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A HISTORIA RENOVADA: A EMERGENCIA DOS NOVOS PARADIGMAS Gervdcio Batista Aranha’ “APRESENTACAO Falar da cmergéncia de novos paradigmas no campo das. ciéncias sociais, pressupde que paradigmas outros entraram em crise ou que precisam ser renovados ou substituides. Ademais, néo custa lembrar que os paradigmas entram em.crise por motives ébvios; eles entram em crise porque perdem sua capacidade de explicagao do social, porque tornam-se, nessa ou naquela conjuntura, modelos de andlise que nfo tém respostas aos problemas ent&o vivenciados, perdendo seu poder de convencimento ¢ caindo. em, desuso, Este. fato proveca, na ordem do dia, a necessidade de moves campos explicalivos ou novas epistemes. - Foi 0. que aconteceu com certos sistemas ou paradigmas de explicagao do social que exerceram um predominio marcante entre a segunda metade do século XIX & a década de. 1960 deste-século, Nesta Gltima década ¢, mais particularmente na de 1970, esses paradigmas explicativos - isto é, os modelos marxista ¢ funcionalista - comegaram a falir, As reagées a esses modelos explicativos foram. de natureza diversa e existe inumeros postulados epistemoldgicos (cada. um com suas conseqiténcias tedrico-metodologicas} que resultaram de um “acerto de contas” com os aficionados dos modelos referidos, Esse “acerto de contas” foi levado a efeito, dentre outros, por filésofos, socidlogos ¢ historiadores - estes reunidos em tomo de certas vertentes historiograficas - tendo, cada um a seu modo, contribuido para novas perspectivas de abordagem do social. Reconhege,. por am lado, que osse “acerto de contas” s6-seria devidamente explicado. caso fosse situado na discussao mais.geral que envolve a crise da razio™, conquanto todos os modelos de andlise * Professor do Departamento de, Histéria da UFPB ~ Campus I ¢ doutorando em bistéria na ‘UNICAMP 54 Certa comente, caja base teérica se apoia. om Habermas, defende que-o que entrou am arise foi tumna certa modalidade de.racionalismo, mais previsamente a razao dominsnte no Ocidentz, tendo como seu principal vetor a.indtisiria e-0 Estado modemos, Assim, nido deveriamos falar’ sm crise Seieculumn Jan./Dez./1998/1999 4h cujos parimetros Assextavam-se na razio on, mais precisamerie, city certos ‘postulados racionalizadores, detorministas, que apregoavam’ verdades infaliveis, tenderam a faléncia a partir de determinado momento, sendo Nietzsche.. segundo. balizada opinido”, a “ponte de viragem" de toda essa discussao,. haja vista ter sido ele o primeiro.a enfreutar. de forma, contundente a ~infalibilidade” de alguns dogmas. desconfiando, por exemplo, das verdades propaiadas pelos aficionados da “deusa” xazdo ou-da “deusa’ ciéneia, indo de encontro aos seus absolutismos. Por outro lado, reconhego que falar na crise de modelos: explicatives ocorrida a partir dos anos 60, conforme anunciei, exigiria, para sua melhor compreensdo, dois-encaminhamentos: primeiro, uma contextualizagio relativa aos aspectos culturais ¢ politico-idealdgices vigentes & gpoca, especialmente na Europa, para verificar os motivos de tantas “‘fissuras” e¢ tantas “vozes discordantes”, tais como. ocorreram, ‘por exemplo, no interior do marxismo: segundo, a verificagao do momento especifico de sua recep¢iio no. Brasil, pois & sabido que muito do que.se discute no Ambito das cigncias sociais a partir da década referida, na Europa e.nos Estados Unidos, s6 chega 20 Brasil quase duas décadas depo: Pena nao poder enfrentar todas essas questées no reduzido espaco deste trabalho. De modo que o objetivo aqui nde © analisar as relagdes causais implicadas na emergéncia de novos paradigmas explicatives no campo das ciéncias sociais. E téo-somente mapear un pouco dos fundamentos tedrico-tiietodoldgicos de cada wu desses novos paradigmas, chamando a atengdo para as mudangas ocorridas na escrita da histéria nas iiltimas trés décadas. da raze! como wm todo, porepanto esa mesma rizGo,, etn se ¥etor emancipatorio ow em. sie hevangs. ihominisia, ainda teris muito o que ofececer, Povtanto, a razio, neste ittima.perspectiva, rio Se apresonta. part.os habermasionas conw algo esgotado, tal como ooomre com a rato dia ‘nstrumental”, isto &, « radio dominastte em fungo do poder adguirisos pete indastria ¢ Estada modem, 55 Ver, 4 respeito, as rellextes de Habermas sobre 9 ingresso de Nietzsche no “discurso da modemidads", em que este ingtasso & vite come © “ponto de viregem” dessi. mesh mademidade, seis porque Nietzsche nege o primads di mezio, seja porque deixa claro gue nto acredita yue essa modemidade, nos termos em que esti fimdada, tena algo a oferecer, Mas em Nistesche. haveria uma saida para o seu deserSdito nessa modemidade ou pars 0 niilissno com que a cocara;; asia saida, express em tarmos inessidnioes, estaria na orga redentora dor dionisisce, com destague pars © papel desempenhada pela arte, Cf, HABERMAS, Jurgm. 4 Enirada ng. Modernidade: Nietzsche como Fanta de Viragen, pp. 89-108, In Furze Habermas, © Discurso Fitoséfico da Modernitade. Lisboa: Publicaydes Dom Quixote, 1990. 2 Saecalum Jan. /Dez./1998/1999 Essas mudangas tém sido levadas. a efeito por’ autores e/ou vortentes diversos hoje em yoga, com os quais dialogo ao longo dos cinco ifens que compéem o trabalho. No item J discorro sobre. as “eontribuigdes de Michel Foucault 4 -claboragao do. trabalho historiografico, com destaque para a tematica geral da disciplina ¢ o instrumental tedrico da andlise do discurso; no item H, dialogo com a historia social na ‘otica de Thompson, cuja maior contribuigdo a renovacio da historiografia marxista tem a yer com 0 vedimensionamento do conceito de classe a partir das categorias de experiéncia @ cultura operarias; no item IT. discuto.a renovagao da historiografia desenvolvida pelos Annales, em especial no que se refere a recuperagdo da narrativa 2 4 elaboragao de uma antropologia historica: no item LV, reflito sobre a.micro-histéria Haliana a partir da apreensio do método da “redugdo da escala”: no item V, chamo a ateicio para os pressupostos. da nova historia cultural praticada nos Estados Unidos, focalizando, dentre outras coisas, certas ligSes de imétodo extraidas do didlogo con. a antropologia, 1 Em primeiro lugar. vale a pena destacar as contribuigdes de um Michel Foucault. Essas contribuigdes tém varios matizes, sendo um deles o gue ‘leva a refletir, especialmente a partir do livro Eu, Pierre Riviére, que Degolei minha Mae, minha irmd e meu Irmiio, acerca de um aspecto que podemos considerar