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221032017 De De. De De. hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acérdios TRL. ‘Acérd8o do Tribunal da Relago de Lisboa de MB/LATVLSBLI6 VITOR AMARAL MODIFICABILIDADE DA DECISAO DE FACTO IMPUGNACAO DA MATERIA DE FACTO CONTRATO DE SEGURO DEVER DE INFORMAR RL 22-11-2012 UNANIMIDADE, s APELAGAO PARCIALMENTE PROCEDENTE 1. - O Regime do Sistema do Seguro Obrigatério de Responsabilidade Civil Automével, aprovado pelo DLei n.° 291/2007, de 21-08, no é aplicavel se est4 em causa uma cobertura facultativa do seguro automével enquanto seguro de danos — contra danos préprios, por furto -, e nao o seguro obrigatério automével, este atinente A responsabilidade civil por danos causados a terceiros em consequéncia de acidentes de viagio. 2, - Destinando-se a acco 4 reparagao de um dano contratualmente seguro — a perda de vefculo automével por furto -, tem o Autor o énus de alegar e provar 0 conjunto factico gerador desse dever de indemnizar, desde logo o sinistro (furto). 3.- O dever pré-contratual de declaragio inicial do risco, a cargo do tomador do seguro — previsto no art.” 24." do Regime Juridico do Contrato de Seguro (RJCS), aprovado pelo DLei n.° 72/2008, de 16-04 -, incide sobre todas as circunstancias conhecidas do declarante— e s6 essas —, desde que, ademais, com ignificado/relevancia para a apreciagio do risco. 4. - Cabe ao Réu, defendendo-se mediante a invocacio do incumprimento daquele dever e consequente invalidade do contrato de seguro, demonstrar tal incumprimento, impendendo sobre si o nus da alegagio e prova, desde logo, de que as circunstAncias relevantes nao reveladas (omitidas) pelo tomador do seguro eram deste conhecidas. 5. - $6 para o incumprimento doloso — traduzido na utilizacio de sugesto ou artificio com a intencfo ou consciéncia de induzir ou manter em erro o segurador, bem como a dissimulago do erro deste — de tal dever pré-contratual é prevista a anulabilidade do contrato de seguro (art.” 25.° do RICS). (WA) Acordam no Tribunal da Relacao de Lisboa: 1— Relatério Carlos, residente (...) ... Madeira, intentou a presente acco declarativa de condenagio, sob a forma de processo ordinario, contra “L - Companhia de Seguros, S. A.”, com sede (...) Lisboa, pedindo seja a R. condenada a pagar-lhe a quantia de € 34.204,86, a titulo de indemnizagio, acrescida de juros de mora desde a citagio e até integral e efectivo pagamento, 3 taxa de 4% ao ano, (ca87143(b712a268025700000343a95?0penDocument&Highlight=0,informa%s... 1/28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa bem como 0s valores que 0 A. foi obrigado a despender para a recuperagio daquela quantia, nomeadamente € 1.030,00. Para tanto, alegou, em sintese, que: -o A. adquiriu, mediante contrato de compra e venda, um veiculo automével em 02/04/2009, na sequéncia do que celebrou coma R. contrato de seguro automével respectivo; - em Junho de 2009 0 A. deslocou-se com o dito automével a Espanha, 0 qual ali foi objecto de furto (o demandante refere que 0 veiculo “Ihe foi roubado”), situago logo comunicada As competentes autoridades espanholas e A aqui R.; instruido processo de averiguacio pela R., esta concluiu que deveria assumir a responsabilidade, mediante indemnizagao ao A. no montante de € 34.204,86, do que informou tal A.; - porém, nunca a R. prestou a dita indemnizagao, nem apés notificagio judicial avulsa requerida pelo A., para o que este despendeu € 71,00, tal como despendeu € 500,00 a titulo de honordrios para apoio juridico, bem como € 459,00 de taxa de justiga. Concluiu pela procedéncia da accao. A Ré contestou (tls. 50 ¢ segs.): - impugnando diversa matéria de facto alegada pelo A., designadamente o invocado furto da viatura; - alegando, por seu turno, que: - 0 vefculo aludido havia sofrido um acidente de viagio em Dezembro de 2008, quando se encontrava seguro na seguradora “,..", tendo entao sido considerado perda total, face aos avultados danos sofridos; - 0 entao proprietario foi indemnizado por aquela seguradora, ao abrigo da cobertura de danos préprios, ficando na posse dos respectivos salvados, situagio esta de que a ora R. nio tinha conhecimento aquando a celebrago do contrato de seguro agora em causa; - caso a R. houvesse tido conhecimento dessa situacao, tal influiria na sua decisao de contratar e nao teria celebrado 0 contrato de seguro como A.; - assim, a R. viu-se forgada a rever a sua posi¢fio quanto A assumpgio de responsabilidade, sendo que, por outro lado, 0 A. recorreu & notificagao judicial avulsa por sua prépria conta e risco. Coneluiu pela nulidade do contrato de seguro celebrado, com a absolvigao da R. do pedido, ou pela improcedéncia da acgao por nio provada, conduzindo também A dita absolvigio. Replicou o A. (fs. 66 ¢ segs.), impugnando diversa factualidade alegada pela contraparte, mormente quanto A matéria da arguida nulidade do contrato de seguro, e pugnando: - pela existéncia de pretensao reconvencional, a qual enferma de nulidade processual, decorrente da inobservancia de exigéncias legais processuais, o que determina o indeferimento da respectiva pega processual e o seu desentranhamento dos autos; - por desconhecer o A. se 0 veiculo, anteriormente & sua aqui (ca871431b712a268025700000343a3570penDocument&Highlight=0,informa%... 2:28 221032017 hips. dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa sofreu qualquer acidente de viagio, veiculo esse que, ao tempo daqucla aquisi¢ao, estava em perfeitas condigdes de circulagio ¢ sem defeitos visiveis; - pela improcedéncia do pedido reconvencional, por no provado, e pela procedéncia da aceao, nos moldes constantes da peti¢o inicial. AR. veio entao requerer (fls. 76 e segs.) que se considerasse nao escrito, por ilegal, 0 alegado sob os art.’s 13.° a 42.° da réplica, com © consequente desentranhamento dos autos desse articulado, Realizada audiéncia preliminar, foi decidido que, na inexisténcia de reconvencao — considerou-se que apenas existe defesa por excep¢io referente & arguida nulidade do contrato de seguro —, a réplica apresentada configura um articulado legalmente inadmissivel, donde que tenha sido ordenado o seu desentranhamento dos autos. Foi, seguidamente, proferido despacho saneador, afirmando-se a verificagio de todos os pressupostos de validade da instancia e regularidades processuais, sendo relegado para final o conhecimento da aludida excep¢ao de nulidade do contrato de seguro, Procedeu-se também A condensagao do proceso, com definigio do elenco dos factos assentes ¢ elaboragio da base instrutéria, de que nio foi apresentada qualquer reclamacio. Procedeu-se A realizagao da audiéncia de discussio e julgamento, com observancia do formalismo legal, tendo sido proferida decisio de resposta quanto 4 matéria de facto controvertida, de que nao foi apresentada qualquer reclamagao. Foi depois proferida sentenga, a qual, considerando procedente a excepso peremptéria invocada (arguida nulidade do contrato de seguro), julgou a acco improcedente, também por no provada — por o A. nio ter logrado provar a ocorréncia do sinistro/furto, matéria esta expressamente apreciada na fundamentacio de direito da sentenga —, com a consequente absolvigio da R. dos pedidos formulados (eff. fls. 142 ¢ segs.). Desta sentenga veio o A. interpor o presente recurso (fis. 151 segs.), apresentando as seguintes Conclusées 1. - Conclui o Tribunal a quo que “Preenchidos se mostram, pois, os pressupostos da nulidade do contrato, por via da invocada anulabilidade, tal como prevista no art. 429.” C. Comercial”, absolvendo a Ré Seguradora do pedido do A.; 2. - Salvo o devido respeito, o douto Tribunal a quo, tendo em conta a factualidade provada, a qual, como se ver adiante merece igualmente reparo, decidiu mal ao ter concluido que o A. contribuiu, ainda que involuntariamente, para uma “errada” formulagao da vontade da R. — que na realidade nao existe; 3. - No entender do A., a relagiio existente entre A. e R., formalizada pelo contrato de seguro n.” ..., no foi abordada pelo Tribunal a quo com o devido sentido, nomeadamente 0 conhecimento do A., a forma de celebragao do contrato firmado, datas em que a R. alega que teve conhecimento, tendo este Tribunal, erroneamente, desconsiderado os pontos supra indicados, (ca87143b712a268025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 2:28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa com claro ¢ evidente prejuizo para o A., cuja sentenga produzira efeitos contra si, razio do presente recurso; 4.- Entre A. e R. foi celebrado um contrato de seguro do ramo automével — motore executive, titulado pela apélice n.’ ..., relativo a um veiculo automével ligeiro de passageiros de matricula 00-AU- 00, figurando 0 tomador do seguro como proprietario do veiculo, e que esse contrato teve inicio em 9 de Abril de 2009. Das varias figuras contratadas, constava a previsio de furto ou roubo, conforme as Condigées Particulares do referido contrato e juntas a fls, 13 a 15 dos autos. (ponto A e B da matéria assente); 5.- O contrato de seguro em geral é a convengo pela qual uma seguradora se obriga, mediante retribuigao paga pelo segurado, a assumir determinado risco e, caso ele ocorra, a satisfazer, a0 segurado ou a um terceiro, uma indemnizagao pelo prejuizo ou um montante previamente estipulado. Trata-se de um negécio formal, j4 que deve ser reduzido a escrito num instrumento que constitui a apélice de seguro, conforme artigo 426.” do Cédigo Comercial, regulando-se pelas estipulagdes particulares e gerais constantes da respectiva apélice e, nas partes omissas ou insuficientes, pelo disposto no Cédigo Comercial e, na falta de previsao deste, pelo disposto no Cédigo Civil, ex vi 3.” e 427.° do Cédigo Comercial; 6. - Por sua vez, a institucionalizacao do seguro obrigatério de responsabilidade civil automével revelou-se uma medida de aleance social inquestionavel, que com o decurso do tempo, apenas impoe reforgar e aperfeigoar, procurando dar uma resposta cabal aos legitimos interesses dos lesados por acidente de viagao. Por isso mesmo, dada a relevancia social do regime do seguro obrigatério enquanto meio de protecgio directa dos lesados “nao é de estranhar que se tenha acolhido com a maxima amplitude o principio da inoponibilidade das excepgoes contratuais gerais”; 7. - Saliente-se ainda que, apesar do artigo Art.’ 428.