You are on page 1of 119

Provas de

Introdução à Álgebra

Manuel Ricou
Departamento de Matemática
Instituto Superior Técnico

19 de Janeiro de 2008
Conteúdo

1 Enunciados de Testes 3
1.1 1o Teste: 12/4/2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 2o Teste: 18/5/2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 3o Teste: 15/6/2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4 1o Teste: 5/4/2001 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.5 2o Teste: 10/5/2001 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.6 3o Teste: 12/6/2001 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.7 1o Teste: 10/4/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.8 2o Teste: 15/5/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.9 3o Teste: 7/6/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.10 1o Teste: 18/3/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.11 2o Teste: 29/4/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.12 3o Teste: 27/5/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.13 1o Teste: 30/3/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.14 2o Teste: 27/4/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.15 3o Teste: 25/5/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.16 1o Teste: 31/3/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.17 2o Teste: 28/4/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.18 3o Teste: 25/5/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.19 1o Teste: 27/3/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.20 2o Teste: 8/5/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.21 3o Teste: 5/6/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2 Enunciados de Exames 17
2.1 1o Exame: 1/7/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 2o Exame: 24/7/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3 1o Exame: 4/7/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4 2o Exame: 21/7/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5 1o Exame: 9/7/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.6 2o Exame: 24/7/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.7 1o Exame: 1/7/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.8 2o Exame: 18/7/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.9 1o Exame: 7/7/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

i
ii CONTEÚDO

2.10 2o Exame: 21/7/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3 Testes Resolvidos 29
3.1 1o Teste: 10/4/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 2o Teste: 15/5/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.3 3o Teste: 7/6/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4 1o Teste: 18/3/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.5 2o Teste: 29/4/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.6 3o Teste: 27/5/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.7 1o Teste: 30/3/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.8 2o Teste: 27/4/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.9 3o Teste: 25/5/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.10 1o Teste: 31/3/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.11 2o Teste: 28/4/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.12 3o Teste: 25/5/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
3.13 1o Teste: 27/3/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.14 2o Teste: 8/5/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.15 3o Teste: 5/6/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

4 Exames Resolvidos 77
4.1 1o Exame: 1/7/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.2 2o Exame: 24/7/2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.3 1o Exame: 4/7/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.4 2o Exame: 21/7/2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
4.5 1o Exame: 9/7/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
4.6 2o Exame: 24/7/2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
4.7 1o Exame: 1/7/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
4.8 2o Exame: 18/7/2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
4.9 1o Exame: 7/7/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
4.10 2o Exame: 21/7/2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
Capı́tulo 1

Enunciados de Testes

1.1 1o Teste: 12/4/2000


 
1 2 3 4 5 6 7 8
1. Considere a permutação em S8 . Quais
3 1 5 6 7 8 2 4
são as suas órbitas? Qual é a sua paridade?

2. Sejam G e H grupos. Demonstre as seguintes afirmações:

a) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, e I é a identidade


de G, então f (I) é a identidade de H.
b) Se A e B são subgrupos do grupo G, A ∩ B é também subgrupo
de G.

3. Seja A um anel com identidade I. Diga se as seguintes afirmações são


verdadeiras ou falsas, justificando as suas respostas com uma demon-
stração ou um exemplo.

a) Se B é subanel de A então B tem identidade I.


b) A equação x2 = I tem no máximo as soluções x = I e x = −I.

4. Sendo G = {1, i, −1, −i} o grupo formado pelas raı́zes quartas da


unidade, quais são os homomorfismos f : G → G? Quais são os
automorfismos f : G → G? Sugestão: Determine f (i).

1.2 2o Teste: 18/5/2000


1. Seja d o máximo divisor comum de 663 e 969.

a) Determine uma solução da equação 969x + 663y = d.


b) Determine todas as soluções da equação 969x + 663y = 0. (Ex-
prima a solução na forma (x, y) = k(a, b), k ∈ Z.)

3
4 CAPÍTULO 1. ENUNCIADOS DE TESTES

c) Determine todas as soluções da equação 969x + 663y = d.

2. Os números 1.234.567 e 1.234.572 são primos entre si? Porquê?

3. Seja n ∈ N. As seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas?

a) Existe pelo menos um número primo p > n.


b) Existem n naturais consecutivos que não são primos.

4. Seja A um anel com identidade I, e N (A) o menor conjunto indutivo


em A.

a) Prove que N (A) = {nI : n ∈ N}.


b) Mostre que N (A) é finito e tem m elementos se e só se m ∈ N é a
menor solução da equação nI = 0. Sugestão: Considere o núcleo
do homomorfismo f : Z → A dado por f (n) = nI.

1.3 3o Teste: 15/6/2000


1. Considere o anel Z55 .

a) Quais são os divisores de zero neste anel?


b) Resolva a equação x2 = 4 em Z55 .
c) Suponha que h : Z5 → Z55 é um homomorfismo de anéis. Quais
são os valores possı́veis para h(1)?

2. Suponha que o anel A é um anel com caracterı́stica 0. Prove que:

a) A tem um subanel isomorfo ao anel dos inteiros.


b) Se A é um corpo, então A tem um subcorpo isomorfo ao corpo
dos racionais.

3. Esta questão refere-se a polinómios com coeficientes em Z3 .

a) Determine todos os polinómios irredutı́veis da forma x2 + x + a.


b) Qual é o máximo divisor comum de x4 +1 e x4 +2x3 +2x2 +x+1?
c) Quantos elementos tem o quociente A = Z3 [x]/ < x4 + 1 >?
d) O elemento x4 + 2x3 + 2x2 + x + 1 é invertı́vel no anel A?

1.4 1o Teste: 5/4/2001


1. Considere as permutações π = (3, 5, 9)(2, 4, 6)(1, 8, 7) e ρ = (2, 9)(1, 8)
do grupo S9 .

a) Diga se cada uma destas partições é par ou ı́mpar.


1.5. 2o TESTE: 10/5/2001 5

b) Quais são as órbitas de πρ?

2. Sendo (G, ∗) um grupo, demonstre as seguintes afirmações:

a) Se N e H são subgrupos de G então N ∩H é um subgrupo de G.


b) Se G é abeliano, qualquer subgrupo de G é normal.
c) O elemento neutro de qualquer subgrupo de G é o elemento neutro
de G.

3. Seja A um anel unitário, com identidade I 6= 0.

a) Mostre que o produto de dois elementos invertı́veis de A é um


elemento invertı́vel de A.
b) Um subanel de A pode ter uma identidade distinta da identidade
de A? Porquê?
c) Se A tem 3 elementos, podemos concluir que A é isomorfo a
(Z3 , +, ×)? Porquê?

1.5 2o Teste: 10/5/2001


1. Seja d o máximo divisor comum de 2093 e 483.

a) Determine uma solução da equação 2093x + 483y = d.


b) Determine todas as soluções da equação 2093x + 483y = 0. (Ex-
prima a solução na forma (x, y) = k(a, b), k ∈ Z.)
c) Determine todas as soluções da equação 2093x + 483y = d.

2. Seja A um anel com identidade I, e N (A) o menor conjunto indutivo


em A. Prove que N (A) = {nI : n ∈ N}.

3. Determine todos os naturais x que satisfazem simultaneamente as duas


congruências x ≡ 2 (mod 17) e x ≡ 5 (mod 13).
n
4. Os números da forma Fn = 22 + 1, com n ≥ 0, dizem-se os “números
de Fermat”.

a) Demonstre que se Gn é o produto dos números de Fermat Fk ,


0 ≤ k ≤ n, ou seja, se Gn = F0 × F1 × · · · × Fn , então Fn+1 =
Gn + 2, para qualquer n ≥ 0.
b) Prove que se n 6= m então Fn e Fm são primos entre si.
6 CAPÍTULO 1. ENUNCIADOS DE TESTES

1.6 3o Teste: 12/6/2001


1. Considere neste exercı́cio o anel Z216 .

a) Quantos subanéis tem o anel Z216 ? Quantos geradores tem este


anel?
b) Sendo f : Z216 → Z8 ⊕ Z27 um isomorfismo de anéis, determine
x ∈ Z216 tal que f (x) = (7, 21).

2. Seja h : Zn → Zm um homomorfismo. Demonstre as seguintes afirma-


ções:

a) Se h é injectivo então n é um factor de m.


b) Se h é sobrejectivo então n é múltiplo de m.

3. Considere o anel quociente A/I, onde A = Z2 [x], e I =< x3 + x + 1 >.

a) Determine o inverso de x2 + 1 em A/I.


b) Existem elementos não-invertı́veis no anel A/I?
c) Os elementos do anel A/I podem ser representados na forma
a + bi + cj, onde a, b, c ∈ Z2 , i = x, e j = x2 . Mostre que I 2 = j,
j 2 = i + j, e ij = 1 + i.
d) Na notação da alı́nea anterior, quais são os factores irredutı́veis
do polinómio x3 + x + 1 no anel dos polinómios com coeficientes
em A/I?

1.7 1o Teste: 10/4/2002


1. Mostre que o grupo (Z4 , +) não é isomorfo ao grupo (Z2 ⊕ Z2 , +).

2. Seja H = {A ∈ Mn (R) : det(A) = 1}.

a) Mostre que H com o produto usual de matrizes é um grupo.


b) Sendo G o grupo formado por todas as matrizes invertı́veis, com
a mesma operação, mostre que H é um subgrupo normal de G.

3. Sendo J e K ideais de um dado anel A, prove que L = {x + y : x ∈


J, y ∈ K} é um ideal de A.

4. Suponha que x e y pertencem a um anel A.

a) Mostre que x2 − y 2 = (x − y)(x + y) para quaisquer x, y ∈ A se e


só se A é um anel abeliano.
b) Supondo que A é abeliano e x2 = y 2 , temos necessariamente
x = ±y?
1.8. 2o TESTE: 15/5/2002 7

5. Considere o grupo das raı́zes-4 da unidade, G = {1, i, −1, −i}, com o


produto usual de complexos, e o grupo (Z2 , +). Quais são os homo-
morfismos h : G → Z2 ? Sugestão: Comece por recordar que o núcleo
de h é um subgrupo de G.

1.8 2o Teste: 15/5/2002


1. Esta questão refere-se ao anel dos inteiros Z. Seja J =< 24 > o
conjunto dos múltiplos de 24, e K =< 36 > o conjunto dos múltiplos
de 36.

a) Qual é o menor elemento positivo de J ∩ K? Quais são os ele-


mentos de J ∩ K?
b) Qual é o menor ideal de Z que contém os ideais J e K?

2. Mostre que os números 1.999.991 e 1.999.994 são primos entre si.

3. Ainda no anel dos inteiros, considere a equação 105x + 154y = d.

a) Qual é o menor natural d para o qual a equação acima tem


soluções? Resolva a equação para esse natural d.
b) O elemento 105 tem inverso no anel Z154 ? Quantos elementos
tem < 105 >?
c) O subanel < 105 > tem identidade? Caso afirmativo, qual é essa
identidade?

4. Prove que se n é natural então


n
X n2 (n + 1)2
k3 = .
4
k=1

5. Sejam n, m ∈ N, D = mdc(n, m) e M = mmc(n, m). Prove que


nm = DM .
Sugestão: Supondo que n = aD e m = bD, mostre que qualquer
múltiplo comum de n e m é múltiplo de abD.

1.9 3o Teste: 7/6/2002


1. Considere p(x) = x4 + 2x3 + 2x + 2 e q(x) = x4 + 1 em Z3 [x].

a) Determine o máximo divisor comum de p(x) e q(x).


b) Qual é menor múltiplo comum de p(x) e q(x)?

2. Mostre que ( ∞
P n 2
P∞ 3n
n=0 x ) = (1 + 2x) n=0 x em Z3 [[x]].
8 CAPÍTULO 1. ENUNCIADOS DE TESTES

3. Considere o anel quociente A/I, onde A = Z2 [x], e I =< x2 + 1 >.

a) Quantos elementos tem o anel A/I?


b) Determine a tabuada da multiplicação em A/I.

4. Seja α ∈ R um número irracional algébrico sobre Q. Seja ainda J o


conjunto dos polinómios p(x) ∈ Q[x] tais que p(α) = 0.

a) Mostre que J =< m(x) >, onde m(x) é mónico e irredutı́vel em


Q[x].
b) Prove que Q[α] é um corpo.

c) Seja α = 3 2. Mostre que m(x) = x3 − 2, e determine a, b, c ∈ Q
tais que
1 √3

3

3
√3
= a + b 2 + c 4.
1+ 2+ 4

1.10 1o Teste: 18/3/2003


1. Seja S 1 = {z ∈ C : |z| = 1}.

a) Mostre que S 1 com o produto usual de complexos é um grupo.


b) Sendo n ∈ N e Rn = {z ∈ C : z n = 1}, mostre que Rn é um
subgrupo de S 1 .
c) Seja R = ∪∞ 1
n=1 Rn . R é igualmente um subgrupo de S ?

2. Determine todos os homomorfismos de grupo f : S3 → Z2 . (S3 é o


grupo das permutações em {1, 2, 3}, e Z2 o grupo aditivo com dois
elementos).

3. Sejam A e B anéis, e f : A → B um homomorfismo de anéis.

a) Prove que f (O) = O∗ , onde O e O∗ são os zeros de respectiva-


mente A e B.
b) Prove que f (−x) = −f (x) para qualquer x ∈ A.
c) Se x é invertı́vel em A, temos sempre f (x) invertı́vel em B?
d) Mostre que f (nx) = nf (x), para quaisquer n ∈ Z e x ∈ A.
Sugestão: Deve recordar a definição de na, para n ∈ Z e a ∈ G,
onde G é um qualquer grupo aditivo. Para n > 0, deve proceder
por indução.
1.11. 2o TESTE: 29/4/2003 9

1.11 2o Teste: 29/4/2003


1. a) Quantos divisores naturais tem 2.000?
b) Quantos naturais 1 ≤ k ≤ 2.000 são primos relativamente a
2.000?

2. Determine todas as soluções da equação 87x ≡ 3 (mod 6.000) em Z.

3. Determine todas as soluções da equação x2 y = 108, onde x e y são


inteiros. Sugestão: Recorde o teorema fundamental da Aritmética.

4. Suponha que a, b e m são inteiros fixos. Prove que

a) ax ≡ b (mod m) tem soluções inteiras x se e só se b é múltiplo


de mdc(a, m).
b) ax ≡ 0 (mod m) tem soluções x 6≡ 0 (mod m) se e só se ax ≡ 1
(mod m) não tem soluções (supondo m 6= 0).

5. Considere o ideal J =< 87 > em Z6000 .

a) Quantos elementos tem J? Quantos geradores tem J?


b) J tem identidade? Se J tem identidade, qual é a sua identidade?

1.12 3o Teste: 27/5/2003


1. Considere os polinómios p(x) = x3 + 25x2 + 10x − 5 e q(x) = 1 + x + x2
em Q[x].

a) Quais dos polinómios p(x) e q(x) são irredutı́veis em Q[x]?


b) Determine a(x), b(x) ∈ Q[x] tais que 1 = a(x)(1 + x + x2 ) +
b(x)(1 + x2 ).

2. Suponha que α ∈ R é um número irracional algébrico sobre Q. Seja


J =< m(x) > o conjunto dos polinómios p(x) ∈ Q[x] tais que p(α) = 0.

a) Supondo que m(x) tem grau n, prove que o espaço vectorial Q[α]
tem dimensão n sobre o corpo Q.
b) Prove que Q[α] é um corpo, e uma extensão algébrica de Q.

3. Suponha que p(x), q(x) ∈ Z[x]. Diga (com a correspondente justi-


ficação!) se cada uma das seguintes afirmações é falsa ou verdadeira.

a) Se p(x) é irredutı́vel em Q[x] então p(x) é irredutı́vel em Z[x].


b) Se p(x) e q(x) são primitivos, então p(x)q(x) é primitivo.
10 CAPÍTULO 1. ENUNCIADOS DE TESTES

4. Suponha que G e H são grupos finitos, respectivamente com n e m


elementos, e seja f : G → H um homomorfismo de grupos.

a) Prove que se f é injectivo então n é factor de m.


b) O que pode concluir sobre f se n e m são primos entre si?

1.13 1o Teste: 30/3/2004


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta
questão, (G, ∗) é um grupo, e (A, +, ×) é um anel unitário.

a) Qualquer subgrupo de G contém a identidade de G.


b) Se H e K são subgrupos de G, e H é um subgrupo normal de G,
então H ∩ K é um subgrupo normal de K.
c) Se B é um subanel de A, então B é também um anel unitário.
d) Se x, y ∈ A, então (x + y)2 = x2 + 2xy + y 2 .
e) Se a, b ∈ A e n ∈ Z então n(ab) = (na)b = a(nb).
f) Se a ∈ A, a equação x2 = a2 tem um número finito de soluções
em A.

2. Recorde que o grupo diedral Dn é o grupo de simetria do polı́gono


regular de n lados, e tem 2n elementos (n reflexões e n rotações).
Designamos por R2 o grupo multiplicativo das raı́zes quadradas da
unidade.

a) Seja f : Dn → R2 dada por



+1, se σ é uma rotação,
f (σ) =
−1, se σ é uma reflexão.

Mostre que f é um homomorfismo de grupos. Podemos concluir


daqui que as rotações em Dn formam um subgrupo normal de
Dn ?
b) Determine todos os subgrupos de D5 . Quais destes subgrupos são
normais? sugestão: Pode ser conveniente verificar que qual-
quer subgrupo que contenha uma rotação r 6= 1 contém todas as
rotações em D5 .

1.14 2o Teste: 27/4/2004


1. Esta questão refere-se a equações ax ≡ b (mod 216), com a, b, x ∈ Z.

a) Determine as soluções da equação homogénea 10x ≡ 0 (mod 216).


1.15. 3o TESTE: 25/5/2004 11

b) Determine as soluções da equação 10x ≡ 6 (mod 216).


c) Quantos naturais a ≤ 216 têm inverso (mod 216)?
2. Nesta questão, A é um anel unitário, com identidade I 6= 0, e φ : Z →
A é o homomorfismo de anéis dado por φ(n) = nI.
a) Prove que φ(Z) é o menor subanel de A que contém I.
b) Mostre que se A é ordenado e A+ = φ(N) então A é isomorfo a
Z. sugestão: Verifique primeiro que se A é ordenado então φ é
injectiva, i.e., a caracterı́stica de A só pode ser 0.
3. Designamos aqui por S(n) a soma dos divisores naturais de n ∈ N.
a) Quantos naturais d ≤ 4.000 são divisores de 4.000?
b) Determine S(4.000).
c) Resolva a equação S(n) = 399 = 3 × 7 × 19. sugestão: Quais
podem ser os factores pk na decomposição de n em produto de
potências de primos?

1.15 3o Teste: 25/5/2004


1. Este grupo refere-se ao anel A = Z1155 .
a) Determine uma solução particular da equação 60x = 15, com
x ∈ Z1155 . Quantas soluções tem esta equação?
b) O subanel B =< 60 >⊂ A tem identidade? Em caso afirmativo,
qual é essa identidade?
2. Neste grupo, p(x) ∈ Z3 [x], e F é o anel das funções f : Z3 → Z3 . De-
signamos por φ : Z3 [x] → F o homomorfismo de anéis que transforma
cada polinómio na respectiva função polinomial, e g : Z3 → Z3 é a
função dada por g(0) = g(1) = 2, e g(2) = 1.
a) Determine p(x) tal que φ(p(x)) = g.
b) Qual é a solução geral da equação φ(p(x)) = g?
3. Este grupo refere-se ao anel dos inteiros de Gauss Z[i].
a) Suponha que n, m ∈ Z, e p = n2 + m2 é um inteiro primo. Mostre
que n + mi é um elemento irredutı́vel de Z[i].
b) Considere o inteiro de Gauss z = 15(2 + 3i)2 . Quantos divisores
de z existem em Z[i]? sugestão: Como calcula o número de
divisores k ∈ N de um dado n ∈ N?
4. Seja K um corpo e A = K [[x]] o anel das séries de potências com
coeficientes em K.
12 CAPÍTULO 1. ENUNCIADOS DE TESTES

a) P
Mostre que os elementos invertı́veis de A são as séries da forma
∞ n
n=0 an x , com a0 6= 0.
b) A é um d.i.p. e/ou um d.f.u.?

1.16 1o Teste: 31/3/2005


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta
questão, (G, ∗) é um grupo, e (A, +, ×) é um anel unitário.

a) Qualquer subgrupo de G contém a identidade de G.


b) Qualquer subanel unitário de A contém a identidade de A.
c) Se x ∈ G e x2 = e, onde e é a identidade de G, então x = e.
d) Se x ∈ A e x2 = 0 então x = 0.

2. O grupo GL(2, R) é formado pelas matrizes 2 × 2, invertı́veis, com


entradas em R, com o produto usual de matrizes. Para cada um dos
seguintes exemplos, diga se H é um subgrupo de GL(2, R), e, caso
afirmativo, se H é um subgrupo normal de GL(2, R).
 
a 0
a) H = { , ab 6= 0}.
0 b
b) H = {M ∈ GL(2, R) : det(M ) = 1}.

3. Nesta questão, G = {1, i, −1, −i} é o grupo multiplicativo das raı́zes


quartas da unidade, e Z2 = {0, 1} é o usual grupo aditivo com dois
elementos.

a) Determine todos os homomorfismos de grupo f : Z2 → G.


b) Suponha que H é um grupo, e g : G → H é um homomorfismo
sobrejectivo. Classifique o grupo H.

