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AUTONOMIA
Vandeí Pinto da Silva (Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp)
Eixo temático 3 - Projetos e Práticas de Formação de Professores
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muito da perspectiva marxista, segundo a qual a transformação da natureza com o trabalho se
faz com a cabeça e com as mãos. Nessa perspectiva a importância atribuída à união entre
trabalho manual e trabalho intelectual, entre teoria e prática e entre trabalho e educação reside
na busca da formação omnilateral do ser humano. Referindo-se às características individual e
social do trabalho e aos processos de alienação aí implicados, Marx, em O Capital, escreve:
O homem isolado não pode atuar sobre a natureza sem pôr em ação seus músculos sob o controle
de seu cérebro. Fisiologicamente, cabeça e mãos são partes de um sistema; do mesmo modo, o
processo de trabalho conjuga o trabalho do cérebro e o trabalho das mãos. (MARX, 2008, p. 577).
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avaliações diagnósticas se deve buscar detectar potencialidades futuras, reconhecíveis e
demonstráveis com auxílio de outrem.
Aprender a usar uma máquina de escrever significa, na realidade, estabelecer um certo número de
hábitos que, por si sós, não alteram absolutamente as características psicointelectuais do homem. Uma
aprendizagem desse gênero aproveita um desenvolvimento já elaborado e completo, e justamente por
isso contribui muito pouco para o desenvolvimento geral.
O processo de aprender a escrever é muito diferente. Algumas pesquisas demonstram que este
processo ativa uma fase de desenvolvimento dos processos psicointelectuais inteiramente nova e muito
complexa, e que o aparecimento destes processos origina uma mudança radical das características
gerais, psicointelectuais da criança; da mesma forma, aprender a falar marca uma etapa fundamental na
passagem da infância para a puerícia (p. 116)
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desconsideradas sua subjetividade, as pessoas são seqüestradas de si mesmas e remetidas
para um universo que lhes é estranho, acentuando o processo de alienação de professores e
aprendizes.
A intencionalidade, em certa medida, pode atuar como antídoto à alienação. Isto se
configuraria na medida em que educadores e educandos buscassem o significado do que
fazem. Não bastaria a intencionalidade apenas por parte daquele que se propõe a ensinar algo,
mas também por parte do aprendiz. É importante que ambos estejam conscientes do seu papel
de sujeitos nesse processo. Contudo, nada garante a priori que discentes e docentes superem
mecanismos de alienação apenas pelo fato de projetarem o que desejam realizar. Por um lado,
pode ocorrer de elegerem para estudo algo destituído de sentido para ambos. Por outro, a
alienação na sociedade capitalista é um dado objetivo de largo espectro e não será a educação
escolar, unilateralmente, capaz de superar a alienação.
Reafirmamos que na sociedade de classes, há que se ter presente que nos processos
educativos empreendidos pela humanidade sempre houve disputa de projetos, sendo a
educação colocada a serviço da classe dominante, para consolidar o modelo de sociedade
dominante. A escola atual não está imune de ser aparelhada para educar na perspectiva da
subserviência ao sistema capitalista, moldando e adaptando indivíduos aos interesses dos
dominadores, em vez de disseminar valores para a autonomia e a emancipação dos homens.
O alto grau de inculcação de desejos artificiais e, portanto, de escassez de
intencionalidade se exemplifica nas práticas de marketing. A propaganda induz o indivíduo a
consumir determinados produtos sem ter refletido sobre sua importância e necessidade.
Consideramos inadequado chamar a propaganda de prática educativa, pois seu interesse é
manipular para lucrar. Tal consideração questiona a conveniência de na educação escolar
utilizar-se sem critérios as linguagens próprias do marketing, tais como, o apelo ao colorido dos
cenários paradisíacos, a adesão à dinâmica do movimento acelerado, o uso das tecnologias de
última geração para dar crédito ao conhecimento, a posse como sinônimo de prazer e
realização humana.
A educação segue a dinâmica da conscientização e da reflexão. Utiliza-se da informação
com vistas à formação para a autonomia. As escolhas são pautadas em critérios. Na educação
o despertar do desejo e o usufruto do prazer resultam do comprometimento e do envolvimento
dos sujeitos em projetos autonomamente escolhidos. Nela não cabe a promessa de prazer
imediato exposto à compra e venda em qualquer esquina. Há satisfação sim, mas esta estará
presente na essência humana e não na sua aparência.
Referências
CANDAU, Vera Maria (Org.). Rumo a uma nova didática. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1990.
LUCKESI, Cripiano C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1992.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
MENDES, Durmeval T. (Org.). Filosofia da Educação Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1983.
VIGOTSKII, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In:
VIGOTSKII, L. S., LURIA, A. R., LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. 7. ed. São Paulo: Ícone, 2001.
MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. O processo de produção do capital.
Tradução Reginaldo Sant’ana. 22. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Livro I, vol.
II.