° do Cédigo Comercial (C.Com.) falar em nulidade, do que realmente se trata é de anulabilidade, como reconhece o presente Tribunal a quo e é doutrina ¢ jurisprudéncia assentes. 8. - Assente, assim, que o vicio previsto no Art.” 429.° do C.Com. éa mera anulabilidade, e, dando de barato que, no caso concreto, 0 tomador do seguro possa ter prestado declaragdes inexactas, que pudessem ser determinantes para que a seguradora aceitasse contratar nos termos em que o fez, e mesmo que pudéssemos concluir que o contrato de seguro em lide poderia, em teoria, sofrer do vicio de anulabilidade, porém, e ao contrario do defendido pela R. e suportado pelo Tribunal a quo, tal vicio nao pode ser oposto pela seguradora aos lesados com o acidente, ou seja, ao A. 9. - £0 que resulta directa e claramente do artigo 22.” do Decreto- Lei n.° 291/2007, segundo o qual “para além das exclusdes ou anulabilidades que sejam estabelecidas no presente diploma, a seguradora apenas pode opor aos seus lesados a cessacgio do contrato nos termos do n.” I do artigo anterior, ou a sua resolugio ou nulidade, nos termos legais e regulamentares em vigor, desde (ca87143b712a268025700000343a3570penDocument&Highlight=0,informa%... 428 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa que anteriores data do sinistro”; 10. - A razao de ser do preceito hé-de encontrar-se na finalidade essencial do seguro obrigatério de responsabilidade civil automével, na sua institucionalizagio como meio eficaz de proteceao dos lesados, na socializacao do risco, que cada vez vai assumindo mais relevo. Tais razdes que justificam a consagragio do principio da inoponibilidade das excepgdes contratuais gerais, restringindo a oponibilidade as situagdes previstas na prépria lei do seguro obrigatério e 4 resolugio ou nulidade nos termos legais em vigor, desde que anteriores & data do sinistro; 11. - Assim, e no que concerne ao aqui presente, 0 que o preceito determina é que, no Ambito dos contratos de seguro que tenham por objecto a cobertura de riscos sujeitos ao regime do seguro obrigatério de responsabilidade civil automével a seguradora sé pode invocar perante os lesados (isto é, $6 pode opor-lIhes) as anulabilidades que estejam previstas na lei do seguro obrigatério (A data dos factos, no DL 291/2007 — que veio substituir o DL 522/85). Qualquer outro vicio gerador de anulabilidade do contrato, previsto noutro diploma legal ou norma juridica geral ou especial, nao pode ser aposta aos lesados; 12. - Ora, assim sendo, visto que as declaragées inexactas ou reticentes a que se refere o Art.’ 429.° do C. Com. geram a anulabilidade do contrato ¢ nio a sua NULIDADE, nao pode a seguradora prevalecer-se do vicio (anulabilidade) contra os lesados no sinistro, sendo este o sentido claro do preceito, tal como vem sendo interpretado pela jurisprudéncia maioritaria do S. 13. - De facto, nunca a R., em momento anterior ao sinistro reportado pelo A., comunicou ao A. esta sua intengao, sendo claramente um expediente para nio compensar o A. pela perda do veiculo, em conformidade com 0 contratualmente acordado ¢ previsto, e bem demonstrado na iiltima comunicasio ao Autor, a 18 de Setembro de 2009 — vide ponto D) dos Factos Assentes; 14, - Ao confirmar a tese da R., 0 Tribunal a quo esta a disposto no DL 291/2007 (em vigor 4 data dos factos), nomeadamente na aplicagio “per se” do disposto no artigo 429.° do Cédigo Comercial, quando tal aplicagao Ihe esti vedada em conformidade com o regime do seguro obrigatério de responsabilidade civil automével. Assim, 0 douto Acérdio recorrido, salvo sempre o devido e maior respeito pelos doutos fundamentos nele aduzidos, viola o disposto quer nas normas que invoca quer, ainda nas normas supra citadas; 15. - Afirma a R. que desconhecia que, A data da celebragio do contrato de seguro com o A, que o veiculo com a matricula 00-AU- 00 tivesse o valor comercial contratado, j4 que, como afirma na sua defesa, “teve conhecimento que o veiculo de matricula 00-AU-00 foi acidentado no més de Dezembro do ano de 2008 (...)”. E, se 0 soubesse, nao teria realizado o negécio com 0 A.; 16. - Se no est em causa nos autos, até porque nao se provou qualquer situag&o de facto que aponte tal conclusio, a intengao de lar 0 (ca87143b712a268025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%... 8:28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) cdo do Tibunal da Reto de Lisboa enganar a seguradora, defende o Tribunal a quo que, ainda que inyoluntariamente, “a omisséo do Autor influiu na celebragao do contrato, pois caso tivesse tido conhecimento das reais condigées do veiculo a ré nao teria celebrado aquele”; 17. - Pelo que, para todos os efeitos, a R. acusa o A. de ter proferido declaragées inexactas e ter omitido factos que, a serem conhecidos, teriam influido na existéncia ou condigées do contrato. Mas, na realidade, a R. nao concretiza de que forma é que o A. a induziu em erro, assim como, pelos documentos preenchidos pelo A. para a celebragio do referido contrato de seguro, o A. omitiu alguma informago que fosse relevante para a formagao da vontade da R. em celebrar 0 contrato; 18. - No entanto, existe uma base de dados da actividade seguradora, através da Associagao Portuguesa de Segurados (http://www.apseguradores.pt/Site/APS.jsf), chamada de SEGURNET, acessivel online mediante “password” em www.segurnet.pt — é um ficheiro que engloba, entre outros aspectos, o curriculo dos segurados em matéria de sinistros, faltas de pagamento e fraudes, e que associada 4 Base de Dados do Ficheiro Nacional de Matriculas, tém acesso os utilizadores da Seguradora a todos os elementos do contrato da propria Seguradora, bem como de outras Seguradoras desde que se conhega on.” da Apélice e Seguradora, e ainda, relativamente as matriculas cujos contratos se encontrem anulados a totalidade da informacio, incluindo a relativa A situagio do contrato a data da anulagio; 19, - Esta base nao é de acesso pubblico aos particulares, pelo que, 0 A. nunca teria acesso as informagées referentes ao veiculo 00-AU- 00, ao contrario da R. que sempre teve acesso, a todo o tempo, todo © historial do veiculo 00-AU-00, incluindo sinistros anteriores; 20.-A R., A data da celebragao do contrato de seguro tinha perfeito conhecimento do historial da viatura segura, ou seja, 0 conhecimento de que o mesmo havia sido interveniente num acidente anterior nas condigées reportadas, nao tendo esta, numa eventual omissio de verificagio do estado do veiculo pela sua parte, nio se interessado em suprir, optando por aceitar contratar ¢ emitir a apélice sem se certificar, caso tivesse diividas, do real estado do veiculo, bem como de aferir o seu valor comercial, & data da celebragao do respective contrato com o A.; 21, - Esta conclusio é reforgada pela propria testemunha da R., € plasmada na resposta a matéria de facto controvertida constante da Base Instrutéria de fls. 91 ¢ 92, onde se pode ler que “O mediador que efectuou o seguro, M..., também referiu nio ter visto © veiculo aquando da feitura do mesmo, o qual lhe foi pedido por um amigo”; 22. - Mesmo academicamente admitindo que se esteja perante uma conduta subsumivel & previsio do art. 429.° C.Com., dados os elementos ponderados pelo mediador e pelo tomador do seguro por ocasidio da claboragio da proposta, certo é que nao pode a R. (ca871431b712a268025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 628 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) cdo do Tibunal da Reto de Lisboa beneficiar da exeepgio; 23. -E certo que a lei nao supde o caracter doloso das omissécs ou reticéncias de factos com relevncia para a determinagio da probabilidade ou grau de risco, “mas pressupde que o declarante conhega os factos ou circunstancias passiveis de influirem sobre a aceitagio ou condigdes do contrato, vale dizer, que aja com negligéncia. E 0 que se encontra reflectido no § Unico do art, 429° ao especificar a consequéncia da ma fé” (vide Ac. STJ de 07/06/2011); 24, - A alegada “inexactido” das declaragdes prestadas pelo A, niio integram o vicio previsto no art. 429.° do C.Com., até porque 0 mesmo nunca o poderia fazer porque o desconhecia, ¢ é 0 préprio ‘Tribunal a quo que o refere quando, novamente na Resposta a matéria de facto controvertida constante da Base Instrutéria de fls. 91 ¢ 92, conclui ter sido “a testemunha Alexandre que vendeu 0 veiculo ao autor, que este tinha sido reparado na oficina do pai, Manuel, que o adquiriu a uma empresa de salvados. Referiram que © autor no sabia tratar-se de um salvado e que nao viu o veiculo antes de o adquirir”; 25. - No caso, a informagao que constaria ou deveria constar no processo referente a formalizagio da apélice de seguro n.” ..., relativo a um veiculo automével ligeiro de passageiros de matricula 00-AU-00, era da R., que disponha da tecnologia ¢ conhecimento, de facil acesso, que Ihe daria, de imediato, resposta a qualquer questo que colocasse entraves A celebracao do contrato ou encarecesse 0 mesmo; 26. - Nao houve, da parte do A., intengao de enganar a Seguradora, nem o comportamento deste demonstra qualquer omissio da diligéncia exigivel e merecedor de reprovagio, ao contrario da R., da qual no restam dividas que agiu, pelo menos, com desleixo ou inciria e imprevidéncia, desprezando as suas préprias regras e/ou adverténcias contratuais, e se porventura na aceitacao do contrato, nio o considerou, nao tomou as providéncias que eventualmente deveria ter tomado, emitindo a correspondente declaragao negocial, fé-1o por vontade prépria e sem qualquer contributo do AS 27. - Nesse sentido, pelo exposto, no estio preenchidos, pois, os pressupostos da invocada anulabilidade, por negligéncia ou involuntariedade, tal como prevista no art. 429.” C. Comercial, ¢ a0 contrario do decidido pelo Tribunal a quo; 28. - Daqui deflui, ao contrario do que vem sustentado na sentenga recorrida, que nao existe fundamento para a anulagio do contrato de seguro, nos termos do normativo inserto no artigo 429.