O presente trabalho pretendeu investigar o discurso dos professores de Física
de nível médio no contexto de uma atividade desenvolvida num curso online de formação continuada à distância. O objetivo principal foi identificar como se deu a apropriação discursiva dos PCNEM de Física, a partir do arcabouço teórico bakhtiniano sobre a filosofia da linguagem, por diferentes professores que atuam em diferentes realidades regionais, procurando sinalizar em que medida as perspectivas desses professores em relação ao documento dialogam com perspectivas sobre concepções de currículo, currículo nacional, relações de poder implicadas no currículo, os objetivos do currículo e a submissão ao mundo produtivo. Os professores autores-criadores dos enunciados analisados têm em comum o fato de terem participado de um mesmo curso a distância sobre os PCNEM de Física, considerado como contexto extraverbal. Por outro lado, se consideramos os contextos individuais, observamos que os professores têm idade, formação e tempo de magistério diferentes, além de atuarem em escolas públicas que pertencem a diferentes regiões da federação. A partir das análises realizadas, é inegável que os enunciados dos professores investigados apresentam uma perspectiva favorável em relação aos PCNEM de Física, se apropriando também da crítica que o documento faz ao ensino propedêutico. Além de concordarem com a crítica, concordam com o principal caminho apontado pela legislação: o ensino contextualizado. Na medida em que desconsideram as perspectivas críticas, o discurso desses professores acaba por legitimar o conteúdo dos PCNEM; a concepção do currículo como prescrição; o conteúdo mínimo nacional; e as relações de poder existentes no currículo, não se assumindo enquanto intelectuais transformadores. Apesar das diferenças educacionais entre regiões não foi possível identificar marcas explícitas nos enunciados, de como estas diferenças impactaram a apropriação de termos presentes nos PCNEM. As principais divergências encontradas entre as perspectivas dizem respeito às intenções de cada professor ao utilizar, principalmente, os conceitos de contextualização e mundo vivencial. Neste sentido,O potencial do referencial discursivo bakhtiniano permitiu um escrutínio detalhado da perspectiva de cada professor e revelou deslocamentos importantes na apropriação do conceito de contextualização apropriação do conceito de contextualização. A apropriação acrítica do ensino contextualizado pelos professores aponta para uma sintonia com as pesquisas realizadas no ensino de Ciências, já que muitos dos trabalhos fazem menção e enaltecem o ensino contextualizado, silenciando um viés posicionamento mais crítico em relação ao currículo, problematizando e relativizando a partir da mera consideração do mundo vivencial do aluno na sua prática pedagógica.