fundante: .o de que o pesquisador em ciéncias sociais, ao recortar um determinado objeto de estudo, deve se preocupar menos com o objeto em si mesmo ou com uma possivel verdade que expresse fielmente esse objeto do que em analisar o significado que ele assume ‘para. diferentes formas discursivas. Temos, aqui, a idéia de teia discursiva, podendo. haver varias teias discursivas sobre um objeto. de estudo dado. De mancira que em Foucault no haveria uma preocupagio com a verdade do caso Riviére, haja vista que a preocupagao do autor, no texto mencionado, ¢ tio-somente mostrar que o personagem envolvido assume diferentes sentidos para cada uma das ‘teias discursivas em jogo. Para o discurso da criminologia, por exemplo, Riviere teria cometido’ um crime hediondo, merecendo ser condenado com a pena capital; ja para o discurso da psiquiatria, o ato por ele praticado denotava a atitude de um louco, nio havendo razdo, pois, Saeculum Jan./Dez./1998/1999 43 para sua condenagio @ morte: quanto ao discurse do. proprio-Riviére, que redige um memorando explicando as razes que o levaram a tirar a vida de sua mie, de seu irmao e de sua ira, percebe-se que ai ele se apresenla ora como um criminoso, embora.mostre que teve razdes para cometer o crime, ora como inocente, alegando, neste caso, que no teria cometido crime algum, mas apenas livtado o pai de um “fardo”. Assim, Foucault ¢ reconhecidamente um autor que fornece um suporte te6rico para militos dos que romperam, ha algum tempo. ‘com o velho chavo “é © ser que determina a idéia” o8 com a velha metafora “infra-estrutura/superestratura”’, preferindo, em seu lugar, trabalhar com a idéia de que nado exisie uma “realidade objetiva” ~ pelo menos néo para os propésitos do conhecimento -, 0 que existe sio redes discursivas.em torno de qualquer objeto que se recorty nessa “realidade objetiva”. Ora, em que pese Foucault assegurar que os acontecimentos nao sido “imateriais’”, considerando, ao contrario, que eles se efetivam no “dmbito da materialidade”, este autor também considera que, eles devem ‘ser vistos, antes, como “acovitecimentas discuryivos'*". Isto. quer dizer, em termos foucaultianos, gue os acontecimentos sé adquirem alguma significagio ao nivel do discurso ou das praticas discursivas, lembrando que nessas praticas estdio implicades muiltiplos significados, tude dependendo dos sujeitos que falam, dos lugares em que falam ¢ dos objetivos com que falam. Neste sentido, em Foucault ¢ em imimeros de seus intérpretes esti claro que “as prdticas” discursivas pressup6em. relagdes conflituosas, nfo sendo yarosy os procedimentos para excluir ou silenciar a fala.de inimeros dtores sociais, 56 Ver, a respaito, dessas quastdes trés pequcnos tesios inseridos no final do tivo organizado por Michel Fouceult, Allis, nite seris domais atimmar que, em “Singuagem foucsultiana”, cada yina das versies vontidas nesses textos erige-se como. mais uma teia discursiva sobre 0 caso Riviere. Ck PETER, Jean-Pierre, Raveet, Jeanne. © Animal, 0 Lowco, a. Morte, pp. 1872 FOUCAULT, Michel. Os Assassinatos que se Conta, pp. 211-223; CASTEL. Robert. Os. Médicos ¢ os Juizes, pp. 259-275. In Michel FOUCAULT (Org.) Eu, Pierre Riviere, que Degolei Minka Mae, Minha Irma e men Irion. 5 ed. Rio de Fanciro: Graal, 1977, Bm texts. Ge autores brssieiros, cujo reterencial é a ehva'de Foucault, também: hi reflexes em tomd do assmnto, Cf ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Mennoeehio & Riviéres Crmioxos da Palawra, Poeias do Siténeio. in Resgate, N. 2, Campinas: Papirus, 1991; RAGO, Margarcth Ax Marcas da Pantera: Foueeult para Historiadoras, In Resgate, N. 3, Campinas: Pupins, 1993 5? Cf FOUCAULT, Michel, A Ordem do Discurso. ‘Tradugia de Laura Fraga de Almeida. Sampaio. Siio Paulo: Edipses Loyola, 1996, p. $7. . 44 Saeculum Jan/Dez./1998/1999 “Sabe-se hem que nao. se tem o direito de dizer tudo, que ndo se pode falar de tudo em qualquer circunsidncia, gue qualquer wm, enfim, ndo pode falar de qualquer coisa”™. £ esta interdigdo, segundo Foucault, é ainda mais acentuada se es visadas pelos que tentam. exercitar o direito & fala, sio-a ualidade @ a politica. Aqui os. “buracos negros” tenderiam a se multiplicar, ou seja, aqui tenderia a se acentuar as imposigdes proibitivas a fala(do tipo contestadora), objetivando instituir o siléacio em torno das regides referidas, O autor esclarece: umo seo discurso, longe de ser esse elemento (ransparente ou neutro. no qual a sexualidade se desarma ¢ a politica se pacifica, fosse um dos lugares onde elas exercem, de modo -privilegiado, alguns de seus mais temiveis poderes. Por mais que o discurso seja dparentemente bem pouca coisa, as interdigdes que o-atingem revelam loge, rapidamente, sua ligacde com o desejo e. com a poder”. Mas se ha falas que ndo se “quer” ouvir, que se. quer interditar ou silenciar, porquanto séo encaradas. como uma ameaga ao institnido, ao que se torou norma, ha aquelas que podem circular sem impedimento de qualquer espécie, sobre as quais se faz um enorme “tuido”: so as falas emitidas pelos detentores de wm saber autorizado, institucionalizado, do tipo que n&o accita contestag&o, que tem a palavra final, reyelando-se, para os que as emitem, uma conditio sine qua non & manutengéo dos varios status quo vigentes. Trata-sc, por assim dizer, da articulagdo entre saber e poder e do lugar ocupado pelos sujeitos do discurso. Dai o argumento de Foucault: : “Perguntar ao discurso ‘quem’ fala, significa remeter esse sujetto aos critérios de ‘competéncia’ e de ‘seer’ que the assegurain o ‘direito de falar com sentido’, mas significa, sobretudo, remeter 0. discurso as ‘lugares $8 Idem, p. 9 59 Idem, pp. 9-10. Saeculum Jan./Dez./1998/1999 4§ institucionais' de onde a ‘sujeito enunciativo’ obtém esse diretto"® Assim ¢-que, em inguagem foucaultiana, se tomarmos comé exemplos de acontecimentos discursivos as falas do médico, do psiquiatra ou do criminologista, dentre outros, seriamos levados a concluir © ‘seguinte: esses profissionais atuam a partir de seus respectivos espagos institucionais(no caso, o hospital, o hospicio, :a penitencidria) como portadores de saberes que thes conferem um imenso poder, o de decidir inclusive sobre a liberdade de ir e vir dos que ‘sfio objeta de suas praticas discursivas, podendo confinar os corpos dos doentes, loucos ou criminosos. nos, espagos institucionais de onde emitem suas(poderosas) falas As reflexées de Foucault em torno das praticas discursivas o colocam como uma das principais reféréncias para-os