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MESTRADO PROFISSIONALIZANTE

2015-2016
REGISTOS E NOTARIADO

TÓPICOS DE CORREÇÃO DO EXAME ESCRITO1


(Turmas C e D)

I
1) Como implicam o reconhecimento de um dos direitos abrangidos pelo artigo 2º, CRP, a
orientação que se afigura mais adequada aponta no sentido de se considerar que as ações
de revindicação estão sujeitas a registo predial nos termos do artigo 3º/1, alínea a). De
todo o modo, existe uma corrente de entendimento oposta, representada, por exemplo,
por STJ Proc. N. º 02A4354 (PINTO MONTEIRO) 13-05-2003, para a qual não é exigível o
registo da acção se o prédio reivindicado estiver registado em nome do autor, já que
aquele registo não é afectado pelo destino da acção.
- O registo das acções é lavrado provisoriamente por natureza, nos termos do artigo
92º/1, alínea a).
- A decisão final das acções inscritas é sempre registada por averbamento à respetiva
inscrição nos termos do artigo 101º, n. º 2, alínea c).
- Nos termos do artigo 59º, nº 5, o registo provisório da ação é cancelado com base em
certidão da decisão transitada em julgado que absolva o réu do pedido ou da instância, a
julgue extinta ou a declare interrompida, ou em comunicação efetuada pelo tribunal,
preferencialmente por via eletrónica, acompanhada de cópia daquela decisão e indicação
do respetivo trânsito em julgado.

2) Ao colocar a propriedade à disposição de Beatriz, António transmite-lhe a posse nos


termos do artigo 1263º, alínea b, CC. Discutir se a tradição é material ou simbólica.
- Caracterização da posse de Beatriz: titulada, de boa-fé, pacífica, pública, causal, civil e
efetiva. Demonstrar fundamentadamente estes caracteres.
- Em 2000, o registo predial ainda não era obrigatório. Constituía de todo o modo, um
ónus, uma vez que, não sendo acatado, expunha o titular (Beatriz) ao risco de uma
aquisição tabular, em virtude de não se produzir o efeito consolidativo.
- A venda feita por António a Carlos é nula em virtude de se tratar de uma alienação de
bens alheios (artigo 892º, CC).
- Contudo, como Carlos está de boa-fé, realizou uma aquisição onerosa e inscreveu-a no
Registo Predial, preenche o conceito de terceiro definido pelo artigo 5º/4, CRP, porquanto
adquiriu um direito incompatível de um autor comum (António). Trata-se de uma
hipótese de efeito atributivo.
- A exigência da boa-fé e da onerosidade deve ser fundamentada em virtude de a norma
legal aplicável não fazer menção destes requisitos. Interpretação restritiva do artigo 5º/4,
baseada no elemento sistemático (restantes hipóteses legais de efeito atributivo) e
teleológico (só o terceiro de boa-fé merece a protecção de uma aquisição contrária às
regras substantivas).
- Porém, para travar a aquisição tabular, Beatriz pode invocar a aquisição por usucapião
cuja pertinência se pode afirmar mesmo no contexto da posse causal.
- Com efeito, tendo havido aquisição derivada da posse, afiguram-se preenchidos os
pressupostos da acessão na posse exigidos pelo artigo 1256º, dado que António era
possuidor desde 1985, em virtude da herança então adquirida (artigo 1255º).
- Deste modo, em 2002, Beatriz era possuidora há 17 anos do prédio, pelo que satisfazia
as exigências do artigo 1296º, visto não haver registo mas estar de boa-fé.

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Poderão ser considerados outros elementos que se revelem pertinentes para a correcta resolução das
questões colocadas.
- O registo da usucapião é meramente enunciativo (artigo 5º/2, alínea a), CRP, sendo uma
das exceções ao regime geral do efeito consolidativo consagrado no artigo 5º/1, em
virtude de o direito assim adquirido ser oponível a todos os terceiros, independentemente
do registo da aquisição.

