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AGOS-CARBONO E AGOS-LIGA 151 Z¥VIIr ACOS RESISTENTES A CORROSAO E AO CALOR 1 — Introdugé&o — A perda de pegas metdlicas por agéo da corroséio tem preocupado engenheiros e metalurgistas que procuram constantemente néo sé aperfeigoar ou desenvolver no- ‘yos métodos de protegdo como também aperfeigoar ou criar novas ligas que apresentem o caracteristico de resisténcia & corrosdo. A corrosdo pode ser considerada como o ataque gradual e continuo de um metal por parte do meio circunvizinho. que pode ser ou a atmosfera mais ou menos contaminada das cidades, ou um meio quimico, liquide ou gasoso O processo de corrosdo resulta de reagées quimicas entre os metais e elementos nGo metdlicos contidos nesses meios, com a consequente formagdo de compostos quimicos, que sco éxidos ou sais. A velocidade do ataque e sua extensdo dependem ndo sé da natureza do meio circunvizinho, como também do tipo do metal ou liga sofrendo a agdo corrosiva Geralmente, a protegdo contra a corrosdo é feita criando-se sébre a superficie do metal uma pelicula protetora, que separa © metal-base do meio corrosivo. Essa pelicula protetora pode ser criada artificialmente, mediante depésito propositado de uma outra substdncia — metdlica ou orgénica — sdbre a suporiicie do metal a proteger, ou naturalmente, isto é, produgdo expon- tanea da pelicula superticial pela formagdio de um composto qui- mico, mantido na superficie metdlica por {érgas atémicas, re- sultante da reagdo de certos elementos de liga introduzides no metal com o meio circunvizinho. Essa formagdo exponténea da pelicula protetora é a que interessa nos materiais objetos do presente capitulo, dando origem aos chamados agos resistentes + corrosdo. A condigGo caracteristica dos agos resistentes & corrosdo. assim como de outros metais ou ligas anti-corrosivos, de perma- necerem inalterados no meio circundante ch:ama-se «passividade» Os metais que se podem ligar ao ferro em condigdes econd. micas para conferir-lhe em gréu maior ou menor essa condigéo. de passividade em relagGio ao meio, sGo 0 cromo e o niquei principalmente. Em menor grdu, 0 cobre, 0 silicio e o molibdénio. O cromo 6, na realidade, o mais importante, pois quando em teores acima de 10%, confere ao ago acentuada resisténcia ao ataque quimico. Assim foram originados os primeiros agos inoxidaveis. O papel do cromo como elemento protetor a corrosto esté ilustrado no grafico da Figura 55 em que se observa que, numa atmosfera industrial, o ago, 4 medida que o seu teor em cromo aumenta, passa de um metal de grande corrosibilidade a um metal prdaticamente indestrutivel. 152 BOLETIM GEOLOGIA E METALURGIA A temperaturas elevadas, verifica-se também o mesmo fato: isto 6, & medida que o cromo aumenta, diminue a oxidagdo. Passa-se assim dos agos‘simplesmente ‘inoxidaveis cos acos resis- lenles ao calor, cujos caracteristicos sdio ndo sé resisténcia & oxidagao como também razodvel resisténcia ‘mecdnica ds altas temperaturas. O grafico da Figura 56 ilustra © efeito do cromo na resisténcia do ago & oxidagao a altas temperaturas. Verifica-se que o efeito mais positivo do cromo, nesse caso, s6 se desenvolve quando © seu teor esta acima de 20 %. A agdo do cromo no sentido de: tomar o ago passivo em relagao ao meio circunvizinho é devida & formagao de uma camada superficial cromo-oxigénio, impermedvel, extremamente estavel, a qual, ainda que invistvel, 6 continua e em meios oxi- dantes possue uma pressGo de solugtio tao ‘baixa que confere ao metal um comportamento nobre. A passividade dos agos resistentes & corrosdio depende de uma série de fatores, dentre os quais, os de maior importén- cia sao: a) composigao quimica; b) condigdes de oxidagdo; c) suscetibilidade & corrosao localizada («pitting»); a) tratamento térmico. 0025 —— 0,020 vyfatio My ys S 0,015 0S00, [0 corr Ss g 8 0.0075 6 @ 0 “# Cromo, fo FIG. 55 — Gréfico ilustrando a passividade dos agos-cromo expostos durante 10 anos a uma atmosfera industrial (Adaptado do livro «Stainless Steels» de C.A. Zapjfe editado pela American Society for Metals, 1949). 