gue trabalham com 0 instrumental tedrico da andlise do discurso. Em que pese 0 carater polissémico que a envolve, seus imimeros interlecutores ¢ possibilidades de enfoques, as reflesdes de Foucault tm um lugar garantido om seu universo.tedrico, muito embora a andlise do diseurso ndo se prenda a um autor em particular ¢ se coloque, hoje. em muitos aspectos, para além da perspectiva foucaultiana. Helena H. Nagamine Brandao, refletinde a respeito, mostra que as idéias de Foucault so fecundas para a andlise de discurso ¢ isto pelo fato de que indicam diretrizes que enriquecem este instrumental teérico, Por motivos de economia de espago. selecionei algumas dessas diretrizes. Uma delas, segundo a autora, tem por fundamento a “concepgao de discurso como jogo estratégico e polémico: o discurso ndo pode ser mais analisado simplesmente sob seu especie linguistico, mas como um joga. estratégico de agiio e reagce, de pergunta e de resposta, de dominagdo e de esquiva e também como fata” Esta diretriz vem de encontro a idgia, j4 trabalhada acima, de que as praticas discursivas sfio por exccléncia conflituosas. Enquanto hd os que se arvoram no dircito de emitir falas “competentes”. falas 60 COSTA, Elsauors Z. O Acontecinento Disewrsivo. Ja Ténia Navarro SWAIN. (Ore) Histéria uo Plural, Brasil: Editora Universidade de Brasilia, 1994, p. 191. 61 BRANDAO, Helena TH. Nagamine, Introduyao a. Anslise do Discurso, Campinas: Editora da UNICAMP, 1995, p.31 46 Saccuim Jan /Dez./1998/1999 Gelidas de um. imenso poder de. autoridade, ‘institucionalmente sGirontidas, ha. os que “deveriam” ficar emudecidos(mas que nem “Singre aceitam a imposigdo ao siléncio), cujas falas sdo encaradas wii uma ameaga a sociedade, advindo. dai as tentativas de anlerdig’io, proibigdo ou silenciamento, Outra diretriz reside na idéia de que 0 .discurso €.0 espago em que saber e pader se articulam, pois quem fala, fata de.algum lugar, a partir de un direito _reconhecido tnstiincionalmente, Esse discurso, que passe por verdadeiro, que veicula saber (a saber institucional) é gerador de poder”, Nao obstante tenha se tornado lugar-comum, nas intimeras teflexSes sobre a obra de Foucault, considerar que o saber (ndo qualgner saber) € gerador de poder, me parece que aqui reside o. clomento chave das contribuigdes do autor relativamente ao instrumental teérico da analise do discurso. Interrogar quem fala, de que lugar fala e¢ com que autoridade fala, parese constituir-se a porta de entrada de toda a problematica que envolve.as praticas disoursivas. Em estreita consondncia com as duas diretrizes. anteriores, uma terceira diretriz assenta-se na constatagdo de que a “\.produedo desse discurso gerador de poder é controtada, — selecionada, organizada redistribuida por certos procedimentas que tém- por fungéio eliminar toda e qualquer.ameaga a permanéncia desse poder’, Trata-se simplesmente. de constatar que-os discursos emitidos pelas autoridades ou. a partir de. um sem-mimero de espacos institucionais, néo se fazem aleatoriamente. Ao contrario, cles sio produzidos racional e estrategicamente para atingir um fim determinado, “eliminar” quaisquer ameagas aos poderes instituidos. Outra contribuigfo de Foucault tem a ver com © redimensionamento. da concepgao de poder, associada as praticas disciplinares. tema amplamente discutido em varios de suas. textos, bastando considerar, a titulo de exemplo, a ligdo de metodo que se tira de um deles, intitulado. Vigiar e Punir. Aqui 0 autor discute. com 62 Idem. 63 idom, p. 32. Saeculum Jan /Dez,/1998/1999 AT profundidade, por ocasido do nascimento da priséo, na Franga, come sé processa o adestramento dos corpos até sua inteira domesticagao, tomando-os “déceis” ©. conseqiientemente. mais “produtives” O capitulo intitulado os “Comos Doceis”. por exemplo, revela-se fundante: para os que trabalham com a temética geral da, disciplina, inclusive a disciplina no trabalho™. : No Brasil, intmeros pesquisadores em ciéncias sociais incorporaram a mencionada ligdo de método para. uma redefinigdo. do conceito de poder, significando, com isto, que a idéia de poder nao mais condiz t&o-somente com o uso corrente de considerd-lo uma espécie de forga suprema situada em um imenso pedestal, no caso, a idéia de Estado, tambéni preferinde considerato como sinénimo dessa forga vigilante que esquadrinha os corpos em todas as instancias da vida. em. sociedade, tornando-os simplesmente “corpos déceis”. Citar ou criticar’os trabalhos sob inspiragdo foucaultiana, na perspectiva aludida, é impossivel no reduzido espago deste trabalho, porquanto eles comportam uma lista imensa. . Mt A historia social inglesa, como se sabe, é uma vertente historiografica que tem estado em evidéncia. nos tltimos anos. Mas de todos os intelectuais que a compdem, o destaque € para E. P. Thompson, autor que sem davida revolucionou o fazer historiografico, ao nivel dessa ‘vertente. Para nado ir muito ‘Tonge, basta considerar so redimencionamento do conceite de classe em uma de suas obras, isto para citar um tnico exemplo ¢ ainda assim de forma extremamente resurnida. Uma leitura atenta de A Formagdo da Classe Operdria Anglesa (titulo da tradugao brasileira de The making...) obra densa, deixa claro que, num primeiro momento, a classe nao esta formada, S¢ no prefacio Thompson anuncia que “...a classe é uma relacdo, e ndo uma coisa (..)" *, ao longo da obra esse cardter de relagdo aparece com nitidez, . 64 CE FOUCAULT, Michel, Vightr-e Puni 1988, pp. 125-152. 65 THOMPSON, Raward P. A Formagio da Classe Openiria Inglesa (preficio). Trsdugio de Denise Bottmaiin, Rio de Janciro: Paz-e Terra, 1977, p. 11 (colegio Ofivinay ds Historia, val. 0 vageimento da Prisio, 6 ed, Petropélis; Vozes. 48 Saeculum Jan/Dez./1998/1999 Desde as primeiras paginas sobre o. momento em que alguns jidividuos. se reinem, em marco de. 1792, para formar a Sociedade Londrina de Correspondéncia - uma experiéncia que toma corpo e que alasira pela Inglaterra, em que s6.a Sociedade Londrina conta’com ilois mil associados apés seis meses de criada® _, passando pelo estudo das organizagdes religiosas como experiéncias para as ‘organizagées. operarias”’, passando ainda, pela rica experiéncia dos motins populares ¢ sua. tolerdncia e legitimagio por uma. “...antiga ceonomia moral paternalisia “% ‘dentre outras experiéncias relatadas, a abordagem de Thompson traduz a idéia de classe em formagio ou a idgia de classe fazendo-se na historia ¢ fazendo histéria. De modo que toda a argumentagio de Thompson -vai no sentido de.entender a classe (no caso,.a classe operaria inglesa) a partir das relagdes ¢ da luta efetiva ou, euma palavra, do agenciar humano, da experiéncia: ausente em certos postulados formais-abstratos, ou, mais precisamente, da experiéncia operaria enquanto pratica historica sobre a qual. a ortodoxia marxista ‘silencia, fevando o autor a nao poupar os siléncios do préprio Marx. Mas a critica de Thompson, embora.enderegada a ortodoxia marxista come um todo, é particularmente enderegada a certa vertente marxista que realiza.o que ele chama de “pratica teérica”, surgida na Franga no decorrer deste século e dela se inradiando para o mundo inteiro, Trata-se do marxismo estruturalista. althusseriano, cujo 66 Cf Ya, Ibid, p. 15. 