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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
BAMBUZERIA
ALAGOAS

INTRODUÇÃO

N a cidade de Cajueiro, no interior de Alagoas, uma comunidade


formada por ex-trabalhadores das lavouras de cana-de-açúcar buscou
na natureza uma aliada para tentar driblar o desemprego e melhorar a
qualidade de vida. Com um baixo índice de desenvolvimento humano
e uma economia local que não oferecia perspectivas de crescimento, a
alternativa escolhida para promover a inclusão social e conquistar o
desenvolvimento sustentável foi a de transformar um dos recursos naturais
da região, o bambu, em fonte de renda.
A partir de janeiro de 2002, jovens, mulheres, idosos e portadores
de deficiência física começaram a construir uma nova história em que
economia, ecologia e valorização do capital humano passaram a caminhar
juntas.
Em 2002, os moradores da cidade eram unânimes em dizer que
“Cajueiro agora, só dá bambu.”

Fabrícia Carn e i ro Fernandes, jornalista terceirizada do Sebrae Alagoas, elaborou o estudo de


caso sob a orientação de Daniela Abrantes Ferreira Serpa, baseado no curso Desenvolvendo
Casos de Sucesso, realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-Rio, integrando as atividades da
Prioridade Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso no Sistema Sebrae.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


TRABALHO DA EQUIPE NO PÁTIO DA BAMBUZEIRA

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

ASSOCIADA TRABALHANDO NA CONFECÇÃO DO CABIDE


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A CRISE DA CANA

O Município de Cajueiro, com pouco mais de 18 mil habitantes,


estava localizado na Zona da Mata alagoana, a 87 quilômetros de Maceió,
em uma região denominada Vale do Paraíba. Como em boa parte das
cidades do interior do Estado, até o começo de 2002, o desenvolvi-
mento industrial era praticamente inexistente e a economia estava baseada
na produção de cana-de-açúcar.
Até a década de 80, as usinas de cana formavam o setor mais
lucrativo do Estado e as maiores fomentadoras de emprego. Nos
períodos de safra, milhares de pessoas, vindas de várias localidades do
Brasil, migravam para as regiões canavieiras em busca de trabalho nas
lavouras. Um cenário que começou a mudar no fim dos anos 70.
O setor sucroalcooleiro nordestino que, até então, era líder na
produção nacional, começou a perder espaço para as regiões Sul e
Sudeste, beneficiadas por fatores naturais como o clima e a fertilidade
do solo. A facilidade de acesso à tecnologia também permitiu que
essas regiões aumentassem a produtividade, diminuíssem os custos e
ganhassem mercado. De acordo com dados do Ministério do
Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, no período de 1997
a 2000, a produção de cana do Centro-Sul apresentou um elevado
c rescimento, chegando a 85% de participação no total de cana
produzida no Brasil. O Norte e Nordeste, por sua vez, reduziram a
quantidade de cana produzida em aproximadamente 16%.
Para tentar recuperar a atividade, as usinas nordestinas tiveram de
implantar mudanças tecnológicas e administrativas. Algumas investiram
na capacitação dos trabalhadores para conseguir aumentar a
produtividade; outras, localizadas nas regiões de encostas, transferiram
as plantações para áreas de tabuleiros, onde as terras planas permitiam
a implementação da mecanização da colheita.
Diante disso, o desemprego foi inevitável. Em 1990, somente na
região de Cajueiro, as lavouras de cana e o trabalho nas usinas empre-
gavam cerca de 4 mil pessoas durante o período de safra. Em 2002, esse
número era quase três vezes menor. Algumas usinas não conseguiram

C o o rdenação Técnica do Projeto: Manoel Afonso Mello

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superar a má fase e faliram. De acordo com dados do Sindicato da


