You are on page 1of 10

04 Ventilação 19.05.

09 16:18 Page 37

CAPÍTULO
Ventilação Mecânica (Não-Invasiva e Invasiva)
4
Vladimir Ribeiro Pinto Pizzo
Herlon Saraiva Martins

ordem de 430, ou seja, maior que 300. Para graduar a inten-


OBJETIVOS
sidade da incapacidade de oxigenação é que foi criada esta
■ Conhecer os modos ventilatórios. relação, de modo que quanto mais baixa, maior a disfunção.
■ Saber os parâmetros básicos da ventilação invasiva e não-invasiva. Esta escala serve, inclusive, como um dos critérios diagnós-
■ Ter ciência das indicações e contraindicações da ventilação não-
ticos para a síndrome do desconforto respiratório do adul-
invasiva. to (SDRA), na Tabela 1.
■ Fazer os ajustes iniciais do ventilador.
Quantidade de alvéolos disponíveis para troca
Depende da disponibilidade de unidades alveolares re-
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES crutadas e, portanto, passíveis de permitir a hematose.
Guarda boa correlação com pressão (em especial com uma
O sistema respiratório tem como principais funções a medida obtida facilmente que é a pressão de platô do siste-
hematose e consequente oxigenação do sangue arterial e a ma), de modo que quanto maior a pressão do sistema – até
eliminação do gás carbônico produzido nos tecidos, através determinado limite –, maior a chance dos alvéolos estarem
da ventilação alveolar. disponíveis para a hematose.
Os principais determinantes da ventilação (conforme
Fração inspirada de oxigênio (FiO2) a equação do volume-minuto, que é o resultado do produ-
to da frequência respiratória pelo volume corrente) são
A quantidade de oxigênio disponível na mistura de ga-
frequência respiratória e volume corrente (VT) ou tidal
ses a ser oferecida ao indivíduo em insuficiência respirató-
volume.
ria é determinada pela proporção deste gás em relação aos
demais, assim como à pressão atmosférica, de modo que
misturas podem conter de 21 a 100% de oxigênio e a esco- Frequência respiratória
lha vai depender da necessidade de cada indivíduo.
O aumento da frequência respiratória leva à tendência
de aumento do volume-minuto e consequente queda na
Medidas de oxigenação PaCO2, assim como a bradipneia pode associar-se a eleva-
É importante avaliar a capacidade de oxigenação do ção da PaCO2. Estes são fenômenos que podem se manifes-
sistema respiratório do indivíduo em insuficiência respira- tar como mecanismos de compensação ou podem ser pri-
tória e a melhor maneira de fazê-lo é através da mensura- mários, portanto, determinantes da insuficiência respiratória
ção direta da PaO2 através da coleta de uma gasometria ar- do tipo ventilatória.
terial.
É intuitivo, no entanto, que pulmões normais sejam ca-
pazes de garantir uma oxigenação adequada com 21% de
oxigênio na mistura de gases e, devido à reserva funcional,
Tabela 1. Graduação da hipoxemia
é possível que obtenhamos 80 a 100 mmHg de PaO2 com
esta FiO2. Quando se necessita de valores maiores de FiO2 Condição PaO2/FiO2
para garantir a oxigenação tecidual, é um forte indício de 1. Lesão pulmonar aguda (LPA ou ALI) < 300
falência do sistema respiratório que pode ser quantificada 2. SDRA* < 200
através da relação PaO2/FiO2, ou seja, qual a eficiência do
3. SDRA grave < 100
sistema em oxigenar o sangue arterial.
* Associada a infiltrado bilateral à radiografia de tórax e ausência de sinais de
Em situações normais, considerando uma PaO2 de 90 disfunção cardíaca esquerda.
mmHg e uma FiO2 de 21% (0,21), o valor desta relação é da
04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 38

38 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Volume corrente (VT) aparelho “entenda” que ele quer respirar naquele momento.
Normalmente este estímulo se faz através de variações de
É o volume aéreo que “circula” pelos pulmões num ciclo pressão ou fluxo e, segundo o ajuste do operador do apare-
respiratório e compõe juntamente com o volume residual e lho, pode-se determinar o valor limiar para disparo, que é o
volumes de reserva inspiratórios (VRi) e expiratórios (VRe) conceito de sensibilidade do aparelho (normalmente ex-
a capacidade pulmonar total (CPT), conforme a Figura 1. presso em variação de pressão necessária para o disparo,
Para uma mesma frequência respiratória, quanto maior o por exemplo, – 1 cmH2O), ou seja, o sensor de pressão da
volume corrente, maior a tendência de queda da PaCO2 e via aérea deve defletir um centímetro abaixo da PEEP para
vice-versa. que o aparelho entenda que o indivíduo quer respirar na-
quele momento. No entanto, o indivíduo só controla o mo-
MODOS VENTILATÓRIOS mento em que quer respirar; é o aparelho que entrega o
“pacote” completo da ventilação.
De acordo com o grau de dependência que o indivíduo Com o advento dos ventiladores microprocessados foi
tem do aparelho de ventilação mecânica faz-se a opção pelo possível desenvolver um modo assistido-controlado espe-
modo ventilatório, que pode ser, numa escala decrescente, cial com características diferenciadas, que permite maior
de suporte ventilatório: sincronia entre o indivíduo e o aparelho, a saber, modo de
ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV),
Controlado (Figura 2) com ciclos mandatórios-controlados em que durante o in-
tervalo entre dois ciclos a válvula inspiratória pode ser aber-
A característica fundamental deste modo ventilatório é ta por vontade do paciente (disparo) e o indivíduo pode
a completa dependência do indivíduo do aparelho. É o apa- respirar espontaneamente (Figura 4).
relho que “controla” todo o ciclo respiratório, inclusive a fre- O grande problema é que pela circuitaria de traqueias a
quência respiratória. É utilizado quando o drive ventilatório resistência do sistema à respiração espontânea é grande, o
do indivíduo está ausente (coma profundo, sedação/parali- que torna esta condição desfavorável. Por este motivo se as-
sação etc.). socia uma pressão de suporte (PSV), de modo que nos ci-
clos não-mandatórios o indivíduo é “assistido” por um gra-
Assistido-controlado (Figura 3) diente de pressão com fluxo livre para facilitar o esforço
ventilatório e “vencer” a resistência imposta pelo espaço-
Modo ventilatório em que o aparelho fornece um su- morto do circuito do ventilador (Figura 5). Estima-se que o
porte ventilatório predeterminado que pode ser comple- valor de pressão de suporte suficiente para “zerar” a resis-
mentado conforme a necessidade do indivíduo. Pressupõe, tência do circuito da maioria dos ventiladores disponíveis
portanto, interação entre o aparelho e o indivíduo, e esta comercialmente é algo por volta de 8 cmH2O.
“conversa” se faz em termos de um conceito de trigger ou
disparo. Este é o estímulo que o indivíduo faz para que o Espontâneos
Nestes modos em que a independência entre o indiví-
Inspiração máxima
duo e o aparelho é maior, a característica é o controle por
VRI
CI
CV