67-Ao longo d& A Formazio da Classe Operdria Inglesa,ba indimeras referncias a asta classe como portadora de uma cultura roligiosa, especiaimente no gue se refere & influénsia do Metodisme. Mas Jonge de considerse, aprioristicamente,.a religite como 0 “pio do ove", ‘Thompson mostra que essa cultura religiosa & uma rua de.mio dupla: iste porque, se de um lado leva ao conformismo, & resignagio; de outro, Ravorece a onganizagio de classe, haja vista que contribui ‘para. a eriagao de lagos de solidariedade. Com: isto, constata-se que ag prifticas religiosas, mesma que indivctamente, pode contribuir para o fortalecimenin da classe, porguanto © alemento solidariedade, advinde dessas priticas, pode render politicaments mo momento. preciso. 68 Nao pretendo discorrer sobre o conceit de “economia moral” em Thompson, Gostatia apenas de informer que om A Fosmagio .. ele est anunciado de forma bastante sucinta, merecendo, da parte do autor, um tratimento a parte em outro texto, intitulado “Economia Moral de la Multitud” (nfo existe tradugio em portugués). No mesmo, 0 conceito & bastante evidentes {tala-se do consenso popular estabelecido’ pelo costume, relative a certas nommas sociais, como as que dizem respeito i gorantia da. qualidade © preyo da farinhe de trigo ete, Destespeitar essas normas, como tamtas vezes ocorreu da parte dos comerciantes, levava os populares a se amotinsrem exigindo respeite ao direito costumeiro. A “economia moral” era levada, tho.a sério ‘que 8 antoridades assurnian uma atitude patemalista diante dos motins ¢ isto pelo simples fato de que estes ocorriam porgis obrigagdes morais, deixaram de ser observadas, como @ ako ccumprimento do “Justo prego”. Saeculum Jan,/Dez./1998/1999 49 esquematismo 6 de uma pobreza visivel ¢ cujo modelo explicativo professa uma historia. sem sujeitos, para nfo. dizer que a “pratica tedrica” althusseriana simplesmente retira de cena a. propria historia, Enquanto’ modelo tedrico absiraido de qualquer experiéncia humana, no temmpe € nO espago, a “prafica tedrica” climina a propria vida. . “Uma muvem, néjo maior que a mado de um homem fa mio do Sr. Althusser], atravessa o Canal da Mancha vinda de Paris, e, num momento, ay drvores, 0 pomar, as sebes, a campo de triga, ficam negros de gafanhotos. Quando por fim eles levantam vGo para se dirigir a freguesia yeguinte, o& burgos perderam iodas ay culturas, os campos foram desnudados de todas as folhas verdes da aspiragdo humana: e naquelas formas esqueléticas e naquela paisagem enegrecida, @ prética tedrica, anuncia sua “descoberta': 0 modo de produce”. Ein termos thompsonianos, ¢ visivel a opgao por uma histéria a partir dos “de daixo”. Com isto, poderia ser argumentado que tal op¢ao nao seria muito diferente da que estava contida no programa do marxismo classico. Por acaso, nao ¢ pertinente reconhecer que Marx submeteu'a sociedade capitalista a uma critica durissima? Nao saiu cle em defesa da classe. trabalhadora ao considerd-la como instrumento da mudanga que destrogaria -¢ modo de produgio capitalista, encaminhando, em seu lugar, a transigfo socialisia até a implantagéo “final” de uma. sociedade de livres produtores ou conmnista? Nao esbogou ele a idéia de que o proletariado existia estruturalmente enquanto “classe em si’, mas que poderia tomar-se “classe para si”, isto €, uma, classe consciente de sua capacidade de revolucionar ou subverter a ordem vigente? Nao ha diwida que Marx dispensou uma atengAo especial ac proletariado, Nao diwvida que este esteve no centro de suas preocupagées enquanto critico do capitalismo ¢ intelectual que acreditava que ele seria o agente da revolugdo, Assim, nao estaria ele 69 THOMPSON, E. P. A Miséria da Teoria on wm Plauetiri de Exros: uma Critica a0 Pensarnento de Altbusyer, Tradugio de Waltencir Dutra, Rio, de janciro: Zahar, 1981, pp, 184- 183, 50 Saeculum Jan /Dez./1998/1999 stanibem preocupado com uma histéria dos “ee baixo’) Em principio. Q ‘posta ¢.afirmativa. ‘Ocorre que a preocupagio com os “de baixe”, em Thompson, _eicorra uma perspectiva metodologica radicalmente difereate da que é cddotada pelo marxismo clissico. Em primeire Iugar, enquanto Marx penas esbogou muito resumidamente a idéia de “elayse para si” 0 jes abstratamente, sem descer a nenhuma experiéncia social efetiva, ‘Thompson ieva as iltimas .consequéneias a. iddia. de narrar as tsperiéneias sociais efetivas dos trabalhadores ingleses relativamente a dotcrminado tempo ¢ lugar. Recorrendo. por assim dizer, ao conceito de experténeta, Thompson reconstroi, passo a passo, a historia da -hisse-operaria em sen pais, demarcande cada. rnomento de suas Iutas, de seu fazer-se enquanto class Para Thompson, a questo da experiéncia é 0 grande termo ausente no contexto da tradigio marxista e essa mestna experiéncia pressupde, em termos metedologicos, a preocupaggio com o agenciar fhamano ou com unia histéria feita por agentes efetivos em uma reatidade dada. A conclus3o nao deixa de ser Obyia: a. auséncia de abordagem centrada ‘na experiéncia resulta em uma historia sem sujeitos, ou uma historia cuja perspectiva estruturalista. simplesmente desconhece ou apaga as agdes humanas. Também ¢ importante considerar que a preocupagdo com a experigncia vem acompanhada com preocupagdes outras, com idénticas repercussdes metodolégicas quando ‘comparadas 4 perspectiva de abordagem marxista em toro. da histéria da classe operisia, Refiro-me particularmente & problematica da cultura operaria. Para além da. telagdo capital - trabatho, ou para além dos termos da economia politica”, Thompson aborda am conjunto de aspectos relacionado ao universo da cultura operdria. Com isto, a classe operaria inglesa, que € 0. seu objeto privilegiado de -pesquisa, foi focalizada com termos que dificilmente seriam respaldados