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Universidade de Brasília – UnB

Departamento de História – HIS


História Regional
Professor: Tiago Gil
Aluno: Gabriel Andrade de Freitas Matrícula: 170141428

História Regional: Trabalho Final

A região escolhida para ser analisada nesse trabalho é a que compreende atualmente a
cidade-satélite de Planaltina no Distrito Federal. A fonte principal na construção da análise
são os registros de batismo da antiga capela São Sebastião, datadas entre final do século XIX
e início do XX. A problemática em estabelecer fielmente uma região e as dificuldades
encontradas dentro desse prisma analítico serão mais elaboradas a posteriori, tal como a
bibliografia básica referente a esse tipo de estudo historiográfico.

Planaltina é a região administrativa mais antiga do Distrito Federal, fundada em 1859,


era inicialmente uma região atrelada ao município de Formosa, do estado de Goiás,
estabelecida com o nome Distrito de Mestre D’Armas, devido, segundo história oral, a
presença de um notável ferreiro especialista em conserto e manejo de armas. A data
convencionada de sua fundação é proveniente de uma legislação elaborada pela Assembleia
Provincial de Goiás que estabeleceu oficialmente essa região, porém acredita-se que já existia
um povoamento mais antigo nesse lugar, por se encontrar em uma das rotas utilizadas pelos
bandeirantes na expansão ao oeste brasileiro no século XVIII.

Na década de 1960, com a construção da nova capital federal, é dividida e incorporada


ao DF. A porção territorial deixada de fora do quadrilátero federal também leva o nome de
Planaltina, porém convencionou-se chamá-la “Brasilinha”. Com essa nova organização,
diversas invasões territoriais periféricas à cidade satélite foram incorporadas formalmente, tal
qual Vila Vicentina e Buritis.

A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) feita em 2015 pela


Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN) “apresenta um retrato fiel,
com representatividade estatística das diversas Regiões Administrativas do Distrito Federal.
”(2015)1. Em relação aos dados atuais de Planaltina o relatório aponta uma população
estimada em 189.412, sendo maioria feminina (51.1%). A região possui uma área total de
1 PDAD 2015/2016, CODEPLAN
1.534,69km². Mais da metade de sua população, aproximadamente 130 mil pessoas
estão na idade de votar. A respeito da religião, a grande maioria se declara católica (60,25%)
seguido de evangélicos tradicionais (20,83%), evangélicos pentecostais (6,15%), espíritas
(4,98%) e 5,89% não possui religião alguma. Desse total de religiosos 54,72% acompanham
com frequência os cultos e celebrações religiosas, 36,71% praticam a religião com
eventualidade e 7,58% não frequentam os cultos e celebrações.

Há, nesse trabalho, uma tentativa em dialogar constantemente com a bibliografia


básica de história regional trabalhada na disciplina. Os três principais autores, Pierre Goubert,
Pierre Villar e Emmanuel Le Roy Ladurie servem, apesar de diversas diferenças entre suas
teorias, como fios condutores na análise das fontes e na delimitação das regiões possíveis.
História Regional é uma disciplina e um método historiográfico que vem se desenvolvendo ao
longo do século XX e XXI, se valendo da herança deixada pelos pensadores da Escola dos
Annales, com a exaltação da narrativa focada no ser humano comum.

O conceito de região é mutável, é uma construção histórica, tratando-se assim de um


processo dinâmico estabelecido entre pesquisador e área de pesquisa. Com a intensa
globalização no pós-Segunda Guerra, havia na academia a preocupação com o
desaparecimento dos regionalismos, porém é possível observar um movimento contrário na
cultura global, onde há, principalmente na atualidade com o aparecimento da internet e a
disseminação global de informações, uma extrema exaltação de características e de histórias
regionais.

