You are on page 1of 9

l-

~
o BJ ET I VO S
:::~.:...-~:.:,.....•: ."~ ,,," : '. ,-
E P R I NC í P I 0.5
~,',.-! '; '1 r
....•.: "., .. _,....•. ••:"':;,,"l"."':" ..•..!" "':'-
••• ';::._.,~ •• 'J .~._:_. l..-:·.:;....o.~·::.:.~,

Rita de Cassia Tardin Cassab


~\\

~)
A vida na Terra surgiu há aproximadamente 3,8 Geologia: É na Biologiã que o paleontólogo busca sub-
bilhões de anos e, desde então, restos de animais e sídios para estudar os fósse~s, já que eles são restos de
vegetais oú evidências de suas atividades ficaram pre- um antigo organismo vivo. Em retorno, a Paleontologia
servados nas rochas. Estes restos e evidências são de- fornece aos biólogos uma dimensão do tempo em que
nominados çle FÓSSEIS e constiruem o objeto de os grandes ecossistemas atuais se estabeleceram e tam-
escudo da PALEONTOLOGIA. bém informações complementares às teorias evolutivas.
);a Geologia. os fósseis são utilizados como ferramen-
O termo Paleontologia, usado na literatura geo-
tas para datação e ordenação das seqüências
lógica pela primeira vez em 1834, foi formado a pareir
sedimentares. contribuindo para o detalhamento da
das palavras gregas: pai aios = antigo, ontos = ser, lagos
coluna cronogeológica. Ajudam na interpretação dos
= estudo. Já a palavra fóssil originou-se do termo lati-
ambientes amigos de sedimentação, bem como na
no fossilis = extraído da terra.
identificação das mudanças ocorridas na superfície do
A história dos fósseis é também a história da planeta atra\'és do tempo geológico.
migração dos continentes, das mudanças climáticas, das
Ponamo, os principais objetivos da Paleon-
extinções em massa e das modificações ocorridas na
rologia são:
fauna e flora ao longo do tempo geológico,
- fornecer dados para o conhecimento da evolução
A Paleontologia desempenha um papel impor- biológica dos seres vivos através do tempo;
tante nos dias de hoje. Já não é mais uma ciência her-
- estimar a datação relativa das camadas, pelo grau
mética, restrita aos cientistas e universidades. Todos
de evolução ou pela ocorrência de diversos grupos
se interessam pela história da Terra e de seus habitan-
de plantas e animais fósseis. A sucessão das camadas
tes durante o passado geológico, para conhecerem
de rochas e seu conteúdo fóssil está resumida na co-
. melhor suas origens.
luna cronoestratigráfica, bnde os grandes grupos e
sistemas estão arranjados em seqüência, com as ro-
Fundamentos e Objetivos chas mais amigas na base e mais novas no topO;
Os princípios e métodos da Paleontologia fun- - reconstituir o ambiente em que o fóssil viveu, contri-
damentam-se em outras duas ciências; a Biologia e a buindo para a paleogeografia e paleocltmarologia;
4 Paleontologia

- auxiliar na reconstituição da história geológica da Atualmente um grande número de paleontólogos


