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A DUPLA NEGAÇÃO NO PORTUGUÊS FALADO EM VITÓRIA/ES: TRAÇO DA

IDENTIDADE LINGUÍSTICA CAPIXABA?


Cristiana Aparecida Reimann, Lilian Coutinho Yacovenco
PPGEL/UFES
Vitória, Espírito Santo, 29075-910, Brasil
UFES
Vitória, Espírito Santo, 29075-910, Brasil
rc.cristiana@gmail.com ; lilianyacovenco@yahoo.com.br

RESUMO

No português brasileiro, estão presentes três estratégias de negação sentencial: negação pré-verbal (não+SV), dupla negação
(não+SV+não) e negação pós-verbal (SV+não). Nesta pesquisa, buscamos descrever as construções negativas sentenciais do
português falado em Vitória/ES com o intuito de buscar a identidade lingüística capixaba, que teria nas estruturas que
apresentam a dupla negação uma de suas marcas. Tendo por base a Teoria da Variação e da Mudança Linguística (Labov,
2008 [1972]), entende-se que a língua falada se apresenta, portanto, como uma entidade heterogênea e diversificada,
suscetível a variações e mudanças ao longo do tempo. Compreende-se, ainda, que tais fenômenos não acontecem isolada,
nem abruptamente, sofrendo, também, influências sociais.

INTRODUÇÃO salientes que caracterizam o falante ao chegar em outro


estado ou até mesmo no próprio estado do Espírito Santo.
Este estudo visa a uma reflexão acerca da O capixaba possui uma variedade pouco marcada, ao
ocorrência das três estratégias de negação no português menos em termos fonéticos. Todavia, é inegável que o
falado em Vitória/ES. Propõe, assim, uma descrição das capixaba possui traços que constituem sua comunidade de
construções negativas sentenciais no português falado fala e a dupla negação pode se caracterizar como um desses
nessa capital, tendo como hipótese a alta freqüência de uso traços.
de estruturas que apresentam a dupla negação. Este estudo, O uso da dupla negação em Vitória/ES não se
realizado sob o enfoque da Sociolingüística Variacionista, apresenta como um fenômeno de estratificação social,
considerando, portanto, aspectos linguísticos e sociais, tem contudo, ao que parece, representa uma marca lingüística
como objetivo principal investigar se a opção pelo na fala do capixaba que determina, juntamente com outras,
emprego da dupla negação é uma das características da sua identidade lingüística. É notório que qualquer língua é
identidade lingüística do capixaba. representada por um conjunto de variedades e estas, por
A presente investigação aborda as estruturas de sua vez, são inseparáveis e constituem o repertório
negação do português brasileiro (PB), tendo como linguístico de determinada comunidade de fala. Conforme
instrumento de análise três estratégias de negação:1) afirma Alkmin (2001, p. 32), “Ao estudar qualquer
negação pré-verbal (não+SV): ex: 1não deve ser normal comunidade linguística, a constatação mais imediata é a
isso; 2) dupla negação (não+SV+não): ex: não suporto existência de diversidade ou de variação. Isto é, toda
mentira não e 3) negação pós-verbal (SV+não): ex: comunidade se caracteriza pelo emprego de diferentes
tivemos amor a animal não. modos de falar”. Cezário e Votre (2008, p. 144) também
A amostra para a presente análise é parte do ratificam essa posição, ao dizerem que “A diversidade e a
Projeto Português Falado na Cidade de Vitória variabilidade são características inerentes aos sistemas
(PORTVIX), projeto de orientação variacionista, lingüísticos.”
coordenado por Lilian Coutinho Yacovenco. Iniciou-se em Conforme afirma Paredes da Silva, falantes
março de 2000, com gravações realizadas no período entre oriundos de uma comunidade de fala apresentam
