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Zandalee: Deslocamento e Sublimação 4

INTRODUÇÃO

O mecanismo de desenvolvimento e de defesa do ego – deslocamento é

um dos mais úteis para o indivíduo; já dizia Freud naquela época que enquanto os

outros mecanismos de defesa eram considerados como “anormais”, o mecanismo

de defesa deslocamento fora considerado como normal.

O deslocamento como o próprio nome já diz, desloca a energia pulsional

de um objeto não possível externamente ou internamente para outro possível. Com

isso vem a tona resíduos de tensão, que pode acometer-se de várias formas.

Enquanto que a sublimação é também um deslocamento porém ela transfere o

indivíduo de um comportamento que é considerado “impróprio” pela sociedade para

uma outra área o qual a sociedade permite.

O filme Zandalee está recheado de deslocamento e sublimações,

podemos observar no decorrer do relatório.


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DESLOCAMENTO

Através do mecanismo de defesa deslocamento, um motivo que não pode

ser gratificado de uma maneira é desviado para outro canal. Um exemplo de

deslocamento é a cólera que não podia ser dirigida à fonte de frustração e que era

desviada para um objeto menos ameaçador. Freud considerava que o deslocamento

era a maneira mais satisfatória de lidar com impulsos agressivos e sexuais. As

pulsões básicas não podem ser mudadas, mas podemos mudar o objeto ao qual

dirigimos uma pulsão. Impulsos eróticos que não podem ser expressos de maneira

direta podem encontrar expressão indireta em atividades criativas como a arte, a

poesia e a música. Impulsos hostis podem encontrar expressão socialmente aceita

através da participação em esportes de contato. (HILGARD, 2002, p. 512).

O deslocamento ocorre quando o afeto contido em relação à certa

pessoa, explode contra outra. Normalmente as fobias nos dão um claro

conhecimento sobre o deslocamento, principalmente as fobias de animais. Mas o

deslocamento é de certa forma, um mecanismo conhecido pelas pessoas de forma

geral. Por exemplo, o marido que ouve um sermão do chefe no escritório, fica com

raiva e humilhado, mas não reage porque teme perder o emprego. Quando chega

em casa, ao primeiro movimento errado do filho ou da mulher, ele tem uma

explosão. Todos nós já observamos esse mecanismo ocorrendo. Mas o

deslocamento pode ser mais sofisticado e assim, um indivíduo pode deslocar

percepções que tinha das figuras parentais para seus companheiros e comportarem-

se com eles da forma como se comportaram com os pais. (HILGARD, 2002, p. 512).

Parece improvável que o deslocamento realmente elimine os impulsos

frustrados, mas atividades substitutas ajudam a reduzir a tensão quando um impulso


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básico é frustrado. Por exemplo, as atividades de cuidar dos outros ou procurar uma

companhia podem ajudar a reduzir a tensão associada com necessidades sexuais

insatisfeitas. (HILGARD, 2002, p. 512).

O mecanismo de defesa deslocamento se refere à representação de uma

parte pelo todo e vice-versa, ou, de modo geral, à substituição de uma idéia ou

imagem por outra a ela ligada por associação. É o caso de alguém que tendo tido

uma experiência desagradável com um policial, reaja desdenhosamente, em relação

a todos os policiais. Freud presumiu que tais substituições eram devidas a um

deslocamento da catexia, ou que dela dependia, isto é, à carga de energia psíquica

de um pensamento ou idéia para outro. Daí sua escolha da palavra “deslocamento”:

o que se desloca é a catexia. Incidentalmente, esse termo ilustra a íntima relação

entre o pensamento de processo primário e as formas características de regular a

energia do impulso, também denominadas de processo primário. Nesse caso, a

pronta tendência ao deslocamento, característica do pensamento de processo

primário, relaciona-se à mobilidade das catexias que descreveremos como peculiar

ao processo primário. (BRENNER, 1987, p.66)

