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i LITERATURA, CINEMA E TERE Tania Pellegrini \ Randal Johnson Ismail Xavier Helo Guimanies Flivio Aguiar Do TEXTO AO FILME: A TRAMA, A CENA EA CONSTRUGAO DO OLHAR NO CINEMA A questi da adaptago Iteisa pode ser discutila em mui tas dimeasdes. E o debate tende a se concentrar no problema da intespretagio feta pelo cioessta em sua tansposigio da veo. Vai se diteto a sentido procuado pelo file para verifica em que gas ‘ste se aproxima (fie) ou se alata do texto de ovigem. Nessa ‘manciza de proceder, vale a intexpretagio do ctitico, tanto do texto ‘setito quanto do filme, como referencia pata juga o trabalho do cineast e suns “tnigdes”. Houve época em que eta mais comm ‘cetarigider de postu, prineipalmente por parte dos apaixonados pelo sector cuja obra em flmads. Exigiam a fidldade, quetiam enconta Katka no filme O praese de Orson Welles, ou Flaubert 'o MadeneBotar de Jean Reno ou mesmo no filme hombnieao de ‘Vicente Minnelli No entanto, nas Simas décadas tl eobrana per den tereno, pois hi uma atengio especial votada pata ox desoce. ‘mento ineviives que oorrem na cultura, mesmo quando se quet ti, €passow-se a pevlegiar a ida do “didlo” para pensar a ‘ago das obra, adaptages ow no, O lv eo filme le basea do aio vstos como dois extremos de um processo que comporta sltergdes de sentido em funsio do for tempo, a par de to o ‘mais que, em principio, tinge a imagens, seas sonoets ¢4¢ ‘encenages da palarra escitae do sléncio da liu, A interagio ene as miiastomou mais dif recusar o di ‘ito do cinesta &interpeetgio ivte do romance ou pega de ta tro, ¢ admitese até que ele pode inverter determinados efits, Propor outes forma de entender cern passagens, alter ier ia don valor e redefine sent da expeignes da pets nos A fied ao orginal dea de sto critio maior de uieo ‘rie, valendo mais a aprecinsio do filme como nova expeiéacia que deve ter sua forma, eos seatidos nla mpliados, julgados em ss proprio dzeio. Anal, lezoe fline eto dstanciados no tem- ps eseiore cineasta ao tm exatamente a mesma sensbildade © ppempectiva, send, portant, de espers que adsptagio dialogue tio com o texto de otigem, mas com o seu prprio context, inclusive atualizendo a pauta do vz, mesmo quando o objetivo & 1 itkentficaglo coma of valores nele expresios. Se 0 nema Novo ilapou litos de Misi de Aadeade, José Lins do Rego, Gracin Narmos e Jorge Amado, cada fle tstou de defi a soa leitara da ‘exigo ceriia, levando ex conta que intervir ao proceso cut rule, Se possivl as tociedade nas décadas de 1960 ou 1970 aio fa mesma coisa que escrover livros nos anos 1920, 1950, 1940. A meu ver, nio setia produtivo eobrar de Joaquim Pedto, em Mauna, a exata tespesigio da dimensdo mitopottica da ap- ila de Miso de Andkade, on apeeia bare da eta de Sana Amaral apenas pela noténiadferenga que existe entre o fle © a ela de Clice Lspector no que toes a0 método, 0 papel que sxerce fguea do aazeador em um caso e nour. Olema deve set w cineasta 0 que & do cincasta, ao erctor 0 que é do ect valend as compaagSes entre Hiroe Elm mais ecto um esoreo pra forma mas lars as escotha de quem leu 0 texto @ assume ‘eum ponto de pats, no de cheyada Hsu 6 uma observacio de prnepio que se deve ter em conta 1 dscute» problems da adaptagio os julgat um caso particule Pri ‘ques averte quanto a0 limite sempre presente quan- ‘vos empenianos em examina os rcurson usados pelo cneasta a feniar urn wonalidad, ume atnefera, um ine gue ag ea valete enti, um tradi — oye ae amit como eal fy rumanee por meio ea pulvr. 