2001 e 2003, visando a registrar o vernáculo dos habitantes diferenças e semelhanças sistemáticas, para as quais há
dessa capital na busca de entender a realidade lingüística uma organização social que reflete o uso da língua e, por
da comunidade de fala de Vitória/ES. conseqüência, as características percebidas no indivíduo da
comunidade analisada.
IDENTIDADE LINGUÍSTICA
Ao estudar a língua em uso numa comunidade,
defrontamo-nos com a realidade da variação. Os
O Espírito Santo caracteriza-se por composição
membros da comunidade são falantes homens e
etnográfica bastante variada, formada, inicialmente, por mulheres de idades diferentes, pertencentes a estratos
portugueses, indígenas e povos africanos, mas, também, a socioeconômicos distintos, desenvolvendo atividades
partir do século XIX, por italianos, alemães, pomeranos, variadas, e é natural que essas diferenças, identificadas
poloneses. Resultante dessa composição, temos uma como sociais ou externas, atuem na forma de cada um
enorme variedade lingüística em terras capixabas, expressar-se. (PAREDES DA SILVA, 2007, p. 67)
variedade esta, entretanto, pouco estudada.
Marcellesi, ao analisar o caráter social da língua,
A identidade linguística capixaba não se
ratifica a noção de que a língua não é apenas um meio de
apresenta de forma bem definida, com marcas fonéticas
interação social, mas, também, uma forma de identidade
cultural de um determinado grupo.
1 Todos os exemplos foram extraídos do PortVix.
Com base nos dados apresentados por Furtado da
O caráter social da língua é acentuado pela importância Cunha (2000), observa-se que o uso da dupla negação é
da história numa concepção que põe em relevo a idéia mais recorrente na região nordeste, sobretudo, na fala mais
de depósito, de acumulação de experiência. A língua espontânea, em comparação aos resultado das regiões sul e
torna-se assim uma espécie de memória coletiva do
sudeste, onde a dupla negação é menos expressiva.
povo que a fala, e isso não propriamente por o discurso
provir de um passado, mas porque é todo esse passado Ao negar uma sentença, o falante opta por uma
que nele se reflete (MARCELLESI, 1975, P. 26). das três formas de negação existentes no português
brasileiro, essa possibilidade de escolha justifica que a
língua é uma estrutura maleável suscetível a variações.
A humanidade é constituída por seres organizados Tais variações ocorrem de acordo com a comunidade que a
em sociedade, detentores de uma linguagem oral propícia a utiliza considerando fatores linguísticos e sociais que
uma gama de variações que caracterizam o meio social ao influenciam a opção por determinadas variantes. Conforme
qual estão inseridos. Definir as semelhanças e as diferenças Cezário e Votre (2008), a língua é um sistema que tende a
lingüísticas de um grupo, e a razão pela qual certos grupos adaptar-se às situações de uso, e a variação propicia esse
de falantes compartilham traços lingüísticos que os caráter adaptativo da língua.
distinguem de outros grupos, voltando-se ao exame da
língua tal como é por eles produzida, é um passo
[...] a variação não é vista como um efeito do acaso,
importante para entender e conhecer os traços culturais e mas como um fenômeno cultural motivado por fatores
sociais de um povo através da linguagem. linguísticos e por fatores extralinguísticos de vários
tipos. A variação ilustra o caráter adaptativo da língua
VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA: O CASO como código de comunicação[...] (CEZÁRIO E
DA DUPLA NEGAÇÃO VOTRE, 2008, p. 141).

