GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

SECRETARIA DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO E MINERAÇÃO – SICM

COMPANHIA BAIANA DE PESQUISA MINERAL - CBPM

SÉRIE ARQUIVOS ABERTOS 29

Província Uranífera
de
Lagoa Real, Bahia

Simone Cerqueira Pereira Cruz

Luiz Luna F. de Miranda
Plínio Melchiades de Oliveira Veiga

2008
 GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
Jaques Wagner
Governador

SECRETARIA DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO E MINERAÇÃO

Rafael Amoedo Amoedo
Secretário

COMPANHIA BAIANA DE PESQUISA MINERAL - CBPM

Nilton Silva Filho
Diretor Presidente

Rafael Avena Neto

Diretor Técnico

Juvenal Maynart Cunha

Diretor Administrativo e Financeiro

Gustavo Carneiro da Silva

Gerência de Publicações

Luiz Luna Freire de Miranda

Plínio Melchiades de Oliveira Veiga
Coordenador Série Arquivos Abertos

M642p
Cruz, Simone Cerqueira Pereira
Província Uranífera de Lagoa Real, Bahia / Simone Cerqueira Pereira
Cruz, Luiz Luna Freire de Miranda e Plínio Melchiades de Oliveira
Veiga_Salvador: CBPM, 2008.

68 p.; il. Color.; 1 mapa; (Série Arquivos Abertos; 29)

ISBN 978-85-85680-33-6

1. Urânio. 2. Geologia Regional. 3. Química mineral 4. Geocronologia I.

Simone C. Pereira Cruz II. Companhia Baiana de Pesquisa Mineral. III.
Título. IV. Série.
CDU : 554
CDD: 550.552:553(558.1)
Arquivos Abertos 29 Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM

APRESENTAÇÃO

Em meados da década de 80, a Nuclebrás, empresa única a deter direitos de exploração e lavra de
minérios de urânio, no Brasil, convocou a CBPM para executar o Projeto Lagoa Real, em região que
abrangia, essencialmente, o município de Caetité. Além de mapear o equivalente a seis quadrículas na escala
1:25.000, fazia parte dos objetivos confiados à Empresa, dentre outros, o de traçar um quadro que permitisse
definir parâmetros controladores da mineralização, e que também servissem de guia na prospecção de novas
áreas favoráveis à concentração de urânio, principalmente na forma de U2O3 – uraninita.
Com o passar dos anos, e para incrementar os conhecimentos sobre o Distrito Uranífero de Lagoa
Real, onde se encontra a única mina de urânio – Cachoeira, em atividade na América do Sul, foram realizados
novos trabalhos na região do atual município de Lagoa Real.
Além dos estudos empreendidos pela própria Nuclebrás, foram realizados levantamentos de cunho
científico na defesa da tese de mestrado da professora Simone Cruz, do Instituto de Geociências da Universidade
Federal da Bahia, complementados com os últimos trabalhos da mesma autora em parceria com outros
autores de diversas instituições, CBPM inclusive.
Este volume, o 29º da Série Arquivos Abertos, baseia-se no Projeto Lagoa Real, da CBPM, mas,
principalmente, nos últimos trabalhos de Simone Cruz em parceria com outros autores de reconhecida
capacitação técnico-científica. É mais uma colaboração da CBPM para desenvolver a atividade mineral na
Bahia, desta vez com abordagem de interesse essencialmente nacional.

Nilton Silva Filho

Diretor Presidente da CBPM

iii
Arquivos Abertos 29 Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ iii

ABSTRACT ...................................................................................................................... vii
RESUMO ........................................................................................................................... ix
1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
2 – HISTÓRICO .................................................................................................................. 2
3 – CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL ........................................................................ 2
3.1 – LITOESTRATIGRAFIA ..................................................................................................... 4
3.1.1 – Embasamento ..................................................................................................... 4
3.1.2 – Complexo Lagoa Real ......................................................................................... 4
3.1.3 – Supergrupo Espinhaço ........................................................................................ 4
3.1.4 – Supergrupo São Francisco ................................................................................. 6
3.1.5 – Terciário-Quaternário ........................................................................................... 6
4 – GEOLOGIA DO COMPLEXO LAGOA REAL ................................................................ 7
4.1 – GRANITÓIDES LAGOA REAL ......................................................................................... 8
4.1.1 – Granitóides São Timóteo ..................................................................................... 8
4.1.2 – Granitóides Jurema ............................................................................................. 8
4.1.3 – Granitóides foliados e gnaisses .......................................................................... 8
4.1.4 – Rochas monominerálicas .................................................................................. 11
5 – ANÁLISES DE QUÍMICA MINERAL ............................................................................ 15
6 – DATAÇÕES EM TITANITAS ....................................................................................... 20
7 – DEFORMAÇÕES ESTRUTURAIS NO COMPLEXO LAGOA REAL .......................... 22
8 – GEOTERMOMETRIA DAS TRANSFORMAÇÕES METAMÓRFICAS SinDp1 .............. 23
9 – ALBITIZAÇÃO, DEFORMAÇÃO, GNAISSIFICAÇÃO E
CONCENTRAÇÃO DE URÂNIO ................................................................................ 25
9.1 – METASSOMATISMO Ms1 ...................................................................................... 25
9.1.1 – Distribuição das pertitas metassomáticas ........................................................ 25
9.1.2 – Novos grãos de microclina ................................................................................ 28

v
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM Arquivos Abertos 29

9.2 - METASSOMATISMO Ms2/METAMORFISMO PROGRESSIVO M1p/SinDp1 .................. 28

9.3 - METASSOMATISMO MS3/METAMORFISMO REGRESSIVO M1r1/SinDp2 .................... 28
9.4 - METAMORFISMO REGRESSIVO M1r2/SinDe .......................................................... 28
9.5 – FORMAÇÃO DOS ALBITITOS ..................................................................................... 30
9.6 – CONCENTRAÇÃO DE URÂNIO .................................................................................. 32
10 – DISCUSSÃO DE RESULTADOS ............................................................................. 35
10.1 – GRANITIZAÇÃO ANOROGÊNICA PALEOPROTEROZÓICA..................................... 35
10.2 – A MINERALIZAÇÃO DE URÂNIO ................................................................................ 36
10.3 – IDADE DA MINERALIZAÇÃO ...................................................................................... 38
10.4 – LITOGEOQUÍMICA ..................................................................................................... 38
10.5 – ASPECTOS METAMÓRFICOS E DEFORMACIONAIS ............................................. 39
11 – LAVRA E BENEFICIAMENTO NA MINA CACHOEIRA ............................................. 42
12 – DEMANDA INTERNA DE URÂNIO ........................................................................... 43
12.1 – SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVA ......................................................................... 43
13 – CONCLUSÕES ....................................................................................................... 44
14 – REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 47

APÊNDICE
A - Projeto Lagoa Real ........................................................................................................... 53
A1- Equipe do Projeto ............................................................................................................ 53
B - Série Arquivos Abertos ..................................................................................................... 53
B1 - Volumes já Publicados ................................................................................................... 54

vi
Arquivos Abertos 29 Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM

ABSTRACT

The Lagoa Real Complex, in which the uraniferous mineralizations of the central-southern of Bahia are
inserted, composed of granitoids and orthogneisses, is one of the units of the Paramirim Aulacogen. The
granitoids correspond to not sheared portions of a massif intruded in the Migmatitic-Metamorphic Complex
that constitutes the basement of the region. This basement borders not only the Lagoa Real Complex in both
western and eastern sides as it also occurs in xenolith of in the form of enclaves shapes on the intrusive massif.
The textural and structural variations of the gneisses derived from Paulo Sérgio de Souza Lacerda the cataclase
that affected the grantoid rocks – mainly the São Timóteo granite and its derivations – result of different
degrees of shearings. Thus the gneisses vary from protomylonites to ultramylonites, while the compositional
variations depend on the parental rock. These variations occur between the albitite and microclinite members.
Lenses of albitite, that is so called because it contains more than 70% of albite in its compositional, constitute
the principal host rock of the uraniferous mineralizations in the form of uraninite – (U3O8). There is a controversy
about the relation between the gneissification of the Lagoa Real Complex and the generation of the albitites
and associated mineralizations. The genesis of the uranium mineralizations could be associated with percolation
of fluids in a high temperature, proceeding from magmatic sources. These fluids, combined or not with other
ones, have percolated the (sedimentary, granitic and gneissic) rocks of different ages, and could have enriched
them in uranium and othercognate elements. The estimation of a uranium reserve in Lagoa Real, near 94.000
tons, is sufficient to supply Angra 1, Angra 2 and other possible nuclear power plants to be installed in Brazil

vii
Arquivos Abertos 29 Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM

RESUMO

O Complexo Lagoa Real, onde se inserem as mineralizações uraníferas do centro-sul da Bahia, constituído
por granitóides e ortognaisses, é uma das unidades do Aulacógeno do Paramirim. Os granitóides correspondem
às porções não-cisalhadas de um maciço intrudido no Complexo Metamórfico-Migmatítico que constitui o
embasamento da região. Este embasamento não só margeia o Complexo Lagoa Real, nos lados oeste e leste,
como também ocorre na forma de xenólitos ou enclaves sobre o maciço intrusivo. As variações texturais e
estruturais dos gnaisses derivados da cataclase das rochas granitóides – principalmente, o Granito São Timóteo
e suas derivações – resultam de diferentes intensidades do cisalhamento. Assim, os gnaisses variam de
protomilonitos a ultramilonitos, enquanto as variações composicionais dependem da rocha precursora. Essas
variações ocorrem entre os membros extremos albitito e microclinito. Lentes de albitito, assim denominada
por conter mais de 70% de albita na sua composição, constituem a principal rocha hospedeira das
mineralizações de urânio, na forma de uraninita (U3O8). Há uma controvérsia sobre a relação entre a
gnaissificação do Complexo Lagoa Real e a geração dos albititos e das mineralizações associadas. A gênese
das mineralizações de urânio estaria associada com a percolação de fluidos em alta temperatura, provenientes
de fontes magmáticas. Combinados ou não com outros, esses fluidos teriam enriquecido em urânio e elementos
afins as rochas percoladas – sedimentares, graníticas e gnáissicas –, de idades diversas. A estimativa de
reserva de urânio em Lagoa Real, da ordem de 94.000 toneladas, é suficiente para assegurar o suprimento
das usinas nucleares Angra 1, Angra 2 e outras mais que venham a ser instaladas no Brasil.

ix
Arquivos Abertos 29
1 – INTRODUÇÃO
A
Província Uranífera de Lagoa Real, a mais
importante dentre as monometálicas
existentes em território brasileiro, abrange
os municípios de Caculé, Paramirim e Lagoa Real –
centro-sul da Bahia. O urânio, no Brasil, é usado como
fonte de energia para a geração de eletricidade em
reatores nucleares.
No limiar dos anos 80, a Nuclebrás, que já
desenvolvia trabalhos exploratórios em torno do urânio
de Lagoa Real, então distrito de Caetité, resolveu firmar
convênio com a CBPM para fins exploratórios. O
objetivo era mapear seis Folhas na escala 1:25.000,
nas quais se distribuíam as ocorrências de urânio da
região (figura 1).
O minério de urânio de Lagoa Real ocorre na forma
de uraninita. A paragênese mineral, bem como a
distribuição e condições de formação da mineralização
fazem desta província um exemplo ímpar de
Figura 1 – Mapa de Localização
Figure 1 – Localization map
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM
concentração econômica de urânio em rochas
metamórficas de médio grau – associadas com
metassomatismo sódico. Caetité e Lagoa Real situam-
se a 645 e 612 quilômetros de Salvador, respectivamente.
A região conta, após duas décadas de pesquisa e
prospecção, com 34 depósitos distribuídos em cerca
de 1.200 quilômetros quadrados, doze dos quais, com
teores apreciáveis de urânio, investigados em vários
níveis de detalhe. Sete destes depósitos, mesmo com
as pesquisas em fase de conclusão, já são considerados
jazidas, com reserva estimada em 95 mil toneladas de
U3O8. Faz parte deste contexto a mina de Cachoeira,
a única a produzir urânio na América do Sul.
Este volume, o 29° da Série Arquivos Abertos, é
uma síntese sobre trabalhos realizados na Província
Uranífera de Lagoa Real, na Bahia, com base,
principalmente, em Cruz et al. (2004) e Costa et al.
(1985).
1
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM
2 – HISTÓRICO
S
egundo Plínio M. O. Veiga (comunicação
verbal, 2007), a descoberta do urânio de
Caetité e áreas adjacentes ocorreu a partir
do levantamento aerogeofísico realizado pelo Centro
de Geofísica Aplicada (CGA) para o DNPM. As
anomalias aerocintilométricas de urânio foram testadas
em campo pelo CGA, que as repassou à CNEN –
Comissão Nacional de Energia Nuclear –, que,
posteriormente, comunicou à Nuclebrás. Providências
foram tomadas através de um programa sistemático
de pesquisa e prospecção, resultando na confirmação
das citadas anomalias, como também foram
constatadas outras em levantamentos radiogeológicos
autoportados (Geisel et al., 1978). Treze anomalias
foram selecionadas como as mais promissoras.
O Projeto Lagoa Real (Costa et al., 1985),
executado pela CBPM em campanhas realizadas entre
setembro de 1981 e novembro de 1982, foi antecedido,
na região, pelos projetos Brumado-Caetité (Moraes et
al., 1980) e Bahia (Pedreira et al., 1975), executados
pela CPRM, e pelo Projeto Letos (Costa et al., 1976),
resultante de convênio Prospec-DNPM-CPRM.
Conforme Cruz et al., (2004), com a sistematização
da pesquisa a partir de 1978, os trabalhos de
levantamento geológico, sondagem, cubagem e
3 – CONTEXT
CONTEXTOO GEOLÓGICO REGION AL
REGIONAL
N
o contexo geológico da região de Lagoa
Real, a província uranífera insere-se no
Aulacógeno do Paramirim (Pedrosa-
Soares et al., 2001), que compreende a serra do
Espinhaço Setentrional, os vales do Paramirim e do São
Francisco e a Chapada Diamantina (figura 2). No seu
interior, abriga sedimentos dos supergrupos Espinhaço
(Veiga, 1966, inédito) e São Francisco. O substrato do
aulacógeno é constituído por rochas com idades
superiores a 1,8Ga (Martin et al., 1991; Nutman &
Cordani, 1993; Cunha et al., 1996a; 1996b; Leal et al.,
1996; Pinto, 1996; Leal, 1998) e por rochas plutônicas
de 1,7Ga (Turpin et al., 1988; Cordani et al., 1992).
O segmento invertido do aulacógeno, denominado
Corredor do Paramirim (Alkmim et al., 1993),
2
Arquivos Abertos 29
avaliação econômica de várias anomalias foram
tratados pela Nuclebrás, com suas respectivas reservas
geológicas de urânio, devidamente quantificadas. Com
o desenvolvimento das pesquisas, dez áreas (doze
anomalias) passaram a ser consideradas jazidas, e
suficientes para uma avaliação confiável da ordem de
100.770 toneladas geológicas de U3O8, com teor médio
de 2.100ppm. As 94.000 toneladas de U 3 O 8 ,
apresentadas nas classes de reservas medida e
indicada, são recursos razoavelmente assegurados,
conforme definição da Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA).
De acordo com Cruz et al. (2004), em 1995, em
face da iminência de exaustão da mina de urânio de
Poços de Caldas, Minas Gerais, as Indústrias
Nucleares do Brasil - INB decidiram implantar
trabalhos tecnológicos industriais do minério de urânio
contido na jazida Cachoeira, na localidade de Maniaçu,
município de Caetité, Bahia. Seguiu-se a caracterização
ambiental pré-operacional da jazida e iniciou-se a lavra
da mina de Cachoeira, em dezembro de 1999.
Finalmente, no primeiro semestre de 2000, Lagoa
Real passou a produzir concentrado de urânio, um fato
histórico e marcante no Brasil.
corresponde a uma faixa de deformação com
orientação geral NNW-SSE. Engloba a serra do
Espinhaço Setentrional e pequena parte da Bacia do
São Francisco, a oeste; os vales do Paramirim e São
Francisco, no centro; e a borda ocidental da Chapada
Diamantina, a leste. Trata-se de uma zona de
deformação intracontinental, desenvolvida durante a
inversão do Aulacógeno do Paramirim, no
Neoproterozóico, que envolve o embasamento de idade
superior a 1,8Ga, bem como a Suíte Lagoa Real, os
ortognaisses e albititos derivados desta suíte –
agrupados no Complexo Lagoa Real (Costa et al.,
1985) – e todas as unidades da cobertura detrítica. A
sul e a norte, o Corredor do Paramirim conecta-se com
os dois cinturões de dobramentos e com os
Arquivos Abertos 29 Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM

Figura 2 - Mapa Geológico simplificado do Aulacógeno do Paramirim, enfatizando as principais unidades geológicas
e estruturas tectônicas de idade brasiliana. BG-Bloco Gavião, BJ-Bloco Jequié, ZCBC - Zona de cisalhamento
Brumado-Caetité, ES - Espinhaço Setentrional, CD - Chapada Diamantina, FRP - Faixa Rio Preto, SRP - Saliência
do Rio Pardo (Faixa Araçuaí), VRP - Vale do Rio Paramirim e SG - Serra Geral. Mapa construído a partir de
Schobbenhaus et al. (1981) e Barbosa & Dominguez (1996). Fonte: Cruz (2004)
Figure 2 – Simplified geological map of Paramirim Aulacogen of Brasiliano age: BG – Gavião Block, BJ –
Jequié Block, ZCBC – Brumado-Caetité shear zone, ES – Northern Espinhaço, CD – Chapada Diamantina, FRP
– Rio Preto Belt, SRP – Rio Pardo Bulge (Araçuaí Belt), VRP – Paramirim River Valley and SG – Serra Geral.
Map prepared after Schobbenhaus et al. (1981) and Barbosa & Dominguez (1996). From: Cruz (2004).

