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INTRODUGAO OBJETO DA PESQUISA Soctologia religiosa e teoria do conbecimento mitiva e anilise Th re a ii veg ‘economia desse de um etndgrafo. les as formas extintas da conhecé-las € recon: tem por objeto, acima de tudo, y atual, proxima de nds, capaz portanto de afetar nossas a An ( As roussBesaneo4 vn COs neo rss @) fundada na natureza das coisas, ‘coisas resistencias insuperdveis. wando abordamos 0 estudo das religides primiti- idéias ¢ nossos atos: essa realidade € o homem e, mais especialmente, © homem de hoje, pois nao ha outro que estejamos mais interessados em'conhecer bem. Assim, ao cstudaremos a religido arcaica que iremos abordar, pelo simples prazer de contar suas extravagincias e sin” urar, Se nao est Bularidades. Se a tomamos como objeto de nossa pesqui mento ao longo das analises e das discu 1 € que nos pareceu mais apta que outra qualquer para que censuraremos nas escolas das quais nos separamos € fazer entender a natureza religiosa do homem, isto &. pa- precisamente have-lo desconheeido, Certamente, quando { ] ros revelar um aspecto esseneial e permanente ds hes ier Gpuseit a (era dan Orvlas, esses rentanle manidade. religiosas parecem, as vezes, desconcertantes, € Mas essa proposiclo nao deixa de provocar fortes podemos scr tentados a atrbui las a uma espécie de aber objegdes jera-se estranho que, para chegar a co- facto intrinseca, Mas, debaixo do simbolo, € preciso sa- idade presente, seja preciso come, be ele figura e the Gi sua signiti- wansportar-se aos comegos da hist 2 verdade, Parece, pois, que nio se iparar as formas mais elevadas do pensament nivel das segundas(Adm) sto verdadeiras a seu modo-xlas corresponder, ainda ine sos See ai She de munca creer scones ie de xe ctistianismo, por exemplo, nao é supor que este procede cia humana, Certamente 0&0 € impossivel dispé-las se- | da mesma mentalidade, ou seja, que é feito das mesmas a mes ‘undo uma/ordem hierdquic). Umas podem ser supe: |, superstigdes e repousa sobre os mesmos erros? Fis res a outras, no sentido de empregarem fungdes ment mais elevadas, de serem mais ricas em idéias e em sen iivas pode passar por indice de uma i sidade sistematica que, ao prejulgar os resultados da pes- quisa, os viciava de antemao, Nao cabe examinar aqui se houve realmente estudio- sos que mereceram essa critica e que fizeram da historia e a etnografia religiosa uma cial da sociologia que uma insttuigZo humana nao pode Fepousar sobre erro € a mentira, caso contririo milo po- _geral; pois essas religides nao si menos respeitivels que a a vida religiosa ¢, conseqilentemente, para re- Solver o problema gue desclamon tata, ‘Mas por que conceder-thes uma espécie de prerroga- tiva? Por que escolhé-las de preferéncia a todas as demais ‘como objeto de nosso estudo? Isso se deve unicamente a razbes de método, Em primeito lugar, no podemos chegat ac der a5 religides mais recentes @ n: explicativa que € pos decomp ‘Vos, uma vez que nos mostra esses elementos nascei no tempo uns apés o8 outros, Por oul da um deles no conjunto de circus do tempo ~ quer se trate de uma ‘uma regra moral, de um preceito jusi- de uma técnica estética ou de icou, de que maneira tomou-se 0 {que é no momento considerado, Ora, concebe-se sem difi culdade a importincia, para essa série de explicacoes pro- _ gressivas, da determinagao do ponto de partiéa do qual dependem. Bra um lum papel preponderante. Claro que nao se trata de “na base da ciéncia das religides uma nocdo elabo- | puro possivel, constru or ua aden or O71 os @ nada A maneira cartesiana, isto €, um conceito logico, um ‘peas forcas do espirito. © que da a série de proposicdes que a ciéncia estabelece. A evo- Iugao