14 ease em que ae veri, tn etic, wma nda Enface confi & dla de transposigio ~ como acontece com of Laser ants, de sia Fernando Ca rahe, que sdaptow o romance de Racaan Nassar. Bos parte dae tic identiicou-se comm o filme como tradugio e considerou a busca de equivalincias bem-sucedda, Nos casos em que iss0 acontece, tum erhico ditk que a fotografia reproduz a atmosfera sombsia ou Juminosa do leo, ue o ato compée bem a fsionomia eo catitee, dos protagonists, que a montagem © os movimentos de chimera Jmpsmem o smo exrto, ue a misc infunde a ronalidade corret, (tomando o romance como gabatte), de mod a piven 2 iia 4a Glagern como taneplante de efeitos e de sentidos Tas observages, 20 destacar equvalncis etre ss palnvas cas imagens ou cate orto musical eo de um text escrito, ene ‘a ronda de wm enunciado verbal e« de wma fotografia, clo- ‘em-se no terreno do que chimamos de eat. Tomam o que € «5 ecifico a0 liters (s propriedades sents do texto, sun forms) eprocuram sun traducio no que &espeiico ao cinema (foveal, ritmo da montagem, tila sonata, composigio das fgutasvisves dias personagens). Tal procusa se apéia na ida de que haverk ‘um modo de fazer certs coisas, pipes 2 cinema, que &anilogo 20 sod como ve obiém cetor efeitos no lire, “modo de fee” que dia respito exatamente& esfeta do esl, E essa analogia qu 6 ere equialéncias eslistias estar apoada na observasio de um sadiente de ritmo, disténcas, tonalidades, ue esto assocados a cemogies ¢experincias, bem como a um to fguativo da lingua ‘gem que pecmite dizer que palavea c imagem procuratn explorr at mesinas teases de semelhanga (as metifors) at mesmas ca eins de associngioe causaidade (as metonimis) Ess €o terreno tem que a avaliagio de pasagem do livro ao filme, econhecida ‘mente decsva, ve apresea mais complicda para cco, pois se trata de dincutirequivléncian que tio sem div apoisdas a sensibldade, na percepgio pesoal, no que se expressa em adjet vor que todos wsamos, com todo o ditto, ao expor nossa reagio is obras de arte: Embora no esteasenta de instruments conceit, de uma teora que pode gist» anise, a esfea do esto se poe «como algo menos pucico na obtengi de im consenso do que, pot cxemplo, as observagbes que o exico pode fzer sobre alteraées ‘no enredo, ou sobteaspectos da forma nattativa, pois estas alten Ges se nsalam no eampo em que literate e cinema se inteecep- ‘am, encontram uma esferscomum de operasdee que pode ser des cit com ax mesmas noptes, (© amo comun Da waneariva filme narmtivo-deamédico, a pepa de teato, 0 conto € 0 romance tim em comum ums questi de forma que di espeito xo modo de dsposisio dos acontecimeatos e apes des pesonagens (Quem sara excolhe © momento em que wma informagio & dada © [por meio de que eana isso & feito, Huma ardem das coisas 20 ‘xpayo eno tempo vvido plas personagens, eho que vem antes ‘co que vem depois a0 nosso olhar de espectadotes,sejana tel, a paleo ou no texto. Em todas esas forma de expeesio,ofato de ‘tar presente 0 ato de nate permite o uso de categocas comuns 1a desctigo dos elementos que organizam a obra em aspectos es seniss. A narativa & uma forma do discuso que pode ser exami ‘ada mum grau de generaidade que permite desctever mundo rnatrado (ese espagotempo imainitio em que vivem as persona. ets) ou falar sobre muita coisas que ocotrem no propo ofcio da rarago sem que soja necesito considera as paticularidades de ‘la meio material (a comuniasio oral texto escrito filme, a esa de teat, 0 