1.17 2o Teste: 28/4/2005


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo.

a) Todos os grupos não abelianos com 8 elementos são isomorfos


entre si.
b) No grupo diedral Dn (grupo de simetria do polı́gono regular de
n lados), as rotações formam um subgrupo normal de Dn .
c) Se n, m ∈ N, mdc(n, m) = 1 e n|mk então n|k.
1.18. 3o TESTE: 25/5/2005 13

2. Neste grupo, x, y e z0 são números inteiros.

a) Qual é o menor natural z0 para o qual a equação 2279x+731y =


z0 tem soluções?
b) Sendo z0 o natural determinado na alı́nea anterior, qual é o
menor natural x que é solução da equação 2279x + 731y = z0 ?

3. Suponha que n 6= 4 é um natural, e mostre que n|(n − 1)! se e só se n


não é primo. sugestão: Considere sucessivamente os casos

(1) n é primo,
(2) Existem 1 < k < m < n tais que n = mk, e
(3) n = m2 .

1.18 3o Teste: 25/5/2005


1. Esta questão refere-se ao anel Z808 .

a) Quantos subanéis existem em Z808 ? Quantos elementos de Z808


são invertı́veis? Quantos elementos de Z808 são divisores de zero?
b) Quantos elementos tem o subanel < 303 >? Quais são os seus
geradores? Qual é a sua identidade?

2. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando


a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo.

a) O polinómio x3 + x2 + x + 2 é irredutı́vel em Z3 [x].


b) A equação 1 = p(x)(x3 +x2 +x+2)+q(x)(x2 +2x+2) tem soluções
p(x), q(x) ∈ Z3 [x], mas não tem soluções p(x), q(x) ∈ Z5 [x].
c) Exactamente um dos subanéis de Z808 é um corpo.

3. Recorde que, se p ∈ N é primo, então todos os elementos a ∈ Z∗p


satisfazem ap−1 = 1. Recorde igualmente o Teorema do Resto.

a) Quais são os factores irredutı́veis do polinómio xp−1 −1 em Zp [x]?


b) Use a factorização acima para concluir que (p − 1)! ≡ −1 mod p.

1.19 1o Teste: 27/3/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta
questão, (G, ∗) é um grupo, e (A, +, ×) é um anel unitário.

a) A equação x2 = x tem uma única solução em G, que é a identi-


dade de G.
14 CAPÍTULO 1. ENUNCIADOS DE TESTES

b) Se f : G → G é um homomorfismo de grupos, então o núcleo de


f é um subgrupo normal de G.
c) Se B é um subanel de A, então B é também um ideal de A.
d) Se f : A → A é um homomorfismo de anéis, então f (nx) = nf (x),
para quaisquer x ∈ A e n ∈ N.
e) Se a ∈ A, a equação x2 = a2 só tem as soluções x = ±a.

2. Designamos aqui por Rn = {z ∈ C : z n = 1} o grupo das raı́zes-n da


unidade com o produto usual de complexos.

a) Mostre que se n é múltiplo de m então Rm é subgrupo de Rn .


b) O grupo R2 ⊕ R4 é isomorfo a R8 ?
c) Considere o homomorfismo de grupos f : R12 → C∗ dado por
f (x) = x3 . Qual é o núcleo de f e a imagem f (R12 )? Quais são
as soluções da equação f (x) = −1?

1.20 2o Teste: 8/5/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta convenientemente.

a) A equação 2491x + 829y = 11 tem soluções x, y ∈ Z.

b) A soma dos divisores de 100.000 é superior a 250.000.

c) Qualquer anel ordenado A 6= {0} é infinito.

d) O natural 21995 − 1 não é primo.

2. Considere nesta questão o anel A = Z75 , e seja B o subanel de A com


15 elementos.

a) Quais são os ideais de A? Quantos elementos tem cada um desses


ideais?

b) Quantos divisores de zero existem em A? Quantos elementos tem A∗ ?

c) O anel B é isomorfo ao anel Z15 ? Quais são os geradores de B, i.e.,


quais são os elementos x ∈ B tais que B =< x >?

d) Determine todas as soluções da equação x2 = 1 em A.


1.21. 3o TESTE: 5/6/2006 15

3. Numa aplicação do algoritmo de criptografia RSA, sabe-se que a chave


pública é r = 49, e o módulo é N = 10.403. Observando que 10.403 é
o produto dos primos 101 × 103, qual é o valor da chave privada?

1.21 3o Teste: 5/6/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo.

a) Existem polinómios p(x) ∈ Z[x] que são irredutı́veis em Q[x] e re-


dutı́veis em Z[x].

b) Se D é um domı́nio integral, então qualquer elemento x ∈ D que seja


primo é irredutı́vel.

c) Os anéis Q[ 3 2] e Q[x]/ < x3 − 2 > são corpos, e são isomorfos.

d) Se K é um corpo, e m(x) ∈ K[x] é um polinómio irredutı́vel com grau


≥ 2, existe um corpo L que é uma extensão de K onde m(x) tem pelo
menos uma raı́z.

2. Observe que 845 = 5 × 132 .

a) Quantos divisores tem 845 no anel dos inteiros de Gauss?

b) Quais são os naturais n, m tais que 845 = n2 + m2 ?

3. Suponha que G é um grupo com 14 elementos, e recorde que G tem


pelo menos um elemento de ordem 2.

a) Mostre que G tem subgrupos H e K com |H| = 2 e |K| = 7.

b) Mostre que G = HK. Teremos sempre G ' H ⊕ K? sugestão:


Observe que H ⊕ K é comutativo.
16 CAPÍTULO 1. ENUNCIADOS DE TESTES
Capı́tulo 2

Enunciados de Exames

2.1 1o Exame: 1/7/2002


1. Neste grupo, G e H são grupos, e a identidade de G designa-se por I. Para
cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é verdadeira,
com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.
a) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, f (I) é a identidade de
H.
b) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, o núcleo de f é um
subgrupo normal de G.
c) Se A e B são subgrupos de G então A ∩ B é subgrupo de G.
d) Se A e B são subgrupos de G então AB = BA se e só se AB é subgrupo
de G.
2. Nesta questão, A é um domı́nio integral com identidade 1 e zero 0, onde
1 6= 0. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é
verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.
a) Os elementos invertı́veis de A formam um grupo.
b) A identidade de qualquer subanel B 6= 0, se existir, é 1.
c) Qualquer ideal de A é principal.
d) Se J é um ideal maximal de A, então A/J é um corpo.
3. Considere o grupo aditivo (e anel) Z900 .
a) Quantos subgrupos existem em Z900 ? Sendo n um qualquer divisor de
900, quantos destes subgrupos têm exactamente n elementos?
b) Quantos elementos invertı́veis existem no anel Z900 ? Quantos auto-
morfismos do grupo Z900 existem?

17
18 CAPÍTULO 2. ENUNCIADOS DE EXAMES

c) Considere o homomorfismo de grupos f : Z900 → Z30 dado por f (x) =


24x. Determine o núcleo de f , e diga se f é sobrejectivo.

d) Continuando a alı́nea anterior, resolva a equação f (x) = 18.

4. Nesta questão, G é um grupo não-abeliano com 6 elementos.

a) Prove que nenhum elemento de G tem ordem 6, mas que existe pelo
menos um elemento ε de G com ordem 3. Sugestão: Mostre que, caso
contrário, G seria abeliano.

b) Sendo ε um elemento de G de ordem 3, e H = {1, ε, ε2 } o subgrupo


gerado por ε, mostre que H é normal em G. Sugestão: Qual é o ı́ndice
de H em G?

c) Suponha que α ∈6 H, e mostre que α2 = 1. Sugestão: No grupo


quociente G/H, a ordem do elemento α é 2. Qual pode ser a ordem
de α em G?

d) Como αH = Hα, o produto αε só pode ser εα ou ε2 α. Conclua que


G é necessariamente isomorfo a S3 .

2.2 2o Exame: 24/7/2002


1. Neste grupo, K ⊆ H são subgrupos do grupo G. Para cada uma das
afirmações seguintes, mostre que a afirmação é verdadeira, com uma demon-
stração, ou falsa, com um contra-exemplo.

a) Se K é normal em G então K é normal em H.

b) Se K é normal em H então K é normal em G.

c) Se G é um grupo cı́clico infinito então G é isomorfo a (Z, +).

d) Se K é normal em G e x ∈ G, então a ordem de x em G/K é factor


da ordem de x em G.

2. Nesta questão, A é um domı́nio integral com identidade 1 e zero 0, onde


1 6= 0. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é
verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.

a) A caracterı́stica de A é 0, ou um número primo p.

b) O anel A[x] é também um domı́nio integral.

c) Qualquer ideal em A[x] é principal.

d) Existe um corpo K com um subanel isomorfo a A.


2.3. 1o EXAME: 4/7/2003 19

3. Considere o grupo aditivo (e anel) Z36 .


a) Quantos subgrupos existem em Z36 ? Quantos geradores tem Z36 ?

b) Suponha que B é um subanel de Z36 , com identidade a, e n elementos.


Mostre que a caracterı́stica de B é um factor de 36, e que a ordem de
qualquer elemento de B é um factor da caracterı́stica de B. (sugestão:
se ma = 0, então mx = 0 para qualquer x ∈ B)

c) Conclua que a caracterı́stica de B é n, donde a é um gerador de B, e


d = mdc(a, 36) = 36/n.

d) Conclua finalmente que se B tem identidade a, então mdc(d, n) = 1.


Determine todos os subanéis de Z36 com identidade, e calcule essas
identidades.
4. Nesta questão, G e H são grupos.
a) Prove que se f : G → H é um homomorfismo injectivo, o número de
elementos de G é factor do número de elementos de H. O que pode
concluir se f é sobrejectivo?

b) Se G e H são os grupos aditivos Zn e Zm , onde n é factor de m, existe


sempre algum homomorfismo injectivo f : G → H? Se G = Z6 e
H = Z24 , quantos homomorfismos injectivos existem?

c) Supondo que H = Z6 , e f : G → H é injectivo, classifique o grupo G.

d) Supondo que G = Z6 , e f : G → H é sobrejectivo, classifique o grupo


H.

2.3 1o Exame: 4/7/2003


1. Neste grupo, G e H são grupos, e N é um subgrupo de G. Para cada
uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é verdadeira, com
uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.
a) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, f (G) é um subgrupo
de H.

b) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, f (xn ) = f (x)n para


qualquer n ∈ Z.

c) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos finitos, o número de


elementos de f (G) é um divisor comum do número de elementos de G
e do número de elementos de H.

d) Se X = {xN : x ∈ G} e Y = {N y : y ∈ G} então X e Y têm o mesmo


cardinal.
20 CAPÍTULO 2. ENUNCIADOS DE EXAMES

2. Nesta questão, D é um domı́nio integral com identidade 1 e zero 0, onde


1 6= 0. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é
verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.
a) Qualquer subanel B de D tem identidade.

b) Qualquer subgrupo de (D, +) é um subanel de D.

c) Se D é finito então D contem um subanel B isomorfo a algum Zm .

d) Se D é um d.f.u., a equação mdc(a, b) = ax+by tem soluções x, y ∈ D.


3. Considere o grupo aditivo (e anel) Z833 .
a) Seja f : Z → Z833 o homomorfismo de grupos dado por f (n) = 357n.
Quantos elementos tem a imagem f (Z)? Qual é o núcleo de f ?

b) Quais são os grupos Zm tais que h : Zm → Z833 dado por h(n) = 357n
está bem definido, e é um homomorfismo de grupos? Para que valor
de m é que h é um isomorfismo?

c) f (Z) é também um anel? E se é um anel, é isomorfo a um anel Zk ?

d) Quais dos seguintes anéis são isomorfos entre si: Z1000 , Z2 ⊕ Z500 ,
Z4 ⊕ Z250 , Z8 ⊕ Z125 ?
4. Nesta questão, K é um corpo, m(x) ∈ K[x], A = K[x]/ < m(x) >, e
π : K[x] → A é o usual homomorfismo de anéis π(p(x)) = p(x).
a) Prove que os ideais de A são da forma π(J), onde J é um ideal de
K[x]. Conclua que A é um d.i.p., ou seja, todos os seus ideais são
principais.

b) Mostre que os ideais de A são da forma < d(x) >, onde d(x)|m(x)
em K[x]. Sugestão: Mostre que < p(x) >=< d(x) >, onde d(x) =
mdc(p(x), m(x)) em K[x].

c) Supondo K = Z3 , e m(x) = x3 + 2x, quantos elementos podem ter


os ideais de A? Quantos ideais com n elementos existem, para cada
possı́vel valor de n? Quantos elementos invertı́veis existem em A?

d) Supondo K = Z3 , e m(x) = x3 +2x, o anel A é isomorfo a Z3 ⊕Z3 ⊕Z3 ?

2.4 2o Exame: 21/7/2003


1. Nesta questão, G e H são grupos multiplicativos, e f : G → H é um
homomorfismo de grupos. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre
que a afirmação é verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um
contra-exemplo.
2.4. 2o EXAME: 21/7/2003 21

a) f (x−1 ) = f (x)−1 para qualquer x ∈ G.

b) O núcleo de f é um subgrupo normal de G.

c) Se f é sobrejectivo, e G é finito, então |H| é factor de |G|.

d) Se G é um grupo cı́clico com n elementos, e k é factor de n, então


existe pelo menos um elemento de G com ordem k.
2. Nesta questão, p(x), q(x) ∈ Z[x] são polinómios com coeficientes in-
teiros. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é
verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.
a) Se p(x) é irredutı́vel em Q[x], então p(x) é irredutı́vel em Z[x].

b) Se p(x) é irredutı́vel em Z[x], então p(x) é irredutı́vel em Q[x].

c) Se q(x)|p(x) em Z[x], e p(x) é primitivo, então q(x) é primitivo.

d) Se q(x)|p(x) em Q[x], então existe k ∈ Q tal que kq(x)|p(x) em Z[x].


3. Considere o grupo aditivo (e anel) Z300 .
a) Quantos subgrupos tem Z300 ?

b) Quantos homomorfismos sobrejectivos de grupo h : Z600 → Z300 ex-


istem? Quais destes homomorfismos são também homomorfismos de
anel?

c) Quantos homomorfismos de grupo f : Z600 → Z300 existem, tais que


f (Z) tem 100 elementos? Prove que f (Z) é um anel isomorfo ao anel
Z100 .

d) Quais dos seguintes grupos são isomorfos entre si: Z300 , Z6 ⊕ Z50 ,
Z100 ⊕ Z3 , Z10 ⊕ Z30 ?
4. Nesta questão, G é um grupo finito, e A e B são subgrupos de G.
AB = {xy : x ∈ A e y ∈ B}.
a) Prove que A ∩ B é um subgrupo de G. O conjunto AB é sempre um
subgrupo de G?

b) Prove que |AB||A ∩ B| = |A||B|. Sugestão: Mostre que a função


f : A/(A ∩ B) → G/B está bem definida por f (x(A ∩ B)) = xB, e é
injectiva. Mostre também que a união das classes em f (A/A ∩ B) é
exactamente AB.

c) Suponha que G é um grupo abeliano com 10 elementos. Prove que


G tem necessariamente um elemento x com ordem 5, e um elemento
y com ordem 2, e conclua que G é o grupo Z10 . Sugestão: Qual é a
ordem de xy?
22 CAPÍTULO 2. ENUNCIADOS DE EXAMES

d) Mostre que, se G é um grupo não-abeliano com 10 elementos, então G


tem um elemento x com ordem 5, e se y 6∈< x > então y tem ordem
2. Conclua que xy = yx4 , e portanto que existe apenas um grupo
não-abeliano com 10 elementos, que só pode ser D5 .

2.5 1o Exame: 9/7/2004


1. Diga se cada afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a sua resposta
com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão, G e H são
grupos, f : G → H é um homomorfismo de grupos, e N é o núcleo de f .
a) Se e é a identidade de G, então f (e) é a identidade de H.
b) Se K é um subgrupo de H, então f −1 (K) é um subgrupo de G que
contém N .
c) Se todos os elementos de G têm ordem finita então G é finito.
d) Se |G| = 15 e |H| = 25, então f (G) é um grupo cı́clico.
2. Diga se cada afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a sua resposta
com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão, A e B são
anéis, A é um domı́nio integral, f : A → B é um homomorfismo sobrejectivo
de anéis, e N é o núcleo de f .
a) N é um ideal de A.
b) Se a é invertı́vel em A, então f (a) é invertı́vel em B.
c) B é um domı́nio integral.
d) Se B é um corpo, então N é um ideal máximo de A.
3. Neste grupo, n designa a classe de equivalência do inteiro n em Z1800 .
a) Quantos subgrupos tem Z1800 ? Quais são os geradores do subgrupo
gerado por 1300?
b) Considere os grupos Z25 ⊕ Z72 , Z20 ⊕ Z90 , Z200 ⊕ Z9 , e Z40 ⊕ Z45 . Quais
destes grupos são isomorfos entre si?
c) Quantos homomorfismos de grupo f : Z1800 → Z1800 existem, com
núcleo N (f ) =< 1300 >? sugestão: Determine primeiro f (Z1800 ).

d) Supondo que g : Z → Z40 ⊕ Z45 é um homomorfismo de anéis, classi-


fique o anel g(Z).
4. Considere o anel Z3 [x], e o polinómio p(x) = x3 + 2x + 1. Nesta questão,
quando m(x) ∈ Z3 [x], designamos por m(x) a correspondente classe no anel
quociente K = Z3 [x]/ < p(x) >.
2.6. 2o EXAME: 24/7/2004 23

a) Qual é o inverso de x2 + 1 em K[x]?

b) Mostre que K é um corpo, e uma extensão algébrica de Z3 . K[x] é


um d.f.u.?

c) Decomponha p(x) em factores irredutı́veis em K[x]. sugestão: Para


factorizar polinómios quadráticos com coeficientes em K, pode “com-
pletar o quadrado”.

d) Seja α ∈ K, α 6∈ Z3 . Prove que Z3 (α) é isomorfo a K, e em particular


α é raı́z de um polinómio irredutı́vel do terceiro grau n(x) ∈ Z3 [x].

2.6 2o Exame: 24/7/2004


1. Diga se cada afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a sua resposta
com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão, G é um
grupo, e K e H são subgrupos de G.

a) Se x, y ∈ G, então (xy)−1 = y −1 x−1 .

b) Se K é subgrupo normal de G, então K ∩ H é subgrupo normal de H.

c) Os automorfismos de G formam um grupo, com a operação de com-


posição.

d) Se K é subgrupo normal de G, então existe um grupo L e um homo-


morfismo de grupos f : G → L tal que K é o núcleo de f .

2. Diga se cada afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a sua resposta


com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão, A e B são
anéis unitários, e f : A → B é um homomorfismo de anéis.

a) Se a é invertı́vel em A, então f (a) é invertı́vel em B.

b) A imagem f (A) é um ideal de B.

c) Se A = Z, então f (n) = nb, onde b2 = b.

d) Se B é finito e tem mais de um elemento, então B tem um subanel


isomorfo a algum Zm , onde m > 1.

3. Neste grupo, n designa a classe de equivalência do inteiro n em Z990 .

a) Quantos subgrupos tem Z990 ? Quantos destes são anéis unitários?

b) Quantos automorfismos de grupo f : Z990 → Z990 existem?

c) Quantos ideais existem em Z15 ⊕ Z66 ? Existem subanéis de Z15 ⊕ Z66


que não são ideais de Z15 ⊕ Z66 ?
24 CAPÍTULO 2. ENUNCIADOS DE EXAMES

d) Determine os homomorfismos de anel g : Z33 → Z990 .

4. Considere o anel Z3 [x], e o polinómio p(x) = x3 + 2x2 + x + 2. Nesta


questão, quando m(x) ∈ Z3 [x], designamos por m(x) a correspondente
classe no anel quociente K = Z3 [x]/ < p(x) >.

a) O elemento x2 + x + 1 tem inverso?

b) Quais são os ideais de K?

c) Quantos elementos invertı́veis existem em K?

d) Quais são os ideais I de K para os quais o anel quociente K/I é


isomorfo a algum Zm ?

2.7 1o Exame: 1/7/2005


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(G, ∗) é um grupo, com identidade 1.

a) A equação x2 = x só tem uma solução x ∈ G.

b) Se H e K são subgrupos de G, então H ∪ K é um subgrupo de G.

c) Se G é finito e tem um número ı́mpar de elementos, então a equação


x2 = 1 só tem a solução x = 1.

d) Se G é finito e tem um número par de elementos, então a equação


x2 = 1 tem soluções x 6= 1.

2. Neste grupo, f : Z → Z180 é dada por f (n) = 63n.

a) Determine o número de subanéis, e de geradores, do anel Z180 .

b) Mostre que a função f é um homomorfismo de grupo. Qual é o núcleo


de f ? Determine as soluções da equação f (n) = 9.

c) Mostre que o grupo f (Z) é isomorfo a Zm , para um valor apropriado


de m que deve calcular. Quais são os subgrupos de f (Z)?

d) f será também um homomorfismo de anel? Os anéis Zm e f (Z) são


isomorfos?

3. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a


sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
A é um anel abeliano unitário, com identidade I.

a) Todos os subanéis de A são unitários.


2.8. 2o EXAME: 18/7/2005 25

b) Todos os subgrupos de (A, +) são igualmente subanéis.

c) Se A é um corpo finito, então a sua caracterı́stica é um número primo.

d) Se A é finito, existe um subanel de A isomorfo a algum anel Zn .

4. Neste grupo, consideramos o anel quociente

A = Z3 [x]/J, onde J =< x3 + x2 + x + 1 > .

a) Quantos elementos existem no anel A? Quais são os elementos da


forma < x + a > que são invertı́veis?

b) Quais são os divisores de zero em A?

c) Mostre que A é um domı́nio de ideais principais.

d) Classifique os anéis quociente da forma A/K, onde K é um ideal de


A.