Ou seja, a língua é um sistema organizado, que


No português falado no Brasil, são comumente apresenta um aparente “caos” lingüístico, resultante da
utilizadas três estruturas de negação existentes na língua diversidade inerente aos sistemas lingüísticos,
portuguesa. A negativa pré-verbal, padrão, (eu não sei o permanentemente sujeitos às pressões internas e externas.
percentual) é a forma mais utilizada. A negativa pós-verbal Assim como ocorrem mudanças na sociedade ao
(tem muito tempo não) apresenta-se menos frequente e longo da história, as línguas também mudam com o tempo.
utilizada em situações mais específicas. Por sua vez, a O processo de mudança lingüística é gradual, não acontece
dupla negação (não tenho preconceito com filme não) é um de repente. Uma variante inicialmente utilizada por um
fenômeno que vem ganhando espaço na língua falada. grupo de falantes, com o passar do tempo, pode ser adotada
Trata-se de uma forma de expressar a negação bastante por indivíduos socialmente mais influentes e, ao cair em
perceptível na fala do capixaba, sendo aqui entendida como uso, em alguns casos, pode tornar-se uma norma ou uma
uma característica dessa comunidade de fala, por seus variante prestigiada na sociedade (CAMACHO, 1988).
usuários optarem, de modo freqüente, por esta forma de Nesta perspectiva, indivíduo e sociedade
negação em seus discursos orais. interagem constantemente ao longo do tempo e as
A negação pré-verbal, a mais freqüente no PB, mudanças sociais e lingüísticas tomam formas e valores
também é que mais ocorre na fala capixaba. Entretanto, dentro de determinada comunidade.
chama a atenção o número de estruturas de dupla negação. Como se pode observar, as variações e/ou
Como já dito, a fala capixaba é vista como não-marcada, mudanças linguísticas não acontecem isoladamente, de
sendo a estrutura de dupla negação bastante marcada no uma hora para outra, mas sofrem algum tipo de influência
PB. Dessa forma, pode-se supor que seja esta uma do meio, uma vez que as pressões sociais operam
característica da identidade lingüística do capixaba, ao continuamente sobre a língua, que se modifica conforme as
menos do residente em Vitória. Observa-se que as necessidades de seus usuários.
entrevistas aqui analisadas são as denominadas
“tipicamente labovianas”, em que um falante responde a METODOLOGIA
questões formuladas por um ou mais entrevistadores.
Furtado da Cunha (2000) apresenta algumas
pesquisas sobre o uso das estruturas de negação realizadas O presente estudo é baseado na Sociolinguística
em outras regiões do Brasil. Na pesquisa, a autora utilizou Variacionista, modelo teórico cujo objeto de estudo se
diferentes corpora para obtenção dos resultados. Os concentra no uso do vernáculo, isso é, da língua falada em
resultados do corpus Discurso & Gramática (D&G), situações naturais de interação social, em que o mínimo de
mostram os seguintes percentuais de uso da dupla negação: atenção é prestado ao monitoramento da fala.
O corpus de análise para a presente pesquisa,
Natal (RN) 9,4%, Rio de Janeiro (RJ) 8,4%, Niterói (RJ)
conforme dito anteriormente, é composto por uma amostra
8%, Juiz de Fora (MG) 14,5% e Rio Grande (RS) 0%. recolhida na PORTVIX, amostra esta formada por 08
Para a pesquisa na cidade de Fortaleza, o banco de dados informantes, divididos por gênero (masculino e feminino),
consultado foi A linguagem falada em Fortaleza, na qual a escolaridade (Ensino Fundamental e Universitário) e faixa
dupla negação aparece com um percentual de 17%. etária (15 a 25 anos e acima de 49 anos).
Também foi utilizado o Banco Conversacional, constituído
para representar uma amostra de conversação natural entre Quadro 1: Fatores analisados e distribuição das células sociais:
falantes natalenses com um certo grau de familiaridade,
este apresenta 21% de uso da dupla negação na cidade de
Natal (RN). Faixa etária 15-25 anos Acima de 49 anos
Gênero influentes sobre as duas variantes analisadas: a negação
Masculin Feminino Masculino Feminino pré-verbal versus a dupla negação amalgamada à negação
o pós-verbal.
A tabela 2 apresenta o efeito da variável estrutura
Ensino Célula 09 Célula 11 Célula 18 Célula 19 da sentença sobre o fenômeno analisado. Essa variável foi
fundamental a primeira a ser selecionada pelo Programa Goldvarb X,
isto é, é a que possui um efeito mais forte. Observa-se que
Ensino Célula 35 Célula 37 Célula 43 Célula 45 as respostas atuam para o favorecimento da dupla negação
universitário ou negação pós-verbal, apresentando peso relativo de
0,747, conforme tabela 2.
Número total de informantes 08
Tabela 2: Efeito da variável estrutura no uso da dupla negação.
Variável Pré-verbal Dupla negação+Pós-
As entrevistas do PortVix seguem o modelo verbal
laboviano, caracterizando-se por serem uma fala ESTRU N/ % Peso N/ % Peso
monitorada, definida, por Labov, como “o tipo de fala que TURA total total
