*O texto seguinte faz parte das atividades extra classe e vamos denominar
esta atividade de Atividade 1. Você deve estudar o texto anotando os
conceitos que considerar mais importantes ou passagens que não ficaram claras. Todos devem estar preparados para responder questões ou criar perguntas sobre ele. Esta atividade pode ser realizada em grupo (3 a 5 membros).
Hasty, C. F. “Meter as Rhythm”. Oxford: Oxford University Press, 1997.
Cap. I (parcial) – Caráter geral da oposição
De tudo que nós denominamos ritmo, musica seguramente é um dos melhores exemplos. Tudo que a palavra ritmo implica podemos encontrar na música. Entre os atributos do ritmo podemos incluir continuidade ou fluxo, articulação, regularidade, proporção, repetição, padrão, modo de encantamento, forma, gesto expressivo, animação e movimento (ou ao menos impressão de movimento). De fato é tão intima a interação do ritmo com o musical que poderíamos definir a música, talvez mais ecumenicamente e concisamente, como ritmização do som (e assim como a “musicalidade” do verso ou da fala). No entanto, ritmo é frequentemente visto como um dos mais problemáticos e menos entendidos aspectos da música. Se fossemos restringir a lista de atributos àqueles suscetíveis à calibragem ou medida, seria preciso dizer que a teoria musical apresenta uma razoável clareza de entendimento do ritmo. O ritmo reduzido desta maneira é identificado com métrica, padrão duracional, ou proporção duracional. Entretanto, quando falamos de ritmo, não podemos dispensar facilmente outros atributos, que de um modo ou de outro, assombram a maioria das reflexões sobre ritmo musical e que sorrateiramente fomentam discordância acerca daquilo que podemos medir. Ao restringirmos o ritmo musical à métrica, padrão ou proporção notamos que alguma coisa essencial foi deixada de lado. E, no entanto, como devemos explicar aqueles atributos de ritmo que apontam para a particularidade e espontaneidade da experiência estética enquanto está acontecendo? Para medir ou analisar e comparar padrões necessitamos deter o fluir da música e procurar por representações dos eventos musicais. Mas a música enquanto experiencia viva não pode ser detida deste modo e, eu argumento, não pode ser definida (expressada) por quantidade numérica. Em certa medida achamos isso compreensível, a música é organizada; mas é uma organização comunicada em processo (em andamento) e não pode ser capturada ou compreendida facilmente (profundamente, rapidamente). O que podemos captar (conceber) são representações espaciais (partituras, diagramas, linhas de tempo) e conceitos ou ideias de ordem – padrões fixos, invariantes, transformações, hierarquia, regularidade, simetria e proporção. Certamente essas ideias podem ser deduzidas a partir de uma organização musical apresentada como algo completo e totalmente formado. Entretanto, uma peça musical, ou qualquer uma de suas partes, enquanto em movimento é incompleta e não inteiramente definida – enquanto em andamento é aberta, indeterminada, e em processo de tornar-se uma peça de música ou uma parte dela. Esta tensão, entre a fixidez do que pode ser captada de modo abstrato como ordem e a fluidez de uma ordem percebida na experiencia, surge quando se tenta submeter analiticamente a experiencia estética. Em alguma medida podemos aliviar esta tensão ao referir a analise a um objeto estético, uma peça musical que é ela mesma estruturada. Estrutura está “na” peça, enquanto algo completamente formado e aguardando inspeção. Mas na análise do ritmo nós não podemos ignorar tão facilmente o curso dos eventos que emergem para nós da experiência específica “desta” peça. Na medida em que o dinâmico sugere um processo em vez de um produto, torna-se mais do que um ser estático, um fait accomplissant1 mais do que um fait accompli 2 (para usar a distinção de Bergson), o ritmo surge como um lembrete da realidade da passagem temporal. E é por esta razão que o ritmo permanece um conceito tão problemático para a teoria e analise musical. Nem nosso vocabulário nem nossos hábitos de pensamento nos preparam para a incorporação da questão de temporalidade implícita na noção de ritmo, ao menos na noção largamente concebida de ritmo. Para piorar as coisas, as aplicações da palavra “ritmo” num sentido amplo parecem conter significados incompatíveis ou mesmo contraditórios que podem exacerbar a oposição problemática de estrutura e processo.