quadtiahos, «novela de TV), Na devi fe tempo, erpagn, tipo de agin € de agente (personagens), nt dy mand que a nareagin conse pams falar smeamo desereret certosprocedimentos de quem nits, em vat cm conta ao pe ana so palvnsoimagene— como qua sme roo a una dsposiio dos for em sucesso oer, out Alapoigo que impli das vind no tempo conolgica ou lo me reio a patllimnos na evclgio da iti, lips (aon no tempo), mada no expo das aes, foes sins de pri ‘iegiarsexpesiéacia de um ou mais personages, prodogio deer tas mets enue eomeyo e fin, enueeruzamestos,ifreagbes © *pontos de vrda” da hii, lage ete o que & deco de um esta de coisas ou estado mental) co gue é nara de even- tos, colts eaze poets de pemonagens que fe enema ou 6 ainda, ete Diane de qualger dnc atzatio, pom fils em fb,» _qorendo me refer a um cet histsa contd, certs persona ema uma seqinca de acontcimentos qu se sueedeam num, deeeminado lat (8 hee) um interval de tempo que pote sermaior ou menorseposo flr mama parame sfeiao od como tal ita as pesonagensaprecer pa im (iton/ espeetados) por mo do testo, do fle, da pegs, Uma nics hit ‘i pode set coaada de vikon modos; ou sua ica ba pode set consid por mio de nimeras ares, com formas i ‘nas de dspoe odds, de rgain o tempo. Pot exemplo, a0 fale de Cindi Kae (Orson Welles, 1941), poss diner que se tata de una biograi, da isn de wm nd chu que foi enue pelos pis tutes de um banco e qu, m8 ‘rairiade, herd fortna grad por ma mia de propiedad de wu mic, prota a marisa um comportamento pela como milion, jrnatinaepollic, endo dit vor canoe tend das vee id abandon pel lhe pata trina vida co um velho area ao cost com o mand, gu decide se cera no cate iene leer gue elif parai fy nivel da Sula. B posso dizer que se tata de um filme que ‘omesa por um prdlogo que 200 mosta a morte de Charles Foster Kane em wm quarto do eastelo, sudo de um cinsjornal que nos informa sobre os episios de sua vida qe so de dominio pico, cincjornal que um grupo de jrnalistas dtcute para conch que & ncessto algo mais para que tudo gaa inteess,e decider es ‘ala um deles para ic clher depoimento de pessoas que coavive- ram com Kane, com o inento de rexponder a wma pergasia que cst no at: porque, ao matter, Kane pronvnciow a pala Rah, «0 questo sigifen? A partir dl, 0 filme se desenvolve em uma senso de entrevista as guns os que patiharsm de sua inti lade noe rbatam fins da vida de Kane. Cada um de nés, junto ‘comm 0 jomalista que aos conduz, &obrigado a juntac as pegas do tmostico para compar o percuro da personaidade ex questi. Tixtamos no nivel da tama, em que a questio cent no & a histé- ‘isc s mas 0 modo como o filme tee narativa e nos tz ot dor que nos permitrn tomar conseizacia do que se tata im verdide, © qve wm flme, wm romance ou uma pega me “ferecem & a rams, pois no posso me telacionarseno com a dis oigio do elit tal como cle me & dado. I & » pari dagulo que Ine oferoce ~a tama ~ que deduzo a fibula, que refao a vida das Pstsonagens em minha cabers, Endo o conto, Nasr & tema, tecer 1 hé muitos modos de fb, em conesio com 2 mesma {abula. Iso iempis propor muitos centides diferentes, mutes in ‘expretagies diferentes a parts do mesmo mateal beuto extraido le uma sueeso de fits, de um pereurso de vide Volkando a0 nosso problema da adapasdo, um flime pode cvatamente 96 estat mas tent & fibula extraida de um romance, tratando de rami de outta forma, nudando, portato, semi, verpeetagio das experimen Fealizadas. Ox pode, no cut pil, “querer reprenlir com Filia rama cir mane eins sto