Terra, através do estudo das sucessões faunísticas e dedica-se ao estudo dos vertebrados. Como esses fósseis
florísticas preservadas nas rochas. A distribuição das atraem bastante a comunidade leiga, esses profissionais
espécies nos diversos ecossistemas durante o passa- além de suas pesquisas têm também atuado na divulga-
do geológico torna possível a identificação da seqüên- ção científica da Paleontologia.
cia de eventos na história da Terra, que muitas vezes A Micropaleontologia desenvolveu-se muito a
ocorre em escala global; partir da necessidade econômica de se estudar os
- identificar as rochas em que podem ocorrer substâncias microfósseis para a indústria do petróleo. Eles são ex-
minerais e combustíveis como o fosfato, carvão e o pe- celentes elementos para a correlação e datação das ca-
tróleo, servindo de apoio à Geologia Econômica. madas, devido à sua extensa variabilidade morfológica,
grande abundância nas rochas sedimentares e rápida
evolução. Os microfósseis podem ser partes diminutas
Ramos da Paleontologia de organismos como espículas de esponjas, dentes de
peixes, espinhos de equinóides, polens e esporos ve-
A Paleontologia pode ser estudada através de duas
getais ou carapaças completas como as dos protistas,
abordagens principais. Uma mais descritiva, que tem
conchostráceos e micromoluscos.
como objetivos a identificação do fóssil, sua
reconstituição e suas relações filo genéticas, visando o A Paleoicnologia estuda os icnofósseis, que são
estabelecimento de correlações cronoestratigráficas e estruturas biogênicas resultantes da atividade dos seres
interpretações paleoambientais. vivos. Correspondem a marcas como pistas, pegadas,
perfurações, escavações, marcas de repouso, refletindo
A segunda, denominada de Paleobiologia, mais
o comportamento do organismo quando em vida.
conceitual, dá ênfase à identificação das leis que atuaram
em fenômenos como a origem da vida, a formação e Dentro de cada ramo da Paleontologia, o pale-
estruturação da biosfera, as extinções, investigando a ontólogo ainda direciona suas pesquisas para outras áre-
influência dos paleoambientes nos processos evolutivos as como;
dos organismos. Na abordagem paleobiológica os estu- - Paleoecologia, que estuda as relações dos organis-
dos são direcionados para tópicos como evolução, eco- mos entre si e destes com o meio. Usando os compo-
logia ou tafonomia dos organismos (Hoffman, 1990). nentes da fauna e flora e vários parâmetros, tenta in-
Os paleontólogos sempre se direcionam para um ferir dados como a profundidade, salinidade, produ-
determinado núcleo de estudos: Paleobotânica, ção orgânica, nível de oxigenação do meio e as con-
Paleontologia de Inverte brados, Paleontologia de Ver- dições climáticas da época.
tebrados, Micropaleontologia e Paleoicnologia. - Tafonomia, que é o estudo das condições e proces-
A Paleobotânica estuda as plantas fósseis de um sos que propiciaram a preservação dos fósseis, desde
modo geral. Na maioria das vezes apenas uma parte da a sua morte até ser encontrado na natureza.
planta fica preservada, acarretando novas especializa-
- Sistemática, que classifica e agrupa os organismos
ções: uns se dedicando ao estudo dos lenhos, outros aos
com base na análise comparativa de seus atributos e
das folhas. Uma grande parte estuda os polens e esporos,
nas relações entre eles.
que devido a sua excepcional preservação, são ampla-
mente usados para datação e são abordados dentro da
Micropaleontologia, mais especificamente na Preservação dos Fósseis
Paleopalinologia.
Alguns paleontólogos se dedicam ao estudo dos A fossilização de um organismo resulta da ação
invertebrados fósseis. Moluscos (biválvios e gastró- de um conjunto de processos físicos, químicos e bioló-
podes), braquiópodes, equinóides e conchostráceos são gicos que atuam no ambiente deposicional. Têm mais
grupos que possuem boa representação no território bra- chances de serem preservados aqueles organismos que
sileiro. Os inverte brados fósseis, principalmente os possuem partes biomineralizadas por carbonatos,
marinhos, possibilitam estabelecer correlações crono- fosfatos, silicatos ou constituídas por materiais orgâni-
estratigráficas de bacias distantes e são utilizados para cos resistentes, como a quitina e a celulose. Mesmo
delimitar províncias paleobiogeográficas, devido à boa assim ocorrem no registro geológico muitas preserva-
dispersão de suas larvas, como é o caso dos moluscos. ções excepcionais de partes moles.
Objetivos e Prinápios 5

