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Home ›› Matérias Literárias ›› “Vísceras”: o conto mais perturbador que você lerá em sua vida [?]
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Jackson Paul - 24/10/2013 Curtir Compartilhar 11 mil 24 Tweet
Eu estava em uma livraria lotada em Portland, Oregon. Cerca de 800 Quem só lê best seller não pode ser bom
pessoas foram o suficiente para atingir a capacidade de lotação máxima escritor, diz Hatoum a estudantes -
do local. Ler Vísceras requer um certo nível de concentração, e por isso 20/04/2015
você não tem muito tempo para desviar os olhos do papel. Mas sempre
Diva maior do cinema, Meryl Streep lança
que eu podia, o fazia e via algumas pessoas nas fileiras da frente com programa para capacitar roteiristas
uma cara não muito boa. mulheres - 20/04/2015
lê-lo, porque na primeira metade, preciso pausar para que a plateia Seguir +1
possa rir, e na segunda, para que ela possa ser reanimada.
+ 244.633
Inspire.
Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre “fio-terra”. Isso é quando
alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os
rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as
mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está
sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar
uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele
então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária
cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o
atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando.
Todos vendo a grande noite que ele preparou.
Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os
ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.
Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela
diz para descer, naquele momento.
Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as
suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe
para lavá-las. Não havia como ela não encontrar a cenoura,
cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de
lubrificante e fedorenta.
Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus
pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que
ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em
toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus
filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre
todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.
Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais
para serem discutidos.
Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês.
Frases em russo. Dicas de punhetagem.
Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola.
Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa
pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital.
Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado.
Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo
uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas,
preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as
notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se
masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa
servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero.
Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida
que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete
da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino.
Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro
do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para
fora, ele começa o trabalho.
Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras
muito espertos.
O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem
consegue sentir a cera dentro de seu pau.
Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para
ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera
eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida.
Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para
pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca
Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar.
Ou, Cristo, minha mãe.
Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando
que estava ficando gorda e dando à luz a um bebê retardado de duas
cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as
coisas com as quais você não se preocupa que te pegam.
Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é
como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cu sendo
chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos
ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a
surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas
esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus
dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água.
Ver essa pílula foi o que me salvou a vida. Não é uma cobra. É meu
intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os
médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo
sugadas pelo duto.
O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não
da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos
chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com
pedaços de milho, amendoins e ervilhas.
Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o
calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível
puxar de volta.
Algo sobre o que nem os franceses falam. Aquele irmão mais velho na
Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão
russa. Do jeito que nós falamos “Preciso disso como preciso de um
buraco na cabeça…”, os russos dizem, “Preciso disso como preciso de
dentes no meu cu…”
Droga… mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.
Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo
por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e
rói seu próprio cu. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer
coisa para poder respirar de novo.
Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não
se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o
gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.
É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação,
ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, “Você não sabia
o que estava fazendo, querido. Você estava em choque.” E ela teve que
aprender a cozinhar ovos pochê.
Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como
essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um
metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus
quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de
futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o
da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais
do que pesava aos 13 anos.
Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela
piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina
que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo
sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e
removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma
grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, “Aquela
porra daquele cachorro era maluco.”
Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar,
“Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo…”
Nunca.
Você.
Eu ainda não.
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SOBRE O AUTOR
JACKSON PAUL
18 anos. Cursando Biblioteconomia e Ciência da Informação na Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
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262 comentários
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Gustavo Alegretti
Achei super perturbador e em algumas partes engraçado (creio que era a intenção,
apesar de alguns… Mais
27 de outubro de 2013
336 pessoas
336 pessoas
Ingrid Lorena
Adorei teu comentário.
Eu tava começando a achar que fui a única a perceber o negócio das "cenouras
invisíveis" e da crítica que tem por trás!
1 de novembro de 2013 · Curtir · 18
Endrew Rafael
Muito obrigado, você acabou de destruir as chances que eu tinha de conseguir anal com
a minha namorada.
190 pessoas
Myrella Andrade
AHAHHAHAHAHAHAHAHAHHA sensacional
25 de outubro de 2013 · Curtir · 12
Natália Facchini
Esse conto é sensacional... Já li inúmeras vezes e ele parece melhor a cada vez.
Cômico mesmo é esse… Mais
25 de outubro de 2013
96 pessoas
Maykol Vespucci
Eu ia comentar isso agora. Sobre o pessoal fazendo pose. "Ah, chamem um
psiquiatra", "Li enquanto comia". Adoram bancar os difíceis de impressionar.
25 de outubro de 2013 · Curtir · 49
Evellyn Cardoso
Ele é ok nas até a metade, mas depois fica tenos. ma só não achei absurdamente
perturbador não. Acho que… Mais
27 de outubro de 2013 · Curtir · 11
Jackson Paul
Acho que o pessoal não entendeu o porquê do conto ser perturbador... Gente, não é o
conteúdo. É a… Mais
2 de novembro de 2013
49 pessoas
Tony Genovese
Povo escroto. Realmente não entendem o bagulho. _l_
2 de novembro de 2013 · Curtir · 1
Felipe Laufey
as primeiras frases do conto: Prenda a respiração, sao inevitáveis durante o conto.. o.o
nao sei o que… Mais
24 de outubro de 2013
34 pessoas
Sebastião Ribeiro
nojento, tenso, mas não a ponto de desmaiar...
24 de outubro de 2013
26 pessoas
Horácio Figueiredo
Paulo Arouche Tonny Araújo Dionizio Montisolli Cavalcante
24 de outubro de 2013 · Curtir · 2
Davi Junior
Ta, foi ate interessante, mas não acho que é a coisa mais perturbadora que existe.
24 de outubro de 2013
21 pessoas
Tainã Zuccolotto
Passei metade do conto rindo, e na outra controlando o riso. Chamem um psiquiatra.
24 de outubro de 2013
21 pessoas
Lucas Freire
Ou sentar no duto.
25 de outubro de 2013 · Curtir · 32
Matheus Souza
Já tinha lido esse conto no Medo B. Chuck sempre sendo um escritor maravilhoso!
Tenho orgulho de dizer… Mais
24 de outubro de 2013
10 pessoas
Aline Jesus
Aquela estranha sensação de que nada mais será igual depois desse conto. Ao menos
eu não desmaiei... hm
2 de novembro de 2013
5 pessoas
ARTE CONTOS CINEMA DISSECANDO LITERATURIADAS MÚSICA PRÊMIO PIEGÃO FOTOGRAFIA INSCREVA-SE PARA RECEBER NOSSAS NOVIDADES