilização se
aventurara por vias análogas às que agora seguimos.
Estamos neste ponto crítico em 1982.
Homens (heróis ou criminosos) praticam a chantagem a base de bomba,
explosivo convencional, com seqüestro...
Palestinos desviadores de avião ameaçaram atirar bombas sobre Telavive...
O último quarto do século XX estará dedicado à chantagem mediante a bomba
atômica.
É nossa opinião e também a de Alfredo Kastler, prêmio Nobel de física em 1966.
Os convênios de 1974, autorizam os dois Grandes a construir, cada um, o máximo de 1.320 foguetes de
múltiplas ogivas. Quase todos esses foguetes têm de três a dez cabeças caçadoras.
33 O século 20
181
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Haverá que suprimir o excesso de dois a três mil milhões de indivíduos. Quais?
Por qual meio?
Será então, sem dúvida, quando a Super-Fênix e os foguetes atômicos
adquirirão todo seu sentido...
O mundo inteiro será iluminado.
A menos que os ianques, os russos, os chineses, os cubanos. A menos que os
patronos, os trabalhadores, os camponeses. A menos que os sábios e os
ignorantes e todos os seres de má vontade não tomem consciência de sua
responsabilidade, de sua culpa e por uma sublevação legítima da Natureza
ofendida.
— Toda vossa agitação, vossas civilizações são vãs e ridículas! — Afirmam os
sábios — É preciso construir Super-Fênix, as fábricas, os submarinos atômicos,
fabricar bombas H e neutrônicas ou então retroceder e destruir nossa aquisição
fenomenal de 10.000 anos de tentativa e de civilização. O que equivale ao
mesmo.
Dito doutro modo: Os homens suicidarão ao rechaçar o progresso ou
sucumbirão a seu veneno ao aceitar.
É cara ou coroa.
O momento chegou.
Os fazedores de prodígio do século XX me seduzem, te seduzem, nos seduzem.
Capítulo XVII
A FICÇÃO, A CIÊNCIA E A VERDADE
Anedota duvidosa. A frase teria sido pronunciada, talvez, por Dumas, presidente do tribunal que julgava
Lavoisier, ou pelo fiscal Fouquier-Tinville, ou pelo vice-presidente Coffinhal. O ilustre químico havia
solicitado de seus juízes que adiassem sua execução pra terminar experimentos que julgava úteis.
O comitê Pugwash agrupa, desde 1957, os maiores pensadores do mundo, que estudam o que poderiam
empreender pra salvar nossa civilização. Ler O enigma dos Andes, capítulo IX. Os tempos do apocalipse. A
conjura de Pugwash. Publicado por esta editora.
183
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O empírico, o esoterista, são malfeitores? Verdade é que há muito de engano
entre os charlatães do fantástico e do milagroso, mas sua ação não provocam
mais que um leve prejuízo à sociedade.***
Ao contrário, os iniciados do mundo antigo e os de nosso tempo, aportam luzes
e possuirão figura de profeta no futuro conjuntural.
O herege mas clarividente Giordano Bruno, antes de ser queimado vivo em
1600, havia alçado a voz contra os tiranos sociopolíticos e seus mercenários da
ciência.
— Deus não quer seus inventos diabólicos e sua magia negra. — Disse em eco o
pensador Filipe Lavastine.
Por ele numerosos contemporâneos nossos julgam necessário criar um Comitê
de Salvação Pública, uma espécie de Internacional de pessoas honradas e
lúcidas, capaz de manter afastada a Internacional dos Bruxos, cujas sedes estão
no que eles chamam Academia de Ciência.34
Não cabe negar: O iniciado é tão sacrílego quanto o sábio. Os dois franqueiam os tabus e abrem as
portas proibidas.
34 E a maçonaria
Todos os sábios não exercem, por suposto, uma ação maléfica nem têm um conceito demoníaco de seu
papel. Em geral, o cirurgião é um grande curandeiro, o mesmo que o médico, e o dentista é superior ao
antigo tira-dente. Do mesmo modo, o astrônomo, inclusive si faz farol, o meteorologista, inclusive se se
equivoca, o geólogo, o botânico, o minerólogo, o zoólogo, inclusive se fossem absorvidos pelos políticos e
os generais, não ingressaram deliberadamente na via do crime (para reiterar o pensamento de Einstein).