Como indica Janaína Amado (1989) a transformação conceitual de região se dá a partir


da geografia crítica do século XX, categorizada como uma singularidade dentro de uma
totalidade. Há então uma relação intrínseca entre a região e o espaço. É apontado também por
ela, depois de uma extensa discussão teórica, as diversas problemáticas de pesquisa que se
estabelecem na área, que vão desde a má conservação dos documentos, onde reina a
ingerência em regiões mais pobres, até a ausência de financiamento, pois o foco em numa
perspectiva diminuta de trabalho marginaliza esse tipo de pesquisa.

O desenvolvimento da história regional como um ramo da história dos marginalizados


contribuiu com a problematização de questões importantes no meio acadêmico, tal como o
etnocentrismo, a xenofobia e o ufanismo. Esse tipo de pesquisa funciona como uma ponte de
ligação entre o individual e o social, delimitar uma região de acordo com os mais diferentes
fatores registrados em fontes possibilita ao pesquisador um conhecimento apurado não só do
todo, mas como também de questões que influenciam ou influenciaram as vidas de cada
habitante dessa determinada região.

Rosa Maria Silveira (1989) ao discutir questões referentes ao método em história


regional enfatiza a relação entre temporalidade e espacialidade, já que o estudo historiográfico
de determinada região precisa estabelecer uma noção da temporalidade passada nesse
determinado espaço, pois é um fator decisivo na escrita da história. A região então se
estabelece como um ou mais cortes da espacialidade, possibilitando o pesquisador de se valer
de uma concepção geográfica do espaço (enquanto categoria de entendimento, atributo dos
seres ou ser específico do real) para auxiliar suas análises.

Como já bem estabelecido, região não é algo natural, é uma construção a partir de
imposição política segundo determinada narrativa de poder criada por elites, assim como as
nações. Há então um embate entre esses dois tipos de conceito, o regional e nacional, já que o
primeiro por fazer parte de uma porção mais individual e muitas vezes sobrepõe o papel do
segundo. A criação dos Estados-nação e dos nacionalismos no século XIX visava justamente
homogeneizar características de diversas regiões completamente diferentes com o intuito de
formar um país forte, sem conflitos internos.

Pierre Goubert (1972) define história local como “aquela que diga respeito a uma ou
poucas aldeias, a uma cidade pequena ou média, ou a uma área geográfica que não seja maior
do que a unidade provincial comum” delimitando assim o espaço regional ao de uma área
geograficamente inexpressiva. A historiografia regional entra em conflito com a história geral
entre os séculos XIX e XX, demonstrando a quebra dos paradigmas positivistas pela escola
francesa dos Annales. O retorno a uma visão mais regional das fontes proporciona pesquisa
mais autentica e fundamentada.

Goubert fundamenta que, com a utilização do método de Feillet, em que se utiliza as


histórias locais para defender um ponto maior criando assim uma generalização, a
historiografia regional ganha força. O século XX traz consigo uma nova forma de se enxergar
as fontes locais, aparecem pesquisadores não filiados a região, o que proporciona um olhar
estrangeiro para a cultura local.

A importância das monografias regionais está, segundo Goubert, no recolhimento de


evidências capazes de contestar algumas ideias e teorias gerais. O uso de documentos
paroquiais como fontes demográficas é uma prática recorrente nesse tipo de análise histórica,
onde a partir da tradição dos Annales é voltada a atenção a novos grupos sociais, utilizando-se
intensamente a interdisciplinaridade como prática recorrente. A superprodução de
monografias é um alvo de críticas por parte de Goubert, já que diluiria a prática em história
regional, dificultando acesso em pesquisas com significância maior. A falta de experiência em
outras áreas, como a geografia e economia, é um outro fator que agrava o empobrecimento
desse tipo de historiografia, dado que afeta diretamente o caráter interdisciplinar proposto
pelo pensador.