2.8 2o Exame: 18/7/2005


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(G, ∗) é um grupo, com identidade 1.

a) A equação x3 = x só tem uma solução x ∈ G.

c) Se H e K são subgrupos normais de G e K ⊇ H, então K/H é um


subgrupo normal de G/H.

d) Se G tem 11 elementos então G ' Z11 .

2. As questões seguintes referem-se a grupos ou anéis Zn . Os homomorfismos


e isomorfismos referidos são de grupo, excepto quando a sua natureza é
referida explicitamente.
a) Determine o número de subgrupos, e de geradores, do grupo Z495 .

b) Existe algum homomorfismo injectivo f : Z495 → Z595 ? Existe algum


homomorfismo sobrejectivo f : Z495 → Z395 ? Quantos homomorfismos
f : Z495 → Z295 existem?

c) Quais dos seguintes grupos são isomorfos entre si?

Z3 ⊕ Z165 , Z9 ⊕ Z55 , Z99 ⊕ Z5 , Z15 ⊕ Z33 .

d) Determine todos os homomorfismos injectivos de anel f : Z495 → Z990 .


Quantos homomorfismos sobrejectivos de anel f : Z495 → Zn existem?
26 CAPÍTULO 2. ENUNCIADOS DE EXAMES

3. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando


a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Neste grupo,
D é um domı́nio integral.

a) Se C é um subanel unitário de D com mais de um elemento, então C


contém a identidade de D.

b) Se D é um domı́nio de ideais principais, então D[x] é um domı́nio de


ideais principais.

c) Se os únicos ideais de D são os triviais ({0}, e D), então D é um corpo.

d) Se D é um domı́nio de ideais principais, então qualquer elemento irre-


dutı́vel em D é primo em D.

4. Este grupo diz respeito ao anel dos inteiros de Gauss Z[i].


a) Dado o natural n > 1, se a equação n = x2 + y 2 tem soluções x, y ∈ N,
é possı́vel que n seja primo em Z[i]?

b) Se o natural n é primo em Z, e a equação n = x2 + y 2 não tem soluções


x, y ∈ N, é possı́vel que n seja redutı́vel em Z[i]?

c) Quantos divisores de 1105 existem em Z[i]? Determine todas as soluções


naturais da equação x2 + y 2 = 1105. (Nota: 13 é factor de 1105.)

d) Quais são os naturais n para os quais o anel quociente Z[i]/ < n > é
um corpo?

2.9 1o Exame: 7/7/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(G, ∗) é um grupo.
a) Qualquer subgrupo de G contém a identidade de G.

b) Se H e K são subgrupos de G, então H ∪ K é um subgrupo de G.

c) Se G tem 17 elementos, então G ' Z17 .

d) Os grupos Z4 ⊕ Z18 e Z6 ⊕ Z12 são isomorfos.


2. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(A, +, ×) é um anel unitário, com identidade 1.
a) Qualquer subanel unitário de A com mais de um elemento contém a
identidade de A.
2.10. 2o EXAME: 21/7/2006 27

b) Qualquer subgrupo de (A, +) é um subanel de (A, +, ×).

c) O anel Q[x]/ < x3 − 1 > tem exactamente 4 ideais.

d) O anel Z[i]/ < 37 > é um corpo.

3. Considere o anel Z1325 .

a) Quantos geradores e quantos divisores de zero existem em Z1325 ?

b) Quais são os homomorfismos de grupo φ : Z505 → Z1325 ?

c) Quais são os subanéis de Z1325 que são corpos?

d) Determine os homomorfismos de anel ϕ : Z → Z1325 .

4. Suponha que G é um grupo com 2p elementos, onde p 6= 2 é um


número primo. Recorde que G tem pelo menos um elemento α com ordem
2.

a) Prove que G contém pelo menos um elemento ε de ordem p

b) Prove que x ∈ G tem ordem p se e só se x ∈ H =< ε >= {1, ε, ε2 , · · · , εp−1 }


e x 6= 1.

c) Os elementos de G são da forma x = αn εm , com 0 ≤ n < 2, e 0 ≤


m < p. Qual é a ordem de cada um destes elementos? sugestão:
a resposta depende de G ser abeliano ou não, portanto os dois casos
devem ser analisados separadamente.

d) Suponha que G não é abeliano e φ : G → N é um homomorfismo so-


brejectivo. Classifique o grupo N . sugestão: quais são os subgrupos
normais de G?

2.10 2o Exame: 21/7/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(G, ∗) é um grupo, com identidade 1, e H e K são subgrupos de G.

a) Se x, y ∈ G então (xy)−1 = y −1 x−1 .

b) H ∩ K é um subgrupo de G.

c) Se |G| = 100, a equação x7 = 1 só tem uma solução x ∈ G.

d) Se |G| = 15 e G é abeliano então G ' Z15 .


28 CAPÍTULO 2. ENUNCIADOS DE EXAMES

2. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a


sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(D, +, ×) é um domı́nio integral, com identidade 1.

a) Qualquer subanel unitário de D com mais de um elemento contém a


identidade de D.

b) Qualquer subanel de D é um ideal de D.

c) Se os ideais de D são apenas os triviais ({0} e D) então D é um corpo.

d) Se D é um d.f.u., então todos os seus elementos irredutı́veis são primos.

3. Considere o anel Z775 .

a) Quantos subanéis tem Z775 ? Quantos divisores de zero existem em


Z775 ?

b) Z775 tem um subanel B com 155 elementos. Quantos geradores tem o


subanel B?

c) Resolva a equação x2 = 0, com x ∈ Z775 .

d) Quantos homomorfismos de grupo ϕ : Z775 → D31 existem? (Recorde


que D31 é o grupo diedral formado pelas simetrias do polı́gono regular
de 31 lados.)

4. Considere o anel K = Z5 [x]/ < p(x) >, onde p(x) = x3 +2x2 +2x+1.
Note que p(4) = 0.

a) Determine o número de elementos do anel K, e verifique que K não é


um corpo.
<α(x)>
b) Mostre que os ideais de K são da forma <p(x)> , onde α(x)|p(x).

c) Quantos ideais existem em K? Quantos subgrupos existem em K?

d) Sendo a(x) e b(x) factores irredutı́veis de p(x), mostre que

Z5 [x] Z5 [x]
K' ⊕ .
< a(x) > < b(x) >

sugestão: Determine um homomorfismo de anéis apropriado

Z5 [x] Z5 [x]
φ : Z5 [x] → ⊕
< a(x) > < b(x) >
Capı́tulo 3

Testes Resolvidos

3.1 1o Teste: 10/4/2002


1. Mostre que o grupo (Z4 , +) não é isomorfo ao grupo (Z2 ⊕ Z2 , +).
resolução: Suponha-se que f : Z4 → Z2 ⊕ Z2 é um homomorfismo
de grupos. Vamos verificar que f não pode ser injectiva, ou seja, f
não pode ser um isomorfismo, porque a tabuada de Z2 ⊕ Z2 só tem o
elemento neutro na diagonal principal, o que não é o caso da tabuada
de Z4 .
Temos f (0) = (0, 0), porque qualquer homomorfismo transforma a
identidade do grupo de partida na identidade do grupo de chegada.
Em Z4 temos 1 + 1 = 2 6= 0, e em Z2 ⊕ Z2 temos x + x = (0, 0) para
todos os elementos x ∈ Z2 ⊕ Z2 . Notamos que

f (2) = f (1 + 1) = f (1) + f (1) = (0, 0) = f (0).

Portanto f não é injectivo, e f não é um isomorfismo.

2. Seja H = {A ∈ Mn (R) : det(A) = 1}.

a) Mostre que H com o produto usual de matrizes é um grupo.


resolução: Sabemos da Álgebra Linear que o produto de ma-
trizes é associativo, e tem identidade (a matriz identidade I).
• Temos det(I) = 1, e portanto I ∈ H, e H 6= ∅.
• Sendo A, B ∈ H, temos det(AB) = det(A) det(B) = 1 × 1 =
1 ⇒ AB ∈ H, ou seja, H é fechado em relação ao produto.
• Se A ∈ H então A é invertı́vel, porque det(A) = 1 6= 0, e
det(A−1 ) = 1/ det(A) = 1, ou seja, A ∈ H ⇒ A−1 ∈ H.
Podemos assim concluir que H é um grupo com o produto usual
de matrizes.

29
30 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

b) Sendo G o grupo formado por todas as matrizes invertı́veis, com


a mesma operação, mostre que H é um subgrupo normal de G.
resolução: Sabemos da alı́nea anterior que H é um subgrupo
de G (porque H é um grupo, está contido em G, e as operações
em H e G são a mesma). Temos apenas que verificar que A ∈ H
e B ∈ G ⇒ B −1 AB ∈ H, o que resulta de det(B −1 AB) =
det(B −1 ) det(A) det(B) = det(B −1 ) det(B) = 1.

3. Sendo J e K ideais de um dado anel A, prove que L = {x + y : x ∈


J, y ∈ K} é um ideal de A.
resolução: Temos que verificar que L é um subanel de A, que é
além disso fechado em relação ao produto por elementos de A. Mais
exactamente, temos que mostrar que:

• L 6= ∅,
• b, b0 ∈ L ⇒ b − b0 ∈ L (L é fechado em relação à diferença)
• b ∈ L e a ∈ A ⇒ ab, ba ∈ L (L é fechado em relação ao produto
por a ∈ A)

Seja 0 o zero do anel A. Então 0 = 0 + 0 ∈ L, porque 0 ∈ J e


0 ∈ K(qualquer subgrupo de (A, +) contém o respectivo elemento
neutro), e portanto L 6= ∅. Se b, b0 ∈ L então b = x + y e b0 = x0 + y 0 ,
onde x, x0 ∈ J e y, y 0 ∈ K. Temos b − b0 = (x + y) − (x0 + y 0 ) =
(x − x0 ) + (y − y 0 ). Como J e K são subanéis, são fechados em relação
à diferença, e portanto x − x0 ∈ J e y − y 0 ∈ K, i.e., b − b0 ∈ L. Temos
ab = a(x + y) = ax + ay, e ba = (x + y)a = xa + ya. Como J e K
são ideais, são fechados em relação ao produto por elementos de A, e
ax, xa ∈ J, e ay, ya ∈ K. Segue-se que ab, ba ∈ L.

4. Suponha que x e y pertencem a um anel A.

a) Mostre que x2 − y 2 = (x − y)(x + y) para quaisquer x, y ∈ A se e


só se A é um anel abeliano.
resolução: (x−y)(x+y) = (x−y)x+(x−y)y = x2 −yx+xy−y 2 .
É portanto evidente que (x − y)(x + y) = x2 − y 2 ⇔ −yx + xy =
0 ⇔ yx = xy.
b) Supondo que A é abeliano e x2 = y 2 , temos necessariamente
x = ±y?
resolução: Não. Eis alguns contra-exemplos, como: (basta
indicar um, bem entendido!)
• O anel Z4 , tomando x = 0 e y = 2, donde x2 = y 2 = 0, mas
−2 = 2 6= 0.
3.2. 2o TESTE: 15/5/2002 31

• A soma directa R ⊕ R, ou (o que é basicamente o mesmo


exemplo) as matrizes 2 × 2 diagonais, com a soma e produto
de matrizes.
• As funções f : R → R com a soma e produto usuais de
funções tomando, por exemplo, f (x) = 1 para qualquer x, e
g(x) = 1 para x ≥ 0, e g(x) = −1 para x < 0.

5. Considere o grupo das raı́zes-4 da unidade, G = {1, i, −1, −i}, com o


produto usual de complexos, e o grupo (Z2 , +). Quais são os homo-
morfismos h : G → Z2 ? Sugestão: Comece por recordar que o núcleo
de h é um subgrupo de G.
resolução: G tem apenas 3 subgrupos, a saber: o próprio G, o
subgrupo trivial {1}, e {1, −1}. Portanto teremos N (h) = G, ou
N (h) = {1}, ou N (h) = {1, −1}.

• Se N (h) = G, temos h(x) = 0 para qualquer x ∈ G, e h é um


homomorfismo de grupos.
• Se N (h) = {1} então h é injectiva, o que é impossı́vel, porque G
tem 4 elementos, e Z2 tem apenas 2 elementos.
• Se N (h) = {1, −1}, então h(1) = h(−1) = 0, e h(i) 6= 0, h(−i) 6=
0. Claro que neste caso teremos necessariamente h(i) = h(−i) =
1. A equação h(xy) = h(x) + h(y) é válida quando
◦ x = ±1, y = ±1: porque se reduz a 0 = 0 + 0.
◦ x = ±i, y = ±i: porque a equação reduz-se a 0 = 1 + 1.
◦ x = ±1, y = ±i, ou x = ±i, y = ±1: porque a equação se
reduz a 1 = 0 + 1, ou 1 = 1 + 0.

3.2 2o Teste: 15/5/2002


1. Esta questão refere-se ao anel dos inteiros Z. Seja J =< 24 > o
conjunto dos múltiplos de 24, e K =< 36 > o conjunto dos múltiplos
de 36.

a) Qual é o menor elemento positivo de J ∩ K? Quais são os ele-


mentos de J ∩ K?
resolução: J ∩ K é o conjunto dos múltiplos comuns a 24 e 36.
O seu menor elemento positivo é o menor múltiplo comum de 24
e 36, i.e., 72. Os seus elementos são os múltiplos de 72.
b) Qual é o menor ideal de Z que contém os ideais J e K?
resolução: Qualquer ideal que contenha J contém 24, e é por
isso gerado por um divisor de 24. Analogamente, se um ideal
contém K então é gerado por um divisor de 36. Concluimos que
32 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

um ideal que contenha J e K é gerado por um divisor comum de


24 e 36. Esse ideal será tanto menor quanto maior for esse divisor
comum. Portanto o menor ideal que contém J e K é gerado
pelo máximo divisor comum de 24 e 36,ou seja, é o conjunto dos
múltiplos de 12.

2. Mostre que os números 1.999.991 e 1.999.994 são primos entre si.


resolução: Seja d o máximo divisor comum de 1.999.991 e 1.999.994.
Sabemos que a diferença 1.999.994 − 1.999.991 = 3 é múltiplo de d, e
portanto d só pode ser 1 ou 3. É evidente que 1.999.991 ≡ 2 (mod 3),
portanto d não é 3, e estes números são primos entre si.

3. Ainda no anel dos inteiros, considere a equação 105x + 154y = d.

a) Qual é o menor natural d para o qual a equação acima tem


soluções? Resolva a equação para esse natural d.
resolução: O menor natural d é o mdc(105, 154). Aplicando o
algoritmo de Euclides, temos:

n m q r y1 x1 y2 x2
154 105 1 49 1 0 0 1
105 49 2 7 0 1 1 −1
49 7 7 0 1 −1 −2 3
Concluı́mos que d = 7, e que x = 3 e y = −2 é uma solução
particular de 105x + 154y = 7.
Para calcular a solução geral da equação homógenea correspon-
dente, que é 105x+154y = 0, dividimos por 7, donde 15x+22y =
0, ou 15x = −22y. Como 15 e 22 são primos entre si, temos

15x = −22y ⇒ 22|x ⇒ x = 22k ⇒ y = −15k.

A solução geral de 105x + 154y = 7 é assim

x = 3 + 22k, y = −2 − 15k, k ∈ Z.

b) O elemento 105 tem inverso no anel Z154 ? Quantos elementos


tem < 105 >?
resolução: Não, porque 105 não é primo relativamente a 154.
Como mdc(105, 154) = 7, temos < 105 >=< 7 >, que tem
154/7 = 22 elementos.
c) O subanel < 105 > tem identidade? Caso afirmativo, qual é essa
identidade?
resolução: Temos < 105 >=< 7 >. Sendo x a identidade deste
subanel, temos
3.2. 2o TESTE: 15/5/2002 33

• x ∈< 7 >, i.e., x ≡ 0 (mod 7), ou x = 7k, e


• x2 = x, i.e., x(x − 1) ≡ 0 (mod 154).
Como 154 = 7 × 22, e 7 e 22 são primos entre si, o sistema

x≡0 (mod 7), e x ≡ 1 (mod 22)

tem solução, e essa solução satisfaz x(x−1) ≡ 0 (mod 154). Neste


caso, x é primo relativamente a 22, porque x ≡ 1 (mod 22), e
portanto mdc(x, 154) = 7k = 7. Em particular, < x >=< 7 >,
e todos os elementos do subanel < 7 > são da forma kx. Como
kx × x = k × x2 = kx, é claro que x é a identidade de < 7 >.
Para calcular x, notamos que
• x ≡ 1 (mod 22) ⇔ x = 1 + 22y, donde
• x ≡ 0 (mod 7) ⇔ 1 + 22y ≡ 0 (mod 7).
Temos

1 + 22y ≡ 0 (mod 7) ⇔ y ≡ −1 (mod 7) ⇔ y = −1 + 7k.

Segue-se que x = 1+22(−1+7k) = −21+154k, e x = −21 = 133.

4. Prove que se n é natural então


n
X n2 (n + 1)2
k3 = .
4
k=1

resolução: Demonstramos por indução a afirmação


n
X n2 (n + 1)2
P (n) = “ k3 = ”.
4
k=1

A afirmação P (1) é verdadeira, porque


1
X 12 (1 + 1)2
k 3 = 1, e = 1.
4
k=1

Supondo P (n) verdadeira, temos


n+1 n
X X n2 (n + 1)2
k3 = k 3 + (n + 1)3 = + (n + 1)3 =
4
k=1 k=1
n2 (n + 1)2 + 4(n + 1)3

(n + 1)2 (n2 + 4(n + 1))
= = =
4 4
(n + 1)2 (n2 + 4n + 4) (n + 1)2 (n + 2)2
= = .
4 4
(n+1)2 (n+2)2
A igualdade n+1 3
P
k=1 k = 4 é P (n + 1).
34 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

5. Sejam n, m ∈ N, D = mdc(n, m) e M = mmc(n, m). Prove que


nm = DM .
Sugestão: Supondo que n = aD e m = bD, mostre que qualquer
múltiplo comum de n e m é múltiplo de abD.
resolução: Notamos que

• abD = nb = ma é múltiplo comum de n e m.


• (abD)D = (aD)(bD) = nm.

Provamos que abD = M é o menor múltiplo comum, donde DM =


nm, mostrando que qualquer múltiplo comum é múltiplo de abd.
Como D = nx + my = aDx + bDy, temos 1 = ax + by e portanto
mdc(a, b) = 1, ou seja, a e b são primos entre si. Seja agora k =
ns = aDs um múltiplo de n. Se k é igualmente múltiplo de m temos
k = mt = bDt, e portanto aDs = bDt, ou as = bt.
a é assim factor de bt, e como a é primo relativamente a b, a é factor
de t. Logo t = au, e k = bDt = bDau é múltiplo de abD.

3.3 3o Teste: 7/6/2002


1. Considere p(x) = x4 + 2x3 + 2x + 2 e q(x) = x4 + 1 em Z3 [x].

a) Determine o máximo divisor comum de p(x) e q(x).


resolução:

m(x) n(x) q(x) r(x)


x4 + 2x3 + 2x + 2 x4 + 1 1 2x3+ 2x + 1
x4 + 1 3
2x + 2x + 1 2x 2x2 + x + 1
2x3 + 2x + 1 2x2 + x + 1 x+1 0

Temos portanto que mdc = 2(2x2 + x + 1) = x2 + 2x + 2.


b) Qual é menor múltiplo comum de p(x) e q(x)?
resolução:

p(x)q(x) (x4 + 2x3 + 2x + 2)(x4 + 1)


mmc = = =
mdc x2 + 2x + 2
=(x2 + 1)(x4 + 1) = x6 + x4 + x2 + 1.
P∞ n 2
P∞ 3n
2. Mostre que ( n=0 x ) = (1 + 2x) n=0 x em Z3 [[x]].
resolução: Sabemos que
∞ ∞ ∞ n
! !
X X X X
cn xn = an xn bn xn ⇐⇒ cn = ak bn−k .
n=0 n=0 n=0 k=0
3.3. 3o TESTE: 7/6/2002 35

No caso presente, temos


∞ ∞
!2 n
X X X
n n
cn x = x , i.e., an = bn = 1, e cn = 1 = n + 1.
n=0 n=0 k=0

Como cn ∈ Z3 , temos:

• n ≡ 0 (mod 3) ⇒ n + 1 ≡ 1 (mod 3) ⇒ cn = 1.
• n ≡ 1 (mod 3) ⇒ n + 1 ≡ 2 (mod 3) ⇒ cn = 2.
• n ≡ 2 (mod 3) ⇒ n + 1 ≡ 0 (mod 3) ⇒ cn = 0.