Outros, também. É certo que grandes gênios da física, da química, da biologia e da matemática, as
ciências satânicas, nunca tiveram a idéia de propor perguntas sobre o caráter moral de suas atividades,
mas se trata duma minoria. A maioria dos grandes sábios do século XX, aqueles de Estados Unidos
principalmente, foram comprados a golpe de milhões ao estilo de futebolistas, pelos regatões do mercado
de cérebro. Sabem, pois, a que se ater sobre sua qualidade moral!
184
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O triunfalismo dos bruxos de nosso tempo, sua visão tecnológica do universo
são expressão de suas más idéias, de seu satanismo e de sua ambição de
suplantar a Deus nos separando do cósmico.
Querem inventar sem passar na escola da Natureza. Não querem ser criaturas,
senão criadores (o que corresponde a uma religião panteísta perfeitamente
defensável).
Sua investigação vai sempre dirigida até uma coação do universal, da matéria e
do espírito: É a diligência típica dos bruxos e dos magos negros.**
Antanho o taumaturgo ambicionava voar no espaço, seja com o cabo de
vassoura do aquelarre, por levitação, droga alucinógena ou ao estilo de Ícaro.
Por uma ironia do azar e por uma predestinação magistral o cabo de vassoura
das bruxas persistiu em nosso tempo pra se converter com a mesma
denominação, na barra de comando dos aviões.35
Ver: A vie, c'est autre chose ou les malades da science (A vida, essa outra coisa ou os malefícios da
ciência), de Gilbert Bonnot, Belfond editor. «A ciência — escreveu G. Bonnot — se converteu em
formidável franco-maçonaria, nova religião que tem seus templos, seus ritos draconianos, seus sacerdotes
que, em ocasiões, chegam a excomungar.» Mas, em nosso critério, o mais antipático é a insuportável
auto-suficiência dos pseudo-sábios.
35 O livro foi escrito, originariamente, em francês
185
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
e lhes oferecer viagens até os países dos simpósios e seminários* que, coisa
estranha, se celebram sempre em nações muito bem equipadas em hotéis de
quatro estrelas.
É preciso que o camponês labore, que o pedreiro suba ao telhado e o mestre de
obra ao andaime, que o trabalhador metalúrgico afronte a fogueira dos altos
fornos, que o mineiro contraia silicose a 800m sob a terra, pra comprar
ordenadores, pagar satélites e procurar bonitos brinquedos aos eternos
buscadores que nada encontram, remunerados com honorário principesco e de
cadeirões suntuosos que, não obstante, consentem em abandonar pra pontificar
na televisão em sua gíria presunçosa.
Com a aquiescência das massas denominadas ilustradas!
Deus sabe a quantidade que há, a cada ano, de simpósios e de seminários de sábios, de engenheiros,
daqui e de além. O seminário, etimologicamente é um semeadouro, um lugar onde se colocam sementes,
uma escola de formação. O antigo One, two, two da rua da Provença, o Chabanais perto da Biblioteca
Nacional eram seminários. (Ambos lugares foram famosas casas de prostituição.) O simpósio era um
estabelecimento da mesma índole na antigüidade grega. Estava consagrado às bebidas, aos festins e aos
entremeios galantes (de sun: com, e posis: ação de beber). Os sábios são humoristas. Pelo menos não
tentam nos enganar!
186
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Numa sociedade que não estivesse corrompida até a medula, numerosos pré-
historiadores seriam enforcados sem mais e a maioria dos jornalistas cientistas
(sic!) enviados ao senhor Amim Dada como presente a seus crocodilos.
O museu de Glozel, com sua magnífica coleção de tabuletas escritas, de sílex,
de ossos gravados, de olaria, etc., é autêntico.
Como tal foi reconhecido, depois de comprovação de datação com
termoluminescência, pelo serviço de dosimetria do Comissariado de energia
atômica e os serviços análogos dos laboratórios atômicos de Riso (Dinamarca) e
de Edimburgo (Escócia).
Mas não por isso se retratou a conjura da mentira.