As contribuições de análise desenvolvidas por Pierre Villar (1988) se baseiam em três


pilares básicos: estrutura, conjuntura e fato. A respeito do conceito de “história total” ele
acreditava ser forçado, em razão da impossibilidade analítica em desenvolver todos os temas a
respeito de uma temporalidade e espaço. Muito do trabalho de Villar é baseado na história dos
preços, ele se utiliza de arquivos de instituições que possuem uma longa duração em trocas
comerciais, como hospitais e conventos, para remontar de forma mais fiel possível a
economia da região trabalhada. Esse tipo de fonte demonstra as flutuações de preços dos mais
diferentes produtos, o que agrega um valor inestimável na corroboração das teorias postas por
Pierre Villar.

Há uma diferença fundamental entre a metodologia de trabalho de Goubert e Villar no


que diz respeito a delimitar uma região. O primeiro escolhe um ponto de partida para suas
análises, o que o leva a construir uma região a partir dos dados encontrados, verificando as
áreas de influência da sua esfera escolhida e como essas se relacionam com as outras regiões
adjacentes. Já Villar opta por delimitar geograficamente sua região pretendida e através desse
pontapé, em conjunto com o que revelam as fontes, traça uma ou mais regiões diferentes
dentro dessa sua demarcação inicial.

Emmanuel Le Roy Ladurie (1975) ao trabalhar com a questão da heresia cátara num
extinto povoado francês se utiliza da metodologia em história regional para analisar fontes,
principalmente eclesiásticas, atos da inquisição, a fim de remontar de forma detalhada a vida
cotidiana das pessoas nessa região. Seu trabalho lida com uma duração temporal de quase cem
anos, levando em consideração os mais diversos aspectos regionais, como político,
econômico, cultural, religioso e familiar.

Ladurie consegue, a partir das confissões registradas pelos tribunais de inquisição,


estabelecer a relação que se dava nessa região entre os cátaros e católicos. O papel da
instituição religiosa em manter esse tipo de documentação é um fator importante a se
considerar nos trabalhos em história regional, como esse próprio, já que são capazes de
preservar um fiel retrato da vida de determinada comunidade. O autor consegue traçar os
diferentes atores políticos e como suas camadas de influência funcionavam, além de
reconstituir as complexas relações de poder que cada família possui entre si. Consegue
também, apesar da ausência de cadastros especializados, remontar a economia da região,
traçando inclusive um paralelo com a atualidade no que concerne a estratificação social entre
ricos e pobres.

Um dos fatores de grande destaque na aldeia francesa de Montaillou (objetos dos


estudos de Ladurie) são as relações de poder que as famílias possuem internamente e com
atores externos. Os domus, termo empregado nos documentos da inquisição em referência as
famílias, eram os centros da política, economia e da própria heresia cátara, uma vez que esse
tipo de prática é doméstica e passada por gerações. Havia na figura de maior proeminência da
região, o padre, um paradoxo entre o exercício esperado na sua função, em concordância com
a Igreja Católica Apostólica Romana, e sua heresia cátara.

Os dados originados pelo bispo responsável pela região (Fournier) ilustram aspectos
como a divisão de trabalho entre gênero: homens cuidam das plantações enquanto as mulheres
cuidam da casa; a economia, onde não havia circulação de moedas cotidianamente, ou seja, a
prática mais recorrente era a troca de materiais; a divisão hierárquica de poderes, em que o
conde de Foix representava o primeiro poder, a inquisição o segundo, o bispo de Pamiers o
terceiro e o reino da França o quarto, demonstrando como o Estado central não era um agente
causador de mudanças no cotidiano, apesar de ser reconhecido.

Ladurie com a análise local demonstra teorias e conceitos gerais econômicos, tal como
feudalismo e senhoralismo. A história regional, como já dito, possibilita a refutação ou
confirmação de teorias gerais da história. Com o apoio dos atos da inquisição o pesquisador
consegue concluir que a aldeia estava sim inserida num contexto de obrigações senhoriais
típicas do feudalismo medieval francês, em que o cidadão estava preso numa rede de
dominações hierárquicas, porém não afetava tanto assim o dia-a-dia da vida aldeã.

