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FICHA DE AVALIAÇÃO 2 – ALBERTO CAEIRO

Grupo I

Lê atentamente o seguinte poema de Alberto Caeiro.

XXIII - O meu olhar azul como o céu

O meu olhar azul como o céu

É calmo como a água ao sol.

É assim, azul e calmo.

Porque não interroga nem se espanta…

Se eu interrogasse e me espantasse

Não nasciam flores novas nos prados

Nem mudaria qualquer coisa no sol de modo a ele ficar mais belo…

(Mesmo se nascessem flores novas no prado

E se o sol mudasse para mais belo,

Eu sentiria menos flores no prado

E achava mais feio o sol…

Porque tudo é como é e assim é que é,

E eu aceito, e nem agradeço,

Para não parecer que penso nisso…)

Fernando Pessoa, “O Guardador de Rebanhos”, in Poemas de Alberto Caeiro.

(Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946
(10ª ed. 1993).
1. Explica de que modo a figura de retórica com que abre o poema reflete a filosofia de
vida defendida pelo sujeito poético.
1.1. Refere as razões para as propriedades atribuídas ao «olhar».
1.1.1. Classifica a estrutura linguística usada para veicular essas razões.

2. Estabelece a relação entre o que é dito na primeira estrofe e o que é apresentado nas
segunda e terceira estrofes.
2.1. Identifica e explica as estratégias linguísticas ao serviço da intenção do sujeito
poético.

3. Explicita o sentido de «e nem agradeço/ Para não parecer que penso nisso» (vv. 13-14)..

A partir da tua experiência de leitura da poesia de Alberto Caeiro, comenta a opinião a


seguir transcrita fazendo referências a poemas estudados.

«Quando li pela primeira vez Fernando Pessoa, rapariguinha provincial absoluta, aluna do
3.º ano no Liceu de Faro, Algarve (1943/1944), O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro
foi deslumbramento, era-me consubstancial: era aquela luz, era aquele “Tempo”, passar das
estações do ano como aprendíamos no livro de leitura da Escola, era a rotação celeste, era a
terra, nossa primeira mãe, como uma certeza. (…) Foi uma impressão que intuí e ficou,
consubstancial ao meu ser. Não se explica.»

Maria Aliete Galhoz, Fernando Pessoa, o editor, o escritor e os seus leitores,

Richard Zennith (ed), Fundação Caloute Gulbenkian, 2012, p. 36

Vocabulário:

Consubstancial: que é inseparável; que se identifica com outra coisa.

GRUPO II
Lê o texto seguinte.

Sobre a primeira entrada em cena dos heterónimos, informa-nos uma carta


enviada por Pessoa em 13-1-35 a Adolfo Casais Monteiro, poeta e crítico do grupo da
«Presença». Na carta, Pessoa explica àquele seu admirador que os primeiros indícios da
sua atitude pagã datavam já do ano de 1912, embora não tivessem passado então de
experiências hesitantes. Pessoa prossegue na sua explicação e nós citaremos a passagem
por extenso, uma vez que tem sido utilizada por alguns críticos (…): «Ano e meio, ou dois
anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um
poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em
qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num
dia em que finalmente desistira – foi em 8 de março de 1914 – acerquei-me de uma
cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que
posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não
conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri
com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de
alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o
absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive.
E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei
noutro papel e escrevi, a fio, também os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de
Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente… Foi o regresso de Fernando Pessoa a
Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reação de Fernando Pessoa
contra a sua inexistência como Alberto Caeiro. Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de
lhe descobrir – instintiva e subconscientemente – uns discípulos. Arranquei do seu falso
paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque
nessa altura já o via: E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me
impetuosamente um novo indivíduo, num jato, e à máquina de escrever, sem interrupção
nem emenda, surgiu a Ode Triunfal, de Álvaro de Campos – a Ode com esse nome e o
homem com o nome que tem.»

