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“Vísceras”: o conto mais perturbador que você Pesquisar...


lerá em sua vida [?]

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NAS REDES SOCIAIS
Jackson Paul - 24/10/2013 Curtir Compartilhar 11 mil 24 Tweet

Do autor de Clube da Luta, Chuck Palahniuk, apresento: “Vísceras”, o conto que


NOTÍCIAS RECENTES MAIS VISTOS
fez 67 pessoas desmaiarem.
Grupo de Joinville leva livros a 5 mil
Não há muito que eu possa dizer sobre esta obra-prima da literatura sem crianças do Sertão e da África -
entregar sua trama e acabar estragando a surpresa, ou a experiência que é lê-la 26/04/2015
pela primeira vez, aflito, sem saber qual a próxima coisa horrível que está
Pequenas livrarias superam grandes
prestes a acontecer. E, sim, digo que é uma obra-prima exatamente por sua
redes e ressurgem em Nova York -
capacidade de ter uma narrativa tão forte e impactante a ponto de fazer 26/04/2015
pessoas desmaiarem.
Quem conhece o autor sabe bem que seus escritos tendem a ser um pouco
perturbadores, e sua narrativa simples e dinâmica, quase sempre em primeira Holanda cria ciclovia que brilha no escuro
pessoa, tem o poder de nos aproximar do personagem narrador de maneira inspirada na arte de Van Gogh -
24/04/2015
assustadora. E este conto é o maior exemplo disso.
Sonho de estudar em Hogwarts vira
Antes, deixo aqui o relato de Chuck sobre os desmaios durante as sessões de realidade em novo “curso para formar
leitura do conto, em 2005, que pode ser encontrado no site do jornal britânico magos” - 24/04/2015
Telegraph.
“O Pequeno Príncipe” ganha um novo
trailer completo e ainda mais fofo -
“No tour promocional do meu novo romance, li um conto chamado 21/04/2015
Vísceras pela primeira vez em público. A ideia era incluí-lo em um outro
livro que se chamaria Assombro. Meu objetivo com a história era causar Universidade lança curso sobre Game of
Thrones, nos Estados Unidos -
horror com coisas bastante comuns: cenouras, velas e piscinas.
20/04/2015

Eu estava em uma livraria lotada em Portland, Oregon. Cerca de 800 Quem só lê best seller não pode ser bom
pessoas foram o suficiente para atingir a capacidade de lotação máxima escritor, diz Hatoum a estudantes -
do local. Ler Vísceras requer um certo nível de concentração, e por isso 20/04/2015

você não tem muito tempo para desviar os olhos do papel. Mas sempre
Diva maior do cinema, Meryl Streep lança
que eu podia, o fazia e via algumas pessoas nas fileiras da frente com programa para capacitar roteiristas
uma cara não muito boa. mulheres - 20/04/2015

Mas foi só quando eu acabei de autografar alguns livros que um


funcionário se aproximou e me disse que dois homens haviam O que acontece quando pedem para
homofóbicos abraçarem gays que não
desmaiado. Os dois despencaram no chão de concreto e não tinham conhecem - 15/04/2015
lembrança alguma além de estar em pé, ouvir a leitura e acordar
rodeados pelos pés das outras pessoas. A livraria estava cheia e abafada, Restaurante cobra 30% a mais de
homens em ação sobre desigualdade
pensei. Foi apenas uma casualidade, nada preocupante. salarial - 15/04/2015

Na noite seguinte, em uma livraria com ar-condicionado em Borders,


outra grande plateia ouvia a leitura de Vísceras quando mais duas
pessoas desmaiaram. Um homem e uma mulher.