A teoria psicanalítica do deslocamento apela para a hipótese econômica

de uma energia de investimento suscetível de se desligar das representações e de

deslizar por caminhos associativos. O “livre” deslocamento desta energia é uma das

principais características do modo como o processo primário rege o funcionamento

do sistema inconsciente. (LAPLANCHE & PONTALIS, 1987, p. 116)

Quando uma escolha de objeto original de um instinto se torna inacessível

por barreiras externas ou internas (anticatexias), uma nova catexia se forma, a

menos que ocorra uma forte repressão. Se essa nova catexia também é bloqueada,

ocorre um outro deslocamento, e assim por diante, até ser encontrado um objeto
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que traga certo alívio para a tensão encurralada. Esse objeto é então catexizado até

perder seu poder de reduzir a tensão, momento em que é instituída outra busca por

um objeto apropriado. Durante toda a série de deslocamentos que constitui, em

grande medida, o desenvolvimento da personalidade, a fonte e a meta do instinto

permanecem constantes. É só o objeto que varia. (HALL, et. al, 2000, p.62)

Um objeto substituto raramente é tão satisfatório ou redutor de tensão

quanto o objeto original, e quanto mais diferente for o objeto substituto do original

menos a tensão é reduzida. Em conseqüência de numerosos deslocamentos, vai-se

acumulando uma grande tensão, que age como uma permanente força motivacional

para o comportamento. A pessoa está constantemente buscando maneiras novas e

melhores de reduzir a tensão. Isso explica a variabilidade e a diversidade do

comportamento, assim com a inquietude humana. Por outro lado, a personalidade

realmente se torna mais ou menos estabilizada com a idade, devido aos

compromissos feitos entre as forças pulsionais dos instintos e as resistências do ego

e do superego. (HALL, et. al, 2000, p.62)

"Os interesses, os apegos e todas as outras formas


de motivos adquiridos persistem porque são até
certo grau frustrantes, assim como satisfatórios.
Eles persistem porque não produzem uma
satisfação completa... Todo compromisso é ao
mesmo tempo uma renúncia. A pessoa desiste de
alguma coisa que realmente quer, mas não pode
ter, e aceita uma segunda ou terceira melhor
escolha que pode ter." (HALL, 1954, p. 104)

Freud salientou que o desenvolvimento da civilização foi possível devido à

inibição das escolhas objetais primitivas e ao desvio da energia instintual para

canais socialmente aceitáveis e culturalmente criativos, com isso observamos o

quanto é importante a sociedade o mecanismo de defesa deslocamento. A direção

tomada por um deslocamento é determinada por dois fatores:


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• a semelhança do objeto substituto com o original e,

• as sanções e as proibições impostas pela sociedade.

O fator de semelhança é na verdade o grau em que os objetos são

identificados na mente da pessoa. Leonardo pintava madonas em vez de

camponesas ou aristocratas porque imaginava sua mãe mais parecida com uma

madona do que com qualquer outro tipo de mulher. A sociedade, agindo por meio

dos pais e de outras pessoas disciplinadoras, autoriza certos deslocamentos e

proíbem outros. A criança aprende que é permitido chupar um pirulito, mas não o

polegar. (HALL, et. al, 2000, p.63)

A capacidade de formar catexias objetais substitutas é o mecanismo mais

poderoso para o desenvolvimento da personalidade. A complexa rede de interesses,

preferências, valores, atitudes e apegos que caracterizam a personalidade do adulto

humano é possibilitada pelo deslocamento. Se a energia psíquica não fosse

deslocável e distributiva, não haveria nenhum desenvolvimento da personalidade. A

pessoa seria meramente um robô mecânico, levada pelos instintos a executar

padrões fixos de comportamento. (HALL, et. al, 2000, p.63)