3
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM
cavalgamentos neoproterozóicos que margeiam o
Cráton do São Francisco: as faixas Araçuaí e Rio Preto-
Riacho do Pontal. A conexão entre o Corredor do
Paramirim e a Faixa Araçuaí corresponde à Saliência
do Rio Pardo descrita por Almeida et al. (1978) e
reestudada por Cruz (2004).
3.1 – LITOESTRATIGRAFIA
3.1.1 – Embasamento
O embasamento do Aulacógeno do Paramirim
acha-se contido no Bloco do Gavião, redefinido por
Barbosa & Sabaté (2002). É constituído por gnaisses
de composição tonalítico-granodiorítico-granítica –
migmatizado, ou não –, anfibolitos e granulitos, de idade
arqueano-paleoproterozóica (Cunha & Fróes, 1994;
Cunha et al., 1994; Leal et al., 1998) e remanescentes
de sequências metavulcanossedimentares arqueanas,
agrupadas nos terrenos greenstone belt de Licínio de
Almeida, Urandi, Boquira, Ibitira-Ubiraçaba, Brumado,
Guajeru, Riacho de Santana-Urandi (Inda & Barbosa
1978; Soares et al., 1990; Cunha et al., 1996a, b; Leal
et al., 1998; Silva & Cunha, 1999; Arcanjo et al., 2000).
Costa et al. (1985) referem-se ao embasamento
polimetamórfico que margeia o Complexo Lagoa Real
como Complexo Metamórfico-Migmatítico, constituído,
principalmente, por granodioritos e tonalitos, que
predominam sobre dioritos e granitos. Sua idade,
segundo Cordani (1983), é da ordem de 2,8Ga.
3.1.2 – Complexo Lagoa Real
É intrusivo nos gnaisses do Bloco do Gavião, e
constituído por granitóides agrupados sob denominação
geral de Granito São Timóteo, e por um conjunto de
álcali-gnaisses deles derivados, os quais hospedam
corpos concordantes de albititos mineralizados em
urânio (Costa et al., 1985; Cruz & Alkmim, 2002). O
Granito São Timóteo datado pelo método U/Pb
confirmou uma idade de cristalização em torno de 1,7Ga
(Turpin et al., 1988; Cordani et al., 1992). A sua
intrusão no embasamento cratônico seria resultante do
plutonismo associado à primeira fase rifte registrada
no aulacógeno, que remonta a 1,7Ga, ou seja, ao período
Estateriano do final do Paleoproterozóico. De acordo
com McReath et al. (1981) e Teixeira (2000), o magma
que produziu o Granito São Timóteo é o mesmo que
deu origem às rochas vulcânicas que ocorrem na base
4
Arquivos Abertos 29
do Supergrupo Espinhaço, unidade mais antiga do
preenchimento do Aulacógeno do Paramirim.
Os resultados das análises geocronológicas pelos
métodos U/Pb, Rb/Sr e Pb/Pb demonstraram que o
magmatismo que deu origem aos granitóides do
Complexo Lagoa Real foi gerado a partir de fusão
parcial da crosta continental (Turpin et al., 1988;
Cordani et al., 1992; Pimentel et al., 1994). Entretanto,
a idade da sua gnaissificação parcial ainda é
controversa. De acordo com Turpin et al. (1988) e
Cordani et al. (1992), no intervalo compreendido entre
1,5 e 1,1Ga teria havido uma redistribuição de uraninita
nos gnaisses e reajustamento do sistema Rb/Sr. Isto
teria ocorrido quando da instalação do Ciclo Espinhaço
–evento metamórfico sindeformacional. Com base nos
resultados de datações U/Pb em uraninitas, obtidos por
Stein et al. (1980), aqueles autores postularam ainda,
que, no período entre 820 e 500Ma, outra importante
reomogeneização ocorrida naquelas rochas registra o
Ciclo Brasiliano. Por outro lado, Pimentel et al. (1994),
com base em datações U/Pb em titanitas de albititos
do Complexo Lagoa Real, defendem a existência de
um evento de alteração hidrotermal, com a formação
do albitito mineralizado em urânio por volta de 960Ma,
e de um único estágio metamórfico-deformacional, há
cerca de 500Ma, durante o Ciclo Brasiliano.
3.1.3 – Supergrupo Espinhaço
Esta é a principal unidade de preenchimento do
Aulacógeno do Paramirim, tanto que, daí decorre a
denominação original de Aulacógeno do Espinhaço,
proposta por Costa & Inda (1982) para o mesmo sítio
tectônico.
O Supergrupo Espinhaço é uma sucessão de
sedimentos terrígenos, mas com contribuições de
rochas vulcânicas ácidas a intermediárias na base.
Diferenças faciológicas, no pacote Espinhaço, ocorrem
entre a serra do Espinhaço Setentrional e a Chapada
Diamantina. Schobbenhaus (1996), Barbosa &
Dominguez (1996), Danderfer Fo (2000) e Danderfer
Fo & Dardenne (2001; 2002) são alguns dos autores
que formularam diferentes propostas de subdivisões
estratigráficas e modelos deposicionais para as duas
regiões (quadro 1).
O quadro 2 mostra os principais dados
geocronológicos disponíveis na literatura para as rochas
do Supergrupo Espinhaço.
Arquivos Abertos 29 Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM

Quadro 1 - Correlação geológica entre o Espinhaço Setentrional e a Chapada Diamantina, segundo Danderfer Fo (2000)
Table 1 – Geological correlation between Northern Espinhaço and Chapada Diamantina, according to Danderfer Fº (2000)

Quadro 2 - Principais dados geocronológicos das rochas do Supergrupo Espinhaço

Table 2 – Main geochronological data of Espinhaço Supergroup rocks

5
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM
Os sedimentos do Supergrupo Espinhaço são
truncados por rochas intrusivas básicas (Oliveira &
Corrêa-Gomes, 1996; Danderfer Fo, 2000), isotrópicas,
cinza-escuro a esverdeadas, de granulação fina a
média, com textura ofítica a subofítica, e de composição
variável entre gabros-diabásios e dioritos (Arcanjo et
al., 2000).
3.1.4 – Supergrupo São Francisco
O Supergrupo São Francisco compreende um
conjunto de rochas terrígenas e carbonáticas
depositadas em ambiente marinho com influência
glaciogênica (Guimarães, 1996). Na serra do Espinhaço
Setentrional está representado pelo Grupo Santo
Onofre (Schobbenhaus, 1996) e na Chapada
Diamantina, pelo Grupo Una, subdividido nas
formações Bebedouro e Salitre (Inda & Barbosa,
1978).
Grupo Santo Onofre
Conforme proposto por Danderfer Fo (2000), este
grupo é subdividido em três formações distintas assim
denominadas da base ao topo: Canatiba, Boqueirão e
João Dias, correlacionáveis à Formação Bebedouro,
na Chapada Diamantina, e ao Grupo Macaúbas, na
serra do Espinhaço Meridional. O Grupo Santo Onofre
reúne um conjunto de conglomerados, arenitos e pelitos
carbonosos, com espessura total superior a quatro mil
metros. Sobrepõe-se em discordância erosiva e
angular, aos sedimentos do Supergrupo Espinhaço. A
sua deposição estaria associada a processos
envolvendo fluxos gravitacionais em ambiente
lacustre-marinho profundo (Danderfer Fo, 2000), sem
a presença de litofácies que indiquem influência
glaciogênica.
Grupo Una
Formação Bebedouro – é constituída por
diamictitos com matriz grauváquica, arcosiana e
quartzoarenítica, na qual flutuam seixos e matacões
de composições variadas; quartzoarenitos, grauvacas
e arcóseos; e pelitos com ou sem clastos associados.
Os contatos entre estas subunidades variam de
erosivos a gradacionais.
Persistem as controvérsias sobre as relações de
contato da Formação Bebedouro com as unidades da
6
Arquivos Abertos 29
Formação Salitre. Para Neves (1968) e Guimarães &
Pedreira (1990), os contatos são dos tipos concordantes
e gradacionais, enquanto, para Montes (1977) e Misi
(1979), são discordantes e erosivos, fato confirmado
por Guimarães (1996). O ambiente deposicional da
Formação Bebedouro seria do tipo plataformal marinho,
com influência glaciogênica (Guimarães, 1996) e
associado com processos do tipo fluxo de detritos
subaquáticos, correntes de turbidez de alta e baixa
concentração, derretimento de icebergs e, localmente,
processos eólicos. Em rochas pelíticas da Formação
Bebedouro, Macedo & Bonhomme (1981; 1984)
obtiveram idades Sr/Sr de 960 ± 31Ma, K/Ar entre
901 ± 21Ma e 876 ± 20Ma, Rb/Sr e Sr/Sr variando
entre 932 ± 30Ma e 911 ± 27Ma. Tais idades foram
interpretadas como marcadoras da fase diagenética.
Formação Salitre – é representada por um
conjunto de litofácies carbonáticas que se alternam
com pelitos (Inda & Barbosa, 1978; Misi, 1993;
Dominguez, 1996; Guimarães, 1996; Meneses Fo,
1996). As estruturas sedimentares comuns são a
laminação plano-paralela, estratificações cruzadas dos
tipos hummocky e planar, e marcas de ondulação e
tepees. Seu ambiente de deposição é marinho raso,
do tipo rampa carbonática, com constante agitação de
ondas em planície de maré (Leão & Dominguez, 1992
e Leão et al., 1992). Datações Rb/Sr dos carbonatos
da Formação Salitre indicam deposição entre 750 e
850Ma (Macedo & Bonhomme, 1984; Toulkeridis et
al., 1999). Já os resultados dos estudos isotópicos
realizados por Misi & Veizer (1996) indicam um
intervalo de deposição para a Formação Salitre entre
700 e 560Ma.
3.1.5 – Terciário-Quaternário (Neogeno)
Na área do Projeto Lagoa Real, Costa et al. (1985)
se referem ao Terciário-Quaternário como manchas
de material areno-argiloso, inconsolidado, de natureza
detrítica, em parte, residual. Esses terrenos, com base
em valores de cotas e nas formas de relevo, foram
correlacionados aos ciclos erosivos Sul-Americano e
Velhas, de King. Referem-se também a segmentos
alúvio-coluviais, quaternários, relacionados ao Ciclo
Paraguaçu. Enquanto os sedimentos terciários são mais
afeitos a platôs, os quaternários ocorrem nos leitos de
rios e riachos (alúvios) e encostas (colúvios). O
Terciário-Quaternário é constituído por sedimentos
inconsolidados: areias, siltes, argilas e cascalhos.
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4 – GEOL OGIA DO COMPLEX

GEOLOGIA COMPLEXOO LA GO
LAGO
GOAA REAL

O
Complexo Lagoa Real (Costa et al., 1985)
abrange a Suíte Intrusiva Lagoa Real
(Arcanjo et al., 2000), que reúne um
conjunto de granitos – dos quais se derivam gnaisses e
albititos –, bem como rochas diabásicas, gabróicas e
periclasíticas, que ocorrem no vale do Paramirim, desde
o paralelo 13º30’S, na altura da cidade de Paramirim,
até o paralelo 14º24’S, a norte da cidade de Caculé,
com extensão da ordem de 112 quilômetros. Em
imagens de satélites e aerofotos verticais, as litologias
do complexo distinguem-se facilmente daquelas que
compõem a infra-estrutura envolvente. Enquanto as
rochas gnáissicas do Complexo Lagoa Real são
realçadas em cristas alongadas de direção NNW-SSE,
os ortognaisses e migmatitos do embasamento
compõem um relevo suave, rebaixado.
As rochas do Complexo Lagoa Real são
circundadas por ortognaisses migmatíticos do
Complexo Paramirim (Jardim de Sá, 1978a; 1978b) e
por terrenos que constituem os greenstone belts de
Ibitira-Ubiraçaba (Cunha et al., 1996a; 1996b) e
Umburanas (Cunha & Fróes, 1994), ambos de idade
arqueana (Leal, 1998; Leal et al., 1998; Cunha et al.,
1996a; 1996b). No vale do Paramirim, o contato do
Complexo Lagoa Real com as rochas da infra-
estrutura se faz através das zonas de cisalhamento
Licínio de Almeida, a oeste, e São Timóteo, a leste. O
caráter intrusivo do complexo é evidenciado pela
existência de xenólitos e enclaves de rochas do
embasamento. Em função de características
litológicas e estruturais, o Complexo Lagoa Real, no
vale do Paramirim, foi dividido em três setores
distintos (figura 3).
Setor I: parte situada entre o extremo norte do
complexo (paralelo 13º30’S) e a zona de transferência
Itanajé (paralelo 13º45’S);
Setor II: parte situada entre a zona de transferência
de Itanajé e a zona de cisalhamento Brumado-Caetité
(entre os paralelos 13º45’S e 14º10’S);
Setor III: parte situada entre a zona de
transferência Brumado-Caetité e a cidade de Caculé
(entre os paralelos 14º10’S e 14º24’S).

Figura 3 - Domínios estruturais do Complexo Lagoa Real no vale do rio Paramirim. BG - Bloco Gavião, BJ - Bloco
Jequié, CD - Chapada Diamantina, ES - Espinhaço Setentrional. Modificado de Cruz (2004).
Figure 3 – Structural domains of Lagoa Real Complex in the Paramirim River Valley. BG – Gavião Block, BJ – Jequié
Block, CD – Chapada Diamantina, ES – Northern Espinhaço. Modified from Cruz (2004).

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No Complexo Lagoa Real, além de uma série de
granitóides, foram individualizados gnaisses, albititos,
microclinitos, oligoclasitos, epidositos e periclasitos
(megaenclaves), anfibolitos e diabásios. Por conta de
uma foliação milonítica desenvolvida de forma
heterogênea, observa-se, na região, um arranjo
delineado pela alternância entre granitóides isotrópicos
e faixas deformadas que reúnem granitóides foliados,
gnaisses, albititos, microclinitos, oligoclasitos e
epidositos.
4.1 – GRANITÓIDES LAGOA REAL
Os granitóides ocorrem, principalmente, nos
setores I e II, com geometria que varia de amendoada
a fusiforme. Suas dimensões são variáveis, com
máximas da ordem de dez por quatro quilômetros de
diâmetro. A composição varia de diorito a granito,
passando por monzonito, sienito, sienogranito, álcali-
feldspatossienito, quartzo-álcali feldspatossienito e
álcali-feldspatogranito. Os granitóides estão imersos
em rochas gnáissicas do Complexo Lagoa Real, para
os quais passam de forma gradual ou brusca. Diques
ou apófises dos granitóides podem ser encontrados no
embasamento.
A nomenclatura Granitóides Lagoa Real proposta
por Cruz substitui a denominação de Fernandes (1982),
aplicada aos granitos da região. Para Cruz (2004), os
granitóides Lagoa Real passam a reunir duas fácies
distintas de granitóides, separados a partir de
diferenciações texturais entre cada um deles: o São
Timóteo, stricto sensu, e o Jurema.
4.1.1 – Granitóides São Timóteo
São rochas hololeucocráticas a leucocráticas,
cinza-róseo a cinza-azulado, portadoras de fácies
porfirítica e cumulática. Texturas granofírica e piterlítica
s ã o f r e q ue n t e s . A c o m p o s i ç ã o v a r i a e n t r e
s i e n í t i c a , alcalifeldspatossienítica, quartzo-
alcalifeldspatossienítica, alcalifeldspatogranítica e
sienogranítica. Na fácies porfirítica predomina a
composição sienogranítica, e, na cumulática a
alcalifeldspatossienítica.
Tanto a fácies porfirítica como a cumulática
exibem textura fanerítica grossa e muito grossa a
pegmatoidal. Nas rochas porfiríticas, anisotrópicas, o
fenocristal dominante é o feldspato alcalino, que varia
de subédrico a um arredondado, muitas vezes, ovóide.
Fenocristais de plagioclásio também ocorrem. O
tamanho dos pórfiros varia de três a doze centímetros
de diâmetro maior, mas pode chegar a cinco. A foliação
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Arquivos Abertos 29
primária é desenhada por um fluxo magmático. A matriz,
que varia de fanerítica média a fina, isotrópica, é
constituída pelos minerais: quartzo, feldspato alcalino,
plagioclásio – essenciais –, biotita e anfibólio – varietais.
Na fácies cumulática, de trama primária isotrópica,
feldspato alcalino, com diâmetros entre um e 1,5
milímetro, constitui o cumulato, enquanto quartzo,
feldspato alcalino, plagioclásio, biotita e anfibólio
compõem a matriz intercúmulo – composição igualável
à da matriz da fácies porfirítica.
As fotos 1a-c exibem os estágios da deformação
do Granitóide São Timóteo.
4.1.2 – Granitóides Jurema
São rochas hololeucocráticas a leucocráticas, de
cores variando entre creme-acinzentado e cinza-
azulado, portadoras da fácies porfirítica e fanerítica
média. Sua composição é semelhante à dos Granitóides
São Timóteo, com variações entre sienito,
alcalifeldspatossienito, quartzo-alcalifeldspatossienito,
alcalifeldspatogranito e sienogranito, com predomínio
do sienogranito na fácies porfirítica. Na fácies fanerítica
média ocorrem sienogranitos, alcalifeldspatogranito,
quartzo-alcalifeldspatossienito e quartzossienitos. A
biotita predomina sobre anfibólio e, juntos, chegam a
constituir 18% da rocha. Não há um contato nítido entre
os granitóides São Timóteo e Jurema, uma vez que a
transição entre ambos é gradacional.
As rochas da fácies porfirítica são anisotrópicas e
apresentam fenocristais de feldspato alcalino e de
plagioclásio, que raras vezes ultrapassam dois
centímetros de diâmetro maior, arranjados em uma
foliação primária de fluxo magmático. A matriz da
fácies porfirítica possui textura fanerítica média a fina,
equigranular, isotrópica. É constituído por feldspato
alcalino, plagioclásio, quartzo, biotita, anfibólio e minerais
acessórios em proporções variadas. Nas rochas da
fácies fanerítica média, equigranular, predomina a trama
isotrópica. A sua composição é semelhante à da matriz
das rochas porfiríticas.
4.1.3 – Granitóides foliados e gnaisses
As rochas assim denominadas originaram-se de
deformações dos granitóides da região de Lagoa Real,
afetados por cisalhamento dúctil. Além da
gnaissificação, as zonas de cisalhamento deram
margem à formação de litotipos monominerálicos,
denominados albititos, oligoclasitos e microclinitos,
conforme a variedade feldspática dominante, sempre
em números superiores a 70% da composição da
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variedade litológica neoformada. Complexo Lagoa Real em todo o vale do Paramirim.

Protomilonitos (granitos foliados), milonitos (augen
gnaisses) e ultramilonitos (gnaisses foliados, albititos,
oligoclasitos e microclinitos), conforme a definição de
Sibson (1977), registram a deformação sinmetamórfica
que acarretou a inversão do Aulacógeno do Paramirim.
A transição entre granitóides ainda homófanos e rochas
apenas foliadas a gnaissificadas pode ser percebida
tanto em escala de afloramento como até na
microscópica, onde se alternam variáveis conteúdos
de plagioclásio, quartzo, biotita, anfibólio, magnetita e
alcalifeldspatos.
Os gnaisses representam a feição dominante do
As maiores variações litológicas verificam-se nas
regiões compreendidas entre a zona de transferência
Itanajé e a zona de cisalhamento Brumado-Caetité.
Foram agrupados em quatro fácies características dos
diferentes estágios de deformação. Cada uma delas
foi nomeada com base na toponímia geográfica de cada
setor: Granitóides foliados Pilões, gnaisses Cercado,
gnaisses Lagoa Grande e gnaisse Caetité. No caso
dos protomilonitos, é possível verificar não só texturas
primárias reliquiais, de caráter magmático, como
também, feições metamórficas também encontradas
nos próprios granitóides.

Fotos 1a-f - Estágios de deformação do granitóide São Timóteo, até tornar-se um gnaisse fitado: a) granitóide
praticamente intacto; b) granito foliado Pilões (Setor IV); c) transição entre o granito foliado Pilões e o gnaisse Lagoa
Grande (Setor IV); d) gnaisse Lagoa Grande (Setor II); e) transição entre o gnaisse Lagoa Grande e o gnaisse Caetité
(Setor II); f) gnaisse Caetité (Setor III). A deformação cresce de 1a para 1f. As fotos 1a, b, c, d, f são vistas em planta.
Apenas a foto 1e registra um perfil
Photos 1a-f – Deformation stages of São Timóteo granitoid until then it becomes a ribboned gneiss: a) almost intact
granitoid; b) Pilões foliated granite (Sector IV); c) transition between the Pilões foliated granite and the Lagoa Grande
gneiss (Sector IV); d) Lagoa Grande gneiss (Sector II); e) transition between the Lagoa Grande gneiss and the Caetité
gneiss (Sector II); f) Caetité gneiss (Sector III). The strain increases from 1a up to 1f. Photos 1a, b, c, d and f are plan
viewed. Only the photo 1e shows a profile.