A revista Archeologia (#54, pág. 85) não teme publicar a opinião dum leitor tão
pouco informado como mal intencionado:
— Alguns levam muito a sério esse Glozel e juram, obstinadamente, que não se
pode ser mais autêntico.
O que é particularmente grave quando se sabe que Arqueologia é redigida pelos
oficiais da pré-história. O que estigmatizava Giordano Bruno há quatro séculos.
Mais típica ainda é a postura da revista Sciences et avenir (Ciência e futuro) que
se dá por missão informar às multidões ignorantes sobre a investigação e
descoberta científica.
Henry de Saint-Blanquat depois de dizer que a Hadjar El Guble de Baalbeque
«está, ainda, parcialmente presa sobre seu leito rochoso» (o que é falso)
escreveu com arrogância no #270 de agosto de 1974:
— O suposto alfabeto de Glozel (sic) não é senão um conglomerado de sinais
pescados ao azar nos livros. As supostas (re-sic) tabuletas não resistiriam
alguns anos de permanência no solo.
E esse eminente especialista prossegue:
— Nunca se ouviu um arqueólogo digno deste nome tomar a defesa da escritura
nem das tabuletas de Glozel. Monsieur Charroux escreveu, no entanto: Apesar
das conjuras de contra-verdade tivemos a honra de reconhecer a perfeita
autenticidade do sedimento de Glozel, etc.
Pois sim, Monsieur de Saint-Blanquat, temos tido a honra, e o senhor H.
François, chefe do serviço de dosimetria física no Comissariado de energia
atômica teve também a honra de escrever a Émile Fradin, em 7 de abril de 1975:
— Quero te felicitar e expressar minha alegria. Somente alguns retardados mal-
informados poderão ainda pretender que és um falsário.
«As comprovações das medidas feitas independentemente em cada laboratório
(mediante termoluminescência) são perfeitas e indiscutíveis. Toda precaução foi
tomada».
E essas medidas dão 2.500 a 3.000 anos à escritura e às tabuletas!
Deixamos a nossos leitores apreciar essas curiosas declarações dum jornalista
denominado cientista, publicadas numa revista que se jacta de fustigar os
arqueólogos silvestres e a arqueologia fantástica!
187
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Como as tabuletas de Glozel, as pedras de Ica serão reconhecidas autênticas
algum dia.
Enquanto toda uma máfia expele seu veneno, desacredita, difama
impunemente.
De qualquer maneira nos atrevemos a consignar os nomes daqueles a que um
escrúpulo de consciência voltou a colocar sobre o caminho do dever e da honra.
QUADRO DE HONRA
Se pra nos defender contra aqueles que nos atacam e contra aqueles igualmente
que rapinam nossas descobertas e roubam o título de nossos livros, brincamos
de vingadores, não queríamos por isso nem muito menos, fazer papel de guru
ou de dono da verdade.
Somos arqueólogos silvestres, é um fato, e com muita honra, mas se nossa
arqueologia é fantástica é porque o fantástico pertence a sua natureza, a sua
própria essência.
No entanto não podemos dizer que os traçados de Nasca do Peru, que as
medicine wheels do Canadá, que as pedras de Ica, que os gigantes da ilha de
Páscoa, que o transporte de pedras talhadas de 30t ao cimo da fortaleza de
Ollantaytambo, Peru, que os foguetes de três andares enviados no céu de Sibiu
(Romênia) em 1529,* etcétera, são coisas que pertencem ao cotidiano, ao
corrente!
Que façamos ficção científica é muito diferente!
De fato, não existe a ficção científica, como tampouco, por outra parte, a ciência
(de scire: saber), salvo àqueles que se tomam por Deus Pai e, desgraçadamente,
formam legião.
Conviria melhor pensar em diligência, investigação até um inseguro labirinto
mas, posto que a maia do verbo impôs a ficção científica, diremos que essa não
se diferencia da pseudo-ciência dos pontífices e dos charlatães exceto por sua
honestidade fundamental e humildade. Talvez também por maior possibilidade
de investigação com vista a acessar meta concreta.
De fato, a imagem-desejo, ou ficção científica, precedeu à ciência, é sua
geradora, o aguilhão e a vidência magistral, pela exata e luminosa razão que
surgiu do poder da imaginação excitada pelas mensagens abstrusas dos
cromossomos-memória.