pelos aficionados da crtodoxia marxista, a exemplo dos que remetem 20 70 Na eritiva qlie endereyt & Althusser, por exemplo,, Thompson mostra. que « ortodoxtia mars tem termes para tudo que é valor ~ de ase, de Iroon ote -. mes nto fern temos para 9 valor normative, isto &, paca 0 valor que regula comportamentas on estaheleve reprss de moral, Assim. ‘Thompson deisa subentendido gue'a marxisme 136 tem termos para abordae uaisyaer questies «ie extrapolest « economia polities, Por exemplo: & impossivel ver 0 significado de um ritwal simbélico revorrendo.a sermos do tipo salirio, prego e lvora, Cf. “Thompson, Edwaid P. A Miséria da Teoria, Op. cit, pp. 28E-IRZ, Saeculum Jan/Dez./1998/1999 51 estudo da religiosidade ou do lazer populares. tal como € possivel perceber em A Pormacao... ‘Também € impossivel encontrar, no jargéo marxista, terms que expressem a idéia de classe fazendo-se na historia e fazendo histéria a partir do envolvimento dos trabalhadores com uma “exlfurer raciicel”, Em Thompson, essa “culnura radical’ expressa um conjunto de praticas. culturais associado ao momento cm que a classe, apos décadas acumulando experiéneias de-tuta, camiaha em diregdo ao “fazer-s¢” pleno ¢ A aquisigio da “plene consciéncia”. O Momento da “culturer radical”, ov. momento de formagio. da “plena consciéncia”, jA.nao condiz com as-experiéncias do aitimo. quartel do século XVI, cuja. consciéncia classista se encontrava ainda em “estdgio fragmentario”™?. Ao assegurar que os limites de. seu estudo encerram-se entre os anos 1831-3, haja-vista que "v..num certo sentide a classe nde estd mais ne seu fazer-ve, mes jd foi fetta...” confirma a perspectiva de gue, para Thompson, no momento eri que a classe adquire sua conscigneia plena cla esti formada enquanto classe. Ocorre que “.dranspor 0 limiar de 1832 para 1833 é entrar mum imindo onde a presen¢a operdria pode ser sentida em todos ox condades da Inglaterra ena maioria dos dmbitos de vida”, Percebe-se, com base no exposto..que Thompson néo. se sefere & classe operaria. como sujeito—coletivo “mais ou menos 7h Essas priticas: outtsrais, nas primeinas. décidas do séotlo XIX, vinculanese a um intense “movimento reformaiion radical” que some conta, da Inglaterra, com sérias repereusses do ponta de vists das transformagécs politieas ¢ soviais envolvends ox srabulhadores. em seas experiéneias sumo a aquisig#o da plena conscidmeia de classe. “Ndeleos radicais” criaites por lado 0 pais, dos quis. participa todas. eateporias- de trabalhadores, sto sama prova de importincia dese “movimento reformador". Sexae. de forma resumida, alguns exempios das praticas calturais ai desenvolvidas: (1} A uta pela liberdade de.imprensa.e sua identificagao eon ss catisa dos artesios ¢ diaristas, lata que elevada aos Pribunais pelos refosmadores radicais e de qual se fiz umpla propaganda, junto. aos trabullzadores; (2) 0, estimuio 4 leituuse no Seie das classes populares, onde desenvalve-se @ amodidatisme © se fix de tudo para diminmie as tasas de analfabetismo. entre esses, classes, sendo que, emt geral, a Uterstura que se coloce i disposigin dos stoves Ieitores vise despertarthes ‘vona vonsviensia tities, perlédicas, jomuiis, pantletos, paradias. ete, todos de cunho radical; (3) 4 cisseminagSe de ieatras populares ¢ de ofiginas de carlans fambdin populares, gue cimprem im papel politico importants canto instrumentos ds critica au status que vigente ete. Ver, 6 respelte, 0 ittm I (pp. 303-343) do iltimo capitule da sadugio brasiteira do The Making... slentade capitolo ne. qual Thompson disccure sobre. x conseiénvis de classe, 72. CE, Thompson, Edward P. A Furmagio da Chasse Opordria Inglesa (vol. 3), Op. Cit, p. nt 73 ler, 74 Idem, 52 Sacculum Jan./Dez,/1998/1999 “hsivrritorializado, algo dado gue simplesmente existe’ como Contraparte de uma burguesia, ambas a formar a composigao social de ia “totalidade histérica” anunciada com a designagio de modo de _produgio capitalista. Ao contrario. classe em termos thompsonianos ‘define-se como “calegosia Historica’ “c. como tal. sua apréensdo jesulta da observagdo do processo social ao longo do tempo”. iE Outra vertente que tem contribuido para a rehovagio historiografica nessas ultimas trés. décadas ¢ a nouvelle histoire . Yodavia, ba que ‘se considerar que a nouvelle histoire cavolve. momentos distintos quanto a natureza.de sua producdo historiografica. Por exemplo. do final dos anos 60, quando de seu surgimento, até 1976, basicamente a. unica postura.nova.gue as pesquisas mostram sio una abertura para as sovas temiticas, Mas as formas de aborda-las so todas herdadas do pericde imediatamente anterior, isto. ¢,. do periode que se convencionou chamar de “Era Braudel”. E que, num primeiro momento, as formas de abordagem continuam a privilegiar, por uti tado, recortes temporais Jonguissimos e, por outro, a quantificagdo om targa escala. Quer dizer, soa no minimo estranho o enfoque de tematicas novas. ainda mais em s¢ tratando de tematicas culturais, atrayés da quantificago. Mas é exalamente o que acontece num. prmciro momento, Traia-se do “quantitative no ierceiro nivel expressio cunhada por Pierre Channu”™ para designar o. uso da quantificacdio ao nivel de temas culturais, sendo que os dois outros niveis, sobre os quais s¢ usava. largamente a quantificagdo, cram o econdmico € 0 social. . Contudo, essa perspectiva de abordagem de temas culturais com base em instrumentais nada condizentes para uma historiografia que se arvorava como nova, dura pouco. Gcorre que j4 em meados da década de 1970 eclode uma. reviravolta no interior da nouvelle histoire, E. como se pudéssemos falar de «uma “rupfura” no interior da “yuptura”, on seja, sé 0 advento desta. vertente. no final dos anos 6! 75 Cf, Thompson, Edward P. La Sociedina! Inglesa det Siglo XVUF: Lucha de Clases Sin Clases? In Thompsom, Edward P. ‘Tradicion, Revuelia ¢ Censciencia de Chive, 3 ed, Barcelona Editorial Critica, 1989, p. 34. 