° do C.Com., ja que é falso que a R. sé tenha aceitado assumir 0 risco resultante do seguro por “desconhecer” aqueles elementos patolégicos do veiculo 00-AU-00, e para os quais 0 A. nao contribuiu; 29, - Ora, nada disto foi tido em conta pelo Tribunal a quo, que decidiu de forma incompreensivel a pretensao da R. face ao pedido (ca87143{b712a268025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%... 7/28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) ‘Acérdio do Tibunal da Relaglo de Lisboa formulado pelo A., ignorando e deixando de apreciar questi que, embora reportadas nos autos, nada relevaram para a decisio final; 30. - A prontncia do Tribunal a quo sobre a matéria excepcionada pela R. na sua defesa, prejudicou o conhecimento dos restantes factos, mormente do sinistro reportado pelo A.; 31. - OA. juntou dois documentos aos autos, que fazem parte da matéria assent - que no dia 27 de Junho de 2009, em declaragées prestadas perante as autoridades espanholas, na Comissaria de ..., em Espanha, o autor disse ter 0 veiculo 00-AU-00 sido furtado nesse dia. (ponto C da matéria assente); - por mail de 18 de Setembro de 2009 a R. comunicou ao A. que haviam concluido a instrugio do processo e que estavam em assumir a responsabilidade, informando ainda, qual 0 montante do capital seguro a data da ocorréncia, tudo como melhor consta do documento junto a fls. 20 e 21 dos autos. (ponto D da matéria assente); 32. - O A. prestou todas as declaragées necessarias para a devida contratagao, pagando todos os valores exigidos e submeteu-se as condigées de contratagao pela R. — no caso em aprego, 0 seguro de danos préprios contratado, cobre os prejuizos resultantes de choque, colisao e capotamento, bem como furto ou roubo e ainda incéndio, raio ¢ explosio; 33. - Quando o sinistro ocorreu, 0 A. participou o roubo as autoridades espanholas competentes, bem como & Companhia de Seguros, ora R., tendo esta dltima, procedido a instrugao do processo de averiguagio da responsabilidade no incidente supra descrito, aplicando as suas préprias regras e metodologias, sem qualquer intervengao do A. 34, - Findo aquele processo de averiguagées, a R. concluiu que a responsabilidade deveria ser assumida pela prépria seguradora, tendo sido calculado o valor do Capital Seguro a data da ocorréncia e, consequentemente, o valor pelo qual o A. seria indemnizado, conforme contratualmente disposto, que, A data, ascendia aos € 34.204,86 (trinta ¢ quatro mil duzentos ¢ quatro euros ¢ oitenta e seis céntimos), e tendo o A. sido informado pela R. dessa situagio; 35. - Estando cumpridas todas as condigées contratualmente firmadas, nio faz qualquer tipo de sentido que a R. queira ora exculpar-se ou eximir-se de obrigagées contratualizadas, invocando desconhecimento ou eventos que alegadamente surgiram na vida do veiculo 00-AU-00 — e que sao do total desconhecimento do A — bem como agora vir dizer que o sinistro nao existiu; 36. - Por todo o exposto, urge alterar a sentenga que ora é posta em crise, no sentido de ser deferido 0 pedido nos termos requeridos pelo A., promovendo-se a condenagio na R.. Conelui, assim, por dever o presente recurso ser julgado integralmente provido, a sentenga do tribunal a quo revogada na parte recorrida e, consequentemente, a R. condenada no pedido, (ca87143{b712a268025700000343a3570penDocument&Highlight=0,informa%... 8:28 221032017 tps. dos petl.ns331821e7323 160388025861a0049) ‘Acérd8o do Tribunal da Relago de Lisboa com as demais consequéncias legais. A Apelada contra-alegou, pronunciando-se sobre as questdes suscitadas em sede de recurso, formulando as seguintes Conclusées 1. - O contrato de seguro celebrado entre Recorrente e Recorrida é nulo nos termos do disposto no artigo 280.", n.° 1 do C.C., por impossibilidade juridica do objecto seguro; 2. - Caso assim nao se entenda, o que s6 por dever de patrocinio se alega, considerada a matéria de facto provada, nfo parece vislumbrar-se qualquer reparo ao que ficou assente em fungio da prova produzida; 3. - Entende o ora Apelante que o douto Tribunal a quo decidiu mal ao ter concluido que o A. contribuiu, ainda que involuntariamente, para uma “errada” formulagio da vontade da R.; 4. - A “declarago” consiste na informagio dada sobre esses factos ou circunstancias enquanto a “reticéncia” envolve a sua omissio. Mas, nfo é qualquer declaragio inexacta ou reticente que pode tornar anulavel 0 contrato de seguro; 5.- A declaragio inexacta tem de influir na existéncia e condigdes do contrato, de forma a que o segurador nao celebra o contrato, ou celebra-o em termos diversos; 6.- Da matéria dos autos resulta que o veiculo seguro na Apelada j4 havia sido declarado perda total pela Companhia de Seguros ..., antes da celebra¢o do contrato de seguro entre aquela e 0 Apelante; 7.- A ora Apelada desconhecia tal circunstancia & data da celebracio do contrato de seguro; 8. - Ficou provado que se a Apelada conhecesse tal circunstancia nio teria celebrado o contrato de seguro; 9, - Segundo dispde o art. 429.° do C.Com. “toda a declaracio inexacta, assim como toda a reticéncia de factos ou circunstancias conhecidas pelo segurado ou por quem fez. o seguro e que teriam podido influir sobre a exist@ncia ou condigdes do contrato tornam 0 seguro nulo”; 10. - Assim, nfio merece qualquer censura a douta sentenga quando o Tribunal a quo decidiu pelo “preenchimento dos pressupostos da nulidade do contrato, por via da invocada anulabilidade, tal como prevista no art.429.° do C.Com”; 11. - A matéria objecto dos autos nao é aplicavel o Decreto-Lei n.” 291/2007, de 21 de Agosto, porque este regula o seguro obrigatério de responsabilidade civil e, in casu, encontramo-nos no Ambito de uma cobertura facultativa; 12. - O conceito de lesado consagrado no art. 22.” do Decreto-Lei n.” 291/2007, de 21 de Agosto nao inclui o conceito de tomador do seguro ou segurado, para o efeito de impedir que a seguradora oponha excepgdes A sua contraparte; 13. - Ao contrario do que pretende 0 ora Apelante, nfo pode 0 supra referido art. 22.” do Decreto-Lei 291/2007 impedir a ora Apelada de Ihe opor a excepgio de nulidade do contrato de seguro por inexactidao de declaragées, a luz do art. 429." do C.Com.; (ca87143{b712a268025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%... 928 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa 14, - Alega o Apelante que “a pronincia do Tribunal a quo sobre a matéria excepcionada pela R. na sua defesa, prejudicou 0 conhecimento dos restantes factos, mormente do sinistro reportado pelo A.”; 15. - Ora, contrariamente ao que parece entender 0 Apelante, 0 douto Tribunal a quo conheceu e apreciou criticamente a prova produzida nos autos, designadamente a prova apresentada pelo autor; 16. - Concluindo que nao logrou 0 autor provar a verificagao da cobertura accionada; 17. - Nio se verificando o sinistro, nunca a obrigagio da Seguradora, ora Apelada, se poderia constituir; 18, - De tudo o exposto se extrai, assim, nao merecer a decisiio do Tribunal a quo qualquer reparo. Pugna, assim, pela total improcedéncia do recurso interposto e manutengao da sentenga recorrida. O recurso foi admitido como de apelagio, a subir imediatamente, nos préprios autos ¢ com efeito meramente devolutivo (cfr. fls. 197), tendo entio sido ordenada a remessa dos autos a este Tribunal ad quem, Remetidos, assim, os autos a este Tribunal da Relagao, foi mantido o regime ¢ efeito fixados ao recurso. Colhidos os vistos, e nada obstando ao conhecimento do mérito do recurso, cumpre apreciar e decidir, I1— Ambito do Recurso Perante o teor das conclusées formuladas pela parte recorrente— as quais (exceptuando questdes de conhecimento oficioso nao obviado por ocorrido transito em julgado) definem o objecto e delimitam o dmbito do recurso, nos termos do disposto nos art.’s 660.°, n.° 2, 661.°, 672.", 684.°, n.° 3, 685.°-A, n.° 1, todos do Cédigo de Processo Civil (doravante CPCiv.) -, constata-se que 0 thema decidendum, incidindo sobre a decisio da matéria de direito, consiste em saber, no essencial: 1.- se ocorre nulidade da sentenga; 2. - se foi devidamente impugnada a decisio de facto; 3. - se ocorre a invocada causa de invalidade do contrato de seguro; 4, - se deve a aceao improceder por falta de prova do sini III - Fundamentagio A) Matéria de facto Na 1." instncia foi considerada a seguinte factualidade como provada: 1, - Entre Carlos e “L - Companhia de Seguros, S. A.” foi celebrado um contrato de seguro do ramo automével — motore executive, titulado pela apélice n.’..., relativo a um veiculo automével ligeiro de passageiros de matricula 00-AU-00, figurando 0 tomador do seguro como proprietario do veiculo; 2. - O contrato teve inicio em 09 de Abril de 2009 ¢ entre as (ca87143b712a268025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 10:28 221032017 tps. dos petl.ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa coberturas contratadas figura a de furto ou roubo, conforme Condigées Particulares juntas a fls. 13 a 15 dos autos; 3.- No dia 27 de Junho de 2009, em declaragies prestadas perante as autoridades espanholas — Comisaria de ... — 0 A. disse ter aquele veiculo sido furtado nesse dia; 4. - Por mail de 18 de Setembro de 2009 a R. comunicou ao autor que haviam concluido a instrugao do processo ¢ que estavam em assumir a responsabilidade, informando ainda, qual 0 montante do capital seguro A data da ocorréncia, tudo como melhor consta do documento junto a fls. 20 e 21 dos autos; 5.- O A. requereu perante os Juizos Civeis de Lisboa a notificasao judicial avulsa da R., a qual veio a ser realizada no dia 04 de Fevereiro de 2010, pela Sra. Solicitadora de Execugao na pessoa de Teresa, responsavel pelo departamento de contencioso da R.; 6. - Para realizagio do acto despendeu o autor a quantia de 71,00 euros; 7.