No outro dia, em Seattle, mais duas pessoas foram ao chão exatamente


na mesma parte da história, derrubando suas cadeiras com um
estrondo no piso de madeira do auditório. A leitura teve que ser { BLOGS - LITERATORTURA }
interrompida enquanto traziam os dois de volta à consciência. Foi aí que
percebemos que tínhamos um padrão.
FASHIONATTO
Na noite seguinte, em São Francisco, mais três pessoas desmaiaram.
CAUSAS PERDIDAS
Na seguinte, em Berkeley, mais três. Um jornalista que esteve nas três
leituras disse que todas as pessoas caíram no momento em que eu li as
palavras “milho e amendoim”. Foi esse detalhe que fez as pessoas INDIQUE UM LIVRO
despencarem de suas cadeiras. Primeiro, suas mãos tombavam para o
lado e seus ombros cediam, fazendo a cabeça pender para um lado.
Encontre-nos no Facebook
Depois, era o peso todo indo ao chão.
Literatortura
Na livraria de Beverly Hills, em Los Angeles, uma mulher ao fundo do Curtir Você curtiu isso.
salão gritou pedindo que chamassem paramédicos e uma ambulância,
chorando tão desesperadamente que sua blusa ficou encharcada, tendo Você e outras 568.607 pessoas curtiram Literatortura.

que ser torcida por seu marido, molhando o chão.

No banheiro masculino, outro homem tentava fugir da história quando


se inclinou  para lavar seu rosto com um pouco de água fria e desmaiou,
batendo sua cabeça contra a pia.
Plug-in social do Facebook

Um repórter do Publishers Weekly escreveu um artigo com a manchete:


“Autor de Clube da Luta derruba-os com um soco.”

Na Universidade de Columbia, no dia seguinte, dois estudantes


desmaiaram. Enquanto a ambulância os levava para o hospital, meu
editor foi até a ponta do palco, acenou para mim, e quando eu me
aproximei, disse: “Acho que você já fez bastante estrago com essa
história. Não termine de lê-la.”

Na Grã-Bretanha, algumas pessoas desmaiaram nas leituras em Leeds e


Cambridge. Em Londres, os banheiros ficaram lotados de pessoas bem
vestidas que escaparam da história para deitar no chão frio e se
recuperarem do que haviam escutado.
Literatortura
google.com/+Literatorturablog
Até agora, 67 pessoas desmaiaram enquanto eu lia Vísceras. É um conto
de nove páginas, e na maioria das vezes, levo cerca de 30 minutos para .a literatura eterniza.

lê-lo, porque na primeira metade, preciso pausar para que a plateia Seguir +1
possa rir, e na segunda, para que ela possa ser reanimada.
+ 244.633

Meu objetivo era criar um novo tipo de história de horror, baseada no


cotidiano, no mundo em que vivemos, sem monstros ou mágica.
Vísceras, e o livro que o traz, seriam o alçapão para um lugar sombrio.
Um lugar para o qual só você poderia ir, sozinho. Apenas livros têm este
poder.

Um filme tem que seguir um determinado modelo se quer atingir um


vasto público. E ninguém liga muito para os livros. Ninguém se importou
em proibir um livro em décadas. E com essa falta de consideração, vem
a liberdade que só os livros têm. E Vísceras é, com certeza, a mais
sombria, mais engraçada, mais sádica ou mais perturbadora história em
Assombro. A maioria eu nem me interesso em ler em público.”

E, agora, finalmente, o conto em si.


Vou deixar um aviso que se você não achar nada de mais, ou achar até divertido
e, de alguma forma, engraçado, vá buscar ajuda psiquiátrica, ou comece a
escrever.

Inspire.

Inspire o máximo de ar que conseguir. Essa história deve durar


aproximadamente o tempo que você consegue segurar sua respiração,
e um pouco mais. Então escute o mais rápido que puder.

Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre “fio-terra”. Isso é quando
alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os
rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as
mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está
sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar
uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele
então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária
cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o
atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando.
Todos vendo a grande noite que ele preparou.

Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os
ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.

Como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura no rabo.

Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e


desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo. Nada
acontece, exceto pela dor.

Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela
diz para descer, naquele momento.

Ele remove a cenoura e coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das


roupas sujas debaixo da cama.

Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as
suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe
para lavá-las. Não havia como ela não encontrar a cenoura,
cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de
lubrificante e fedorenta.

Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus
pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que
ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em
toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus
filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre
todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.

As pessoas na França possuem uma expressão: “sagacidade de


escadas.” Em francês: esprit de l’escalier. Representa aquele momento
em que você encontra a resposta, mas é tarde demais. Digamos que
você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo. Então
sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no
momento em que sai da festa… enquanto você desce as escadas, então
– mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A
réplica mais avassaladora.

Esse é o espírito da escada.


O problema é que até mesmo os franceses não possuem uma
expressão para as coisas estúpidas que você diz sob pressão. Essas
coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz.

Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais
para serem discutidos.

Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens, os


conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio
adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam.
Seus pais os encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a
toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto.
Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo.
Colocavam calças no garoto. Faziam parecer… melhor. Ao menos,
intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente.

Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na


Marinha dizia como os caras do Oriente Médio se masturbavam de
forma diferente do que fazemos por aqui. Esse irmão tinha
desembarcado num desses países cheios de camelos, onde o mercado
público vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma
dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do
comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa
das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas
empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os
árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por
toda a extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o
cabo dentro, e isso os fazia gozar melhor. De forma mais intensa.

Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês.
Frases em russo. Dicas de punhetagem.

Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola.
Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa
pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital.

Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram


operando as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma
televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus
pais não o vem visitar. No telefone, ele diz como os pais dele queriam
matar o irmão mais velho da Marinha.

Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado.
Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo
uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas,
preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as
notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se
masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa
servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero.
Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida
que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete
da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino.

Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro
do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para
fora, ele começa o trabalho.

Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras
muito espertos.

Eles reinventaram totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama,


as coisas estão ficando tão boas que o garoto nem observa a filete de
cera. Ele está quase gozando quando percebe que a cera não está mais
lá.

O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem
consegue sentir a cera dentro de seu pau.

Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para
ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera
eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida.

Depois do jantar, as entranhas do garoto começam a doer. É cera, então


ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora.
Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar ereto
corretamente.

O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no fundo


pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows.

Os raios-X mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua


bexiga. Esse longo e fino V dentro dele está coletando todos os minerais
no seu mijo. Está ficando maior e mais espesso, coletando cristais de
cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a frágil parede interna de sua
bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão cheios. O pouco que sai de
seu pau é vermelho de sangue.

O garoto e seus pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X


com o médico e as enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na
chapa para todos verem, ele deve falar a verdade. Sobre o jeito que os
árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmão mais velho da Marinha
escreveu.

No telefone, nesse momento, ele começa a chorar.

Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da poupança para


sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um
advogado.

Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela


no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar
em problemas.

O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso era


bater punheta embaixo d’água, sentando no fundo da piscina dos meus
pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu
calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro minutos.

Só de bater punheta eu tinha conseguido uma enorme capacidade


pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu faria isso a tarde toda.
Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em grandes e
gordas gotas.

Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para
pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca
Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar.
Ou, Cristo, minha mãe.

Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando
que estava ficando gorda e dando à luz a um bebê retardado de duas
cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as
coisas com as quais você não se preocupa que te pegam.

A melhor parte da Pesca Submarina era o duto da bomba do filtro. A


melhor parte era ficar pelado e sentar nela.

Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cu chupado?


Mesmo assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no
outro nunca mais será um advogado.

Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e


ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre
minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto
em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu
pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém
que apareça e pergunte porque faltei aos treinos de futebol. O
constante chupar da saída de água me envolve enquanto delicio minha
bunda magra e branquela naquela sensação.

Num momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão.


Meus pais estão no trabalho e minha irmã no balé. Ninguém estará em
casa por horas.

Minhas mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais


ar. Afundo e sento no fundo. Faço isso de novo, e de novo.

Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é
como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cu sendo
chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos
ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a
surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas
esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus
dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água.