Antes que as revistas científicas, demos uma relação detalhada sobre os foguetes de Sibiu, com fotos do
manuscrito da época, em Le livre du mystérieux inconnu (O livro do misterioso desconhecido), capítulo I,
páginas 25 e seguintes.
188
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
E a imaginação entra numa porcentagem elevada na descoberta: 50% de
trabalho, 10% de labirinto, 30% de imaginação e 10% de azar (segundo se diz!).
Mas há de imaginar o verdadeiro e isso não está ao alcance de todo mundo!
A determinação do passado ou do futuro (da qual se pode afirmar a coincidência
em filosofia e em matemáticas) é uma espécie de evidência que se imagina ao
recorrer às zonas habitualmente não solicitadas de nosso complexo neurônico.
É, dalgum modo, um sistema de deslocamento na continuidade espaço-tempo.
Se o autor não se acha em estado de graça, então sua visão é puramente
quimérica, mas se tem cultura e dom, então pode prever, descobrir, prefigurar, a
semelhança daqueles adivinhos, profetas ou bruxos da Antigüidade que
anunciaram o rádio (conversação dum a outro extremo da Terra), a televisão (o
espelho mágico), o avião (o tapete voador), a ubiqüidade (as ondas
denominadas singulares), etc.
A esse nível o escritor (o poeta também) pode ser considerado cientista.
O substantivo ficção científica não designa, pois, mais que a novela quimérica.
As obras que se baseiam em descobertas ainda não efetuados deveriam, em
todo estado de causa, ser denominadas novelas de antecipação.
189
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O ESTRANHO
Capítulo XVIII
JESUS ESTÁ ENTERRADO NO JAPÃO
A vie inconnu de Jésus-Christ (A vida desconhecida de Jesus Cristo), de Nicolau Notovitch, Edições
Ollendorff, Paris, 1894.
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Robert Charroux Arquivos doutros mundos
vindos de Israel no primeiro século de nossa era, e menciona um texto explosivo
cujo original estaria em Lhasa.
JESUS NO TIBETE
No transcurso de seu décimo quarto ano, diz o manuscrito, o jovem Issa (Jesus)
bendito por Deus, veio aquém do Sinde (província de Carache) e se estabeleceu
entre os árias no país amado de Deus...
»Issa negou a origem divina dos Vedas e dos Puranas... a Trimurti e a
encarnação Para-Brama em Visnu, Siva e outros deuses».
Definitivamente, Notovich, o mesmo que Alexandra David-Neel (se emite certa
reserva sobre a autenticidade de sua viagem) foi ao Tibete, onde conheceu um
lama tagarela que lhe mencionou manuscritos depositados em Lhasa.
Após uma verdadeira caça dos documentos, Notovich os encontrou em Himis,
os copiou e sem dúvida, inclusive, tirou várias fotos.
— Desgraçadamente, — escreveu — quando de regresso à Índia, eis examinado
os negativos, resultou que estavam todos estropiados.
Não nos assombra muito!
O bom Churchward nos havia acostumado a semelhantes desenganos quando
se tratava de demonstrar afirmativas mediante o argumento decisivo da foto.
Pois bem, os japoneses são menos evasivos e se estás de bom humor, podes
chegar até o país das manhãs serenas, que o foi um pouco menos em 6 de
agosto de 1945, e tirar fotos da tumba de Nosso Senhor Jesus Cristo.
AS TUMBAS DE JESUS
É crível que Cristo, à idade de 21 anos, veio ao Japão, onde estudou teologia.
Na idade de 31 anos regressou à Judéia pra predicar a mensagem de Deus.
Mas, em vez de aceitar seu ensino, o povo julgou que havia de o matar. Seu
irmão mais jovem, Iskiri, foi crucificado e morreu na cruz em seu lugar.
Cristo, que conseguiu escapar da crucifixão, regressou ao Japão após um
viagem acidentada. Morou no povoado de Herai e se diz que viveu ali até a
idade de 101 anos.
Neste santo lugar se comemora a tumba de Jesus Cristo à direita e a de Iskiri à
esquerda.
191
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
»A lenda assegura que esses feitos estão resenhados no testamento de Jesus».