Esse trabalho tem como pilares teóricos os trabalhos de Pierre Goubert e Emmanuel
Ladurie pelo fato de ambos trabalharem com registros eclesiásticos, além de suas análises
regionais se embasarem nesse tipo de fonte para criar ou justificar a partir disso uma região. O
principal material utilizado nesse trabalho de história regional são os registros de batismo da
freguesia de São Sebastião e Mestre D’armas, entre os anos de 1875 e 1910, área que
atualmente é conhecida por Planaltina Velha devido ao pioneirismo em relação a periferia
atual.

O acesso às fontes eclesiásticas se dá a partir da autorização do pároco responsável


pela igreja que as armazena. Com a construção de um novo prédio, em meados do século XX,
todo material da antiga sede foi transportado para a nova, então a pesquisa foi conduzida
nesse ambiente, já que não há possibilidade de empréstimo, por guardar informações
pertinentes a própria igreja local. O armazenamento se dá de forma bastante simplificada, pois
todo os registros disponíveis, referentes a batismo, casamento e crisma, se encontram em um
mesmo armário fechado de madeira, na sala principal da secretaria da paróquia.

Os livros possuem uma organização simples, onde são enumerados de forma


crescente, separando-os em datas que correspondem ao início e término das páginas. Para
execução deste trabalho foram utilizados os livros um, dois e três, que compreendem o recorte
temporal escolhido, entre os anos de 1879 e 1910. Os livros um e dois são cópias reescritas
em 1975, pois os originais foram extraviados. Essas cópias têm como base o relato de
testemunhas e o catálogo de nomes, sendo essa um anexo ao final de cada um desses livros de
batismo que contém informações concisas (nome do batizado, nome do pai ou mãe, ano do
batizado e número da folha em que o registro se deu) e em ordem alfabética.

Um fato curioso a se notar é a reutilização e ressignificação de alguns materiais, como


os próprios livros, pelo fato de nessa versão reescrita dos primeiros dois livros de batismo
conter em suas seis primeiras páginas atas de uma reunião de mulheres em torno da
construção de uma nova paróquia, a de São Vicente de Paula, na década de 1960 em
Planaltina. Essas atas relatavam detalhadamente o conteúdo das conversas entre esse grupo e
o pároco responsável na época, além de fazer um pequeno balanço de materiais e dinheiro
arrecadado e a origem destes. Ao fim de cada ata, quatro ao todo, são recolhidas algumas
assinaturas, além do próprio padre, com a finalidade de demonstrar a ciência dessas pessoas
em relação a escrita desses relatórios.

Os registros seguem um modelo padrão de organização, apesar de algumas ligeiras


diferenças entre o modelo reescrito dos dois primeiros livros e o modelo seguido em inícios
do século XX, exemplificado pelo terceiro livro: a princípio é enumerado o batizado; logo
embaixo está o primeiro nome da pessoa batizada; é escrita então a data; a localidade está
indicada apenas nos livros 1 e 2 por serem produtos correspondentes a um registro perdido de
meio século atrás; nesses mesmo livros aparece o nome do pároco responsável pelo batizado,
diferente do livro 3 onde a assinatura desse responsável se encontra no final de cada registro e
no topo direito das páginas; nome do batizado, onde nos livros 1 e 2 aparece por completo ao
oposto do livro 3 em que sé é indicado apenas o primeiro nome; localidade (no caso dos livros
1 e 2) e data do nascimento; nome dos pais, demonstrando a legitimidade ou não do
nascimento perante o casamento (apenas no 3º livro); nome do casal de padrinhos, onde,
assim como no nome dos pais, o masculino aparece sempre antes do feminino; localidade no
livro, apenas no caso dos livros 1 e 2 por conta da extradição.