- AR. teve conhecimento de que o veiculo aludido foi acidentado em Dezembro de 2008; 8. - Quando era seu proprietario José, que o havia segurado na Companhia de Seguros 9, - Na peritagem e avaliagao dos danos sofridos no acidente referido em 7, - supra, a ent&o seguradora do veiculo considerou perda total, face aos danos decorrentes do sinistro; 10. - O entao proprietario do vefculo foi indemnizado pela sua seguradora, ao abrigo da cobertura danos préprios, ficando na posse dos respectivos salvados; 11. - Caso a R. tivesse tido conhecimento da situagao referida em 7.-, 9.- € 10.- supra, nao teria celebrado 0 contrato de seguro referido em 1.-. B) O Direito 1. —Da nulidade da sentenga O Apelante defende, a propésito da matéria de invalidade do contrato de seguro, que o Tribunal a quo “decidiu de forma incompreensivel & pretensio da Ré face ao pedido formulado pelo A, ignorando e deixando de apreciar questo que, embora reportadas aos autos, nada relevaram para a decisio final”, donde que, tendo-se deixado “de apreciar questo fulcral, e que influi directamente na decisio da causa”, configurada esteja a nulidade a que alude o art.” 668." do Codigo de Processo Civil (doravante CPCiv.), por omissio de proniincia (cfr. fls. 163 e 170). Ora, no se v@ a que propésito se invoca a nulidade da sentenga com fundamento na al. d) do art.’ 668.° do CPCiv., decorrente de omiss&o de pronuncia sobre questdes que o juiz devesse apreciar. Vem sendo entendimento pacifico da doutrina e da jurisprudéncia 0 de que tio-s6 as questies em sentido técnico, ou seja, os assuntos que integram o “thema decidendum”, ou que dele se afastam, constituem verdadeiras questdes de que o tribunal tem 0 dever de conhecer para decisio da causa ou o dever de nao conhecer, sob pena de incorrer na nulidade prevista nesse preceito legal. (ca87143(b712a268025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%... 11/28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) ‘Acérdio do Tibunal da Relaglo de Lisboa De acordo com Amancio Ferreira, in “Manual dos Recursos em Processo Civil”, 9." Edigdo, pag. 57, “trata-se de nulidade mais invocada nos tribunais, originada na confusao que se estabelece com frequéncia entre questées a apreciar e razées ou argumentos aduzidos no decurso da demanda”. E, segundo Alberto dos Reis, in “Cédigo de Processo Civil, Anotado”, vol. V, pag. 143, “sio na verdade coisas diferentes: deixar de conhecer de questi de que devia conhecer-se e deixar de apreciar qualquer consideragio, argumento ou razio produzida pela parte. Quando as partes poem ao tribunal determinada questo, socorrem-se a cada passo, de varias razées ou fundamentos para fazer valer 0 scu ponto de vista; o que importa é que o tribunal decida a questio posta; nao Ihe incumbe apreciar todos os fundamentos ou razées em que elas se apoiam para sustentar a sua pretensio”. Ja Luis Correia de Mendonga e Henrique Antunes, in “Dos Recursos”, Quid Juris, pag. 117, referem que “a observacio da realidade judicidria mostra que é vulgar a arguigao da nulidade da decisio”, sendo que “por vezes se torna dificil distinguir o error in judicando —o erro na apreciacio da matéria de facto ou na determinagio e interpretagao da norma juridica aplicavel —e 0 error in procedendo, como é aquele que esta na origem da de Ora, no caso dos autos 0 Apelante nio esclarece qual a questo, no sentido supra referido, que o Tribunal a quo devia ter conhecido e no conheceu, sendo certo que invoca tal nulidade da sentenga a propésito do decidido quanto a matéria de excepgao de invalidade do contrato de seguro. Porém, como facilmente se constata, no caso concreto foram apreciadas as questdes que importava apreciar, mormente a questao aludida da invalidade do contrato de seguro, tendo 0 Tribunal a quo deixado clara qual a factualidade que considerou provada — toda ela elencada na sentenga — e qual o percurso logico decisério que o levou a julgar procedente a excepeao de invalidade do contrato de seguro. Assim, ficou claro qual 0 conjunto factico convecado e, do mesmo modo, qual o regime juridico aplicado, tudo por forma a chegar-se, como se chegou, & conclusao de que a invalidade esta verificada nestes autos. A questo que importava decidir — trata-se de matéria de excepgao oportunamente apresentada pela R., tendente a improcedéncia da acgaio —, qual seja a da invalidade do contrato celebrado entre as partes, ficou expressamente decidida, donde que no ocorra a invocada omiss4o de pronuncia, muito embora o Tribunal a quo possa nao ter tomado explicita posigao (ao que, como dito, nao estava obrigado) sobre todo 0 conjunto de argumentos aduzidos no Ambito daquela excepeao. Sobre a questio suscitada — excepgiio da invalidade do contrato —, porém, o Tribunal recorrido pronunciou-se ¢ decidiu fundamentadamente. (ca87143(b712a268025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 12:28 221032017 tps. dos petl.ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa Se decidiu bem ou nio, tal ja no se prende com a questo da nulidade da sentenga, mas com 0 mérito do decidido, devendo ser objecto, por isso, no de arguigao de nulidade da sentenga, mas de recurso contra o sentido da decisio. Improcedem, pois, nesta parte as conclusdes do Apelante. 2. —Da nao impugnagio da decisio da matéria factica O Apelante comega por referir que a factualidade provada merece (igualmente) reparo, aludindo que tal “se verd adiante”, expressando, neste Ambito, que o Tribunal a quo «decidiu mal ao ter concluido que o Autor contribuiu (...) para uma “errada” formulagao da vontade da Ré — que na realidade niio existiu — 0 que de seguida se ira comprovar» (efr. I-, ponto 5.-, da sua alegagao de recurso). Porém, compulsadas as suas alegacao e conclusdes de recurso, constata-se que o Apelante nfo refere qual a factualidade que — concretamente ~ na sua éptica, tendo sido julgada provada, deveria ter sido julgada nao provada e qual a que, ao invés, tendo sido julgada nao provada, deveria ter sido julgada provada, Nem refere quais os elementos de prova que — concretamente — impunham uma decisio diversa da adoptada. Assim, o Apelante ficou-se por uma vaga alusio a um pretenso erro na apreciagao da matéria factica controvertida, sem nada esclarecer ou coneretizar nas conclusées de recurso, nio procedendo, por isso, a uma delimitagio minima do Ambito da eventual impugnagiio da decisio de facto. Ora, & liquido que o DLei n.” 303/207, de 24-08, vindo revogar 0 art.’ 690.°-A do CPCiv., aditou um novo art.’ 685.°-B ao mesmo CPCiv., actualmente em vigor e aplicavel ao caso dos autos, estabelecendo que: «1 - Quando se impugne a decisio proferida sobre a matéria de facto, deve 0 recorrente obrigatoriamente especificar, sob pena de a) Os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados; b) Os concretos meios probatérios, constantes do processo ou de registo ou gravacao nele realizada, que impunham deciséo sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da recorrida. «2 - No caso previsto na alinea b) do nimero anterior, quando os meios probatérios invocados como fundamento do erro na apreciagao das provas tenham sido gravados e seja possivel a identificagao precisa e separada dos depoimentos, nos termos do disposto no n.° 2 do artigo 522.°-C, incumbe ao recorrente, sob pena de imediata rejei¢do do recurso no que se refere A impugnagao da matéria de facto, indicar com exactidao as passagens da gravacdo em que se funda, sem prejuizo da possibilidade de, por sua iniciativa, proceder 3 respectiva transericio. «3 - Na hipétese prevista no nimero anterior, incumbe ao recorrido, sem prejuizo dos poderes de investigacio oficiosa do (ca87 14367 12a268025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 13:28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa tribunal, proceder, na contra-alegagao que apresente, A indicagio dos depoimentos gravados que infirmem as conclusdes do recorrente, podendo, por sua iniciativa, proceder & respectiva transcrigio. «4~ Quando a gravagio da audiéncia for efectuada através de meio que nao permita a identificagao precisa e separada dos depoimentos, as partes devem proceder As transcrigdes previstas nos nimeros anteriores. «5 - O disposto nos n.’s 1 2 é aplicdvel ao caso de o recorrido pretender alargar o Ambito do recurso, nos termos do n.° 2 do artigo 684.'-A» (sic. com itélico aditado). Visto, resumidamente, este regime actualmente vigente, afigura-se que o poder de cognicao da Relagao sobre a matéria de facto, pela via de recurso, nio implicaré um novo julgamento de facto (integral), encontrando-se a possibilidade de conhecimento limitada aos pontos de facto que o recorrente considere incorrectamente julgados (cfr. actualmente, art. 685.°-B, n.’s 1 e 2, do CPCiy.) e, para tanto, por si identificados/delimitados. Acresce que tal poder de cogni¢ao da Relagao, tendo por base a gravacio (ou transcrigo) dos depoimentos prestados em audiéncia, nio deve ver-se como podendo contender com a liberdade de julgamento a que se reporta o principio da livre apreciagio das provas pelo julgador (Tribunal de 1.* instancia), ancorado na imediagio e oralidade (cfr. art.’ 655.°, n.° 1, do CPCiv.). Neste mbito, no se olvida que no processo de formagao da convic¢ao do julgador tém lugar, para além de elementos racionalmente demonstraveis, outros factores, também potencialmente decisivos para formagio da convicgdo, mormente no Ambito da prova testemunhal, que no podem ser abarcados pela gravacio dos depoimentos (audio ou mesmo video), visto “a valoragio de um depoimento ser algo absolutamente imperceptivel na gravagio ou transcri¢io”, donde que, «contrariamente ao que sucede no sistema da prova legal, em que a conclusao probatéria é prefixada legalmente, no sistema da livre apreciagao da prova, 0 julgador detém a liberdade de formar a sua convicgao sobre os factos, objecto do julgamento, com base apenas no juizo que fundamenta no mérito objectivamente concreto do caso, na sua individualidade hist6rica, adquirido representativamente no proceso» ({1]). O que, actuando o principio da livre conviccao/apreciagao das provas, o julgador nao poder, desde logo, deixar escapar é a necessaria fundamentagao da sua convicgio, deixando, para tanto, explicitados nos autos, de forma transparente, os fundamentos suficientes que permitam o subsequente controlo da razoabilidade da sua decisio quanto A matéria de facto (como provada ou nio provada). Assim, nio pode o julgador deixar de proceder & andlise critica das provas, especificando os fundamentos que foram decisivos para a ‘formaséo da sua conviccao (art.’ 653.