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Advertência: Bem sei que como cinéfila e crítica cinematográfica 100% amateur não
tenho muito critério para valorar filmes. Vou, no entanto, atrever-me a falar-vos dum
filme recente e de expor o único ponto de vista que me podo permitir: duma pobre
ignorante filóloga. Vejamos portanto…
Nestes últimos dias notei as redes sociais comovidas pola estreia do filme “Arrival” (que
poderíamos traduzir como “A Chegada”) dirigido por Denis Villeneuve. Animada com
tanta boa crítica fui procurar a razão de tanta emoção à volta do que inicialmente pensei
que seria uma produção de Hollywood mais.
Bem. Categoria: ciência ficção. Não… Outra vez os extraterrestres vão atacar a terra e
procurar a inteligência nos Estados Unidos. Com certeza vai correr o sangue a regos, terei
que aguentar intermináveis cenas de luta, os óvnis-zombis andarão a perseguir e a
exterminar os coitados humanos, mas felizmente na parte final algum super-herói vai
aparecer e salvar a humanidade. Com este cenário na mente fui ao cinema. E qual foi a
minha surpresa quando nada disto aconteceu e quando já após os primeiros 5 minutos em
vez de bater com a mão na minha testa estava a saltar na cadeira e a bater as palmas.
A protagonista da história (atriz Amy Adams) é professora de linguística, poliglota e
tradutora de um monte de idiomas (até parece que os sabe todos). Depois duma sequência
de cenas da sua vida privada, encontramo-la em ação numa aula da universidade que
começa assim:
“Hoje vamos falar sobre o português e de por que soa tão diferente em relação a outras
línguas românicas. A história do português teve o seu início no Reino da Galiza na Idade
Média. Daquela a língua considerava-se uma expressão artística.”
Desculpas? Como? Estou a ter alucinações? Fiquei a dormir e sonhei? Tal grau de emoção
nunca foi experimentado por mim em nenhuma das produções de Hollywood! Arre demo!
Foi neste momento quando entendi o que estava a acontecer. Já estava a visionar a clássica
discussão entre os reintegratas e os isolos sobre os séculos posteriores e sobre as 2 visões
sobre a história da língua. Já me estava a arrepender de não ter apanhado pipocas. No
entanto… Justamente depois desta frase que num dia normal na Galiza anunciaria ação,
subida acelerada do ritmo cardíaco, sentimentos, confrontos, amor e ódio, neste preciso
momento chegam os extraterrestres para tocar o cara…mujo e a aula é suspensa e
evacuada…
Não quero contar-vos demasiados spoilers nem contar a história inteira que se desenvolve
a seguir, mas além desta memorável introdução, destacaria mais alguns detalhes:
a forma física que têm os extraterrestres – não provocará medo em nenhum(a)
espectador(a) galego/-a, mais bem sentirá fome e pensará em como prestariam
nalgum macro-evento gastronómico do país
presenciaremos as relações de amor-ódio entre uma científica de verdade, a
filóloga, e um tipo cuja área de estudos é sempre posta em questão como ciência
exata, falo da física obviamente
aparecerá a hipótese de Sapir-Whorf (mais emoções, mais saltos na cadeira!)
os extraterrestres não se expressarão em euskara
sim, tomai duas cuncas: a filóloga vai salvar o planeta!!!
Fonte: http://pgl.gal/arrival-ver-historia-da-lingua-galega-os-extraterrestres/