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6. A Saida do Cavaleiro No comego do Yauin de Chréeien de Troyes, um romanée ‘cortés da segunda metade de século XM, um dos caveletos da corte do Rei Artur narra uma aventura que the sucedew, Sua nacragao comesa da seguinte maneira 175 Mavint, pres a de set anz (Que je seus come paisanz Aloie querant avantures, ‘Armez de totes armeires Si come chevalies doit ese, 180 Er trovai un chemin a destre Perm un forest espesse. ‘Mout i ot woe flenesse, ‘De ronces et despines plainne; ‘A quelqu’enui, a quelque painne 185. Ting cele voie et cel sanier A Dien pres tot le jor antier san alai chevauchane einsi ‘Tant que de la forest iss x ce fu an Brocelande, 190 De Is forest an une lande 108 195 205 210 as 20 25 230 BS MIMESIS Antal et vi une bretesche ‘A demie live galesche; Si tant i ot, plus n't of pas. Cate pat ving plus que les pas Et vile aille tle fossé Tot anviron parfont et Ie, Et sor le pont an pier estoit Gil cut la fortereste extot, Sor son poing un astor mug. [Ne oi mie bien salue, ‘Quant il me vine a Pestrier prendre, Si me comands a desrandre. Je descandis i i o¢ ‘Que mestier avoie dost; Etil me dis toc maintenant Pus de gant foiz an un tenant, (Que bencoite fast la voie, Bar on leanz vez estoie, ‘A tant an la ort an antrames, Ee pont et la porte passames ‘Anmi le cot au vavassor, Gui Des doin et joie et enor ‘Tant come il fist moi cele aut, Pandoit une table; je cuit Qv'il n'iavoit ne fer ne fst [Ne rien qui de cuvre de fst. Sor cele table d'un martl, Qui panduz iere « um pestel, Feri li vavassos trois cos. il qui amont ierent anclos Oireat Ia voir et le son, ‘STissient fors dela meson Fc vindrent an la cort ava, un seisirent mon cheval, Que li buens vavassors tenoit x je vis que vers moi venoit Une pucel bele et jante. ‘An li esparder mis m'antante: Ble fu longue et grsle et droite De moi desermer fu akoite: ‘Quick le ist ex bien et bel Pais m’afubla un core mantel, Ver d’escarlate peonace, Er tut nos guerpirent la place, Que avuee moi ne avuec Ii Ne remest nus, ce mabe ‘Que plus n° queroie voir Er ele me mena seoit ASAIDA DO CAVALEIRO CORTES 109 Ft plus bel preter del monde 240 Clos de bas mur la reonde, Lae tovai si aleitice, Si bien parlant et aneignice, De tel sanblantet de tel etre, Que mout n't deitoi a este, 245 Ne ja mes por nul estovoir Ne m’an queisse removoir. ‘Mes tant me fst la nuit de guerre Li vavassors, qu'il me vine quere, Quant de soper fu tans et ore, 250. N'i poi plus feire de demore, Si fis les son comandemant. Del soper vos dca briemant, (Quit fa det tot a ma devise, Bes que devant moi fu sssise 255. La pucele quis" assis, ‘Apres soper itant me dist Li vavassors, qu'il ne savoit Le terme, puis que il avoit, Herbergié chevalier errant, 260 Qui avanturealast queraat, S'an avoit il maint herbergié. ‘Apres ce me pria que si Par son ostel m'an revenisse ‘An guerredon, se je poise 265 Erie i dis: “Volaniers, sire!” Que honte fust de I'escondie, Petie por mon oste fesse, Se cest don li escondetsse, ‘Mout fe bien lg nuit osteler, 270 Heme chevaus fa anselez Lues que Ian pot le jor veots Car j'an oi mont proi le sir; Si fa bien feite ma proiiece ‘Mon buen os et sa file chiere 275 Au ssint Esprit comand, ‘A trestoz congié demands, ‘Si m'an ali hues que je pot. Acontece, i prt e sete anos que t,s0zitho como tm camponds, {ut bass de arent, amado com todas a min arm ssi como Uh ‘valoo deve esta; ¢ enoontel um caminho festa en eo at ‘opens flreta O eamicho eta muito rim, chlo de mato ¢ de oplahen ‘sar de todo o desostov de tods 8 pent mantivee nese came & ste snd. Durante quase foo 0 di, fuel eavagtndo sem, até ot Sof