Mi oxdenadas a informagées edisportas at cenas sem modee| 1 ordem dos elementos. Em qualquer dos caso, todos 08 extcos| tstario de acordo que, ness aspecto, &possiel saber com preciso que semanteve,oque se modifiou, bem como o que ve suprimiy cw acrescentoo, Mas difclmentehaveri conseaso quit 40 sn do de tas permanéncas © ansformaget, pot elat devo ser svaliadas em conexio com outrasdimenaSes do flme que envat ‘vem clementos que se sobrepem 20 exo da tra, como os ele ‘mentos de estilo que engsjam os tapos epeciicos 20 melo “Mais para 0 fra, meu objetivo & citar pastagens exteidas «hs adaptages de Nékon Rodkigues pats cinema, evdenciando 1 produsio de sentido implicade em certaconstrucio do ola pela rmontagem cinematogsifiea, dentro da quextio mas gerl da “pon: to de vist que domina uma natgio. Essa questio do “foco” da ‘qual emana a “voz nareatva” cavolve uma deserigio de formas € procedimentos gue até tm certo patamat de observagio, moilza nogdes comuns literatura, ao eatzo € a0 cinema im face de to dos, tae de examina apart de que psspectiva una histria€ contada, um dram & concei, personagens so desenhadss cm menor ou maior detalhe, permanecendo mais mistrosas ou mais teanspatentes pata quem acompanka o ato, [A QUESTAO D0 “roCO” ou DO PONTO DE VISTA De que ponto de vist sio apresntados ov diferentes even- tos e persoaagens? De que fag e com que gra de detalhsmento (proximidede, dirtincis) somos levados a observar determina s- tage on experi? Claro que, em cada modaldade de arte, 8 reuttos so dfe reales, mas einen, diet detent © romania ti em comm come exercicin de uma excha ue pe ser descrt, em parte, nor mesmo tern No gue die reso adage, noe deparam a com eoteosassentaos no que hi de comum e que pode set mot vo de idemtidade ou de diferena ente zomance e filme. Machado de Asis, crm De Casmurro © Memsristpitunar de Brét Cubs in- ‘yentou petsonagens que nasram as suas expesiénis,flando em primi pesos, penonagenscsjavor domins todo o romance Paulo Cesar Surtceni, que digin Cain (1967), Jlio Bressine © Andeé Kote), que adapeatam Bris Cube, em 1985 © 2000, respectva- mente, dveram de inventar em seus fens forts de resolver essa {questi ou se valendo da rome (essa que se sobrepée imagem ¢ ‘\comestaa ada moments) ous valendo de uma encenagio em qe (mot se dig dntamente aos expecadotes¢ revel seus fango de armor e coment. No evo de Brewane speifcament,houre 1 adogio de um extrio mais complexo na adapasio: busca, 08 vitos aspects do tabalho de compesici,ansogie forms etre cinema e errs, de modo a tadiie 0+ métodos de Machado de Assis, moo conto da histiria Luchino Viscons, quando fimon Mortem Vinge (1971), sxlptagio da novela de Thomas Mano, balboa um romance que era anado em “cteciza pessoa", como se dz, por umn aarmdor que tinhs poderes de penetar noe pensamentos do protagonist, expor as suas idéas sobre a arte © sobre a vide sem recor a ddlogos, pois era essencal tal Sigua a sua condigio coi, de alguém, ropenso di zeflsio e i contemplacio do mundo. O cineasta pode- fia expor ox pensamentos do protagonsta usando a remy, mas no quis, dado que sempee prefera o xperieslo apoio mum c= «qvema natativo elec, feito da sucessio de cenas dispostas em continidade, sem iaterfrénciat. Ao mesmo tempo, entendeu que 2 esporigio das ids era fundamental pas seu projta A solugso foi invent um inteslocuto, no exstente ma novela, pata opr saints 1. campo algumas cena dalodae que ier no filme ‘como mmentos le uhbark, ce mera, bem avivadon pel com portamento de tal