Granitóides foliados Pilões Brumado-Caetité (setor II). Corpos menores ocorrem

São rochas de cor creme-alaranjado a cinza-
azulado que englobam um conjunto de granitóides
foliados, cujo protólito é o Granitóide São Timóteo (foto
1b). No vale do Paramirim encontram-se entre a zona
de transferência Itanajé e a zona de cisalhamento
também a norte da zona de transferência Itanajé (setor
I - figura 3).
A sua composição é semelhante à dos granitóides
São Timóteo: sienítica, alcalifeldspatossienítica, quartzo-
alcalifeldspatossienítica, alcalifeldspatogranítica e
sienogranítica. O mineral varietal mais comum é a

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biotita, seguida do anfibólio. Juntos, estes minerais só
raras vezes ultrapassam 20% da composição modal
do granitóide.
Nestas rochas, texturas metamórficas e
deformacionais coexistem com feições reliquiais do
protólito ígneo. Elas exibem textura fanerítica grossa,
e muito grossa a pegmatoidal, com fenocristais reliquiais
do granitóide, imersos em matriz fanerítica média. Em
afloramento, a relação porfiroclastos/matriz é maior
que 1 e, desta forma, a textura cumulática pode ser
encontrada. Os fenocristais medem em torno de cinco
centímetros, com variações semelhantes àquela
encontrada no Granitóide São Timóteo. Os
porfiroclastos de feldspato são fortemente alongados
nas seções XZ e XY e arredondados no plano YZ. No
plano XY, coincidente com a foliação metamórfica, o
eixo maior dos porfiroclastos define a lineação mineral.
Neste plano, o feldspato chega a medir dez centímetros
de comprimento. Sombras de pressão, que se
desenvolvem de forma assimétrica ao longo da foliação,
são constituídas por agregados de feldspatos
recristalizados e quartzo.
Nesses granitóides, bandamento metamórfico e
lineação de estiramento não estão bem desenvolvidos.
Em geral, ainda ocorre um forte controle dos
porfiroclastos na distribuição dos novos grãos, produto
da recristalização sintectônica. Podem ser observados
aglomerados lenticulares e descontínuos de grãos
recristalizados de feldspato alcalino, plagioclásio, quartzo
e por vezes, biotita e magnetita, com variáveis
proporções entre eles. Esses aglomerados distribuem-
se em meio às porções menos deformadas, e não
chegam a formar um bandamento metamórfico. A
foliação metamórfica-deformacional desenvolveu-se de
forma moderada, apresentando-se, porém, de forma
anastomótico, descontínua e contornando os
porfiroclastos de feldspato. Estruturas S/C são
observadas, sendo que o ângulo médio entre essas
estruturas varia entre 30 e 40o.
Gnaisses Cercado
São rochas creme-rosado a cinza-rosado, que
ocorrem no vale do Paramirim (Setor I), no norte da
zona de transferência de Itanajé, onde se distribuem
pela maior parte da área de ocorrência do Complexo
Lagoa Real, representam as fácies de deformação
cataclástica do Granitóide São Timóteo. A composição
varia entre sienítica, alcalifeldspatossienítica, quartzo-
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Arquivos Abertos 29
alcalifeldspatossienítica, alcalifeldspatogranítica e
sienogranítica, com predomínio da sienogranítica. As
quantidades de plagioclásio, quartzo e microclina
variam entre 5-20%, 5-32% e 50-85%,
respectivamente. A biotita e o anfibólio, juntos, não
ultrapassam 12% da composição da rocha.
As feições do protólito foram amplamente
substituídas pela trama metamórfico-deformacional.
A existência de uma textura cataclástica que envolve
os feldspatos é o principal fator de diferenciação em
relação aos outros gnaisses. Quando presente, o
bandamento metamórfico, pouco desenvolvido, é
lenticular e descontínuo. Está marcado por níveis
finamente espaçados (bandas inferiores a dois
milímetros), e são constituídos por proporções variáveis
de: (i) fragmentos de feldspato alcalino e plagioclásio;
(ii) novos grãos e porfiroclastos de quartzo; (iii) biotita
e/ou anfibólio; e (iv) fragmentos de feldspato alcalino
e quartzo. A foliação e a lineação de estiramento são
bem desenvolvidas nessas rochas. A foliação é
anastomótica, descontínua e ocorre contornando os
porfiroclastos de feldspato alcalino, plagioclásio, bem
como o bandamento metamórfico. Estruturas S/C são
observadas, sendo que o ângulo médio entre essas
estruturas varia entre 20 e 25o.
Gnaisses Lagoa Grande
São augen gnaisses de coloração creme-alaranjado,
creme-amarelado, cinza-rosado e cinza-castanho. No
vale do Paramirim são encontrados, principalmente,
no setor II, contudo, corpos desses gnaisses com
dimensões menores podem ser observados no setor
III (figura 3). Fazem parte de um conjunto de rochas
miloníticas geradas a partir do Granitóide São Timóteo.
A composição varia entre sienítica,
alcalifeldspatossienítica, quartzo-
alcalifeldspatossienítica, alcalifeldspatogranítica e
sienogranítica, com predomínio, uma vez mais, da
litologia sienogranítica.
As proporções da microclina, do plagioclásio e do
quartzo variam entre 55-85%, 5-25% e 5-32%,
respectivamente. Cristais de biotita, magnetita,
anfibólio, piroxênio e granada, juntos, raramente
ultrapassam 20%. As feições do protólito ígneo foram
totalmente obliteradas pela trama deformacional. De
maneira geral, os feldspatos apresentam-se fortemente
estirados e recristalizados. Extensos mantos de novos
Arquivos Abertos 29
grãos poligonais podem ser observados contornando
porfiroclastos, e diferenciam do Granitóide foliado
Pilões devido à presença do bandamento metamórfico,
de ribbons policristalinos de quartzo e pela presença
de dobras isoclinais envolvendo as estruturas planares.
O bandamento metamórfico, descontínuo em todas
as escalas de observação, é formado pela superposição
lateral de níveis lenticulares constituídos por: (i)
microclina, quartzo, magnetita, biotita e/ou hornblenda;
(ii) albita, biotita e/ou hornblenda, magnetita; (iii) albita,
(iv) quartzo. São comuns, entretanto, níveis
constituídos, exclusivamente, por feldspato alcalino,
plagioclásio e quartzo, em forma de ribbons.
A foliação metamórfica e a lineação de estiramento
estão francamente desenvolvidas no Gnaisse Lagoa
Grande. A foliação espaçada e descontínua é, em geral,
paralela ao bandamento metamórfico, salvo nas zonas
de charneiras e superiores dos limbos das dobras
isoclinais. Estruturas S/C são observadas e o ângulo
médio entre estas foliações varia de 15 a 25o.
Gnaisses Caetité
Esses gnaisses ocorrem nos setores II e III do vale
do Paramirim, porém, é no setor III que constituem a
principal unidade aflorante. São milonitos e
ultramilonitos na cor cinza-esverdeado e creme-
acinzentado, gerados a partir da deformação
progressiva dos granitóides São Timóteo e
d o s gnaisses Lagoa Grande. A composição
sienogranítica também aqui predomina, entre
variações sienítica, alcalifeldspatossienítica, quartzo-
alcalifeldspatossienítica e alcalifeldspatogranítica, com
proporções variáveis de biotita e hornblenda. As
quantidades de plagioclásio, quartzo e microclina variam
entre 5-45%, 12-30% e 5-85%, respectivamente.
Cristais de biotita, piroxênio, granada e anfibólio,
quando juntos, raramente ultrapassam 20%.
Ribbons policristalinos de quartzo e de feldspato
alcalino são bem desenvolvidos. Na direção transversal
aos ribbons de quartzo ocorre, em média, apenas um
grão. O contato entre os grãos de quartzo é reto a
levemente ondulado, com orientação ortogonal à
foliação principal. A foliação se forma no interior dessas
estruturas, é bem desenvolvida e orienta-se em baixo
ângulo com as suas bordas. Os ribbons de quartzo
apresentam razão axial média em torno de 15:1 e seus
grãos individuais em torno de 3:1. Nos ribbons de
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feldspato alcalino e plagioclásio, os grãos variam entre
poligonais e alongados, com bordas ligeiramente
onduladas. Também neste caso, as feições do protólito
ígneo foram totalmente obliteradas. Os feldspatos
estão, de forma geral, bem recristalizados. A principal
diferença entre os gnaisses Caetité e os gnaisses Lagoa
Grande é a presença de um bandamento metamórfico
muito bem desenvolvido, contínuo ao longo de sua
extensão e disposto paralelamente à foliação principal.
Além disso, nessas rochas existe uma grande profusão
de dobras isoclinais envolvendo o bandamento
metamórfico.
O bandamento metamórfico é bem desenvolvido,
com largura variando de milimétrica a centimétrica.
Essa estrutura está marcada pela presença de níveis
contínuos constituídos por proporções variáveis de
microclina, quartzo, biotita e/ou hornblenda. Níveis
milimétricos de albita e de microclina podem ser
também observados. A foliação e a lineação de
estiramento são bem desenvolvidas no Gnaisse Caetité.
A foliação metamórfica principal é planar e contínua,
e dispõe-se paralelamente ao bandamento
metamórfico. O ângulo médio entre as estruturas S/C
varia de 0 a 10o.
4.1.4 – Rochas monominerálicas
Albititos, microclinitos e oligoclasitos são as rochas
monominerálicas descritas por Cruz et al.. Em todas
elas, o conteúdo do mineral dominante é superior a
70%. Há uma nítida associação entre estas rochas e
os granitóides e gnaisses do Complexo Lagoa Real.
Tal associação é repetitiva em todas as escalas de
observação – megascópicas a microscópicas.
Albititos
Os albititos do Complexo Lagoa Real que afloram,
principalmente, entre o distrito de Maniaçu e a cidade
de Caetité, apresentam coloração cinza-esbranquiçado
e aspecto sacaroidal (foto 2) Como constituem a
principal rocha hospedeira da mineralização de urânio,
têm sido estudados por diversos autores, entre os quais
Sobrinho et al. (1980), Costa et al. (1985), Raposo &
Matos (1982), Lobato et al. (1983), Lobato (1985),
Brito et al. (1984), Ribeiro et al. (1984), Maruèjol
(1987), Lobato & Fyfe (1990)
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Foto 2 - Afloramento de albitito mineralizado em urânio
na Mina Cachoeira, setor II, município de Caetité
Photo 2 – Outcrop of Uranium-rich albitite in the Cachoeira
Mine, Sector II, Caetité municipality
Prates & Fuzikawa (1984) classificaram-nos com
base no percentual de albita superior a 70%, critério
adotado por Cruz et al. (2004). Os albititos, agrupados
nas diversas categorias dos gnaisses acima descritos,
foram subdivididos em mineralizados (albititos I) e não
mineralizados (albititos II). Além disto, foram
discriminados de acordo com a abundância de minerais
varietais, na seguinte forma: anfibolioalbitito,
piroxenioalbitito, magnetita-hematita-albitito, biotita-
albitito, granada-albitito e variações entre estas
variedades.
Os albititos formam corpos lenticulares,
fusiformes, descontínuos, de larguras e comprimentos
variáveis, desde milimétricos. Os de maior comprimento
atingem até centenas de metros. Há registros de corpos
com até 480 metros de comprimento por trinta de
12
Arquivos Abertos 29
largura, e que podem alcançar a profundidade máxima
de 850 metros (Ribeiro et al. 1984). O contato destas
rochas, com as encaixantes pode ser brusco na maioria
das vezes, ou gradacional.
Observa-se um paralelismo entre os corpos
albitíticos e as estruturas compressionais, D p1 ,
impressas nos gnaisses Lagoa Real. Muitas vezes, os
albititos estão estirados e budinados. Nas regiões de
estiramento máximo há o desenvolvimento de dobras
sobre a foliação das rochas encaixantes dos albititos,
cujas charneiras são ortogonais à lineação de
estiramento mineral (figura 4).
Em conjunto, a distribuição das rochas albitíticas
do complexo em questão delineia no vale do Paramirim
uma estrutura em arco -, o Arco de Lagoa Grande
(figura 5) com concavidade voltada para oeste, e onde
se registra uma radioatividade anômala (Stein et al.,
1980; Sobrinho et al., 1980; Ribeiro et al., 1984; Costa
et al., 1985). Nesta área, estão associadas com os
gnaisses Caetité e Lagoa Grande.
As texturas mais encontradas nas rochas albitíticas
são a fanerítica fina a grossa, inequigranular,
porfiroclástica, granoblástica poligonal, e
nematoblástica, marcada pela orientação do anfibólio
e do piroxênio, e lepidoblástica, marcada pela orientação
da biotita. Os minerais acessórios mais comuns nessas
rochas são microclina, quartzo, biotita, granada,
anfibólio, magnetita, hematita, titanita, epidoto e calcita.
Os minerais máficos formam, em geral, aglomerados
lenticulares. Porfiroclastos de feldspato potássico e
plagioclásio podem ser encontrados com textura ocelar
(augen) e mortar.
Figura 4 - Configuração esquemática de albititos em boudins
Figure 4 – Schematic configuration of albitites in boudins
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Figura 5 - Bloco diagrama mostrando o Arco de Lagoa Grande, no Setor II da área de ocorrência do Complexo Lagoa
Real. ST-São Timóteo, LR-Lagoa Real, LG-Lagoa Grande, MB-Monsenhor Bastos (Acabajá)
Figure 5 – Block diagram showing the Lagoa Grand Arc in Sector II of Lagoa Real Complex area. ST – São Timóteo;
LR – Lagoa Real; LG – Lagoa Grande; MB – Monsenhor Bastos (Acabajá)

O plagioclásio dos albititos é inequigranular, minerais máficos, ricas em piroxênio e granada. Um

xenoblástico, e com tamanho médio em torno de
300mm. Apresenta geminação albita e possui bordas
retas, porém bordas curvas a interlobadas são também
comuns. Sua extinção é fraca a moderadamente
ondulante. Os grãos poligonais podem apresentar
inclusões de piroxênio, granada, fluorita, magnetita,
anfibólio, quartzo granular, apatita, titanita, uraninita e
zircão. Os teores de anortita variam entre 0,89-8,93%,
típicos da albita.
A microclina é em geral xenoblástica, em
agregados poligonais com granulação entre 300 e
400mm, conquanto fenocristais reliquiais sejam também
encontrados. A geminação é periclina, e a extinção
varia de fraca a moderadamente ondulante. Os outros
minerais dos albititos são quartzo (máximo de 20%),
biotita, anfibólio, piroxênio, granada e titanita.
Os corpos de albitito podem ter um ou mais níveis
mineralizados em urânio (uraninita). A uraninita
apresenta aspecto submetálico a fosco, alterada para
uranofana. Ocorre isolada e disseminada, ou em
bolsões. Nos dois casos, associa-se com faixas de
aspecto relevante é que a presença de uraninita está
diretamente relacionada com a de hematita (foto 3).
A uraninita aloja-se, de preferência, em albititos em
que a transformação da magnetita em hematita
ocorreu de forma mais extensiva. Nos corpos
mineralizados com urânio, a associação mineralógica
mais característica é constituída, principalmente, por
granada e hematita e, subordinadamente, por granada,
piroxênio, magnetita e hematita. Os cristais de
uraninita ocorrem em pequenos grãos, com tamanhos
em torno de 20 a 30mm. Muitas vezes, estão inclusos
em minerais máficos, como granada, biotita e
piroxênio, e também na albita. Os grãos apresentam-
se arredondados e, raras vezes, cúbicos, provocando
halos pleocróicos e microfissuras nos minerais
hospedeiros. A uraninita, em inspeção macroscópica,
pode ser observada em massas ou filetes concordantes
com a foliação e seguindo a lineação de estiramento.
A uranofana ocorre em microvênulas instaladas em
minerais máficos ou contornando cristais de
plagioclásio.