CPT VT
Nível expiratório
de repouso
VRE
+
CRF Expiração máxima

VR VR
Trigger
0
Ventilação assistido-controlada
5 segundos

Figura 1 – Volumes pulmonares. CPT = capacidade pulmonar total, -


CV = capacidade vital, VR = volume residual, CI = capacidade inspiratória,
CRF = capacidade residual funcional,VRI = volume de reserva inspiratório, Figura 3 – Modo assistido-controlado.
VT = volume corrente (tidal),VRE = volume de reserva expiratório.

+
+
0
0
Ventilação mecânica controlada
Ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV)
- -

Figura 2 – Modo controlado. Figura 4 – Modo SIMV.


04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 39

4 ■ VENTILAÇÃO MECÂNICA (NÃO-INVASIVA E INVASIVA) 39

Na Tabela 2 estão citadas algumas das indicações de in-


+ tubação e ventilação mecânica em IRpA.
O suporte ventilatório invasivo é indicado quando o pa-
0 ciente não for capaz de realizar trocas gasosas adequadamen-
te, apesar de suplementação de oxigênio (Algoritmo 1). Não
Ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV) há critérios definidos para indicar intubação e ventilação me-
- com ventilação por pressão de suporte (PSV)
cânica (VM) validados na literatura, provavelmente pela
enorme lista de causas de insuficiência respiratória e varia-
Figura 5 – SIMV + PSV. ções na resposta ao tratamento. Há, entretanto, algumas si-
tuações clínicas em que a intubação e a ventilação mecânica
são a maneira mais segura de garantir a oferta de oxigênio
parte do indivíduo da frequência respiratória total, sendo aos tecidos, como:
oferecido aporte de oxigênio, mas, principalmente, pressu-
rização do sistema respiratório. Dois são os modos ventila- ■ Parada respiratória instalada ou iminente.
tórios classicamente conhecidos: BiPAP e CPAP. ■ Redução do estado de consciência que ameace a proteção
No modo BiPAP (dois níveis de pressão) o operador das vias aéreas.
programa o aparelho para fornecer a pressurização da via ■ Instabilidade hemodinâmica.
aérea em dois níveis, um na expiração (PEEP ou EPAP se
em ventilação não-invasiva) e um na inspiração (pressão de Na maioria das vezes, é necessário avaliar a gasometria
suporte ou IPAP). A sensibilidade e o disparo do aparelho arterial, radiografia de tórax, etiologia da insuficiência res-
podem ser controlados pelo operador, assim como a fração piratória, resposta à suplementação de oxigênio e tratamen-
inspirada de oxigênio (Figura 6). to específico e resposta à ventilação não-invasiva para deci-
Já no modo CPAP (continuous positive airway pressure) dir quanto à indicação de ventilação invasiva.
o indivíduo respira espontaneamente, porém em relação a Quando se opta pela ventilação invasiva, deve-se proce-
uma linha de base que é a pressão supra-atmosférica à qual der a intubação orotraqueal, ficando a intubação nasotra-
se submete a via aérea. Pode ser fornecido por aparelhos de queal e cricotomia reservadas para situações especiais.
ventilação mecânica, assim como por simples geradores ou A ventilação invasiva deve ser feita em modo assistido-
reguladores de fluxo (Figura 7). controlado (volume ou pressão controlada), inicialmente
com FiO2 a 100%, volume corrente entre 6-10 mL/kg, evi-
tando-se elevados picos de pressão. Principalmente, deve-se
VENTILAÇÃO INVASIVA
estar atento para a manutenção da pressão de platô abaixo
Este é o tratamento para os casos mais graves ou refratá- de 35 cmH2O, pois esta é a que melhor reflete a pressão real
rios de IRpA e necessita de ambiente e condutas específicas, já que está sendo atingida nos alvéolos. A frequência respira-
que a instalação da cânula orotraqueal (ou nasotraqueal ou tória deve ser colocada entre 10 e 15 irpm. A PEEP deve ser
cricotiroidostomia ou traqueostomia) é procedimento sujeito ajustada conforme a doença de base, mas pelo menos cerca
a complicações graves. Frequentemente é necessária a sedação de 5 cmH2O devem ser garantidos.
e eventualmente paralisação do paciente para a ultimação da É importante ressaltar que os momentos que sucedem
intubação. a instalação de ventilação com pressão positiva são impor-
tantíssimos pela potencialidade de eventos possíveis, como
hipotensão, pneumotórax, bradicardia, isquemia corona-
riana, parada cardiorrespiratória etc., de modo que esta é
+ uma fase crítica no tratamento destes pacientes, não se po-
IPAP dendo esquecer de proceder aos ajustes e adequações da
EPAP