petsonagen-ntelocntor, sempre mito vere re nas diecusies estticas que Visconti comp5s par tabs ta ze certs opines do prpeo Thomas Mana sobte a ate (0s exemplos anteriores jd mostram qve o problems de put vida nto se reds 20 ing paste do qual se conta a hist 134 muita coisa implicada afin, o nareador fx sua vs alive de modo eseancarado ose exconde? Inrervén, explicit ss opi ides, on deixa que o Iitoe/espectadr Faga ss suas inferincia x partir do modo como apresenta oF fats? Deisa a hstdea comer como se fose obserada de uma nea transparent on fiz question de lembrar 0 leitr/espectador de su nfvidde como argued sume a posicio de narador onsciente, que “abe tudo e pode gatantr que suas pessonagens rwalmeate pens sue contol tu ‘am ou sentiram isto ou aquilo mum certo momento? Ou aswume «ese saber tr limites, que tales se aplique a uma persona em (foco ceaual da hist), ou no se apliquea neahuma? Mesmo sqando sbe nda, como sta a dose de informasio que nos Hers sv longo do proceso? Faz com que saibamos mais do que a per ‘nagens? Ou menos do que elas? Fnfim, como escoe as posi rm gos noe quer colar at emagdes que noe reer? Estas sio perguntas que etio presente, quando menos de md implicit, so trabalho dos artistas que inventam histrian © slevem, antes de tudo, aventar uma forma de conti li A varied dle dot métodos é enorme, como ae pode ver pela vasiedade das squestes, © quero destacar aqui um dela por sua importincia Akhate etten tanto num certo momento na htt dv romance, ut cert mesent d hist do cinema Fa que trata da Ainge entre nardores que se excandem aes dy seu oii de ‘unre querem dat a impress de gue histria evo pow men (pane ‘omar uma expres de ete teria do inci do acuta XX), fo come fom muting marines que a nu «qe avangam suas opines, ncerpelam seu eitor/espectador, como fax o Beis Cubes de Machado de Asta. © cineia clistce, com suas eegias de wacspatinca iusionisme, pivilegiou 0 primeizo ‘ipo: hitia deve corer sem interferéncas FE chamamos de na- turalista ese fio de eclipsa os mis de representa e digi 0 espectador pars uma identiiaso “izes” com o mundo feion Pata muita gente tal opi quise se coafunde com a natutera do cinema, como se os fles mio pudessem dar espago pata formas shernatvas de nana, ‘Um caso eflebre da busca de ovtros cttérios foi o de Bisenaein, o cineata rosso que contrbuix muito para a totia do cinema. Ele inovou e, 20 fazé-lo, encontrou muita resstincia nos buroertas sovidicos defensores do naturale como método de representacio no cinema, Isso porque seus filmes sempre estve- sam mateados por uma postura Fancamente drcitsiva, em que 0 rarnador far uso de coments, intervém no fixo da hiss, a Jntzrrompe mesmo para eoloca em pautscertok conceitose ids ‘Quando foi pata o8 Estados Unidos, 1950, a fo outta seu destino, pos af também suas propose de roti se eonfionts- 1am com o mesmo dogma naturalist, Hollywood alo quetia oe nema reflesivo de Kisenstin, o seu nartdor que nfo dei a hist sn fing que anda sozinha. No nal de sua ertada em Los Angeles fer wa tentativa de war sss ids mom roi que adapeava © romance Una trgédis americana, de Theodor Dreyser, 0 qual vampouco foi aedto pela indstra. Mas tarde, m 1932, eecreveu ‘um artigo filando do problema da adapagio edefendea o wo de imétodos de montagem moderios qe jules extenciss pasa que © ‘cinema ee colocase a alata do detafio posto pelos poderes da lite raturaem tabular 2 subjtvidade, 0 drama interior das person ‘Rens, seus pensamentos A rielo de exemple, elect 0 seu mes dle “montage vertical”, em que descarta «40m sineronizad imagem (case que nor faz owt o que o ator enti flando enguante vemos seus labios se moverem) e cia um txtamento deat produrido pela presengasimukinea de una “cena externa” vill (@ aslo extetior de uma personagem em determinado liga) e de ‘uma “vor iterioe” que expessn 0 movimento subjetiva, 0 confit psicoldgico-morl vido pela petsonagem enguant fax ou io fx ‘cetto gett, Hiv um momento em que o protagonists de Uma ra “ks anerisana vive olema de matat ow no anova, empurrando-k ‘de um barco pata se afogat. Tal experiénia € doamatizada no #0- mance por ete jogo entre cena exterior e exposicio diet dos mo- vimentos subjetivas, do penstmento, Eisenstein deseteve como _qoeiafarer a cena apoiado na “montage verti, destacando a intensa deamatizagio da vor interior em contaste com a cena exte- rior em que ¥emos as dass personagens no barco. Essa solugio “eto intelectual para os produtores no vingou e, mais ade, taato Von Sternberg, qve flow a histéa em 1932, quanto Ceorge Stevens, que voto a ea sob o titulo de Un dar a sf (1981), fencenatam o mesmo momento com oto erie, mat aectivel para os padsies de continuidade do cinema axtrativ clistico, Likenstein, so conto, queria em diego & iterates moderna, 4 descontauidade, echegou a alt em James Joyce em sun defeat do cinema como arte com enorme potencisl de experiment entio dos parimetros da vanguarda do culo XX. nse & um exemplo entre muitos que aos ensnsm que ci neasts mais ciativas, aotadamente oF modernos,fzetam do pe blema da adapagio algo muito mais ineresrante do que essa ob: setvagio, tio comum ao intelectual, de que 0 cinema nlc tem profundiade da itersturs. Hl fram al observagio barca a cca experincia de flimerconvencionan que mercado ofe rece, 0 quai € realmente rar 0 dilogo mais prfcuo com ex pevincia Kenia. No entant, Figur como Alin Renan, Robert Bresson, Jean-Lve Godt, sel de Olivia, Raines Fassbinder « Pier Paolo Pasolini jf nos mostaram o quanto uma explorasio mais raical dos recursos de som ¢ imagem pode quebrar nosso preconceito cont a adaptagio, Figo ease lembretesabendo set impossivel enveredar por ese teeno aqui visto que meu objetivo 6 uma indagasio de cunho pedagégico © preliminas Inteessa-me dle modo especial a questio do “pont de vista” da natraio, porém nfo posso trata em maior detahe pars clogiat ot cineastas mo- ‘demos, mas apenas sua em sua generalidade, comecando pela referécia mai acesseel, que € 0 padsio mais clissio de nareativa Reconhecidos tis limites, outs oparisio-chave que devo lembrar € aquela entre “nareaglo sums” “apresentagio cai ca", 2 qual tem efeio enorme no problema da adapiagio. Os pei cits teGrcos da questio do “ponto de vista” canbacam al opos- Go dstinguind ogerto do naridor que esume extnsbes de tempo azoveis (uma semana, um més os até anos na vida de uma perso- ‘gem ou de wma sociedade) em poucaspginas ou mesmo frases le nos leva a sobsevoar of acontecmentos que sio reeds de forma concisu: alguém nasceu, casou, envelhecew of moe sm Aeterminado din de chuva, 6 protagonist su de eat, fez com ps, encontzou amigos ¢ yolou tarde paca eats uma nova perso- nagem sparecenahistéta eo narrador tesme seu pasado. Temos AC a naryae (ou apresentagio) andra io feeqente nos roman ces, O tempo se coatmi, de formas vatidss, inferesa apenas 2 informacio sobre o acontecido, sem maiores detalles, Cato cont fio temos a any, forma de spresentagio dead de uma siagio ‘specten com unidade de espago econtinidade de tempo. O gue ‘corre num determinado lgar€ descrito em pormenor de modo a podlemos compas uma imagem da nteraio entre peeonageas hem Mlenifiadas, saber exatamente 0 que dizem e fer um sens da Aduragio do events Representago verbal da ages humus em sus mixima particulasidade, mim determinado aquiagors, “ena” @ outa ocortéacia freqjete nos romances, As vezes generowt € cela de detathes, enorine, como os livos de Dostoiévski em nem lances mais deamaitico; bein pecisa, mais concn € ma divert «em Flaubert sas dtingdestém a ver com algo de formulas ma clin sica ~a oposigio ene 0 mode dein da sepresentaglo (a Figura dha rustador se pe clanmente ene nbs ¢ os acatecimentos €om0 ‘mediador euja vor nos resume 0 ocotsido) € © made damit mos colocadot dante da cena, aparentemente sem mediagSs) FEmbora nossa intuigio encaminhe uma identificego do tate (€ Ao cinema) com 0 mid dams por excelénca, no se pode enue cor que também no teatro ¢ possvl a nsrago esrita ou onal ave correspond a0 modo i (e Brecht tallow exatamente nese Ie reno em sua interasioentze 0 épico € © deamétco mo expan fH taal). No cinema, pr sos ver, 2 montagem que jastapde Fagen tos de eenas, on mesmo insere textos no faxo das imagens, pale war de modo a trazer as rerrogativas moriguter do narralor liteito x0 tesumit os fats, Pago estas observages apenas pate Tema que tis distingSes, em rgoe, demandariam discontent compliadas que detahatiam melhor eases problemas em wat rnuances que vari de mato pars mio de expresso Dinte de umn texto teri, € precio entender que a dstinlo, fim pelo tet cos, entze conta (el) € mostrar (uw) no perde sn elarem se reconhecermos que 0 mrara alo pode sr assumido em sentido Fre, pois So significa das paaetas que produ 0 “ver” (gue & cin verdade, um imasinar que atv com pave). A “eena” ni romance mio € algo tc palpével camo a cena, em very itera Preprint em ines, nas es impede que se entenl, fa teraturs a aponigh entre le aw ene exci ch exeion ‘man bit [Da mena form, dren ue neers ‘une fiero wotada para ose papel como nazendor no cinema, ‘ave nos permite dizer que a cimera nar (i), no spenss mos. tr. Iso pore ela tem prerogsivas de um matador que fa coco thas ao dar conta de algo: define o ingul, a distinca as modal thls do olbat qu, em squid, estao syjitss «uma outs escola nda dt montagem que defn a ordem final das tomadas de cena portant a naturezs da tama constuida por um fime. Potant, ‘ize que wm filme “mosts” imagens é dizer pouco e muta vezee lie 0 principal Alm desis oposgies deserts, ibula/tama, mostar/con- {are épieo/dramitco (como modos eno como eros de repre. sentagio que levam i distingio eisia entre epopéa tag), & comm em qualquer discus narativo dstingirente © que ve representa explictamentee o que apenas sugerido. Sem aomeat ‘wna agio ou fito, possodeiar subentendida a roa ocorrncia por ‘nev dos saltos no tempo ~as lipees nastias, Em alguns casos, ‘hs curtespondem a um gest de encobri, scone, dena fora de que quebrata 0 decoro da representagio (em gest, no caso st representagio do sexo ou da volénia): em outtos, ata-se de ‘omitr uma informacio, salar um deal, porque isso eatngaia 0 ins como nas natragaes de suspense 04 ans charadas, quando a reveligio decisiva 36 deve wie Mi ais pat o fim da trams, A ques tao de represents ou no sepresentar assume fio diferente vo forme consideramos a “narragio sumtin" ow “cena” ~ sempie scvi mis accitvel» ceferéncia mais geal, sem deals, dagulo ‘we ext sujet aoe tabs de ater morale que afta o corpo A ema” — que requer umn