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Os Maias de Eça de Queirós

Diletantismo:
adjectivo de dois géneros e substantivo de dois géneros
adjetivo de dois géneros e substantivo de dois géneros
1. Amador de uma arte ou de literatura.
2. Que ou quem é entendedor ou apaixonado de uma arte ou a ela se dedica por gosto,
especialmente à música.
3. Que ou quem se dedica a algo por prazer e não como modo de ganhar a vida.
4. Que ou quem procura o prazer ou tem uma atitude superficial, sem mostrar maturidade,
profundidade ou responsabilidade.

"diletante", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,


https://www.priberam.pt/dlpo/diletante [consultado em 12-05-2017].

Citação de João Medina in Eça de Queirós e a Geração de 70, Moraes Editores:


O fracasso de Carlos merece que nos detenhamos um instante nele. A ironia
implícita na incapacidade de Carlos ressalta melhor se pensarmos nas palavras do
avô ao explicar por que razão o neto escolhera essa carreira: “Num país em que a
ocupação geral é estar doente, o maior serviço patriótico é incontestavelmente
saber curar.” Pois nem isso Carlos chega a fazer; abandona o laboratório, desiste
do consultório e nunca chega a escrever o anunciado livro sobre medicina,
limitando-se a preparar uns artiguitos para a Gazeta Médica, vítima daquilo que
Eça chama “a fatal dispersão da curiosidade”, o diletantismo, a moleza dum
coração que não sabe “conservar um sentimento”.

Figuras essenciais na representação de uma vida diletante:


 Carlos da Maia
 João da Ega

Ibidem:
Assim, a vocação de Carlos para a Medicina não é explicada pelo narrador em
função de uma qualquer causa hereditária ou ambiencial; ela percebe-se quando
nos é revelada a brusca atracção de Carlos pelas estampas anatómicas
descobertas no sótão (p. 87). Da mesma maneira, as características boémias da
Coimbra em que Carlos estuda depreendem-se a partir da actividade nela
desenvolvida pela personagem (pp. 89 ss.). O bom gosto e atracção pelos
ambientes sofisticadamente elegantes e requintados ressalta das acções
desenvolvidas para decorar o Ramalhete […] É igualmente por meio do seu
comportamento dispersivo (as armas, os cavalos, o bricabraque, a literatura, etc.)
que subtilmente é sugerido o diletantismo que conduzirá Carlos à frustração das
suas potencialidades (pp. 128-129). Mas será sobretudo nos seus contactos
sociais que Carlos definirá […] a sua condição de personagem apesar de tudo
superior ao contexto sociocultural em que se insere.

Citação, ibidem, a propósito do Espaço Físico:


[os espaços físicos privilegiados] são sobretudo Coimbra e Lisboa (cabendo, como
se verá as alusões a Santa Olávia especialmente às relações entre o ponto de vista
de Vilaça e esse espaço particular). Mas mesmo Coimbra e Lisboa não se limitam
a ser espaços físicos estáticos: mais do que isso, as duas cidades inspiram
especialmente referências de tipo cultural, político, económico, etc.; ou seja, tudo
aquilo que cabe dentro do espaço social.
Em Coimbra (pp. 88-95), para além da boémia e dos primeiros assomos do
diletantismo, a existência de Carlos da Maia surge marcada ainda pelo
Romantismo. Com efeito, apesar de escarnecer os «idílicos futricas» de Ega,
também Carlos «terminou por se enredar num episódio romântico com a mulher
dum empregado do Governo Civil» (p. 93):
Trocaram-se cartas; e ele viveu semanas banhado na poesia
áspera e tumultuosa do primeiro amor adúltero. Infelizmente a
rapariga tinha o nome bárbaro de Hermengarda; e os amigos de
Carlos, descoberto o segredo, chamavam-lhe já «Eurico, o
presbítero», dirigiam para Celas missivas pelo correio com este
nome odioso (p.93).

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