biologica foi concebida de forma completamente do tem um aspecto k OBIETO Da Pesquisa XxI diferente do que sto, de representi-las como se transcor- ressem numa ordem distinta daquela na qual se proc (oes de" um outro zam a serem apenas puras aparéncias, ilusdes que, na pi tica, podem ser cémodas, mas que a nada correspondem nas coisas; conseqtientemente, € recusar toda realidade objetiva a vida légica que as categorias tém por funcao re- ‘© empirismo dassico contiuz. a0 inracio- apesar do sentido ordinariamente as- ‘Sio mais respeitosos com os Fa m como verdade evidente que as, 35 mesmos elementos que nossas| ‘veis, cles no sio obrigados a empo- tos. Ja que nao) categorias sao fei delas. Os aprioristas sfo racionalistas; crem que o mun- mente. Mas, para isso, precisam atribuir ao espirito um. ora, dese poder justificagao. Pois, cespeticulo das coisas nao poderia nos revelar. Dizer que 4 propria experiéncia s6 é possivel com essa condigao, & talvez destocar o problema, ndo é resolvé-lo. Pois se trata precisamente de saber por que a experiencia nao se bas- 4 2 fea azo exprime eminente-poscoks it AS PORMAS RLEMENTARES DAVIDA RELICIOSA ta, mas supde condlgdes que Ihe sio exteriores ¢ anterio- res, € de que maneira essas condigdes sao realizadas quando € como convém. Para responder a essas questoes, Dees imaginou-se as vezes, por cima das razdes individuais, una razo superior e perfeta da qual as primeiras emana’ > iam © na qua consérvariam, por uma espécie de partici pacio mistica, sua maravilhosa faculdade: é a razao divi- © grave inconve- le experimental; nao condigdes requeridas de uma hipotese ica. Além disso, as categorias do pensamento huma- is sdo fixadas de uma forma definida; elas se fa- zem, se desfazem, se refazem permanentemente; mudam conforme os lugares ¢ as épocas. A razio divina, a0 con- De que modo essa imutabilidade pode- incessante variabilidade? Tais sto as duas concepedes que ha séculos se cho- ‘cam uma contra a outra; e, se o debate se eterniza, € que nna verdade 05 argumentos trocados se equivalem sensi- eee Se a razio € apenas uma forma da experiéncia § | individual, nao existe mais razdo, Por outro Indo, hecemos os poderes que ela se atribui, mas sem jt ci-los, parece que a colocamos fora da natureza c da cia, Em presenca dessas objeeées opostas, 0 espirito per rmanece incerto. Mas, se admitiemos a origem soc categorias, uma nova atitude torna-se possiv Ww que permitiria, acreditamos nos, escapar 8 cssas des contiias. Taner Proposieo funders do apioimo € que o co jo. De fato, 05 conhecimentos que cha- >| mamos empiticos, 08 tinicos que os teéricos do empiris- mo utilizaram para construir a ra7o, s80 aqueles que a ago diteta dos objetos suscita em nossos espiritos, Sao, portanto, estados individuais, que se explicam inteirumen OBE10 Da PesqUSA xm tel” pela natureza psiquica do individuo. Ao contuatio, se as categorias s20, como pensamos, represenlagdes essen- clalmente coletivas, elas traduzem antes de tudo estados luo, 0 todo da parte, 0 inde € uma realidade sut ‘generis, tem suas caracteristicas proprias que nao se en- ‘nao se encontram da mesma forma, no 80. AS representagdes que a exprimem certos de antemdo de que as primeiras acrescentam algo ais segundas, ‘A maneira como aribas se formam acaba por diferen- , combinou suas idéias € seus séries de geragées nelas acumularam riéncia e seu saber. Uma intelectualidace muito infinitamente mais rica € mais complexa que a iuo, encontra-se portanto como que concentrada ai, Compreende-se, assim, de que maneira a razio tem 0 poder de ultrapassar 0 alcance dos conhecimentos empiri- ‘cos. Nao deve isso a uma virtude misteriasa qualquer, mas indo uma formula co- co homem € duplo. Ha