Os respectivos túmulos dos dois irmãos distam entre si 10m. Têm 13m de
altura, aproximadamente 10m de diâmetro. No centro foi plantada uma cruz
branca de madeira, de dois metros de altura.
Para os nativos os túmulos são a casa de Kirisuto, que é o nome japonês de
Jesus e no povo se podem ver aos descendentes desse Kirisuto e lhes falar de
seu ilustre antepassado, do qual a família Sawaguchi é a representante.
O HOMEM DE ISOARA
192
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Os meninos, ainda em nossos dias, em certos povoados, são marcados com
uma cruz branca na frente desde o nascimento.
Kiku Yamané pensa que hebreus vieram antanho a se instalar no norte do Japão
e que deram origem aos ainos, esses habitantes de Ieso que, de fato, não têm
rasgo japonês, senão que se parecem mais aos armênios.
— O nome Herai — diz ela — é uma alteração da palavra hebréia, do mesmo
modo que Adda e Abba (homem e mulher) significam em japonês Adão e Eva.
Em minha opinião, Kirisuto não está enterrado em Herai, senão no altiplano de
Maiugatai, sob o tronco duma árvore muito velha.
Foi, então, que um correspondente de imprensa ianque, Rowland G. Gould,
levou a cabo uma investigação muito meticulosa sobre essa estranha história.
Deu por resultado que Kirisuto teria nascido em 624 depois de Jimmu, primeiro
imperador do Japão.
Viajou na Índia e China, estudou o sintoísmo (a via dos deuses, religião nacional
japonesa). É possível que tivesse vindo da Judéia já que o imperador Suinim
(anos -29 a 70) lhe haveria concedido o selo do reino dos povos judeus.
Tudo isso é bastante nebuloso, já que está traduzido duma coleção de tabuletas
ou de couros gravados que contêm, também, uma representação «de Maria e de
José, feita com sua própria ossamenta e gravada por Jesus Cristo na idade de
cento e cinco anos».
Na verdade não revelada, Jesus teria sido crucificado por ensinar na Judéia
doutrinas sintoístas japonesas!
Segundo a informação recolhida por R. G. Gould, Kirisuto, na idade de 36 anos,
teria partido de viagem na Europa do norte, África, Ásia, China, Sibéria, Alasca
e, finalmente, Japão.
Seu ponto de residência, após quatro anos de peregrinação, teria sido Hachinoé
e não Herai.
Se conhece, inclusive, a data de seu desembarque no Japão: 26 de fevereiro do
33º ano de Suinim.
Mas Kirisuto teria passado o final da vida em Herai, onde teria morrido na idade
de 118 anos!
Esses relatos, detalhes, a miúdo contraditórios, documentos e relíquias, são
propriedade dos descendentes de Kiyomaro Takeuchi, o grande sacerdote
sintoísta.
Estavam encerrados em cântaros com várias outras obras: O livro do Céu (Ten-
no-maki), O livro da Terra (Chi-no-maki), O livro do homem (Jin-no-maki).
Capítulo XIX
REALIDADES, SONHOS E FANTASMAS
CONTRADIÇÕES FASTIDIOSAS
194
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O que pensar em definitivo?
Por uma parte, a análise das civilizações antigas, o labirinto das tradições e a
decifragem dos símbolos nos aportam a quase certeza que iniciadores vieram,
antanho, do céu.
Por outra parte, nenhuma prova tangível apóia essa crença e o estudo lógico do
fenômeno nos obriga a tirar a conclusão de que jamais sairemos de nosso
sistema solar, mas que igualmente jamais civilizações do espaço poderão
chegar até nós.
Temos a possibilidade, mediante nossos milhares de correspondentes, leitores e
amigos, de possuir o censo da quase totalidade das informações mundiais sobre
os ufos.
Ademais, seguimos de muito perto a corrente do pensamento dos cientistas
alguns dos quais, como veremos, se voltam tão empíricos e cândidos que,
inclusive, os mesmos crentes nos discos voadores não os querem seguir em
seus extravagabundeios!
Então, pra tentar esclarecer, estudaremos o problema o dividindo em três
expedientes:
— Tradições, indícios e elementos favoráveis extraídos na Antigüidade.
— Extravagâncias dos disquistas.
— O que opinam os cientistas.