E então acontece. As gotas gordas de gozo aparecem. É nesse momento


que preciso de mais ar. Mas quando tento sair do fundo, não consigo.
Não consigo colocar meus pés abaixo de mim. Minha bunda está presa.

Médicos de plantão de emergência podem confirmar que todo ano


cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do
filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se
afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida.

As pessoas simplesmente não falam sobre isso. Nem mesmo os


franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho no fundo, colocando
um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou saindo, não
mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora da
água também.

Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo estar na metade


do caminho para a superfície mas não estou indo mais longe que isso. O
bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.

As brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para


trás… mas não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra,
branco-azulada e cheia de veias, saiu do duto da piscina e está
segurando minha bunda. Algumas das veias estão sangrando, sangue
vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por
pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na
água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver
pedaços de alguma refeição semi-digerida.

Só há uma explicação. Algum horrível monstro marinho, uma serpente


do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se escondendo no fundo
escuro do duto da piscina, só esperando para me comer.

Então… eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de


veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da
minha perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cu.
Com outro chute, estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda
sentindo a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de escapar.

Dentro da cobra, é possível ver milho e amendoins. E dá pra ver uma


brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de vitamina que meu pai
me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir a bolsa
como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.

Ver essa pílula foi o que me salvou a vida. Não é uma cobra. É meu
intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os
médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo
sugadas pelo duto.

Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma


bomba de piscina pode puxar 300 litros de água por minuto. Isso
corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é que somos
todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da
sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas
entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada
de 180 quilos e você vai perceber como isso pode acontecer.

O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não
da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos
chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com
pedaços de milho, amendoins e ervilhas.

Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu


redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu
tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de
colocar meu calção de alguma forma.

Deus proíba que meus pais vejam meu pau.

Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o
calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível
puxar de volta.

Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre um


camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole.
Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d’água.
Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo
macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.

Uma camisinha dessas é feita do bom e velho intestino.

Você então vê contra o que eu lutava.

Se eu largo, sai tudo.

Se eu nado para a superfície, sai tudo.

Se eu não nadar, me afogo.

É escolher entre morrer agora, e morrer em um minuto.

O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e


pelado, todo curvado. Mergulhado na água turva da piscina de casa.
Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas retorcidas. O
oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o bebê
que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que
esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente
um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus
sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele,
gotas gordas de esperma.
Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha
encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os
restos destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção
amarelo-listrado.

Algo sobre o que nem os franceses falam. Aquele irmão mais velho na
Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão
russa. Do jeito que nós falamos “Preciso disso como preciso de um
buraco na cabeça…”, os russos dizem, “Preciso disso como preciso de
dentes no meu cu…”

Mne eto nado kak zuby v zadnitse.

Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria


perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas
mordidas são melhores que morrer.

Droga… mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.

Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo
por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e
rói seu próprio cu. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer
coisa para poder respirar de novo.

Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não
se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o
gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.

É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação,
ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, “Você não sabia
o que estava fazendo, querido. Você estava em choque.” E ela teve que
aprender a cozinhar ovos pochê.

Todas aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim…

Precisava disso como precisaria de dentes no cu.

Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais.


As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não como o
cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer
coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como
comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto
na privada.

Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como
essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um
metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus
quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de
futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o
da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais
do que pesava aos 13 anos.

Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela
piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina
que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo
sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e
removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma
grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, “Aquela
porra daquele cachorro era maluco.”

Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar,
“Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo…”

E então a menstruação da minha irmã atrasou.


Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a
casa e mudamos para outro estado, depois do aborto da minha irmã,
mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram isso
novamente.

Nunca.

Essa é a nossa cenoura invisível.

Você.

Agora você pode respirar.

Eu ainda não.

Revisado por Carlos Cavalcanti

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SOBRE O AUTOR

JACKSON PAUL
18 anos. Cursando Biblioteconomia e Ciência da Informação na Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).