Indústria do Açúcar e do Álcool de Alagoas – SINDACUCAR, das 30
usinas existentes no Estado em 1990, 13,9% foram desativadas.
Os canaviais que, até a década de 80, representavam esperança
para milhares de famílias foram se transformando em vilões. A crise do
setor sucroalcooleiro foi sentida no dia-a-dia das cidades. Sem ter como
comportar os trabalhadores excedentes das lavouras, os índices de po-
breza e de desenvolvimento humano alcançaram números preocupantes.
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, em 1998, Alagoas apresentava o segundo menor Índice
de Desenvolvimento Humano – IDH do Brasil, 0,538, e Cajueiro era uma
das cidades que mais preocupavam as autoridades, com um IDH de 0,394.
Ainda de acordo com o IBGE, em 1998, a taxa de mortalidade infantil
em Cajueiro atingia 82,57%, uma das maiores do Estado. Números que
superavam a média do Nordeste, de 57,91% e eram duas vezes maiores
que a média nacional, de 36,10%. Os mesmos dados indicam que, em
1998, a taxa de analfabetismo da cidade estava em 50,26%.
O êxodo rural foi outro efeito inevitável da crise. Na década de 80
em Cajueiro, muitos trabalhadores das usinas foram para as capitais do
sudeste, em busca de trabalho. No entanto, a maioria voltava
desanimada. A falta de qualificação profissional e a própria conjuntura
econômica do país naquela década não favoreciam os trabalhadores da
Zona da Mata alagoana.
Para os jovens, a frustração era ainda maior. Sem perspectivas, muitos
acabaram menosprezando o próprio potencial e a cultura da região.
“Nunca fiz planos para o futuro. No interior, a gente só vai
vivendo”, afirmou Washington Silva, de 21 anos.
Enfrentar esses indicadores e reverter a cultura de desvalorização
se transformou em prioridade para o governo e sociedade.

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CAIR PARA LEVANTAR

A busca por alternativas para a geração de emprego e renda em


Cajueiro começou a ser discutida em 1999, com a criação do Fórum de
Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS. De acordo com
sua estrutura, o Fórum instituía um espaço democrático onde representantes
da comunidade, governos municipal, estadual e federal, instituições ligadas
ao desenvolvimento, empresas locais e Organizações Não Governamentais –
ONGs, juntos, discutiam os problemas e as potencialidades de uma região,
buscando mecanismos para promover o desenvolvimento sustentável.
A criação do Fórum DLIS foi uma iniciativa do Programa Comu-
nidade Ativa, desenvolvido pelo governo federal em 1998, com a meta
de estimular o crescimento das cidades com baixo IDH. Em Alagoas, a
implantação do Fórum DLIS teve o apoio da Secretaria Estadual de
Planejamento – SEPLAN e do Sebrae. Até o fim de 2002, eles já haviam
sido criados em 67 dos 102 municípios.
A idéia de reunir representantes da sociedade e dos governos, em
torno dos problemas e potencialidades locais, era uma forma de
incentivar a comunidade a participar de maneira construtiva e cidadã
da administração das cidades. E, em Cajueiro, o foco das discussões do
Fórum DLIS não poderia ser outro senão a busca de soluções para o
desemprego e a criação de alternativas capazes de melhorar as pers-
pectivas de vida dos moradores.
No fim de 2001, o Sebrae apresentou um projeto de desenvol-
vimento local e sustentável que visava promover a inclusão social e o
desenvolvimento econômico por meio do aproveitamento de um dos
recursos naturais existentes na própria região, o bambu. O objetivo do
programa era desenvolver nas microrregiões canavieiras, como a de
Cajueiro, a chamada “cultura do bambu”, como uma forma de criar
ocupação para os ex-trabalhadores das usinas.
Mas por que o Bambu?
“Além de ser um recurso existente na região, ele vem sendo
reconhecido em todo mundo como um grande filão de mercado,
adaptado a vários setores da economia”, dizia Manoel Ramalho.

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“MADE IN CHINA”

O bambu era uma espécie vegetal típica dos países asiáticos. Na


China, por ser uma rica fonte de nutrientes, começou a ser usado como
iguaria da culinária. Na África e em alguns países da América Latina, como
Equador, Colômbia e Costa Rica, o bambu foi adaptado à construção de
casas populares e pontes.
A facilidade do plantio, corte, transporte, manuseio e a resistência do
material – comparado ao aço – foram aspectos que fizeram o bambu ser
cogitado por engenheiros, arquitetos e agrônomos como a madeira do
século 21.
No início de 2000, o uso desse recurso natural no Brasil ainda era
tímido e estava limitado à fabricação de móveis e artigos de decoração.
Em Alagoas, até 2002, o potencial econômico da planta era desprezado;
o bambu vinha sendo utilizado apenas para o reflorestamento de áreas
degradadas e na retenção de encostas.
O Projeto do Sebrae visava implantar unidades produtivas – as
Bambuzerias – voltadas para a capacitação de pessoas na fabricação de
artigos de decoração e móveis em bambu, com apoio às ações de
associativismo e comercialização. De acordo com Manoel Ramalho:
“A idéia não é apenas promover o crescimento econômico, mas
valorizar os aspectos locais e mostrar para a comunidade que é
possível gerar o desenvolvimento sustentável em regiões mais pobres.”
Todo projeto foi respaldado em uma parceria com a OSCIP
(Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), com a mineira
BAMCRUS, pioneira dessas ações no Brasil e que, até 2001, já era
responsável pela criação de mais de 40 Bambuzerias auto-sustentáveis
em todo país.
“O nosso objetivo é dar oportunidade para pessoas geralmente
m a rginalizadas pelo processo econômico. Queremos inverter a
pirâmide social”, a f i rmou Lúcio Ventania, Presidente da BAMCRUS.