2 AGOS.CARBONO E AGOS-LIGA 153 z 8 10, minfare Aco-cromo 8 8 VP OSL Aco inoxiddve/ S 7} MY OXIDACAO Uy », Aco resistente ao calor MMM e VV Ui 0 S 70 15 20 ea 30 Crom, % FIG. 56 — Gréfico “ilustrando 0 efeito do cromo na resisténcia dos acos @ oxidagao a altas temperaturas. A curva mostra a penetragéo da oxidagéo de cubos de Ys” aquecidos durante 48 horas a 1000° C (Adaptado do livro «Stainless Steels» de C. A. Zapffe editado pela American Society for Metals», 1949). a) composigéio quimica — Os elementos a serem aqui considerados sco o cromo, o niquel, o carbono e o molibdénio O cromo é, como se viu, o mais importante: um teor minimo de 12% de cromo é exigido para atingir a necessdria passivi- dade, a qual 6, por assim dizer, completa com cromo de 20 a 30 %. O niquel segue o cromo em importéncia; sua atuagdo se faz sentir nao s6é no melhorar a resisténcia & corrosGo dos agos inoxiddveis em solugGes neutras de cloretos e em dcidos de baixa capacidade de oxidagdo como também no melhorar suas propriedades mecdnicas. Essa influéncia é particularmente no- tavel quando o teor de niquel é superior a 6 ou 7 %. O carbono, forgoscimente presente em qualquer tipa de ago, diminue ligei- ramente a resisténcia & corrosGo dos agos inoxiddveis quando no estado dissolvido, decresce-a apreciavelmente quando na for- we de carbonetos livres e uniformemente distribuidos e pode causar completa desintegragcio dos agos inoxidaveis ao cromo- niquel quando precipitado na forma de carbonetos nos contornos dos gréios. Finalmente, o molibdénio geralmente melhora a pas- sividade e melhora a resisténcia & corroso nos dcidos acético, sulfarico e sulfuroso a altas temperaturas e pressGo e em so- lugdes neutras de cloreto, particularmente na agua do mar. b) condigdes de oxidagdog— E’ evidente que a extensdo ea velocidade do ataque depende da capacidade de oxidagdo 154 BOLETIM GEOLOGIA E METALURGIA do meio circunvizinho. Nessas condigdes, pode-se classificar todos os meios corrosivos, quer Iiquidos, quer gasosos, em dois grupos : oxidantes, se tendem a tornar passiva uma determinada liga; redutores, se tendem a destruir sua passividade. Em relagdo aos acidos fortes, pode-se verificar experimentalmente que a linha de separagdo entre os dcidos oxidantes e os redutores 6 represen- tada pelo dcido sulfirico. No lado oxidante, encontra-se o dcide nitrico e no redutor, os dcidos cloridrico e fluoridrico. Assim sen- do, 0 ago inoxidavel que é perfeitamente utilizado em meio como dcido nitrico, perde toda a sua utilidade quando em contéto com dcidos redutores. c) suscetibilidade & corrosa&o localizada —- Os agos-cromo sGo suscetiveis de serem atacados por cloro; o ion negativo Cl de solugdes aquosas causa a corrosGo localizada chamada «pi- tting». Tal fato precisa ser lembrado ao se tentar utilizar os agos inoxidaveis em contdto com qualquer concentragGo de dcido cloridrico. Até mesmo a atmosfera salina tende a prejudicar as excelentes qualidades de resisténcia a corrostio de muitos agos inoxiddveis. A corrosdo localizada as vezes pode ser mais pre- judicial do que a corrosdo generalizada, pois pode criar pontos de concentragéio de tensdes que poderdo levar o metal & ruptura por tadiga. d) tratamento térmico — © tratamento térmico pode causar, nos agos inoxiddveis Cr-Ni, a ruinosa precipitagdo de um consti- tuinte de contorno de grdo, numa certa faixa de temperatura. Tem-se verificado que o aquecimento désses agos dentro da faixa de temperaturas de 400 a 900°C, ainda que durante um tempo muito curto (poucos segundos ou minutos), pode causar a sua quase que completa desintegragdo, apés algumas horas de ex- posigaéo numa solugéo corrosiva. A explicagéo que se admite para o fenémeno é a seguinte: certos constituintes, e principal- mente um carboneto complexo de cromo ¢ ferro, dissolvem-se com facilidade cada vez maior na