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confunde câmera A morte de Elisa Lam aquela pilha de livros inteligência?” Isaac
com arma… e se e o filme Dark Water que se acumula na Asimov responde,
rende :( sua casa: 6 dicas com sabedoria e
contundência

262 comentários
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Gustavo Alegretti
Achei super perturbador e em algumas partes engraçado (creio que era a intenção,
apesar de alguns… Mais
27 de outubro de 2013

336 pessoas
336 pessoas

Luciana Mainardi Pigioni


Enfim... o primeiro comentário de alguém que parece realmente ter entendido que os
elementos… Mais
30 de outubro de 2013 · Curtir · 61

Ingrid Lorena
Adorei teu comentário.
Eu tava começando a achar que fui a única a perceber o negócio das "cenouras
invisíveis" e da crítica que tem por trás!
1 de novembro de 2013 · Curtir · 18

Visualizar mais respostas…

Endrew Rafael
Muito obrigado, você acabou de destruir as chances que eu tinha de conseguir anal com
a minha namorada.

Mesmo assim, excelente conto.


24 de outubro de 2013

190 pessoas

Myrella Andrade
AHAHHAHAHAHAHAHAHAHHA sensacional
25 de outubro de 2013 · Curtir · 12

Natália Facchini
Esse conto é sensacional... Já li inúmeras vezes e ele parece melhor a cada vez.
Cômico mesmo é esse… Mais
25 de outubro de 2013

96 pessoas

Maykol Vespucci
Eu ia comentar isso agora. Sobre o pessoal fazendo pose. "Ah, chamem um
psiquiatra", "Li enquanto comia". Adoram bancar os difíceis de impressionar.
25 de outubro de 2013 · Curtir · 49

Evellyn Cardoso
Ele é ok nas até a metade, mas depois fica tenos. ma só não achei absurdamente
perturbador não. Acho que… Mais
27 de outubro de 2013 · Curtir · 11

Visualizar mais respostas…

Jackson Paul
Acho que o pessoal não entendeu o porquê do conto ser perturbador... Gente, não é o
conteúdo. É a… Mais
2 de novembro de 2013

49 pessoas

Tony Genovese
Povo escroto. Realmente não entendem o bagulho. _l_
2 de novembro de 2013 · Curtir · 1

José Augusto Bueno Silva


Pouco céLebro pra muita gente
2 de novembro de 2013 · Curtir

Visualizar mais respostas…

Felipe Laufey
as primeiras frases do conto: Prenda a respiração, sao inevitáveis durante o conto.. o.o
nao sei o que… Mais
24 de outubro de 2013

34 pessoas

Sebastião Ribeiro
nojento, tenso, mas não a ponto de desmaiar...
24 de outubro de 2013

26 pessoas

Horácio Figueiredo
Paulo Arouche Tonny Araújo Dionizio Montisolli Cavalcante
24 de outubro de 2013 · Curtir · 2

Dionizio Montisolli Cavalcante


Do autor de Clube da Luta!!

Já sei que é polêmico, só pelo autor!


24 de outubro de 2013 · Curtir · 2

Visualizar mais respostas…


Visualizar mais respostas…

Davi Junior
Ta, foi ate interessante, mas não acho que é a coisa mais perturbadora que existe.
24 de outubro de 2013

21 pessoas

Tainã Zuccolotto
Passei metade do conto rindo, e na outra controlando o riso. Chamem um psiquiatra.
24 de outubro de 2013

21 pessoas

Lucas Freire
Ou sentar no duto.
25 de outubro de 2013 · Curtir · 32

Matheus Souza
Já tinha lido esse conto no Medo B. Chuck sempre sendo um escritor maravilhoso!
Tenho orgulho de dizer… Mais
24 de outubro de 2013

10 pessoas

Aline Jesus
Aquela estranha sensação de que nada mais será igual depois desse conto. Ao menos
eu não desmaiei... hm
2 de novembro de 2013

5 pessoas

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