Em Psicopatologia da Vida Cotidiana, (FREUD, S. 1901) no Capítulo IV -

Lembranças da Infância e Lembranças Encobridoras, no qual Freud inicia

levantando a hipótese de que "nas lembranças da primeira infância são preservados

tudo aquilo que é indiferente e sem importância ao passo que (amiúde, contudo nem

sempre) na memória dos adultos não há vestígios de impressões daquela época,

que sejam importantes, muito impressionantes e plenas de afeto". Nessa

constatação ele vê o mecanismo de deslocamento atuando como principal operador

dessas transformações mnêmicas. Mais adiante, ele descreve como funciona a

"multiplicidade das relações e dos significados das lembranças encobridoras". Define


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em três exemplos como se dá esta relação do inconsciente com o tempo,

demonstrando que ele é absolutamente livre das amarras causais que o este nos

impõe.

"Naquele exemplo, o conteúdo da lembrança encobridora pertencia a um

dos primeiros anos da infância, ao passo que as vivências mentais por ela

substituídas na memória que haviam permanecido quase inconscientes, ocorreram

na vida posterior do sujeito. Designei essa espécie de deslocamento de retroativo ou

retrocessivo" (FREUD, S. 1901 p.68)

Sublimação

Um deslocamento que produz uma realização cultural superior é chamado

de sublimação. Freud observou, em relação a isso, que o interesse de Leonardo da

Vinci por pintar madonas era uma expressão sublimada de um desejo de intimidade

com a mãe, de quem ele fora separado da tenra idade. Uma vez que a sublimação

não resulta em uma satisfação completa, não mais que o deslocamento, sempre fica

certa tensão residual. Essa tensão pode descarregar-se na forma de nervosismo ou

inquietude, condições que Freud apontou como o preço que os seres humanos

pagavam por seu status civilizado. (HALL, et. al, 2000, p.63)

O ego normalmente funciona de modo a conseguir o máximo grau de

satisfação dos impulsos compatíveis com as limitações impostas pelo ambiente.

Podemos tomar como exemplo o desejo infantil de brincar com fezes, que é por

certo, um derivativo dos impulsos. Em nossa cultura esse desejo é em geral

fortemente contrariado pelos pais da criança pequena ou seus substitutos. Acontece


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então, muitas vezes, que a criança desiste de brincar com as fezes e, em vez disso,

passa a fazer bolos de lama. Mais tarde, a modelagem em argila ou plasticina pode

substituir o brinquedo com a lama e, em casos excepcionais, o indivíduo poderá se

tornar na vida adulta um escultor amador ou mesmo profissional. A investigação

psicanalítica indica que cada uma dessas atividades substitutas proporciona um

certo grau de gratificação do impulso infantil original, de brincar com fezes.

Entretanto, em cada caso a atividade originalmente desejada modificou-se no

sentido da aceitação e aprovação social. Além do mais, o impulso original, como tal,

tornou-se inconsciente na mente do indivíduo a modelar ou esculpir em argila ou

plasticina. Finalmente, na maior parte de tais atividades substitutas, o processo

secundário tem papel de maior relevância que o tinha no desejo ou na atividade

infantil, original. Naturalmente, esta última é menos evidente em um exemplo como o

que escolhemos do que o seria no caso da pessoa que se tornasse um especialista

em parasitas intestinais em vez de um escultor. (BRENNER, 1987, p. 108)

O que chamamos sublimação é uma atividade substituta dessa natureza

que se adapta ao tempo às exigências do ambiente e proporciona uma certa

gratificação inconsciente ao derivativo de um impulso infantil que fora repudiado em

sua forma original. Em nossos exemplos, o brinquedo com bolos de lama, a

modelagem, a escultura e o estudo de parasitas intestinais constituem sublimações

do desejo de brincar com fezes. Podemos igualmente dizer que são todas

manifestações, em diferentes níveis de idade, do funcionamento normal do ego, que

atua no sentido de harmonizar e satisfazer as exigências do id e do ambiente, de

natureza tão completa e eficaz quanto possível. (BRENNER, 1987, p. 109)


