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Por Valdir Ávila

A Bíblia relata em Números 13.31 o seguinte: “Porém os homens que com ele (Calebe) tinham
subido, disseram: Não podemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós”.

Doze espias haviam passado quarenta dias avaliando a terra prometida, e tudo vinha caminhando
normalmente desde a saída do Egito até o povo chegar em Cades-Barnéia, neste momento crítico da
sua história. Começando com dez dos doze espias e passando em seguida a toda a congregação, o
povo de Israel fez algo que suscitou a ira de Deus, como em poucas outras ocasiões da história
sagrada. Rejeitaram a terra que Deus havia prometido para Abraão, não mais se lembraram da
forma poderosa como foram libertos do Egito e das pragas, ignoraram os sinais e a provisão
milagrosa no deserto – e simplesmente se recusaram a continuar. Era como preparar um casamento:
fazer curso de noivos, ir ao cartório, marcar o dia do casamento, receber presentes – e na hora de
ver a casa, a noiva dizer: “Não gostei”. Então o noivo é obrigado a adiar o casamento. Não era para
menos. Deus tinha toda razão de ficar furioso e de sentenciar o povo a andar no deserto até morrer e
outra geração tomar seu lugar.

Mas o que realmente causou tamanha crise? O que levou o povo a voltar-se contra a vontade de
Deus e a esquecer-se do que ele havia feito e prometido? O fato que merece destaque é que o povo
olhou as dificuldades iminentes e sentiu medo, olhou para a aparência da situação e esqueceu-se de
Deus. Deus ficou irado com seu povo em Cades-Barnéia, pois permitiram que os obstáculos se
avolumassem aos seus olhos e não confiaram que Deus fosse capaz de fazer o que lhes prometera.

Moisés até conseguiu acalmar a Deus com sua intercessão, entretanto, mesmo assim, o Senhor jurou
que aquela geração não entraria na terra. Naquele instante, houve uma parada total no plano de
Deus e o povo ficou por quarenta anos andando em círculos no deserto. Esse foi o resultado do
medo, de fixar os olhos nas dificuldades aparentes e não na confiabilidade divina.

A igreja de Atos, o povo de Deus do Novo Testamento, enfrentou o mesmo problema. A obra de
Deus crescia espontaneamente, de forma até espantosa; havia a Palavra e também sinais e milagres;
a congregação vivia em comunhão e todos repartiam seus bens uns com os outros. Entretanto, é
possível detectar uma nova Cades-Barnéia em Atos 5.

Ananias e Safira tiveram medo de entregar-se de forma tão radical como os demais e, também, de
parecer menos dedicados que os outros. Agiram com falsidade e foram imediatamente julgados.
Com sua morte, o restante da congregação passou a ter medo dos apóstolos, medo de Deus e medo
de se entregar. O rio de espontaneidade e voluntariedade secou-se. A caminhada vitoriosa em
direção à terra prometida foi interrompida.

Se após Cades-Barnéia o castigo para o povo foi vagar por quarenta anos, o castigo da igreja, após
Ananias e Safira, foi ficar vagando e perdendo a identidade por quarenta jubileus, ou seja, por dois
mil anos (40 X 50 anos, o período conhecido na lei de Moisés como jubileu). A igreja, neste
período, perdeu a revelação da Palavra, perdeu os apóstolos, perdeu os dons, enfim, perdeu tudo.
Através dos séculos, a igreja tem lutado para voltar ao ponto de onde caiu. Profeticamente,
precisamos alcançar novamente este lugar representado por Cades-Barnéia e por Ananias e Safira.
Estou falando de uma situação em que Deus espera uma resposta positiva do seu povo, uma
concordância com sua vontade, que levará seu povo a um estágio mais alto.

Muitas coisas já foram restauradas na igreja atual, muitos aspectos da Palavra e, mais recentemente,
os dons e a operação do Espírito Santo. Porém, não é só isso que é necessário. Deus quer levar sua
igreja para uma terra que mana leite e mel, dois alimentos que não precisam ser cultivados, mas
simplesmente concedidos por Deus. Isso significa que estamos caminhando para um lugar onde não
teremos de nos preocupar com nada, onde não devemos temer nada.

Muitos estão contentes com o que a igreja já tem, com a presença do Espírito Santo em nosso meio,
com manifestações e provisões divinas. Mas ficar acomodado com isto é como se o povo de Israel
se contentasse com o maná no deserto para sempre, esquecendo-se da provisão muito maior, que era
a terra prometida. E Deus tinha em mente algo maior ainda do que apenas entrar na terra, que era
habitar no meio deles de forma mais permanente e estender o seu Reino a toda a Terra. O Noivo tem
um plano maravilhoso para sua Noiva, mas não pode revelar todos os detalhes de uma vez; deste
plano faz parte uma casa, um futuro, uma família, e muitas outras surpresas… Porém, a Noiva
começa a ver obstáculos e não quer dar os passos necessários para que o plano se concretize.

Em Cades, o povo não prosseguiu porque teve medo e deixou a incredulidade roubar-lhes o
cumprimento da promessa. Em Atos, o povo teve medo que lhes faltasse provisão e reteve o que
jurou dar a Deus. Se o povo passou por quarenta anos no deserto e se a igreja está passando por
quarenta jubileus, ou dois mil anos, desde Ananias e Safira, devemos orar agora para que Deus
permita que esta geração finalmente entre na terra prometida.

Contudo, antes de entrar na terra, deverá acontecer uma nova Cades-Barnéia, um momento de
escolha, de opção pelo plano de Deus, pois na igreja atual as pessoas não estão vendendo nada e
muito menos colocando aos pés dos apóstolos.

O que é a Síndrome de Cades-Barnéia que pode novamente nos impedir de tomar a decisão certa? É
olhar a situação à nossa frente com olhos humanos; ao ver que a nossa força é totalmente
insuficiente, o medo toma conta e nos derrota, impedindo Deus de realizar seu plano em nós. É
exatamente este estado mórbido, indeciso e apático que é explicito na vida da igreja atual e que
denuncia que ainda não estamos prontos para um estágio maior.

Muitas causas podem nos fazer sentir medo, mas em breve teremos de fazer esta escolha.
Poderemos até olhar as dificuldades, as quais nos parecerão como gigantes à nossa frente;
poderemos até sentir medo de dar tudo e de colocar aos pés dos apóstolos; contudo existe a
promessa que Deus irá cumprir. O desafio para nós pode não ser o mesmo enfrentado em Cades ou
no livro de Atos; é certo, porém, que existe um estágio sobremodo grande no qual a igreja deverá
entrar. Logo ali, à nossa frente, existe uma surpresa, um mistério ainda não revelado, e um desafio
que será colocado diante de nós. Aprendamos desde já a colocar nossos olhos na direção certa e a
confiar na fidelidade de Deus. Vai valer a pena!

Valdir Ávila é um dos integrantes do Ruach Ministério de Louvor e da Igreja Bíblica em Botucatu,
casado com Cristina e pai de Daniella.

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