forest, isto = dea em Brocelande. De Move enter aura chances visuma toe, a mela goa gules de distncin, quando mute. Cveiged epressa ass dirpdo ewe Yodo seu vedoc ima algads um fs o> 110 MIMESIS| fundoelrgo;e sobre ponte estava de ps aquels a quem pertencia o caste; Sobre o sea punto, um fleio de caja modado, Nem em o hv sudado, ‘quando ee velo pepo met edo, eme condos deamon Desmontel So podla far outs col, pols stra precnado siteceas; le re die fneditamenta, mals coat vezs do uns ads, que foe sbengoato aminko pelo qual es tnha chegado, Enquante fsa entrance no Pity © ‘assamos pola pote e pelo porta, No meio do pio do cara, a quem, [usu Delt da log baora como le te Gera ners soe, pena ams lsc cro que nada dala era defer a de madeira, masque em fds de Exh, Sob esta paca o cavalo baten tet veres com um martlo e ‘andia do um poste. Os gue exava em iy na cs, 20 ou san Yor © 0 Som, sf da eas edeseram par o pita. Une peacam meu cxtle, qe bom vaio estavaseguando,e eu Vi que Yinka em mina dueqio ms onan bla © amivel. Detveme a obzerGis em alte eels dat, is fot igi em desamarsne, fwondoo com gentlza destzs, Depo fobrioime com win mano caro, ebero Ge pate esate, e todas os eur: enaram’o tga, s6 ey 6 es Scams, © nlngeém maly «iso casow-ne ‘pret, ole mals ringufm en queda vet. E alam levou 20 rae blo pido 4p mundo, fecha por urn muro bana em vl, au a ache a une tp bem fata 'eedueads, de fal temblante ede tl fit, que mito me delicate ue por neni preg qbei eI ra asa chegaa da ‘ole fo contra wos meus desjo;o.cavasro velo me buscar, quando fol tmpo e hora dentro pade mals me demoray, empl ose com ‘Acaca do fanlat. dora byowrmeate que ele £ folimente » mee ontente, pis dante de mim sentouse a donatla, que tome owe Isart mes. Apér 0 jana, diseme o cavalo que a0 pod lembrar desde ‘quancoalbergiracitalovor erates que Gietem 2 busca de aventura; mitos cle jf Invi elbergado. Depots pedinme, como racompenss, que tomas «visto, d minha volta, we pest. Ee he dse:"De bom grado, senhor.” Bos tra so vergonhanepiio; pouco tal feito plo meu hosp: feo, s the ress ogado este com. Duraso 4 noite eve muito bom hespcado, e meu cao estar sla, logo gue se pide mr 0 diss pot isc eu taka pedige tom ursinis;« meu pediso Rava sido cimprdo Deipadiime do meu bom héspete dain care (ita encomensatme 9 spit Sunt, ped a todos permis pra pat i, to loge puce. Continuando sus narrativa, 0 cavaleiro — que se chama CCalogrenante — conta, sinds, como encontra um rebanho de touros e ouve do seu pastor, um vilain grostescamente feo € enorme, acerca de uma nfo muito longinguafonte mugica: ela core por bsixo de uma msgnifice érvore; junto a ela pende uma bacis de ‘ouro, € quando se joga a sua dgua com esta bacia por sobre uma placa de esmeralda, que se encontra a0 seu lado, ocorsem, 10 bosque, tremendos ventas e tempestades, das quais ningutm, sinds, conseguiu sair vivo. Calogrenante procura 4 aventura, so- brevive a tempestade e goza, com alegria, da serenidade subsequen- te, embelezada pelo canto de muitos plssaros. Mas aparece um ‘avaleiro que 0 censura por causa dos danos ocssionados pela tempestade nas suas propriedades, eo vence, de manera que ele & ‘brigade a volta, apt edesarmado, para o castelo do seu hospedel- ro Lad novameate muito bem recebido,e lhe assegaram ser ele 0 primeiro que conseguira sair sfo e salvo daquele aventura. A narragio de Calogrenante causa profunda impressio aos cavalecos decorte de Artur O proprio rei decide ir ele mesmo, com grande A SADA DO CAVALEIRO CORTES ut -squito, em busca da fate mégica. Mas um dos seus cavaleiras, 0 primo de Calogrenante, Yvain, adiantz-selhe, vence e mata’ 0 CCavaleiro da Fonte