Portanto, c3n = 1, c3n+1 = 2, e c3n+2 = 0. Concluı́mos que


!2 ∞ ∞ ∞
X X X X
xn = cn xn = c3n x3n + c3n+1 x3n+1 =
n=0 n=0 n=0 n=0
X∞ ∞
X ∞
X ∞
X
= x3n + 2x3n+1 = x3n + 2x x3n =
n=0 n=0 n=0 n=0

X
3n
=(1 + 2x) x .
n=0

3. Considere o anel quociente A/I, onde A = Z2 [x], e I =< x2 + 1 >.

a) Quantos elementos tem o anel A/I?


resolução: Dado p(x) ∈ Z2 [x], temos p(x) = q(x)(x2 +1)+r(x),
onde r(x) = a + bx, e portanto p(x) = a + bx. Como a, b ∈ Z2 ,
existem 2 × 2 = 4 elementos em A/I.
b) Determine a tabuada da multiplicação em A/I.
resolução: Os seguintes cálculos são imediatos:
• x2 + 1 = 0, donde x2 = −1 = 1.
• (x + 1)2 = x2 + 2x + 1 = x2 + 1 = 0.
• x × (x + 1) = x2 + x = 1 + x = x + 1.
A tabuada da multiplicação é assim:

0 1 x x+1
0 0 0 0 0
1 0 1 x x+1
x 0 x 1 x+1
x+1 0 x+1 x+1 0

4. Seja α ∈ R um número irracional algébrico sobre Q. Seja ainda J o


conjunto dos polinómios p(x) ∈ Q[x] tais que p(α) = 0.
36 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

a) Mostre que J =< m(x) >, onde m(x) é mónico e irredutı́vel em


Q[x].
resolução: Seja f : Q[x] → R dada por f (p(x)) = p(α). f é
um homomorfismo de anéis com núcleo J, e por isso J é um ideal
de Q[x].
Como qualquer ideal em Q[x] é principal, temos J =< m(x) >,
e podemos supor que m(x) é mónico, porque Q é um corpo.
Para provar que m(x) é irredutı́vel, suponha-se que m(x) =
s(x)t(x). Temos então 0 = m(α) = s(α)t(α), donde s(α) = 0
ou t(α) = 0. Supomos sem perda de generalidade que s(α) = 0.
Notamos que:
• s(α) = 0 ⇐⇒ s(x) ∈ J ⇐⇒ s(x) = m(x)r(x).
Temos assim m(x) = s(x)t(x) = m(x)r(x)t(x), donde 1 = r(x)t(x),
e t(x) é invertı́vel. Portanto m(x) só tem factorizações triviais,
i.e., m(x) é irredutı́vel.
b) Prove que Q[α] é um corpo.
resolução: Sendo f : Q[x] → R o homomorfismo f (p(x)) =
p(α) referido acima, f (Q[x]) = Q[α] é um subanel de R. Temos
apenas que provar que os elementos p(α) 6= 0 em Q[α] têm inverso
multiplicativo também em Q[α].
Para isso, note-se que se p(α) 6= 0 então p(x) 6∈ J, e portanto
m(x) não é factor de p(x). Como m(x) é irredutı́vel, segue-se que

mdc(p(x), m(x)) = 1.

Existem polinómios s(x), t(x) ∈ Q[x] tais que

p(x)s(x) + m(x)t(x) = 1, donde

p(α)s(α) + m(α)t(α) = p(α)s(α) = 1.


Por outras palavras, p(α)−1 = s(α) ∈ Q[α].

c) Seja α = 3 2. Mostre que m(x) = x3 − 2, e determine a, b, c ∈ Q
tais que
1 √
3

3
√3

3
= a + b 2 + c 4.
1+ 2+ 4
resolução: Sendo J o conjunto dos polinómios p(x) ∈ Q[x] tais
que p(a) = 0, temos como vimos que J =< m(x) >, e é evidente
que x3 − 2 ∈ J, donde m(x) é factor de x3 − 2. O polinómio
x3 − 2 é irredutı́vel, pelo critério de Eisenstein (com p = 2), e por
isso m(x) = 1 ou x3 − 2. Só podemos ter m(x) = x3 − 2, porque
J 6= Q[x].
√ √
1 + 3 2 + 3 4 = p(α), onde p(x) = 1 + x + x2 . Como vimos na
alı́nea anterior, o inverso de p(α) calcula-se resolvendo a equação
3.4. 1o TESTE: 18/3/2003 37

p(x)s(x) + m(x)t(x) = 1, o que pode fazer-se usando o algoritmo


de Euclides. O 1o passo deste algoritmo revela que

x3 − 2 = (x − 1)(1 + x + x2 ) − 1,

e por isso 1 = (x − 1)(1 + x + x2 ) + (−1)(x3 − 2), i.e., s(x) = x − 1.


Concluı́mos que:

1 √
3

3

3

3
= s( 2) = 2 − 1, i.e., a = −1, b = 1, c = 0.
1+ 2+ 4

3.4 1o Teste: 18/3/2003


1. Seja S 1 = {z ∈ C : |z| = 1}.

a) Mostre que S 1 com o produto usual de complexos é um grupo.


resolução: Temos a mostrar que:
• S 1 é não-vazio: É evidente que 1 ∈ S 1 .
• S 1 é fechado em relação ao produto usual de complexos:

z, w ∈ S 1 ⇒ |z| = |w| = 1 ⇒ |zw| = |z||w| = 1, i.e., zw ∈ S 1 .

• O produto de complexos é associativo, como sabemos.


• Existe identidade para o produto em S 1 : Porque 1 ∈ S 1 .
• Todos os elementos de S 1 têm inverso em S 1 : Se z ∈ S 1
temos |z| = 1, portanto z 6= 0, e z é invertı́vel nos complexos.
Por outro lado, temos novamente |zz −1 | = |z||z −1 | = 1, e
como |z| = 1, temos |z −1 | = 1, ou seja, z −1 ∈ S 1 .
Concluı́mos assim que S 1 é um grupo.
b) Sendo n ∈ N e Rn = {z ∈ C : z n = 1}, mostre que Rn é um
subgrupo de S 1 .
resolução: É evidente que Rn ⊆ S 1 , porque

z n = 1 ⇒ |z n | = 1 = |z|n ⇒ |z| = 1.

Observamos apenas que


• Rn 6= ∅: porque 1 ∈ Rn , qualquer que seja n.
• Se z, w ∈ Rn então zw−1 ∈ Rn : Se z, w ∈ Rn então z n =
wn = 1, e portanto
n
zw−1 = z n (wn )−1 = 1 ⇒ zw−1 ∈ Rn .
38 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

c) Seja R = ∪∞ 1
n=1 Rn . R é igualmente um subgrupo de S ?
resolução: É evidente (em particular da alı́nea anterior) que R
é não-vazio, e que R ⊆ S 1 . Para mostrar que se z, w ∈ R então
zw−1 ∈ R, note-se que existem n, m ∈ N tais que z ∈ Rn , w ∈ Rm ,
i.e., tais que z n = wm = 1. Neste caso,
nm
zw−1 = (z n )m (wm )−n = 1 ⇒ zw−1 ∈ Rnm ⊂ R.

2. Determine todos os homomorfismos de grupo f : S3 → Z2 . (S3 é o


grupo das permutações em {1, 2, 3}, e Z2 o grupo aditivo com dois
elementos).
resolução: Sendo f : S3 → Z2 um homomorfismo de grupo, o seu
núcleo N (f ) é um subgrupo normal de S3 . Os únicos subgrupos nor-
mais de S3 são o próprio S3 , o grupo alternado A3 e o subgrupo trivial
K = {1}. Notamos que:
(1) Se N (f ) = S3 , então f (x) = 0 para qualquer x ∈ S3 , e f é um
homomorfismo.
(2) Não podemos ter N (f ) = K, porque senão f seria injectiva, o que
é impossı́vel, porque S3 tem 6 elementos e Z2 tem 2 elementos.
(3) Se N (f ) = A3 , então f (x) = 0 para qualquer x ∈ A3 , e só
podemos ter f (x) = 1 para x 6∈ A3 . Neste caso f é igualmente
um homomorfismo (f (x) é a paridade da permutação x).
Concluı́mos que existem apenas dois homomorfismos f : S3 → Z2 , que
são os indicados acima em (1) e (3).
3. Sejam A e B anéis, e f : A → B um homomorfismo de anéis.
a) Prove que f (O) = O∗ , onde O e O∗ são os zeros de respectiva-
mente A e B.
resolução:
f (O) =f (O + O), porque O é o elemento neutro da soma em A,
=f (O) + f (O), porque f é um homomorfismo de anéis.
Segue-se da lei do corte no grupo aditivo (B, +) que f (O) = O∗ .
b) Prove que f (−x) = −f (x) para qualquer x ∈ A.
resolução:
f (x) + f (−x) =f (x + (−x)), porque f é um homomorfismo.
=f (O) = O∗ , de acordo com a alı́nea anterior.
=f (x) + [−f (x)], por definição de [−f (x)].

Como f (x) + f (−x) = f (x) + [−f (x)], segue-se mais uma vez da
lei do corte no grupo aditivo (B, +) que f (−x) = [−f (x)].
3.4. 1o TESTE: 18/3/2003 39

c) Se x é invertı́vel em A, temos sempre f (x) invertı́vel em B?


resolução: Não. Considere-se f : R → M2 (R), dada por
 
x 0
f (x) = .
0 0

Sabemos que x é invertı́vel em R se e só se x 6= 0, mas é evidente


que a imagem f (x) nunca é invertı́vel em M2 (R).
d) Mostre que f (nx) = nf (x), para quaisquer n ∈ Z e x ∈ A.
Sugestão: Deve recordar a definição de na, para n ∈ Z e a ∈ G,
onde G é um qualquer grupo aditivo. Para n > 0, deve proceder
por indução.
resolução: Sendo n ∈ Z e a ∈ G, onde G é um qualquer grupo
aditivo (com elemento neutro O), definimos na como se segue:
1) n = 1 : na = 1a = a,
2) n > 1 : na = (n − 1)a + a,
3) n = 0 : na = 0a = O, e
4) n < 0 : na = (−n)(−a).
Provamos primeiro que f (nx) = nf (x), para n ≥ 1, e por indução.
n = 1: temos de 1) que

1x = x ⇒ f (1x) = f (x) = 1f (x).

n > 1: A hipótese de indução é f ((n − 1)x) = (n − 1)f (x). Temos

f (nx) =f ((n − 1)x + x), (ponto 2) da definição acima com a = x),


=f ((n − 1)x) + f (x), porque f é um homomorfismo,
=(n − 1)f (x) + f (x), pela hipótese de indução, e
=nf (x), (ponto 2) da definição acima com a = f (x)).

n = 0:

0f (x) =O∗ , (ponto 3) da definição acima com a = f (x) ∈ B),


=f (O), pela alı́nea a) desta questão,
=f (0x), (ponto 3) da definição acima com a = x ∈ A).

n < 0: pode ser verificado como se segue:

f (nx) =f ((−n)(−x)), (ponto 4) da definição acima com a = x),


=(−n)f (−x), como provámos acima para −n > 0,
=(−n)[−f (x)], conforme vimos na alı́nea b), e
=nf (x), (ponto 4) da definição acima com a = f (x)).
40 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

3.5 2o Teste: 29/4/2003


1. a) Quantos divisores naturais tem 2.000?
resolução: 2.000 = 2×(10)3 = 2×(2×5)3 = 24 ×53 . Portanto,
o natural k é divisor de 2.000 se e só se k = 2n 3m , onde 0 ≤ n ≤ 4
e 0 ≤ m ≤ 3. Existem 5 valores para n, e 4 valores para m.
Concluı́mos que 2.000 tem 5 × 4 = 20 divisores naturais.
b) Quantos naturais 1 ≤ k ≤ 2.000 são primos relativamente a
2.000?
resolução: Os únicos factores primos de 2.000 são 2 e 5. Por-
tanto, os naturais 1 ≤ k ≤ 2.000 que são primos relativamente a
2.000 são os que não são múltiplos de 2 nem de 5.
De 1 até 2.000 temos:
• O conjunto A = {1 ≤ k ≤ 2.000 : 2|k}, formado pelos múltiplos
de 2, tem 2.000/2 = 1.000 elementos, ou seja, #(A) = 1.000.
• O conjunto B = {1 ≤ k ≤ 2.000 : 5|k}, formado pelos múltiplos
de 5, tem 2.000/5 = 400 elementos, #(B) = 400.
• O conjunto A ∩ B, formado pelos múltiplos comuns de 2
e de 5, contem os múltiplos de mmc(2, 5) = 10. Portanto
#(A ∩ B) = 2.000/10 = 200.
• Os naturais que são múltiplos de 2 e/ou 5 formam o conjunto
A ∪ B. Temos #(A ∪ B) = #(A) + #(B) − #(A ∩ B) =
1.000 + 400 − 200 = 1.200.
• Finalmente, os naturais k ≤ 2.000 que são primos relativa-
mente a 2.000 são os que não pertencem ao conjunto A ∪ B.
Existem portanto 2.000 − 1.200 = 800.

2. Determine todas as soluções da equação 87x ≡ 3 (mod 6.000) em Z.


resolução: Para calcular d = mdc(87, 6.000), e uma solução par-
ticular da equação não-homogénea 87x ≡ d (mod 6.000), usamos o
algoritmo de Euclides.

m n r q x y x0 y0
6.000 87 84 68 1 0 0 1
87 84 3 1 0 1 1 −68
84 3 0 1 −68 −1 69

Concluı́mos que d = 3, portanto a equação inicial tem soluções, e


sabemos ainda que (6.000)(−1) + (87)(69) = 3. Portanto x = 69 é
solução particular da equação não-homogénea em causa.
Passamos a calcular a solução geral da equação homogénea 87x ≡ 0
(mod 6.000). Temos então 87x + 6.000y = 0. Dividindo por d = 3
3.5. 2o TESTE: 29/4/2003 41

obtemos 29x + 2.000y = 0, ou 29x = −2.000y. Como 29 é primo e não


é factor de 2.000 é claro que y é múltiplo de 29, i.e., y = 29z, donde
29x = −2.000(29z), ou x = −2.000z, que é a solução geral da equação
homogénea em causa.
A solução geral da equação não-homogénea inicial é portanto x =
69 − 2.000z, que podemos também escrever na forma x = 69 + 2.000z,
já que z é arbitrário, ou ainda na forma x ≡ 69 (mod 2.000).

3. Determine todas as soluções da equação x2 y = 108, onde x e y são


inteiros. Sugestão: Recorde o teorema fundamental da Aritmética.
resolução: Deve ser claro que y > 0, e que o sinal de x é irrelevante.
Notamos que 108 = 22 × 33 . Os factores primos de x e y são factores
primos de 108, por razões evidentes, e portanto só podem ser 2 e/ou 3,
i.e., x = ±2n 3m e y = 2k 3j , onde n, m, k e j são inteiros não-negativos.
Concluı́mos que

x2 y = (2n 3m )2 (2k 3j ) = 22n+k 32m+j = 22 × 33 .

Pelo teorema fundamental da Aritmética, temos 2n+k = 2 e 2m+j =


3. Como as incógnitas n, m, k e j são inteiros não-negativos:

• 2n + k = 2 ⇔ (n = 0 e k = 2) ou (n = 1ek = 0)
• 2m + j = 3 ⇔ (m = 0 e j = 3) ou (m = 1ej = 1)

As diferentes soluções apresentam-se na tabela seguinte:

n k m j x y
0 2 0 3 ±1 108
0 2 1 1 ±3 12
1 0 0 3 ±2 27
1 0 1 1 ±6 3

4. Suponha que a, b e m são inteiros fixos. Prove que

a) ax ≡ b (mod m) tem soluções inteiras x se e só se b é múltiplo


de mdc(a, m).
resolução: As seguintes afirmações são equivalentes:
(1) ax ≡ b (mod m) tem solução x,
(2) Existe um inteiro x tal que m|(b − ax),
(3) b ∈ K = {ax + my : x, y ∈ Z}.
Basta notar que (1) ⇔ (2) por definição de congruência módulo
m, e (2) ⇔ (3) por razões óbvias.
O conjunto K é um ideal dos inteiros contendo a e m, porque:
42 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

• a = a × 1 + m × 0 ∈ K e m = a × 0 + m × 1 ∈ K,
• K= 6 ∅, porque a, m ∈ K,
• (ax + my) − (ax0 + my 0 ) = a(x − x0 ) + m(y − y 0 ) ∈ K, i.e., K
é fechado em relação à diferença, e
• (ax + my)z = a(xz) + m(yz) ∈ K, i.e., K é fechado em
relação ao produto por inteiros arbitrários.
Para provar que K é o conjunto dos múltiplos de d = mdc(a, m),
consideramos primeiro o caso “especial” a = m = 0.
Neste caso, K = {ax + my : x, y ∈ Z} = {0} = {dz : z ∈ Z}, com
d = 0, e 0 é o máximo (e único) divisor comum de a e m.
Supomos agora que a 6= 0 ou m 6= 0. K contem naturais, porque
contem pelo menos um elemento não-nulo. Seja d o menor natural
em K, que existe pelo princı́pio da boa ordenação, e note-se que
{dz : z ∈ Z} ⊆ K, porque K é um ideal, e d ∈ K. Sendo m
um qualquer elemento de K, temos m = dq + r, onde q e r são
inteiros, e 0 ≤ r < d, pelo usual algoritmo da divisão. Como
r = m − dq ∈ K (K é um ideal!) e r < d, concluı́mos que
r não pode ser positivo, i.e., r = 0, e m é múltiplo de d, i.e.,
K = {dz : z ∈ Z}.
Para mostrar que d = mdc(a, m), notamos que
• d|a e d|m, porque a, m ∈ K = {dz : z ∈ Z}, i.e., d é um
divisor comum de a e m.
• d = ax + my, porque d ∈ K = {ax + my : x, y ∈ Z}. Se k é
um qualquer divisor natural comum a a e m, então a = dx0
e m = ky 0 , donde

d = ax + my = (kx0 )x + (ky 0 )y = k(xx0 + yy 0 ), e k|d e k ≤ d.

Por outras palavras, d é múltiplo de qualquer divisor comum


de a e de m, e portanto d = mdc(a, m).
b) ax ≡ 0 (mod m) tem soluções x 6≡ 0 (mod m) se e só se ax ≡ 1
(mod m) não tem soluções (supondo m 6= 0).
resolução: Consideramos então as afirmações:
(1) ax ≡ 0 (mod m) tem soluções x 6≡ 0 (mod m).
(2) ax ≡ 1 (mod m) não tem soluções.
A implicação “(1) ⇒ (2)” é válida para qualquer m, mesmo m =
0. Se ax ≡ 1 (mod m) tem alguma solução b, então ab = ba ≡ 1
(mod m), e ax ≡ 0 (mod m) ⇒ bax ≡ 0 (mod m) ⇒ x ≡ 0
(mod m).
Para provar a implicação “(2) ⇒ (1)”, supomos que ax ≡ 1
(mod m) não tem soluções. Pelo resultado anterior, d = mdc(a, m)
não é factor de 1, i.e., d = 0 ou d > 1. Mas se m 6= 0 então
3.6. 3o TESTE: 27/5/2003 43

d > 1, e m = nd, onde 1 ≤ n < m. Temos igualmente a = kd,


e portanto tomando x = n ≡ /0 (mod m)), é claro que ax =
(kd)n = k(nd) = km ≡ 0 (mod m). Por outras palavras, ax ≡ 0
(mod m) tem a solução x = n 6≡ 0 (mod m).

5. Considere o ideal J =< 87 > em Z6000 .

a) Quantos elementos tem J? Quantos geradores tem J?


resolução: Vimos na questão 2 que mdc(87, 6.000) = 3, e por-
tanto J =< 87 >=< 3 >, que tem 6.000/3 = 2.000 elementos,
correspondendo a todos os múltiplos de 3 até 6.000.
Os geradores de J são as soluções de mdc(x, 6.000) = 3, com
1 ≤ x ≤ 6.000. Para os contar, basta notar que x = 3k, onde
1 ≤ k ≤ 2.000, e mdc(3k, 6.000) = 3. Como mdc(3k, 6.000) =
3 mdc(k, 2.000), é claro que mdc(k, 2.000) = 1. Portanto, os gera-
dores de J correspondem aos naturais k até 2.000 que são primos
relativamente a 2.000. Tal como calculado na questão 1, J tem
800 geradores.
b) J tem identidade? Se J tem identidade, qual é a sua identidade?
resolução: Se x é identidade de J, então temos x ≡ 0 (mod 3),
porque x ∈ J. Temos igualmente x2 = x, ou x(x − 1) = 0, ou
seja, x(x − 1) ≡ 0 (mod 6.000). Como x ≡ 0 (mod 3), i.e., como
x é múltiplo de 3, para que x(x − 1) seja múltiplo de 6.000 basta
que (x − 1) seja múltiplo de 2.000, i.e., basta que x − 1 ≡ 0
(mod 2.000), o que também podemos escrever na forma x ≡ 1
(mod 2.000).
Segue-se do Teorema Chinês do Resto que x ≡ 0 (mod 3) e x ≡ 1
(mod 2.000) têm uma solução única (mod 6.000), porque 3 e
2.000 são primos entre si. Se x é solução então x é um gerador
de J (porque x é primo relativamente a 2.000, de acordo com a
segunda equação). Como qualquer elemento y de J é da forma
y = nx, temos xy = yx = nx × x = n × x2 = nx = y. Portanto x
é identidade de J.
Para calcular a identidade de J, notamos que x ≡ 1 (mod 2.000) ⇔
x = 1 + 2.000y, e x ≡ 0 (mod 3) ⇔ 1 + 2.000y ≡ 0 (mod 3) ⇔
−y ≡ −1 (mod 3) ⇔ y ≡ 1 (mod 3). Portanto y = 1 + 3z, e x =
1 + 2.000(1 + 3z) = 2.001 + 6.000z, i.e, x ≡ 2.001 (mod 6.000) ⇔
x = 2.001.

3.6 3o Teste: 27/5/2003


1. Considere os polinómios p(x) = x3 + 25x2 + 10x − 5 e q(x) = 1 + x + x2
em Q[x].
44 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

a) Quais dos polinómios p(x) e q(x) são irredutı́veis em Q[x]?


resolução: O polinómio p(x) é irredutı́vel em Z[x] de acordo
com o critério de Eisenstein, que se aplica aqui com o primo 5. De
acordo com o Lema de Gauss, é igualmente irredutı́vel em Q[x],
porque é um polinómio mónico. O polinómio q(x) é irredutı́vel
em R[x] porque tem discriminante d = −3 < 0. É por isso
evidentemente irredutı́vel em Q[x].
b) Determine a(x), b(x) ∈ Q[x] tais que 1 = a(x)(1 + x + x2 ) +
b(x)(1 + x2 ).
resolução: Como vimos, o polinómio 1 + x + x2 é irredutı́vel.
É evidente que 1 + x2 não é múltiplo de 1 + x + x2 , e portanto só
podemos ter mdc(1 + x + x2 , 1 + x2 ) = 1. A equação apresentada
tem por isso solução, e podemos calcular uma das suas soluções
usando o algoritmo de Euclides.

r q a(x) b(x) c(x) d(x)


1+x+ x2 1+ x2 x 1 1 0 0 1
1 + x2 x 1 x 0 1 1 −1
x 1 0 x 1 −1 −x 1+x

Temos portanto 1 = (−x)(1 + x + x2 ) + (1 + x)(1 + x2 ), i.e.,


a(x) = −x e b(x) = 1 + x.