0
Ventilação com pressão de suporte (PSV) Tabela 2. Indicações de ventilação mecânica invasiva
- Anormalidades da ventilação
Figura 6 – Pressão de suporte.
• Fadiga da musculatura respiratória
• Doença neuromuscular e capacidade vital < 15 mL/kg de peso
• Drive ventilatório diminuído
Anormalidades da oxigenação
+ • Hipoxemia refratária
0 • Trabalho respiratório excessivo
Outras
- Ventilação espontânea com pressão
positiva contínua nas vias aéreas (CPAP)
• PaCO2 > 55 mmHg e pH < 7,25
• Insuficiência respiratória e instabilidade hemodinâmica
Figura 7 – Pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP).
04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 40

40 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Algoritmo 1. Ventilação mecânica

Passo importante: reconhecimento precoce da IRpA

Avaliar fatores de mau prognóstico

Dessaturação

Alteração do sensório

Desconforto respiratório

Iminência de parada respiratória

Instituição do suporte apropriado

Oxigenoterapia VNi

Indicações:
– DPOC descompensada
– Edema agudo de pulmão
– Infecção pulmonar no imunossuprimido

Limitações

Disponibilidade

Contraindicações

Ventilação invasiva

Escolha do modo ventilatório


1- Monitoração/coleta de exames
Ajustes iniciais
2- Oximetria de pulso
3- Sinais vitais continuamente
4- Gasometria arterial
5- Outros exames conforme a causa
Melhor para as seguintes condições:
– Iminência de PCR
– IRpA grave
– Alteração do nível de consciência
– Fadiga respiratória
– Incapacidade de proteger vias aéreas

ventilação, assim como monitorizar pressão arterial, fre- Após estabilização inicial, utilizando-se resultados da
quência cardíaca, oximetria de pulso, coletar gasometria ar- radiografia de tórax, gasometria e resposta inicial, novos
terial, confirmar posicionamento do tubo, obter radiografia ajustes devem ser feitos, objetivando correção da hipoxemia
de tórax e examinar cuidadosamente o paciente. e/ou hipercapnia.
04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 41

4 ■ VENTILAÇÃO MECÂNICA (NÃO-INVASIVA E INVASIVA) 41

Recrutamento alveolar não houve tempo suficiente para que todo o ar que entrou
saísse gera um aumento da pressão intratorácica que não é
Determinadas patologias ou condições clínicas estão perceptível pelo sensor de pressão na entrada da prótese
associadas a uma perda da capacidade funcional de patên- respiratória (a não ser que se lance mão de manobra de
cia alveolar e consequente disponibilidade de unidades al- pausa expiratória) e é o chamado auto-PEEP, PEEP oculto,
veolares para a ventilação. A gama de condições é imensa e PEEP intrínseco ou PEEP indesejado.
vai desde atelectasias por disfunção de musculatura respira- Condições que estão frequentemente associadas ao
tória até transudação proteica e inativação da solução sur- aparecimento do auto-PEEP são a taquipneia, inadequação
factante com grande heterogeneidade regional na síndrome da relação I:E (Ti relativamente alto no modo PCV ou flu-
do desconforto respiratório agudo (SDRA). xo muito lento em modo VCV) e obstrução ao fluxo aéreo
Esta heterogeneidade manifesta-se através de áreas com (asma, DPOC), de modo que deve-se suspeitar de sua pre-
diferentes complacências que são menos “receptivas” ao flu- sença nestas condições e lançar mão de estratégias para mi-
xo aéreo que suas áreas vizinhas de complacência normal nimizar o dano gerado pela sua presença. É possível suspei-
ou melhor. Portanto, a tendência do fluxo aéreo é de dirigir- tar de auto-PEEP se, ao olhar a curva de fluxo do ventilador
se a estas áreas de boa complacência em detrimento das de – se houver um monitor para isto no ventilador que estiver
má complacência, fato que pode gerar hiperdistensão destas sendo utilizado – esta não tiver o eixo no valor 0 ao final da
unidades alveolares boas, com consequente dano provoca- expiração (o que significa que o sistema ainda não tinha
do pela ventilação mecânica. terminado de esvaziar-se; Figura 8). Para medir o valor do
Na tentativa de homogeneizar a distribuição aérea nos auto-PEEP deve-se proceder à manobra de pausa expirató-
pulmões são utilizadas as manobras de recrutamento alveo- ria, que consiste no fechamento da válvula expiratória no fi-
lar, que consistem na elevação da pressão do sistema na ten- nal desta e na impossibilidade de novo ciclo inspiratório
tativa de “abrir” aquelas unidades alveolares e, consequen- enquanto segura-se o botão, de modo que, se o paciente não
temente, tornar as complacências regionais mais próximas. fizer esforço respiratório (pode ser necessária sedação e pa-
Existem várias maneiras de “recrutar” um pulmão doente e ralisação) haverá uma equalização de pressões no sistema e
elas podem gerar algum desconforto para o paciente, de a pressão aferida neste momento pode ser diferente da
modo que em boa parte das vezes a tolerância às manobras PEEP, portanto, devida ao auto-PEEP.
pode ser ruim e pode haver necessidade de se lançar mão de Para “tratar” o auto-PEEP pode ser necessário o ajuste
sedação e, eventualmente, até paralisação dos pacientes. do ventilador através do aumento do valor do fluxo na
Como estratégias ventilatórias de recrutamento pode- ventilação com volume controlado ou diminuição do tem-
se usar: po inspiratório nos modos de pressão controlada. O trata-
mento da obstrução é premente nos casos em que é esta a
■ Inversão da relação I:E, de modo que o pulmão fica por causa e a compensação da taquipneia diminui o risco de
um período maior em pressão mais alta (pressão de pico) manifestação deste quadro.
do que na fase expiratória (PEEP). Em determinadas situações há auto-PEEP sem que ele
■ Recrutamento por tempo: estabelece-se uma PEEP “ele- seja tratável ou deletério (DPOC grave, por exemplo), mas
vada” e deixa-se o indivíduo ventilando por períodos lon- seu reconhecimento é importante ao se programar a sensibi-
gos (minutos a horas). lidade de disparo do aparelho, já que a presença do auto-
■ Recrutamento por escalonamento de pressão: submete-se PEEP interfere com a sincronia do aparelho, pois, ao se esta-
o indivíduo a PEEPs elevadas e crescentes por intervalos belecer o valor limiar de sensibilidade de disparo do aparelho,
de tempo curto (1 a 2 minutos). o ventilador usa o valor da PEEP como linha de base e no caso
da existência de auto-PEEP este vai fazer com que o indivíduo
Na prática, PEEPs acima de 8-10 cmH2O são considera- tenha que fazer um esforço maior que o programado.
das elevadas, mas em determinadas situações o uso de valo-
res maiores podem ser justificados. Na SDRA, 16 cmH2O é
uma boa estimativa de PEEP para ventilar alguém com hi-
poxemia grave, e em manobras de recrutamento escalona- Fluxo
do pode-se iniciar com PEEPs de 20 cmH2O e chegar a va-
lores de até 45 cmH2O com segurança.