e obtém, de um modo to fanistico quanto ‘natural, o amor da sua viva, ‘Nao obstante of ha uma distinc de cerca de setenta anes centre este terto e 0 anterior e se trate igualmente de uma obra pica da época feudal, jd a primeira vista aparece, aqui, um ‘movimento estlistco quase totalmente mudado. A narrativa corre, fluid, leve, quase aconchegante, avangs sem pressa, mas com perseveranca; 0s seus membros esto unidos entre si sem intersti- clos. Todavia, também aqui mio bf periodos retesadamente organi- zados, passa-se de forma froura e sem planiicagfo exata de um smembro do processo a0 outro; 3s conjungBes nfo tém tampouco um significado preciso, especialmente 0 que tem demasiads fun- bes a cumprir, de maneira que algumas engrenagens eausais (por exemplo, v. 231, 235 ou 237) ttm um efeito um tanto indefinido. ‘Mas a continuagio da narragio progressiva nfo éafetada por isto, antes pelo contério, a frouxidio dk articulacio resulta em um estilo narrativo muito natural, e a rima, muito live e independente da arculagto seméntica, nunca deve ircomper com violénca. Uma fou outta vez, a sima di ao poeta motivo para « construglo de versos de enchimento on para camplicadas perifases (por exemplo, + 193 ou 211-216), que se encaizam no seu estilo sem esforgo ¢ sida aomentam a impressio ¢ amplidio ingenua, fesca e confor tavel. Quio mais flexvel e live de movimentos & esta linguagem do que equela da chanson de geste, quio mais agilmente consegue abular os movimentos da narragéo, muito ingénuos ainda, mas j& bastante variadamente Iidicos! Isto pode ser observado em quase toda oreclo. Tomemos como exemplo os versos 241-246: Ls la rove siafetioe, se ben parlant et ancelenize, de tel sanblant et de tel estre, que mout m'sdeltoit a etre, ne ja mes por nul estovoir se m'an queisse removoir; a oragio, ligada 4 anterior pelo Ja, ‘presenta tum periodo consecutive. A sua parte ascendente estd dividida em t8 eseigis, o terceizo des quais contém uma formu luclo antiétice (sanblast, este), que evideneia uma formagfo analitica elevada e, jd entio, tornada natural e evidente para 0 julgamento des pesoas. A parte descendenie tem dois membros, ‘endo que os dois apresentam um euidadoso decrescendo. O prime 1 exprime o fato de deliciar-e no indicavo, o segundo, hipotet camente, 20 subjuntivo — construgtes t30 refinadas, intercaladas fem meio a uma narragio de maneira leve ¢ fuente, difcilmente seriam encontriveis em qualquer lingua vulgar, antes dos roman ces corteses, Aproveito a ocasifo para abservar que, com o paulti- ‘0 surgimento. de uma construgao hipotaticamente mais rica e periodizante, a Higagio consecutiva parece ter sido a preferida, pelo ‘menos até Dante (também naquilo que transcrevemos de Folie Tristan 0 Apice & dado mediante um movimento consecutive). Enquanto outras igaybes modaisestavam ainda pouco desenvoh uz MIMESIS das, ests foresceu © ganhou fungtes expressivas peculiares, que dois tomaram x 56 perder; « este respeito hi um trabalvo G. Hatcher (Revue des Etudes Indo- ‘Calogrenante conta & Tivola Redonda do rei qu, sete anos antes, sai a cavalo, sozinho, em busca de aventuras, armado, como convém a um cavalero, e que entio encontrou um camino A diceita, atravessando um espesso bosque. Aqui espantamo-nos. A. direita? Esta ¢ uma indicacto de lugar bastante estranha quando, como neste caso, ¢ empregada de forma absoluta. Tratando-se de topografiaterrena, sO pode ter sentido quando empregada de forma relativa, Portanto, o seu sentido, aqui, € mora evidentemente, ‘rata-se do ““caminho certo", encontrado por Calogzenante. Eis comprovado de imediato, pos 0 caminho & penoso, como soem ‘ser, 0s caminhos