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CENAS DO FILME ZANDALEE

Zandalee conta a história de um triângulo amoroso o qual termina em

tragédia com a morte dos protagonistas: Zandalee e Thierry. Thierry é um poeta, e

ex-professor de literatura que, em crise existencial, se viu obrigado a assumir o cargo

de diretor na Empresa que herdou de seu pai e que, agora, se acha num processo

para ser vendida. Ele é casado com a bela e sensual Zandalee, uma mulher que

está sofrendo com a falta de atenção sexual do marido para com ela, devido a uma

disfunção sexual (disfunção erétil). Thierry encontra Johnny, um velho amigo de

infância, que há muitos anos não o via, numa festa de despedida de solteiro. Johnny

é um pintor decadente, pobre e viciado em drogas. Ao saírem da festa, Thierry leva

o amigo até sua casa, onde o apresenta à sua família: sua esposa e sua avó.

A corrida ninfomaníaca de Zandalee

Observamos no filme que Zandalee é uma pessoa o qual o sexo corre em

suas veias, o filme inicia com Zandalee regando as plantas, porém pouco depois ela

já está sem roupa, cantarolando e dançando; o seu marido Thierry ao fazer a barba

se corta, então ela já vê esse corte como uma abertura para sexo, e começa a

chupar o corte do pescoço de Thierry. Depois da fuga de seu marido, com a

desculpa que teria que trabalhar então Zandalee vai aliviar sua energia sexual

canalizando-a para uma atividade física o qual podemos observar durante o filme

que é bastante exagerada: a corrida. Zandalee corre, e essa corrida, observemos

que tem uma relação muito grande com o fato de como Zandalee gosta de fazer
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sexo. Observe que na primeira cena Zandalee em sua caminhada se arrisca a

passar durante a passagem de dois trens, e em outra cena mais adiante podemos

ver que Zandalee vai se atravessar em frente a uma bicicleta.

“O que chamamos sublimação é uma atividade substituta


dessa natureza que se adapta ao tempo às exigências do
ambiente e proporciona uma certa gratificação inconsciente ao
derivativo de um impulso infantil que fora repudiado em sua
forma original. (BRENNER, 1987, p. 109)

“Através do mecanismo de defesa deslocamento, um motivo


que não pode ser gratificado de uma maneira é desviado para
outro canal. (...). Freud considerava que o deslocamento era a
maneira mais satisfatória de lidar com impulsos agressivos e
sexuais”. (HILGARD, 2002, p. 512).

“O quadro” – raiva, inveja, etc

Johnny pede para seu amigo ser modelo de um quadro seu,

aparentemente observamos que é um ato de “boa vontade”, gratidão, etc., porém o

que está por trás desse quadro? O pintar desse quadro servirá para amenizar o

sentimento de inveja, de ira, por Thierry, já que ele é um indivíduo que tem uma

família: uma linda esposa, uma avó, e por ser um empresário – chefe de Johnny.

Podemos observar que em uma cena o qual Johnny Collins depois da

morte de Thierry, não consegue mais êxito na pintura, fica agoniado, atônito e

destrói todo o seu atelier.

“Um exemplo de deslocamento é a cólera que não podia ser


dirigida à fonte de frustração e que era desviada para um
objeto menos ameaçador. As pulsões básicas não podem ser
mudadas, mas podemos mudar o objeto ao qual dirigimos uma
pulsão. Impulsos sexuais e agressivos que não podem ser
expressos de maneira direta podem encontrar expressão
indireta em atividades criativas como a arte, a poesia e a
música. Impulsos hostis podem encontrar expressão
socialmente aceita através da participação em esportes de
contato”. (HILGARD, 2002, p. 512).
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O cabelo de Zandalee – a representação da traição

Zandalee chega ao quarto quando Thierry está se arrumando, ele

pergunta: o que fez com seu cabelo? É só uma experiência. Ele logo exclama: ficou

estranho, não combina com você.