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Foto 3 - Fotomicrografia: associação entre uraninita (U) e
Hematita (He) em albititos do Complexo Lagoa Real,
Setor II. Ab- Albita. Luz refletida
Photo 3 – Photomicrograph: association between uraninite
(U) and hematite (He) in albitites of Lagoa Real Complex,
Sector II. Ab – Albite. Reflected light
Microclinitos
Estas rochas, de cor rósea a creme-rosado, com
percentual de microclina acima de 70%, ocorrem, de
preferência, na parte central da área de afloramentos
do Complexo Lagoa Real, no vale do Paramirim. Estão,
em via de regra, associadas aos albititos. Da mesma
forma que os albititos, formam corpos descontínuos de
geometria fusiforme, e podem estar budinados. O
contato com as rochas encaixantes é brusco. A
alternância cíclica entre microclinitos, albititos,
epidositos, oligoclasitos e os gnaisses Caetité e Lagoa
Grande sugere relações genéticas entre estas litologias.
As larguras dos corpos variam entre alguns centímetros
e cerca de dois metros. As texturas comumente nelas
observadas são a fanerítica média a grossa,
inequigranular, granoblástica poligonal e mortar.
A microclina é xenoblástica, granular, e forma
agregados poligonais com granulação média – em torno
de 300mm. Cristais alongados com razão axial em
torno de 2:1 podem também ser encontrados. A
microclina contém inclusões de quartzo e biotita verde.
Análises químicas revelaram teores de albita, anortita
e ortoclásio, compreendidos entre 8,42-11,39%; 0,05-
0,15%; 88,46-91,53%, respectivamente. Os minerais
varietais mais comuns nos microclinitos são biotita
verde, titanita, piroxênio, anfibólio e magnetita. Estes
minerais, quando juntos, raramente ultrapassam 15%.
A foliação e a lineação de estiramento são marcadas
pela orientação de minerais como microclina, piroxênio,
biotita e anfibólio.
14
Arquivos Abertos 29
Oligoclasitos e epidositos
No Complexo Lagoa Real é comum a presença
de corpos de oligoclasitos e epidositos em intercalações
alternadas. O contato entre eles é, em geral,
gradacional. Os epidositos, via de regra, encontram-se
alojados em zonas de cisalhamento distensionais.
Os oligoclasitos são esbranquiçados, com
proporções de oligoclásio superiores a 70%. Formam
corpos lenticulares em intercalações alternadas com
níveis de albititos, microclinitos e gnaisses do Complexo
Lagoa Real. As espessuras variam de milimétrica a
métrica, e as texturas variam entre granoblástica,
fanerítica média, inequigranular e isotrópica. O
plagioclásio é xenoblástico, e ocorre em cristais
poligonais. O teor de anortita do plagioclásio varia entre
16,9 e 17,38%, e o de albita, entre 81,41 e 83,18%.
Uma parte dos corpos lenticulares com teores anômalos
de urânio e que foram incorporados aos albititos por
Costa et al. (1985), é, na realidade, de oligoclasitos.
Os epidositos, que ocorrem, de preferência, no
setor II do Complexo Lagoa Real, são de cor verde a
verde-amarelada, com mais de 70% de epidoto na
composição. Neles, o teor de anortita encontrado no
plagioclásio varia entre 16,48 e 17,38%, e o de albita,
entre 80,63 e 82,42%, o que implica tratar-se de
oligoclásio. A mineralogia varietal nessas rochas é
constituída por quartzo, anfibólio, piroxênio, titanita,
fluorita, apatita, monazita, magnetita, hematita e
microclina. Já a mineralogia de alteração metamórfica
regressiva inclui epidoto e calcita. O epidoto é
xenoblástico, granular, variando entre 80mm e dois
milímetros.
Algumas vezes, a transformação do oligoclásio é
tão intensa que passa a constituir níveis ricos em epidoto,
ou seja, epidositos. O epidoto substitui também a
granada, piroxênio e anfibólio. A calcita, que substitui
o plagioclásio, anfibólio e piroxênio é, ora xenoblástica,
ora idioblástica. Muitas vezes ocorre mimetizando o
hábito do mineral por ela substituído, ou forma
aglomerados que truncam a foliação principal. A sua
presença está associada, de preferência, a zonas de
cisalhamento distensionais tardias, da fase De.
Anfibolitos
Formam corpos tabulares, com larguras que variam
entre 0,3 e 25 metros, distribuídos em toda a extensão
Arquivos Abertos 29
do Complexo Lagoa Real. Hornblenda, biotita e
plagioclásio ocupam, respectivamente, 45-55%, 5-15%
e 25-45% da composição modal da rocha. São
mesocráticos, apresentam coloração verde-escura a
preto-esverdeada, e texturas fanerítica média,
equigranular, nematoblástica, marcada pela orientação
da hornblenda, e anisotrópica. Cristais tabulares de
plagioclásio e a textura ofítica, envolvendo plagioclásio
e anfibólio e/ou piroxênio, assinalam o registro de
texturas magmáticas reliquiais da rocha-protólito.
Os anfibolitos exibem foliação metamórfica bem
desenvolvida, marcada pela orientação planar da
hornblenda.
Diabásio
São rochas mesocráticas, com coloração preto-
esverdeada a verde-escura, e ocorrem em corpos
5 – ANÁLISES DE QUÍMICA MINERAL
A
nálises químicas dos porfiroclastos de
feldspato alcalino e plagioclásio não
revelaram diferenças significativas na
composição dos minerais quando comparados aos
resultados dos granitos, gnaisses e microclinitos do
Complexo Lagoa Real. Entretanto, nas rochas
periclasíticas, fortes discrepâncias são encontradas nos
feldspatos que se apresentam muito mais ricos em
sódio. Para o alcalifeldspato, nota-se uma composição
semelhante para os grãos em gnaisses e granitos, sendo
esta discrepante nos periclasitos.
As pertitas metassomáticas e as coroas de
substituição no plagioclásio foram plotadas
separadamente para amostras de granitóides e gnaisses
do Complexo Lagoa Real. Nos gnaisses, de maneira
geral não foram verificadas variações no conteúdo de
albita entre as pertitas e os novos grãos poligonais de
plagioclásio. Não há variações significativas do
conteúdo de albita quando comparadas às porções
albitizadas do porfiroclasto de microclina e os grãos
poligonais que formam o manto de novos grãos ao seu
redor. O mesmo ocorre quando comparados o conteúdo
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tabulares, descontínuos, com espessuras máximas de
doze metros. São constituídas por plagioclásio (45-
60%), hornblenda (15-35%), biotita (5-12%) e augita
(0-5%). As texturas são holocristalina, fanerítica fina
a média, equigranular, isotrópica e ofítica. Apresentam-
se truncando ou sendo truncados pela foliação presente
nas suas encaixantes. Possuem orientações NNE/SSW
e WSW-ENE.
Enclaves e xenólitos
Enclaves de gnaisses e migmatitos de composição
TTG, anfibolitos, piroxenitos, diabásios, biotitaxistos e
periclasitos ocorrem imersos em granitos e gnaisses
do Complexo Lagoa Real. Possuem dimensões e
formas bastante variáveis, na maioria das vezes não
cartografáveis na escala de trabalho adotada por Cruz
et al. (2004).
de microclina entre o porfiroclasto e os novos grãos
gerados pela sua recristalização.
Comparando-se a composição química da biotita
de periclasito, granitóides, gnaisses e albititos, pode
ser observado que existe uma tendência ao aumento
relativo no conteúdo em Fe +3 /Fe +2 e Mg e uma
diminuição em Fetotal e Ti e nas razões de Fetotal/Mg e
Fe total/(Fe total + Mg) em direção às porções mais
deformadas, independentemente de terem sido
gerados corpos mineralizados ou não. Além disso, não
são observadas variações significativas para a
distribuição dos elementos maiores quando
comparados aos albititos mineralizados com os não
mineralizados. Nos diagramas da figura 5.1 é possível
observar que a composição da biotita das rochas
periclasíticas é bem discrepante da composição
desses minerais quando presentes nas rochas
graníticas. De maneira geral, nos periclasitos, a biotita
que compõe a matriz (Biotita I) é mais rica em Mg e
mais pobre em Fetotal do que aquelas analisadas nos
granitos. O teor em Ti, entretanto, é semelhante entre
os indivíduos daquelas rochas.
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Periclasitos

Figura 6 – Variação de Fe+2, Fet, Fet/Mg, Fet/Fet+Mg, Mg e Ti para a biotita dos granitóides, gnaisses, albititos e
periclasitos do Complexo Lagoa Real
Figure 6 – Variation of Fe+2, Fet, Fet /Mg, Fet /Fet+Mg, Mg and Ti for the biotite of granitoids, gneisses, albitites and
periclasites of Lagoa Real complex

Nos diagramas da relação Fetotal /Mg entre biotita rochas em que foram analisados, sugerindo que uma
verde e piroxênio e entre biotita verde e anfibólio parte das biotitas pode ter-se formado a partir da
(figura 7a-c), há uma forte correlação entre as alteração retrometamórfica do piroxênio e do
assinaturas químicas desses minerais nas diversas anfibólio.

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Figura 7a-c – Razões iônicas Fet / Mg e Fet / Fe+Mg entre biotita, anfibólio e piroxênio
Figure 7a-c - Fet / Mg and Fet / Fe+Mg ratios among biotite, amphibole and pyroxene

Quanto ao anfibólio, de modo geral, em todas as
rochas estudadas não foi encontrado indício de um
zoneamento composicional marcante. Comparando
sua composição em granitóides, gnaisses e albititos,
observa-se que existe uma tendência ao aumento nas
razões de Na/Al, Ca/Al, Na/K, Fe+3/Fe+2e no conteúdo
em magnésio e diminuição das razões em Ca/Na, Fetotal
/Mg, Fetotal/Fetotal + Mg e Fetotal em direção às porções
mais deformadas (figura 8a-e). Além disso, não foram
verificadas variações significativas entre os albititos
mineralizados e não mineralizados. Os oligoclasitos
apresentam comportamentos discrepantes com
relação às demais rochas, quando consideradas as
razões Na/Al e Ca/Na. Tais razões são superiores
nos anfibólios dessas rochas, quando considerados os
outros litotipos analisados. Para o ferro e magnésio,
os anfibólios dos oligoclasitos apresentam
comportamentos semelhantes aos das rochas
gnáissicas. Nos gnaisses, albititos, oligoclasitos e
epidositos, as relações de substituição entre o piroxênio
e o anfibólio não são claras. Entretanto, através do
diagrama que relaciona a razão Fet/Mg entre anfibólios
e piroxênios, pode-se separar dois grupos principais
(figura 7c). O primeiro apresenta variação da relação
Fet/Mg muito próxima aos piroxênios, sugerindo serem
derivados daqueles. O segundo não mostra correlação
com os piroxênios e podem ter sido cristalizados
precocemente em relação à formação dos piroxênios
ou então sugere uma maior participação do plagioclásio
durante o seu crescimento.

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Figura 8a-e – Variação de Na, Ca, Al, K, Fe e Mg para o anfibólio dos granitóides, gnaisses, albititos, oligoclasitos,
epidositos e periclasitos do Complexo Lagoa Real
Figure 8a-e – Variation of Na, Ca, Al, K, Fe and Mg for amphibole of granitoids, gneisses, albitites, oligoclasites and
periclasites of Lagoa Real Complex

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Comparando a composição química do piroxênio cristalizado no periclasito, quando comparada com a

nos granitos, gnaisses, albititos mineralizados e não
mineralizados e oligoclasito, observa-se um aumento
nas razões Fe+3/Fe+2, Na/Al, Ca/Al e no teor de Mg e
diminuição das razões Fet/Mg, Fet/(Fet+Mg) e Ca/Na
e no conteúdo em Fet em direção aos albititos e
oligoclasitos (figura 5.4). Houve uma brusca diminuição
da razão Fetotal/Mg dos albititos e oligoclasitos com
relação aos encontrados nos piroxênios dos gnaisses.
As análises realizadas mostram que existe uma
diminuição em ferro e um considerável aumento em
magnésio, quando comparada com as rochas menos
deformadas. Não foram verificadas diferenças
significativas na composição entre piroxênios dos
albititos I e II. A composição química do piroxênio
observada nos gnaisses, albititos, oligoclasitos e
epidositos, evidencia que o primeiro é mais rico em
cálcio e mais pobre em sódio que os demais. Os valores
para Fet são muito próximos entre os piroxênios de
todos os grupos de rochas, sendo que a razão Fe+3/
Fe+2 nos piroxênios dos periclasitos é bem inferior à
que é observada nos piroxênios das demais rochas do
Complexo Lagoa Real. Analisando os teores de Fe+2 e
Fe+3, entre a borda e o centro de grãos de piroxênios
em periclasitos e albititos, constata-se que existe um
zoneamento químico na distribuição desses íons. Em
geral, em direção às bordas eleva-se o conteúdo em
Fe+3 indicando grau crescente de oxidação nesse
sentido.

Figura 9 - Variação de Fe, Mg Na, Ca e Al para piroxênio dos gnaisses, albititos, oligoclasitos, epidositos e periclasitos do
Complexo Lagoa Real
Figure 9 – Variation of Fe, Mg, Na, Ca and Al for pyroxene of gneisses, albitites, oligoclasites, epidosites and
periclasites of the Lagoa Real Complex

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Para a granada, ao se comparar a sua composição
em granitóides, gnaisses e albititos, podem ser
individualizadas duas populações distintas (figura 10).
A primeira, de composição da almandina, é encontrada
em granitóides e em alguns gnaisses, e a segunda, de
composição andradita-grossularita, ocorre em albititos,
oligoclasitos e gnaisses. De maneira geral, a primeira
Figura 10 - Variação de Fe, Ca e Ti para granada de granitóides, gnaisses, albititos e oligoclasitos do Complexo Lagoa Real
Figure 10 – Variation of Fe, Ca and Ti for garnet of granitoids, gneisses, albitites and oligoclasites of Lagoa Real Complex
6 – D
DAATAÇÕES EM TITANIT
TITANITAS
ANITAS
S
elecionou-se uma amostra do gnaisse
Cercado com o objetivo de determinar a
idade mínima de cristalização do protólito
dos gnaisses Lagoa Real, através do método Pb/Pb. A
preferência por uma amostra deste gnaisse foi pelo fato
de a mesma estar distante da zona mineralizada em urânio.
Na amostra escolhida, as titanitas apresentam-se sem
variações em seu pleocroísmo, euédricas e com tamanho
em torno de 450mm. Na matriz, encontram-se junto com
feldspatos, biotita e quartzo. Foram analisadas duas
frações de titanita. As duas frações são discordantes
(figura 11), mas possuem idades 207Pb/206Pb semelhantes,
cuja média é calculada em 1.743+/-28Ma (figura 12).
20
Arquivos Abertos 29
população é mais pobre em Ca, Fet, Fe+3 e Ti+4 do que
a segunda. Comparando-se a granada andradita-
grossularita dos albititos, oligoclasitos e gnaisses, nos
albititos e oligoclasitos ela apresenta uma diminuição
relativa em Fet e Fe+3. O conteúdo em Ca e Fe+2
permanece aproximadamente constante, embora, nos
albititos, o teor de Ca tenda a ser menor.
Esta é uma idade mínima para a cristalização das titanitas.
Entretanto, considerando que as idades conhecidas para
a cristalização do granito estão em torno de 1.750Ma
(Turpin et al. 1988, Cordani et al. 1992), pode-se assumir
esta idade 207Pb/206Pb das titanitas como muito próxima
da idade real (U/Pb), e que sua cristalização deu-se no
episódio magmático. A perda de Pb é pouco intensa e
deve estar ligada a processos de difusão secular do Pb,
haja vista que as idades 207Pb/206Pb serem próximas da
idade U/Pb. Desta forma, qualquer evento superimposto
à rocha não atingiu temperaturas suficientes para abrir o
sistema isotópico na titanita, cuja temperatura é estimada
entre 550 e 650ºC.
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Figura 11 – Discórdia 207Pb/206Pb obtida no gnaisse Cercado, Complexo Lagoa Real

Figure 11 - 207Pb/206Pb discord obtained in the Cercado gneisse, Lagoa Real complex

Figura 12 – Média das idades 207Pb/206Pb para as duas populações de titanitas analisadas
Figure 12 – Average of 207Pb/206Pb ages for the two populations of titanites analysed

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7 – DEFORMAÇÕES ESTRUTURAIS NO
COMPLEXO LA
COMPLEXO GO
LAGO A REAL
GOA
F
oram reconhecidas no Complexo Lagoa
Real duas famílias de estruturas
deformacionais que representam dois
campos cinemáticos distintos. A primeira,
compressional -, compreende o principal conjunto de
estruturas deformacionais, e foi responsável pela
disposição espacial das unidades que compõem este
complexo. Envolve duas fases de deformação distintas,
denominadas Da e Dp. A fase Da, com movimentos de
sul para norte, é responsável pela nucleação de zonas
de cisalhamento com orientação, em geral, segundo
WNW-ESE, cujo principal registro é a zona de
cisalhamento Brumado-Caetité. A foliação
metamórfica e a lineação de estiramento, associadas
a esta fase de deformação, são, respectivamente,
N40oE/30oSE e N25oE/18°SE).
A fase seguinte, D p trunca as estruturas
anteriormente nucleadas, e é responsável pelo
desenvolvimento de zonas de cisalhamento, cujas raízes
estão expostas em toda a área de ocorrência do
Complexo Lagoa Real. Esta fase subdivide-se nas
etapas Dp1 e Dp2. Na Dp1 formaram-se as zonas de
cisalhamento que estruturaram os gnaisses, albititos,
microclinitos e oligoclasitos do complexo. Associada
às zonas de cisalhamento, desenvolveu-se uma foliação
metamórfica (Sp1) distribuída de modo heterogêneo nas
rochas do complexo. Essa estrutura varia desde
anastomótica, nos termos menos deformados, até
planar e contínua, nas rochas em que a deformação
foi mais intensa. O seu desenvolvimento está
intimamente relacionado com a formação de um
bandamento metamórfico e, por várias vezes, essas
estruturas ocorrem subparalelas. Os indicadores
cinemáticos recuperados nessas zonas são a foliação
S/C, as dobras assimétricas e a distribuição assimétrica
do eixo-c do quartzo.
O setor I é marcado por movimentos frontais,
reversos, com transporte tectônico de WSW para
ENE. Indicadores cinemáticos em todas as escalas
de observação atestam o movimento reverso. No setor
II a foliação metamórfica associada à fase Dp1 delineia
uma estrutura aproximadamente helicoidal, já citada
por diversos autores (dentre outros, Brito et al., 1984;
Sobrinho et al., 1980; Raposo et al., 1984; Ribeiro et
al., 1984), denominada Arco de Lagoa Grande.
22
Arquivos Abertos 29
Embora o mergulho dessa superfície seja ora para SW,
ora para NE, a sua direção NNW/SSE, de maneira
geral, é mantida. A lineação de estiramento, por outro
lado, muda a sua orientação. A foliação Sp1 apresenta-
se com distribuição helicoidal. Na sua porção nordeste
a foliação apresenta-se segundo NW-SE, com mergulho
para NE. Na porção central do setor II essa estrutura
posiciona-se, aproximadamente, segundo N-S, com
forte mergulho, ora para leste, ora para oeste. Na região
sudoeste do setor II, a foliação Sp1 posiciona-se segundo
NE/SW, e volta a mergulhar para NW.
O setor II também é marcado pela presença do
terraço estrutural de Monsenhor Bastos, onde
predominam estruturas de baixo ângulo e figuras de
interferências de dobramentos do tipo domos e bacia
(Ramsay, 1980). A presença da zona de cisalhamento
Brumado-Caetité, a sul de Monsenhor Bastos, supõe
que o terraço estrutural homônimo representa uma
feição de interferência entre as estruturas Da e Dp1.
O setor III é dominado por transcorrências
dextrais orientadas, de preferência na direção NNW
e, subordinadamente, NNE. Zonas e fraturas de
cisalhamento de natureza rúptil-dúctil, com
desenvolvimento de filonitos, são encontradas nas
rochas do Complexo Lagoa Real. Essas estruturas
foram nucleadas durante a etapa D p2 , e são
responsáveis pelas reações retrometamórficas
envolvendo plagioclásio, anfibólios, piroxênios e
granada. Tais zonas de cisalhamento distribuem-se de
forma heterogênea e instalam-se aproveitando as zonas
de cisalhamento nucleadas na etapa Dp1. Nas regiões
norte e central, de ocorrência do complexo, são bem
desenvolvidas onde apresentam larguras variáveis,
chegando a atingir quinhentos metros. As zonas de
cisalhamento dúctil-rúptil apresentam orientação
semelhante à da foliação metamórfica Sp1,encontrada
em suas encaixantes.
No interior das zonas de cisalhamento dúctil-rúptil
ocorrem protomilonitos, milonitos e filonitos,
predominando os últimos. Ultramilonitos, de acordo com
o conceito de Sibson (1977), não foram observados.
Os contatos entre os tectonitos e os destes com as
encaixantes são bruscos. Associadas à variação
textural, importantes modificações mineralógicas são
observadas. De um modo geral, das regiões menos
Arquivos Abertos 29
deformadas para as mais deformadas há um aumento
progressivo no conteúdo de filossilicatos e uma
diminuição no volume de quartzo. Minerais como
plagioclásio, feldspato alcalino, anfibólio e piroxênio
desaparecem. Os minerais opacos concentram-se na
matriz e podem formar níveis diferenciados.
Um conjunto de estruturas associa-se com a fase
distensional D e , e envolve fraturas e zonas de
cisalhamento dúctil-rúptil a dúctil, com movimento
normal. Essa família aloja-se, de preferência, nas
porções filonitizadas pobres em ribbons de quartzo
das zonas de cisalhamento dúctil-rúptil da fase Dp2 e
aproveitando os planos de foliação da fase D p1.
Quando desenvolvidas ao longo da foliação
metamórfica S p1, os movimentos normais ficam
8 – GEO TERMOMETRIA D
GEOTERMOMETRIA AS TRANSFORMAÇÕES
DAS
METAMÓRFICAS Sin D p1
METAMÓRFICAS
D
iversos métodos estão disponíveis para
calcular a temperatura (T) e pressão (P)
de equilíbrio de paragêneses minerais. A
grande maioria deles, entretanto, foi elaborado para
rochas granulíticas e para as reações de troca iônica
entre o ferro e o magnésio. Uma prerrogativa básica
para a aplicação da geotermometria e geobarometria
é que as assembléias minerais estejam em equilíbrio
(Tracy, 1982; Burcher & Frey, 1994). Entretanto, é
muito difícil encontrar uma situação deste tipo na
natureza (Harley, 1989). As condições de equilíbrio
metamórfico dependem das condições de resfriamento
e da superposição de outros eventos de metamorfismo
(Bohlen & Essene, 1977).
Durante os estudos de geotermometria utilizando
as assembléias metamórficas das rochas do Complexo
Lagoa Real, Cruz et al. (2004) tiveram dificuldade em
encontrar um geotermômetro, tendo em vista que a
granada encontrada nos gnaisses e albititos é a andradita-
grossularita, pobre em ferro e magnésio. Além do mais,
o teor de albita nos plagioclásios é muito elevado e, em
geotermômetros que utilizam o cálcio e o sódio desses
minerais, as temperaturas calculadas ficam
subestimadas (quadro 3). As temperaturas obtidas
devem refletir a temperatura de bloqueio dos processos
de difusão iônica durante o resfriamento da rocha.
O método utilizado no estudo de Cruz et al. (2004)
foi o HbPl, desenvolvido por Holland & Blundy (1994)
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concentrados ao longo daquela superfície, sendo
preservadas na região entre elas, as assimetrias de
movimentos reversos. Associadas com a fase
distensional, também foram encontradas estruturas
do tipo fault propagation folds, que envolvem a
foliação e o bandamento metamórfico. As dobras
desenvolvidas, neste caso, apresentam assimetria
contrária àquela que é observada nas encaixantes.
Uma outra feição associada com a fase distensional
é a presença de dobras deitadas, com charneira
arredondada e sub orizontal, desenvolvidas sobre a
foliação compressional Sp. Essas dobras ocorrem,
preferencialmente, nos gnaisses Caetité, e atestam a
atuação da compressão vertical que deu origem aos
movimentos normais.
para rochas cálcicas insaturadas em sílica e
metamorfizadas em médio e alto grau. Para tal, foram
escolhidas seções em que as texturas poligonais em
feldspato e somente a assembléia metamórfica
progressiva M1p estivessem presentes. Uma amostra
em zona de cisallhamento normal, com amplo
desenvolvimento de epidoto e calcita, foi utilizada para
estimar a temperatura do retrometamorfismo associado
com a fase distensional tardia (De). Os resultados da
geotermometria são apresentados no quadro 4. A
temperatura estimada de formação dos granitos variou
entre 831ºC (P=5kbar) e 869ºC (P=10kbar). Uma
amostra de granito indicou temperaturas oscilando entre
650ºC(P=5kbar) e 710ºC (P=10kbar). Essa
temperatura deve refletir um reequilíbrio químico em
função do metamorfismo. Nos gnaisses a temperatura
variou entre 667ºC (P=5kbar) e 715ºC (P=10kbar). Nos
albititos, por sua vez, encontraram-se temperaturas
entre 580ºC (P=5kbar) e 745ºC (P=10kbar). As
temperaturas mais baixas encontradas na amostra
1046.1 devem refletir, mais uma vez, o metamorfismo
retrógrado sin-Dp2.
Considerando o erro inerente ao método utilizado,
que é de ±35-40ºC, os resultados sugerem condições
metamórficas de fácies anfibolito médio para o
metamorfismo sin-Dp1 e de fácies epidoto-anfibolito
para o metamorfismo sin-Dp2 (Burcher & Frey, 1994,
Spear, 1993).
23
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM Arquivos Abertos 29