certos condur, durante o dia todo, por matos € fexpinhos ¢, a noite, conduz 4 meta certa: um castelo, onde CCalogrenante & recebido cont alegria, como se se tratasse de um hhospede espetado hd muito tempo. So 4 noite, quando ssi do bosque, parece descobrir onde se encontr: isto é, numa chamneca em Broceliande, Broceliande, em Arméica, em terra firme, & uma regio fetrica famosa na tradicto breta, com fontes migicas € bosques fanisticos. De que maneira Calogrenante que, presum velmente, partiu das Thas Britinicas, da corte do rei Artur, chegou 4 Bretanha, no continente, isto nfo indicado. Nada couvimos acerca da travessia do mar, assim como, mais tarde ( 760 e ss.), quando da viagem de Yvain, que, por sua ver, parte indubitaveimente de Carduel, no Pals de Gales, ¢ cuja viagern att o “camino certo” em Broceliante édescrita de maneira totalmente indefinida e fantdstica. Logo que Calogrenante descobre onde ests, cle jd avista © hospitaleco castelo, Na sua ponte esth 0 castelio, ‘com o facto de cara na mio, ¢ 0 ecebe com alegria, que ultrapassa 4 expressio da simples hospitabilidade, e que nos confirma, mis ‘uma ver, que se tratava do ‘‘caminho certo”: ef i! me dist tot maintenant plus de cant fois an un tenant, que beneoite fust la ‘ie, par ou leonr vena esto, A recepclo que se segue desenvol- -vese segundo o cerimonial cavaleiesco, cues formas gracosas 8 pparecem ter sido estabeleidas hd tempo: 0 casteo coavoca com ‘us golpes sobre uma placa de cobre toda a criadagem, recolhe-se 0 cavalo do recém-chegado; aparece uma bela donzela, a filha do castelto, Sua tarela consste em liver o héspede da sua armadura ¢ fem cobri-o, no seu lugar, com um elegante manto, assim como fem fazer com que o tempo passe para ele de modo agradavel, fazendohe companhia, sozinha, num belo jardim, até 0 jantat estar pronto. Depois deste, o castelio conta 20 seu héspede que jd faz tempo que ele alberga cavaeiros andantes, que v2o em busca dé aventuras. Convide-o com ardor a vistar novamenteo caselo& sua volta; mas, estranhamente, nada diz da aventura da fonte, 140 ‘A SAIDA DO CAVALEIRO CORTES 43 cbstante a conherse stiba que os perigos que ali esperam pelo seu hhospedero impediio, 20 que tudo indica, a volta que ele parece prever. Tudo isto parece estar, contudo, aa mais periita order, Pelo menos, nto afta de forma slguma olouvor que Calogrenant mais tarde, também Yvain, outorgam & hospitaldade eas virtades cavaleirescas do castelio, ‘Calogrenante, sui, pois, a cavalo de ‘manht, e 3 fica stbendo algo acerca da fonte atrevés do satcico vildo. Este, todavia, nfo sabe o que seis avanture — pois nfo & ‘avaleiro — mas conece as migicas qualidades da font eno cals 0 aque sabe. Evidentemente, encontrarno-nos em meio & um mégico con- to de fadss. © caminho certo através do bosque espinhoso, 0 castelo que é como se surpsse do nada, a forma da recepsio, a bela jovem, a estranhacordialdade do castelfo,o siti, a fonte mica tudo isto cra a atmosfra feria, Nto menos fetricas do qie Jndicaptes espacias sto as indicates temporais. Sete anos caloa CCalogrenante acerca da sua aventura, Sete € um mimero magico, ecs sete anos de que se fla no comeco da Canto de Rolando the conferem também uma stmostea lendaris: sete anos, set ans ta pleins, passou o Imperador Cares na Espanhs, $6 que na Cencto {de Rolando S20, realmente, sete anos “‘nteiros”; sto tu: pleas, pois seviram 20 Imperador pare subjogar toda a regio até 0 mar, para conuistar todos os seus castelos e cidades, com excerto de Saragoca. Nos sete anos que vio da aventura de Calogrenants junto onte até 0 seu relato, nada parece ter acontecido, ou, pelo mens, nada fcamos