dois seres nele: um ser in- «que tem sua base no organismo e cujo circulo de dade, na ordem intelectual e moral, que podemos con cet pela observagio, quero dizer, # sociedade, Essa duali- => oxy ‘AS BORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA dade de nossa natureza tem por conseqiiéncia, na ordem pritica, a irredutibilidade do ideal moral ao mobil utilits- rio, ¢, na ordem do pensamento, a irredutibilidade ‘20 & experiencia individual. Na medida em que participa da sociedade, o individuo naturalmente ultrapassa a si ‘mesmo, seja quando pensa, seja quando age. Esse mesmo cariter social permite compreender de. onde vem a necessidade das categorias, Diz-se de uma idéia que ela ¢ necessaria quando, por uma espécie de virtude interna, impde-se ao espirito sem ser acompanha- da de nenhuma prova. Hi, portanto, nela, algo que obri- {82.2 inteligéncia, que conquista a adeséo, sem exame pre vio, Essa eficacia singular, 0 apriorismo a postula, mas sem se dar conta disso, pois dizer que as categorias sio ecessirias por serem indispensaveis ao funcionamento do pensamento, é simplesmente repetir que so necessi- ras, Mas se elas tém a origem que lhes atribuimos, nao ha nada mais que surpreenda em sua autoridade. Com efei- to, elas exprimem as relagdes mais gerais que cxistem en- tre as coisas; ultrapassando em extensio todas as nossas fominam todo detalhe de nossa vida inte- (0, a cada momento do tempo, os ho- \dessem acerca dessas idéias essenciais, se ndo tivessem uma concepsdo homogénea do tempo, do espago, da causa, do niémero, ete., toda concordlincia ‘se tomaria impossive! entre as inteligéncias e, por conse- guinte, toda vida em comum. Assim, a sociedade nao po- de abandonar as categorias ao livre arbitrio dos paricula- res sem se abandonar ela propria. Para poder viver, ela no necessita apenas de um suficiente conformismo mo- ‘al: h4 um minimo de conformismo légico sem 0 qual ela| também nao pode passar, For essa razao, ela pesa com oda a sua autoridade sobre seus membros a fim de pre- venir as dissidéncias. Se um espirito infringe ostensiva- mente essas normas do pensamento, ela nao o considera ‘ais um espirito humano no sentido pleno da palavra, e trata-o em conformidade. Por isso, quando tentamos, OBIETO Da PesQUIsA xxv ‘mesmo em nosso foro interior, libertar-nos dessas nogdes fandamentais, sentimos que nao somos completamente li vres, que algo resiste a nés, dentro e fora de nds. Fora cle 16s, hd a opiniao que nos julga; mas, além disso, como 2 sociedade € também representada em nés, ela se opde desde dentro de nés a essas veleidades revoluciondrias; temos a impressio de nao podermos nos entregar a elas ‘sem que nosso pensamento deixe de ser um pensamento verdadeiramente humano. Tal parece ser 2 origem da au- toridacle muito especial inerente a razao e que nos faz aceitar com confianga suas sugesties. E x autoridade da sociedade mesma!®, comunicando-se a certas maneiras de pensar que 20 comio as condigdes indispensiveis de toda ago comum. A necessidade com que as categorias se im- podem a nds ndo €, portanto, o efeito de simples habitos de cujo dominio poderiamos nos desvencilhar com um pouco de esforga; nao € também uma necessidade fisica ‘ou metaflsica, jf que as categorias mudam conforme os lugares e as épocas: é uma es i i dade moral que esté para a vida intelectual assim como a ‘obrigagao Mioral esté para a vontade™. ‘Mas, se as categorias nao traduzem originalmente se- niio estados sociais, no se segue dai que elas s6 podem aplicar-se ao resto da natureza a titulo de metiforas? Se clas sio feitas unicamente para exprimir coisas sociais, parece que no poderiam ser estendidas aos outros reinos a nlo ser por convencao, Assim, na me servem