Quadro 3 - Resultado de estudo de geotermometria, utilizando Solvcalc (Wen & Nekvasil, 1994 e Tweequ &
Berman, 1991). Ort-Ortoclásio, Alb-Albita, An-Anortita, Pl-Plagioclásio, K-Fss-Álcali-feldspato, Gr-Granada,
Anf-Anfibólio, Px-Piroxênio, Biotita
Table 3 – Result of a study of geothermometry employing Solvcalc (Wen & Nekvasil, 1994 and Tweequ & Berman,
1991). Ort-Orthoclase, Alb-Albite, An-Anorthite, Pl-Plagioclase, Kfss-Alkali-feldspar, Gr-Garnet, Anf-Amphibole,
Px-Pyroxene, Biotite

Quadro 4 – Resultado de estudo de geotermometria através do par hornblenda-plagioclásio utilizando

geotermômetro Hb-Pl (Holland & Blundy, 1994)
Table 4 – Result of a study of geothermometry through the pair hornblende-plagioclase, employing the Hb-
Pl geothermometer (Holland & Blund, 1994)

24
Arquivos Abertos 29
9 – ALBITIZAÇÃO, DEFORMAÇÃO, GNAISSIFICAÇÃO E
CONCENTRAÇÃO DO URÂNIO
N
os granitos do Complexo Lagoa Real que
formam corpos amendoados contornados
pela foliação metamórfica principal, é
notável a presença de feições indicativas da
transformação do alcalifeldspato em albita, via pertitas
metassomáticas. Albititos, microclinitos e oligoclasitos
propriamente ditos constituem, por outro lado, corpos
alongados que acompanham a foliação principal,
intercalados em alternância com rochas gnáissicas.
Em todas as escalas de observação é possível
verificar a transformação dos granitóides que passam
por toda a sequência da série milonítica de Sibson (1977),
em rochas gnáissicas. Essa transformação ocorre
através da ação de processos deformacionais e
metamórficos associados com a etapa de deformação
Dp1. A propósito, na parte norte da área de ocorrência
do Complexo Lagoa Real onde predominam os
processos de deformação plástica para o quartzo e os
de fragmentação para os feldspatos, não se observa o
desenvolvimento de corpos de albititos, ainda que
porfiroclastos de feldspato alcalino mostrem graus
variáveis de substituição pela albita. É na região do
Arco de Lagoa Grande, parte central da área do
complexo no vale do Paramirim que se encontra a
maioria dos corpos de albitito. Lá e em regiões mais a
sul predominam processos de deformação dúctil e
mecanismos de recristalização, mesmo nos feldspatos.
Nos porfiroclastos de feldspato alcalino, porções com
graus variáveis de substituição pela albita, são truncadas
por novos grãos livres dessa substituição (figura 13).
As relações texturais observadas nos tectonitos
do complexo estudado permitiram a individualização
de um evento metamórfico e três eventos
metassomáticos: (i) metassomatismo Ms1, de natureza
sódica (predominante) e cálcica (subordinada); (ii)
metassomatismo Ms2/metamorfismo progressivo M1p/
Sin-Dp1, (iii) metassomatismo MS3/metamorfismo
regressivo M 1r1 /Sin-D p2 , e (iv) metamorfismo
regressivo M1r2/Sin-De.
9.1 – METASSOMATISMO Ms1
Este evento teve lugar anteriormente às fases de
deformação Da e Dp, e provocou a albitização dos
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granitóides São Timóteo (lato sensu), ou de Lagoa Real,
(figura 14a-b). Tal metassomatismo levou ao
enriquecimento em sódio e cálcio dos anfibólios, com
formação da hastingsita, e de cloro e flúor da biotita
(Maruèjol et al. 1987; Maruèjol 1989). A associação
mineralógica que marca a alteração metassomática,
pré-deformacional, é representada pela hastingsita,
albita, alanita, monazita, fluorita, magnetita, titanita e
uraninita. Foi um evento da albitização, mas não o de
formação dos corpos de albititos como são hoje
observados no Complexo Lagoa Real. A sua instalação
se deve à presença de intrusões graníticas
anorogênicas associadas com a fase de abertura do
rifte Macaúbas, durante a transição entre o Meso e o
Neoproterozóico (Pimentel et al., 1994), e que
constituíram a fonte de fluidos ricos em sódio e em
elementos menores, assim como captaram o urânio das
rochas encaixantes, como proposto por Maruèjol (1989)
(figura 14b). A diferença entre o modelo de Maruèjol
e o proposto por Cruz et al. (2006) refere-se à época
da albitização, que, para aquela autora (Maruèjol),
aconteceu ainda no Mesoproterozóico.
Duas feições texturais importantes atestam o
caráter pré-tectônico em relação às fases Da e Dp do
evento metassomático Ms1: (a) distibuição das pertitas
metassomáticas, e (b) presença de novos grãos de
microclina, produto da recristalização sintectônica, não
substituídos pela albita.
9.1.1 – Distribuição das pertitas
metassomáticas
De acordo com Pryer & Robin (1995; 1996), a
substituição de microclina por albita em zonas de
cisalhamento é um processo desenvolvido durante a
deformação e em condições da fácies xisto-verde. A
sua formação estaria associada com a instalação de
reações metamórficas de hidrólise do plagioclásio ou
com a circulação de fluidos hidrotermais vindos de
fontes externas. No caso do Complexo Lagoa Real, o
plagioclásio da rocha não poderia ter sido a fonte do
sódio usado na formação da albita, uma vez que a
sericitização não foi um processo eficiente durante a
deformação dos granitóides. Assim, o sódio deve ter
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Figura 13 - Microestruturas mostrando o truncamento das pertitas metassomáticas por feições de deformação
frágil, como microfraturas (a) e de deformação plástica com recristalização sintectônica e formação de novos
grãos poligonais (b e c)
Figure 13 – Micro-structures showing metasomatic perthites truncated by features suggestive of brittle
deformation, such as microfractures (a) and of plastic deformation with syntectonic recrystallization and
formation of new polygonal grains (b and c)

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b) Colocação dos granitóides, matassomatismo e enriquecimento

em urânio

Figura 14a-c - Modelo esquemático para explicar a relação entre a alteração metassomática e a gnaissificação/formação
de albitito, microclinito e oligoclasito do Complexo Lagoa Real durante a fase Dp1
Figure 14a-c – Schematic model for explaining the relation between the metasomatic alteration and the
gneissification/formation of albitite, microclinite and oligoclasite of the Lagoa Real Complex during the phase Dp1

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vindo de fontes externas. Em protomilonitos e milonitos,
as pertitas são cinemática e cristalograficamente
controladas, como demonstrado por Pryer & Robin
(1995; 1996) e Hippertt (1998). No Complexo Lagoa
Real, a substituição do feldspato alcalino pela albita é
um processo amplamente observado, tanto nas rochas
graníticas quanto nas rochas gnáissicas, como também
nos seus enclaves. A pertita de substituição, formada
nessas reações, entretanto, não apresenta orientação
preferencial. A sua orientação é apenas controlada pelo
cristal hospedeiro, e se dá, de preferência, ao longo
das clivagens do álcalifeldspato. Portanto, parece pouco
provável que tais pertitas estejam relacionadas às fases
de deformação compressional Da e Dp, caracterizadas
na região.
9.1.2 – Novos grãos de microclina
Invariavelmente, os novos grãos de feldspato
alcalino, gerados a partir da recristalização de
porfiroclastos albitizados não estão substituídos pela
albita. Entretanto, nas regiões menos deformadas dos
porfiroclastos essas substituições estão amplamente
desenvolvidas. As bordas dos novos grãos truncam as
figuras de substituição do feldspato alcalino pela albita.
Essas figuras, por outro lado, não adentram à região
dos novos grãos e morrem, bruscamente, nas suas
bordas (figura 13). Essas texturas indicam que a
substituição do K-feldspato pela albita é anterior à
recristalização sintectônica dos porfiroclastos, uma vez
que, se fosse concomitante ou posterior, não haveria
motivos para que os novos grãos não fossem
substituídos, haja vista que possuem uma composição
química semelhante à do hospedeiro albitizado. Se a
entrada da albita fosse sincrônica com a deformação,
a tendência seria que esses dois minerais se
cristalizassem separadamente, atingindo a menor
condição de energia livre (White & Mawer, 1986). A
substituição do feldspato alcalino pela albita durante
Ms1 provavelmente ocorreu a partir da seguinte reação:
KAlSi3O8 + Na+1 = NaAlSi3O8 + K+1 (Equação 1)
(Lobato & Fyfe 1990).
9.2 – METASSOMATISMO Ms2/META-
MORFISMO PROGRESSIVO M1p/Sin-Dp1
Ao longo do Complexo Lagoa Real, a assembléia
metamórfica associada com MS2/Sin-Dp1 (figura 14b)
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Arquivos Abertos 29
diferencia-se quando considerados os setores I, II,
III e IV. A mineralogia, no setor I, é marcada pela
presença de biotita verde, hastingsita e quartzo. No
setor II, onde ocorre a maior parte dos albititos e
oligoclasitos mineralizados, predomina a assembléia
constituída por quartzo, albita (grãos poligonais
recristalizados), microclina (grãos poligonais
recristalizados), oligoclásio (grãos poligonais
recristalizados), andradita-grossularita, almandina,
hastingsita, hedembergita, aegirina-augita, titanita,
uraninita, magnetita e hematita. A geração da trama
foi acompanhada por reações de oxidação. Nos
setores III e IV, a assembléia metamórfica é
composta por hastingsita, albita (grãos poligonais
recristalizados), microclina (grãos poligonais
recristalizados), quartzo, titanita, sendo as reações de
oxidação pouco eficientes. Este evento está associado
com a inversão do Aulacógeno do Paramirim e
permitiu a formação dos granitóides foliados Pilões e
dos gnaisses Cercado, Lagoa Grande e Caetité a partir
dos granitóides São Timóteo, e a individualização dos
corpos de albititos, microclinitos e oligoclasitos (figura
15a-d).
9.3 – METASSOMATISMO MS3/META-
MORFISMO REGRESSIVO M1r1 /SinDp2
Possui associação mineralógica constituída por
actinolita-tremolita, mica branca, quartzo e clorita.
Este evento marca a nucleação das grandes zonas
de cisalhamento rúptil-dúctil durante a fase de
deformação Dp2.
9.4 –METAMORFISMO REGRESSIVO
M1r2/SinDe
Está associado com a nucleação de zonas de
cisalhamento normais, e levou à formação de uma
associação metamórfica regressiva tardia, Sin-M1r2,
constituída por epidoto, calcita e quartzo. Na parte do
Complexo Lagoa Real situada a sul da zona de
cisalhamento Brumado-Caetité, no vale do Paramirim,
das rochas menos deformadas, representadas pelos
granitóides São Timóteo, até as rochas mais deformadas,
marcada pelos albititos, microclinitos e oligoclasitos, é
possível acompanhar a transformação gradual da trama
magmática até à individualização do bandamento
metamórfico Sin-Dp1 (figura 15a-d).
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Figura 15a-d - Modelo esquemático para as transformações textural e mineralógica durante a formação dos gnaisses e
albititos do Complexo Lagoa Real
Figure 15a-d – Schemtic model for the textural and mineralogical changes during the formation of gneisses and
albitites of Lagoa Real Complex

Nas rochas protomiloníticas representadas, principalmente, de microclina, não albitizados. A albita,

principalmente, pelos granitóides foliados Pilões, as
feições do protólito ígneo ainda estão preservadas
(figura 15b). Nelas, a foliação é desenvolvida de forma
incipiente, e o volume de novos grãos recristalizados a
partir de relíquias de porfiroclastos de fenocristais, é
ainda pouco expressivo. Os novos grãos permanecem
nos arredores da rocha hospedeira, e exerce forte
controle cristalográfico sobre eles. Entretanto, nas
rochas miloníticas representadas pelos gnaisses Lagoa
Grande, a recristalização dos feldspatos passa a ser
um mecanismo bastante eficiente. Nessas rochas,
inicia-se o desenvolvimento do bandamento
metamórfico, que tende a distribuir-se subparalelamente
à foliação principal. Nelas, é comum a presença de
porfiroclastos de feldspato alcalino fortemente
albitizados que possuem manto de novos grãos,
por sua vez, acumula-se em níveis lenticulares. Em
escala de grão, o bandamento metamórfico dos gnaisses
Lagoa Grande e Caetité apresenta ampla variação
composicional, sendo esta uma miniatura da distribuição
de rochas que se observa em afloramentos ou em
escala regional. Neste sentido, bandas descontínuas
ricas em albita, com proporções variáveis de
porfiroclastos de biotita, anfibólio, piroxênio, granada e
acessórios, correlacionáveis com albititos, intercalam-
se em alternância com bandas constituídas por
proporções variáveis de porfiroclastos de microclina,
plagioclásio e quartzo envoltos por manto de novos
grãos; porfiroclastos de biotita, anfibólio, piroxênio,
granada e acessórios, correlacionáveis com gnaisses;
bandas ricas em microclina; bandas ricas em
oligoclásio; bandas ricas em epidoto, correlacionáveis