Dá pra notar aqui que Thierry desloca o sentimento de traição que ele

está sentindo, para o cabelo; Thierry é incapaz de conversar com sua esposa a

respeito, pois quando ela foi o procurar para conversar sobre o assunto ele logo

renunciou dizendo não ser confessor dela, então ele tenta transferir, canalizar para

outros meios esse sentimento de traição.

“Através do mecanismo de defesa deslocamento, um motivo


que não pode ser gratificado de uma maneira é desviado para
outro canal. (...). Freud considerava que o deslocamento era a
maneira mais satisfatória de lidar com impulsos agressivos e
sexuais”. (HILGARD, 2002, p. 512).

“Durante toda a série de deslocamentos que constitui, em


grande medida, o desenvolvimento da personalidade, a fonte e
a meta do instinto permanecem constantes. É só o objeto que
varia”. (HALL, et. al, 2000, p.62)

Raiva transferida

O deslocamento ocorre quando o afeto contido em relação à


certa pessoa, explode contra outra. (HILGARD, 2002, p. 512).

Após ter feito sexo com seu amante, o pintor Johnny Collins, Zandalee

chega em casa tarde da noite e encontra seu esposo dormindo. No outro dia em sua

loja de confecção, ao ver dois indivíduos negociando drogas, expele toda a sua

raiva, sua angústia por não conseguir fazer sexo com seu marido e pelos problemas

que estão acontecendo em sua vida, para os dois traficantes e xinga o bairro pelo
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acontecido: esse bairro é um lixo (sic). Porém o seu amigo homossexual confirma

que não é o bairro e aquele episódio acontece em todo lugar. Então ela concorda.

Há também a tensão que ela enfrenta por está substituindo, o marido pelo

amante, buscando o alívio da energia sexual.

“A pessoa desiste de alguma coisa que realmente quer, mas


não pode ter, e aceita uma segunda ou terceira melhor escolha
que pode ter." (HALL, 1954, p. 104)

Um objeto substituto raramente é tão satisfatório ou redutor de


tensão quanto o objeto original, e quanto mais diferente for o
objeto substituto do original menos a tensão é reduzida. Em
conseqüência de numerosos deslocamentos, vai-se
acumulando uma grande tensão, que age como uma
permanente força motivacional para o comportamento. (HALL,
et. al, 2000, p.62)

A espera

Quando Zandalee sai com a desculpa que vai almoçar (porém vai à casa

do amante), então sua amiga Scarlet, pergunta se não vai convidá-la para almoçar

juntas, então ela nada diz. E Scarlet conclui, vou cobrir seu caso, então Zandalee se

justifica: alivia a pressão...

Zandalee vai à casa de seu amante, Collins, e o espera. Não o

encontrando, então ela chega a revirar tudo, derramou tinta em cima da cama, virou

uma mesa com material de pintura, quebra e desenrola toda a fita da secretária

eletrônica, chuta a cadeira e vai embora.

Ela não podia bater em seu amante, mas, no entanto conseguiu algo

parecido, algo que pertencia a ele, a sua morada.

Parece improvável que o deslocamento realmente elimine os


impulsos frustrados, mas atividades substitutas ajudam a
reduzir a tensão quando um impulso básico é frustrado.
(HILGARD, 2002, p. 512).
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O trabalho como suspiro sexual

Notamos que em todo o filme, Thierry está trabalhando, se dedicando a

empresa que fora do seu pai. Podemos vê-lo na cena em que está com o advogado

da empresa: temos um problema, diz Thierry; e então o advogado discorda: acho

que não; há uma discrepância nas quantias a serem pagas. Não há discrepâncias,

discorda ainda o advogado; concordamos em US$ 4900; e eles continuam o diálogo

enquanto Thierry fica irritado com a notícia da perda de 50.000 doláres envolvidos

na transação e.