Só faltará tirar uma conclusão ambígua, tida conta que nada pode ser
demonstrado num sentido nem noutro e que a solução é um assunto de crença.
195
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
— Em toda parte no mundo se encontram desenhados, gravados ou esculpidos,
deuses montados sobre engenhos voadores, sobre serpentes ou dragões
voadores, principalmente na Pérsia, Egito, México, Peru.
— Realizações técnicas e segredos científicos que parecem fora do alcance dos
povos antigos eram, no entanto, conhecidos por eles:
Os pára-raios do templo de Salomão.
Os mapas de Piri Reis.
A lâmpada elétrica de Jechiele, sob São Luís.
Os misteriosos desenhos da Porta-do-Sol em Tiauanaco.
Os relatos de guerras atômicas no Maabarata.
A pilha elétrica de Bagdá.
Os homens de crânio plano do lago Tacarígua.*
A lousa de Palenque, que representa, parece, um foguete à reação, pilotado por
um cosmonauta.
O enxerto do coração sem fenômeno de rejeição, gravado sobre as pedras de
doutor Cabrera.
A deusa Nute dos egípcios que figura o céu por uma mulher em flexão até
diante, leva sobre o corpo uraios (globo e serpentes) separados por estrelas. Sob
seu ventre está gravado um uraios alado provido de estrelas e esse conjunto
celeste está suspenso sobre uma representação de nosso mundo, o que evoca,
irresistivelmente, a idéia de viagem cósmica.
— A Bíblia (Gênese I, 2-4) diz que anjos sexuados vieram do céu pra desposar as
filhas dos homens.
O Livro de Enoque apóia essa menção em 105 capítulos.
— Ezequiel, na Bíblia, descreveu uma máquina voadora que inspirou o modelo
dos atuais discos.
— O escritor fenício Sanchoniatão (-1000) assegura que a deusa Astartéia veio
do planeta Vênus sobre uma serpente voando com hélices.
— Os manuscritos mexicanos reproduzem engenhos voadores e o que se crê ser
viagens Terra-Vênus.**
— Os textos sagrados hindus revelam que nossos antepassados ários vinham
duma estrela no Caminho de Ariamã.
— O Corão situa o paraíso terreno fora da Terra, etcétera.
Esse insólito terreno e esses relatos de viagens interplanetárias que
encontramos em nossos livros, e que seria demasiado longo reproduzir,
constituem para toda mente honesta indícios que convém ter em conta.
Esse censo do insólito do globo figura em Histoire inconnu des hommes (História desconhecida dos
homens) ou em O enigma dos Andes, de Robert Charroux.
O livro dos senhores do mundo, Robert Charroux, capítulo II: Os manuscritos maias, Capítulo XIII,
Louis Jacolliot, em Histoire des vierges (História das virgens) (1874, gênese dos
hindus, livro Primeiro de Manu), escreveu:
«Um mês dos mortais é um dia e uma noite dos pitris, antepassados dos
humanos deificados que habitam os outros planetas».
É, aproximadamente, o que dizia o bardo e herói galo Taliesin: «Meu país de
origem é a região das estrelas de verão».
As tradições dos hebreus asseguram que Moisés, Elias e Enoque foram
transportados vivos ao céu, e uma curiosa escultura da igreja de Saulgé, na
Vienne, representa o mesmo milagre que teria sucedido a uma misteriosa
personagem chamada Renulfo.
Eis aqui como o historiador do Poatu, Jacques Pineau, descreve o gravado:**
Segundo o abade Liége, o primeiro senhor de Montmorillon, Ranulfo, está
representado num medalhão levado por anjos. Se pode ainda ler a inscrição:
Ranulfis ad ostra levatur nobile agnetis. PTL (Ranulfo foi nobremente elevado até
Lumiéres dans a nuit (Luzes na noite), Misteriosos objetos celestes e problemas conexos, Les Pins,
43400, Le Chambon-sur-Lignon.
198
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Segundo ianques os discos voadores seriam emanações de Satã e Jesus teria
Vênus como pátria.
Está dito, de fato, Apocalipse XXII, 16:
«Eu Jesus... Sou o rebento e o filho de Davi, a estrela brilhante da manhã».
