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DZIGA VERTOV OIVAUOIDUJOVAA O Navegando pelas ruas de Moscou com “cameras-bussolas”, Dziga tentou, através do cinema, atingir uma profunda compreensdo da realidade soviética e chegar o mais perto da realidade Kazen AkeRWan = ROSANA LOBATO “A historia de minha doenca é a historia de inconvenientes, humilhagées e choques nervosos causados por minha recusa de abandonar o filme poético documental,” Dziga Vertov Kino Glass Vertov cria 0 termo “cine-olho" nos anos 20 para descrever a habilidade de aparatos cinematograficos de e sevelar caract individuais dofendmeno vida em toda & sua natureza, Pragmentos de uma tal qual ela € a percepgao humana, tal qual ela emerge a visdo humana, captadas por um olho nao-humano, € que vai determinar o nascimento da esséncia do cinema. Redescobrir 0 mundo através de uma nova organizagio do visivel, expondo disfarces ¢ eter. nizando © imprevisivel. Tomar pos: sivel uma cine-sensagao do mundo em. seu incessante devir Fotografias tiradas a vinte e quatro. quadros por segundo sao postas em movimento, suscetiveis a inversdes, repetigoes, aceleragdes © conge lamentos, dando luz a um outro tempo. de gem de imagens de arquivo, Vertov apresenta sua "teoria dos inte presente de forma explicita em O A partir da busca pelo cinema-ver e de ensaios e tentativas de mon Homem com a Camera de Filmar, ECLETiCA 29 - JAN/JUN 1998 © Homem com a Camera de Filmar Com este filme Vertoy apresenta explicitamente 0 momento de ruptura Orgao de o, submetide a uma entre © olho humano :pedo limita relativa imobilidade - © © olho me canico da camera, que age nas coisas. A presenca rompante do operador de camera - com seu olho que entra e sai corta © congela - imagens, ¢ 0 enlagamento de na captura de penetra no dmago do conhecimento e do comportamento humanos. De outra vez, a apresentagao do trabalho da ‘montadora,a escolha de um fotograma, seguido desua seqiiéncia, que por sua vez. vai encadear um outro forograma © uma nova sequeéncia, Concomitante a Vida que esta acontecendo em cada quadro, salta aos olhos © proceso inteiro de um filme. Esta obra mostra o retrato de um dia na vida de uma cidade emoldurada por um experien © processo e 0 desenrolar da feitura do filme, mesclando-se o que foi cap- into cinematogsiifico; turado © como foi a captura, 0 mo- mento de montagem ¢ a montagem em si “ Eu sou o cine-olho. Eu sou 0 olho mecanico. Eu, maquina, vos mostro ‘© mundo do modo com 86 eu posse vé-lo, Assim eu me liberto para sempre da imobilidade humana. Eu pertengo ao movimento ininterrupto.” Dziga Vertov A temitica, ou 0 "cenatio", é 0 mecinico funcionamento de uma cidade, Toma-se 0 todo, a grande ma- quina, 0 geral da cidade, - em total comunhio € ritmo com a misica - como um grande épico; s: ta-se para ‘05 pequenos focos, micro-engrenagens de vidas peculiares, detalhes de momentos, movimentos e velocidades, Homens e pai ssim como miquinas € edificios, esto presentes nna natureza como sistemas materiais gens, em perpétua interago, o sistema em si da variagao universal. Movimento Perpétuo em Torno de um Eixo Peregrinagdes pela medicina, poesia, © miisica transformam em corrente elétrica a energia produzida por esta agitacao varidvel e variante. Apos passar por uma Faculdade de Medicina © por um Conservat6rio Musical, Vertov ctia © Laboratério do Ouvido, traba- Ihando montagens sonoras que utilizados na encenagao de seus poemas, Sob forte influ cia do da- daismo inicia suas experigneias com colagens de fragmentos de forografias: a fotomontagem. }i totalmente imerso na mdsica, fotografia e pintura, prepara attela sobre a qual vao ser pintadas suas experiéncias cinematogeaficas, entre elas, O Aniversario da Revolugao, Starosia de Todas as Rissias, O Comboio do Comité Central, Otho In ve Sinfonia de movimentos A montagem de Vertov é andloga a um compasso musical. O corte dando chicotadas na imagem obedece a um ritmo € o ultrapassa. O cineasta garimpando © tiinel temporal rompe com 0 limite da percepcao humana, fazendo aflorar um conjunto de signos entre 08 cortes, 0 intervalo. A relagao exteriors imagens, a s de agdes produzindo variagoes ¢ interagées. O estado de passagem de uma ordem que se desfaz auma ordem que se constréi, E entre estes dois movimentos, o intervalo, o olhar fun- damental, a percepgao. A perspectiva temporal apreendendo 0 todo es- piritual. O olho na matéria, que nao se multaneidade submetendlo ao tempo vence o tempo, que acessa a0 negative de tempo ~éa teotia de Gilles Deleuze, em Imagem Movimento, Experimento de eventos visuais, filme sem intertitulo, sem cendrio, sem teatro (atores, sets). Trabalho experimental objetivando a criacéo de linguagem internacional absolutamente verdadeira do cinema baseado na sua total separacao da linguagem do teatro e da literatura Vertov trata 0 fotogeama sob um ponto de vista totalmente inovador para sua época. O forograma como um elemento genético da imagem, difexenciando de forma substancial 0 movimento. Se © cinema ultrapassa a percepcio humana na diregao de uma outra, € no sentido em que ele atinge oclemento genético de toda percepeio possivel, ou seja, 0 ponto que modifica ¢€ faz modificar. Vertov efetua portanto 60s tiés aspectos insepariveis de uma mesma ultrapassagem: da cdmera a montagem, domovimento ao intervalo, dla imagem ao fotograma % No dic 2 de janeiro de 1896 nasceu Denis Arkadievitch Koufmon em Byalysto, na Polénia. Osacontecimentos da Primeire Guerra Mundi! levaram « famfia Kaufman a obandonar a Polénio, em 1915, para se fuorem em Moscou, onde diversos movimentos intelectuais insligavam uma intenso ‘ogita¢do cultural, Denis Kaulman adotou oficialmente o nome de Dz'ga Vertov = Dzigo umo palovra de origem ucraniana que significa movimento perpétuo € Vertoy significa girar. Apés 0 revolucdo de outubro, em 1918, Vertow comesa « deservolver sua obre cinematogrética concentrando sev interesse em filmes politicos que disseminavam uma agitagdo revolucionéria. Pora ele o cinema ere ume orma forte capar de reconsiruir © mundo. Em 1922 Vertov fundo 0 Conselho dos Trés, a principal acdo deste grupo consistia numa recuse vyeemente ao cinema comercial. Também néo era concebivel flmor qualquer ‘espécie de representagéo, mas apenas o mundo tal como ele &. Apesor da importéncie irrefutével de sua obra, Dzige Vertov sempre foi muito citicado ppor seus contemporéneos, 0 que lhe causova um senfimento de grande frustracéo. Em 12 de fevereiro de 1954 morre Verto, vitimada por um cancro, FcLeTica 30 - JAN/JUN 1998

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