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MELHOR FILME BRASILEIRO DA MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL
- IX É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. São Paulo. 2004.
MELHOR FILME DA MOSTRA COMPETITIVA INTERNACIONAL
- IX É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. São Paulo. 2004.
As faces de um documentário
O filme mostra essa relação entre Cao e Dominguinhos onde a princípio percebemos o
diretor invadindo o espaço do personagem, e em certas ocasiões tão próximas que
destacam a dureza e a rusticidade do ambiente que transmite e traduz a vida do
personagem. A princípio somente observamos Dominguinhos com os olhos do diretor e os
ouvidos de um som diegético, onde mostra o micro de forma estridente e áspero. Além do
som diegético, o som extradiegético onde desde o início do filme é inserido por Cao, e é de
difícil percepção, só percebemos com o passar do tempo que apesar de naturais são
inseridos e praticamente imperceptíveis, como por exemplo o som dos pássaros. Talvez
para justapor a imagem solitária do protagonista com a liberdade dos pássaros?
Essa relação entre diretor e personagem transpassa por diversos tipos de documentário,
existem grandes trechos poético, observativo e performático onde evidencia a subjetividade
através do olhar do diretor e apresenta o personagem através das suas ações e não deixa
claro seu objetivo em demonstrar essa “realidade”. Existem vários trechos onde o diretor
não faz questão de esconder ao espectador sua participação e interação com o
personagem, seria uma forma de escada, onde em cada degrau o diretor encontra uma
maneira diferente de expressar seus objetivos. Quando por exemplo o personagem a beira
do abismo observa o horizonte e começa a girar. Claramente percebemos que o ator está
atuando para a câmera e sendo induzido pelo diretor a realizar a ação, porém o diretor e a
câmera só interagem de forma participativa no final do filme, onde o personagem fala com o
diretor/câmera e pede para que toque um objeto. Nesse ponto, percebemos o desconforto
do diretor provavelmente por ele não ter planejado essa interação diante da câmera. Esse
desconforto do diretor ao interagir com o personagem diante da câmera revela a intenção
do diretor de se omitir o máximo possível querendo deixar toda a atenção ao personagem e
não o realizador.
Mas porque um ermitão e não um ator representando um ser que decidiu largar tudo e viver
só, “isolado” da sociedade. Será uma forma de criticar um sistema consumista que não
funciona para todos, e somente para uma pequena minoria ou foi a melhor maneira de
“brincar” com a realidade tanto do personagem quanto do espectador? Uma “realidade”
exótica, como Nanook, O Esquimó (1922) de Flaherty, um dos primeiros documentários já
feitos, que mostra a vida de uma família de esquimós que vive em busca de comida para
sobreviver. Nanook é muito mais dramático, pois mostra em uma local remoto, coberto por
gelo e em situação de risco onde o protagonista salta entre blocos de gelo flutuando sobre a
água para conseguir seu objetivo, caçar e alimentar a família. Por outro lado Cao não se
preocupa em nenhum momento apresentar como Dominguinhos faz para conseguir comida,
ele não expõe o personagem através da fala e sim pela representação do dia-a-dia de um
ermitão realizando tarefas cotidianas como lavando a louça e fazendo comida.
São filmes que dialogam em relação a tratar do exótico, porém de formas bem distantes de
uma lado Nanook que dramatiza a vida de uma família de esquimó em busca de comida
para sobreviver, e de outro A Alma do Osso, que apresenta um ermitão de uma forma toda
peculiar sem dramatizar e/ou se preocupar em como ele irá sobreviver nas montanhas
vivendo numa caverna sem luxo.