A ORDEM DE MELQUIDESEQUE
Capítulo XX
DELÍRIO DOS LABORATÓRIOS
200
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
A essas reflexões extremamente interessantes acrescentamos a opinião do
astrônomo Hubert Reeves:
Nosso universo está, ainda, cheio de coisas que não compreendemos. Coisas
misteriosas que estranham e (sobre o problema dos discos voadores) não posso
ser afirmativo num sentido nem noutro.
»Neste momento isso me parece quase impossível. No futuro creio que vale
mais ser prudente e nada dizer».
O que se pode dizer sem risco é que, cada vez mais, certos sábios ficam
inteligentes, sensíveis, e não temem, em absoluto, dar um passo em direção aos
poetas e aos esoteristas.
Os pulsares são radiofontes cujas emissões muito potentes vêm sempre do mesmo ponto distante do
espaço (os bordas de nosso universo) sob forma de pulsações regulares. Seriam, quiçá, estrelas de
nêutron em rotação muito rápida, isto é, estrelas que terminam seu ciclo de vida ativa.
201
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
intransigência dalguns de seus colegas e penetra de cheio na pluralidade dos
mundos habitados.
Num livro que poderia ser a Bíblia dos disquistas,** declara que devemos nos
preparar à idéia de que existem no universo criaturas semelhantes a nós mas
que podem utilizar uma ciência diferente. Escreveu:
«As formas de vida que existem no universo devem apresentar o aspecto dum
zoo fantástico».
Desde sempre o homem, maravilhado, contempla o céu que sempre considerou
morada de seus deuses (exceto os gregos).
Por instinto, tem, talvez, razão, observou muito justamente Fred Hoyle quem,
ademais, pensa que o exílio ao homem em perigo pode vir do céu e que houve,
antanho, sobre a Terra seres vindos das estrelas.
Nossos antepassados superiores, de certo maneira!
«É fantasticamente improvável que sejamos os primeiros»... acrescenta, mas,
paradoxalmente, não crê na possibilidade dos contatos, já que se fosse doutro
modo todos os planetas estariam habitados por criaturas do tipo que primeiro
tivesse feito a viagem.
A ESFERA DE DYSON
Eis aqui alguns títulos das obras de Jimmy Guieu: Le retour des dieux (O retorno dos deuses), Les sept
sceaux du cosmo (Os sete selos do cosmo), A voix qui venait d'ailleurs (A voz vinda de alhures), Le
pionnier de l'atome (O pioneiro do átomo), etc. Edições Fleuve Noir, Paris.
Andrômeda é uma constelação do hemisfério boreal que contém o objeto celeste mais distante que um
olho humano, nu, pode divisar numa noite muito clara: A grande nebulosa de Andrômeda. É extragalática.
203
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
O projeto foi minuciosamente elaborado por Dyson, desenhado, calculado, e só
falta executar.
Nesse estudo o planeta Júpiter é «desmontado e transportado sobre uma órbita
próxima à Terra e, reconstituído na forma duma concha esférica, enxame de
fragmentos individuais que girem ao redor do Sol».**
Excelente solução, disse Sagan, pra assegurar a sobrevivência duma população
numerosa... Será, sem dúvida, possível construir uma esfera de Dyson dentro
dalguns milhares de anos!
E se assim é, acrescentou, é provável que civilizações muito mais antigas que a
nossa executaram esse programa num remoto passado.
Parece um sonho!
Mas essas super civilizações mencionadas existem no universo?
Se há não querem se comunicar conosco.
Porque, temos de ser sensatos: Uma civilização super inteligente e desejosa de
estabelecer contato conosco adivinharia que temos aparatos de rádio e de
televisão!
Lhe seria fácil, graças a seus fantásticos conhecimentos, nos enviar emissões
fônicas e, inclusive, imagética, não em preto e branco mas em cor e em relevo.
Imaginar que não sabemos decifrar suas mensagens entra no absurdo!
Não somos, pobres retardados, os que temos de tentar decifrar... incumbe aos
super inteligentes enviar emissões claras!
Não as recebemos?
Então é que esses super inteligentes não existem ou não querem se revelar.