Figura 1: Recorte exemplo da disposição de informações nos livros 1 e 2

Figura 2: Recorte exemplo da disposição das informações do livro 3

Os livros são escritos manualmente, o livro 3 é uma produção dos próprios párocos
responsáveis pelo batismo. O estado de conservação desses livros é medianamente bom,
algumas páginas se encontram rasgadas, porém ainda é possível ler suas informações. Os
catálogos anexados na última página auxiliam no reconhecimento e na indicação precisa da
página em que a pessoa batizada se localiza. A organização segundo ordem alfabética,
resumindo o conteúdo dos livros fazem desse pequeno livreto uma peça primordial na
checagem de informação.

A diferença central entre os livros 1 e 2, reproduções dos antigos registros perdidos, e


o livro 3 está na organização da ordem de aparecimento dos nomes. A forma padronizada
nessa organização, exemplificada pelo livro 3 e pelos outros exemplares originais é por data
de batismo, enquanto as reproduções a partir de relatos orais e do catálogo não segue
aparentemente, nenhum tipo de padrão organizacional. Os livros 1 e 2 apresentam batizados
que fogem da data proposta de seus originais por serem um compilado de informações
desconexas em tempo.
Em todos os livros analisados as letras, apesar de diferentes entre ambos, se mantem as
mesmas ao longo do período de registro. O caso do livro 3 se dá por ser elaborado pelo pároco
responsável pelo batismo, já que sua assinatura consta no final, já os 1 e 2 por serem
reescritos posteriormente se justifica pelo uso da mesma pessoa nesse trabalho de compilação
ocorrido a posteriori.

Os dados de batismo servem primariamente como uma fonte demográfica da região


estabelecida, já que compilam os nascimentos da área, além de apresentarem uma margem
aproximada de influência que a sede eclesiástica possuía na região. Os registros são um
retrato da maneira como se organizava informações referentes a população local pela igreja, a
disposição dos dados no papel reflete a cultura daquele que registrou e do lugar onde está
inserido.

Analisar a área de atuação da região escolhida a partir apenas desses registros de


batismo foi uma complicada tarefa, devido ao fato de conterem um número restrito de
informações a respeito do cotidiano local ou de outras esferas de influência na vida de uma
população, como política ou economia. Um dado interessante presente ao fim do registro de
cada ano é o balanço das quantidades de nascimentos a partir dos batizados (figura 3), em que
são indicados a quantidade total de homens e mulheres nascidos e batizados naquele ano.

Figura 3: Balanceado da quantidade de nascidos batizados no ano de 1909

Deve-se, contudo, ter precaução ao utilizar-se de fontes, como as de batismos, para


uma análise regional completa, já que essas desconsideram as realidades daqueles que não
frequentam a religião ou não possuem qualquer laço com essa religião determinada. Apesar de
que no Brasil em geral a fé católica possui uma abrangência larga, a generalização de uma
teoria que desconsidere alguma parcela, muitas vezes marginalizada historicamente, da
população local é falha e injusta.

O desenho de uma região a partir do grau de trabalho executado pelo corpo


eclesiástico local com base em um sacramento do cristianismo, com suas visitas paroquiais,
levando em consideração as anotações das compilações posteriores que são os livros 1 e 2 não
é uma tarefa confiável, já que os mesmos são constituídos por fontes que não permitem
corroborações modernas. O uso de nomes contemporâneos em referência às localidades,
inexistentes em relação a denominação contemporânea, demonstra a fragilidade teórica na
possibilidade de esboçar geograficamente essa esfera de atuação.

A indicação da legitimidade ou não do nascimento da pessoa batizada, perante o laço


matrimonial dos pais na igreja católica, é um sinal da doutrinação cristã no âmbito da
legitimidade de um relacionamento entre duas pessoas. Indicar a natureza da relação dos pais
no livro de batismo mostra o quão importante, perante a sociedade da época, era o matrimônio
oficial da igreja. Esse tipo de informação só está contido no livro 3, o original de época. Na
ausência de indicação do progenitor masculino, o termo empregado antes do nome materno é
“filho natural”, esse vazio da figura masculina pode se justificar por diversos fatores,
impossíveis de serem elencados somente com o tipo de fonte analisada. A compilação da
década de 1970 (livros 1 e 2) feita a partir dos catálogos e da oralidade não possui indicativo a
legitimidade do nascimento da pessoa batizada, indicando assim que esse tipo de natureza
perde importância com o passar dos anos.