2. Suponha que α ∈ R é um número irracional algébrico sobre Q. Seja


J =< m(x) > o conjunto dos polinómios p(x) ∈ Q[x] tais que p(α) = 0.

a) Supondo que m(x) tem grau n, prove que o espaço vectorial Q[α]
tem dimensão n sobre o corpo Q.
resolução: Q[α] = {p(α) : p(x) ∈ Q[x]}. De acordo com o al-
goritmo de divisão, p(x) = q(x)m(x)+r(x), onde o grau de r(x) é
< n. É evidente que p(α) = r(α), e sendo r(x) = r0 + r1 x + · · · +
rn−1 xn−1 , temos p(α) = r(α) = r0 + r1 α + · · · + rn−1 αn−1 . Por
outras palavras, o conjunto B = 1, α, · · · , αn−1 gera o espaço
vectorial Q[α] sobre Q.
B é um conjunto linearmente independente: se r0 + r1 α + · · · +
rn−1 αn−1 = 0 com rk ∈ Q então r(α) = 0, onde r(x) = r0 + r1 x +
· · · + rn−1 xn−1 ∈ Q[x]. Temos portanto que r(x) é múltiplo de
m(x), e como o grau de m(x) é maior que o de r(x) só podemos
ter r(x) = 0, ou seja, r0 = r1 = · · · = rn−1 = 0.
Concluı́mos que B é uma base de Q[α] sobre Q, e portanto Q[α]
tem dimensão n.
b) Prove que Q[α] é um corpo, e uma extensão algébrica de Q.
3.6. 3o TESTE: 27/5/2003 45

resolução: Mostramos primeiro que m(x) é um polinómio irre-


dutı́vel. Para isso, supomos que m(x) = a(x)b(x). Como m(α) =
a(α)b(α) = 0, temos a(α) = 0 ou b(α) = 0. Supondo sem perda
de generalidade que a(α) = 0, concluı́mos que a(x) ∈< m(x) >,
i.e., m(x)|a(x). Como é evidente que a(x)|m(x), os polinómios
m(x) e a(x) são associados, e b(x) é invertı́vel. Portanto m(x) é
irredutı́vel. É evidente que podemos supor m(x) mónico.
Seja p(x) ∈ Q[x]. Supondo p(α) 6= 0, temos a provar que existe
q(x) ∈ Q[x] tal que 1 = q(α)p(α), donde podemos concluir que
q(α) ∈ Q[α] é o inverso de p(α).
Como d(x) = mdc(p(x), m(x)) é factor de m(x), e m(x) é irre-
dutı́vel, é claro que d(x) = 1 ou d(x) = m(x). Se p(α) 6= 0, então
p(x) 6∈< m(x) >, i.e., m(x) não é factor de p(x), e portanto
d(x) 6= m(x). Neste caso só podemos ter d(x) = 1, e existem
polinómios q(x), n(x) ∈ Q[x] tais que 1 = q(x)p(x) + n(x)m(x).
Concluı́mos que 1 = q(α)p(α), e q(α) é o inverso de p(α), com
q(α) ∈ Q[α]. Como os elementos não-nulos do anel Q[α] têm
inverso em Q[α], concluı́mos que Q[α] é um corpo.
Seja b ∈ Q[α]. Paraprovar que b é algébrico sobre Q, considere-
se o conjunto C = 1, b, b2 , · · · , bn . Se C tem menos de n + 1
elementos, é evidente que existem 0 ≤ k < m ≤ n tais que
bk = bm , e b é raiz do polinómio p(x) = xm − xk ∈ Q[x], e é
por isso algébrico. Caso contrário C é um conjunto com mais
de n elementos num espaço vectorial de dimensão n sobre Q, e
é por isso linearmente dependente sobre Q. Existem portanto
constantes racionais rk ∈ Q (com 0 ≤ k ≤ n) não todas nulas
tais que r0 + r1 b + · · · + rn bn = 0. Por outras palavras, r(x) =
r0 + r1 x + · · · + rn xn ∈ Q[x] é um polinómio não-nulo, e r(b) = 0,
ou seja, b é algébrico.

3. Suponha que p(x), q(x) ∈ Z[x]. Diga (com a correspondente justi-


ficação!) se cada uma das seguintes afirmações é falsa ou verdadeira.

a) Se p(x) é irredutı́vel em Q[x] então p(x) é irredutı́vel em Z[x].


resolução: FALSO. O polinómio p(x) = 2x + 4 é irredutı́vel
em Q[x], mas não em Z[x], porque p(x) = 2(x + 2). (O polinómio
constante a(x) = 2 é invertı́vel em Q[x], mas não o é em Z[x].
Portanto a factorização indicada é trivial em Q[x], mas não é
trivial em Z[x].)
b) Se p(x) e q(x) são primitivos, então p(x)q(x) é primitivo.
resolução: VERDADEIRO. Seja m(x) = p(x)q(x). Desig-
namos os coeficientes dos polinómios m(x), p(x) e q(x) por re-
spectivamente mi , pi , qi . Recordamos que o conteúdo de um
46 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

polinómio é o máximo divisor comum dos seus coeficientes, e


portanto qualquer divisor do conteúdo é divisor de todos os seus
coeficientes. Um polinómio em Z[x] é primitivo se o seu conteúdo
é 1. Vamos provar que o conteúdo de m(x) não tem qualquer
factor primo, e portanto só pode ser 1.
Seja a um qualquer número primo. Como p(x) é primitivo, a não
é factor do conteúdo de p(x), e portanto existem coeficientes de
p(x) que não são múltiplos de a. Seja s o menor ı́ndice i para o
qual a não é factor de pi . Analogamente, e como q(x) é também
primitivo, seja r o menor ı́ndice i para o qual a não é factor de
qi .
Como m(x) = p(x)q(x), e tomando k = s + r, temos:
k
X s−1
X k
X
mk = pi qk−i = pi qk−i + ps qr + pi qk−i .
i=0 i=0 i=s+1

(A primeira soma à direita é vazia se s = 0, e a última é-o se


r = 0, mas este facto é irrelevante para o nosso argumento, como
veremos). A primeira soma à direita, se não for vazia, é um
múltiplo de a, porque pi é múltiplo de a quando i < s. A última
soma à direita, se não for vazia, é um múltiplo de a, porque qi é
múltiplo de a quando i < r, e se i > s então k − i = s + r − i < r.
Como o termo restante é ps qr , que não é múltiplo de a, concluı́mos
que mk não é múltiplo de a. Portanto a não é factor do conteúdo
de m(x), e como a é arbitrário m(x) é primitivo.
4. Suponha que G e H são grupos finitos, respectivamente com n e m
elementos, e seja f : G → H um homomorfismo de grupos.
a) Prove que se f é injectivo então n é factor de m.
resolução: Se f é injectivo então f (G) tem n elementos. Como
f (G) é um subgrupo de H, e H tem m elementos, concluı́mos do
teorema de Lagrange que n|m.
b) O que pode concluir sobre f se n e m são primos entre si?
resolução: Sabemos como dissemos acima que f (G) é um sub-
grupo de H, e portanto o número de elementos de f (G) é divisor
de m. Seja N o núcleo de f , e recorde-se a identidade: (no de
elementos de G) = (no de elementos de N )(no de elementos de
f (G))
Segue-se desta equação que o número de elementos de f (G) é
também factor do número de elementos de G, além de ser factor
do número de elementos de H. O único divisor comum de n e m
é 1, e portanto f (G) só pode ter 1 elemento. Por outras palavras,
f só pode ser o homomorfismo “trivial”, que transforma todos os
elementos de G na identidade de H.
3.7. 1o TESTE: 30/3/2004 47

3.7 1o Teste: 30/3/2004


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta
questão, (G, ∗) é um grupo, e (A, +, ×) é um anel unitário.

a) Qualquer subgrupo de G contém a identidade de G.


resolução: Verdadeiro. Seja e a identidade do grupo “original”
G, e f a identidade do subgrupo H ⊆ G. Notamos que:
• f ∗ f = f , porque f é a identidade de H.
• f ∗ e = f , porque f ∈ G, e e é a identidade de G.
Concluı́mos que f ∗ f = f ∗ e. Pela lei do corte no grupo G (i.e.,
multiplicando à esquerda por f −1 , que é o inverso de f no grupo
G), obtemos imediatamente que f = e.
b) Se H e K são subgrupos de G, e H é um subgrupo normal de G,
então H ∩ K é um subgrupo normal de K.
resolução: Verdadeiro. Observamos primeiro da alı́nea ante-
rior que tanto H como K contém a identidade de G, e portanto
H ∩ K 6= ∅. Por outro lado, e supondo que x, y ∈ H ∩ K, temos
• x ∗ y −1 ∈ H, porque x, y ∈ H, e H é subgrupo de G, e
• x ∗ y −1 ∈ K, porque x, y ∈ K, e K é subgrupo de G.
Concluı́mos que x ∗ y −1 ∈ H ∩ K, e por isso H ∩ K é um subgrupo
de G, e portanto de K, já que H ∩ K ⊆ K.
Para verificar que H ∩ K é um subgrupo normal de K, supomos
que x ∈ H ∩ K, e y ∈ K. Temos então:
• y ∗ x ∗ y −1 ∈ K, porque x, y ∈ K, e K é um subgrupo.
• y ∗ x ∗ y −1 ∈ H, porque x ∈ H, y ∈ G, e H é um subgrupo
normal de G.
Temos assim que y ∗ x ∗ y −1 ∈ H ∩ K, e H ∩ K é um subgrupo
normal de K.
c) Se B é um subanel de A, então B é também um anel unitário.
resolução: Falso. Basta recordar o exemplo A = Z, que é um
anel unitário, e tomar para B o subanel dos inteiros pares, que
não é um anel unitário, por razões óbvias.
d) Se x, y ∈ A, então (x + y)2 = x2 + 2xy + y 2 .
resolução: Falso. Considere-se por exemplo o anel H dos
quaterniões, e tome-se x = i, y = j. Observe-se que
• (i + j)2 = i2 + ij + ji + j 2 = −2, porque i2 = j 2 = −1, e
ij = −ji = k, e
• i2 + 2ij + j 2 = −2 + 2k 6= −2.
48 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

e) Se a, b ∈ A e n ∈ Z então n(ab) = (na)b = a(nb).


resolução: Verdadeiro. Recorde-se primeiro que se n ∈ Z e
c ∈ A, e sendo O o zero de A, e 0, 1 ∈ Z, então definimos:
(1) 0c = O.
(2) 1c = c.
(3) Se n > 1, nc = (n − 1)c + c.
(4) Se n > 0, (−n)c = n(−c).
Passamos a verificar a identidade n(ab) = (na)b = a(nb).
• Se n = 0, então n(ab) = O, (na)b = Ob = O, e a(nb) =
aO = O. Usamos aqui a identidade (1), e o facto do zero de
qualquer anel ser elemento absorvente para o produto, i.e.,
aO = Oa = O, para qualquer a ∈ A.
• Se n ∈ N, a identidade verifica-se por indução.
n = 1: temos n(ab) = 1(ab) = ab, (na)b = (1a)b = ab, e
a(nb) = a(1b) = ab, sempre pela identidade (2).
n > 1: usando a identidade (3), temos

n(ab) = (n − 1)(ab) + ab.

A hipótese de indução é

(n − 1)(ab) = ((n − 1)a)b = a((n − 1)b),

e portanto

n(ab) = (n−1)(ab)+ab = ((n−1)a)b+ab = ((n−1)a+a)b = (na)b.

Analogamente,

n(ab) = (n−1)(ab)+ab = a((n−1)b)+ab = a((n−1)b+b) = a(nb).

f) Se a ∈ A, a equação x2 = a2 tem um número finito de soluções


em A.
resolução: Falso. Considere-se no anel A = M2 (R) a equação
x2 = 0 = 02 , onde 0 é a matriz zero. A equação tem um número
infinito de soluções, em particular as matrizes da forma
 
0 c
x= , c ∈ R.
0 0

2. Recorde que o grupo diedral Dn é o grupo de simetria do polı́gono


regular de n lados, e tem 2n elementos (n reflexões e n rotações).
Designamos por R2 o grupo multiplicativo das raı́zes quadradas da
unidade.
3.7. 1o TESTE: 30/3/2004 49

a) Seja f : Dn → R2 dada por



+1, se σ é uma rotação,
f (σ) =
−1, se σ é uma reflexão.

Mostre que f é um homomorfismo de grupos. Podemos concluir


daqui que as rotações em Dn formam um subgrupo normal de
Dn ?
resolução: As simetrias do polı́gono regular de n lados são
transformações ortogonais. As transformações ortogonais têm
determinante ±1, e as rotações são as transformações ortogonais
com determinante 1. Portanto, as reflexões têm determinante
−1, e a função f acima mencionada é o determinante. Mais pre-
cisamente, f (σ) é o determinante da representação matricial de
σ numa qualquer base de R2 .
Se σ, ρ ∈ Dn , e m(σ), m(ρ) são as respectivas representações ma-
triciais numa dada base de R2 , temos m(σ ◦ ρ) = m(σ)m(ρ),
e portanto det(m(σ ◦ ρ) = det(m(σ)) det(m(ρ)). Como f (σ) =
det(m(σ)), temos f (σ◦ρ) = f (σ)f (ρ), i.e., f é um homomorfismo
de grupos.
As rotações em Dn formam um subgrupo normal porque con-
stituem, por razões evidentes, o núcleo do homomorfismo f , e
sabemos que o núcleo de um homomorfismo de grupos é um sub-
grupo normal do grupo de partida.
b) Determine todos os subgrupos de D5 . Quais destes subgrupos são
normais? sugestão: Pode ser conveniente verificar que qual-
quer subgrupo que contenha uma rotação r 6= 1 contém todas as
rotações em D5 .
resolução: Designamos por I a identidade de D5 , que é uma
rotação (de zero graus), por r a rotação de 2π/5, e por α, β, γ, δ,
e ε as 5 reflexões em D5 . As restantes rotações em D5 são, por
razões óbvias, r2 , r3 , e r4 .
Qualquer reflexão é a sua própria inversa, e portanto existem 5
subgrupos cada um com 2 elementos, com suportes

{I, α}, {I, β}, {I, γ}, {I, δ}, e {I, ε}.

Como vimos acima, as rotações formam um subgrupo (normal)


de D5 , com suporte K = {I, r, r2 , r3 , r4 }. Temos, além destes, os
subgrupos (triviais) {I} e D5 .
Passamos a verificar que D5 não tem subgrupos além dos 8 que já
indicámos. Precisamos para isso de alguns resultados auxiliares:
i. Qualquer subgrupo H que contenha uma rotação 6= I contém
todas as rotações.
50 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

3
Se o subgrupo contém r2 ou r3 então contém r, porque r2 =
2
r3 = r6 = r. Se o subgrupo contém r4 então contém r,
porque r−1 = r4 .
ii. Qualquer subgrupo H que contenha duas reflexões contém
todas as rotações.
O produto de duas reflexões (distintas) é uma rotação 6= 1, e
pelo resultado anterior o subgrupo contém todas as rotações.
iii. Qualquer subgrupo H que contenha uma reflexão e uma
rotação 6= 1 é o próprio grupo D5 .
Já vimos que H contém todas as rotações, i.e., contém K =
{I, r, r2 , r3 , r4 }. Se ρ ∈ H é uma reflexão, então H contém
os elementos ρ, ρr, ρr2 , ρr3 , ρr4 , que são distintos, e são re-
flexões. Concluı́mos que H contém 5 reflexões e 5 rotações,
i.e., contém todos os elementos de D5 .
Finalmente, observamos que qualquer subgrupo de D5 possivel-
mente distinto dos 8 que indicámos contém pelo menos duas re-
flexões, ou uma reflexão e uma rotação, e portanto é D5 .

Já vimos que o subgrupo das rotações K é normal, e é óbvio que {1} e
D5 são subgrupos normais de D5 . Resta-nos verificar que os subgrupos
da forma H = {1, ρ}, onde ρ é uma reflexão, não são normais. Recorde-
se que qualquer reflexão σ é inversa de si própria, i.e., satisfaz σ −1 = σ.
Temos agora que se σ 6= ρ então σ ◦ ρ ◦ σ −1 6∈ H, porque

• σ ◦ ρ ◦ σ −1 = 1 ⇒ σ ◦ ρ = σ ⇒ ρ = 1, o que é impossı́vel.
• σ ◦ ρ ◦ σ −1 = ρ ⇒ σ ◦ ρ = ρ ◦ σ = (σ ◦ ρ)−1 , e portanto σ ◦ ρ
é uma rotação igual a sua inversa, ou σ ◦ ρ = 1, que é também
impossı́vel, porque ρ 6= σ.

algumas notas soltas:

1 a) Não podemos invocar na resolução deste exercı́cio a identidade f ∗ e =


f , a pretexto de f ser a identidade do subgrupo, porque neste caso
sabemos apenas que f ∗ x = x ∗ f = x para qualquer x ∈ H. Tomar
x = e equivale a dizer que e ∈ H, que é exactamente o que queremos
provar!

1 b) O subgrupo H ∩ K é normal apenas no subgrupo K! Em geral, H ∩ K


não é normal no grupo original G.

1 d) A identidade (x + y)2 = x2 + 2xy + y 2 é equivalente a xy = yx. Qual-


quer anel não-abeliano pode ser usado para obter um contra-exemplo,
mas convém escolher elementos x e y tais que xy 6= yx! É muito
simples obter exemplos com matrizes.
3.8. 2o TESTE: 27/4/2004 51

1 f) Este facto é falso, mesmo em anéis sem divisores de zero, desde


que não-abelianos. Por exemplo, a equação x2 = −1 tem um número
infinito de soluções no anel dos quaterniões.

2 a) Existem muitas maneiras de verificar que as rotações têm determinante


1, e as reflexões determinante −1. Por exemplo, qualquer rotação de
R2 em torno da origem é uma transformação linear com determinante
1, porque a respectiva representação matricial numa base ortonormada
é da forma:  
cos θ − sen θ
.
sen θ cos θ
Esta matriz tem determinante cos2 θ + sen2 θ = 1. Por outro lado,
qualquer reflexão do plano numa recta que passe pela origem é uma
transformação linear com representação matricial da forma
 
1 0
0 −1

numa base ortogonal convenientemente escolhida (o primeiro vector


da base tem a direcção da recta em causa, e o segundo é ortogonal à
mesma recta). O determinante da transformação é neste caso −1.

2 b) O argumento usado para mostrar que os subgrupos de dois elementos


não são normais pode ser explorado para determinar a “tabuada” do
grupo Dn . Na realidade, se α é uma reflexão e r é a rotação de 2π/n,
então a tabuada de Dn fica determinada observando que os elementos
de Dn são da forma αk rm , com 0 ≤ k < 2, e 0 ≤ m < n, e calculando
rα. O cálculo é directo, se notarmos que rα é uma reflexão, e portanto
rα = (rα)−1 . Como (rα)(αrn−1 ) = rn = 1, temos (rα)−1 = αrn−1 ,
i.e., rα = αrn−1 .

3.8 2o Teste: 27/4/2004


1. Esta questão refere-se a equações ax ≡ b (mod 216), com a, b, x ∈ Z.

a) Determine as soluções da equação homogénea 10x ≡ 0 (mod 216).


resolução: Temos 216 = 23 × 33 , e 10 = 2 × 5. É portanto
evidente que mdc(10, 216) = 2. Notamos que

10x ≡ 0 (mod 216) ⇔ 10x = 216y ⇔ 5x = 108y ⇔ 108|5x.

Como mdc(5, 108) = 1, sabemos que 108|5x ⇒ 108|x. É por


outro lado óbvio que 108|x ⇒ 108|5x, i.e., 108|x ⇔ 108|5x, e

10x ≡ 0 (mod 216) ⇔ 108|x ⇔ x ≡ 0 (mod 108).