Um dos que se denominam iniciados e que não costuma aparecer nos salões,
salas de redação, congressos e empresas editoriais nos fez as seguintes
revelações:
Carl Sagan é o eco perfeito da reflexão chamada científica. Suas idéias são
brilhantes. Sabe ou crê saber o diâmetro do universo, o número de sóis que
povoam nossa galáxia e o número de galáxias existentes no cosmo. Explica
como o universo foi constituído a partir dum grande bangue!, que se assemelha
ao trovão de Zeus e às fábulas da Bíblia. Isso carece de seriedade!
Sagan nutre com ilusões aqueles que se deixam captar pela magia de seu verbo
(mas tem, quiçá, razão sobre o plano psicológico).
Os pseudodiscos voadores são fantasmas, ilusões, imagens-desejos produzidas
por alucinações gregárias.
É inútil esperar os extraterrenos: Salvo um caso excepcional e não previsível,
não virão à Terra. E, sobretudo, não virão pra nos salvar! Que existam
civilizações extraterrenas é tão provável que se pode, logicamente, considerar o
fato como certo. Que essas civilizações possam, como insinuam Sagan,
Shkolvski ou Dyson, alcançar um nível infinitamente superior ao que
conhecemos: Não!
O LIVRO DE ECLESIASTES
Livro de Enoque. Parte I, capítulo VII, versículo 10: E eles lhes ensinaram (às mulheres) a bruxaria, o
encantamento e as propriedades das raízes e das árvores. Capítulo VIII, versículo 1: Azazyel ensinou,
também, os homens a fazer espada, faca, escudo, couraça e espelho. Lhes ensinou a fabricação de
bracelete e de adorno, o uso da pintura, a arte de pintar as sobrancelhas, de empregar pedra preciosa e
toda classe de tintura, de modo que o mundo fosse corrompido.
207
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Muito mais sábio que Einstein e Carl Sagan, os antigos ensinavam as leis do
destino, e a Bíblia fez eco dele no Livro de Eclesiastes, ao qual cabe admirar a
alta filosofia unida a um labirinto científico assombrosamente profundo. Eis aqui
um extrato de capítulos que merecem meditação:
Capítulo primeiro:
2 Vaidade de vaidade, diz o Eclesiastes: Vaidade de vaidade. Tudo é vaidade.
3 Que proveito tira o homem de tudo pelo qual se afana sob do Sol?
4 Passa uma geração e vem outra mas a Terra permanece pra sempre.
9 O que foi será. O que já se fez, isso é o que se fará. Nada se faz novo sob o
Sol.
10 Uma coisa da qual dizem: «Olhai, isso é novo». Assim era nos séculos
anteriores a nós.
Não há memória do que precedeu, nem do que sucederá haverá memória nos
que virão depois.
Capítulo II:
14 O sábio tem olhos na frente e o néscio anda em treva. Vi também que uma
mesma é a sorte de ambos.
15 E disse em meu coração: «Também terei a mesma sorte do néscio. Por que,
pois, me tornar sábio? Que proveito tirarei dele?» E disse pra mim: «Também
isso é nulidade».
21 Porque quem trabalhou com labirinto, com perícia e bom sucesso, tem
depois que deixar tudo a quem nada fez nele. Também isso é vaidade e grande
mal.
Capítulo VIII:
17 Examinei, também, a obra de Deus, que não pode o homem conhecer quanto
se faz sob o Sol, e por muito que em buscar se fatigue, nada chega a descobrir.
E, ainda quando disser o sábio que sabe, nada chega a saber.
FIM
209
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
Apêndice
Diferença de nomenclatura numérica entre Américas e Europa
Um Um 1 100
210
Robert Charroux Arquivos doutros mundos
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— Maelstrom, Maelstrom! — Gritavam os marinheiros.
Estávamos, pois, nas perigosas paragens da Noruega, o Nautilus tinha sido
arrastado àquela voragem no mesmo instante em que íamos arriar o barco.
É fato que na ocasião da preamar, as águas comprimidas entre as ilhas
Féroe e Lofoden adquirem intensa violência, formando um torvelinho do qual
nunca escapou navio.
Júlio Verne - 20 mil léguas submarinas
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Dados referentes a algumas crateras meteoríticas, seguem na tabela abaixo:
Austrália 21 lgaranga
Kansas - 17 Haviland
Eua
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