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INOVAR É DESAFIAR

M as como, até então, o potencial econômico do bambu em


Alagoas ainda era desvalorizado ou, simplesmente, desconhecido, o
primeiro desafio do Projeto era conquistar parceiros que quisessem investir
na idéia. No fim de 2001, começaram os trabalhos de sensibilização
para a implantação das Bambuzerias, tendo o Município de Cajueiro como
piloto das ações.
O primeiro passo foi organizar um seminário com técnicos da
BAMCRUS e especialistas de instituições reconhecidas na área de
inovação tecnológica, como a UNICAMP, para apresentar aos profissionais
e empresários alagoanos as vantagens econômicas e sociais do uso do
bambu. Também foram realizadas palestras com os moradores de
Cajueiro, para estimular a participação da comunidade no Projeto.
Manoel Ramalho disse que não foi difícil construir as parcerias.
“A comunidade já estava articulada pelo Fórum DLIS e todos
estavam ansiosos para encontrar uma alternativa que pudesse
mudar aquelas perspectivas.”
A sensibilização deu certo. O projeto conquistou não apenas a
comunidade de Cajueiro, mas contou com parcerias importantes como
a Usina Capricho, Prefeitura Municipal e o Instituto de Preservação da
Mata Atlântica – IPMA.
“Essas parcerias foram fundamentais para que a Bambuzeria
saísse do papel”, disse Manoel.

UNIÃO DE ESFORÇOS

C ada parceiro assumiu uma parte do projeto. A Usina e a Prefeitura


foram responsáveis por organizar a infra-estrutura, o que incluiu a reforma
do prédio onde foi instalada a oficina e a compra das ferramentas. O
Sebrae contratou os técnicos mineiros para ministrar os três meses de
cursos e, paralelamente, promoveu treinamentos em vendas e associati-
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vismo. O IPMA cuidou da parte ambiental, fez o plantio de 10 mil


mudas de bambu, garantindo matéria-prima para a unidade produtiva.
O terreno de oito hectares utilizado para o reflorestamento foi
doado pela própria Usina.
“A usina é a maior empregadora da região e, com a mecanização,
acabamos sendo responsáveis pelo aumento do desemprego. Dar
apoio aos bambuzeiros foi a forma mais direta de minimizar esses
problemas sociais”, afirmou Marcelo Toledo, um dos gerentes da
Usina Capricho.
Aspectos como saúde e educação também estavam na pauta de
ação do Projeto. Os alunos passaram por consultas médicas e os que,
ainda, não eram alfabetizados aprenderam a ler e escrever.

DE DESEMPREGADOS A BAMBUZEIROS

E m janeiro de 2002, foi inaugurada a Bambuzeria de Cajueiro, com


o início da capacitação dos moradores e a construção de uma nova história.
Oitenta pessoas se inscreveram no curso e todas receberam treinamento;
entre elas jovens, mulheres, idosos e portadores de deficiência física.
“A Bambuzeria trouxe de volta a auto-estima da gente”, disse
Dona Maria José.
“Passei dois anos desempregada e agora eu digo com orgulho que
sou artesã.”
Seu Antônio Caetano, desempregado há 22 anos, depois de perder
um dos braços durante um acidente, teve na Bambuzeria uma nova
oportunidade de trabalho.
“Eu tô voltando a sonhar com o futuro, ninguém dá chance para
deficientes e aqui eu posso mostrar que ainda sou útil.”
Durante três meses, os alunos aprenderam a fabricar peças
artesanais, divididos em oficinas de móveis e papelaria.
“O desejo deles em mudar de vida fez com que cada um se dedicasse
ao trabalho e enfrentasse com facilidade os desafios do novo ofício”,
afirmava a Tânia, a professora da papelaria.