76 CH BURKE, Peter, A Revolugdo Francesa da Historiografia: a Escola dos Annales |1929- 1989}, Sie Baulo: fators da Universidade Esadval Paulista, 1991, pk, Saccuhum Jan./Dez./1998/1999 53 constitui uma ruptura enr relagio a "geragdo” de Braudel, pele menos no qué se refere & emergéncia. de temas culturais ~-a trajetoria do “pordia ao soto” mencionada por certo historiador inglés” - ela propria sofre uma ruptura mtema. Isto ocorre quando da reagdo ao “quantitative no terceiro nivel”, reagdo que exprinme. uma. critica ao reducionismo referente ao uso da quantificagio ao nivel da historia cultural e que se configurou a partir de uma “viragem antropolégica”. un “retorno 4 politica” ¢ do ~yenascimento da narrativa™™ ‘No conjunto, essas. reagdes indicam mudancas profundas no interior da fouvelle: histoire. Soa no minimo vstranho falar-se. por exemplo, em um “retomo 4. politica” ou em “renascimento da narrativa”, Esse “retorno” ou esse “renascimento” no estatiam a indicar que os novos historiadores negavam.radicalmente o programa dos Annales, conquanto “politica” ¢ “narrativa” estavam entre os aspectos mais visados nas criticas que este. mesmo. programa. havia enderegado 4 historia orudita? A resposta énegativa ¢ ¢ negativa-porque esses “retornos” sao agora de outra natureza, bem dileronte da perspectiva antes adotada pelos eruditos. No caso da. politica, por cxemplo. 9 que buscayam os eruditos senda a preparagio de monumentais histérias de reinos ou dinastias, retratando as realizagdes que julgavam gloriesas por parte de scus monarcas, generais ou diplomatas? O que se busca hoje, em termos politicos, sdo sistemas de relagdes ou, mais precisamente. relagdes de poder, no esquecendo das tepresentacdes sobre essas mhesmas relagdes, em especial as representacdes sobre 0 outro. No que se tefere ao “retomo da narrativa”, ha que considerar este constitui um dos pontos altos: da renovacde historicgrafica ocortida nitimamente. E ao nivel da nouvelle histoire esta questio tem sido levada as iiltimas consequéncias. E que cla tem.a ver com alguns problemas de método ¢ estés tém implicagdes diretas sobre a escrita da historia. Primeiro, ela nfo deve ser encarada como um retorno a historia, fatual/episddica do tipo que cra produzida pelos eruditos pelo simples fato de que hoje existe uma preocupagdo como estilo, Os historiadores hoje-se -esmeram na producto do texto, procuram dotd-lo. de um viés narrativo bem prdxime ao que costumamos encontrar na literatura, ao ponto de se poder afirmar que inimeras obras de historia TICE Hhid p98, TS OF le Ibid, pp. 93 & seq. 54 Saeculum Jan, /Dez./1998/1999 _podem ser lidas hoje. por:puro. prazer. tal como ocorre com.os, que se brugam sobre a leitura de um romance ou qualquer outro género da ig Sem tornar a escrita. da historia. ficgdio, pois se tal acontecesse is historiadores estariam fazendo literatura © ndo historia, o certo .& ye a incorporagdo do. estilo“ -narrativa cumpre © hoje um iinportantissimo papel: torna a obra de histéria.um, texto de Jeitura agradavel, sem.o carater enfadonho das interminaveis.descrig6es ou da eisutrada de dados contidos ‘nos textos eruditos. ou 0 carater nao imenos enfadonho da paraferalia de nimeros. organizados sob a forma de grifices. tabelas. quadros, proprios da histéria quantitativa. Fgsa leitura agradavel ou prazerosa:tampouco sce parece com. os textos que compdem as “grandes. sinteses. historicas deterministas”, a maneira, por cxemplo, dos. textes de vies marxista. que explicam a lustéria a partir dos modos de produgio ete. Nao é a toa que intimeros historiadores franceses, produzindo conscicntemente wma historia para. agradar, tormaramese autores de sucesso, cujas obras sio consumidas pelo grande publico. Lim desses historiadores esclarece: “Nao devemas nos itudir: a principal fimedo de diseurso historico sempre foi divertir. A maioria. day pessoas Ie hisidria para relaxar e sonhey Mas produzir obras de historia que divertem c/ou agradam o grande piiblico nao significa prodwzir obras merios sérias do ponto de vista da informagdo histériea: nio significa que 9 historiador den asas 4 imaginagao & simplesmente inventou uma. determinada trama, pouco importando se os fatos narrados sio. ou nao. ficticios, Elaborar uma histéria que agrada nao significa, pois. fazer concessGes para o grande ptdlico, Um esclarecimento se revela pertinente: “O mais urgente foi nos precavermos de qualquer complacéncia face das novus leiteres. Mas também tivemos de nos esforear por taca- los ¢ reté-los, Tratamos portanto de adaptar noxsa. maneira de eserever, tornande nosso discurso menos Gspero (..). Cuidamos de Alexibilizar 0 estilo, mostrando-nos,” quando passivel, agraddveis. Nao crelo entretanto que 79 DUBY.G. A Historia Continua, Traduylio de Clovis Marques. Rip de Jancivo: Jorge Zz i, UFRJ, 1993. p..107. Sacoulum Jan./Dez./1998/1999 55 * @ eurse de nos: desviada™. Brincando um pouco com a ‘situacdo, fico imaginando 0 amante de uma boa literatura que. desconhecendo. essa perspectiva de renovacdo da escrita da histéria, se equivoca ao porto de levar para, casa um dos titulos da neva histéria pensando ter adquiride um dos romances. dé que tanto gosta. Seria isto possivel? Aeredito que sim Digamos que esse personagem passe diante da -vitrine de uma livraria © se depare com os seguintes titulos de Georges Duby: Guilherme. 0 Marechal: o Melhor Cavaleiro do Mundo: O Domingo de Bouvine: 0 Cavaleiro..a Mulher © o Padre. Agora imagine, além dos titulos. livros de capas belissimas ¢ ‘cujas imagers retratam conas de lita cutre cavaleiros medievais encouragados, cenas de. uma batalha campal travada também por cayaleiros medievais ete. Pergunto: nado despertaria tais obras a atengdo do referido personagem’? Nao poderia ele, desavisadamente, adquirir uma, dessas obras como se estivesse a adquirir um romance de Cavaiaria? ~ Em se tratando da “viragem antropolégica”, a que acinia st fez alusdo como uma das rea 20 uso do “quantitative no tereeire nivel”, o resultado que se obtém ¢ o surgimonto de uma historia autropoldgica ou antrepologia. histrtca, cujo elemento fundante para essa aproximagao entre histdria e antropologia, ¢ a. incorporagio, por parte dos ‘historiadores, do que podemos chamar de dimensdo simbélica, um instrumental proprio. do dominie do antropélogo"! Quer dizer, com esta “viragem antropolégica” o objeto de ostude continua a privilegiar as tematicas culturais. $6 que a perspectiva de abordagem muda radicalmente em comparagdo ao uso anterior do “quantitative no terceiro nivel”, Os. historiadores dialogar cada vez mais com a aniropologia ¢ © que resulta deste didlogo é que eles familiarizam-se com linguagem e métodes préprios ao dominio dos profissionais da disciplina vizinha, procurando jncorpord-log © adegua-los, na medida do ‘possivel, ao tratamento “histérico das tematicas culturais sobre as quais sc debrugam. O cexemplo & emblematico: ts investigagdes tenha sido “Ay: idéias de Goffman, Turner, Bourdieu, De Certegy [todos aetropdioges de -renome} e \ Thid. .p. 108, 81. CLBURKE, Peter’ Op, cit, p. 94 56 Sacaulnt Jan