Após a morte dos organismos, no ciclo natural da peram no meio, são alguns desses fatores, cujo soma-
vida, as partes moles entram em processo de decompo- tório determinará o modo de fossilização.
sição devido à ação das bactérias e as partes duras ficam Mesmo depois dos fósseis já estarem formados,
sujeitas às condições ambientais, culminando com sua outros fatores concorrem para a sua destruição nas ro-
destruição total (figura 1.1). A fossilização representa a chas, como águas percolantes, agentes erosivos, vulca-
quebra deste ciclo e portanto deve ser sempre vista nismo, eventos tectônicos e metamorfismo. As ro-
como um fenômeno excepcional. No decorrer do tem- chas onde os fósseis são encontrados indicam as con-
po geológico, apenas uma percentagem Ínfima das es- dições que prevaleceram no ambiente onde esses or-
pécies que um dia habitaram a biosfera terrestre preser- ganismos viviam ou para o qual seus restos foram
vou-se nas rochas. Muitas espécies surgiram e desapa- transportados.
receram sem deixar vestígios, existindo portanto mui-
tos hiatos no registro paleontológico.
Vários fatores atuam na preservação dos indivÍ- Tipos de Fossilização
duos e favorecem a fossilização. O soterramento rápi-
do após a morte, a ausência de decomposição bacte- Os fósseis podem se preservar de diferentes
rio lógica, a composição química e estrutural do esque- modos, dependendo dos fatores e das substâncias quí-
leto, o modo de vida, as condições químicas que im- micas que atuaram após a morte do organismo. Pode-

~-----_.- ..... ==~--


.-=---.

--'--
~_.-

Carnívoros

Decompositores

,~ ~:;;\iiiihr
.,,p)
~
iD,

Fossilização

Figura 1.1 Ciclo natural da vida, com as possíveis transformações da matéria orgânica.
6 Paleontologia

mos reunir os tipos de fossilização em dois grandes gru- São conhecidos na literatura alguns casos excep-
pos: restos e vestígios. Restos, quando alguma parte cionais, onde organismos completos se preservaram, tan-
do organismo ficou preservada e vestígios, quando to as partes moles como as duras. Ficaram de tal forma
temos apenas evidências indiretas do organismo ou protegidos que permaneceram intactos até os dias de
de suas atividades. hoje. Citaremos, a seguir, alguns destes exemplos.
As ocorrências de nódulos de âmbar contendo
insetos, aracnídeos, rãs e outros organismos são bas-
A. Restos tante conhecidas. O ârilbar é uma resina fóssil, prove-
niente de várias espécies de gimnospermas e angios-
Os restos, na maioria das vezes, consistem nas permas, encontradas em grandes quantidades nos ter-
partes mais resistentes dos organismos, tais como con- renos terciários na costa sul do Báltico e na República
chas, ossos e dentes, denominadas partes duras. Com Dominicana.
a evolução dos conhecimentos, têm-se descoberto no As condições glaciais na Sibéria e no Alasca pos-
registro fossilífero muitas partes moles preservadas, sibilitaram a preservação de mamutes lanosos e rino-
como vísceras, pele, músculos, vasos sangüíneos, que cerontes. Estes animais permaneceram congelados
têm contribuído para um melhor conhecimento da desde a última glaciação do Pleistoceno (45.000 anos)
anatomia e fisiologia dos organismos fósseis. e muitos deles ainda apresentavam a pele e os múscu-
As partes duras, devido à sua natureza, têm mais los em perfeito estado. Seu conteúdo estomacal esta-
chances de se fossilizarem. Sua composição pode ser va intacto e com isto foi possível conhecer os vegetais
de que eles se alimentavam.
de sí/ica (SiO), bastante resistente às intempéries,
como as espículas de algumas esponjas; de carbonato Fósseis de preguiças com as partes moles pre-
de cálcio (CaCOJ)sob a forma de calcita ou aragonita, servadas por dcssecação foram encontrados em terre-
das quais são constituídas as placas esqueléticas de nos pleistocênicos da Patagônia. Este tipo de fossili-
equinodermas e conchas de moluscos; de quitina, um zação ocorre em locais com clima seco e árido onde,
polissacarídeo complexo, menos durável do que a mai- após a morte, o animal desidrata rapidamente, fican-
oria dos esqueletos minerais e que compõe o exoes- do protegido do ataque das bactérias.
queteto dos insetos. Este processo de fossilização por desidratação é
Os restos vegetais apresentam-se sempre disso- denominado por alguns autores de rnurnificação. Ou-
ciados no registro fóssil, dificultando o estudo da planta tros, empregam também esta denominação para os or-
como um organismo completo. De um modo geral as ganismos que se preser.-aram inteiramente, como os
mamutes congelados e os insetos conservados no âmbar.
folhas, caules, sementes e polens encontram-se sepa-
rados nos sedimentos. }vlamutes lanosos e rinocerontes pleistocênicos
conservaram-se em ozocerite, uma parafina natural ou
cera fóssil, na região da Galícia, na Espanha.
Preservação das partes moles Vários mamíferos pleistocênicos extintos foram
encontrados em lagoas asfálticas nos Estados Unidos e
A preservação de partes moles é um evento ex- na Polônia. A turfa e o alcatrão com suas propriedades
traordinário. Após a morte, os organismos entram ra- anti-sépticas impediram o processo de decomposição,
pidamente em processo de decomposição e, depen- possibilitando a fossilização.
dendo do ambiente, raramente se conservam. Por A preservação das partes moles está mais fre-
exemplo, plantas e animais de t10restas tropicais de- qUentemente associada a mineralizações dos carbona-
compõem-se com tanta rapidez, devido à grande quan- tos, e em menor escala a de sulfetos e fosfatos. Um
tidade de água e oxigênio disponível no ambiente, exemplo é o calcário litográfico do ]urássico da Alema-
que somente em condições muito especiais, como um nha, onde o fóssil Archaeopteryx foi encontrado. O ex-
soterramento rápido, estes organismos podem se celente estado do fóssil, onde até as penas estavam
fossilizar. Água'!; ricas em cálcio neutralizam os ácidos impressas, deslumbrou a comunidade científica na
dentro dos sedimentos, permitindo que partes moles, época do achado. Como exemplo de ocorrências de
como pele, músculos e órgãos internos de vertebra- partes moles fosfatizadas, temos o caso das lulas, no
dos permaneçam intactos. ]urássico da Inglaterra e uilobitas com apêndices com-
Objetivos e Princípios 7