52 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

Por outras palavras, x é solução da equação homogénea 10x ≡ 0


(mod 216) se e só se x ≡ 0 (mod 108), i.e., se e só se x = 108k,
com k ∈ Z.
b) Determine as soluções da equação 10x ≡ 6 (mod 216).
resolução: A equação tem soluções, porque mdc(10, 216) = 2,
e 2 é factor de 6. Podemos calcular uma solução particular para a
equação 10x ≡ 2 (mod 216) recorrendo ao algoritmo de Euclides:
n m q r y1 x1 y2 x2
216 10 21 6 1 0 0 1
10 6 1 2 0 1 1 −21
6 4 1 2 1 −21 −1 22
4 2 2 0 −1 22 2 −43
Concluı́mos que 216(2) + 10(−43) = 2, i.e., x = −43 é uma
solução particular da equação 10x ≡ 2 (mod 216), donde x =
−129 = (−43) × 3 é uma solução particular da equação 10x ≡ 6
(mod 216). A solução geral desta equação pode ser obtida so-
mando a esta solução particular a solução geral da equação ho-
mogénea corresponente, que é como vimos x = 108k, com k ∈ Z,
para obter:
10x ≡ 6 (mod 216) ⇔ x = −129 + 108k, k ∈ Z.
Podemos ainda escrever
10x ≡ 6 (mod 216) ⇔ x ≡ −129 (mod 108).
O inteiro −129 pode ser substituı́do por qualquer outro que lhe
seja congruente (mod 108), e é comum escrever a solução geral
recorrendo à menor solução particular positiva, i.e., escrever x ≡
87 (mod 108).
c) Quantos naturais a ≤ 216 têm inverso (mod 216)?
resolução: a é invertı́vel (mod 216) se e só se a equação ax ≡ 1
(mod 216) tem solução, ou seja, se e só se mdc(a, 216) = 1. Como
os únicos factores primos de 216 são 2 e 3, segue-se que desejamos
contar os naturais a ≤ 216 que não são múltiplos de 2 nem de 3.
É claro que existem
• 216/2 = 108 naturais a ≤ 216 que são múltiplos de 2.
• 216/3 = 72 naturais a ≤ 216 que são múltiplos de 3.
Alguns destes naturais são simultaneamente múltiplos de 2 e de
3, mas esses são múltiplos de mmc(2, 3) = 6. Mais uma vez,
existem 216/6 = 36 múltiplos de 6, menores ou iguais a 216.
Os naturais a ≤ 216 que são múltiplos de 2 ou de 3 são então
108 + 72 − 36 = 144, restando 216 − 144 = 72 naturais a ≤ 216
que são invertı́veis (mod 216).
3.8. 2o TESTE: 27/4/2004 53

2. Nesta questão, A é um anel unitário, com identidade I 6= 0, e φ : Z →


A é o homomorfismo de anéis dado por φ(n) = nI.

a) Prove que φ(Z) é o menor subanel de A que contém I.


resolução: Temos a provar duas afirmações:
(1) φ(Z) é um subanel de A que contém I.
(2) Se I ∈ B ⊆ A, e B é subanel de A, então φ(Z) ⊆ B.
A afirmação (1) é evidente, porque
• I = φ(1) ∈ φ(Z), e
• φ(Z) é um subanel de A, porque é a imagem do anel Z pelo
homomorfismo de anéis φ.
Para provar (2), suponha-se que I ∈ B ⊆ A, e B é subanel de A.
Temos que mostrar que
(a) φ(n) ∈ B, para qualquer n ∈ Z:
Demonstramos primeiro, e por indução em n, que
(b) φ(n) ∈ B, para qualquer n ∈ N:
• φ(1) ∈ B, porque φ(1) = I ∈ B.
• Se φ(n) ∈ B então φ(n + 1) = φ(n) + I ∈ B, porque B é
fechado para a soma.
Sabemos que se n ∈ Z então n ∈ N, ou n = 0, ou −n ∈ N.
Para provar (a), resta-nos mostrar que φ(n) ∈ B, quando n = 0
e quando −n ∈ N.
• Se n = 0: φ(0) = 0 ∈ A, porque φ é um homomorfismo de
anéis, e portanto transforma o zero do anel de partida no
zero do anel de chegada. Qualquer subanel de A contém o
zero de A, e portanto φ(0) = 0 ∈ B.
• Se −n ∈ N: φ(n) = −φ(−n), porque φ é um homomorfismo
de anéis, e φ(−n) ∈ B, de acordo com (b). Portanto φ(n) ∈
B, já que B é um subanel, e por isso contém os simétricos
dos seus elementos.
b) Mostre que se A é ordenado e A+ = φ(N) então A é isomorfo a
Z. sugestão: Verifique primeiro que se A é ordenado então φ é
injectiva, i.e., a caracterı́stica de A só pode ser 0.
resolução: Para mostrar que φ é injectiva basta-nos provar que
n 6= 0 =⇒ φ(n) 6= 0, já que φ é um homomorfismo. Recordamos
que se n 6= 0 então n ∈ N ou −n ∈ N. Provamos primeiro:
(i) Se n ∈ N então φ(n) ∈ A+ , donde φ(n) 6= 0.
Argumentamos por indução:
• φ(1) = I ∈ A+ , porque I = I 2 , e I 6= 0.
54 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

• Se φ(n) ∈ A+ então φ(n + 1) = φ(n) + I ∈ A+ , porque A+ é


fechado para a soma.
• Pela propriedade de tricotomia, temos φ(n) 6= 0.
Provamos em seguida:
(ii) Se −n ∈ N, então φ(n) 6= 0.
φ(−n) ∈ A+ , de acordo com (i), donde φ(n) = −φ(−n) 6= 0.
Concluı́mos de (i) e (ii) que φ é injectiva.
Supomos agora que A+ = φ(N), e passamos a demonstrar que φ
é também sobrejectiva. Dado a ∈ A, temos mais uma vez pela
propriedade de tricotomia que a ∈ A+ , ou a = 0, ou −a ∈ A+ .
Observamos que:
• Se a ∈ A+ , então por hipótese existe n ∈ N tal que a =
φ(n) ∈ φ(N) ⊂ φ(Z).
• Se a = 0 então a = φ(0) ∈ φ(Z).
• Se −a ∈ A+ então temos mais uma vez −a = φ(n), com
n ∈ N, e a = −φ(n) = φ(−n) ∈ φ(Z).
Concluı́mos que φ é um homomorfismo bijectivo, i.e., é um iso-
morfismo, e os anéis A e Z são isomorfos.

3. Designamos aqui por S(n) a soma dos divisores naturais de n ∈ N.

a) Quantos naturais d ≤ 4.000 são divisores de 4.000?


resolução: Como 4.000 = 25 × 53 , os divisores de 4.000 são da
forma d = 2n × 3m , com 0 ≤ n ≤ 5, e 0 ≤ m ≤ 3. Existem por
isso (5 + 1) × (3 + 1) = 24 divisores de 4.000.
b) Determine S(4.000).
resolução: De acordo com a alı́nea anterior, temos:
5 X
X 3 5
X 3
X
S(4.000) = 2n × 5m = 2n 5m =
n=0 m=0 n=0 m=0

= (1 + 2 + 4 + 8 + 16 + 32)(1 + 5 + 25 + 125) = 63 × 156 = 9.828


c) Resolva a equação S(n) = 399 = 3 × 7 × 19.
resolução: Se pk é a maior potência de p que divide o natural
n então a soma 1 + p + p2 + · · · + pk é factor de S(n). Neste
caso, S(n) = 3 × 7 × 19 tem 7 factores α 6= 1, i.e., α ∈ D =
{3, 7, 19, 21, 57, 133, 399}, e teremos portanto

1 + p + p2 + · · · + pk = α ∈ {3, 7, 19, 21, 57, 133, 399}

Os casos α = 3 e α = 7 são muito fáceis de resolver, já que


3 = 1 + 2, e 7 = 1 + 2 + 4, correspondendo sempre a p = 2, e
sendo respectivamente k = 1 e k = 2.
3.9. 3o TESTE: 25/5/2004 55

Para estudar os casos dos restantes factores, convém observar o


seguinte:
(1) Se 1 + p + p2 + · · · + pk = α então α ≡ 1 (mod p), i.e., p|α − 1.
(2) Se 1 + p + p2 + · · · + pk = α ∈ {19, 21, 57, 133, 399} então
k ≥ 2, e portanto p2 < α.
(3) 1 + 2 + 22 + · · · + 2k = 2k+1 − 1: os valores correspondentes
são: 3, 7, 15, 31, 63, 127, 255, 511, · · · .
(4) 1+3+32 +· · ·+3k = (3k+1 −1)/2: os valores correspondentes
são: 4, 13, 40, 121, 364, · · · .
Seleccionamos assim os possı́veis primos p para cada valor de α:
19: 19 − 1 = 18 = 2 × 32 , p = 2, ou p = 3: impossı́vel.
21: 21 − 1 = 20 = 22 × 5, p = 2: impossı́vel.
57: 57 − 1 = 56 = 23 × 7, p = 2, ou p = 7: a única possibilidade
é 57 = 1 + 7 + 49, i.e., p = 7, e k = 2.
133: 133 − 1 = 132 = 22 × 3 × 11, p = 2, ou p = 3, ou p = 11: a
única possibilidade é 133 = 1 + 11 + 121, i.e., p = 11 e k = 2.
399: 399 − 1 = 398 = 2 × 199, p = 2: impossı́vel. Repare-se que
para verificar que 199 é primo basta testar os factores primos
2 ≤ p ≤ 13. É evidente que 2, 3, 5 e 11 não são factores de
199, pelo que apenas temos que calcular 199 ≡ 3 (mod 7), e
199 ≡ 4 (mod 13).
Resumimos as soluções que encontrámos para a equação

1 + p + p2 + · · · + pk = α ∈ {3, 7, 19, 21, 57, 133, 399}

α p k
3 2 1 3=1+2
7 2 2 7=1+2+4
57 7 2 57 = 1 + 7 + 49
133 11 2 133 = 1 + 11 + 121
Como 399 = 3 × 133 = 7 × 57, a equação S(n) = 399 tem exac-
tamente duas soluções: n = 2 × 112 = 242, e n = 22 × 72 = 196.

3.9 3o Teste: 25/5/2004


1. Este grupo refere-se ao anel A = Z1155 .

a) Determine uma solução particular da equação 60x = 15, com


x ∈ Z1155 . Quantas soluções tem esta equação?
resolução: A equação a resolver é equivalente a 60x ≡ 15
(mod 1155), que tem solução se e só se mdc(60, 1155)|15. Co-
meçamos por isso por calcular mdc(60, 1155), usando o algoritmo
56 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

de Euclides:

n m q r y1 x1 y2 x2
1155 60 19 15 1 0 0 1
60 15 4 0 0 1 1 −19

Temos assim 15 = mdc(60, 1155), e 15 = (1155)(1) + (60)(−19).


Em particular, x = −19 = 1136 é uma solução particular da
equação original.
O número de soluções da equação original, que é não-homogénea,
é o número de soluções da equação homogénea correspondente,
que é 60x = 0. Esta última equação é equivalente a 1155|60x,
ou, dividindo por 15, 77|4x. Como 77 e 4 são primos entre si,
concluı́mos que 77|x. Finalmente, como 1155 = 77 × 15, é claro
que a equação tem 15 soluções no anel Z1155 .
b) O subanel B =< 60 >⊂ A tem identidade? Em caso afirmativo,
qual é essa identidade?
resolução: Vimos que mdc(60, 1155) = 15, donde

B =< 60 >=< 15 > é um anel com 1155/15 = 77 elementos.

Como 15 e 77 são primos entre si, segue-se que B tem identidade.


A identidade é a classe de equivalência do inteiro x, onde

x≡0 (mod 15)
x≡1 (mod 77)
Temos

x = 1 + 77y ⇒ 1 + 77y ≡ 0 (mod 15) ⇔ 2y ≡ −1 (mod 15).

Multiplicando por −7, que é inverso de 2 (mod 15), obtemos

y≡7 (mod 15) ⇒ y = 7+15z ⇒ x = 1+77(7+15z) = 540+1155z.

Concluı́mos que x ≡ 540 (mod 1155), e a identidade do subanel


B é 540.

2. Neste grupo, p(x) ∈ Z3 [x], e F é o anel das funções f : Z3 → Z3 . De-


signamos por φ : Z3 [x] → F o homomorfismo de anéis que transforma
cada polinómio na respectiva função polinomial, e g : Z3 → Z3 é a
função dada por g(0) = g(1) = 2, e g(2) = 1.

a) Determine p(x) tal que φ(p(x)) = g.


3.9. 3o TESTE: 25/5/2004 57

resolução: Usamos a fórmula de interpolação de Lagrange.


Consideramos primeiro os polinómios pk (x), dados por:
p0 (x) =2(x − 1)(x − 2)
p1 (x) =2x(x − 2)
p2 (x) =2x(x − 1)
Notamos que qualquer α 6= k é raı́z de pk (x), e pk (k) = 1. O
polinómio Ap0 (x)+Bp1 (x)+Cp2 (x) toma assim os valores A, B,
e C, respectivamente em 0, 1, e 2, e no caso presente A = B = 2,
e C = 1, i.e.,
p(x) =2p0 (x) + 2p1 (x) + p2 (x)
=(x − 1)(x − 2) + x(x − 2) + 2x(x − 1)
=x2 + 2 + x2 − 2x + 2x2 − 2x = x2 + 2x + 2

b) Qual é a solução geral da equação φ(p(x)) = g?


resolução: Como vimos, o polinómio p(x) = x2 + 2x + 2 é uma
solução particular desta equação. Como φ é um homomorfismo
(de anéis), a solução geral resulta de adicionar, a esta, a solução
geral da equação homogénea φ(p(x)) = 0, ou seja, adicionar um
qualquer elemento do núcleo de φ. Por outras palavras, temos a
determinar o núcleo do homomorfismo φ.
O núcleo de φ é um ideal de Z3 [x], e portanto é da forma
N (φ) =< m(x) >= {q(x)m(x) : q(x) ∈ Z3 [x]},
já que Z3 é um corpo. Os polinómios em N (φ) são, por razões
evidentes, os que têm 0, 1, e 2 como raı́zes, e m(x) é um qualquer
dos polinómios não-nulos, e de grau mı́nimo, no núcleo de φ.
O grau de m(x) é pelo menos 3, porque m(x) tem três raı́zes
distintas. Como x(x − 1)(x − 2) = x(x2 + 2) = x3 + 2x é um
polinómio de grau 3 com as raı́zes em causa, podemos tomar
m(x) = x3 + 2x.
A solução geral da equação não-homogénea é assim:

p(x) = x2 + 2x + 2 + q(x)(x3 + 2x), q(x) ∈ Z3 [x]


3. Este grupo refere-se ao anel dos inteiros de Gauss Z[i].
a) Suponha que n, m ∈ Z, e p = n2 + m2 é um inteiro primo. Mostre
que n + mi é um elemento irredutı́vel de Z[i].
resolução: Suponha-se que n + mi = (a + bi)(c + di), donde
|n + mi|2 = |a + bi|2 |c + di|2 , i.e.,
p = n2 + m2 = (a2 + b2 )(c2 + d2 ).
58 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

Como p é um inteiro primo, temos certamente a2 + b2 = 1 ou


c2 + d2 = 1, i.e., um dos elementos a + bi ou c + di é invertı́vel.
Como n + mi não é nulo nem invertı́vel, segue-se que n + mi é
irredutı́vel.
b) Considere o inteiro de Gauss z = 15(2 + 3i)2 . Quantos divisores
de z existem em Z[i]? sugestão: Como calcula o número de
divisores k ∈ N de um dado n ∈ N?
resolução: A seguinte factorização para z é imediata:

z = 15(2 + 3i)2 = 3 × 5 × (2 + 3i)2 = 3(2 + i)(2 − i)(2 + 3i)2 .

Os inteiros de Gauss 2 + i, 2 − i e 2 + 3i são irredutı́veis, porque


22 + 12 = 5, e 22 + 32 = 13. 3 é um inteiro de Gauss irredutı́vel,
porque qualquer inteiro primo p que satisfaça p ≡ 3 (mod 4) é
irredutı́vel em Z[i]. A factorização de z indicada acima é portanto
a factorização de z em elementos irredutı́veis, e os divisores de z
são os inteiros de Gauss da forma:

w = u3α (2 + i)β (2 − i)γ (2 + 3i)δ ,

onde 0 ≤ α, β, γ ≤ 1, 0 ≤ δ ≤ 2, e u ∈ {1, −1, i, −i} é um inteiro


de Gauss invertı́vel.
Existem assim 4 × 2 × 2 × 2 × 3 = 96 divisores de z.
4. Seja K um corpo e A = K [[x]] o anel das séries de potências com
coeficientes em K.
a) P
Mostre que os elementos invertı́veis de A são as séries da forma
∞ n
n=0 an x , com a0 6= 0.
resolução: É evidente que

! ∞ !
X X
an xn bm xm = 1 ⇒ a0 b0 = 1 ⇒ a0 6= 0.
n=0 m=0

se a0 6= 0 então existe uma série ∞ m


P
Resta-nosPmostrar queP m=0 bm x
∞ n ∞ m
tal que ( n=0 an x ) ( m=0 bm x ) = 1. Para isso, definimos os
coeficientes bm recursivamente, de forma a que:
n
X
a0 b0 = 1, e, para n > 0, ak bn−k = 0.
k=0

Basta-nos tomar b0 = a−1


0 ,
e, para n > 0, e supondo bk definido
para 0 ≤ k < n, notar que
n n n
!
X X X
ak bn−k = 0 ⇔ a0 bn = − ak bn−k ⇔ bn = −a−1
0 ak bn−k .
k=0 k=1 k=1
3.9. 3o TESTE: 25/5/2004 59

b) A é um d.i.p. e/ou um d.f.u.?


P∞ k
resolução: Seja 0 6= s(x) = k=0 sk x ∈ K[[x]], e n =
min{k ≥ 0 : sk 6= 0}. Segue-se da alı́nea anterior que

s(x) = xn u, onde u ∈ K[[x]] é invertı́vel.

Por outras palavras, se s(x) 6= 0 então existe n ≥ 0 tal que


s(x) ∼ xn em K[[x]]. Seja agora I ⊆ K[[x]] um ideal. Se I = {0}
é óbvio que I =< 0 > é um ideal principal. Se I 6= {0}, então
existe uma série 0 6= s(x) ∈ I, e existe n ≥ 0 tal que s(x) ∼ xn .
É claro que xn ∈ I, e em particular {n ≥ 0 : xn ∈ I} = 6 ∅.
Consideramos

d = min{n ≥ 0 : xn ∈ I}, donde xd ∈ I.

É claro que < xd >⊆ I. Para verificar que I ⊆< xd >, seja
0 6= t(x) ∈ I, donde t(x) = xm v, onde v é invertı́vel, e xm ∈ I.
Temos então m ≥ d, e t(x) = (xm−d v)xd , i.e., t(x) ∈< xd >, e
< xd >⊆ I.
Concluı́mos que K[[x]] é um p.i.d., donde é também um d.f.u.

Notas sobre a resolução:

• As questões (1a) e (2b) são ambas aplicações directas duma ideia que
começámos a referir ainda no primeiro capı́tulo. Seja (G, ∗) um grupo,
φ : G → H um homomorfismo de grupos, e suponha-se que a equação
φ(x) = y0 tem uma solução particular x0 . Neste caso, a solução geral
da equação é x = x0 ∗ n, onde n ∈ N (φ), i.e., onde n é um elemento
arbitrário do núcleo de φ. Na questão (1a), temos φ : Z1155 → Z1155 ,
dado por φ(x) = 60x. Na questão (2b), temos φ : Z3 [x] → F , onde
φ(p(x)) é a função polinomial determinada por p(x), e definida em Z3 .
Em ambos os casos, e depois de determinar uma solução particular, é
apenas necessário calcular o núcleo de φ.

• A questão (1b) está documentada na secção 3.1 do livro (proposição


3.1.25).

• Sobre a questão (2a), recorde-seQque, num corpo finito K = {a1 , · · · , an },


o valor do polinómio qk (x) = i6=k (x − ai ) é, no ponto ak , uma con-
stante α independente de k. α é na realidade igual ao produto dos
elementos não-nulos de K. No caso de Z3 , temos α = 1 × 2 = 2. Ao
usar a fórmula de interpolação de Lagrange, recorremos aos polinómios
pk (x) = α−1 qk (x), para forçar pk (ak ) = 1. Em Z3 temos 2−1 = 2.
60 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

3.10 1o Teste: 31/3/2005


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta
questão, (G, ∗) é um grupo, e (A, +, ×) é um anel unitário.

a) Qualquer subgrupo de G contém a identidade de G.


resolução: Verdadeiro. Seja e a identidade do grupo “original”
G, e f a identidade do subgrupo H ⊆ G. Notamos que:
• f ∗ f = f , porque f é a identidade de H.
• f ∗ e = f , porque f ∈ G, e e é a identidade de G.
Concluı́mos que f ∗ f = f ∗ e. Pela lei do corte no grupo G (i.e.,
multiplicando à esquerda por f −1 , que é o inverso de f no grupo
G), obtemos imediatamente que f = e.
b) Qualquer subanel unitário de A contém a identidade de A.
resolução: Falso. Seja A = M2 (R) o usual anel das matrizes
2 × 2 com entradas reais, e B o subanel de A formado pelas
matrizes da forma  
x 0
.
0 0

É claro que A e B são anéis unitários com identidades distintas.


c) Se x ∈ G e x2 = e, onde e é a identidade de G, então x = e.
resolução: Falso. No grupo (multiplicativo) das raı́zes quadradas
da unidade, G = {1, −1}, a equação x2 = 1 tem raı́zes x = 1 e
x = −1.
d) Se x ∈ A e x2 = 0 então x = 0.
resolução: Falso. No anel A = M2 (R), temos

a2 + bc b(a + d)
   
a b 2
x= ⇒x = .
c d c(a + d) d2 + bc

Podemos tomar a+d = 0, e escolher b e c de modo a que a2 +bc =


0, para obter x 6= 0, e x2 = 0. Por exemplo,
 
1 −1
x= .
1 −1

2. O grupo GL(2, R) é formado pelas matrizes 2 × 2, invertı́veis, com


entradas em R, com o produto usual de matrizes. Para cada um dos
seguintes exemplos, diga se H é um subgrupo de GL(2, R), e, caso
afirmativo, se H é um subgrupo normal de GL(2, R).
3.10. 1o TESTE: 31/3/2005 61
 
a 0
a) H = { , ab 6= 0}.
0 b
resolução: É óbvio que H 6= ∅, e por isso temos a verificar
apenas que x, y ∈ H ⇒ xy −1 ∈ H. Note-se, para isso, que sendo
a 6= 0 e b 6= 0 então
   −1 
a 0 −1 a 0
y= ⇒y = .
0 b 0 b−1

Concluı́mos que:
     −1 
c 0 a 0 −1 ca 0
x= ,y = ⇒ xy = ∈ H.
0 d 0 b 0 db−1
Temos assim que
H é um subgrupo de GL(2, R).
Considerem-se agora as matrizes (1 )
     
1 0 1 0 −1 1 0
x= ∈ H, y = ∈ GL(2, R), donde y = .
0 −1 1 1 −1 1

O seguinte cálculo é imediato:


     
−1 1 0 1 0 1 0 1 0
y xy = = 6∈ H.
−1 1 0 −1 1 1 −2 −1

Concluı́mos que
H não é um subgrupo normal de GL(2, R).
b) H = {M ∈ GL(2, R) : det(M ) = 1}.
resolução: H 6= ∅, já que contém, por exemplo, a matriz iden-
tidade. Para verificar que x, y ∈ H ⇒ xy −1 ∈ H, recordamos
que det(xy) = det(x) det(y), e det(y −1 ) = det(y)−1 . Como
x, y ∈ H ⇔ det(x) = det(y) = 1, temos então que

det(xy −1 ) = det(x) det(y −1 ) = det(x) det(y)−1 = 1.