II

1. Habilitação de herdeiros [artigo 86.º, n.º 1 a. e) do CN]


2. Cabeça de casal [neste caso, o Bernardo – cfr. artigo 2080.º, n.º 1, al. c), 2 e 4 CC] ou
3 pessoas, que o notário considere dignas de crédito (artigo 83º, n.º 1 e 2 CN)
3. A menção de que os habilitandos são herdeiros do falecido e não há quem lhes
prefira na sucessão ou quem concorra com eles, a menção do nome completo, do
estado, da naturalidade e da última residência habitual do autor da herança e dos
habilitandos (art. 83.º, n.º 1 e 3 CN), bem como a menção do nome completo do
cônjuge e do respetivo regime matrimonial de bens, se a pessoa a quem o ato
respeitar for casada (art. 47.º, n.º 1, al. a) e n.º 2 CN); e a indicação de que são irmãos
bilaterais (germanos) ou unilaterais (neste caso, uterinos) (dado o artigo 2046.º
CC).
4. Pelo conhecimento pessoal do notário; pela exibição do bilhete de
identidade/cartão de cidadão, de documento equivalente ou da carta de condução,
se tiverem sido emitidos pela autoridade competente de um dos países da União
Europeia; pela exibição do passaporte; ou pela declaração de dois abonadores cuja
identidade o notário tenha verificado por uma das formas anteriormente indicadas,
consignando-se expressamente qual o meio de identificação usado (art. 48.º, n.º 1
CN)
5. Conservatória dos Registos Centrais, onde se encontra um ficheiro centralizado
de todos os testamentos outorgados em Portugal (arts. 187.º e 188.º CN) e provando
o óbito do testador (art. 207.º, n.º 2 CN).
6. Certidão do assento de óbito do autor da herança; certidão do assento de
nascimento do autor da herança; certidão do assento de nascimento dos irmãos;
certidão de teor do testamento (art. 85.º, n.º 1 CN). Todos estes documentos são
arquivados a instruir a escritura (art. 27.º CN.)
7. l.) Num qualquer cartório notarial de Lisboa, dado que foi o lugar da abertura da
sucessão, ou seja, o último domicílio do falecido (art. 3º RJPI e art. 2031.º CC).
8. Os demais herdeiros podem invocar a exceção de incompetência, no prazo de 20
dias após serem citados nos termos do artigo 28.º RJPI [art. 30.º, n.º 1, al. d) do RJPI].
O Notário deve julgar a exceção de incompetência procedente, dado que a
localização dos imóveis pertencentes à herança é irrelevante, neste caso, para a
determinação da competência, dado que a sucessão não foi aberta fora do país, [cfr.
artigo 3.º, n.º 5, al. a) RJPI], e como tal remeter o processo para o cartório notarial de
Lisboa, que é o competente, nos termos da resposta anterior. Dado que em Lisboa
existem vários cartórios notariais, o Notário deve notificar o requerente do
processo de inventário (o Ernesto) para escolher qual o cartório notarial de Lisboa
onde pretende que o processo seja tramitado. Aqui várias soluções seriam em
abstrato possíveis, desde essa escolha ser efetuada pelo cabeça de casal (neste caso,
o Bernardo)
9. Em sede de conferência preparatória é possível que, por maioria de 2/3 dos
titulares do direito à herança e independentemente da proporção de cada quota,
seja deliberado o preenchimento do seu quinhão com o imóvel da Amadora.
Na contabilização dos 2/3 parece ser defensável que os representantes E, F, G e H,
ocupam o lugar de D, seu pai, na herança, dado o mecanismo do direito de
representação funcionar por estirpe, pelo que não têm um voto cada um, mas sim
um voto na globalidade. Assim, só com a anuência de Carlos, conseguiriam obter os
2/3 necessários à composição do seu quinhão pela adjudicação do imóvel da
Amadora.
O facto de Carlos ter sido beneficiado com 1/3 da herança por testamento em nada
muda a resposta, dado que o legislador é claro ao referir que a contabilização de
votos é independente da proporção de cada quota. [art. 48.º, n.º 1 al. a)].

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