pletos, encontrados no Cambriano da Suécia. Ce- As partes duras podem ser preservadas através
falópodes do Devoniano da Alemanha, tiveram suas de vários processos de fossilização: incrustação, permi-
partes moles inteiramente piritizadas. neralização, recristalização, substituição e carbonificação.
Entre os melhores exemplos de fossilização de Na Íncrustação, as substâncias transportadas
tecidos moles está o Folhelho Burgess, da Columbia pela água cristalizam-se na superfície da estrutura, re-
Britânica, Canadá. Vários organismos marinhos como vestindo-a por completo, preservando assim a parte
algas, esponjas, animais vermiformes e artrópodes, fi- dura. Este é o processo de fossilização que ocorre ge-
caram preservados. Além desses, ocorrem algumas for- ralmente com organismos mortos ou transportados para
mas bizarras, que parecem ter sido apenas parte de cavernas. Os animais morrem, a parte orgânica desa-
um organismo, sem similares no registro parece e então os ossos são incrustados de carbonato
paleontológico. Há extensa literatura sobre esta asso- de cálcio. Além da calcita, outras substâncias podem
ciação fossilífera, entre as q uais destacamos Gould também participar deste processo como a pirita, a
(1990). limonita e a sílica.

No Brasil, os fósseis da Formação Santa na, A permineralização é um tipo de fossilização