A ordem de aparição dos nomes dos pais e padrinhos é um reflexo da sociedade


patriarcal sustentada por dogmas das instituições religiosas. O nome dos homens, seja na
seção reservada aos pais ou padrinhos, sempre aparece primeiro. O catálogo ao fim de cada
livro de batizado possui, entre outras informações, o nome do progenitor masculino. Essa
hierarquização nominal em conjunto com a natureza das relações, explanada anteriormente,
comprova a naturalização de uma ordem social cristã enraizada nos costumes da época.

A hierarquia de funções eclesiásticas aparece desde a apresentação dos registros, já


que consta na contracapa de cada livro a indicação que a abertura deste é autorizada pelo
bispo responsável da congregação. A denominação referente aos diferentes párocos
registrados nos livros ao longo do tempo é a de frei, o que indica a relação entre esses
membros paroquiais com alguma ordem religiosa específica, como a dos Franciscanos. Os
livros 1 e 2 apresentam uma larga quantidade de frades diferentes, algo que representa a
grande rotatividade de responsáveis pelas funções da igreja e pela execução dos sacramentos
cristãos.

A profusão de nomes nessa época demonstra uma certa diferença entre os escolhidos
na atualidade, porém a influência da cultura cristã ocidental nessa escolha é algo continuo.
Uma parte de pessoas batizadas e de seus pais e padrinhos, indicados nos registros, não
possuem atualmente correspondência aos padrões nominais modernos, algo natural visto que
a escolha de nomes para batismo segue uma moda, determinada por fatores culturais de
época. A bíblia é o principal material fonte de inspiração na designação dessas nomenclaturas.

Como foi elencado durante todo esse trabalho, as possibilidades geradas por uma
pesquisa regional abrangem as mais diferentes áreas analíticas, além de proporcionar uma
visão mais direcionada ao caráter individual em relação ao todo. História regional como
disciplina e como método de pesquisa expandiu as perspectivas historiográficas dentro da
academia, fazendo com que pesquisas em locais periféricos e isolados fosse possível.

A breve análise de dados demográficos, a partir dos registros de batismo da paróquia


de Planaltina no Distrito Federal, demonstrou e execução das diversas teorias na área regional
de pesquisa, aprendidas durante o semestre da disciplina. A leitura desses dados demonstrou
uma rica fonte de informações de época, o que acarreta nas inúmeras possibilidades futuras de
utilização desses dados no fazer historiográfico regional.

Conclui-se então que a delimitação de uma região a partir dos dados eclesiásticos de
batismos é possível, dado algumas ressalvas. Esse trabalho permite a apresentação desses
dados e da própria região, tornando-a assim fonte de pesquisa, algo que não ocorre com
frequência dado o caráter periférico da região em comparação com a capital federal. O estudo
regional se torna então uma forma importante de criação da narrativa local por pesquisadores
interessados pela região escolhida. Intenciona-se com esse trabalho um pequeno pontapé
inicial nas pesquisas sobre a rica história de Planaltina.
Bibliografia:

GOUBERT, Pierre. "Local History." Daedalus 100 (1972).

LADURIE, Emmanuel Le Roy. Montaillou: Cataros e catolicos numa aldeia francesa: 1294-
1324. Lisboa: Edições 70, 1975.

PDAD 2015/2016, CODEPLAN.

SILVA, Marcos A. da. A Republica em migalhas: história regional e local. São Paulo: Marco
Zero, 1989.

VILAR, Pierre. Cataluña en la España Moderna. Investigaciones sobre los fundamentos


económicos de las estructuras nacionales. Barcelona: Editorial Critica, 1988.

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