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Promover o desenvolvimento econômico sem prejuízos ao meio


ambiente era uma das metas do Projeto. Durante o curso, também, foram
passadas técnicas para a extração do bambu, o que incluiu o ensino do
corte e beneficiamento adequados, para evitar pragas, desgaste prematuro
da matéria-prima e garantindo a revitalização dos bambuzais. Além de
receber capacitação profissional, os moradores de Cajueiro aprenderam
a desenvolver a consciência ecológica. Toda a produção da Bambuzeria
foi adequada a um programa Emissão Zero de Poluentes. As sobras do
bambu, misturadas a restos de papéis e bagaço de cana-de-açúcar, passaram
a ser utilizadas na confecção de embalagens, luminárias, bolsas, caixas etc.
“Eu nunca imaginei que pudesse fazer tanta coisa com bambu”,
afirmou Rosineide Santos.
Dona Maria, também animada com a descoberta, fez uma comparação
apaixonada:
“Antes eu não sabia que o bambu era um ouro de valor especial.”

CRIANDO ASAS

T rês meses depois da inauguração da Bambuzeria, os alunos estavam


completamente envolvidos pelo projeto.
“Hoje, a gente não tá ganhando dinheiro, mas isso aqui tem tudo
pra dar certo”, reforçou Rosineide.
No segundo semestre de 2002, a Bambuzeria entrou em uma nova fase.
Com o fim do curso, os “bambuzeiros” de Cajueiro resolveram investir no
cooperativismo e, em setembro, oficializaram a Cooperativa Bambuzeria
e Papelaria Capricho.
“Além de aprender a gerar renda com os recursos da região, a
gente descobriu a importância do trabalho em grupo”, afirmou o
Presidente da Cooperativa, Clébio Silva, de apenas 18 anos.
Com tudo estruturado, mais uma vez, surgiu um desafio: dar
sustentabilidade à Cooperativa. Uma pesquisa de mercado orientada
pelos técnicos da BAMCRUS ajudou os cooperados a definir o foco da
produção. A Cooperativa resolveu se especializar na fabricação de
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cabides e varais de roupa que surgiram como algo inovador e de boa


aceitação no mercado.
Para tornar o produto competitivo, foi implantado um Programa
de D e s i g n. Consultores do Sebrae ajudaram os cooperados a melhorar
o padrão de qualidade dos cabides e a adequar as peças às exigências
do mercado consumidor. O resultado disso foi a conquista do Prêmio Casa
Planeta 2002, concedido pela revista Casa Cláudia, em maio. O cabide de
Cajueiro concorreu com produtos de todo o Brasil e foi analisado por
critérios como tecnologia, meio ambiente e responsabilidade social.
A premiação deu destaque nacional à Bambuzeria. Isso, aliado aos
cursos de vendas e m a r k e t i n g realizados com os cooperados e às
negociações com compradores externos, foi o pontapé inicial para a
comercialização. No segundo semestre de 2002, os cabides da Bambuzeria
começaram a ser vendidos para vários estados do país, como Minas
Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, indo parar nas vitrines de uma das
mais conhecidas lojas de decoração do país, a Tok & Stok. O primeiro
contrato com a rede nacional estabeleceu a venda de três mil peças.
Em novembro, a cooperativa já estava negociando a exportação de
dois mil cabides para os Estados Unidos.
Até o fim de 2002, a capacidade de produção da Bambuzeria Capricho
era de cinco mil peças por mês, e a estimativa de renda mensal para
cada cooperado era 200 reais.

BOAS IDÉIAS, BONS FRUTOS

V ersátil, bonito, resistente e ecológico. Com essas qualidades, o


bambu não demorou para conquistar o mercado consumidor em Alagoas.
Com menos de um ano da implantação do Projeto, a idéia já tinha
conquistado adeptos em outras cidades e o uso do bambu já estava se
disseminando na arquitetura e até na moda. Utilizado na decoração de
casas, empresas e como acessórios para roupas, sapatos e bolsas.
No fim de 2002, Alagoas já contava com outras duas Bambuzerias,
implantadas com o apoio do Sebrae, nas cidades de Coruripe e União dos
P a l m a res. Unidades voltadas respectivamente para a fabricação de brin-
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quedos educativos e móveis e que, juntas, já respondiam pela ocupação


de 230 moradores das regiões de Portal Sul e Vale do Mundaú.
O Projeto Desenvolvimento das Microrregiões Canavieiras de Alagoas,
através da implantação da cultura do bambu, passou a ser reconhecido
nacional e internacionalmente como modelo entre os programas que aliavam
desenvolvimento econômico e responsabilidade social. Em novembro
de 2002, recebeu uma menção honrosa do Prêmio Ambiental Vo n
Martius 2002, concedido pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil –
Alemanha, por ter sido um dos três primeiros classificados, entre os
cerca de 300 inscritos, na categoria tecnologia.
O prêmio visava reconhecer as iniciativas de empresas, do poder público
e da sociedade civil, que trabalharam pela promoção do desenvolvimento
econômico, social e cultural com respeito ao meio ambiente. O Projeto de
Alagoas concorreu com quase 300 participantes de todo o Brasil e foi
selecionado por editores e diretores de publicações especializadas em meio
ambiente e empresários ligados a modelos de desenvolvimento sustentável.