Cretáceo da Bacia do Araripe, constituem o melhor bastante freqüente. Ocorre quando um mineral pre-
exemplo brasileiro deste caso. Uma numerosa e diver- enche os poros, canalículos ou cavidades existentes no
sificada fauna de vertebrados, com dominância de pei- organismo. Os ossos e troncos de árvores são muito
xes, além de vegetais, insetos e outros grupos é en- porosos e bastante suscetíveis a essa forma de preser-
contrada em nódulos calcários. A descrição deste pro- vação. As substâncias minerais, como o carbonato de
cesso, desde a morte do organismo até a formação do cálcio e a sílica, que são capazes de ser carreadas pela
nódulo, foi descrita por Martill (1988) e está repro- água, penetram nas cavidades lentamente, permitin-
duzida na figura 1.2. Atualmente, um grande número do muitas vezes que a estrutura original seja preser-
de pesquisadores trabalha com os fósseis desta for- vada. ~linello (1993) estudou lenhos fósseis permi-
mação. neralizaclos da região de Mata e São Pedra do Sul,
RS.
Há vários estudos sobre a ocorrência de tecidos
moles em fósseis brasileiros. Kellner & Campos (1999) A recristalização ocorre quando há modifica-
identificaram tecidos epidérmicos, fibras musculares ções na estrutura cristalina do mineral original, a com-
e vasos sanguíneos em arcossauros da Formação posição química permanece a mesma. Por exemplo, a
Santa na. Simone & Mezzalira (1993) descreveram ves- com'crsão da aragonita das conchas de moluscos em
tígios de partes moles em biválvios cretáceos da Ba- calcira; a mudança no arranjo cristalino da calcita, de
cia Bauru. micro- para macrocristalina; da opala, amorfa, para
calcedônia, criptocristalina. Sempre que ocorre
recristalização há a destruição das microestruturas.
Preservações das partes duras A aragonita é um polimorfo instável em relação à
caleita nas temperaturas e pressões comuns. Aquecen-
A maioria dos fósseis existentes no registro do-se no ar, a aragonita começa a se transformar em
geológico são partes biomineralizadas dos organismos, calei ta, a 400°C, mas em contato com a água ou com
denominadas de partes duras. São as conchas de 010- soluções contendo CaCO] dissolvido, a transformação
luscos e braquiópodes, testas de foraminíferos, carapa- pode ocorrer em temperatura ambiente (Dana, 1970).
ças de equinóides, ossos e dentes de vertebrados. A carbonificação ou incarbonização é um
Mesmo nas rochas mais antigas, são encontradas processo de fossilização onde ocorre a perda gradual
muitas partes duras que se conservaram sem alterações dos elementos \'oláteis da matéria orgânica, o oxigê-
na sua composição química original. Algumas conchas nio, hidrogênio e nitrogênio são liberados, ficando ape-
de moluscos ainda apresentam traços de sua cor origi- nas uma película de carbono. Este tipo de fossilização
nal e com o nacarado perfeito. Devido ao alto grau de ocorre com maior freqüência nas estruturas constituÍ'-
intemperismo que atua nas rochas; essas ocorrências das por lignina, celulose, quitina e queratina. Apesar
no Brasil são raras, mas Hessel & "Carvalho (1987) estu- das alterações ocorridas na composição química origi-
daram conchas de gastrópodes cretáceos da Bacia de nal, muitas vezes a microestrutura fica preservada e
Sergipe que apresentavam a coloração original. permite o estudo da anatomia dos vegetais fósseis.
8 Paleontologia

Ambiente
PTERossAuRO & PÓLEN

Aéreo

Marinho
normal! SEDIMENTO FINO
salobro
& FeOOH ~

HALÓCLlNA

FONTES
NUTRITIVAS

Hipersalino OSTRACODES
AUTIGÊNESE DE FOSFATOS BENTÔNICOS
CADÁVER
TAPETES DE ENTERRADO
PROCARIOTAS ••• :_.: :; •.••0'

Zona
Sub-óxica S04""

t ~t ""
Ca++

CaC03
/
CaC03
,/
Ca++
tt t
2HC03"
Zona de
redução FORMAÇÃO DE
de sufaltos UMA CONCREÇÃO

H2S
/'"FeS2
FeS2

----------------------------
Zona
metanogênica
FERRUGINIZAÇÃO
TARDIA t
CIMENTO CALCíTICO

Figura 1.2 Modelo de Martill (1988) para a origem dos nódulos carbonáticos da Formação Santana.