Auto-PEEP
Indivíduos que tenham dificuldade no esvaziamento
aéreo durante o ciclo respiratório (fase expiratória) podem
ser submetidos a um acúmulo de volume aéreo represado
nos pulmões (elevação do volume residual) de maneira au-
tomática e oculta que pode trazer consequências graves ao
paciente, desde desconforto respiratório e dessincronização
com o aparelho até barotrauma. Este incremento de volume
a cada ciclo respiratório em que, durante a fase expiratória, Figura 8 – Auto-PEEP (seta).
04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 42

42 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

VENTILAÇÃO NÃO-INVASIVA (VNi) O principal determinante do sucesso da VNi na insufi-


ciência respiratória aguda é a escolha criteriosa dos pacien-
É a estratégia de suporte ventilatório que permite ofere- tes que são elegíveis para o emprego dessa técnica de supor-
cer altos fluxos de oxigênio com FiO2 variáveis e ajustáveis, te ventilatório.
assim como pressão positiva às vias aéreas através de dispo- Adotamos os critérios de seleção definidos pela Ameri-
sitivos específicos (máscara facial, nasal, full-face e helmet). can Respiratory Care Foundation Consensus Conference: no-
Traz benefício em diversas situações bem estabelecidas ninvasive positive pressure ventilation:
(Tabela 3) e pode prevenir intubações orotraqueais. As
grandes considerações a serem feitas são a eventual não- ■ Sintomas e sinais de desconforto respiratório agudo.
adaptação da prótese à face do paciente ou a intolerância à ■ Dispneia moderada ou grave, acima do padrão usual em
fixação da mesma. Não se deve usar VNi em pacientes com pacientes com insuficiência respiratória crônica e fre-
iminência de parada respiratória, rebaixamento do nível de quência respiratória acima de 24 rpm (maior que 30 a 35
consciência (que não por retenção de CO2), grande volume rpm, nos casos de insuficiência respiratória aguda hipo-
de secreção traqueal, instabilidade hemodinâmica ou ne- xêmica), uso de músculos acessórios da ventilação, respi-
cessidade de grandes pressurizações. ração paradoxal (assincronia tóraco-abdominal).
Estas são as indicações já bem definidas, mas existem ■ Anormalidades das trocas gasosas.
outras situações em que a VNi pode ser útil, podendo ser ■ PaCO2 > 45 mmHg, pH < 7,35 ou PaO2/FIO2 < 200 (nos
feita tentativa, como nas crises de asma ou IRpA em cuida- casos de insuficiência respiratória aguda hipoxêmica).
dos paliativos, por exemplo.
É importante ressaltar que não se deve retardar uma in- O uso da VNi está bastante consagrado em três situa-
tubação orotraqueal indicada. ções clínicas: DPOC descompensado, principalmente
Os mesmos objetivos da ventilação mecânica invasiva quando há hipercapnia, edema agudo de pulmão e em pa-
podem ser alcançados, em pacientes selecionados, com o cientes imunossuprimidos com infiltrado pulmonar.
uso da ventilação mecânica não-invasiva com pressão posi- Seu uso em outras situações, como asma descompensa-
tiva (VNi), sem o desconforto e os riscos inerentes à intu- da e insuficiência respiratória hipoxêmica, em especial em
bação endotraqueal e à utilização da ventilação mecânica pneumonias e lesão pulmonar aguda, tem resultados confli-
convencional. Apesar de altamente efetiva na manutenção tantes na literatura e, portanto, não deve ser indicado como
da ventilação alveolar, a ventilação mecânica invasiva acom- rotina, mas sim avaliado caso a caso. Há pelo menos duas
panha-se de riscos de complicações bem estabelecidos. O metanálises recentes apontando para claros benefícios da
conhecimento de que certos pacientes se beneficiam de VNi em pacientes selecionados, sendo o benefício em redu-
ventilação mecânica com pressão positiva aplicada através ção de mortalidade conclusivo apenas para pacientes com
de uma máscara tem modificado substancialmente a forma DPOC (Tabela 4). Uma metanálise mais recente separou os
de tratamento inicial de muitas síndromes de insuficiência efeitos de mortalidade, redução de intubação e tempo de in-
respiratória. ternação em 3 grupos: total de pacientes (a maioria DPOC),
Com o uso adequado da VNi, em situações de insufi- pacientes de estudos que incluíram apenas DPOC, e pacien-
ciência respiratória aguda, é possível alcançar os seguintes tes de estudos que incluíram DPOC e não-DPOC. Como
objetivos terapêuticos: podemos ver na Tabela 4, o efeito benéfico é resultante do
grande número de pacientes com DPOC estudados, e não há
■ Alívio dos sintomas. redução de mortalidade para o grupo misto.
■ Redução do trabalho respiratório. Tem recebido especial atenção o uso de VNi no pronto-
■ Melhora ou estabilização das trocas gasosas. socorro, uma vez que o atendimento inicial pode ser decisivo
■ Maior conforto para o paciente. na evolução desses pacientes, e mesmo que haja disponibili-
■ Adequada sincronia paciente-ventilador mecânico. dade de UTI, os pacientes geralmente passam as primeiras
■ Minimização dos riscos do suporte ventilatório conven- horas de seu atendimento nas unidades de emergência. A
cional. aplicação da VNi no ambiente do pronto-socorro permite es-
■ Eliminação da necessidade de intubação endotraqueal. tabilização muito mais rápida dos pacientes e pode reduzir a
taxa de intubação e mortalidade em alguns casos.
Consequentes a esses objetivos iniciais, pode-se obter Uma vez indicada a VNi, e na ausência de contraindica-
redução do tempo de permanência na UTI e no hospital (e ções (Tabela 5), em especial instabilidade hemodinâmica e
de suas associadas complicações, como infecções nosoco-
miais) e redução nas taxas de mortalidade desses pacientes.