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com microclinito, oligoclasito e epidosito,
respectivamente; e bandas ricas em quartzo.
Nos ultramilonitos, materializados pelos gnaisses
Caetité, o bandamento metamórfico é bem desenvolvido
e contínuo (figura 15c). Os porfiroclastos já foram
quase totalmente consumidos pela deformação. Nos
domínios mais deformados, dobras isoclinais são
nucleadas e posteriormente transpostas pela foliação
principal, no curso da deformação progressiva. Neste
estágio, são individualizados níveis com proporções
variáveis de plagioclásio, microclina, quartzo e biotita.
Tal distribuição é repetitiva em todas as escalas de
observação, desde a microscópica (figura 15a-b-c),
passando pela mesoscópica (figura 15d), até à regional.
9.5 – FORMAÇÃO DOS ALBITITOS
Para a formação dos albititos, contribuem os
produtos da recristalização sintectônica de microclina
metassomatizada. A formação de novos grãos
recristalizados de albita e microclina a partir de
porfiroclastos de feldspato alcalino, parcialmente
albitizado, envolve mecanismos de recristalização
sintectônica que, em seu estágio máximo de
desenvolvimento, culminaram com a segregação dessas
duas fases minerais em níveis distintos (figura 16a).
Nos domínios mais homogêneos dos cristais, tanto o de
albita quanto o de microclina, o processo inicia-se com
a formação de bandas de extinção ondulante, que se
distribuem por todo o porfiroclasto e, num estágio
posterior, evoluem para subgrãos. Em seguida, a albita
e a microclina passam a atuar como fases minerais
distintas, e a recristalização sintectônica, através de
rotação de subgrãos, desenvolve-se amplamente.
Tomando-se todo o porfiroclasto como referência, a
recristalização inicia-se na borda do grão e
progressivamente vai atingir as suas porções mais
interiores. As bordas dos novos grãos são inicialmente
interlobadas, mas, num estágio mais desenvolvido,
tornam-se perfeitamente retas (figura 16b).
Nos tectonitos Lagoa Real, as trocas de posições
entre K e Na devem ocorrer em todo o grão, embora
sejam mais efetivas nos domínios do porfiroclasto com
distribuição irregular de pertitas (figura 16c). A
movimentação de átomos de K e Na, juntamente com
os defeitos intracristalinos, leva ao rearranjo da
estrutura cristalina e a separação da albita e da
microclina, que vão se acomodar na matriz de grãos
recristalizados. Tal processo demonstra a eficiência das
difusões iônicas durante a recristalização e o seu papel
na separação de fases minerais distintas durante a
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Arquivos Abertos 29
deformação de agregados policristalinos. A presença
de contatos interlobados entre os novos grãos e os
porfiroclastos, nas fases iniciais de recristalização, deve
ser o reflexo das migrações iônicas que, provavelmente,
ocorrem com velocidades distintas ao longo do grão,
favorecendo a produção de contatos mais irregulares.
A eficiência na movimentação iônica e dos defeitos ao
longo do grão depende da sua orientação cristalográfica,
da presença de impurezas, da distribuição dos seus
defeitos cristalinos e da presença de fluidos (Bell &
Johnson, 1989; Gower & Simpson, 1992; Ji &
Mainprice, 1990; Dunlap et al., 1997; Resenbergue &
Stünitz, 2003; e Mancktelow & Pennacchioni, 2004).
Nos domínios de maior deformação, rearranjos locais
no limite entre os grãos, levaram à produção de bordas
retas, permitindo a diminuição da área total das bordas
dos grãos e, consequentemente, da energia livre,
levando à produção de tramas mais estáveis.
As transformações texturais mostradas na figura
9.4 foram acompanhadas de reações metamórficas,
favorecidas pela presença de um fluido oxidante, que,
nos domínios de maior deformação, permitiu a
individualização de corpos de albititos, oligoclasitos e
microclinitos. As relações texturais indicam que, em
direção às porções mais deformadas, houve a
transformação sucessiva da pargasita-hastingsita para
a hedembergita-aegirina-augita e destas para a
andradita-grossularita. Estudos experimentais
desenvolvidos por Gilbert (1966), Thomas (1982) e
Gustafon (1974) demonstraram que, em condições
oxidantes, tais transformações são esperadas, havendo
uma estreita faixa em que a hedembergita e a andradita-
grossularita podem coexistir (figura 17). A partir destes
estudos e, como sugerido por Lobato (1985) e Lobato
& Fyfe (1990), as seguintes reações podem ser
aventadas para explicar a evolução metamórfica do
Complexo Lagoa Real durante MS2-M1p/Dp1:
hastingsita/pargasita + O2 + quartzo = grossularita-
andradita + hedembergita +
+ magnetita + fluido (equação 2);
hedembergita + O2 + Na+1= aegirina-augita (equação 3);
aegirina-augita + O2 = andradita + magnetita +
quartzo+Mg+2 + Na+1 (equação 4);
hedembergita + 2O2 = 3 andradita + 9 quartzo+
magnetita (equação 5);
hedembergita + O2 = andradita+ quartzo + magnetita
(equação 6);
magnetita + quarzo + Ca+2 = hematita + titanita (equação 7).
Durante a deformação o fluido oxidante responsável
pelas reações metamórficas teria acompanhado as
difusões iônicas que separam a albita da microclina, a
partir dos porfiroclastos parcialmente albitizados.
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Figura 16a-c - Modelo de formação dos corpos de albititos a partir da recristalização sintectônica de feldspato alcalino
parcialmente albitizado. a) Da esquerda para a direita, etapas de recristalização de porfiroclastos de microclina
albitizados (esquerda, granito), culminando com a fomação de um manto de novos grãos (direita, gnaisse). Notar a
conservação de massa. A distorção do quadrado, no canto inferior esquerdo de cada etapa, mostra o sentido para onde a
deformação cresce. No gnaisse, as bandas podem ser reproduzidas em todas as escalas de observação. Com o aumento da
deformação, a textura passa de interlobada para poligonal (b). c) Modelo esquemático para demonstrar a migração iônica
durante a geração dos grãos poligonais de albita. Em vermelho, estão representados defeitos lineares, que migram ao
longo do grão. Ab- Albita, Mi - Microclina
Figure 16a-c – Model for explaining the formation of albitite bodies derived from the syntectonic recrystallization of
alkali-feldspar partially albitized. a) From the left to the right, stages of recrystallization of albitized miclocline
porphyroclasts (granite, at left), culminating with the formation of a coating of new grains (gneiss, at right). Note the
conservation of mass. The square is distorted at the lower left corner of each stage, showing the sense in which the
deformation increases. In the gneiss, the bands can be depicted at every scale of observation. As the deformation
increases, the textures changes from interbolate to polygonal (b). c) Schematic model for showing the ionic migration
during the generation of albite polygonal grains. In red color, linear flaws which migrate along the grain is
represented. Ab-Albite, Mi-Microcline

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9.6 – CONCENTRAÇÃO DO URÂNIO
A associação entre a concentração do urânio, o
metamorfismo, a deformação e os mecanismos de
recristalização dinâmica relacionadas com o estágio Dp1
parece óbvia, quando levado em consideração que as
rochas albitíticas e oligoclasíticas, mineralizadas ou não,
estão associadas às regiões do Complexo Lagoa Real,
em que as transformações texturais foram geradas
através da ativação de processos deformacionais
plásticos que envolvem os feldspatos, e onde as reações
de oxidação do anfibólio, do piroxênio e da magnetita
estiveram presentes. Os fluidos oxidantes das reações
metamórficas 2 a 6, supracitadas, possivelmente foram
responsáveis pelas difusões iônicas que ocorreram na
escala de grãos e que permitiram a individualização
dos níveis de albititos e oligoclasitos, e foram
responsáveis pelo transporte e (re)concentração do
urânio, a partir das rochas encaixantes.
Como demonstrado pelos resultados das análises
químicas de minerais, as transformações texturais foram
acompanhadas por transformações químicas, haja vista
o enriquecimento em sódio e cálcio apresentado pelos
piroxênios e anfibólios, quando comparados esses
minerais nas rochas graníticas com as rochas
gnáissicas, albitíticas e oligoclasíticas (figuras 8 e 9).
Em direção aos albititos e oligoclasitos, a biotita, o
anfibólio e o piroxênio apresentaram enriquecimento
em magnésio e empobrecimento em Fet. A razão Fe+3/
Fe+2, por sua vez, cresce nos piroxênios e decresce no
anfibólio. Na biotita, há o empobrecimento em Ti,
enquanto a granada experimenta o enriquecimento
relativo nesse íon. A granada, por outro lado, apresenta
enriquecimento em Ca e em Fetotal. Na correlação da
distribuição do sódio em piroxênio dos gnaisses e
albititos do Complexo Lagoa Real, existe uma
diminuição na relação Ca/Na e um aumento na relação
Na/Al em direção às porções mais deformadas. Nos
oligoclasitos e epidositos, entretanto, a relação Ca/Na
no piroxênio e anfibólio cresce. Além das variações
químicas entre minerais, a geração de níveis
diferenciados de oligoclasitos e albititos demonstra que
existiu uma partição entre o sódio e o cálcio durante o
principal estágio de deformação recuperado nas rochas
do Complexo Lagoa Real.
Em rochas ricas em cálcio e magnésio, a
temperatura mínima de aparecimento do diopsídio é
em torno de 600ºC, ou seja, em condições de fácies
anfibolito médio (Burcher & Frey, 1994) (figura 17).
No Complexo Lagoa Real, as relações texturais entre
os minerais que compõem a assembléia metamórfica
sugerem o desenvolvimento da granada e do piroxênio
às custas do anfibólio. Tal relação sugere reações de
desidratação ao longo da evolução metamórfica
progressiva (Lobato, 1985). Além disso, na região de
ocorrência dos albititos, microclinitos e oligoclasitos,
os processos deformacionais plásticos envolvendo o
plagioclásio e o alcalifeldspato sugerem temperaturas
superiores a 550ºC, conforme Voll (1976), Boullier
(1980), Tullis (1983), Simpson (1985, 1986) e Vauchez
(1987). Desta maneira, a formação dessas rochas deve
estar associada a condições metamórficas de fácies
anfibolito médio, com temperatura mínima em torno
de 600ºC.

Figura 17 - Diagrama para a distribuição das assembléias metamórficas em rochas calcissilicáticas, de acordo com
Burcher & Frey (1994). LS - Limite superior, LI - Limite inferior, dol - dolomita, diop- diopsídio, tr - tremolita, cal -
calcita, fo- forsterita, qz - quartzo
Figure 17 – Diagram for the distribution of metamorphic assemblages in calç-silicate rocks after Burcher & Frey (1994).
LS - Upper limit, LI - Lower limit, dol - dolomite, diop - diopside, tr - tremolite, cal - calcite, fo - forsterite, qz - quartz

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No Complexo Lagoa Real, a associação
mineralógica sin-deformacional à Dp1 sugere que a
temperatura máxima alcançada pelo metamorfismo
foi inferior a 850ºC, haja vista que acima dessa
temperatura hornblenda não é mais estável (Burcher
& Frey, 1994). Condições de metamorfismo em fácies
anfibolito médio são sugeridas pelos resultados da
geotermometria, cujas temperaturas calculadas pelo
par Hb-Pl variaram entre 580 e 745ºC. A trama
cristalográfica de eixo-c de quartzo em gnaisses do
Complexo Lagoa Real nos domínios II, III e IV varia
entre alto ângulo com o eixo X do elipsóide de
deformação finita e em baixo ângulo com o eixo Y,
desse mesmo elipsóide. Bouchez et al. (1984) e
Mainprice et al. (1986) sugerem que a temperatura
de transição para ativação dos sistemas de
deslizamento segundo os prismas [a] e [c] em quartzo
varia entre 650 e 750ºC. A partir da trama
cristalográfica encontrada nos tectonitos do Complexo
Lagoa Real, e utilizando as indicações de temperaturas
sugeridas pela assembléia metamórfica sin-
deformacional, sugere-se um intervalo de
temperatura entre 600 e 650ºC para o metamorfismo
Sin-D p1 . A presença de fluidos oxidantes sin-
deformacionais à Dp1 podem ter contribuído para o
abaixamento da temperatura das reações
metamórficas e intervalos de temperatura mais
brandos podem ser possíveis. Lobato (1985) propôs
que tais transformações ocorreram em condições de
temperatura entre 540 e 580ºC.
A partir das assembléias metamórfico-
metassomáticas encontradas, não foi possível calcular
a pressão através de geobarômetros confiáveis, tendo
em vista que a grande maioria dos métodos disponíveis
para essa análise utiliza a relação catiônica Fet/Mg em
granada do tipo almandina-piropo. Entretanto, teores
de jadeíta de até 15% em aegirina-augita foram
encontrados em piroxênios de albititos, o que sugere
pressões intermediárias de metamorfismo (Spear, 1993
e Burcher & Frey, 1994).
As análises de química mineral realizadas em
grãos de plagioclásio em gnaisses e albititos do
Complexo Lagoa Real indicaram teores de anortita
variando entre 2 e 8% e, em oligoclasitos e epidositos,
entre 14 e 21%. Essa composição é compatível com
metamorfismo da fácies anfibolito. Em pressões
intermediárias, como parece ser o caso do Complexo
Lagoa Real, o plagioclásio poderia suportar baixos
teores de anortita (figura 18). Se a rocha for rica em
cálcio este elemento irá acomodar-se no epidoto. No
caso de Lagoa Real, a presença de epidoto associado
às zonas distensionais De sugere que esse mineral
formou-se posteriormente à formação dos albititos, e
que a granada e o piroxênio foram os minerais onde o
cálcio foi, preferencialmente, acomodado.
Durante o evento metassomático Ms3 que ocorreu
ao longo de zonas de cisalhamento dúctil-rúptil Dp2,
foram desenvolvidos estreitos níveis de rochas
filoníticas a partir das rochas do Complexo Lagoa Real.
Os processos deformacionais associados com a sua
nucleação são a fragmentação e sericitização de
feldspatos, deformação plástica do quartzo e a sua
dissolução. A assembléia mineralógica Sin-Dp2 é
marcada por quartzo, biotita, mica branca e clorita. Os
processos deformacionais e a assembléia metamórfica
indicam condições de temperatura entre 300 e 500oC.

Figura 18 - Diagrama mostrando a variação do conteúdo em anortita (An) em plagioclásio com o aumento da temperatura,
construído a partir do experimento de Apted & Liou (1983), para PH2O- 7kbar. LS - Limite superior
Figure 18 - Diagram showing the variation of anorthite (An) content in plagioclase as the temperature increases,
depicted from the experiment of Apted & Liou (1983) for PH2O- 7kbar. LS – Upper limit

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O metamorfismo regressivo, M1r2, está associado
com as estruturas distensionais da fase de deformação
De. Nas rochas das zonas de cisalhamento desta fase,
feições dúcteis e rúpteis coexistem em feldspatos. O
epidoto e a calcita, possivelmente, se formaram
durante essa fase, a partir do anfibólio e do
plagioclásio. A clorita também se forma às expensas
da biotita. Embora a relação retrógrada entre o
piroxênio e o anfibólio não seja clara, alguns anfibólios
com características óticas semelhantes às da tremolita,
ou a uma hornblenda mais pobre em ferro, foram
encontrados coroando o piroxênio. Além disso, as
relações texturais entre a calcita, e o anfibólio,
piroxênio e plagioclásio, em zonas de cisalhamento
distensionais, mostram que a calcita cresceu durante
a De. As reações retrometamórficas, a seguir, são
propostas para o evento metamórfico M1r:

aegirina-augita + H2O = hornblenda + SiO2 (Lobato, 1985) (equação 8)

2Fe3O4 + ½O2 = 3Fe2O3 (Yardley, 1990) (equação 9)
Andradita + 3CO2 = 3SiO2 (quartzo)+ 3CaCO3 (calcita) + ¼ Fe2O3 (hematita) + ½Fe3O4 (magnetita) + 1/8O2 (Lobato 1985)
(equação 10)
(Na, Ca) (Fe+2, Fe+3, Mg)Si2O6 (aegirina-augita) + CaAl2Si2O8 + H2O = Ca2Fe3Al2Si3O12 (OH)
(epidoto) + SiO2 + Mg+2 + Na+2 + H+1 (Deer et al., 1992) (equação 11)
4CaAl2Si2O8 (plagioclásio) + 5Mg SiO3 (piroxênio) + 5H2O = Ca2Fe3Al2Si3O12 (OH) (epidoto) + SiO2 + Mg +2 + Na +1 + H+ (Deer
et al. 1992) (equação 12)
NaAlSi3O8 (albita) + Ca2MgFe5Si8O22(OH)2 (actinolita)= NaCa2MgFe5AlSi7O22(OH)2 (hornblenda-edenita) + 4SiO2 (quartzo)
(Yardley, 1990) (equação 13)
5diopsídio + H2O + 3CO2 = 3calcita + 2quartzo + Ca-anfibólio (Yardley, 1990) (equação 14)
Ca-anfibólio + K-feldspato + CO2+ H2O = biotita + calcita + quartzo (Yardley, 1990) (equação 15)
25Ca2MgFe3Al4Si6O22(OH)2(Ca- hornblenda) + 44H2O = 24Ca2Al3Si3O12(OH)2 (epidoto)+
+ 28SiO2 (quartzo)+ 7MgFe10Al4Si6O20(OH)16 (clorita)+ Ca2MgFe5Si8O22(OH)2 (actinolita) (Yardley, 1990) (equação 16)
10Ca2MgFe3Al4Si6O22(OH)2 (Ca-hornblenda)+4CaAl2Si2O8 (anortita)+ 2H2O =
3MgFe10Al4Si6O20(OH)16 (clorita) + 12Ca2Al3Si3O12(OH)2 (epidoto)+4SiO2 (quartzo) (Yardley, 1990) (equação 17)
actinolita + CO2-H2O + epidoto = clorita + calcita (Yardley, 1990) (equação 18)
Ca-clinopiroxênio + plagioclásio + H2O = hornblenda + quartzo (Spear, 1993) (equação 19)
3tremolita+ H2O + CO2 = 6calcita + 4quartzo + 5talco (Spear, 1993) (equação 20)
5diopsídio + 3CO2 + H2O = tremolita+ 2quartzo + 3calcita (Winter, 2001) (equação 21)
Ca3Fe2Si3O12 (andradita) + CaFeSi2O6 (hedembergita) + Fe3O4 (magnetita) + 4CO2 = CaCO3 (calcita) + Fe2O3 (hematita) + 3SiO2
(quartzo) (Deer et al. 1992) (equação 22)
Ca3Fe2Si3O12 (andradita) + 3CO2 = CaCO3 (calcita) + Fe2O3 (hematita) ++ 3SiO2 (quartzo) (Taylor & Liou, 1978) (equação 23)

De acordo com Burcher & Frey (1994), a clorita
desaparece em temperaturas em torno de 550ºC, e
o epidoto não é mais encontrado acima dos 600ºC.
Taylor & Liou (1978) demonstraram que a equação
23 ocorre a uma temperatura de 550ºC (XCO2 = 0,22
e solução tampão hematita/magnetita). Os processos
deformacionais e a assembléia metamórfica
associada com zonas de cisalhamento distensionais
indicam condições de metamorfismo em fácies
epidoto-anfibolito, com temperaturas entre 300-
550ºC.
As transformações de plagioclásio, anfibólio,
piroxênio e granada, em calcita e epidoto, sugerem
a atuação de reações retrometamórficas
sindeformacionais tardias, que, no caso apresentado,
associam-se com zonas de cisalhamento distensionais.
A substituição do oligoclásio pela calcita e a presença
de veios de calcita e epidoto, truncando a trama
gnáissica, indicam que a assembléia metamórfica em
questão pode estar associada com a introdução de
cálcio ou com uma nova redistribuição desse elemento
decorrente da deformação. A presença da calcita
sugere um fluido aquoso rico em carbonatos que atuou
durante a fase de deformação D e . As demais
propriedades desse fluido precisam ser ainda mais
investigadas.