austenita, 4 medida que a temperatura sobe além de 900°C. Entretanto, entre 400 e 900°C, Gles precipitam ao longo dos contornos dos grdos, em vez de no interior dos mesmos grdos como seria de esperar. Essa pre- cipitagdo parece localizar o ataque quimico no espago entre as particulas precipitadas e o préprio grado, provocando a separagéo ndo sé dos grdos como das préprias particulas. fsse fendmeno pode ser contornado de diversas maneiras; por exemplo, a manutengdo do aco a temperaturas acima da faixa considerada, como entre 1000 e 1100°C, causaré a redis- solugGo na matriz dos carbonetos existentes nos contornos dos gréos. Garante-se essa redissolugéio pelo resfriamento répido através da faixa 400-900°C, pois se evita sua nova precipitagdo. fsse procedimento nem sempre é conveniente, pois pode haver oxidagéo e empenamento a essas elevarias temperatiras; além AGOS-CARBONO E AGOS-LIGA 155 disso, em certos casos, 0 resultado obtido pode ser destruido por um reaquecimento posterior, através daquela faixa critica, de- vido, por exemplo, a uma solda que se faca necesséria. Outro método de evitar ésse fenémeno indesejavel, é reduzir o teor de carbono do ago a valores que o tornem ineficaz na formagéo de carbonetos ou, na realidade, na remogde do cromo da matriz A Figura §7 ilustra de modo claro o efeito do carbono na re- sisténcia & corrosdio do conhecido ago inoxidavel 18-8 (18 % de Cr e 8% de Ni), amostras do qual, para o tragado do grafico da figura, foram propositadamente aquecidas de modo a se ter no maior gréu possivel o fenémeno da precipitagdio de carbo- netos, Verifica-se que & medida que 0 carbono decresce, diminue © ataque corrosive, 0 minimo verificando-se quando © mesmo atinge 0,03 %. Até cérca de 0,03 % de carbono, qualquer que tenha sido o tratamento térmico usado, o carbono ou permanece dissolvido sem qualquer efeito nocivo, ou precipita nos contornos dos grdos na forma de um carboneto de cromo, em quantidade, entretanto ainda insuficiente para formar um envélucro continuo em lorno dos grdos de modo que ndo se verifica qualquer dano. 3750 WEE N 8 He y Ss x Corresd en mmfaro x s 8 COS Q05 a” GIS 020 Feor abe carbon, fe FIG, 57 — Efeito do teor de curbono sébre a corrosio de aco inoxiddvel 18-8 tratado termicamente de modo a produzir a maxi- ma precipitacao de carbonetos (Adaptada do livro «Stainless Steels» de CA. Lapjfe, editado pela «American Society for Metals», 1949). 156 BOLETIM GEOLOGIA E METALURGIA Acima de 0,03 % de C, o carboneto de cromo formado comega a envolver de modo continuo os grdos e, como ésse carboneto é muito rico em cromo, hé empobrecimento do metal vizinho a tal ponto que sua inoxidabilidade é prejudicada e ocorre répida penetragdo da corrosdo. Ainda outro método de prevenir o fenémeno em discussGo: consiste na introdugdo de um elemento de liga que tenha maior afinidade pelo carbono do que o cromo, evitando que éste aparega na forma de carbonetos e deixe de agir como elemento essencialmente passivador. Este método é o mais satisfatério e o mais usado e os elementos de liga mais empregados, com ésse objetivo, sGo o titémio, o colémbio e o tdntalo. Como complemento das consideragées até aqui feitas, pode- se fazer as seguintes generalizagées : a) a resisténcia & corroséo depende da passividade; b) © cromo é 0 elemento bdsico para conferir passividade aos agos; c) condigées fortemente redutorus, ou seja, a auséncia de condigées oxidantes, causa suscetibilidade ao ataque corrosivo; d) condigdes fortemente oxidantes promovem extraordinéria resisténcia ao ataque; e) o ton de cloro é destrutivo em relagdo aos agos-cromo; f) 0 niquel além de melhorar as propriedades mectinicas dos agos inoxiddveis, melhora sua resisténcia & corrosGo em so- lugdes _neutras de cloretos e dcidos de baixa capacidade de oxidagdao; a) © molibdénio aumenta a faixa de passividade dos acos inoxidaveis e melhora sua resisténcia 4 corroséo em dcidos sulfirico e sulfuroso quentes em solugdes neutras de cloretos, como Ggua do mar; h) 0 ataque intergranular dos agos niquel-cromo, fenémeno tipico nesses tipos de agos inoxiddveis, é evitado por baixos teores de carbono, tratamento térmico adequado, ou introdugao de titénio e colémbio. 