Tabela 4. Metanálise de VNi


Tabela 3. Indicações de VNi
Total DPOC Misto
• DPOC descompensada Redução de IOT 19% 18% 20%
• Edema agudo de pulmão Redução de mortalidade 8% 13% 0%
• IRpA em imunodeprimidos Redução de dias no hospital –2,74 dias –5,66 dias Não significativa
04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 43

4 ■ VENTILAÇÃO MECÂNICA (NÃO-INVASIVA E INVASIVA) 43

rebaixamento do estado de consciência, deve-se optar pelo adequado (menor possível para uma saturação arterial ade-
tipo de suporte não-invasivo e seus ajustes. quada). A PEEP deve ser regulada num primeiro momento
As situações em que deve-se evitar a VNi estão descri- em 5 cmH2O no mínimo, devendo ser reavaliada e adequada
tas na Tabela 5. conforme a oxigenação (talvez precise ser aumentada na de-
O CPAP (continuous positive airway pressure) pode ser pendência de cada situação/condição ventilatória).
aplicado com um gerador de fluxo, aparelho específico para Caso se tenha escolhido um modo controlado a volume
CPAP ou com aparelho de ventilação invasiva. É modo in- deve-se estimar um volume corrente inicial de 6 a 10 mL/kg
dicado para edema agudo de pulmão cardiogênico (EAP), (preferir mais próximo do 6 que do 10) e regular o fluxo
pois o princípio fisiopatológico de seu funcionamento nes- conforme o esforço inspiratório do paciente. No caso de
sa condição é a redução do retorno venoso e otimização do optar-se por um modo controlado a pressão, deve-se esco-
trabalho do ventrículo esquerdo, além de corrigir as altera- lher um valor de ∆P que gere um volume corrente adequa-
ções da mecânica respiratória. do (6 a 10 mL/kg), o que, em condições normais de compla-
O BiPAP (bilevel positive airway pressure) pode ser apli- cência pulmonar, deve girar em torno dos 12 a 20 cmH2O.
cado com aparelho próprio de BiPAP ou aparelho de venti- O tempo inspiratório deve ser regulado a fim de manter
lação invasiva. É o modo mais indicado para DPOC des- uma relação i:e pelo menos a princípio fisiológica, ou seja,
compensado, pois a presença de uma pressurização maior para as frequências acima, cerca de 1 a 1,2 segundo.
durante a inspiração reduz o trabalho respiratório e ajuda a A titulação da FiO2 pode ser feita pela oximetria de pul-
aumentar a ventilação e reduzir a PaCO2. Para a insuficiên- so de modo que deve-se ofertar o menor valor possível para
cia respiratória hipoxêmica não há consenso quanto ao manter saturação acima de 92. Esta estimativa é possível
modo mais indicado. tendo-se em vista o comportamento da curva de dissocia-
É essencial a presença do médico no início da aplicação ção da hemoglobina, que mostra que uma PaO2 de 60
da VNi, e a escolha de interface adequada (tipo e tamanho mmHg (em condições metabólicas normais suficientes
da máscara), assim como seu ajuste à face do paciente, po- para adequada perfusão tissular) está associada a saturação
dem ter influência decisiva no sucesso da VNi. arterial de oxigênio por volta de 90% – em condições nor-
mais de pH, temperatura e 2,3 difosfoglicerato. Como o
AJUSTES INICIAIS DO VENTILADOR MECÂNICO comportamento da curva é errático ou dificilmente previsí-
vel abaixo deste limite, não se pode garantir acesso de oxi-
Ventilação invasiva gênio adequado aos tecidos para valores de oximetria de
pulso abaixo de 90% (Figura 9).
Dada a imensa gama de possibilidades, os princípios Dependendo do processo fisiopatológico envolvido na
aqui comentados servem apenas como orientações gerais, insuficiência respiratória, pode ser necessária elevação da
devendo os aspectos específicos ser discutidos individual- pressão do sistema para obtenção de adequada oxigenação
mente. (e consequente “recrutamento” alveolar em casos de atelec-
Procedida a intubação orotraqueal, e checada a ade- tasia, SDRA etc., por exemplo). Esta elevação de pressão é
quação do posicionamento da cânula orotraqueal, o próxi- feita em termos de PEEP; do ponto de vista prático, deve-se
mo passo é ajustar o ventilador e para tanto é necessário elevar seu valor e reavaliar a oximetria constantemente com
avaliar a intensidade do suporte ventilatório requerido. cuidado para que a pressurização da caixa torácica não in-
Caso o paciente esteja absolutamente inconsciente e sem terfira negativamente no sistema cardiovascular. Pressões
tônus ventilatório (por sedação ou rebaixamento do nível
de consciência), deve-se escolher um modo assistido-con-
Curva de dissociação da hemoglobina
trolado a volume ou pressão (conforme seu domínio sobre
cada modo), ajustar uma frequência respiratória mínima 100
(em linhas gerais para que a frequência total fique em torno 90
dos 12 a 20 ciclos por minuto). Deve-se oferecer oxigênio em
80
quantidades generosas até que se consiga titular o valor mais
70
% de saturação