Der, 1998/1999 ontros Joranr udoiedas. adaptudas e aditizadas para construire ume © histéPid mais antrapolégica. Jacques Le Goff por exeimplo, vem teabalhamds he mais de vinte.anos.no que pode ser deserito como antropologia cultural ia, indo da andlise estrutural das lendas ao estudo dos gestos simbélicos da vida social, especialmente Hilo da vassalagen(...j° Além de Jacques Le Goff. outros historiadores da nova geragdo dos Annales tém se aproximado da antropologia. para a claboragio de uma historia antropolégica. E 0 caso de Georges Duby, outro medievalista de renome. que. através de uma. série de depoimentos pessoais, fala dessa experiéncia, ¢ sobre a qual tego alguns comentarios, Reconhecendo a divida dele préprio para com a antropologia, afirma que deve a Ieitura de textos antropologicos uma profunda mudanga de rumos emi sua.investigagde da sociedade feudal. fm. sua lettura. de Meillassoux, Auge ou Althabe, por exemplo. familiarizou-se com os conceitos de “reciprocidade ou redistribuigdo™, leyando-o a ver con: novos olbos a sociedade feudal, reconhecendo, om especial, que a cconomia ndo.ocupaya a importancia destacada que antes Ihe atribuia®’. Também leu Mauss, Polanyi. Veblen, os quais ensinaram-the a-encarar a questéo da “gratuidade dos circuitos de troca”, 0 que o lcvou a constatar, em relagio.a sociedade feudal, que uma. parte consideravel_do que os camponeses produziam e levavam ao mosteiro ou ag castelo no assumia.o-carater de renda fundiaria, como antes ele a percebia, mias de “presentes simbélicos™. Até porque, em troca; os camponeses almejavam alcangar a graca-divina ow ter a garantia de que.a ordem publica ¢ a justica estariam assegurados“, Assim, os estudos que Duby empreende sobre os mitos € rites ou sobre as relagdes de parentesco decorre da aproximagdo que manteye com a antropologia. Mas © exemple. maior da influéncia desta disciplina na obra de Duby parece residir mesmo no estudo que empreendeu sobre a batalha de Bouwvine, que resultou na publicacdo de um ensaic de antropologia historica sobre esta guerra feudal. 82 Id, thid.. 7.95. #3 CL DUBY, Georges. Op cil, p. 82 84 CE Ad. dbid, pp. 82-83, Sacoulum Jan,/Dez,/1998/1999 37 Apossando-se. de todos .os relatos de época sobre a referida batalha, Duby. pde maos 4 obra. primeiro desses relatos, da autor’ do capeléo..de: Filipe Augusto, rei de Franga, redigido no calor do. momento.<.que teria sido-o verdadeiro-criador daquele acontécimento. tem muito.a dizer ao ser explorado a maneira dos antropdlogos: “Kecothi suas palavras como um etmografe recallie as do informant indigend - que procura fazer falar, Onvinas, alentamente. para compreender como « agao militar ere concebida na-Branga do inkcio. do século XHIC..)°°. Indo. além dessa perspectiva, ele interroya de maneira surpreendente os relatos que encontra sobre o domingo: de Bouvine: “Eu procurave igualmente — captar oo. vomportamenio dagueles. rapozes @ homens mais macduros, as vers ja incapacitades, que. vaciferando, morrendo de sede, enceguecvidas pela poeira de terreno pisoteado.. agitaram-se come condenados em suas couragas, naquele dha de verdo. De gue instrumental dispunham? Que gestos faziam, manejande. essas armas, conduzindo- snes montarias? Ev tentever Jnelusive penetrar em suds consciéncias. Que pretendiam? (...) Tinham medo ox cavaleiray? E de que? Qual o-herdi mitico. cuja arregdncia. empenhavanr-se em imitar? (..) Em suma, eu observavea exetamente como Margaret “Mead {ama importante dnirepdloga] observara os manus. te desarmado. quanto ela, mas nao mais" Depreende-se, lo depoimento exposto, que a pesquisa histérica ¢ ent&o envolvida ‘por um sopro renovador, para nao dizer pleno de vida. O. recorte tematico - uma batalha campal.ecorrida om certo domingo do ano de 1214 -, os materiais aos quais recorre, -o olhar que langa sobre esses materiais, a linguagent de-que faz uso, siio indicatives de que o autor reafizou um auténtico trabalho de antropologia historica. Sendo um trabalho originalmente publicado em 1973, a data em si ja diz muito, Diz do momento em que a “escol: 83 Ke Ihig.,p. 110. RG Io. Hid, p. 1. 58 Saeculum Jan /Dez./ 1998/1999 “Husoles osté passando por uma. profunda mudanga de rumos, a orid do “pordo ao sotao" ja referida anteriormente. Mas ¢ evideste que a.nouvelle histoire: nao se resume as ribaigdes: dos medievalistas Jacques Le Goffe Geoerges Duby. contrario das fases anteriores do. que.,.se .convencionou “escola” ive Apnales. que tendiam a concentrar maiores responsabilidades, em ti de alguns poucos nomes,- Lucien Febvre, Mare Bloch e Fernand audel _, atribuindo-ihes também maior peso intelectual, a nova fase asd tem este. tipo de -problema. Aqui o Jeque amplion-se vshificativamente, sdo intmeras.as contribuigées, e mesmo que ‘Gsistam os mais produtivos, os que se destacam, ja nao existe 0 Ainda em relagdo a Natalie Zemon Davis, ha um ultimo fator eaxiderar, Se é certo que sua preocupagio é com a cultura ~-vale -pcitor de uma ¢poca, com as vis6es de mundo entao vigentes -, néio.é ienos Certo Que sua preocupacdo é com a cultura cujos atores sociais Mo-as classes populares. De forma que sen objeto privilegiado de sisquisa 6 a reflexdo em torno das “concepgdes culturais populares”, ‘Av ponto de podermos. afimmar que o tempo todo Davis tem estado “com um pé na historia social ; No conjunto, os oito ensaios que. compdem sua obra de yeferéncia, intitulada. Cufturas do Povo: Sociedade e Cultura ne inicio da Franca Moderna, revelam que cla realizou um 7 “Trabalho de. teceld, articulando. fragmentos pequenissimos muna filigrana que procura retratar a experiéncia social de ‘sujettos pertencentes as camadas populares, até entdo praticamenie ausentes da narrativa historica’!””, O proprio titulo Culiuras do Povo ja diz muito. Sio multiples os sujeitos que entram em cena, camponeses, artesios ¢ as demais camadas populares das cidades. No conjunto, a. autora procura esbogar um. rico painel de sua cultura, descrevendo imimeras de suas praticas cotidianas, analisando suas crengas, atitudes ¢-visées de mundo. Mas os tém privilégios nao ficam de fora. Por exemplo: os “muitos ricos”, os “poderosos”, os “educados”’e o “clero” também entram em cena para compor a trama historica, embora sé aparegam na medida em. 106 Em trabatho que desenvolvi junto zo programa de Pés-Graduayio. em Historia na UNICAMR, a nivel de dooterads, chamel « -atengao para esta difienldade, & que tice dificil resolver ein “‘chave histétice"(para usar expressio cua a Carlo Ginzburg) determinadas