Outro processo de fossilização é a substituição. É Carbonífero da Bacia do Amazonas. Quando esse processo
o que ocorre quando, por exemplo, o carbonato de cálcio ~ rrfuito lento, detalhes da estrutura dos tecidos podem
que constitui as conchas é substituído por sílica, pirita ou ficar preservados, e segundo Mendes (1982), nos troncos
limonita, e até mesmo por novo carbonato de cálcio. vegetais em que se deu esse tipo de substituição foram
Nesses casos, os fósseis são réplicas das conchas primitivas. encontrados restos de tecidos carbonificados. Esse pro-
Mendes (1959) estudou braquiópodes silicificados do cesso denomina-se histometabase:
Objetivos e Prinápios 9

B. Vestígios Vestígios das atividades vitais dos organismos


são freqüentes no registro sedimentare sua presença
Os vestígios são evidências da existência dos nos sedimentos contribui para fazer interpretações
organismos ou de suas atividades. Os animais e vege- paIeoambientais. Estes fósseis são denominados de
tais que deram origem aos fósseis não se preservaram. icnofósseis. Os mais freqüentes são as pistas, tubos e
Tomemos como exemplo uma concha. Durante sulcos produzidos por animais invertebrados, resultan-
o soterramento, suas cavidades internas são preenchi- tes do seu deslocamento no substrato e as pegadas
das pelos sedimentos circundantes. Com o decorrer do deixadas por vertebrados nos sedimentos incon-
tempo, elas são dissolvidas pelas águas percolantes, solidados. Há também testemunhos de outras ativi-
restando somente o espaço que era ocupado anterior- dades biológicas como nutrição e reprodução. É difí-
mente pela concha. Ficaram formadas duas impressões, cil reconhecer os autores destas marcas, pois em geral
o molde externo, que é a moldagem da superfície eles não se fossilizam.
externa e o molde interno, que revela a morfologia ou Com relação às atividades de nutrição os mais
estrutura interna do organismo ou parte dele. Se o espa- encontrados são os excrementos fossilizados, denomi-
ço formado foi posteriormente preenchido por outro nados de coprólitos. Podem ser produzidos por ver-
mineral, formou-se uma réplica do original, que deno- tebrados ou inverte brados. Seixos, denominados de
minamos de contramolde (figura 1.3). gastrólitos, são interpretados como as pedrinhas que
Asas de insetos, folhas de vegetais e outros ór- as aves e alguns répteis têm no aparelho digestivo para
auxiliar na digestão.
gãos similares compostos de qui tina ou celulose, po-
dem ficar impressos nas rochas. São consideradas como Ovos fossilizados, principalmente de répteis,
positivas quando estão em alto-relevo e negativas, em também têm sido encontrados com freqüência. Há ain-
baixo-relevo. da outros vestígios menos comuns, mas bastante inte-

Após O soterramento Dissolução da concha

Figura 1.3 Formação de moldes e


contramoldes de uma concha.

Contramolde
Preenchimento do espaço
ocupado anteriormente
pela concha
10 Paleontologia

o 1cm o 1cm
A L......J B L..-.J

o 1cm
c L..-.J

o 1cm
D l-J

Figura 1.4 Exemplos de fósseis-vivos: (:\) Giflgko sp. Gênero vivente das ginkgoales, com registro mais antigo no Judssico.
(B) Liflgu!a sp. Gênero de braquiópode com ocorrência desde o Ordoviciano. (C) Limu!us sp. Artrópode xifosuro, surgido no
Cambriano, que pode ser encomrado ainda hoje em algumas regiões estuarinas. (O) Latimeria cha!u!lIlIae, conhecido como celacanto,
é a única forma vivenre de peixes Actinistia. Era considerado como extinto no Mesozóico, até a descoberta, em 1938 ,de alguns
exemplares na costa de Madagascar (modificado de Boardman et a!ii, 1987 e Pough et a!ii, 1993).

ressantes, como as marcas de dentadas de répteis em Outras Considerações


conchas de cefalópodes e de mamíferos sobre ossos;
sulcos feitos nas rochas pelos bicos das aves; ninhos Somente os restos ou VeStlglOs de organismos
fossilizados; regurgitos de aves de rapina contendo com mais de 11.000 anos são considerados fósseis. Este
dentes e ossos de micromamíferos. tempo, calculado pela última glaciação, é a duração esti-
Objetivos e Princípios 11