especicagfo mane dos pormenores — ri may muta ds convengBes que mem limites, « abemos ‘rite bem que a iin do decoro se manifete de mod mai ncn 0 AW teatro © no cinema, em gue compos entioefetivamente vista na eneenagho de violéncin ode seauallade, emborn quer a ‘es de mesina teot moral possam set spicaas 20 texto esrito [Nessa questo do decora como motivo de wma eipse hist do teatro ttardadossintomsticos, como o eferente& forma como se ceviava #apresentasio cénica da violneia aa wagédn lsc, ge nego em que 0 asisinatos acontciam af tg, em contaste com, fo que aconteceté bem mais tad aas pesas de Shakespeare, cus eas de bom gosto edecoro admitiam o ato de violencia © 0 ass sinato exccutde diane do olla da plata. No teatro popular mo- detno, e prncpaliente no cinems, ssa possibildade se tomnow roting, lta comporas, motes ¢ mais feceatemente, © 6x0 gi sharam legitimidade como scontecimento vsives no palco ou an tel. Thao, evidentemente, esti longe de ter eliminado a dscunsio os limites, dos motivo e das circunstinias que epanim o seit ‘el do proibido, conforme o coatesto social em que a debate sed. ‘Us canto De 1usteagto Tememos os filmes que “adapta (eelhor, talver, sea di- net “encenatn”) pegas de Nelson Rodigues, entre 1962 ¢ 1980. Com base nees, podemos comentar eas opgSes referents ta ‘ma, 20 “ponto de vst” em sex sentido mais geal de perspectiva, scala de valores) ¢ 20 estilo (Erreno em que falasei no espeifien, fou sea na montagem, no enguadsameato, na consirusio do olhat a eine). TNs primeia qustio mais elementar ~oposgio entre mos tear (pc em cena) ou eli uma patsagem ~ 0 dado mais notéria se prend is formas coma o cinema dese perodo tabalhou a repre entagio da serualdade e colocou os coxpos em cena, tendo em vista feor das experéncas que compSem o universo do drama tury. As dis “ry caine” compe, junto com os flhetins (Aste mag 0 ouamet), conto mar de obras do ator sulaptadan naguelesvinte ann 0 que vignifiea um dle do inca com textos ectitos os anos de 1950 ¢ 1960, Em termos de teatzo, em funeo do estilo de Nelson Rodrigues e das conven. ‘esd Gpocs, hava uma tens entre o que ea ous — 00 tema © nos dlogos — eo que ea limite pata a cena explicts eayohrendo © compos no paleo. Seu texto dramco supe a encenacio, em subtrfigis, do enlace fico, que pode it do beijo i euta caso de Boniinke mas erinari), mas eabe 8 cada dietor, no teatto ou 80 nema, o tratamento defnitvo de tas cenas, que pode dstingie racicalmente diferentes moatagens (0 Glaiagens) do mestno texto (© receio da censura foi um fatoe que nib os prodtores de cne- 1a, eno foi por acaso que aadapeaga das pegs +6 deslanehow a Ptr do flme Bar de Onn, que Nelion Petit dos Santos dria ‘em 1962, momento em que havi, em escalainjermacinal, uma iberagio do teatamento do coepo mis telax Num primero momen to, filmes mostraram comtensio, como no caso de Bai de On © tembém de A fale (1965), de Leon Hizsaman. Emesmo quando s expectativa de prazer voyeurs entra ao jogo de mercado, como cm Boninba (1964) de |B. de Carvalho © dos dois volumes de Aol sagen (1965-1968), Slmados por }B. Tanko, os fms tustam 0 novo patina de cots explorado pela publiidade a otivagdes dramétiase a proposiges de sentido que procuram denser 0 valor do que hi de exporigio dos compos ede sex0 na tela Nesse sentido, of flies de Atmaldo Jabor ~ Tade mde snd ‘ange (1972) © O cacamete (1975) ~ a0 0x mais bem-sucedios ‘tetcamente, pos potencializam 0 eto de choque das imagens

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