qustes, a exemple das nogdes de mite, imagindrio etc. A noyo de mito, por exemplo, encesra uma perspective estrutural Ho sbrangente que, a rigor, pode ser tomada como & negagaio da historia feita pelos historiadores, Daf a critica que.desenvolvi, no trabalho teferido, ao historiador italiano. Carlo Ginzburg, um bistoriador cultural de renome, mas que empobrece sua obre intitulada Histiria Notuma: Decifrando. Sab4, exatamente-por ter discorrido sobre 0 mito do Sabé a partir da perspoctiva da antropologia levi-straussiana (Cl ARANILA, Gervacio Batista, A. Nova Histéria, seus Temas ¢ seas Métodas: um Didlogo com a Antropologia, Campinas: maimes., 1995, 27 pp. JUT ARANTES, Antonio Augusto, Aprosentscio a edigio brasileira. In Davis, Natalie Zomon. Op, Cit p. XI. Saeculum Jan./Dez/1998/1999 69 que, cm suas relagées, estejam imbricados com os “modestos”", seja. por entrarem em conflito com estes ultimos ou por. partilharem, suas “atividades e suas crengas’!”, Finalizo dizendo que © proprio titulo Culturas do Povo & ‘por demais sugestivo. $40 miultiplos os sujeitos que. entram em cena para compor a trama histérica, camponeses, artes{ios ¢ as demais camadas populares das cidades. No conjunto, a autora procura esbogar um rico painel de sua cultura, descrevendo suas praticas cotidianas, analisando. suas crengas, atitudes ¢ vises de mundo, CONSIDERACOES FINAIS De uma forma ou de outra a historiografia tem se renovado nas ultimas trés décadas. Se as primeiras rupturas em. telagdo aos velhos paradigmas explicativos surgiram jd na década de 1960 © se intensificaram na década seguinte, hoje. esses velhos paradigmas explicativos esto. de fato falidos. Scus enfoques, expressos sob a forma de modelos, j4 néo sfc convincentes. Suas formas explicativas abstratos-formais, para ndo dizer vazias de sentido, ja ndio. convencem quem quer que seja minimamente esclarecido quanto as inovagdes ocorridas ao nivel da historiografia nessas altimas décadas, tais como as que foram mostradas nas reflexées acima. Ha muito que nao mais se aceita as “verdades” infaliveis com que costumava-se caracterizar o campo historiografico, do tipo que assentava-se em chavées como “a, historia tal. qual acontecen” on “a historia como a-historia dos modos de produgdo”. E néo é para para, menos, ja que “a historia tal qual aconteceu” ¢ uma maxima que estava ancorada no pressuposto epistemologico da “neutralidade cientifica” ou de um conhecimento histérico “totalmente objetivo”, pressuposto que-ha muito cain por terra. Quanto 4 maxima de que “a. historia s6 existe enquanto a historia dos modos de produgio”, o reducionismo ¢ visivel, o homem erigido ao ¢statuto de -“homo ’éonomicus ”. . nies Contra esse reducionismo, Mare Bloch chamov a atengdo, ja. em 1940, para o fato de.que a historia, enquanto um campo do saber sobre © homem, deve se preocupar com todo 0. “meio humane”, Isto porque, 08 CL DAVIS, Natalie Zemon, Op. Cit, p.7. ‘Saecuhum Jan./Dez./1998/1999 Regdio de trabaiho que'nos leva a recertar num ser de carne ¢.de sangue estes fantasmas: homo economicus, philosophicus, juridicus é, sem. duvida necessdria, mas suportével se recusarmos deixar-nos enganar por-ela’?”™. Hoje. conforme demonstrado, as velhas ortodoxias faliram; hoje ja nao ha lugar para postulados formais-abstratos, crigidos 4 condigio de modelos. Até porque, os modelos inyariavelmente ievavam ou jevam 4 antecipagdo de resultados e. paradoxalmente, a recorréncia aos modelos costumava ser justificada como uma pratica, epistémica em tomo da qual ndo-poderia haver divida.quanto ao seu carter cientifico, E, no entanto, nada pode ser mais contraproducente do que a aplicagao pura e simples de modelos, para nao dizer nada mais facil do que “produzir” conhecimento dessa forma, uma.vez que qualquer sociédade ou fatia de sociedade que se tome como objeto de estudo, o caminho a seguir ¢ um s0, a aplicagdo do modelo disponivel, A pesquisa em historia hoje exige que se dé uma basta & aplicago pura ¢ simples dos modelos referides. Isto nao significa que- o historiador ndo possa tracar metas, elaborar hipoteses ou construir um. problema relativamente a um objeto de estudo dado a partir de determinados pressupostos tedricos. NSo s6 pode como deve agir dessa forma. Contudo, isto ndo quer dizer que tais metas, hipdteses ou. problemas, incluindo também os pressupostos tedricos de que se valeu o historiador, sejam mantidos até o fim ‘Ha casos em que projetos de pesquisa inteiros 18m que ser abandonados ou redefinidos, ¢ isto pelo. simples fato de que o trabalho. de pesquisa revela que os. dados disponiveis nao casam com o que fol. projetado, on nao condizem com. os pressupostos tedricos que serviram de ponto de-partida, Neste caso, 0 que se tem a fazer é tragar outro caminho, ontras metas, partindo de novos pressupostos tedricos. Assim ¢ a pesquisa em historia hoje; uma pratica de pesquisa. que rechaga.a aplicagdo pura ¢ simples de modelos tedrices de andlise; que critica duramente os que realizam a pesquisa tdo-somente para referendar o modelo adotado ou, precisando melhor, que critica aqueles que simplesmente “adequam”(ndo seria mais conveniente dizer “colam”?) os dados disponiveis. aos pressupostos contidos no modelo referido. 169 BLOCH, Mare. A-Sociedade Feudal, 2-04. Lisboa; Edigbes 70, s/d, Saeculum Jan./Dez./1998/1999 nl cis vksse -esbogo erinco também € enderegado a certas apropriagdes tedricas ocorridas no: contexto das novas abordagens historiograficas. Alis, abordagens historiograficas que hoje esto em yoga mas que em alguns casos j4 nfo so tio novas assim, exigindo, dos. que se preocupam com questées de epistemologia. no campo da historia, gue as observem com olho critico, seja porque sao de natureza esquemitica, em si mesmas pobres, a exemplo do modelo narrativo de Hayden White (cujos Trdpicos do Discurso s§o de um esquematismo. 4 toda prova), seja porque autores e/ou vertentes tam sido apropriados de forma equivocada, transformados em modelos, a. exemplo de cettas apropriagées de Foucault, Thompson ete. REFERENCIAS BIBLIOGRARICAS BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal. 2 ed. Lisboa: Edigbes. 70, s/d, BRANDAO, Helena.H, Nagamine. Introduce 4 Andlise do Discurso. Campinas: Editora da UNICAMP, 1991 BURKE, Peter, A Revolucie Francesa da Historiegrafia. A Escola dos Annales, (1229-1989). Sfio Paulo: Bditora UNESP, 1991, COSTA, Eleanora Z.. O Acontecimento Discursive. In Tania ‘Navatre Swain. (Org.). Histéria no Plural. 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