34
Arquivos Abertos 29
10 – DISCUSSÃO DE RESULTADOS
RESULT
10.1 – GRANITIZAÇÃO
ANOROGÊNICA
PALEOPROTEROZÓICA
P
ara os granitóides São Timóteo, as idades
U/Pb, apresentadas por Turpin et al. (1988)
e Pimentel et al. (1994), e Pb/Pb, por
Cordani et al. (1992), sugerem uma idade de
cristalização em torno de 1,75Ga. Os resultados Pb/
Pb em titanitas do gnaisse Cercado também apontam
para uma idade paleoproterozóica do seu protólito.
Baseando-se em análises químicas, McReath & Sabaté
(1987) sugeriram que os granitóides São Timóteo são
anorogênicos e que possuem assinatura geoquímica
semelhante à de suítes rapakivi. No Complexo Lagoa
Real não foi reconhecida a textura rapakivi, embora
texturas piterlíticas e granofíricas, tipicamente
associadas a ela (Haapala & Rämö, 1995), tenham
sido encontradas nas fácies porfiríticas desses
granitóides. A falta da textura típica impossibilita a
inclusão desses granitóides no conjunto de assembléias
magmáticas rapakivi, tal como redefinidas por
Haapala & Rämö (1995). De acordo com estes
autores, devem ser classificados como granitos
rapakivi aqueles do tipo A, que mostrem claro
desenvolvimento desta textura. A assembléia
magmática rapakivi seria constituída não apenas por
granitos rapakivi, mas incluiria, também, outros granitos
cogenéticos com texturas diversas.
Os granitóides São Timóteo teriam sido formados
em condições anorogênicas, com assinatura
geoquímica de ambiente do tipo intraplaca continental
(McReath, 1985; McReath & Sabaté, 1987; Teixeira,
2000). Embora não tenha sido encontrada a textura
rapakivi típica, as texturas magmáticas recuperadas
nos granitóides do Complexo Lagoa Real, a assinatura
geoquímica do Granitóide São Timóteo, as associações
de fácies magmáticas identificadas durante o
mapeamento geológico do Complexo Lagoa Real e as
idades de cristalização disponíveis permitem sugerir que
a Suíte Intrusiva Lagoa Real, na definição de Arcanjo
et.al. (2000), possa ser correlacionável com
assembléias magmáticas paleoproterozóicas do tipo
rapakivi, que ocorrem em Minas Gerais, na suíte
Borrachudos, e no Cráton Amazônico e em Goiás, já
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM
descritas por diversos autores, como Issier et al. (1985),
Anderson & Bender (1989), Neves & Cordani (1991),
Pimentel et al. (1991), Emslie (1991), Sadowski &
Bettencourt (1996), e Dussin et al. (1997).
As maiores ocorrências de granitos anorogênicos
estão na América do Norte e na Eurásia e, em todo o
mundo, se relacionam, de preferência, a processos
magmáticos de idade paleoproterozóica (Issier et al.
1985, Bettencourt et al., 1999). No Brasil, elas estão
especialmente alojadas no Cráton Amazônico (Issier
et al., 1985; Anderson & Bender, 1989; Neves &
Cordani, 1991; Emslie, 1991; Sadowski & Bettencourt,
1996). Estes autores propuseram a correlação entre o
ciclo ígneo paleo e mesoproterozóico da América do
Norte-Eurásia e as intrusões de granitos anorogênicos
encontrados no Cráton Amazônico. Os dados
geocronológicos disponíveis demonstram que, na região
Amazônica, assim como na América do Norte e
Eurásia, esse ciclo ígneo teve uma duração da ordem
de 900Ma (Issier et al. 1985; Dall’Agnol et al., 1993).
As idades de colocação desses corpos variam desde
1,88Ga (Machado et al., 1991; Macambira & Lafon,
1995), passando por 1,55Ga (Gaudette et al., 1996),
até 1,4-0,97Ga (Priem et al., 1989; Bettencourt et al.,
1995; 1999).
Na província Tocantins os granitos anorogênicos
apresentam idades U/Pb que variam entre 1,77 e
1,57Ga (Pimentel et al., 1991), e podem ser incluídos
em uma suíte rapakivi semelhante à do Cráton
Amazônico (Bilal et al., 1997; Dall’Agnol et al., 1999).
Dussin et al. (1997), por sua vez, sugeriram que a Suíte
Borrachudos, da porção setentrional da Província
Mantiqueira, é expressão de um magmatismo
anorogênico, possivelmente, correlacionável com a
série de granitos rapakivi da região Amazônica. Silva
et al. (2002) encontraram idades U/Pb de 875 ± 9Ma
para um granito da fase de instalação do rifte
Macaúbas.
Conquanto se constatarem ocorrências de granitos
anorogênicos no Cráton do São Francisco e no Cráton
Amazônico, diferenças marcantes existem na
distribuição e na expressão da área desses corpos em
ambas as regiões (Dall’Agnol et al., 1999). Tais
diferenças refletiriam as evoluções tectônicas distintas
entre essas duas unidades geotectônicas. No Cráton
35
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM
Amazônico foi detectada uma relação direta entre as
idades dos corpos graníticos e os diversos estágios de
acreção Paleo-Mesoproterozóica. Essa distribuição
seria correlacionável com a que é encontrada na
América do Norte e Eurásia (Almeida, 1978; Neves
& Cordani, 1991; Dall’Agnol et al., 1999). No interior
do Cráton do São Francisco, entretanto, as idades
paleo-mesoproterozóicas obtidas no granito
Borrachudos por Dussin et al. (1997), e no Granitóide
São Timóteo por Turpin et al. (1988) e Cordani et al.
(1992), bem como a apresentada por Cruz et al. (2004),
estão concentradas no Paleoproterozóico. Uma
segunda fase de magmatismo anorogênico marca a
transição entre o Meso e Neoproterozóico (Silva et
al., 2002).
A correlação entre as idades dos corpos graníticos
anorogênicos e as idades dos eventos orogênicos
identificados na região Amazônica permitiu a avaliação
por Bettencourt et al. (1999) e Dall’Agnol et al. (1999)
sobre o papel do evento orogenético na geração de
corpos desse tipo. Estes autores detectaram uma
diferença entre as idades dos granitos anorogênicos e
dos eventos orogenéticos em áreas vizinhas, que variou
entre 100 e 300Ma. Com esses dados, eles indicaram
o caráter anorogênico das assembléias, mas sugerem
uma possível influência dos eventos orogenéticos na
geração dos magmas, tendo em vista a presença de
corpos magmáticos na região do rio Negro, estudados
por Dall’Agnol & Macambira (1992), e que estariam
associados com espessamentos crustais relacionados
com eventos de colisão continental. Tal relação foi
também sugerida por Rämö & Haapala (1995) e
Haapala & Rämö (1995). Na região de Rondônia, por
exemplo, a evolução magmática foi controlada pela
presença de eventos orogênicos em áreas vizinhas
(Teixeira et al., 1989; Bettencourt et al., 1995; Tosdal
et al., 1996). Uma análise desta natureza não pode ser
realizada no Cráton do São Francisco, uma vez que o
magmatismo sin-rifte está associado com a abertura
de um rifte intracontinental que se iniciou no Paleo-
Mesoproterozóico e evoluiu até o Neoproterozóico. Não
há evidências geológicas precisas sobre a existência
de um evento orogenético no Mesoproterozóico. Os
principais argumentos baseiam-se em dados
geocronológicos Rb/Sr, obtidos, por exemplo, por
Cordani et al. (1992) em rochas do Complexo Lagoa
Real que sofreram intensa albitização. Esses dados são
explicados pela perturbação do sistema isotópico Rb/
Sr durante o evento hidrotermal Neoproterozóico e que
foi datado por Pimentel et al. (1994). Turpin et al.
36
Arquivos Abertos 29
(1988) haviam obtido uma idade U/Pb para a
mineralização em 1.397 ± 9Ma utilizando uma técnica,
pouco usual, de lixiviação de concentrados de minerais
pesados e amostras do albitito. Tudo indica que as
frações analisadas deveriam conter tanto minerais de
urânio cristalizados em 1.750Ma (Cordani et al., 1992;
Turpin et al., 1988) como aqueles cristalizados, ou
zerados em 960Ma (Pimentel et al., 1994), resultando
em uma idade de mistura sem qualquer significado
geológico. Desta forma, é possível que o magmatismo
anorogênico do rifte Espinhaço-Macaúbas reflita a
presença de condições geológicas semelhantes às que
são encontradas nos tempos atuais no lado leste do
continente africano.
10.2 – A MINERALIZAÇÃO DE URÂNIO
No Complexo Lagoa Real é notória a relação
entre a deformação dos granitóides e a formação de
rochas gnáissicas (ortognaisses). Em várias exposições,
as relações texturais nos tectonitos com diferentes
graus de deformação sugerem a geração de gnaisses,
albititos, microclinitos e oligoclasitos a partir dos
granitóides desse complexo. A relação entre granitos
e gnaisses já havia sido sugerida por vários autores,
como Raposo & Matos (1982), Hoffmann (1982, apud
Brito et al., 1984), Costa et al. (1985), Brito et al.
(1984) e Ribeiro et al. (1984). Entretanto, para estes
autores, os processos responsáveis pela geração dos
tectonitos em questão estariam associados a processos
cataclásticos. Processos cataclásticos envolvendo os
feldspatos durante a formação dos gnaisses estão
restritos ao Setor I do Complexo Lagoa Real, e estes
não estão relacionados à formação dos albititos.
No Complexo Lagoa Real a principal discussão
se relaciona à idade da mineralização do urânio e à
natureza do metassomatismo e sua relação com as
fases de deformação observadas nas rochas
encaixantes dos albititos. A íntima associação dos
corpos lenticulares de albititos, microclinitos e
oligoclasitos com as rochas gnáissicas e as suas
relações concordantes com as estruturas
deformacionais sugerem que a formação desses corpos
lenticulares seja associada ao mesmo evento tectônico
compressional que levou à transformação dos
granitóides São Timóteo em gnaisses. Desta forma, o
bandamento composicional não poderia ter uma origem
primária, como foi proposta por Caby & Arthaud (1987).
As relações de truncamento entre o bandamento e a
Arquivos Abertos 29
foliação metamórfica são um efeito da deformação
progressiva. Nas porções de maior deformação, as
dobras são geradas e sucessivamente transpostas.
Durante as transposições, a foliação metamórfica se
paraleliza com os limbos das dobras, enquanto nas suas
charneiras, ou regiões próximas a elas, podem ser
preservadas no curso da deformação.
Fyfe (1979, apud Brito et al., 1984), Raposo et
al. (1984), Lobato (1985) e Lobato & Fyfe (1990) já
haviam discutido a importância da deformação na
geração dos gnaisses Lagoa Real e na relação entre
a deformação e o evento metassomático que originou
os albititos. Estes autores argumentaram que a
deformação dos protólitos do Complexo Lagoa Real
foi acompanhada por transformações texturais e
químicas que refletem o processo de metassomatismo
sódico durante a nucleação de zonas de cisalhamento.
A figura 19 representa um modelo de formação da
mineralização de urânio no Complexo Lagoa Real. A
transformação da microclina em albita, e da
hedembergita em aegirina-augita refletiriam o aporte
de sódio a partir de fluidos metassomáticos. A análise
microestrutural levada a efeito nos tectonitos do
Complexo Lagoa Real mostrou que, ao contrário do
que fora sugerido por aqueles autores, a transformação
da microclina em albita é anterior ao evento
deformacional que individualizou os corpos de albititos
e demais tectonitos do Complexo Lagoa Real, e está
relacionada com um evento metassomático precoce.
A transformação dos granitos, em gnaisses, albititos,
microclinitos e oligoclasitos, foi acompanhada por
processos deformacionais na escala de grãos que
envolvem, dentre outros processos, a deformação
plástica do feldspato alcalino e da albita e, também, a
recristalização desses minerais. Em tais
transformações não foram encontradas evidências de
aporte de fluidos ricos em sódio, tendo em vista que
os produtos recristalizados não estão substituídos pela
albita. Além disso, não foram verificadas variações
composicionais transversais às zonas de cisalhamento,
quando comparados granitóides e gnaisses, sugestivas
de aporte de albita. Desta forma, torna-se necessário
separarem-se, no tempo, duas etapas principais da
evolução do depósito de urânio no Complexo Lagoa
Real. A primeira marca o enriquecimento em sódio,
ou seja, a albitização propriamente dita, associada com
o metassomatismo sódio-cálcico, e que foi estudada
em detalhe por Maruèjol (1989). A segunda etapa
marca a deformação dos granitóides, a
individualização dos corpos de albitito e a
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM
concentração do urânio em zonas de cisalhamento.
A relação entre a existência de granitos
anorogênicos e as alterações metassomáticas
relacionadas às mineralizações de Th, U, Y, Nb, Sn,
W, Be, e Au já foi reconhecida por diversos autores,
como Patterson et al. (1981), Daoud & Antonietto Jr.
(1985), Issier et al. (1985), Abreu & Lesquer (1985),
Anderson & Bender (1989), Botelho et al. (1994),
Botelho & Moura (1998), Abdallah & Lenharo (1999),
Huhn et al. (1999) e Dall’Agnol et al. (1993; 1999).
No Cráton Amazônico a associação metalogenética
relacionada a esse ciclo magmático pode ser
correlacionável com as importantes províncias da
América do Norte e do Cinturão Escandinavo (Issier
et al.,1985).
Durante o resfriamento de corpos graníticos a
alteração metassomática ocorre nas fases finais de
cristalização magmática, no estágio subsólido, em que
elevadas pressões de fluidos tenham sido atingidas
(Dall’Agnol et al., 1993). O processo de alteração
metassomática envolvendo fluidos magmáticos e rochas
granitóides ou de composição afim é genericamente
denominado greisenização (Shcherba, 1970; Stemprok,
1987). A interação entre fluidos magmáticos tardios e
as fases já cristalizadas resulta em produtos que foram
envolvidos em reações de moscovitização, albitização,
caulinização, turmalinização, microclinização,
carbonatação e fluoritização (Stemprok, 1987). Tais
reações ocorreriam em rochas magmáticas e em rochas
encaixantes dos corpos plutônicos, e haveria uma
hierarquia e um zoneamento espacial entre elas. A
albititização se caracteriza como um processo relevante
durante a alteração metassomática, sendo também um
importante guia para identificar rochas potencialmente
mineralizadas através de processos de alteração
envolvendo fluidos tardimagmáticos (Dall’Agnol et al.,
1993). A substituição do álcalifeldspato pela albita
geraria feições de substituição com as mais variadas
geometrias, desde anelares até amebóides. A presença
de biotita do tipo siderofilita também seria uma feição
diagnóstica de alteração metassomática por líquidos
tardios.
A natureza da alteração metassomática está
relacionada a diversos fatores, mas, essencialmente, é
controlada pela natureza do fluido e das rochas
envolvidas, do tipo de fonte do corpo magmático, do
nível crustal e da pressão de fluidos (Plimer, 1987).
Em condições de elevada pressão de fluidos, depósitos
brechóides seriam certamente gerados, enquanto
flutuações nas condições de pressão gerariam
37
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM
fenômenos alternados de fraturamento hidráulico,
circulação de fluidos, alteração e precipitação (Plimer,
1987; Sibson, 1990). Ao contrário, em sistemas com
menores pressões de fluidos, a alteração ocorreria
através de difusões químicas ou aproveitaria a
porosidade primária das rochas envolvidas. Neste caso,
a extensão do processo metassomático seria função
do tempo de interação entre o fluido e a rocha (Plimer,
1987). A alteração metassomática pode acarretar o
enriquecimento da rocha encaixante em Na, K, Si, Rb,
Ga, Li, U, e F, e o seu empobrecimento em Eu, Ca, Sr,
Ba (Plimer, 1987). Neste processo o flúor seria
extremamente ativo, facilitando a dispersão dos cátions
e a diminuição da temperatura do sistema. O teor de
flúor em minerais como a biotita seria um importante
guia na identificação de processos metassomáticos
envolvendo fluidos magmáticos. Feições descritas por
Maruèjol et al. (1987) e Maruèjol (1989), como o
elevado conteúdo em cloro na biotita e no anfibólio, o
aumento dos teores em Si, F, Th Y, Nb e minerais de
terras-raras nos granitos, o enriquecimento em Cl, F,
Th, Y, TR e Nb e empobrecimento em Ba e Sr pelos
minerais máficos, seriam registros desse
metassomatismo nos granitóides São Timóteo.
Tomando por base os resultados de química mineral
em biotita e anfibólio, Maruèjol (1989) propôs que
fluidos tardimagmáticos à cristalização dos granitóides
Lagoa Real teriam sido responsáveis por desencadear
reações que levariam à extração do urânio a partir de
minerais acessórios dos granitos já resfriados e a sua
posterior concentração. Os resultados obtidos por Cruz
et al. (2004) indicam que esta substituição está
associada a um evento metassomático que enriquece
as rochas em sódio e cálcio, e que é anterior à
deformação, como sugerido por Maruèjol (1989). Os
fluidos magmáticos podem ter trazido urânio ou tê-lo
concentrado a partir da sua interação com a mineralogia
acessória dos granitos Lagoa Real.
10.3 – IDADE DA MINERALIZAÇÃO
Baseado em dados Rb/Sr produzidos por Turpin
et al. (1988), Maruèjol (1989) propôs que a idade para
a mineralização de urânio seria de 1.395 ± 4Ma, ou
seja, cerca de 300Ma após a sua colocação. Entretanto,
Pimentel et al. (1994) demonstraram que a
mineralização de urânio tem idade em torno de 960Ma.
Esta idade marca o início de um grande evento
distensivo na transição entre o Meso e o
38
Arquivos Abertos 29
Neoproterozóico, cujo registro é o Supergrupo São
Francisco (Danderfer Fo, 2000). Uma idade U/Pb
próxima a essa já havia sido obtida por Stein et al.
(1980) em uraninitas. Ambas as idades coincidem com
a de deposição da Formação Bebedouro, estimada
entre 1.000 e 900Ma por Macedo & Bonhomme (1984)
e Buchwaldt et al. (1999), e que, na Bahia, marcaria a
fase de instalação do rifte Macaúbas (Schobbenhaus,
1996). Além disto, essa idade, próxima à idade U/Pb, é
em torno de 906Ma, determinada por Machado et al.
(1989) para a cristalização de metabasitos, cujo protólito
seria produto de um magmatismo fissural que marcou
o final da deposição do Supergrupo Espinhaço e o início
da deposição do Supergrupo São Francisco. O
desenvolvimento do rifte Macaúbas (Schobbenhaus,
1996) pode ter permitido a ascensão da astenosfera e
a instalação de condições propícias à geração e
colocação de corpos graníticos anorogênicos.
Recentemente, Silva et al. (2002) obtiveram as
primeiras idades U/Pb para a cristalização de um granito
anorogênico desse rifte, o Granito-gnaisse Salto da
Divisa, datado em 875 ± 9Ma. No lado africano da
bacia, o vulcanismo bimodal da fase rifte foi datado
pelo método U/Pb shrimp em zircão entre 1.000Ma e
910Ma (Tack et al. 2001). A presença de
descontinuidades estruturais associadas com a abertura
do par de riftes Espinhaço-Macaúbas pode ter
canalizado os fluidos magmáticos gerados pelo
resfriamento de granitos anorogênicos, que
metassomatizaram as rochas anteriormente formadas
e foram responsáveis pela primeira geração de
uraninitas.
10.4 – LITOGEOQUÍMICA
A gnaissificação e a individualização dos corpos
de albitito, microclinito e oligoclasito a partir dos
granitóides da Suíte Intrusiva Lagoa Real marcam a
fase deformacional D p1, associada à inversão do
Aulacógeno do Paramirim. As transformações
mineralógicas e variações na química mineral em
feldspatos, biotita, anfibólio, piroxênio e granada em
gnaisses e albititos do Complexo Lagoa Real são
semelhantes às que foram encontradas por Lobato
(1985) e Lobato & Fyfe (1980). As relações entre
piroxênio e granada e entre a magnetita e a hematita,
demonstrariam o caráter oxidante do fluido responsável
pelas transformações mineralógicas. A associação das
fases oxidantes com a uraninita mostra a importância
deste fluido na concentração do urânio nas porções
Arquivos Abertos 29
mais deformadas das zonas de cisalhamento Dp1. Os
resultados das análises de litogeoquímica realizadas por
Lobato (1985) e Lobato & Fyfe (1980) demonstraram
que, em direção às porções mais deformadas, ocorreu
o enriquecimento relativo em sódio, ferro, cálcio,
magnésio e titânio e em elementos incompatíveis, como
chumbo, vanádio, rubídio, urânio, nióbio, zircônio, ítrio,
flúor, tório, e minerais de terras-raras, e a diminuição
relativa em potássio, sílica, bário e estrôncio. O balanço
de massa indicaria perda de até 10% do volume total
da rocha, nas porções mais deformadas. O aumento
relativo em determinados elementos seria associado à
saída de outros componentes.
10.5 – ASPECTOS METAMÓRFICOS
E DEFORMACIONAIS
Não obstante as relações de substituição
envolvendo anfibólio, piroxênio e granada, assim
como magnetita e hematita, demonstrarem um
aumento no grau de oxidação em direção às porções
mais deformadas, e de as análises químicas
sugerirem enriquecimento em sódio e cálcio nos
minerais máficos nesse mesmo sentido, as
microestruturas não corroboram a hipótese sugerida
por Lobato (1985) e Lobato & Fyfe (1990) de que o
fluido sindeformacional tenha sido responsável pela
albitização das rochas e pela sua mineralização em
urânio. A variação na distribuição dos elementos
químicos seja em rocha total, seja nos minerais
analisados, deve refletir a redistribuição dos
elementos químicos durante a deformação. Na escala
de grão, difusões atômicas, provavelmente assistidas
por fluidos, foram responsáveis por individualizar
grãos de albita e microclina a partir de porfiroclastos
de alcalifeldspato parcialmente albitizados. A
deformação e a difusão química proporcionaram a
concentração do cálcio em níveis diferenciados, com
formação de albititos e oligoclasitos intercalados em
alternância com microclinitos e gnaisses. Os
oligoclasitos foram posteriormente transformados em
epidositos, em função do seu caráter mais cálcico,
em relação às rochas adjacentes. Raposo et al.
(1984) demonstram que existe um zoneamento
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cálcio-sódico cuja distribuição é correlacionável com
a polaridade tectônica dominante. Assim, pode-se
supor que há um controle tectônico na distribuição
desses elementos. Segundo aqueles autores, no setor
nordeste do Arco de Lagoa Grande (figura 20), em
que as estruturas mergulham para NW, o cálcio
cresce neste sentido. No setor sudeste dessa
inflexão, a polaridade muda de sentido e as estruturas
mergulham para SE. O teor em cálcio cresce na
direção deste quadrante.
Salvo aspectos metamórficos e deformacionais
associados a fases compressionais e distensionais
tardias, o modelo proposto por Cruz et al. (2004) para
explicar a evolução tectonometamórfica do Complexo
Lagoa Real demonstrado na figura 14 é muito
semelhante ao que fora antes sugerido por Stein et al.
(1980), e que é apresentado na figura 20. Estes autores
identificaram o diacronismo entre o metassomatismo
e a deformação, que foram confirmados a partir das
relações microestruturais envolvendo os feldspatos e
seus produtos recristalizados. A deformação ocorreu
no Neoproterozóico, tendo o sistema K/Ar sido
reomogeneizado, conforme revelaram idades de
aquecimento em torno de 500Ma, obtidas por Cordani
et al. (1992).
Observado por diversos autores, como Raposo &
Matos (1982), Ribeiro et al. (1984), Costa et al. (1985),
Lobato (1985) e Maruèjol (1989), a mineralização de
urânio no Complexo Lagoa Real está relacionada à
presença de granada e piroxênio. Entretanto, a
recíproca não é verdadeira, ou seja, litologias ricas
nesses minerais nem sempre estão mineralizadas com
urânio. O estudo da distribuição dos elementos maiores
nos minerais crescidos sintectonicamente à Dp1, em
albititos mineralizados e não mineralizados, não
constatou, na distribuição desses elementos, variações
significativas que permitissem diferenciar
geoquimicamente os albititos mineralizados dos não
mineralizados. É provável que o controle da
mineralização esteja no grau de oxidação das fases
minerais, principalmente envolvendo a relação
magnetita/hematita. Como também sugerido por Lobato
(1985), nas rochas em que a martitização da magnetita
é mais desenvolvida, deve-se esperar maiores teores
de urânio.
39
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Figura 19 - Zoneamento químico Ca-Na no Complexo Lagoa Real. Modificado de Raposo & Matos (1982)
Figure 19 – Ca-Na chemical zoning in the Lagoa Real Complex. Modified from Raposo & Matos (1982)