°, n.° 2, do CPCiv.), para o que (ca87143b712aa68025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 14/28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa nao bastard o simples elencar das provas consideradas, antes se impondo que se deixe transparecer 0 fio condutor entre a decisio adoptada e os meios de prova que fundaram a aquisi¢io da respectiva conviesio, 20 menos com o indicar dos aspectos essenciais da respectiva apreciagio critica, seja quanto aos factos considerados provados, seja quanto aos nao provados. Tal pode implicar o ter de deixar explicitado por que motivo se deu mais credibilidade a uns depoimentos ¢ nao a outros, designadamente no computo da prova testemunhal produzida, ou se achou convincente, ou nao, a prova resultante de documentos particulares juntos aos autos. JA foi defendido pela nossa jurisprudéncia que, assim perspectivadas as coisas, se a decisio de facto da 1.* instancia, devidamente fundamentada, for uma das solugées plausiveis, segundo as regras da légica e da experiéncia, ela se apresenta como inatacavel, visto ser proferida em obediéncia A lei que impde 0 julgamento segundo a livre convicsio ({2)). Assim se defendeu que “o controle da Relagao sobre a convicgio alcancada pelo tribunal da 1.* instancia deve restringir-se aos casos de flagrante desconformidade entre os elementos de prova ea decisio, sendo certo que a prova testemunhal é, notoriamente, m: falivel do que qualquer outra, e na avaliagio da respectiva credibilidade tem que reconhecer-se que o tribunal a quo, pelas razées jA enunciadas, est4 em melhor posig’0” ({3]), apenas em tais casos de “flagrante desconformidade” devendo entender-se que ocorre erro de julgamento a dever ser reparado pela Relagao. O recorrente quanto A decisio da matéria de facto teria entao de demonstrar, através dos concretos meios de prova produzidos, que existiu um erro na apreciagao do seu valor probatério, o qual inquinou a decisio proferida, pois que o pendor das provas impunha decisio em sentido diverso, competindo ao Tribunal da Relacao, por seu turno, nao formar uma nova conviceao (no que estaria impedido), mas verificar se a convicgao expressa pelo julgador em 1." instancia tem, ou nao, suporte razodvel naquilo que a gravagio da prova (com os demais elementos existentes nos autos) pode apresentar ([4]). ‘Tratar-se-ia, pois, aqui de um problema de aferi¢o da razoabilidade — A luz das regras da ciéncia, da légica e da experigncia comum — da convieg4o probatéria do julgador recorrido, por forma a concluir que, na reapreciagao da matéria de facto, A Relagdo apenas caberia um papel residual, limitado ao controle ¢ eventual censura dos casos mais flagrantes (situagdes excepcionais ou clamorosas de manifesto erro na apreciacio da prova), designadamente quando o teor de algum ou alguns dos depoimentos prestados no tribunal a quo lhe foram indevidamente indiferentes, ou, diversamente, eram de todo inidéneos ou ineficientes para suportar a decisao a que se chegou ({5]). Porém, o STJ vem adoptando nesta matéria uma posigio algo diversa e mais exigente. (ca87143{b712a2868025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 18°28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa Assim é que em recente Ac. do STJ, de 28-02-2012, foi expendido: “o legislador ao dizer, no art.” 712.°, n.° 2, do Céd. de Proc. que a Relacio «reaprecia as provas», acrescentando que na reapreciacio se poder atender a «quaisquer outros elementos probatérios que hajam servido de fundamento A decisao», pretendeu que o Tribunal de 2.” instAncia faca, ainda que restrito aos pontos questionados, o seu julgamento dessa matéria de facto, com emissao da sua prépria conviegao, que pode coincidir ou nko com a da 1." instAncia, assim, se assegurando o duplo grau de jurisdigao em relagdo A matéria de facto, Repudia-se, pois, por redundar na negacao do duplo grau de jurisdi¢ao legalmente instituido, a posig&o segundo a qual a actividade da Relagio «devera circunscrever-se a um mero controlo formal da motivacio efectuada em 1.* instincia, procedendo a detec¢iio e correceao de pontuais e excepcionais erros de julgamento» ou que a «apreciagio do tribunal de 2.* instdncia deve circunscrever-se ao apuramento da razoabilidade da conviccio probatéria do primeiro grau dessa mesma jurisdigao, face aos elementos que Ihe so apresentados e, a partir deles, procurar saber se a conviccao expressa pelo tribunal de 1." instancia tem suporte razoavel naquilo que a prova testemunhal e outros elementos objectivos neles constantes pode exibir perante six” ({6]). Por sua vez, em Ac, do STJ de 24/05/2012, foi afirmado que “nao oferece presentemente qualquer duivida que a Relagio, ao apreciar 0s invocados erros de julgamento sobre os pontos da matéria de facto questionados pelo recorrente, esta efectivamente vinculada a realizar uma reapreciagao substancial da matéria do recurso de apelagao, sindicando adequadamente, através de audigio do registo ou gravacio da audiéncia que necessariamente acompanha 0 recurso, a convicgao formada pelo tribunal de 1.” instancia e formando sobre tais pontos de facto impugnados a sua prépria convic¢io, que pode ou nio ser coincidente com a do juiz a quo”, sendo, pois, manifestamente inconcilidvel “com a efectividade do duplo grau de jurisdigo quanto 4 matéria de facto, vigente no nosso sistema juridico desde 1994 (...), uma andlise das provas realizada em plano puramente abstracto, com mero apelo a critérios de desrazoabilidade ostensiva ou de flagrante desconformidade com os elementos probatérios documentados nos autos, desfocada de uma apreciagao critica, feita perante a especificidade do caso concreto e com decisivo apelo ao conteiido casuistico dos varios meios de prova efectivamente produzidos em audiéncia”. E acrescenta que isto “nao significa obviamente que deva ter lugar na Relagio uma repetic&o ou renovacéo dos meios probatérios produzidos na 1.* instancia, através de um novo julgamento do caso quanto aos pontos da matéria de facto questionados: 0 nosso sistema de recursos continua a assentar decisivamente na reponderacéo da decisao recorrida, nao sendo, em principi destinados a criar matéria nova ou a realizar novas diligéncias probatérias (...)— mas tao somente a verificar se 0 juiz a quo julgou (ca871431b712aa68025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%... 16°28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) ‘Acérdio do Tibunal da Relaglo de Lisboa ou ndo adequadamente a matéria litigiosa, face aos elementos a que teve efectivamente acesso ¢ de que podia ¢ devia conhecer” ({Z]). Nao deixa, porém, este aresto de salientar que 0 exercicio do duplo grau de jurisdigo quanto & matéria de facto envolve efectivamente a dificuldade decorrente de a Relagdo nao ter acesso directo e imediato & prova produzida oralmente, apenas dispondo do respectivo registo ou gravagao. E ja em Ac. do mesmo STJ de 24/01/2012 se chamava a atengao para esta dificuldade, ao referir que, “sem embargo de saber se a Relacao, na reapreciacao da matéria de facto, deve prosseguir em busca de uma nova convicedo probatéria, ou apenas controlar 0 julgamento da 1.* instncia, visando corrigir erros de valoragao, 0 certo é que, uma vez que apenas é chamada a reapreciar pontos concretos da matéria de facto, por regra, com base em certos depoimentos que sio indicados pelo recorrente e pelo recorrido, nao almejar4 uma conviceao probatoria plena, porque nio fundada na totalidade da prova produzida no Tribunal recorrido”. Assim, «o vigente sistema de julgamento da matéria de facto pelas Relagées nio se compagina com a regra fuleral do art.’ 515." do Codigo de Processo Civil — “principio da aquisigao processual das provas” — segundo o qual o Tribunal para formar a sua convicgio acerea da prova “deve tomar em consideragao todas as provas produzidas, tenham ou néo emanado da parte que devia produzi-las, sem prejuizo das disposigdes que declarem irrelevante a alegagao de um facto, quando ndo seja feita por certo interessado. A convicgio probatéria nio ser cabalmente conseguida se a Relagio apenas apreciar parte da prova — os concretos pontos considerados mal julgados, ja que a convicgao é um processo intuitivo que assenta na totalidade da prova, implicando a valoragao de todo 0 acervo probatério que 0 Juiz da comarca ou 0 Colectivo teve ao seu dispor” ({8]). Assim, parece unanime a percepgao de que, em sede de impugnagao da decisio da matéria de facto, cabe ao Tribunal de recurso verificar se 0 juiz a quo julgou ou nao adequadamente a matéria litigiosa, face aos elementos a que teve acesso, tratando-se, assim, da verificagao quanto a um eventual erro de julgamento na apreciagao/valoragao das provas, aferindo-se da adequacao, ou nao, desse julgamento. Para tanto, se o Tribunal de 2." instancia é chamado a fazer o seu julgamento dessa matéria de facto, o mesmo é comummente restrito a pontos concretos questionados — os objecto de recurso -, procedendo-se a reapreciagao com base em certos depoimentos indicados por recorrente e recorrido, nao se aleangande uma conviceao probatéria plena, por nao fundada na totalidade da prova produzida no Tribunal recorrido, sem esquecer, ademais, a limitagao resultante de ndo se ter acesso directo e imediato a prova produzida oralmente, apenas se dispondo do respectivo registo ou gravag Ante este quadro referencial, notério se torna que o ora Apelante nao observou os 6nus, a seu cargo, estabelecidos pelo dito art.” (ca87143{b712aa68025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 17/28 221032017 psi. dos petl.ns331821e7323 16038802586100049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa 685.