sabendo a respeito. Quando Yvain se dispe a pasar pela mesma aventura, ainda encoatra tudo conforme a Aescrigfo de Calogrenante: ocastelio ¢ su filha, o8 touros com 0, seu sgantescoehorsvel pastor, a fone migica ¢o cavaleiro que a defende. Nada mudou, 0s sete anos passaram sem deixar vestisio, tudo estd como estava, de mancra exatamente igual 20 qe si seontecer nas hisetrias de fdas. E uma puisagom fericamente cencantads; estamos envoltes pelo segredo; 20 nosso redor hi ‘murmirios e cochichos, Todos os muitos eastlos pais, lutas e aventuras dos romances cortess, especialmente dos bette, s80 do pis dos contos de fads, pois sempre emergem como brotados do cho. A sua relagto geogrifice com a terra conhecia, as suas bases socolégieas e econdmicas fam sem explicagio. Mesmo 2 su signiicaglo moral ou simbelica sb raramente & determinivel com slguma certeza. Esta aventura junto a fonte mégica tem algum Sentido oculto? Pertence, certamente, aquelas que os cavaleirs da carte de Artur devem empreender, mas em nenhum lugar € dada tums motivaclo moral da justica da Inta contra 0 Cavaeiro da Fonte. Em outros episédios das romances corteses podem ser. recothecides, 4 vezes, motives simbiicos, mitoldgicos ou seligio- sos. Assim, a viagem pelo mundo subterrineo empreendida por LLanceote, 0 proprio motivo da libertao e da salvac3o em muitos 1a MIMESIS| trechos,e, sobretudo, 0 motivo da grace cristt na lenda do Grasl w"soaue quase nunca os significadas podem ser extabelecidos com rigor, pelo menos nto ainds nos romances corteses propriamente ditos. O secreto, o que brota do chto, ocultando as suss izes, ‘nacessvel a qualquer explicacto racionl, foi tirado pelo romance, cortés da lenda popular bret, que ele recebeu e pS 2 servipo do aperieigoamento do ideal cavaleiesco. A matitre de Bretagne smostrou-se, evidentemente, como © meio mais apcopriado para o desenvolvimento deste ideal — mais spropriado ainda do que, por cexemplo, os g2neros antigos, que encraram em yoga quase simul taneamente, mas logo foram deixados para ts. A auto-epresentacio da cavalria feudal nas suas formas de vida enas suas concepebesidesis constitu o propésito fundamental do romance cortés. Também as formas exteriores de vida sfo ‘epresentadas com lazer, e em tai ocasies, a representa aban dona a distincia nebulose da historia de fadas para spresentar imagens totalmente preventes'de costumes contempordnens. Ou- ‘os episédios dos romances corteses mostram tais quados de manera ainda mais colorida e pormenorizada do que o trecho que escolhemos, mas aele também se podem observar os tragos essen ais do seu carite realista, O castelo com 0 falco, a criadagem cchamada com 0 gongo de cobre, a bela donzela, filha do eastelio, ‘que The tira a armadura, e The veste uma roupa confortivel ¢ conversa amavelmente com ele atéa hora do jantar — tudo isto sio ‘quadros graciosos de um costume jf fxado, quase de um ritual, ‘mosttado pela sociedade cortest na moldura de um estilo de vi bem modelado. A motdura¢ tio forte eisolante, tio depos contra as formas de vida de outras camadas sociais, quanto & da chanson de geste, sb que € muito mais cultivada ¢ elegante, As mulheres tém af um papel importante; desenvolveu-se 0 elegante conforto di vida socal de uma camada cultural. Ais, adotou um cariter que constiturd por muito tempo uma das earictersticas mais singula- es do gosto francés: 0 cariter gracioso, talvez um tanto sul emai. A cena com a jover do castelo — como ela aparece, como clea olha, 0 desarmamento, a conversepio no prado — ainds que se trate aqui apenas de um exemple pouco elaborado, di com sufciéncia a impressto da coqueeria amoross, graciosa, clare ¢ sorrdente, fresca,elegente e ingénua, na qual justamente Chrétien @ um dos mestres. Imagens estlisticas desta espécie encontramse bastante cedo na Franga — nas chansons de file, e mesmo uma vez na Congdo de Rolando, na laisse que trata de Margatiz de} Sevilha (7. 