60
Tabela 5. Principais contraindicações para ventilação não-invasiva
50
• Parada respiratória franca ou iminente. 40
• Instabilidade hemodinâmica (choque, arritmias graves, síndrome
30
isquêmica aguda não-controlada).
• Rebaixamento do estado de consciência. 20 Efeito do pH

• Não aceitação/não colaboração com a VNi. 10


• Trauma, queimadura ou cirurgia facial. 0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
• Inabilidade de proteção à via aérea (mecanismos de tosse ou
pO2 mmHg
deglutição comprometidos).
pH 7,4 pH 7,1 pH 6,8
• Vômitos e excesso de secreções em vias aéreas.
Figura 9 – Curva de dissociação da hemoglobina.
04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 44

44 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

de platô de até 35 cmH2O não estão associadas a elevação vadora de vidas e não deve ser adiada quando indicada.
da incidência de barotrauma e há dados que sugerem que Não se pode esquecer de que o paciente com asma tem ex-
pressões mais altas podem ser seguras, ao menos para ma- celente prognóstico e a intubação é temporária. Já uma pa-
nobras de recrutamento alveolar. rada cardiorrespiratória é muito mais grave e não podemos
deixar que ela aconteça.
Ventilação não-invasiva Para a IOT, vários agentes podem ser utilizados e a me-
dicação de escolha é a quetamina, pelo seu efeito broncodi-
Habitualmente, utilizam-se os seguintes ajustes ini- latador. Alternativas são o propofol e midazolam.
ciais: Após a intubação, o paciente pode ficar muito descon-
fortável e dificultar a ventilação. Nesses casos, além de seda-
■ EAP: CPAP próximo de 10 cmH2O, que deve ser menor ção adequada, pode ser necessário o bloqueio neuromuscu-
inicialmente para adaptação do paciente à máscara e lar, na maioria das vezes, com algumas doses em bolus.
progressivamente elevado observando-se conforto, redu- Quanto aos parâmetros do respirador, recomenda-se
ção da frequência respiratória e obtenção de volume cor- usar o modo ventilação controlada, com baixo volume cor-
rente de 7-10 mL/kg. rente, baixa frequência respiratória (6 a 12/minuto), curto
■ DPOC: pressão expiratória (EPAP) de 4-6 cmH2O e pres- tempo inspiratório e PEEP próximo ao do auto-PEEP
são inspiratória (IPAP) que resulte em volume corrente en- (80%). Mesmo que ocorra acidose respiratória, geralmente
tre 7-10 mL/kg, o que é geralmente obtido com valores en- isso não é problema.
tre 10 e 15 cmH2O. É mais confortável para o paciente que Quanto à ventilação não-invasiva, ainda há necessida-
inicie com níveis menores (por exemplo, 8-10 cmH2O), de- de de estudos prospectivos para validar seu uso.
vendo ser aumentada ou diminuída para obter conforto e
frequência respiratória menor do que 25 rpm. DPOC
■ Insuficiência respiratória hipoxêmica: CPAP de 8-10
cmH2O ou EPAP 8-10 cmH2O + IPAP que resulte em vo- A ventilação não-invasiva constitui-se na modalidade
lume corrente entre 7-10 mL/kg, devendo ser aumentada terapêutica de maior impacto no tratamento da DPOC
ou diminuída para obter conforto e frequência respirató- grave no pronto-socorro nos últimos anos, e deve ser indi-
ria menor do que 25 rpm. cada precocemente em pacientes graves.
As principais indicações são descritas na Tabela 6. Os
São necessários monitorização contínua, reajustes ba- principais benefícios são:
seados na resposta clínica e presença de profissional treina-
do durante a aplicação da VNi. Após 30 minutos deve-se co- ■ Redução de 48% a 59% na mortalidade: número
lher nova gasometria, avaliar queda de frequência cardíaca necessário para tratar (NNT) = 8.
e respiratória e conforto. Caso não haja resposta adequada, ■ Redução de 58% a 59% na necessidade de intubação oro-
considerar intubação e ventilação invasiva. A VNi não deve traqueal: NNT = 5.
retardar a intubação em pacientes que não respondem bem ■ Redução do número de dias de internação hospitalar:
nas primeiras horas. Há pelo menos um ensaio randomiza- – 3,24 dias.
do de uso de VNi no pronto-atendimento em que a VNi não
evitou intubações e sua manutenção, apesar de ausência de Ventilação invasiva
melhora nas primeiras 3 horas, tendeu a aumentar a morta-
lidade. Há críticas metodológicas a este estudo, mas seu Da mesma maneira da crise aguda de asma, a in-
dado mais importante foi mostrar que o retardo na intuba- tubação orotraqueal deve ser feita nos casos graves, na
ção na ausência de resposta inicial à VNi pode ser deletério. maioria das vezes, baseada em parâmetros clínicos (Tabela
7). Caso decidido pela intubação, esse procedimento deve
VENTILAÇÃO EM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS ser realizado de maneira rápida, pois a condição clínica do
paciente pode se deteriorar rapidamente.
Asma Após a intubação, o paciente pode ficar muito descon-
fortável e dificultar a ventilação. Nesses casos, além de se-
Pacientes que chegam com crise aguda de asma no ser- dação adequada, pode ser necessário o bloqueio neuro-
viço de emergência, apresentando alteração do nível de muscular (em geral, algumas doses em bolus endovenoso).
consciência, bradicardia ou iminência de parada cardior-
respiratória devem ser submetidos a intubação orotra-
queal. Da mesma forma, durante a evolução no pronto-so- Tabela 6. Indicações de ventilação não-invasiva durante a
corro, pode ser necessária a intubação, e esta deverá ser exacerbação da DPOC
baseada em parâmetros clínicos e, especialmente, antes que
o paciente se encontre em situação crítica com risco de pa- • Insuficiência respiratória (dispneia que não melhora ou piora, mesmo
rada cardiorrespiratória. Caso seja decidido pela intuba- com o tratamento habitual).
ção, esse procedimento deve ser realizado de maneira rápi- • Uso de musculatura acessória e movimento abdominal paradoxal.
da, pois a condição clínica do paciente pode se deteriorar • Acidose e hipercapnia.
rapidamente. A ventilação mecânica é uma intervenção sal-
04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 45