°-B, do CPCiy., nao delimitando sequer o Ambito da impugnasao da matéria de facto ¢ omitindo a necessdria alusio aos concretos meios de prova em se baseasse ({9]), 0 que logo determina a improcedéncia da sua eventual pretensio de impugnagio da decisio de facto ({10)). Improcedem, por isso, nesta parte as conclusdes do Apelante, havendo, assim, de considerar-se, nesta perspectiva, definitivamente fixada a factualidade elencada na sentenga recorrida. 3. — Do nus da alegacao e da prova Pretende o A./Apelante indemnizacio pelas forgas do seguro contra danos préprios (furto) no Ambito de contrato de seguro automével (por si) celebrado com a R./Apelada, tratando-se, pois, no de invocados danos na esfera do seguro obrigatério automével (que visa a reparagio de danos a terceiros vitimas da sinistralidade automével em matéria de acidentes de viagiio, e sé estes), mas no estrito Ambito do — co-existente — seguro facultativo automével (danos préprios). Tratando-se, assim, de acgAo indemnizatéria, destinada & reparagio de um dano contratualmente seguro (no caso a perda do veiculo, bem mével com o inerente valor econémico, por ter sido objecto de furto e nio ter sido recuperado), é patente que ao A /Apelante competia, na economia desta accao, alegar e provar um conjunto de factos geradores desse dever de indemnizar, traduzidos, designadamente, no facto/sinistro (furto do vefculo), no valor da cobertura do bem (pelo qual se mede 0 quantum indemnizatério, dentro das forgas/capital do seguro), no nexo de causalidade e na operncia da respectiva cobertura, decorrente esta do contrato de seguro celebrado, pois que se trata aqui de elementos constitutivos do direito pretendido — efr. art.” 342.°, n.° 1, do CCiv., ¢ art.’s 123.° e segs., mormente 128.°, estes do Regime Juridico do Contrato de Seguro (doravante RJCS), aprovado pelo DLei n.° 72/2008, de 16-04. J4 A contraparte (a R./Apelada), que se defendeu por via de impugnagao — pondo em causa a existéncia do sinistro, nao accitando a sua ocorréncia — ¢ de excepeao, invocando, enquanto seguradora do veiculo, nesta ultima sede a invalidade do contrato de seguro, por forma a evitar reparar 0 A./segurado, cabia o énus de alegar e provar a factualidade necessaria a demonstrar a dita invalidade do contrato (art.’ 342.°, n.° 2, do CCiv.). Ora, constata-se que — salvo o devido respeito — ocorreu alguma confusio nos autos quanto A determinagao das normas juridicas a aplicar in casu no que concerne, designadamente, a excepcionada inv: lade do contrato de seguro celebrado, na sua vertente de seguro contra danos préprios (a que aqui est em causa). Com efeito, é perante o tempo da negociagio ¢ celebragio do contrato que tera de aferir-se do regime legal que o disciplina, designadamente quanto As suas fases pré-contratual e contratual (cfr. art.’s 7.” ¢ 12.", ambos do CCiv.). (ca87143b712aa68025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%... 1828 221032017 Acério do Tibunal da Relago de Lisboa Ora, é incontroverso que 0 contrato de seguro dos autos teve i em 09/04/2009, altura em que o Apelante, tomador do seguro ¢ segurado, ja era o proprictario do veiculo, por o ter adquirido ao seu anterior proprietari Certo é também que o veiculo havia sofrido acidente de viago em Dezembro de 2008, quando era pertenca de José, tendo sido considerado perda total face aos danos sofridos, razao pela qual aquele entio proprietario, para além de indemnizado por seguradora ao abrigo da cobertura de danos préprios, ficou na posse dos respectivos salvados. Tal permitiu, ainda assim, que o veiculo fosse reparado e depois vendido ao A., na sequéncia do que este contratou com a R. 0 seguro aqui em causa, com inicio na aludida data de 09/04/2009. Ora, 0 dito RJCS, aprovado pelo DLei n.’ 72/2008, ja entdo havia entrado em vigor, o que ocorreu em 01 de Janeiro de 2009 (cfr. art.” 7.° deste DLei). Por isso, é aquele RJCS o aplicdvel ao caso dos autos (cfr. art.” 2.°, n.° 1, do mesmo DLei n.° 72/2008). Como é consabido, 0 art.’ 6.”, n.° 2, al. a), do mesmo DLei n.” 72/2008, veio revogar os art.’s 425.” a 462." do Cédigo Comercial (doravante CCom.), entre eles, pois, o preceito do art.’ 429." do CCom., invocado nos autos pelas partes ¢ aplicado na sentenga recorrida como fundamento da acolhida invalidade do contrato de seguro, Assim, aplicam-se ao caso dos autos as normas daquele RJCS, ¢ niio 0 (convocado) art.’ 429.° do CCom., entio j4 revogado, que nio pode, por isso, contribuir para a solugio juridica do pleito. Diga-se ainda, quanto A lei aplicavel, que o actual regime legal do (contrato de) seguro obrigatério de responsabilidade civil automével foi, por sua vez, aprovado pelo DLei n.° 291/2007, de 21- 08, com entrada em vigor em 21 de Outubro de 2007 e, assim, tomando o lugar do anterior DLei n.’ 522/85, de 31-12. Porém, o Regime do Sistema do Seguro Obrigatério de Responsabilidade Civil Automével, aprovado pelo DLei n.° 291/2007, nao & aplicdivel ao caso dos autos, pois o que esté em causa in casu & uma cobertura facultativa do seguro automével enquanto seguro de danos — contra danos préprios, por furto (0 que logo a afasta dos seguros de responsabilidade civil, previstos no art.’ 137." do RJCS) -, e no o seguro obrigatério automével — este atinente & responsabilidade civil por danos causados a terceiros em consequéncia de acidentes de viagio (cfr. art.’s 4.°, 6.°, 11." ¢ 12.", todos daquele Regime aprovado pelo DLei n.’ 291/2007) -, donde que se nao coloque aqui qualquer questo atinente & aplicago do mesmo Regime do Sistema do Seguro Obrigatério de Responsabilidade Civil Automével, designadamente do seu art.” 22." (convocado pelo Apelante), atinente & “oponibilidade de excepgdes aos lesados”, preceito apenas aplicavel no Ambito do seguro obrigatério automével. Conclui-se, pois, por nao serem aplicaveis ao presente caso as normas do dito Regime aprovado pelo DL n.° 291/2007, assim hpi dos peitt.ns 49 1821¢7323 160308025851a00497eoc!cas7 143107 1ba346802572000024383620penDocument&Highight=D,nformais... 19128 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa improcedendo as conclusées do Apelante em contriirio, mormente as consequéncias que pretendia extrair da aplicabilidade do mencionado art.’ 22.°. 3.1. - Quanto a excepcionada invalidade do contrato de seguro A declaragio inicial do risco, a cargo do tomador do seguro, na fase pré-contratual tendente a celebragao do contrato de seguro em geral, esta hoje —e ja em Abril de 2009 — regulada no art.’ 24.° do RJCS, prescrevendo os seguintes art.’s 25.° e 26.°, respectivamente, quanto a omissées ou inexactidées dolosas ou negligentes, nesse Ambito, daquele tomador do seguro. O principio da boa fé revela determinadas exigéncias objectivas de comportamento impostas pela ordem juridica, exigéncias essas de razoabilidade, probidade e equilibrio de conduta, num campo normativo onde operam sub-principios, regras e ditames ou limites objectivos, indicando um certo modo de actuagao dos sujeitos, considerado conforme a boa fé, que pode o préprio legislador plasmar nos preceitos da lei positiva. Um exemplo deste tipo de concretizagio da boa fé por via legi lativa é constituido pelas normas do RJCS atinentes a fase pi contratual, tratando-se dos art.’s 18.° a 23.°, quanto aos deveres do segurador, e dos art.’s 24.° a 26.°, quanto aos deveres do (futuro) tomador do seguro ou segurado, deveres estes, de protecgao, de lealdade e informagio, de cujo encadeamento decorre que sio estabelecidos com base no principio da boa fé, estando pressupostas exigéncias de transparéncia e de justiga contratual, bem como de proteceio da confianga das partes, ou uma linha de rumo baseada na dita regra de conduta a fixar padrées ou critérios de razoabilidade, probidade e equilibrio de actuagao, no sentido do comportamento correcto, leal e honesto, a dever ser adoptado pelas partes, no Aambito das suas negociagées, em termos de reciprocidade, o que é tanto mais expressive quanto é certo que tal complexo de deveres reefprocos é imposto numa fase em que nem sequer ha contrato algum. Ora, nao existindo ainda um vinculo contratual — pode das negociagées nem resultar qualquer contrato -, torna-se notério que aqueles deveres legais pré-contratuais reciprocos assentam no principio da boa fé, o qual Ihes confere a necessaria legitimago € sustentagio. E, em alguma assimetria com o tradicional enfatizar da declaragao inicial do risco como o aspecto caracterizador do contrato de seguro como uberrima fides, o legislador comecgou mesmo, eloquentemente, pelos deveres do segurador, s6 depois passando aos da contraparte na negociagao — note-se que o proprio dever de declaracio inicial do risco surge enquadrado num prévio dever do segurador de esclarecimento acerca do conteido daquele dever do tomador e regime do seu incumprimento (cfr. art.° 24.°, n.° 4, do RJCS). Tal prioridade aos deveres de informagao e esclarecimento pré- contratuais do segurador visa a proteccio da parte considerada (ca87143%b712a268025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%... 20:28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa débil, no intuito de conferir 0 equilibrio minimo imprescindivel a uma adequada relacao negocial, & partida desigual, por forma a que resultem criadas as condigdes negociais que permitam uma justa composisao, em moldes substanciais, dos interesses das partes, em caso de celebracao do contrato, nao s6, pois, em termos de consciente e esclarecida celebragao do mesmo (exigéncias de transparéncia no relacionamento negocial), como ainda de permitir alcangar o fim contratual visado por ambas as partes. No caso dos autos, no sendo invocado qualquer incumprimento dos deveres pré-contratuais do segurador, nada ha a conhecer nessa matéria, pressupondo-se tais deveres como observados. A questo coloca-se quanto aos deveres pré-contratuais do tomador do seguro e segurado (0 Apelante), os quais se centram no art.’ 24.” do RJCS, que estabelece um exaustivo dever de informacao para com 0 segurador, concernente & declaragio inicial do risco, cujo incumprimento est sujeito, consoante a gravidade dos casos, As consequéncias previstas nos art.’s 25.