normalmente ocorre quando a pessoa está respondendo Resposta 75/ 49.3 0.253 77/ 50.7 0.747
perguntas que são formalmente reconhecidas como “parte 152 152
da entrevista”. (Labov, 2008, p. 102-103). Entretanto, em Não- 631/ 77.9 0.551 179/ 22.1 0.449
tais entrevistas, também pode ser encontrado o estilo resposta 810 810
casual, aquele que se aproxima do vernáculo, que, de Total 706/ 73.4 256/ 26.6
acordo com Labov (2008, p. 244), é um “estilo em que se 962 962
Input 0.742
presta o mínimo de atenção ao monitoramento da fala”.
Significância 0.000
Ainda segundo Labov (2008, p. 244), “a observação do
vernáculo nos oferece os dados mais sistemáticos para a
A segunda variável selecionada foi o gênero do
análise lingüística.”
falante, em que a dupla negação, amalgamada à negação
Conforme já afirmado, a variável dependente
pós-verbal, apresenta peso relativo de 0.591. Essa forma é
analisada é a negação na fala de Vitória, que se apresenta
mais utilizada pelos homens, conforme exposto na tabela 3.
sob a forma de três variantes: negação pré-verbal
Scherre e Yacovenco (2011), ao abordarem a questão dos
(não+SV), dupla negação (não+SV+não) e negação pós-
gêneros e da mudança lingüística, propõem que, “em
verbal (SV+não). As variáveis independentes são
configurações mais marcadas - e não necessariamente
compostas por fatores sociais, como o gênero, a faixa etária
menos prestigiadas – os homens estão à frente na variação
e a escolaridade dos entrevistados, e, também, por um fator
ou na mudança”. Os resultados obtidos para a dupla
lingüístico: a estrutura das sentenças (respostas e não-
negação na fala capixaba corroboram a proposta das
respostas). As entrevistas foram codificadas e submetidas
autoras, uma vez que os homens usam mais
ao programa Goldvarb X (Sankoff, Tagliamonte, Smith,
frequentemente esta variante, que é mais marcada.
2005), para tratamento estatístico dos dados.
Tabela 3: Efeito da variável gênero no uso da dupla negação.
RESULTADOS Variável Pré-verbal Dupla negação+Pós-
verbal
Nas tabelas a seguir estão demonstradas as GÊNERO N/ % Peso N/ % Peso
freqüências das estruturas negativas no português falado na total total
cidade de Vitória/ES, resultantes de entrevistas do projeto Masculino 281/ 66.1 0.409 144/4 33.9 0.591
425 25
PortVix.
Feminino 425/ 79.1 0.573 112/ 20.9 0.427
A tabela 1 mostra a distribuição das estruturas de 537 537
negação usadas na cidade de Vitória/ES, conforme análise Total 706/ 73.4 256/ 26.6
dos dados codificados nas oito entrevistas do PortVix 962 962
selecionadas para a realização da presente pesquisa. Como Input 0.739
podemos observar, a dupla negação aparece com um Significância 0.000
percentual de 22,1% em um total de 979 dados analisados.
A terceira variável mais influente selecionada
Tabela 1: distribuição das construções negativas no corpus analisado . pelo programa Golbvarb X é a faixa etária, na qual a dupla
Variante N/Total % negação e a negação pós-verbal aparecem com mais
Pré-verbal 721/979 73,6% freqüência na fala dos jovens de 15 a 25 anos, o que
Dupla negação 216/979 22,1% demonstra o fortalecimento da(s) variante(s) inovadora(s)
“as formas mais novas estão associadas a forças
Pós-verbal 42/979 4,3%
sociolingüísticas inovadoras, tais como falantes mais
jovens, modalidade oral e estilo coloquial” (FURTADO
Como a negação pós-verbal possui uma DA CUNHA, 2001. p. 8), conforme pode ser observado na
freqüência bastante restrita, chegando a apenas 4,3% na tabela 4.
fala de Vitória, esta foi amalgamada à dupla negação para
Tabela 4: Efeito da variável faixa etária no uso da dupla negação.
o levantamento dos pesos relativos. Variável Pré-verbal Dupla negação+Pós-
O programa Goldvarb X selecionou as variáveis verbal
estrutura da sentença, gênero e faixa etária como as mais Faixa N/ % Peso N/ % Peso
etária total total projeto PORTVIX, ampliando o número de variáveis e o
15 a 25 329/ 68.8 0.442 149/ 3.2 0.558 aporte teórico, estabelecendo uma comparação dos
anos 478 478 resultados com pesquisas realizadas por todo o Brasil, para
> 49 377/ 77.9 0.557 107/ 22.1 0.443 que se tenha um quadro mais completo sobre a atuação do
anos 484 484 fenômeno da dupla negação, sobretudo em Vitória, para
Total 706/ 73.4 256/ 26.6
justificar com mais precisão o uso desta variante como um
962 962
Input 0.736 elemento constituinte da identidade lingüística capixaba.
Significância 0.002
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os resultados demonstram, ao serem
confrontados com os encontrados em outras comunidades ALKMIM, Tânia Maria. Sociolingüística. In:
de fala, o uso expressivo da dupla negação em Vitória, fato MUSSALIM, Fernanda; BENTES Anna Cristina (orgs.).
este que remete a ser esta variante um elemento da Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São
identidade lingüística desse povo. Paulo: Cortez, 2001.