Neste trecho rememorativo, escrito pelo poeta no ano da sua morte, mais de vinte
anos depois da criação dos heterónimos, dois fenómenos chamam a nossa atenção: em
primeiro lugar, o relevo que Pessoa dá ao facto de os primeiros poemas de Alberto Caeiro
terem sido escritos sob o impulso duma inspiração inexplicável. Só muito ao de leve é que
Pessoa roça pelas inspirações teóricas que os pudessem ter precedido, de modo a deixar o
ato criador, nitidamente distinto delas, brilhar sozinho em toda a sua magnificência. (…)
Em segundo lugar, a carta tenta causar a impressão de os heterónimos terem nascido dum
jogo de forças instintivo e inconsciente. Não há, pois, na carta, uma única referência aos
programas estético-literários que, originalmente, tal como no-lo mostra o espólio,
apadrinharam o nascimento dos heterónimos. Não nos repugnaria concluir que o poeta
manhoso se decidira, em 1935, a cultivar conscientemente a sua própria lenda,
apresentando-se aos amigos mais jovens como o pai involuntário de três personagens
poéticas e ocultando, propositadamente, todas as considerações de ordem teórica e
programática que haviam precedido o nascimento delas. A descrição, citada na primeira
parte deste capítulo, do nascimento de Ricardo Reis como representante dum
neoclassicismo “científico” não deixa lugar a dúvidas de que ao nascimento de Ricardo
Reis havia presidido um programa pré-existente. Programa esse que data de janeiro de
1914, anterior, portanto, ao inspirado dia de março dos poemas de Alberto Caeiro; a
explicação dos acontecimentos oferecida por Pessoa na carta a Casais Monteiro não deve,
por conseguinte, ser aceite sem reservas, uma vez que acentua demasiado unilateralmente
a espontaneidade do poder criador, ao mesmo tempo que procura ocultar o papel
considerável desempenhado pela teoria.

Georg Rudolf Lind, «Alberto Caeiro, o renovador do paganismo»,


Estudos sobre Fernando Pessoa, INCM, 1981, pp. 99 – 101.

1. Seleciona, em cada um dos itens de 1 a 7, a única alternativa que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto.

1. O adjetivo «bucólico» na expressão «(…) lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-
Carneiro – de inventar um poeta bucólico» dá relevo à relação do poeta com um ambiente:

A. urbano.

B. agrícola.

C. campestre.

D. citadino.

2. Segundo Rudolf Lind, a carta que Pessoa escreve a Casais Monteiro acerca do nascimento
dos heterónimos constitui:

A. uma visão histórica fidedigna do que realmente aconteceu.

B. uma ficção criada pelo poeta para sugerir a magnificência do ato criador.

C. uma invenção propositada sem haver nenhum poema escrito pelos heterónimos.

D. um anúncio dos poemas heterónimos que irão ser posteriormente publicados.

3. O constituinte que desempenha a função sintática de sujeito da forma verbal “informa-nos”


é:

A. Fernando Pessoa.

B. um poeta e crítico do grupo da «Presença».

C. a primeira entrada em cena dos heterónimos.

D. uma carta enviada por Pessoa em 13-1-35 a Adolfo Casais Monteiro, poeta e crítico do grupo
da “Presença”.
4. A oração “que os primeiros indícios da sua atitude pagã datavam já do ano de 1912”.
classifica-se como:

A. oração subordinada substantiva completiva.

B. oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

C. oração subordinada adjetiva relativa explicativa.

D. oração subordinada adverbial causal.

5. As expressões «em primeiro lugar» e «Em segundo lugar» marcam uma:

A. introdução.

B. explicitação.

C. conclusão.

D. série enumerativa.

6. As expressões «portanto» e «por conseguinte» possuem significados:

A. opostos.

B. semelhantes.

C. diferentes.

D. complementares.

7. as formas verbais «haviam precedido» e «havia presidido» encontram-se no:

A. pretérito imperfeito do conjuntivo.

B. pretérito perfeito do indicativo.

C. pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo.

D. pretérito-mais-que-perfeito do conjuntivo.

2. Considera a frase “(…) a explicação dos acontecimentos oferecida por Pessoa na carta a
Casais Monteiro não deve, por conseguinte, ser aceite sem reservas (…).».

2.1. Classifica os verbos “dever” e “ser” no complexo verbal “deve ser aceite”.

2.2. Indica a voz em que surge o verbo “aceitar”.


GRUPO III

A transformação do mundo passa pela capacidade de ver, de pensar e de intervir.

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas


palavras, apresenta uma reflexão sobre a importância da capacidade de ver e de dar a ver na
transformação do mundo em que vivemos. Para fundamentar o teu ponto de vista, recorre, no
mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles com, pelo menos, um exemplo
significativo.

Classificação

Grupo I Grupo II

A 1.……….......………………………………….. 5 pontos

2. ………………...……………………………. 5 pontos

1. ………………………………………... 9+6 pontos 3. …………...…………………………………. 5 pontos

1.1. ............................................................. 8+4 pontos 4. .. ……...…………………………………….. 5 pontos

1.1.1. .......................................................... 3+2 pontos 5. ……...………………………………………. 5 pontos

2. ……………………………………….. 9+6 pontos 6. ……...………………………………………. 5 pontos

2.1. ………….....……………………….. 9+6 pontos 7. ……...………………………………………..5 pontos

3. ………………………....…………….. 5+3 pontos

2. 1. …………………………………………. 10 pontos

Total = 70 pontos 2.2. ……………………………………….….. 5 pontos

B
Total = 50 pontos
………....……………… 18+12 pontos

Grupo III
Total= 30 pontos

………………………………………… 30+20 pontos

Total = 50 pontos

Total = 200 pontos

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