Concluı́mos que
H é um subgrupo de GL(2, R).
Se x ∈ H e y ∈ GL(2, R), temos ainda

det(y −1 xy) = det(y −1 ) det(x) det(y) = det(y) det(y)−1 = 1.

Por outras palavras, y −1 xy ∈ H, donde


1
Note que a matriz y representa uma operação elementar sobre linhas/colunas, o que
em particular torna o cálculo da sua inversa imediato.
62 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

H é um subgrupo normal de GL(2, R).

3. Nesta questão, G = {1, i, −1, −i} é o grupo multiplicativo das raı́zes


quartas da unidade, e Z2 = {0, 1} é o usual grupo aditivo com dois
elementos.

a) Determine todos os homomorfismos de grupo f : Z2 → G.


resolução: Temos f (0) = 1, porque qualquer homomorfismo de
grupos transforma a identidade do grupo de partida na identidade
do grupo de chegada. Resta-nos por isso determinar f (1). Note-
se que

f (1)2 = f (1)f (1) = f (1+1) = f (0) = 1 ⇒ f (1) = 1 ou f (1) = −1.

No caso em que f (1) = 0, f é o homomorfismo constante trivial.


No caso em que f (1) = −1, f é evidentemente um isomorfismo
entre Z2 e o subgrupo de G com 2 elementos.
b) Suponha que H é um grupo, e g : G → H é um homomorfismo
sobrejectivo. Classifique o grupo H.
resolução: G tem apenas 3 subgrupos, respectivamente com 1,
2, ou 4 elementos, que são {1}, {1, −1}, e G. Estes subgrupos
são todos normais, porque G é abeliano. Concluı́mos que o núcleo
N (g) pode ter 1, 2, ou 4 elementos.
• Se N (g) tem 1 elemento, então g é um isomorfismo, e por-
tanto H ' G. Este caso é certamente possı́vel, por exemplo
com G = H, sendo g a função identidade.
• Se N (g) tem 2 elementos, então cada elemento de H é ima-
gem de 2 elementos de G, e portanto H tem 2 elementos.
Como todos os grupos de 2 elementos são isomorfos entre si,
H é isomorfo ao grupo multiplicativo das raı́zes quadradas
da unidade {1, −1}. Este caso é igualmente possı́vel, porque
corresponde a g : G → {1, −1}, dado por g(x) = x2 .
• Se N (g) tem 4 elementos, então todos os elementos de G
pertencem ao núcleo, i.e., g é o homomorfismo trivial, e H é
um grupo com 1 elemento. Este caso é obviamente possı́vel.
Concluı́mos que H pode ser isomorfo exactamente a um dos três
seguinte grupos: {1}, {1, −1}, G.

3.11 2o Teste: 28/4/2005


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo.
3.11. 2o TESTE: 28/4/2005 63

a) Todos os grupos não abelianos com 8 elementos são isomorfos


entre si.
resolução: A afirmação é falsa. Basta recordar o grupo mul-
tiplicativo dos quaterniões unitários, H8 = {±1, ±i, ±j, ±k}, e
o grupo diedral D4 , das simetrias do quadrado. Existem 6 el-
ementos x ∈ D4 tais que x2 = 1 (a identidade, as 4 reflexões
nos eixos de simetria do quadrado, e a rotação de 180o ), e ape-
nas 2 elementos em H8 que satisfazem a mesma equação, que são
x = ±1.
b) No grupo diedral Dn (grupo de simetria do polı́gono regular de
n lados), as rotações formam um subgrupo normal de Dn .
resolução: A afirmação é verdadeira. Sabemos que as sime-
trias são transformações (lineares) ortogonais, e recordamos que
as rotações r ∈ D4 são os elementos de D4 com determinante 1,
e as reflexões são os elementos α ∈ D4 com determinante −1.
As rotações em D4 formam um subgrupo de D4 , porque o produto
de duas rotações tem determinante 1, logo é uma rotação, e a
inversa de uma rotação tem também determinante 1, e é por isso
igualmente uma rotação. Finalmente, se α não é uma rotação
então α = α−1 é uma reflexão, e se r é uma rotação então α−1 rα
é uma rotação, porque o seu determinante é (−1)1(−1) = 1.
Concluı́mos assim que as rotações formam um subgrupo normal
de D4 .
c) Se n, m, k ∈ N, mdc(n, m) = 1 e n|mk então n|k.
resolução: A afirmação é verdadeira. Como mdc(n, m) = 1,
existem x, y ∈ Z tais que 1 = nx + my, donde k = nkx + mky.
Dado que nkx e mky são obviamente múltiplos de n, segue-se
que k é múltiplo de n, i.e., n|k.

2. Neste grupo, x, y e z0 são números inteiros.

a) Qual é o menor natural z0 para o qual a equação 2279x+731y =


z0 tem soluções?
resolução: Sabemos que z0 = mdc(2279, 731), e começamos
por calcular z0 , usando o algoritmo de Euclides:

n m q r x1 y1 x2 y2
2279 731 3 86 1 0 0 1
731 86 8 43 0 1 1 −3
86 43 2 0 1 −3 −8 25

Temos z0 = 43 = mdc(2279, 731), e 43 = (2279)(−8) + (731)(25).


b) Sendo z0 o natural determinado na alı́nea anterior, qual é o
menor natural x que é solução da equação 2279x + 731y = z0 ?
64 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

resolução: A solução geral da equação obtém-se da solução


particular indicada acima (x = −8, y = 25), e da solução geral da
equação homogénea correspondente (2279x + 731y = 0). Como
731 = 43 × 17, e 2279 = 43 × 53, temos 2279x + 731y = 0 se e
só se 53x + 17y = 0, e portanto 17|x, i.e., x = 17k. (Segue-se
igualmente que y = −53k apesar deste facto não ser relevante
para a resposta à questão aqui colocada). A solução geral da
equação original é portanto x = −8 + 17k (e y = 25 − 53k). A
menor solução natural x é claramente x = −8 + 17 = 9.

3. Suponha que n 6= 4 é um natural, e mostre que n|(n − 1)! se e só se n


não é primo. sugestão: Considere sucessivamente os casos

(1) n é primo,
(2) Existem 1 < k < m < n tais que n = mk, e
(3) n = m2 .

resolução: Consideramos os casos indicados:

(1) Se n é primo, e n|(n − 1)!, segue-se do lema de Euclides que n


divide um dos factores de (n − 1)!, o que é absurdo, porque todos
esses factores são inferiores a n. Concluı́mos que neste caso n
não é factor de (n − 1)!.
(2) Se existem 1 < k < m < n tais que n = mk, é óbvio que 1 < k <
m ≤ n − 1, e portanto os naturais k e m são certamente factores
distintos de (n − 1)!, e n = km é também factor de (n − 1)!.
(3) Se n = m2 então n = m = 1 ou m > 2, porque n 6= 4. O resultado
é óbvio para n = 1, e supomos por isso que m > 2. Temos assim
n − 1 = m2 − 1 = (m − 1)(m + 1) ≥ 2(m + 1). O produto (n − 1)!
tem como factores pelo menos todos os naturais entre 1 e 2m + 2,
e por isso tem um factor igual a m, e outro factor igual a 2m. É
consequentemente múltiplo de m2 , i.e., de n.

O caso (1) acima mostra que n|(n − 1)! =⇒ n não é primo. Se n não é
primo e n 6= 4 então n tem uma factorização não-trivial n = mk, onde
1 < k ≤ m < n, e segue-se de (2) e (3) que n|(n − 1)!.

3.12 3o Teste: 25/5/2005


1. Esta questão refere-se ao anel Z808 .

a) Quantos subanéis existem em Z808 ? Quantos elementos de Z808


são invertı́veis? Quantos elementos de Z808 são divisores de zero?
resolução:
3.12. 3o TESTE: 25/5/2005 65

• Existe um subanel de Z808 por cada divisor de 808 = 23 ×101.


Existem (3+1)(1+1) = 8 divisores de 808, e portanto existem
8 subanéis de Z808 .
Os elementos de Z808 são as classes k, onde 1 ≤ k ≤ 808. A
classe k é invertı́vel se e só se k e 808 são primos entre si, caso
contrário a classe k é um divisor de zero, ou então é a classe
0. É mais fácil contar directamente os naturais que não são
primos relativamente a 808, porque neste caso são múltiplos
de 2, ou múltiplos de 101. Existem:
– 808/2 = 404 múltiplos de 2,
– 808/101 = 8 múltiplos de 101.
– Os múltiplos de 2 e 101 são múltiplos de 202, logo existem
808/202 = 4.
Concluı́mos que:
• Existem 400 elementos invertı́veis: 808 − (404 + 8 − 4) = 400.
• Existem 407 divisores de zero: 808 = 400 + 1 + 407.
b) Quantos elementos tem o subanel < 303 >? Quais são os seus
geradores? Qual é a sua identidade?
resolução:
• < 303 >=< d >, onde d = mdc(303, 808) = 101. Temos
assim que < 303 >=< 101 > tem 808/101 = 8 elementos.
• Os geradores de < 303 >=< d > são as classes k, onde
1 ≤ k ≤ 808, e mdc(k, 808) = 101.
Temos assim k = 101x, e mdc(101x, 808) = 101, onde

1 ≤ x ≤ 8, e mdc(x, 8) = 1.

Concluı́mos que x = 1, 3, 5, ou 7, k = 101, 303, 505, ou 707, e


os geradores de < 303 > são as classes 101, 303, 505, e 707.
• A identidade de < 303 > é a classe x, onde o natural x
satisfaz as congruências

x ≡ 0 (mod 101)
x ≡ 1 (mod 8)
Notamos da 1a equação que x = 101y, e temos a resolver

101y ≡ 1 (mod 8) ⇔ 5y ≡ 1 (mod 8) ⇔ y ≡ 5 (mod 8).

Concluı́mos que

y = 5 + 8z ⇒ x = 101(5 + 8z) = 505 + 808z ⇒ x = 505.

2. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando


a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo.
66 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

a) O polinómio x3 + x2 + x + 2 é irredutı́vel em Z3 [x].


resolução: A afirmação é verdadeira. Seja m(x) = x3 + x2 +
x + 2. Temos em Z3 que

m(0) = 2 6= 0, m(1) = 5 = 2 6= 0, donde m(2) = 16 = 1 6= 0.

Como m(x) tem grau 3, e tem coeficientes num corpo, podemos


concluir que m(x) é irredutı́vel, por não ter raı́zes.
b) A equação 1 = p(x)(x3 +x2 +x+2)+q(x)(x2 +2x+2) tem soluções
p(x), q(x) ∈ Z3 [x], mas não tem soluções p(x), q(x) ∈ Z5 [x].
resolução: A primeira afirmação é verdadeira. Como m(x)
é irredutı́vel, e o polinómio n(x) = x2 + 2x + 2 não é, por razões
óbvias, múltiplo de m(x), podemos concluir que

mdc(m(x), n(x)) = 1.

Segue-se do algoritmo de Euclides que a equação

1 = p(x)(x3 + x2 + x + 2) + q(x)(x2 + 2x + 2)

tem soluções p(x), q(x) ∈ Z3 [x].


A segunda afirmação é falsa. Os cálculos realizados na alı́nea
anterior mostram igualmente que m(x) é redutı́vel em Z5 [x],
porque neste caso m(1) = 0. Na realidade, é imediato veri-
ficar que temos igualmente n(1) = 0, e portanto o polinómio
x − 1 = x + 4 é divisor comum de m(x) e n(x). Segue-se que
x + 4| mdc(m(x), n(x)), e portanto mdc(m(x), n(x)) 6= 1. Por-
tanto a equação 1 = p(x)(x3 + x2 + x + 2) + q(x)(x2 + 2x + 2) não
tem soluções p(x), q(x) ∈ Z5 [x].
c) Exactamente um dos subanéis de Z808 é um corpo.
resolução: A afirmação é verdadeira. Seja An o subanel de
Z808 com n elementos, donde n|m, i.e., m = nd. Sabemos que
An é unitário se e só se mdc(n, d) = 1, e nesse caso o anel An
é isomorfo ao anel Zn . Portanto, os subanéis de Z808 unitários
são os que têm 1, 8, 101, ou 808 elementos, e estes são isomorfos
respectivamente a Z1 , Z8 , Z101 , e Z808 .
Como apenas Z101 é um corpo, concluı́mos que Z808 tem um único
subanel que é um corpo, que é o seu subanel com 101 elementos.

3. Recorde que, se p ∈ N é primo, então todos os elementos a ∈ Z∗p


satisfazem ap−1 = 1. Recorde igualmente o Teorema do Resto.

a) Quais são os factores irredutı́veis do polinómio xp−1 −1 em Zp [x]?


resolução: O polinómio m(x) = xp−1 − 1 tem, como observado
no enunciado, p − 1 raı́zes em Zp , que são todos os elementos
3.13. 1o TESTE: 27/3/2006 67

de Z∗p , i.e., as classes 1, 2, · · · , p − 2, e p − 1. Como Zp é um


corpo, segue-se que m(x) pode ser sucessivamente dividido pelos
polinómios x − k, para 1 ≤ k ≤ p − 1, obtendo-se sempre resto 0.
Concluı́mos que

m(x) = xp−1 − 1 = a(x − 1)(x − 2) · · · (x − p − 1).

b) Use a factorização acima para concluir que (p − 1)! ≡ −1 mod p.


resolução: A constante a na factorização acima é a identidade,
porque todos os polinómios em causa são mónicos. Calculamos
agora m(0) usando as duas formas acima para o polinómio m(x).
Temos então:
p−1
Y
m(0) = 0p−1 − 1 = −1 = (0 − k) = (−1)p−1 (p − 1)!.
k=1

Os cálculos acima são executados em Zp , e portanto:

−1 = (−1)p−1 (p − 1)! ⇔ (−1)p−1 (p − 1)! ≡ −1 mod p.

Se p 6= 2, é claro que p − 1 é par, e (−1)p−1 = 1. Concluı́mos


finalmente que (p − 1)! ≡ −1 mod p. Se p = 2, é inteiramente
óbvio que (2 − 1)! ≡ −1 mod 2.

3.13 1o Teste: 27/3/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta
questão, (G, ∗) é um grupo, e (A, +, ×) é um anel unitário.

a) A equação x2 = x tem uma única solução em G, que é a identi-


dade de G.
resolução: Seja e ∈ G a identidade de G. Supondo que x2 = x,
observamos que existe y ∈ G tal que x ∗ y = e, donde

x ∗ x = x ⇒ (x ∗ x) ∗ y = x ∗ y ⇒ x ∗ (x ∗ y) = e ⇒
⇒ x ∗ e = e ⇒ x = e.

É claro que e ∗ e = e, e portanto e é uma das possı́veis soluções


desta equação. Concluı́mos que x = e é a única solução da
equação original, e a afirmação é verdadeira.
b) Se f : G → G é um homomorfismo de grupos, então o núcleo de
f é um subgrupo normal de G.
68 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

resolução: Seja N (f ) = {x ∈ G : f (x) = e}. Notamos


primeiro que f (e)∗f (e) = f (e∗e) = f (e), donde se segue da alı́nea
anterior que f (e) = e. Em particular, e ∈ N (f ), e N (f ) 6= ∅.
Notamos agora que se x ∈ G então

f (x) ∗ f (x−1 ) = f (x ∗ x−1 ) = f (e) = e, donde f (x−1 ) = f (x)−1 .

Em particular,

x ∈ N (f ) ⇒ f (x−1 ) = f (x)−1 = e−1 = e ⇒ x−1 ∈ N (f ).

Temos ainda que

x, y ∈ N (f ) ⇒ f (x ∗ y) = f (x) ∗ f (y) = e ∗ e = e ⇒ x ∗ y ∈ N (f ).

Como N (f ) é não vazio, fechado em relação à operação binária de


G, e contém os inversos dos seus elementos, concluı́mos que N (f )
é um subgrupo de G. Para verificar que N (f ) é um subgrupo
normal, notamos finalmente que se x ∈ N (f ), e y ∈ G então

f (y ∗ x ∗ y −1 ) = f (y) ∗ f (x) ∗ f (y −1 ) = f (y) ∗ e ∗ f (y)−1 =

= f (y) ∗ f (y)−1 = e ⇒ y ∗ x ∗ y −1 ∈ N (f ).

A afirmação é portanto verdadeira.


c) Se B é um subanel de A, então B é também um ideal de A.
resolução: Tomamos A = R e B = Z, para observar que B é
um anel, e portanto um subanel de R, mas não é um ideal de R,
porque se x ∈
pZ e y ∈ R temos em geral que xy 6∈ Z (e.g., tome-se
x = 1 e y = (2)). A afirmação é falsa.
d) Se f : A → A é um homomorfismo de anéis, então f (nx) = nf (x),
para quaisquer x ∈ A e n ∈ N.
resolução: A afirmação é verdadeira, e demonstramo-la por
indução em n:
• Temos f (1 · x) = f (x) = 1 · f (x), e portanto a igualdade é
satisfeita quando n = 1.
• Supondo que f (n · x) = n · f (x), observamos que
f ((n + 1) · x) = f (n · x + x), por definição de n · x,
f (n · x + x) = f (n · x) + f (x), porque f é um homomor-
fismos de anéis,
f (n·x)+f (x) = n·f (x)+f (x), pela hipótese de indução,
n · f (x) + f (x) = (n + 1) · f (x), por definição de n · f (x).
3.13. 1o TESTE: 27/3/2006 69

e) Se a ∈ A, a equação x2 = a2 só tem as soluções x = ±a.


resolução: A afirmação é falsa. Por exemplo, no anel dos
quaterniões a equação x2 = −1 = i2 tem (entre outras) as soluções
x = ±j e x = ±k.

2. Designamos aqui por Rn = {z ∈ C : z n = 1} o grupo das raı́zes-n da


unidade com o produto usual de complexos.

a) Mostre que se n é múltiplo de m então Rm é subgrupo de Rn .


resolução: Sabemos que Rm é um grupo, donde nos resta
provar que se se n é múltiplo de m então Rm ⊆ Rn , para con-
cluir que Rm é subgrupo de Rn . Para isso, e supondo n = mk,
notamos que

x ∈ Rm ⇒ xm = 1 ⇒ (xm )k = 1k = 1 ⇒ xn = 1 ⇒ x ∈ Rn

b) O grupo R2 ⊕ R4 é isomorfo a R8 ?
resolução: Se G e H são grupos isomorfos, com identidades
respectivamente e ∈ G e e0 ∈ H, a equação x2 = e, x ∈ G e a
equação y 2 = e0 , y ∈ H, têm necessariamente o mesmo número
de soluções. Basta notar que se f : G → H é um isomorfismo de
grupos, então

x2 = e ⇔ f (x2 ) = f (e) ⇔ f (x)2 = e0 .

A equação x2 = 1 tem exactamente 2 soluções em R8 , que são os


elementos de R2 , x = ±1. A identidade de R2 ⊕ R4 é I = (1, 1),
e a equação y 2 = I com y ∈ R2 ⊕ R4 tem, por razões igualmente
óbvias, as 4 soluções y = (±1, ±1). Portanto, estes grupos não
podem ser isomorfos.
c) Considere o homomorfismo de grupos f : R12 → C∗ dado por
f (x) = x3 . Qual é o núcleo de f e a imagem f (R12 )? Quais são
as soluções da equação f (x) = −1?
resolução: Temos N (f ) = {x ∈ R12 : x3 = 1}, ou seja, os ele-
mentos do núcleo são as raı́zes cúbicas da unidade que pertencem
a R12 . De acordo com a), R3 ⊂ R12 , porque 12 é múltiplo de 3.
Concluı́mos assim que N (f ) = R3 .
Para cada y ∈ f (R12 ) existem 3 soluções x ∈ R12 da equação
y = f (x). É portanto claro que f (R12 ) tem 4 elementos. É
também evidente que x ∈ R12 ⇒ f (x)4 = (x3 )4 = x12 = 1, ou
seja, f (R12 ) ⊆ R4 . Como sabemos que f (R12 ) tem 4 elementos,
concluı́mos que f (R12 ) = R4 .
A equação x3 = −1 tem a solução particular evidente x = −1.
A solução geral é portanto x = (−1)y, com y ∈ N (f ) = R3 =
70 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

2kπ
{e 3 i : 0 ≤ k < 3}. Por outras palavras, x3 = −1 se e só se
2kπ
x ∈ {−e 3 i : 0 ≤ k < 3}.