° (inadimplemento doloso) e 26." (inadimplemento negligente) do mesmo RJCS Ocorre aqui um dever pré-contratual de apresentagéo da informacao relevante, o de dar a conhecer, prestando as necessarias informagies, ao segurador todos os factos relevantes para a sua delimitagao e apreciagao do risco —a lei alude a declarar, com exactidio, “todas as circunstancias que conheca e razoavelmente deva ter por significativas para a apreciagio do risco” (art.° 24.°, n.” 1, do RJCS, com itilico aditado). Assim, a conduta do obrigado a declaragao informativa ([11]) esta sujeita a diversos pardimetros, num encadeamento de deveres de completude, de verdade e de razoabilidade e proporcionalidade, do que o préprio segurador (um especialista) deve, por sua vez, prestar esclarecimento prévio ao tomador do seguro ou segurado (tipicamente um nao especialista) — quanto ao Ambito, conteiido e regime de incumprimento do dever de declaragio inicial do risco (art. 24.°, n.” 4, do RICS) -, sendo, pois, A luz dessa elucidagao ou explicago do segurador, obrigado ao dever de esclarecimento, que a contraparte deve aferir dos limites concretos da sua propria obrigacio, logicamente posterior, de informagio, sem perder de vista, por outro lado, o questiondrio facultado para o efeito por tal segurador, o qual tem de reputar-se peca importante nesta matéria. Quanto ao dever de completude, dispde a lei que devem ser declaradas ao segurador todas as circunstancias conhecidas do tomador do seguro declarante que devam (por este) ser tidas por significativas para a delimitagio e apreciagao do risco, tenham ou nio mengio no questionario, de si nao obrigatério, fornecido para 0 efeito pelo segurador (n.’s 1 e 2 do dito art.” 24.°). Podera, pois, perante a situagao concreta a motivar a celebracao do seguro, haver circunstancias pessoais ou conhecidas do tomador ou segurado que, pela sua patente importancia, embora nao mencionadas no questiondrio — designadamente, ante a sua particularidade ou raridade -, este deva justificadamente reputar (ca87143{b712a268025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 2128 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa de relevantes para a contraparte na negociagio, por significativas para determinagio do risco, caso em que devera declaré-las ao segurador. Se 0 nao fizer, incorre em omissio de informa relevante, passivel de consubstanciar incumprimento do dever de informagao legalmente imposto. Mas a questo que deve colocar-se é a de determinar se o dever de declaragio cabal incide apenas sobre as circunstancias que sejam conhecidas do tomador (ou do segurado) ou se abrange as desconhecidas mas que 0 mesmo razoavelmente deva conhecer. Em causa est a aplicagio do disposto no art.” 26.° do RJCS apenas quanto a circunstancias conhecidas do declarante ou também aos casos de desconhecimento culposo dessas circunstancias. Havia divergéncias na doutrina quanto a este aspecto A luz do art.” 429.° do CCom., com Moitinho de Almeida a defender que este preceito exige que se trate de cireunstdncias conhecidas, nao podendo as circunstancias desconhecidas por negligéncia levar 4 invalidade do contrato ({12]), e José Vasques a defender 0 contrario (13). Ora, reportando-se tal art.° 429.° aos “factos ou circunstancias conhecidos pelo segurado” — enquanto o art. 24.°, n.° 1, do RJCS, se refere a “todas as circunstincias que conheca” —, parece-nos que a razio estava do lado de Moitinho de Almeida, sendo 0 art.’ 429.° do CCom. explicito em considerar que apenas eram relevantes as circunstancias conhecidas do declarante ({14]) e, dentre essas, apenas as que pudessem influir sobre a existéncia e condigdes do contrato ({15]) ({16]). E no mesmo sentido parece apontar o art. 24.°, n.° 1, do RJCS. Com efeito, conhecendo o legislador — que tem de presumir- informado, razoavel e com adequada capacidade de expressio (art. 9.°, n° 3, do Civ.) — a divergéncia anterior sobre o tema ({17]) € intervindo de forma sistematizada em tal matéria, facil Ihe seria, se 0 quisesse fazer, proceder a uma inflexao no sentido de consagrar a relevancia das omissées ou inexactiddes quanto a circunstancias objecto de desconhecimento culposo do declarante. Porém, nao o fez, antes dando sinais no sentido contrario: utilizando-se no texto legal o elemento gramatical de ligacio “e”, em vez de “ou”, 0 que se retira é que o conhecimento das circunstancias ¢ o seu cardcter significativo para a delimitagio do risco sio elementos cumulativos. Se a solugao legal fosse no sentido da consagracao da relevancia de omissdes ou inexactidées mesmo quanto a factos nao conhecidos do declarante, entio a redacsio do preceito teria de deixar expresso que a hipétese normativa se referia a circunstdncias que o declarante conhega ou razoavelmente deva ter por significativas, nestas diltimas se podendo incluir as desconhecidas de forma culposa — ainda assim a norma ficaria desequilibrada, pois que passaria a impor a declaracao de todas as circunstincias conhecidas, mesmo as sem relevo, 0 que seria incoerente e sem fundamento justificativo. Como, porém, o legislador se reportou a circunstancias que 0 (ca87143b712a2268025700000343a35?O0penDocument&Highlight=0,informa%... 22/28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa declarante conhega ¢ razoavelmente deva ter por significativas, s6 pode concluir-se, a nosso ver, que se trata aqui de requisitos cumulativos, pelo que o dever de declaragio incide sobre todas as circunstancias conhecidas do declarante, e s6 essas, desde que com significado para a apreciagao do risco. No mesmo sentido parece depor a regra do art.’ 487.°, n.° 2, por remissio do art.” 799.°, n.° 2, ambos do CCiy., apreciando-se a culpa pela diligéncia de um bom pai de familia em face das circunstancias de cada caso concreto, critério que nio parece conciliar-se bem com aqueles requisitos em formato cumulativo, mormente o da razoabilidade em termos de prefiguragio da essencialidade do facto desconhecido, tanto mais que se trata de declarante nao especialista perante matéria de elevada complexidade técnica. Quanto ao dever de verdade, determina a lei que a obrigagio de declaragao seja cumprida com exactidao, pelo que as informagies prestadas terdo de ser exactas, verdadeiras, conformes com a realidade dos factos, sendo que, caso o declarante nao tenha o dominio total do conhecimento desses factos, deve dizé-lo, por forma a que o segurador disso fique consciente e possa agir em conformidade em sede pré-contratual ({18]). Caso contrario, faltando o declarante ao dever de verdade, configura-se uma inexactidao da informacio prestada, que, se reportada a factos relevantes, por significativos para a delimitacio do risco, consubstanciard, por isso, incumprimento do dever de informagao, 0 qual pode ser, como dito, doloso ou negligente. Quanto ao dever de razoabilidade e proporcionalidade, impie a lei ao tomador ou segurado a declaragao das circunstancias que, sendo suas conhecidas, 0 mesmo deva ter, em termos de razoabilidade, por significativas. Cumpridos todos os aludidos deveres integrantes da obrigacio legal de declaragao pré-contratual do risco, de acordo com a boa fé, estara o segurador em condigdes de decidir, de forma livre, consciente ¢ esclarecida, sobre a sua vinculagio contratual ¢ seus termos, designadamente quanto ao valor do prémio do seguro Nesse caso, levando as negociagdes A celebragio do contrato, este sera, a esta luz, um contrato valido. Mas pode assim nao suceder, por incumprimento daqueles deveres, através de omissées ou inexactidées na declaracao das circunstancias que, conhecidas do declarante, se apresentem como relevantes para a apreciagao do risco, considerando, pois, a sua influéncia em sede de maior probabilidade e/ou intensidade d risco, Em caso de tal incumprimento, e nao sendo aplicavel nenhuma das hipéteses do n.° 3 do art.’ 24.° do RJCS, aplicar-se-A © preceituado nos art.’s 25.° — que prevé a anulabilidade do contrato, mediante declaragio enviada ao tomador do seguro — ou 26.° do RJCS, consoante se trate de actuag4o dolosa ou neg! do declarante. E que a lei procede agora, ao contrario do art.” 429.° do CCom,, a e (ca87143b712a268025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%s... 29°28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa uma distingao de regime entre situagdes de incumprimento doloso ¢ de incumprimento negligente do dever de informar, distinguindo também agora, para efeitos de tal incumprimento, entre omissdes inexactiddes (antes distinguia entre declaragées inexactas ¢ reticentes). Contrariamente Aquela relevante distingaio de regime — com consequéneias, desde logo, em termos de anulabilidade do contrato, que sé é prevista nos casos de incumprimento doloso (art.” 25." do RJCS) -, esta alteracio terminoldgica relativa As duas categorias de incumprimento nao traduz qualquer alterac&o de substdncia. Assim, se era pacifico, & luz daquele art.’ 429.° do CCom., o entendimento de que as declaragies inexactas correspondiam a comportamentos activos, traduzidos na declaragao de factos ou circunstancias nao correspondentes & verdade, enquanto as reticéncias correspondiam em geral a omissdes, isto é, ao silenciar do que se sabia, mas podendo também resultar de hesitagdes ou do caracter inconclusive das informagdes prestadas ({19]), também parece claro que as actuais omissbes correspondem aquelas declaragées reticentes, enquanto as inexactiddes correspondem as anteriores declaracdes inexactas. J4o incumprimento doloso a que alude o art.’ 25.° do RICS reporta-se ao dolo definido no art.” 253.°, n.° 1, do CCiv., traduzindo-se na utilizagao pelo tomador do seguro ou segurado, no exercicio da sua declaragao inicial do risco, de “sugesto ou artificio” com a “intencAo ou consciéncia de induzir ou manter em erro” a contraparte, “bem como a dissimulagao” do erro do segu- rador ({20)). Por sua vez, o incumprimento negligente, previsto no art.’ 26.° do RCS, reporta-se a situagdes em que as inexactidées ou omissées decorrem de falta de cuidado do declarante, tratando-se sempre, pois, de condutas nio intencionais. Assim se compreende, ante tal diferenga de gravidade, 0 diverso regime legal, nao prevendo o art.’ 26.