CONSIDERAÇÕES FINAIS CAMACHO, Roberto Gomes. A variação lingüística. In:


Subsídios à proposta curricular de Língua Portuguesa
As análises permitiram constatar que a dupla para o 1º e 2º graus. Secretaria da Educação do Estado de
negação é utilizada com uma certa freqüência na fala do São Paulo, 1988.
capixaba, atingindo um percentual de 22,1% dos 979 dados
analisados. CEZARIO, Maria Maura; VOTRE, Sebastião.
Pretendeu-se nesta pesquisa considerar o Sociolingüística. In: MARTELOTTA Mário Eduardo
fenômeno da dupla negação como um traço característico (Org.). Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
da identidade lingüística capixaba, para isso, algumas
variáveis sociais consideradas importantes, bem como a FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica. O modelo das
estrutura da sentença foram instrumentos de análise para motivações competidoras no domínio funcional da
verificar quais os fatores que favorecem o uso da dupla negação. DELTA, 2001, vol.17, no.1, p.1-30.
negação.
Os resultados comprovam que a estrutura das
FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica. Variação e
sentenças exerce grande influência sobre a ocorrência da
mudança no domínio funcional da negação.
dupla negação/negação pós-verbal com peso relativo de
GRAGOATÁ, Niterói, 2000,. n. 9, p. 155-170, 2. sem.
(0,747).
As variáveis gênero e faixa etária também
aparecem como fatores significativos para a verificação do LABOV, William. Padrões sociolingüísticos. São Paulo:
fenômeno. A dupla negação é mais utilizada pelos homens, Parábola, 2008.
com peso relativo (0,591), do que pelas mulheres e, com
relação à faixa etária, a dupla negação é usada com mais MARCELLESI, Jean-Baptiste. Introdução a
freqüência entre os mais jovens, com peso relativo de sociolinguistica: a linguistica social. Lisboa: Aster, 1975.
(0,558).
A escolaridade, considerada inicialmente um SANKOFF, David; TAGLIAMONTE, Sali; SMITH, Elen.
fator significativo para a análise do fenômeno, não foi Goldvarb X - A multivariate analysis application.
selecionado pelo programa Goldvarb X. Os falantes de Toronto: Department of Linguistics; Ottawa: Department
nível fundamental usam 23,8 % de dupla negação. Os de of Mathematics, 2005.
nível universitário utilizam 20,5 %, diferença esta
considerada não significante entre os níveis de SCHERRE, Maria Marta Pereira; Yacovenco, Lilian
escolaridade. Contudo, a presente pesquisa é a parte inicial Coutinho. A variação linguística e o papel dos fatores
de uma maior, a ser desenvolvida com toda a amostra do sociais: o gênero do falante em foco. DELTA.
PortVix. Documentação de Estudos em Linguística Teórica e
O maior uso da dupla negação entre os mais Aplicada, 2011 (No prelo).
jovens corrobora os resultados encontrados por Furtado da
Cunha (2000, p. 161), em que se verificou que “as SILVA, Vera Lúcia Paredes da. Relevância das variáveis
negativas dupla e final são mais freqüentes na fala de lingüísticas. In: BRAGA, Maria Luiza; MOLLICA, Maria
estudantes mais jovens (cf. Furtado da Cunha, 1996).” De Cecília (orgs.). Introdução à Sociolingüística: o
acordo com Tarallo (1997, p. 65-66) “ Para se atestar a tratamento da variação. São Paulo: contexto, 2007.
mudança em progresso [...] é necessário que as variantes
sejam correlacionadas aos diversos grupos etários: maior TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São
incidência nas faixas mais jovens e menor freqüência nas Paulo: Ática, 1997.
mais velhas.”
Os primeiros resultados corroboram a hipótese YACOVENCO, Lilian. Em busca da identidade
de que esta forma de negação pode caracterizar-se como capixaba. ABRALIN - Em Cena Espírito Santo.
um traço característico das faixas etárias mais jovens. Este Universidade Federal do Espírito Santo, inédito, 2009.
é apenas um estudo inicial, sendo importante para a
comprovação dos fatos, um estudo mais amplo com uma
análise das 46 entrevistas que compõem o corpus do

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