Na cena em um restaurante almoçando com o corretor amigo do vereador

que está querendo vender um apartamento reformado e está tentando driblá-lo para

conseguir que Thierry aceite a proposta imposta por ele na negociação. Em outra

cena com Collins, dizendo que impediu do amigo Johnny ser demitido.

Com isso podemos claramente visualizar a dedicação que Thierry destina

para a sua empresa o qual fazemos uma analogia ao que Zandalee faz com a sua

corrida. Ele vê a empresa como um meio de sublimar, canalizar toda a sua energia

sexual “pseudo-latente” (pois ela está manifesta).

Freud salientou que o desenvolvimento da civilização foi


possível devido à inibição das escolhas objetais primitivas e ao
desvio da energia instintual para canais socialmente aceitáveis
e culturalmente criativos. (HALL, et. al, 2000, p.63)

Tenho que pintar... (Johnny)

Dentre vários quadros expostos na casa de Johnny, o comprador apenas

admira um. Excelente esse, você se libertou (sic). Porém J. Collins se irrita e diz que

aquele é velho; o quadro parece figurar o sofrimento de um homem.

J. Collins se irrita e destrói todo o atelier, todas as suas telas e pinturas,

suja-se todo; uma mistura de ódio, inveja e culpa. Dane-se, dane-se tudo. Dane-se,
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dane-se tudo, repetia várias vezes. “Mas quando não pinto tudo fica uma droga”

(sic). Já dizia Collins na apresentação da família de Thierry no início do filme.

Ora, se Collins pintava com o intuito de canalizar a ira, a raiva, e a inveja

sentida por Thierry, quem servirá de modelo agora? Portanto ele destrói todo o seu

material de pintura.

Freud salientou que o desenvolvimento da civilização foi


possível devido à inibição das escolhas objetais primitivas e ao
desvio da energia instintual para canais socialmente aceitáveis
e culturalmente criativos, com isso observamos o quanto é
importante a sociedade o mecanismo de defesa deslocamento.
(HALL, et. al, 2000, p.63)
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CONCLUSÃO

Como o próprio Freud colocou em seus textos, o mecanismo de defesa e

desenvolvimento deslocamento é importante para que não sejamos meros robôs,

que desejamos o que não é possível e nos acomodemos; pelo contrário, somos

“programados” para nos adaptar, ou seja, não temos aquilo que desejamos vamos

em busca do que o substitui e que tem uma semelhança. Já diz um provérbio

popular: “quem não tem cão, caça com o gato”.

Por essa adaptação que gera a civilização da sociedade pagamos um

preço que são os resíduos da energia que utilizamos para o deslocamento, ou seja,

quando o deslocamento é feito, o nosso grau de satisfação vai depender da

semelhança do objeto substituto com o original, porém mesmo assim ficam

resquícios que podem interferir na vida cotidiana.

O filme foi de grande valia para visualizar de como o deslocamento

acontece, recheado de cenas picantes, nos deu um sabor especial e que não foi

cansativo para a equipe.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ATKINSON, Rita L. et al. Introdução a psicologia de Hilgard. 13. ed. Porto

Alegre: Artmed, 2002.

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São Paulo, 1987.

3. DORSH, Friedrich; HÄCKER, Hartmut. Dicionário de Psicologia. Editora

Vozes: Petrópolis, 2001.

4. FREUD, Sigmund. A Psicopatologia da Vida Cotidiana. Edição Standard

Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Vol. VI . Rio de

Janeiro. IMAGO 1987

5. FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Edição Standard Brasileira

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IMAGO 1974

6. HALL, Calvin S. Teorias da Personalidade. 4 ed. Porto Alegre: Artes

Médicas Sul, 2000.

7. INTERNET: acessado em 15/09/2004 e disponível no seguinte endereço:

http://www.psicanalise.org/joaorego/joa_textos/jrego_psi_3.htm#up

8. ZIMMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos, Teoria, Técnica e

Clínica. Artmed: Porto Alegre, 1999.


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The end

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