4 ■ VENTILAÇÃO MECÂNICA (NÃO-INVASIVA E INVASIVA) 45

Tabela 7. Considerar intubação orotraqueal na IRpA


digma de open lung approach, ou seja, a homogeneização
do sistema respiratório através da “abertura” e manutenção
• Grave dispneia com uso de musculatura acessória e movimento abdo- da patência alveolar, evitando-se a abertura e fechamento
minal paradoxal. cíclico e consequente lesão pulmonar induzida pela venti-
• Frequência respiratória > 35 ipm. lação mecânica. O volume corrente deve ser baixo (6
• Hipoxemia ameaçadora à vida: PaO2 < 40 mmHg. mL/kg de peso ideal) e pressões de plateau do sistema res-
• Acidose grave (pH < 7,25) e hipercapnia PaCO2 > 55-60 mmHg. piratório, abaixo de 30-35 cmH2O, ainda que para isso seja
• Parada respiratória ou complicações cardiovasculares (instabilidade he-
necessário “tolerar” níveis mais elevados de pCO2, conceito
modinâmica). este conhecido como hipercapnia permissiva. Elevadas
• Confusão e sonolência.
PEEPs podem ser necessárias na tentativa de homogeneiza-
ção e minimização do efeito da abertura e fechamento cí-
• Falência da ventilação não-invasiva.
clico dos alvéolos, deletérios para o sistema respiratório
(Algoritmo 2).

Quanto aos parâmetros do respirador, recomenda-se


usar o modo ventilação controlada, com baixo volume cor- Algoritmo 2. Tratamento da SDRA/LPA
rente, baixa frequência respiratória (6 a 10/minuto), curto
tempo inspiratório e PEEP próximo ao do auto-PEEP Diagnóstico precoce
(80%).

Insuficiência cardíaca descompensada – Condições de risco


– Radiografia de tórax (infiltrado difuso, bilateral)
Nos casos mais graves de IC descompensada, sobretu- – Gasometria arterial (PaO2/FiO2 < 300)
do no edema agudo de pulmão hipertensivo, o paciente – Diagnósticos diferenciais (em especial,
chega na emergência com muita dispneia, ansioso, sudorei- disfunção cardíaca primária)
co, com má-perfusão periférica e cianose. Eles devem ser
imediatamente levados à sala de emergência, com MOV
(monitor, oxigênio, acesso venoso e coleta de exames) e Não-invasiva SDRA/LPA diagnosticada

exame físico dirigido. Além do tratamento habitual (furo-


semida, morfina e nitrato), esses pacientes se beneficiam da
– Casos leves, sem Ventilação mecânica
ventilação não-invasiva, especialmente quando indicada
contraindicações
precocemente.

Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) Invasiva: open lung approach (tratamento “manter alvéolos abertos”)

Definições de lesão pulmonar aguda (LPA) e síndrome


do desconforto respiratório agudo (SDRA):
– Sedação adequada (eventualmente, curarização)
– Monitorização
■ Início abrupto. – Oxímetro de pulso (alvo é saturação acima de 90%)
■ Infiltrado bilateral à radiografia de tórax. – Capnógrafo
■ Ausência de sinais de insuficiência ventricular esquerda – Pressão arterial (idealmente invasiva)
– Balanço hemodinâmico (saturação venosa de
(wedge < 18 mmHg).
oxigênio, lactato etc.)
■ Hipoxemia.
– LPA: PaO2/FiO2 < 300.
– SDRA: PaO2/FiO2 < 200.
Modo ventilatório
Na fase inicial, o emergencista deve ser agressivo na re-
posição volêmica, não devendo tolerar hipotensão. Drogas
vasoativas podem ser necessárias e seu uso deve ser pauta- – Nos pacientes mais hipoxêmicos: assistido/controlado
– Volume corrente: 5 a 6 mL/kg
do nas necessidades hemodinâmicas e na otimização ba- – Pressão de plateau < 30-35 cmH2O
seada nas variáveis metabólicas (SvO2, lactato, excesso de – Se necessário, tolerar hipercapnia
bases etc.) – FiO2 para manter oxigenação adequada (PaO2 >
Em linhas gerais, esses pacientes, pela potencial com- 60 mmHg)
plexidade e frequente concomitância de outras condições – Titulação da PEEP no mínimo 8 cmH2O (na
dependência da gravidade do caso)
clínicas instáveis, necessitam de diversos recursos avançados
que vão desde sedação, eventualmente paralisação, suporte
ventilatório (invasivo ou não) e suporte hemodinâmico.
Existe a tendência atual de que as estratégias de venti- Unidade de terapia intensiva assim que possível
lação mecânica em LPA/SDRA sejam pautadas num para-
04 Ventilação 19.05.09 16:18 Page 46