para pensar 0 mundo fisico ou deriam ter 0 valor de simbolos attificiai pritica, mas sem relago com a realidade- Portanto retor- nhariamos, por outra via, 20 nominalismo e ao empirisme, ‘Mas interpretar dessa maneira uma teoria sociolégica do conhecimento € esquecer que, s¢ a sociedade € uma realidade especifica, ela no é, porém, um império dentro ‘de um império: ela faz parte da natureza, é sua manifesta- > cao mais elevada, O reino social € um reino natural que XXVI AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA nao difere dos outros, a nao ser por sua maior complexi- dade, Ora, € impossivel que a natureza, no que tem de mais essencial, seja radicalmente diferente de si mesma aqui e ali. As relagoes fundamentais que existem entre as coisas — justamente aquelas que as categorias tém por fungdo exprimir ~ no poderiam, portanto, ser essencial- mente dessemelhantes conforme os reinos, Se, por razoes que teremos de investigar*!, elas sobressaem de forma ‘mais evidente no mundo social, é impossivel que no se encontrem alhures, ainda que sob formas mais encober- tas. A sociedade as forna mais manifestas, mas ela nto tem esse privilégio. is ai como nogdes que foram elabo- tadas com base no modelo das coisas sociais podem aju- dar-nos a pensar coisas de outra natureza. Se essas nocbes, quando assim desviadas de sua significaco primeira, de” sempenham num certo senticlo 0 papel de simbolos, sA0 —> simbolos bem conceitos constr esforca por apro- is#, Portanto, do fato de as idéias de tempo, de espaco, de género, de causa, de personali- dade serem construfdas com elementos sociais, nao se de- Ye concluir que sejam desprovidas de todo valar objetivo. Pelo contririo, sua origem social faz antes supor que te- ‘ham fundamento na natureza das coisas®. Assim renovada, a teoria do conhecimento parece destinada a reunir as vantagens contrarias das duas teorlas rivais, sem seus inconvenientes. Ela conserva todos 08 rincipios essenciais do apriorismo; mas, ao mesmo te oO, inspins-se nesse espirito de positividade que 0 rismo procurava satisfazer. Conserva 0 poder esp. da razo, mas justfica-o, e sem sair do mundo observavel. Afirma como real a duatidade de nossa vida intelectual, mas explica-a, e mediante causas naturais. As categorias deixam de ser consideradas Fatos primeiros € nao analisa- veis; no entanto, permanecem de uma complexidade que aanilises simplistas como aquelas com que se contentava © ‘OnJETO Da PasQUISA xxv ‘empirismo nao poderiam vencer. Pois elas aparecem, en- 180, nao mais como nogGes muito simples que qualquer jum € capaz de extra de suas observagdes pessoais e que a imaginagio popular desastradamente teria complicado, ‘mas, a0 contririo, como habeis instrumentos de pensa- !pos humanos laboriosamente forjaram € nos quais acumularam 0 melhor tual, Toda uma parte da historia da vale dizer que, para chegar a compreendé-las e julga-las, cum- pre recorter a outros procedimentos que nao aqueles uti- lizados até o presente. Para saber de que sao feitas essas concepgdes que nao foram eriadas por nos mesmos, nao poderia ser suficiente interrogar nossa consciéneia: € para fora de nés que devemos olhar, & a historia que devemos observar, é toda uma ciéncia que € preciso instituir, cién- cia complexa, que 86 pode avangar lentamente, por um ,€ para a qual a presente obra triz, a ti tulo de ensaio, algumas contribuigdes fragmentarias. Sem fazer dessas questOes 0 objeto direto de nosso estudo, aproveitaremos toda ocasiio que se oferecer pant captar ‘em seu nascimento pelo menos algumas dessas MOCO, as quais, embora religiosas por suas origens, haveriam de permanecer na base da mentalidade humana

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