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Figura 20 - Evolução tectônica simplificada para a gênese do depósito de urânio do Complexo Lagoa Real,
proposta por Stein et al. (1980)
Figure 20 – Simplified tectonic evolution for the genesis of uranium deposit of Lagoa Real Complex,
proposed by Stein et al. (1980)

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As fases deformacionais Dp2 e De terminaram
por promover condições retrometamórficas que
levaram à formação de níveis de filonitos e de uma
mineralogia mais hidratada que a da fase Dp1. A
calcita e o epidoto crescem nas rochas mais ricas
em cálcio, ou estão alojados em veios. Essa
paragênese é posterior à associação mineralógica
que marca a fase de individualização dos albititos.
A sua presença está relacionada, principalmente,
com a ocorrência de movimentos distensionais De,
que reorientam as tramas Dp1 e Dp2. Esta hipótese
difere da que foi sugerida por Lobato (1985), de que
a calcita e o epidoto comporiam a assembléia
mineralógica ligada às zonas de cisalhamento da fase
de compressão principal, correlacionável com Dp1.
Nas zonas distensionais D e , a calcita cresce
mimeticamente sobre o oligoclásio e, muitas vezes,
aparece bem formada na matriz dessas rochas. Mas
11 – LAVRA E BENEFICIAMENT
LAVRA BENEFICIAMENTOO N
NAA MIN
MINAA CA CHOEIRA
CACHOEIRA
A
partir de uma visão empresarial, embasada
no respeito e na preocupação ambientais,
os trabalhos de lavra executados na Jazida
Cachoeira foram iniciados em dezembro de 1999. Até
dezembro de 2003, foram retiradas e britadas mil
toneladas de minério, sendo a relação estéril-minério
de 5:1. O teor médio de urânio é da ordem de 0,3%. O
teor de corte é de 0,1%. A explotação é conduzida
através de mina a céu-aberto (cava em bancada) bloco
a bloco, com acompanhamento litológico e radiométrico
diário. O período de lavra a céu-aberto da jazida em
epígrafe está estimado em 12 anos, contemplando
aproximadamente 5.000 toneladas de U3O8. Após esse
período, a lavra deverá ocorrer de forma subterrânea.
A deposição do estéril da mina é efetuada de forma
ascendente, estabelecendo patamares modulares, que
são prontamente revegetados. Este procedimento
facilita os trabalhos de descomissionamento,
promovendo a imediata reintegração da área ao
ambiente local.
As mil toneladas de minério de urânio lavradas
foram submetidas a um processo de tratamento mineral.
O processo de beneficiamento do minério de urânio,
42
Arquivos Abertos 29
é sempre possível identificar estágios intermediários
de substituição.
Uma vez identificadas as principais fases
deformacionais e as assembléias metamórfico-
metassomáticas a elas associadas, surge a necessidade
de se discutir a natureza do fluido ou dos fluidos
mineralizantes, aspecto este que não foi abordado por
Cruz et al. (2004). Maruèjol (1989) propôs a presença
de fluido salino tardimagmático, que teria sido
responsável por mineralizar os granitóides Lagoa Real
em urânio. A presença de fluidos salinos também foi
sugerida por Fuzikawa (1980; 1982), Alves & Fuzikawa
(1984) e Fuzikawa et al. (1988). O significado destes
resultados deve ser estudado à luz de um modelo
petrogenético, que, de acordo com os diversos eventos
deformacionais e os seus registros metamórfico-
metassomáticos, permita diferenciar, no tempo e no
espaço, as diversas fases de atuação dos fluidos.
utilizado na Unidade de Caetité, é o de lixiviação em
pilhas, que dispensa as fases de moagem, agitação
mecânica e filtração. A lixiviação em pilha (estática)
foi escolhida por razões econômicas e ambientais, e
em função das características favoráveis do minério.
O minério é britado em três estágios, atingido uma
granulometria em torno de 1 centímetro. Após a sua
cominuição física e formação da pilha, efetua-se um
ataque químico com ácido sulfúrico, obtendo-se um licor
uranífero (sulfato de uranila). Numa etapa seguinte, a
lixívia passa por um sistema de extração por solventes
orgânicos, reextração com cloreto de sódio, seguido
por uma etapa de precipitação com hidróxido de amônio,
levando à formação de diuranato de amônio (DUA).
A planta tem capacidade anual para processar todo
o licor oriundo de até 180.000 toneladas de minério,
produzindo cerca de 400 toneladas de DUA (num
processo contínuo, as etapas de lixiviação e de usina
levam cerca de quarenta dias). A produção do
concentrado, denominado comercialmente Yellow
Cake, é programada com vinte meses de antecedência
para recargas de combustíveis, e com cerca de 36
meses para entrada em operação de centrais nucleares
Arquivos Abertos 29
novas. No complexo mina-usina, só é manuseado o
urânio em estado natural, cujo nível de radioatividade
é de baixa intensidade, estando abaixo do limite
aceitável, estabelecido pela Comissão Nacional de
Energia Nuclear.
Até o momento, foram produzidas cerca de
1.500 toneladas de concentrado de urânio a partir
do processamento de 14 pilhas de lixiviação. A
recuperação média do conteúdo uranífero é da
ordem de 75%, com um consumo de ácido sulfúrico
em torno de 30 quilos por toneladas de minério
tratado. Adotou-se a utilização de lagoas (ponds),
impermeabilizadas com manta de PEAD de um
milímetro de espessura, sobre colchão de areia,
para retenção da fase sólida gerada no tratamento
12 – DEMAND
DEMANDAA INTERN
INTERNAA DE URÂNIO
A
principal aplicação do urânio no Brasil é
para a geração de eletricidade em
reatores nucleares, porém, é também
largamente empregado na medicina em diagnósticos
clínicos, e, sobretudo, no tratamento de câncer; e na
agricultura, é decisivo para a conservação e melhoria
da qualidade e conservação de alimentos. A tecnologia
nuclear tem-se mostrado bastante eficaz para esterilizar
alimentos e produtos médico-cirúrgicos e começa agora
ser também empregada para reduzir a carga microbiana
dos medicamentos e produtos fitoterápicos. O quadro
12.1 apresenta a demanda anual requerida pelos
reatores nucleares brasileiros até o ano 2014
(aproximadamente 6.600 toneladas de U 3 O 8 ),
considerando a provável data de entrada em operação
de Angra 3.
12.1 – SITUAÇÃO ATUAL E
PERSPECTIVA
A tonelagem de minério de urânio, relativa à
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do efluente líquido. Esse método possui um
moderno sistema de drenagem, denominado drenos
subaéreos, que permite a reciclagem de toda a fase
líquida e substitui, com enormes vantagens
ambientais, os sistemas convencionais de barragem
de rejeitos. A demanda industrial de água é suprida
por um sistema de captação e abastecimento,
constituído, principalmente, por baterias de poços
tubulares até que se tenha o concurso de oferta
advinda de reservatório de água de superfície
(barramento do Riacho da Vaca). Nas áreas da
usina e do bota fora, o lençol freático vem sendo
monitorado através da coleta de amostras, em
vários pontos estrategicamente localizados ao redor
das pilhas.
Província Uranífera de Lagoa Real, é suficiente para
garantir o provimento de Angra 1, Angra 2 e outras
usinas que venham a ser instaladas. Constitui-se, assim
um recurso razoavelmente assegurado capaz de suprir
os cenários previsíveis de geração de energia elétrica
de origem nuclear, para as necessidades brasileiras.
Enquadram-se, nesta categoria, 94.000 toneladas
geológicas de U3O8. Todavia, considerando as perdas
que comumente ocorrem na mineração e no
beneficiamento mineral (cerca de 30%), mesmo
adotando-se tecnologias eficazmente comprovadas,
obtém-se uma tonelagem entamborável da ordem de
65.000 toneladas.
Objetivando o atendimento da demanda de pico
que ocorreu em 2007, ocasião em que deverá estar
disponível o concentrado de urânio para o primeiro
núcleo de Angra 3, a produção nacional deverá elevar-
se de 400 para 800 toneladas anuais, através da
ampliação da URA, mantendo a meta de
desenvolvimento sustentável. A capacidade de
produção excedente será passível de exportação.
Estudos neste sentido estão sendo efetuados.
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Quadro 5 - Demanda brasileira de U3O8 (toneladas)
Table 5 – Brazilian demand of U3O8 (tons)
Como mencionado anteriormente, a província
apresenta um grande potencial a ser ainda
explorado, haja vista que é composta por 34
anomalias distintas, cujos estudos encontram-se em
13 – CONCLUSÕES
A
o embasamento arqueano,
polimetamórfico, que margeia a leste e
oeste o Complexo Lagoa Real, Costa et
al. (1985) referem-se como Complexo Metamórfico-
Migmatítico. É constituído, principalmente, por
granodioritos e tonalitos que predominam sobre dioritos
e granitos. Este embasamento, segundo Cordani
(1983), tem idade da ordem de 2,8Ga, e foi afetado
por intrusões alcaligranitóides que constituem a fase
granítica do Complexo Lagoa Real, direcionada N-S.
As rochas intrusivas, que constituem o Granito
São Timóteo e granitóides afins, ao serem submetidas
à ação de processos cataclásticos e, de forma restrita,
a metassomatismo, deram margem à formação
abrangente dos gnaisses do Complexo Lagoa Real.
Este complexo granítico-gnáissico, que é a feição
dominante na região, constitui a mais importante de
todas as unidades, por conter as mineralizações da
Província Uranífera de Lagoa Real. Cruz et al. (2004)
44
Arquivos Abertos 29
diferentes níveis de detalhamento. Vale lembrar que
as reservas avaliadas referem-se apenas a doze
anomalias, que foram submetidas à sondagem
geológica e/ou cubagem.
identificaram no Complexo Lagoa Real três eventos
de metassomatismo, M s1 , M s2 e M s3 , e um de
metamorfismo, subdividido em progressivo e retrógrado,
ambos (metassomatismo e metamorfismo) associados
a três fases deformacionais distintas: Da, Dp e De.
Gnaisses e corpos lenticulares de albitito,
microclinito e oligoclasito foram gerados a partir de
deformação de granitóides durante o estágio de
deformação Dp1.
A formação dos granitos foliados Pilões e dos
gnaisses Lagoa Grande e Caetité, assim como dos
albititos, microclinitos e oligoclasitos envolveu
processos deformacionais na escala de grão. Os
principais processos associam-se com a deformação
plástica dos feldspatos e do quartzo e a recristalização
dessas fases minerais através da rotação de subgrãos.
Nos feldspatos alcalinos esses processos instalaram-
se sobre porfiroclastos parcialmente substituídos por
albita durante um evento metassomático anterior à
Arquivos Abertos 29
deformação, e levaram à separação entre a albita e a
microclina, antes associadas pelas substituições
metassomáticas.
As transformações metassomático-metamórficas
Ms2/M1p/Sin-Dp1 foram acompanhadas por reações de
oxidação e modificações químicas dos minerais, tais
como o enriquecimento em sódio pelo piroxênio e pelo
anfibólio, e de cálcio pela granada, em direção às
porções mais deformadas. Os corpos de albitito,
oligoclasito e microclinito do Complexo Lagoa Real
foram tectonicamente controlados e posicionam-se, na
maioria dos casos, em paralelo com a foliação principal.
Para a deformação Dp, que originou os albititos,
microclinitos e oligoclasitos do Complexo Lagoa Real,
e que reconcentrou a mineralização de urânio em
zonas de cisalhamento, pressupõe-se uma idade
neoproterozóica. Já os processos envolvendo reações
de hidrólise de feldspatos e a dissolução e precipitação
do quartzo estão preferencialmente associados com
o evento metassomático MS3, Sin-Dp2, enquanto o
último evento deformacional, De, é acompanhado de
retrometamorfismo e neoformação de calcita e
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epidoto, a partir das fases minerais preexistentes.
Fluidos metassomáticos da fase M S1 podem ter
transportado o urânio para os atuais locais de
concentração, é o que admitem Cruz et al. Uma outra
hipótese é a de lixiviação das rochas encaixantes
durante os eventos metamórfico-deformacionais que
se sucederam.
Na região de Lagoa Real 34 depósitos de urânio
são distribuídos em cerca de 1.200 quilômetros
quadrados. Doze destes depósitos já foram investigados
em vários níveis de detalhe, confirmando teores
significativos de urânio. Sete deles já são consideradas
jazidas após a conclusão das pesquisas. A soma das
reservas medida e indicada é da ordem de 94 mil
toneladas de U 3O 8, razoavelmente asseguradas,
conforme definição da Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA). Faz parte deste contexto a mina de
Cachoeira, a única a produzir urânio na América do
Sul.
Mas as reservas poderão expandir-se para uma
grandeza da ordem de 100.770 toneladas geológicas
de U3O8, com teor médio de 2.100ppm.
45
Arquivos Abertos 29
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Sudene.
49
APÊNDICE
Arquivos Abertos 29 Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM

APÊNDICE

A – PROJETO LAGOA REAL

O Projeto Lagoa Real foi executado pela CBPM a pedido da Nuclebrás na década de 80
COSTA, P. H. de O. et al., Projeto Lagoa Real: mapeamento geológico 1:25.000. Salvador: CBPM, 1985, v. 1, 98 p.
ƒ O relatório do projeto é composto por doze volumes. O volume 1 consta do texto e de um mapa geológico integrado
na escala 1:50.000. Os demais volumes contêm mapas, fichas petrográficas e fichas de afloramentos. O texto trata da
geologia da área, que abrange seis folhas geológicas na escala 1:25.000. Além da descrição das litologias, faz uma
abordagem sobre a geologia estrutural, tectônica, geocronologia e mineralizações de urânio.

A1 – EQUIPE DO PROJETO

CHEFE DO PROJETO E GEÓLOGO EXECUTOR

Paulo Henrique de Oliveira Costa

SUPERVISÃO TÉCNICA
Icalmar Antônio Vianna

EQUIPE TÉCNICA
Aluízio R. Ferreira de Andrade
Gileno Amado de C. Lopes
Paulo Henrique de Oliveira Costa
Raymundo José Bulcão Fróes
Samuel Leal de Souza

CRUZ, S. C. P. et al. Geologia e arcabouço estrutural do Complexo Lagoa Real, com ênfase na mineralização de urânio.
(2004)
ƒ O texto trata da geologia do Complexo Lagoa Real. Temas como textura das rochas, petrografia, mineralogia e
quimismo mineral são abordados com profundidade, com ênfase na geração das mineralizações uraníferas. Datações
geocronológicas fazem parte da abordagem. Um dos capítulos mais fundamentados trata da albitização, deformação
estrutural, gnaissificação e concentração da mineralização de urânio.

Apoio, Coordenação e Execução:

Plínio Melchiades de Oliveira Veiga – Geólogo/CBPM
Maria Augusta Magalhães e Silva – Economista/CBPM
Renato Machado de Carvalho Filho – Chefe do Setor de Desenho e Edições Técnicas/CBPM
Francisco Baptista Duarte – Texto e correção gramatical – Consultor
Enock Dias de Cerqueira – Revisão final/CBPM

B – SÉRIE ARQUIVOS ABERTOS 29

Autores da Síntese:
Simone Cerqueira Pereira Cruz
Luiz Luna Freire de Miranda
Plínio Melchiades de Oliveira Veiga

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Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM Arquivos Abertos 29

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Arquivos Abertos 29 Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM

VOLUMES JÁ PUBLICADOS DA SÉRIE ARQUIVOS ABERTOS

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 ANEXO
MAPA GEOLÓGICO DA PROVÍNCIA
URANÍFERA DE LAGOA REAL, BAHIA