CONCLUSÃO

O Projeto Desenvolvimento das Microrregiões Canavieiras de


Alagoas, por intermédio da implantação da cultura do bambu, conseguiu
causar uma revolução na vida dos moradores de Cajueiro. A expressão
“Cajueiro agora só dá bambu”, utilizada pelos moradores da cidade,
exprimia as transformações que a implantação da Bambuzeria causou na
sociedade. Os moradores da pequena Cajueiro nem imaginavam que aquele
projeto, que surgiu como alternativa para o desemprego e a falta de renda,
trazia em sua essência um modelo educacional voltado para o desenvol-
vimento sustentável e combate aos tradicionais modelos assistencialistas.
Em apenas onze meses de implantação do Projeto e da criação da
Bambuzeria Capricho, os resultados já chamavam a atenção para a
importância das parcerias. Quando cada agente assumisse seu papel
com responsabilidade, os esforços se tornariam menos pesados e mais
fáceis de serem administrados. A frase do gerente da Usina Capricho
resumiria a ideologia do projeto e exprimiria o papel de cada cidadão:
BAMBUZERIA - AL 12

“Dar apoio aos bambuzeiros foi a forma mais direta de minimizar


esses problemas sociais.”
Projetos como esse revelaram maneiras simples e eficazes de combater
os problemas sociais, validando a idéia de que desenvolvimento econômico
e valorização do capital humano não poderiam caminhar separados. O
benefício mais evidente dessas ações não era a geração de renda e
ocupação, mas sim a melhoria na qualidade de vida das pessoas, que
aprenderam, por um trabalho educativo e social, a caminhar em busca
de saídas para os problemas da comunidade. Começaram a ter uma
outra visão do que era desenvolvimento. A pobreza e a falta de
perspectivas deixaram de ser vistas como problemas irreversíveis, mas
sim como obstáculos possíveis de serem superados pela organização e
união da comunidade.
E, até 2002, as perspectivas para o fortalecimento da “cultura do
bambu” eram as melhores. Para dezembro, estava prevista a oficiali-
zação da OSCIP, Instituto do Bambu, com o objetivo de apoiar iniciativas
semelhantes as das Bambuzerias implantadas pelo Sebrae, em outras
regiões do Estado.
Se parte do sucesso da Bambuzeria se deveu ao nível de articulação
da sociedade e ao apoio de empresários e governo local, que estavam
ansiosos por mudanças, o desafio da OSCIP seria reunir agentes tão
interessados e comprometidos com o desenvolvimento sustentável
como os de Cajueiro. Pessoas que quisessem investir nesse tipo de
ação não apenas como medidas curativas, mas como uma estratégia
preventiva para os problemas sociais.

PONTOS PARA DISCUSSÃO

• Iniciativas como as de Cajueiro (de valorização regional) poderiam ser


aplicadas em comunidades que não tiveram a mesma trajetória de crise?

• Os tradicionais modelos assistencialistas poderiam ser substituídos


exclusivamente por programas auto-sustentáveis, em que a
comunidade seria co-autora do desenvolvimento?

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


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• Até que ponto a sociedade seria responsável pelo desenvolvimento


sustentável das comunidades menos favorecidas?

• Esse tipo de ação contribuiria para eximir a responsabilidade do


governo?

Diretoria Executiva do Sebrae Alagoas (2002): Alejandro Luiz Pereira da Silva, Nilton
Moreira Rodrigues e Osvaldo Viégas

Agradecimentos:
Cooperativa Bambuzeria; Eligius T’hoen – Gerente da Unidade de Apoio à Comercialização do
Sebrae/AL; Fernanda Vilela – Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/AL; IPMA – Instituto
de Preservação da Mata Atlântica; Manuella Frazão – Gerente da Unidade de Desenvolvimento
e Educação da Cultura Empreendedora do Sebrae/AL; Papelaria Capricho; Prefeitura Municipal
de Cajueiro; Ronaldo Moraes – Gerente da Unidade de Desenvolvimento Local do Sebrae/AL;
Sandra Vilela – Gerente da Unidade de Inovação e Acesso à Tecnologia do Sebrae/AL; Usina
Capricho; Yone Sarmento – Coordenadora do Programa de Redes Associativas do Sebrae/AL.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

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