2 — Classificagéo e constituigéio dos acos inoxidaveis — A classificagéo mais simples e mais usada dos acos inoxiddveis é baseada na microestrutura que apresentam & temperatura ambiente. Nessas condigées, sdio considerados os trés grupos seguintes : 1 — Agos Inoxidaveis Martensiticos — ou endureciveis; Il — Acos Inoxiddaveis Ferriticos — ndo endureciveis; \ll — Agos Inoxidaveis Austeniticos —- também nGo endureciveis, Os grupos | e II sao essencialmente ligas de ferro e cromo; © grupo III compreende as ligas ferro-cromo-niquel. AGOS-CARBONO E AGOS-LIGA 157 7800 7600 Liquide + lerrifa 1400 S : ~ Yustentta Ferrifa 8 1200 8 |~Austenita + Ferrifa 3 Jen, ie s 8 8 600 wool 70 20 30 40 $060 70 80 90 100 foal Cromo FIG. 58 — Diagrama de constituigéo da liga Fe-Cr (Extraido do «Metals Handbook» editado pela Jemperator g FIC. 59 — Influéncia do carbono numa liga de Fe Cr Ni com 189% Cr ¢ 4% Ni (Extraida do livro «The Book of Stainless Steels» de E.E. Thum). O efeito mais importante é verificado na zona austenttica, como mostra a Figura 9 (pagina 16). Nota-se que, a medida que o teor de cromo cresce, a faixa austenitica diminue, até pra- ticamente desaparecer para cérca de 20% de cromo. €sse fato leva & conclusdo de que, & medida que o cromo aumenta, a composigGo das ligas Fe-Cr-C que permitira obtengdo de endu- recimento total por témpera fica reduzida a limites cada vez mais estreitos. Quante ao niquel, éssc clemento tem forte tendéncia & for- magGo da austenita. Sua agdo na liga Fe-Cr-C, que é o que interessa nas presentes notas, pode ser vista nos diagramas das Figuras 59 e 60 em que estdo representadas secgdes dos diagra- a+ Ca Austenta + pal 02 03 04 05 06 O07 08 09 10 a 18% CP %o de Corbono ON FIG. 60 — Andamento geral das reagdvs em acos ao Ni-C 8% Ni (Extraida do livro «The Book of Stainless Stee! mas de equilibrio Fe-Cr-Ni-C, para 18 % de Cr com 8% e 4 de M respectivamente. Verifica-se que a fase gama, & medida que cumenta o teor de Ni, torna-se cada vez mais estdvel a ponto de, com 8% de niquel, para baixos teores de carbono, as ligas ficarem inteiramente austeniticas, mesmo com recozi- mento. Nessas condigées, a liga 18-8, para todos os fins priticos, pode ser considerada austenitica. 3 — Agos inoxidaveis martensiticos — fstes agos, caracteri- zados por serem agos-cromo, com Cr entre 12 e 18 %, tornam-se martensiticos e endurecem pela témpera. Dentro désse grupo podem ser consideradds ainda trés classes «) buixe curbone, também chamado tipo «turbina»; b) médio carbono, também chamado tipo «cutelaria» c) alto carbono, também chamado tipo «resistente ao des gaste» . £sses agos estdo todos incluidos na classificagao AISI que considera os tipos indicados na Tabela XXXI METALURGIA M E OLOGIA CE ETIM € BOL 160 9} ‘SDIRA[PA ‘sojueuMsuT 'DIDIEINo Did ‘ppbas|e Dzeinp fe\spBsep op eyueystser 9 DpDe\n> mop] Wop] odyy Jom} weBpuysn ep : puwpeyno odyy 3} ‘SUUTT 'SD[NAppA ‘SDI -6}89 op stpounur ‘sootbiny soweumNsut Sfeajpemnpue no sooyBueyoU sodn so eujuep opsol0> R DIDUR|sISe1 JO;UI ap © spoluposur sepppetidoid sesoyjeur ep Yop} weBousn op 238 'popy ep spuUTUID] ‘spjour pind sy196 segdno -ydo pid snd oxtog ep [eApptxout oSD DuIgiN) ep sppplio} souluID] Died yuDpeIns dry i purqany ody : purqiny odty : purqiny odty, :purqany ory : puIqany odty, xDUI G4’) — OW xpur ¢/'0 — OW xDU 7’) — OW zur 990 — OW 37 "uyur £0'0 — S'S ‘d SYOIdIL SAQSWOrIdY 3 SIVUID Saqyagudoud o's — o't}oz't — $60} O ony O's — o'91|s6'0 — sz'0] & OFF O'st — o's |sz'0 — o9'o| ¥ oO o St O2I] op'sujoo | + Och oz) %sro ap puOD oer = oss — ‘uy £0'0 — °§ 'S ‘d saad = 3 = soyneue[e sonng IN "YOININD O¥SISOdWOD SOonySsuSLID STeapprxouy sody sop opSpoydy © opdisodurop IXXX WTIAaWLl

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