° do RJCS a anulabilidade do contrato, mas tao-sé a sua alteracao ou, em casos limite, a sua cessacio pelo segurador. Da exposigao antecedente ja se conclui que, incidindo o dever de declaragao inicial do risco sobre todas as circunstancias conhecidas do declarante, ¢ s6 essas (desde, ademais, que com significado para a apreciag&o do risco), e cabendo & R., enquanto a parte que se defende por via excep¢io, mediante a invocagio do incumprimento desse dever e consequente invalidade do contrato de seguro, demonstrar tais incumprimento e invalidade, tinha a R./Apelada 0 énus da alegagao e prova, desde logo, de que as circunstancias nfio reveladas (omitidas) pelo A. — traduzidas no anterior acidente em Dezembro de 2008, consideragao do veiculo como perda total ¢ respectiva indemnizagao — eram deste conhecidas (art.’ 342.°, n.° 2, do CCiv.). Ora, nfo deixou a R. alegada nem provada tal matéria factica tendente a demonstrar que o A., ao declarar 0 risco, sabia dessas circunstancias nio reveladas, donde que, logo por isso, forgosa seja (ca87143{b712a268025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%s... 24/28 221032017 tps. dos petl.ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa a improcedéncia da deduzida excep¢ao de invalidade do contrato de seguro celebrado (improcedéncia essa, assim, que também se verificaria A luz do art. 429.° do CCom., se este fosse 0 aplicavel). Nao pode, por isso, manter-se nesta parte o decidido na sentenga recorrida, que deve ser revogada quanto A decretada procedéncia da excepgio peremptéria da nulidade do dito contrato. 3.2. - Quanto ao invocado sinistro/furto Como ja se deixou referido, essencial ao sucesso da pretensio indemnizatéria do A./Apelante, através das forsas do seguro facultativo de danos préprios (tipico seguro de danos), era a demonstragao (alegacio e prova) da existéncia/verificagio do sinistro, o facto determinante da operdncia da cobertura do seguro ¢, como tal, gerador da obrigagio de ressarcir da aqui R., traduzido no furto do veiculo seguro e sua nao recuperacio. Sem tal sinistro, com efeito, nao ha dano, nem obrigacao indemnizatoria, tratando-se, como se trata no caso, de um seguro de danos a que se reporta o art.’ 128.° do RJCS. Ora, como resulta da factualidade provada na 1.* instancia — que, como visto, se mantém inalterada -, é patente que nao logrou 0 A. provar o sinistro, a ocorréncia do invocado furto do veiculo. Donde que, também se pronunciando sobre este pressuposto da pretendida obrigagio da seguradora, se tenha dito na sentena recorrida, em apreciagao da questo, que: “Mas ainda que assim se no entendesse sempre a acco seria de julgar improcedente por o autor nio ter logrado provar a verificagio da cobertura accionada. “Na verdade, a ré estaria constituida na obrigagio de indemnizar 0 autor em caso de furto ou roubo do veiculo, nos termos constantes do contrato. “Acontece que o autor nfo logrou provar ter sido o veiculo furtado; nem provou que se deslocou a Espanha com o veiculo. “Uma queixa de furto apresentada na Comisaria de ..., sem outros elementos, nao permite concluir pelo furto do veiculo, condigio indispensavel A responsabilizacao da ré. “Donde, e por isso, a aceao sempre ter de ser julgada improcedente” (sic., fls. 148-149). ‘Transcreveu-se este segmento da sentenca para que nfo restassem dividas de que na 1.* instancia foi apreciada, em sede de fundamentos da sentenga, esta questo da nao verificagao do sinistro, enquanto pressuposto necessario da pretendida obrigagio de indemnizar. Nao pode, por isso, ser acolhida a pretensio do Apelante no sentido de que “a proniincia do Tribunal a quo sobre a matéria excepcionada pela R. na sua defesa, prejudicou o conhecimento dos restantes factos, mormente do sinistro reportado pelo A.” (fr. conclusio XXX do recorrente). Nio sé no prejudicou tal conhecimento, como inclusive se procedeu A apreciacao desse fundamento da defesa, concluindo-se por nio ter o A. logrado provar o sinistro, o que, naturalmente, (ca871431b712aa68025700000343a35?OpenDocument&Highlight=0,informa%... 25°28 221032017 hp: dos pet ns331821e7323 160388025861a0049) Acério do Tibunal da Relago de Lisboa sempre teria de determinar a total improcedéncia da acgao. E, no dispositivo, julgou-se a ac¢ao totalmente improcedente, com a consequente absolvigao da R. de tudo 0 contra si peticionado. Assim, a questo nao deixou, obviamente, de ser apreciada e decidida, pelo que, se, no dispositivo da sentenga, apenas se aludiu A procedéncia da excepedio invocada, sem mencionar a faléncia de prova quanto ao sinistro, tal sé pode dever-se a lapso na elaboragao daqucla sentenga, que este Tribunal de recurso agora pode —e deve — suprir, podendo reapreciar tal matéria de direito em sede de recurso (0 art. 715.° do CPCiv. prevé a regra da substituigao a0 tribunal recorrido). Nao colhe, pois, a conclusao do Apelante no sentido de estar prejudicado 0 conhecimento da questo da (nao) verificacao do sinistro, questo expressamente analisada — e manifestamente bem apreciada — na sentenga recorrida. Sentenga essa que, nessa parte, manifestamente deve ser mantida, com a consequente improcedéncia da acco, por no provada, ante a dita faléncia de prova do sinistro, devendo agora suprir-se 0 aludido lapso de elaboracao da decisao recorrida. Prejudicada logo fica, por isso, a questo — apenas trazida aos autos em sede de contra-alega¢a4o de recurso — da nulidade do contrato por via de impossibilidade juridica do objecto seguro (cfr. al. A) das conclusdes da Apelada). V — Decisao Pelo exposto, acordam os juizes deste Tribunal da Relagio em: a) julgar parcialmente procedente a apelagio e, em consequéncia, revogar a decisio recorrida na parte em que julgou procedente a deduzida excepsio peremptéria de invalidade do contrato de seguro dos autos; b) julgar, no mais, improcedente a apelagio e, em consequéncia, manter, complementando-a, a decisdo recorrida, termos em que julgam a acg4o improcedente, por no provada, com a decorrente absolvigao, in totum, da R. do peticionado. Custas da apelagdo e na 1." instancia a cargo do A.. Versos em branco. Lisboa, 22 de Novembro de 2012 José Vitor dos Santos Amaral Fernanda Isabel Pereira Maria Manuela Gomes ({1}) Cfr. Ac. Rel. Coimbra, de 25/05/2004, Proc. n.” 17/04 (Rel. Jorge Arcanjo), e Ac. Rel. Lisboa de 15/02/2011, Proc. 3334/08.2TJLSB.L1-1 (Rel. Rui Vouga), ambos disponiveis em www.dgsi.pt. ({2}) Cfr. os dois Acs. mencionados na nota antecedente. (ca87143{b712a268025700000343a357OpenDocument&Highlight=0,informa%... 26°28 221032017 Acério do Tibunal da Relago de Lisboa ([3)) Ver os mesmos dois Acs. antes mencionados. ([4) Vide Ac. Rel. Lisboa de 15/02/2011, antes mencionado, ¢ jurisprudéncia por este citada. ({5]) Cfr. ainda o aludido Ac. Rel. Lisboa de 15/02/2011, que cita, por sua vez, para além de diversa outra jurisprudéncia dos nossos Tribunais Superiores, Miguel Teixeira de Sousa, in Estudos Sobre o Novo Processo Civil, Lex, 1997, p. 348. ({6]) Proc. 824/07.8TBLMG.P1S1 (Cons. Anténio Joaquim Pigarra), disponivel em www.dgsi.pt. ({7)) Proc. 850/07.7TVLSB.LI.S2 (Cons. Lopes do Rego), disponivel também em www.dgsi.pt. ({8]) Proc. 1156/2002.L1.S1 (Cons. Fonseca Ramos), disponivel também em www.dgsi.pt. (91) Como vem entendendo a jurisprudéncia dominante do STJ, “no Ambito do recurso de impugnagao da decisio da matéria de facto, nao cabe despacho de convite ao aperfeigoamento das respectivas alegagoes” — cfr. Ac. STJ de 09/02/2012, Proc. 1858/06.STBMFR.LL.SI (Cons. Abrantes Geraldes), disponivel em www.dgsi.pt, com itdlico aditado, bem como demais jurisprudéncia ‘itada. ({10}) Cfr. sobre o tema Armindo Ribeiro Mendes, Recursos em Processo Civil, Reforma de 2007, Coimbra Editora, Coimbra, 2009, ps. 95 ¢ 103. ({11]) Aqui, com efeito, o dever é de informacao, cumprindo-se normalmente através das respostas ao questionario fornecido pelo segurador para o efeito (cfr. n.° 2 do dito art.” 24."), ({12}) Cfr. “O contrato de seguro no direito portugués comparado”, Livraria Sa da Costa Editora, Lisboa, 1971, ps. 79 ¢ 82. ({13}) Vide, “Contrato de seguro”, Coimbra Editora, Coimbra, 1999, p. 224, ({14)) Cfr., neste sentido, Julio Gomes, “O dever de informagio do tomador do seguro na fase pré-contratual”, in A. Moreira e M. C. Martins (Coord.), I! Congresso nacional de direito dos seguros (pp. 75-113), Almedina, Coimbra, 2001, p. 89. ({15]) Para efeitos de invalidade do contrato sé relevam — como também refere Julio Gomes — as circunstdncias “que pudessem contribuir para a avaliagio do risco como sendo maior daquele que o segurador acreditou existir e decidiu assumir” (op. cit., ps. 89 ¢ s.). ({16}) Impendendo nesta matéria o énus da prova sobre 0 segurador — cfr. Jtilio Gomes, op. cit., p. 89 e jurisprudéncia ali citada. ({17)) Veja-se a forma como o legislador do RJCS solucionou, por exemplo, a questo da qualificagio da invalidade decorrente do incumprimento do dever de declaragio inicial do risco (art. 2: 1, do RJCS, por contraposicao ao art. 429." do CCom). ({18}) Pode acontecer que o declarante sé tenha conhecimento parcial de certos factos ou circunstdncias, caso em que deve tornar hpi dos peitt.ns991821¢7323 160308025851a00497eoc!cas7 143107 1ba346802572000024383620penDocument&Highight=0,nformais... 27/28 221032017 Acério do Tibunal da Relago de Lisboa conhecido do segurador esse seu conhecimento apenas parcial. ({19}) Cfr., por todos, na doutrina, José Vasques, “Contrato de seguro”, cit., p. 222, Na jurisprudéncia pode ver-se, entre outros, 0 Ac. do STJ, de 24/04/2007, Proc. 078851 (Cons. Silva Salazar), in www.dgsi.pt/jstj.nsf. ({20}) O “dolo” pode ter ainda outro significado, j4 enquanto pressuposto da responsabilidade civil (art. 483.°, n.° 1, do C traduzindo entio a situagio interior do agente que, directa, necessaria ou eventualmente, dirija a sua conduta contra um preceito juridico — cfr. Menezes Cordeiro, “Tratado de direito civil portugués”, T. IV, Almedina, Coimbra, 2007, pag. 265. hpi gs pitt ns991821¢7323 160308025851a00497eocica67 143107 1ba346802572000024383520penDocument&Highight=D,nformais... 28/28

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