mada para a época geológica em curso: o Holoceno ou GOULD, S. 1990. Vida lUaravilhosa. Trad. PC. Olivei-
Recente. ra. São Paulo. Ed. Schwarcz Ltda. Tradução de
Os fósseis ocorrem em sua grande maioria em Wonderful life, The Burgess Shale and the nature of
rochas sedimentares. Excepcionalmente, alguns foram history. 391 p.
encontrados em rochas metamórficas de baixo grau e HESSEL, M. H. & CARVALHO, M. T N.1987. Padrão
em rochas ígneas eruptivas. de coloração em Natica (Gastropoda) do Albiano
Não é imprescindível que o organismo fos- Inferior de Sergipe. In: CONG RESSO BR-\SILEI-
silizado seja um ser extinto. Muitos animais e vegetais RO DE PALEONTOLOGIA, 10, Rio de Janeiro.
que vivem nos dias de hoje são encontrados no registro AI/ais. v. 2, p. 457-469.
fossilífero. Alguns grupos sofreram poucas modificações HOFFMAN, A. 1990. The past decade and the future.
ao longo do tempo geológico, e há formas conhecidas 11/: BRIGGS, D.E.G. & CROWTHER, P R (eds.).
desde o Paleozóico. São denominados de fósseis-vi- Palaeobiology: A Synthesis. Cambridge: BlackvvelI Sci-
vos ou formas-relíquias e como exemplos podemos entific Publications. capo 6.5.4, p. 550-555.
citar o Ginkgo biloba, Lingula sp., Limulus sp. e Latimeria KELLNER, A. W. A. & CANIPOS, D. A. 1999. Archosaur
chalumnae (figura 1.4). soft tissue from the Cretaceous of the Araripe Basin,
Quando os restos ou vestígios possuem menos i\"ortheastern Brazil. Boletim do Museu lVacional, Ge-
de 11.000 anos, são denominados de subfósseis. São ologia, 42, 22 p.
encontrados alguns exemplos na literatura, como um ~lARTILL, D. 1988. Preservation of fish in the
bisão preservado em turfeira e um homem antigo, mu- Cretaceous Santana Formation. Palaeontology, 31: 1-
mificado, em depósitos de caverna. Encaixam-se neste 18.
caso os sambaquis, acúmulos de conchas, ossos e carvão
J\IEi\"DES, J. C. 1959. Chonetacea e Productacea
resultantes da atividade humana, muito freqüentes no carboníferos da Amazônia. Boletim da Faculdade de
litoral brasileiro.
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
Ainda são utilizados os termos dubiofósseis e Paulo, Geologia, 17:79-83.
pseudofósseis. São considerados como dubiofósseis
J\IEi\"DES,].C. 1982. Paleontologia Geral. Rio de Janei-
algumas estruturas que podem ser de origem orgânica,
ro. Livros Técnicos e Científicos Ed. SA, 2". edição,
mas cuja natureza ainda não foi comprovada. Já os
368 p.
pseudofósseis são estruturas comprovadamente inor-
J\IIi\"ELLO, L. F. 1993. As florestas petrificadas da re-
gânicas, que se assemelham a organismos, tais como os
gião de São Pedra do Sul e Mata, RS. 11. Processo de
dendritos de pirolusita (óxido de manganês) cujo hábi-
fossilização e composição mineral. In: CONGRES-
to cristalino lembra impressões de um vegetal.
SO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGL\, 13, São
Leopoldo. Boletim de Resumos, p. 35.
Referências SI.\IO.\rE, L. R L. & MEZZALIRA, S. 1993. Vestígios
de partes moles em um bivalve fóssil (Unionoida,
BOARDMAN, RS.; CHEETAM, A. H. & ROWELL, .\Iycetopodidae) do Grupo Bauru (Creráceo Superi-
A.]. 1987. Fossillnvertebrates. Cambridge, Blackwell or), São Paulo, Brasil. Anais da Academia Brasileira
Scientific Publications. 713 p. de Ciências, 65:155-159
DANA, J. D. 1970. Manual de Mineralogia. Trad. R.R. POCGH, F. H.; HEISER,]. B. & MCFARLA.'\JD, W. N.
Franco. Rio de Janeiro. Ed. Livro Técnico, Tradu- 1993. A vida dos vertebrados. São Paulo, Atheneu
ção de Dana's Manual of Mineralogy. 642 p. Ed. 839 p.

You might also like