955 e.)s mas somente a cultura cores as desenvalveu, especialmente o grande charme de Chrétien repouse, em grande parte, no talento com que desenvalve este tom com @ maior variedade. Este estilo aparece com o seu pleno brill quando se trata do jogo amoraso real, Entre as cenas deste jogo ha, ent0, um arrazoado antittico acerca do sentimento, aparentementeingénvo, A SAIDA DO CAVALEIRO CORTES ns sas de uma smabilidade extremamente artistica, O exemplo mais famoso encontra-se no inicio do Cliges, onde ¢ representado amor nascente entre Alixandre e Soredamors, com a inical timider do ito esconder-se e a irrupeto final do Sentimento, auma stic de cenas encamadoras de soliléquios analtics. O gracioso eo amével deste estilo, cujo atrativo € 0 frescor e cuio perigo & 0 ‘mesquinho, o tolamente coquete ¢ 0 fro, dlficilmente pode ser schado‘em tal grau de pureza na poesia antiga, € uma criagto da Franga medieval. Aliés, este estilo nfo se limita somente a episd dios amorosos. Todo © quadro que represents os sepectosvitais da sociedade feudal est afinado no mesmo tom, tanto em Chrétien ‘quanto no romance de aventuras posterior e nas narrativas meno: res em verso, tanto no séeulo XI, como ainda no século XII. A sociedade cavaeiresca se apresenta em versos graciosos, amaveis, pintados com extrema fineza e claras como 2 agua, Mihares de equencs quadros ecenas descrevern-nos 0s seus costumes, as suas ‘opinides eo tom do seu comércio social. Nestes quadros ha muito brilho, muito tempero realista, muita fineza psicologcae, também, ‘muito humor. & um mundo muito mais rico, muito mais cheio de vatiedade, mais pleno do que © mundo des chantone de geste, ainda que ele também seja o mundo de uma tinica classe. As’ vezes CCrétien parece até quebrar as bureiras sociais, como quando fala «de oficina das trezencas donzelas da Avanture da Chastel de Pesme (Yasin, 510 ss.) ow quando da representardo daquela rica cidade, cujos cidalios (guemune) procuram assaltar 0 castelo onde se encontra Galvao (Perceval, 5710 e ss.) — mas tis epsbdios s20 apenas um colorido cendrio para a vide cavaleiresca, O realismo cortésoferece uma imagem viva, muito rice e temperada, de uma tinica classe; uma classe social que se segrega das outras da sociedade contemporines, fazendo-8s aparecer, uma ou outta ¥e2, ‘como centri coloridos, eralmente cémicas ou grotescos. Porta ‘a separagto social ene, de‘um lado, 0 importante, o significa: tivoeo elevado e, de outro, 0 buixo, comico, grotesco, permanece intacta do ponto de vista do conteido. Somente a clase feudal tem 'scesso ao primeiro destes campos. Contudo, ndo &:posive falar de uma separacao de estilo propriamente dita, enquanto o romance cortés no conhece um ‘estilo elevado”, isto 4, uma dierenca de ‘rau na elevagSo da forma de expressio. O confortével, gil © elistico octosslabo cimado acomoda'se, sem qualquer eslorgo, ‘qualquer cdjeto e a qualquer nivel de emogio ou do pensamento, Em geral, também ja tina servido para os mais diversos fins, para ‘anedotas, tanto quanto para vidas de santos. Nos casos em que trata de assuntos muito sérios ou terriveis, facilmente apresent, pelo menos para o nosso taodo de sentir, algo de ingénuo e infantil; de fato, hi uma coragem de crianga na vislo ingémua com que Drocura dominar um mundo jt to ricamente dierenciado através

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