46 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Hemorragia alveolar REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


A hemorragia alveolar caracteriza-se por lesão de pe- 1. Pizzo VRP, Martins HS, Sproesser ME. Ventilação mecânica (não-invasi-
quenos vasos da circulação pulmonar (arteríola, capilar e va e invasiva). In: Martins HS, Damasceno MCT, Awada SB. Pronto-so-
vênula), que geralmente acomete difusamente o pulmão. corro – diagnóstico e tratamento em emergências. 2. ed. Barueri: Edito-
ra Manole; 2008. p. 168-175.
Na HAD, o capilar se rompe, extravasando o sangue 2. Phillips K, et al. Noninvasive positive pressure ventilation in acute res-
para o interstício e/ou espaço alveolar. piratory failure. In: UptoDate, software 17.1; 2009. www.uptodate.com.
No tratamento agudo no pronto-socorro, são essen- 3. Sue DY, et al. Respiratory failure. In: Bongard FS, et al. Current critical
ciais o suporte respiratório e hemodinâmico. A hipoxemia care. 3. ed. New York: McGraw-Hill; 2008. p. 247-313.
4. Chesnut MS, Prendergast TJ. Acute respiratory failure. In: McPhee SJ,
deve ser imediatamente corrigida com oferta de oxigênio
Papadakis MA. Current medical diagnosis and treatment. 48. ed. Mc-
(por máscara, CPAP ou BiPAP). Nos casos refratários, Graw Hill; 2009. p. 282-6.
deve-se realizar intubação orotraqueal, ajustando a ventila- 5. Murphy MF, Grahan TAD. Mechanical ventilation and noninvasive ven-
ção mecânica com volume corrente baixo (5-6 mL/kg) e tilatory support. In: Rosen’s emergency medicine. 6. ed. Philadelphia:
PEEP alto (de forma similar à SDRA). É importante ressal- Mosby Elsevier; 2006. p. 26-35.
6. Ingenito EP. Mechanical ventilatory support. In: Harrison’s principles of
tar que algumas vezes o sangramento alveolar só cessa com internal medicine. 17. ed. McGraw-Hill; 2008. p.1684-9.
a instituição de altas PEEPs. 7. Wheeler AP, et al. Acute lung injury and the acute respiratory distress
syndrome: a clinical review. Lancet 2007; 369: 1553-64.
8. Chatila WM, Criner GJ. Complications of long-term mechanical venti-
CONCLUSÕES lation. Respir Care Clin N Am 2002; 8: 631-47.
9. Giacomini M, Iapichino G, Cigada M, et al. Short-term noninvasive
■ Ventilação invasiva é o tratamento para os casos mais graves ou pressure support ventilation prevents ICU admittance in patients with
refratários de IRpA. acute cardiogenic pulmonary edema. Chest 2003; 123: 2057-61.
10. Majid A, Hill NS. Noninvasive ventilation for acute respiratory failure.
■ O suporte ventilatório invasivo é indicado quando o paciente não
Current Opinion in Critical Care 2005; 11: 77-81.
for capaz de realizar trocas gasosas adequadamente, apesar de 11. British Thoracic Society standards of care committee. Noninvasive ven-
suplementação de oxigênio. tilation in acute respiratory failure. Thorax 2002; 57: 192-211.
■ Intubação e ventilação mecânica são indicados em caso de: 12. Peter JV, et al. Noninvasive ventilation in acute respiratory failure – a
– Parada respiratória instalada ou iminente. meta-analysis update. Crit Care Med 2002; 30: 555-62.
13. Lightowler JV, et al. Non-invasive positive pressure ventilation to treat
– Redução do estado de consciência que ameace a proteção das respiratory failure resulting from exacerbations of chronic obstructive
vias aéreas. pulmonary disease: Cochrane systematic review and meta-analysis.
– Instabilidade hemodinâmica. BMJ 2003; 326: 185-9.
14. Nava S, et al. Noninvasive ventilation in cardiogenic pulmonary edema:
■ Após estabilização inicial, utilizando-se resultados da radiografia
a multicenter randomized trial. Am J Respir Crit Care Med 2003;
de tórax, gasometria e resposta inicial, novos ajustes devem ser
168(12): 1432-7.
feitos, objetivando correção da hipoxemia e/ou hipercapnia.
15. Hilbert G, et al. Noninvasive ventilation in immunossupressed patients
■ O principal determinante do sucesso da VNi na insuficiência with pulmonary infiltrates, fever and acute respiratory failure. N Engl J
respiratória aguda é a escolha criteriosa dos pacientes que são Med 2001; 334: 481-7.
elegíveis para o emprego dessa técnica de suporte ventilatório. 16. Ferrer M, et al. Noninvasive ventilation in severe hypoxemic respiratory
■ O uso da VNi está bastante consagrado em três situações clínicas: failure: a randomized clinical trial. Am J Respir Crit Care Med 2003;
168: 1438-44.
DPOC descompensado, principalmente quando há hipercapnia;
edema agudo de pulmão e em pacientes imunossuprimidos com
infiltrado pulmonar.

You might also like