3.14 2o Teste: 8/5/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta convenientemente.
a) A equação 2491x + 829y = 11 tem soluções x, y ∈ Z.
resolução: O algoritmo de Euclides conduz a:

n m q r
2491 829 3 4
829 4 207 1
Temos portanto mdc(2491, 829) = 1, e como obviamente 11 é múltiplo
de 1 segue-se que a equação em causa tem solução. A afirmação é
assim verdadeira.
b) A soma dos divisores de 100.000 é superior a 250.000.
resolução: Temos 100.000 = 105 = 25 55 , donde concluı́mos que os
divisores de 100.000 são os naturais da forma 2i 5j , com 0 ≤ i, j ≤ 5.
A soma destes divisores é assim:

5 X
X 5 5
X 5
X
i j i
25 = 2 5j = (26 − 1)(56 − 1)/4 = 63 × 3.906 = 246.078
i=1 j=1 i=1 j=1

A afirmação é assim falsa.


c) Qualquer anel ordenado A 6= {0} é infinito.
resolução: A contém elementos b 6= 0, e portanto contém pelo menos
um elemento a > 0. Definimos φ : A+ → A+ por φ(x) = x + a
(notamos que φ(A+ ) ⊆ A+ , porque A+ é fechado em relação à soma).
É claro que φ é injectiva, pela lei do corte para a soma. A função φ
não é sobrejectiva, porque φ(x) = a ⇒ x = 0 6∈ A+ . Portanto A+ é
infinito, assim como A. A afirmação é assim verdadeira.
d) O natural 21995 − 1 não é primo.
resolução: Conforme observámos a propósito dos primos de Mersenne,
este número não pode ser primo, porque 1995 = 5 × 399 não é primo.
É aliás fácil determinar alguns dos seus factores, por exemplo, com
x = 2399 , temos:
21995 − 1 = x5 − 1 = (x − 1)(1 + x + x2 + x3 + x4 ),
3.14. 2o TESTE: 8/5/2006 71

donde se segue que 2399 − 1 é factor de 21995 − 1. A afirmação é assim


verdadeira.
2. Considere nesta questão o anel A = Z75 , e seja B o subanel de A com
15 elementos.
a) Quais são os ideais de A? Quantos elementos tem cada um desses
ideais?
resolução: Z75 tem exactamente um ideal por cada divisor natural
d de 75, que é o ideal < d >, com 75/d elementos. Como 75 = 3 × 52 ,
temos d ∈ {1, 3, 5, 15, 25, 75}, e os ideais em causa são
< 1 >= Z75 , < 3 >, < 5 >, < 15 >, < 25 >, < 75 >=< 0 >,
com respectivamente 75, 25, 15, 5, 3, e 1 elementos.
b) Quantos divisores de zero existem em A? Quantos elementos tem A∗ ?
resolução: Sendo x ∈ Z75 , então x ∈ A∗ se e só se mdc(x, 75) = 1.
Caso contrário, e se x 6= 0, então x é um divisor de zero. Seja agora
C = {x ∈ N : 1 ≤ x ≤ 75}. Existem em C:
• 25 = 75/3 múltiplos de 3
• 15 = 75/5 múltiplos de 5
• 5 = 75/15 múltiplos de 15
Existem portanto 25 + 15 − 5 = 35 elementos de C que não são primos
relativamente a 75, e Z75 contém 75 − 35 = 40 elementos invertı́veis.
Contém ainda 34 = 35 − 1 divisores de zero, já que 75 corresponde a
75 = 0, que não é um divisor de zero.
c) O anel B é isomorfo ao anel Z15 ? Quais são os geradores de B, i.e.,
quais são os elementos x ∈ B tais que B =< x >?
resolução: O anel B =< 5 > não é isomorfo ao anel Z15 ,(2 ) porque
B não tem identidade, i.e., B não é um anel unitário. Sabemos que
se m = nd, então o subanel de Zm com n elementos tem identidade
se e só se mdc(n, d) = 1, o que não é o caso presente, onde n = 15 e
d = 5.(3 )
Os geradores de B são as classes z, onde z ∈ Z e mdc(z, 75) = 5.
É claro que z = 5k, e mdc(5k, 75) = 5, ou mdc(k, 15) = 1. Os ge-
radores de B correspondem então a k = 1, 2, 4, 7, 8, 11, 13, 14, i.e., a
z = 5, 10, 20, 35, 40, 55, 65, 70. Temos portanto
B =< 5 >=< 10 >=< 20 >=< 35 >=< 40 >=< 55 >=< 65 >=< 70 >
2
Apesar de os grupos aditivos correspondentes serem isomorfos!
3
Para uma rápida (re)verificação deste facto, note que se z é identidade de B então
5 × z = 5, donde 5z = 5, i.e., 5z ≡ 5 (mod 75), ou z ≡ 1 (mod 15), e em particular
mdc(z, 15) = 1. Mas como z ∈ B é óbvio que z = 5k, e portanto mdc(z, 15) 6= 1.
72 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

d) Determine todas as soluções da equação x2 = 1 em A.


resolução: Com x = z, temos z 2 ≡ 1 (mod 75), ou (z −1)(z +1) ≡ 0
(mod 75), ou 75|(z − 1)(z + 1). Além das soluções óbvias z = 1 e
z = −1, que correspondem a x = z = 1 e x = z = 74, temos ainda as
soluções dos sistemas
 
z − 1 ≡ 0 (mod 3) z − 1 ≡ 0 (mod 25)
,e
z + 1 ≡ 0 (mod 25) z + 1 ≡ 0 (mod 3)

No 1o caso, z = −1 + 25y, e z − 1 = −2 + 25y ≡ 0 (mod 3), ou y ≡ 2


(mod 3), i.e., y = 2 + 3k, e z = −1 + 25(2 + 3k) ≡ 49 (mod 75). No 2o
caso, z = 1 + 25y, e z + 1 = 2 + 25y ≡ 0 (mod 3), ou y ≡ −2 (mod 3),
i.e., y = −2 + 3k, e z = 1 + 25(−2 + 3k) ≡ −49 (mod 75) ≡ 26
(mod 75). Existem portanto quatro soluções, que são x = 1, 74, 26, 49.

3. Numa aplicação do algoritmo de criptografia RSA, sabe-se que a chave


pública é r = 49, e o módulo é N = 10.403. Observando que 10.403 é
o produto dos primos 101 × 103, qual é o valor da chave privada?
resolução: No algoritmo RSA, se N = pq, onde p, q são primos, e r é
a chave pública, a chave privada é o inverso de r módulo (p − 1)(q − 1).
No caso presente, com r = 49, N = 101 × 103, e 100 × 102 = 10.200,
a chave pública é portanto a solução de 49x ≡ 1 (mod 10.200), ou
10.200y + 49x = 1, o que resolvemos com recurso ao algoritmo de
Euclides. A chave privada é portanto 1.249.

n m q r y1 x1 y2 x2
10.200 49 208 8 1 0 0 1
49 8 6 1 0 1 1 −208
8 1 8 0 1 −208 −6 1249

3.15 3o Teste: 5/6/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando
a sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo.

a) Existem polinómios p(x) ∈ Z[x] que são irredutı́veis em Q[x] e re-


dutı́veis em Z[x].
resolução:verdadeiro. Considere-se por exemplo p(x) = 2x +
4 = 2(x + 2). A factorização indicada é trivial em Q[x], porque 2 é
invertı́vel, mas 2 é irredutı́vel em Z[x], portanto a mesma factorização
não é trivial em Z[x].

b) Se D é um domı́nio integral, então qualquer elemento x ∈ D que seja


primo é irredutı́vel.
3.15. 3o TESTE: 5/6/2006 73

resolução:verdadeiro. Seja x um elemento primo, e suponha-se


que tem uma factorização x = ab. É claro que x|ab e portanto x|a ou
x|b (porque x é primo). Supondo sem perda de generalidade que x|a,
então a = xy, e x = ab = xyb. Segue-se da lei do corte que yb = 1,
donde b é invertı́vel, e a factorização x = ab é necessariamente trivial,
donde x é irredutı́vel.

c) Os anéis Q[ 3 2] e Q[x]/ < x3 − 2 > são corpos, e são isomorfos.
resolução:verdadeiro. O anel Q[x]/ < x3 − 2 > é evidentemente
um anel unitário abeliano, porque é um quociente de um anel unitário
abeliano. Resta-nos por isso mostrar que os seus elementos não nulos
são invertı́veis.
Notamos primeiro que o polinómio m(x) = x3 − 2 é irredutı́vel em
Q[x], pelo critério de Eisenstein (com o primo 2). Dado p(x) ∈ Q[x],
seja r(x) = mdc(p(x), m(x)). Como m(x) é irredutı́vel e mónico,
temos r(x) = 1 ou r(x) = m(x). É claro que

r(x) = m(x) ⇐⇒ m(x)|p(x) ⇐⇒ p(x) = 0 em Q[x].

Concluı́mos que se p(x) 6= 0 então mdc(p(x), m(x)) = 1, e segue-se do


algoritmo de Euclides que existem polinómios a(x), b(x) ∈ Q[x] tais
que 1 = a(x)p(x) + b(x)m(x), donde é óbvio que 1 = a(x)p(x), i.e.,
p(x) é invertı́vel, e Q[x]/ < x3 − 2 > é um corpo.

Considere-se o√homomorfismo de anéis φ : Q[x] → Q[ 3 2] dado √ por
3 3
φ(p(x)) → p( 2), que φ é sobrejectivo, por definição de Q[ 2]. O
núcleo de φ é um ideal de Q[x], necessariamente principal, donde
N (φ) =< n(x) >. Como m(x) ∈ N (φ), temos n(x)|m(x). Dado
que m(x) irredutı́vel, e N (φ) 6= Q[x], temos n(x) ∼ m(x), ou seja,
N (φ) =< n(x) >=< m(x) >. Concluı́mos
√ do 1o teorema de isomor-
fismos para anéis que os anéis Q[ 2] e Q[x]/ < x3 −2 > são isomorfos.
3

d) Se K é um corpo, e m(x) ∈ K[x] é um polinómio irredutı́vel com grau


≥ 2, existe um corpo L que é uma extensão de K onde m(x) tem pelo
menos uma raı́z.
resolução:verdadeiro. Considere-se o anel L = K[x]/ < m(x) >.
O argumento utilizado na alı́nea anterior mostra que L é um corpo, e
é claro que L é uma extensão de K, identificando os elementos a ∈ K
com as classes a ∈ L. Com a identificação referida, temos p(x) = p(x)
para qualquer p(x) ∈ K[x]. Em particular, temos m(x) = m(x) = 0,
i.e., x ∈ L é uma raı́z de m(x) no corpo L.

2. Observe que N = 845 = 5 × 132 .


74 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS

a) Quantos divisores tem N no anel dos inteiros de Gauss?


resolução: Para factorizar 845 = 5 × 132 em elementos irredutı́veis
de Z[i] notamos que 5 e 13 se podem factorizar em elementos irre-
dutı́veis de Z[i] como 5 = (2 + i)(2 − i) e 13 = (3 + 2i)(3 − 2i), donde
obtemos

845 = (2 + i)(2 − i)(3 + 2i)2 (3 − 2i)2 .

Os factores de 845 em Z[i] são por isso da forma

γ(2 + i)j (2 − i)k (3 + 2i)m (3 − 2i)n ,

onde γ é invertı́vel (i.e., só pode tomar os valores ±1, ±i), 0 ≤ j, k ≤ 1,


e 0 ≤ m, n ≤ 2. Existem por isso 4 × 2 × 2 × 3 × 3 = 144 factores de
845 em Z[i].
b) Quais são as soluções naturais da equação 845 = n2 + m2 ?
resolução: Temos 845 = n2 + m2 = (n + mi)(n − mi) = zz, onde
z = n + mi é um factor de 845. É fácil constatar que as soluções
possı́veis correspondem às escolhas

 (2 + i)(3 + 2i)2 = (2 + i)(5 + 12i) = −2 + 29i, 845 = 22 + 292 ,


z= (2 + i)(3 + 2i)(3 − 2i) = (2 + i)13 = 26 + 13i, 845 = 133 + 262 ,


(2 + i)(3 − 2i)2 = (2 + i)(5 − 12i) = 22 − 19i, 845 = 192 + 222 .

Esta observação pode ser verificada como se segue. Como vimos na


alı́nea anterior,
• z = γ(2 + i)j (2 − i)k (3 + 2i)m (3 − 2i)n , donde
• z = γ(2 − i)j (2 + i)k (3 − 2i)m (3 + 2i)n , e
• zz = (2 + i)j+k (2 − i)j+k (3 + 2i)m+n (3 − 2i)m+n = 845.
O factor γ é irrelevante do ponto de vista da resolução da equação
845 = n2 + m2 (z, −z, iz, −iz conduzem às mesmas soluções naturais
da equação), e por isso supomos γ = 1.
É óbvio que i + j = 1 e m + n = 2, donde (i, j) só pode ser (1, 0) ou
(0, 1), e (m, n) só pode ser (0, 2), (1, 1), ou (2, 0), o que corresponde
a 2 × 3 = 6 alternativas possı́veis. Estas alternativas incluem para
cada complexo z o correspondente conjugado z, pelo que na verdade
existem apenas 3 factores z que conduzem a soluções naturais distintas
de 845 = n2 + m2 . As três alternativas indicadas (−2 + 29i, 26 + 13i, e
22−19i) acima não incluem complexos conjugados, portanto conduzem
às 3 únicas soluções da equação proposta.
3.15. 3o TESTE: 5/6/2006 75

3. Suponha que G é um grupo com 14 elementos, e recorde que G tem


pelo menos um elemento de ordem 2.

a) Mostre que G tem subgrupos H e K com |H| = 2 e |K| = 7.


resolução: G tem pelo menos um elemento α de ordem 2, e portanto
H = {1, α} é um subgrupo com dois elementos.
Supomos primeiro que G é abeliano, donde H é normal em G, G/H é
um grupo com 7 elementos, e G/H ' Z7 é cı́clico.
Neste caso, existe ε ∈ G/H com ordem 7, onde ε ∈ G. A ordem de ε
em G é um múltiplo da ordem de ε em G/H, i.e., a ordem de ε só pode
ser 7 ou 14. Se ε tem ordem 14 então ε2 tem ordem 7, e concluı́mos
que se G é abeliano então G tem um elemento δ de ordem 7.
Supomos agora que G não é abeliano, e recordamos que neste caso exis-
te necessariamente um elemento δ ∈ G, δ 6= 1, com ordem 6= 2. A or-
dem de δ não pode ser 14, porque nesse caso G seria um grupo cı́clico,
logo abeliano. Segue-se do teorema de Lagrange que a ordem de δ só
pode ser 7.
Concluı́mos que existe sempre um subgrupo K = {1, δ, δ 2 , · · · , δ 6 } de
G com 7 elementos.

b) Mostre que G = HK. Teremos sempre G ' H ⊕ K? sugestão:


Observe que H ⊕ K é comutativo.
resolução: Sabemos que |HK| = |H||K|/|H ∩K|. É claro que H ∩K
é subgrupo de H e de K, e segue-se do teorema de Lagrange que |H∩K|
é divisor comum de |H| = 2 e de |K| = 7, ou seja, |H ∩ K| = 1.
É portanto óbvio que |HK| = |H||K|/|H ∩ K| = 2 × 7/1 = 14, e
HK = G.
É claro que H ⊕ K ' Z2 ⊕ Z7 é um grupo abeliano. No entanto,
G pode não ser abeliano, e.g., o grupo diedral D7 é um grupo de 14
elementos que não é abeliano. É portanto possı́vel que G 6' H ⊕ K.
76 CAPÍTULO 3. TESTES RESOLVIDOS
Capı́tulo 4

Exames Resolvidos

4.1 1o Exame: 1/7/2002


1. Neste grupo, G e H são grupos, e a identidade de G designa-se por I. Para
cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é verdadeira,
com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.
a) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, f (I) é a identidade de
H.
Resolução: Verdadeiro. Seja e a identidade de H. Designamos
a operação em G por “∗”, e a operação em H por “◦”. Como f
é um homomorfismo de grupos, temos que f (I ∗ I) = f (I) ◦ f (I), e
evidentemente f (I ∗I) = f (I), donde f (I)◦f (I) = f (I). Multiplicando
esta identidade pelo inverso de f (I) em H, temos f (I) = e.
b) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, o núcleo de f é um
subgrupo normal de G.
Resolução: Verdadeiro. O núcleo de f é o conjunto N (f ) = {x ∈
G : f (x) = e}.
• Pela alı́nea anterior, I ∈ N (f ), e portanto N (f ) 6= ∅.
• Se x, y ∈ N (f ), temos f (x∗y) = f (x)◦f (y) = e◦e = e, e portanto
x ∗ y ∈ N (f ), i.e., N (f ) é fechado em relação ao produto.
• Se x ∈ N (f ) então f (x ∗ x−1 ) = f (I) = e, e
f (x ∗ x−1 ) = f (x) ◦ f (x−1 ) = e ◦ f (x−1 ) = f (x−1 ),
donde f (x−1 ) = e, e x−1 ∈ N (f ).
Temos assim que N (f ) é um subgrupo de G. Para mostrar que N (f ) é
um subgrupo normal de G, resta-nos provar que, para qualquer x ∈ G
e y ∈ N (f ), temos x ∗ y ∗ x−1 ∈ N (f ). Basta para isso notar que
f (x ∗ y ∗ x−1 ) = f (x) ◦ f (y) ◦ f (x−1 ) = f (x) ◦ e ◦ f (x−1 ) =

77
78 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

= f (x) ◦ f (x−1 ) = f (x ∗ x−1 ) = f (I) = e.

c) Se A e B são subgrupos de G então A ∩ B é subgrupo de G.


Resolução: Verdadeiro. A identidade de G pertence a A e a B,
donde A ∩ B 6= ∅. Temos igualmente que x, y ∈ A ∩ B ⇒ x, y ∈ A e
x, y ∈ B ⇒ xy −1 ∈ A e xy −1 ∈ B ⇒ xy −1 ∈ A ∩ B. Concluı́mos assim
que A ∩ B é um subgrupo.

d) Se A e B são subgrupos de G então AB = BA se e só se AB é subgrupo


de G.
Resolução: Verdadeiro.

• Suponha-se primeiro que AB é subgrupo de G, para provar que


AB = BA. Dado x ∈ AB então x−1 ∈ AB, porque AB é um
subgrupo. Temos portanto x−1 = ab, com a ∈ A e b ∈ B. Como
b−1 ∈ B e a−1 ∈ A, segue-se que

x = (x−1 )−1 = (ab)−1 = b−1 a−1 ∈ BA.

Concluı́mos assim que AB ⊆ BA. Considere-se um elemento


ba ∈ BA, onde a ∈ A e b ∈ B. Como AB é um subgrupo,

(a−1 b−1 ) ∈ AB ⇒ ba = (a−1 b−1 )−1 ∈ AB, donde BA ⊆ AB.

Mostrámos portanto que AB = BA.


• Suponha-se agora que AB = BA, para demonstrar que AB é
um subgrupo. É claro que AB não é vazio, portanto basta-nos
mostrar que x, y ∈ AB ⇒ xy −1 ∈ AB. Seja então x = ab e
y = cd, onde a, c ∈ A e b, d ∈ B. Temos xy −1 = abd−1 c−1 , e
notamos que bd−1 c−1 ∈ BA = AB, donde bd−1 c−1 = αβ, com
α ∈ A, e β ∈ B. Temos assim xy −1 = abd−1 c−1 = a(αβ) ∈ AB,
e AB é um subgrupo.

2. Nesta questão, A é um domı́nio integral com identidade 1 e zero 0, onde


1 6= 0. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é
verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.

a) Os elementos invertı́veis de A formam um grupo.


Resolução: Verdadeiro. Seja A∗ o conjunto dos elementos in-
vertı́veis de A. Como 1 · 1 = 1, é claro que a identidade 1 é invertı́vel,
e portanto 1 ∈ A∗ , e A∗ 6= ∅. Sabemos que se a é invertı́vel então
a = (a−1 )−1 . Portanto, qualquer elemento de A∗ tem inverso em A∗ .
Finalmente, se a, b ∈ A∗ então (a·b)−1 = b−1 ·a−1 , donde ab é invertı́vel,
e A∗ é fechado em relação ao produto. Podemos assim concluir que
(A∗ , ·) é um grupo.
4.1. 1o EXAME: 1/7/2002 79

b) A identidade de qualquer subanel B 6= {0}, se existir, é 1.


Resolução: Verdadeiro. Seja B 6= {0} um subanel com identidade
j (6= 0!). Temos então 1·j = j, porque 1 é a identidade de A, e j ·j = j,
porque j é a identidade de B. Portanto 1 · j = j · j, e pela lei do corte,
válida em qualquer domı́nio integral, temos 1 = j.

c) Qualquer ideal de A é principal.


Resolução: Falso. O anel Z[x] é como sabemos um domı́nio inte-
gral. Considere-se o ideal

J =< 2, x >= {2p(x) + xq(x) : p(x), q(x) ∈ Z[x]}.

Note-se que J 6= Z[x], porque o termo independente de 2p(x) + xq(x)


tem seguramente um coeficiente par. Se o ideal J é principal, então

J =< m(x) >= {m(x)p(x) : p(x) ∈ Z[x]}.

Temos então 2 = m(x)p(x), e é evidente que só podemos ter m(x) =


±1 ou m(x) = ±2. A primeira alternativa é impossı́vel (caso contrário
terı́amos J = Z[x]), e portanto m(x) = ±2. Esta alternativa é também
impossı́vel, porque não podemos ter x = ±2p(x). Concluı́mos que J
não é um ideal principal.

d) Se J é um ideal maximal de A, então A/J é um corpo.


Resolução: Verdadeiro. A/J é um anel abeliano com identidade,
porque A é já abeliano com identidade. Resta-nos por isso provar que
os elementos de A/J diferentes de zero são invertı́veis. Suponha-se
então que x ∈ A, x 6= 0, ou seja, x 6∈ J. Temos a provar que existe
y ∈ A tal que x · y = 1. Considere-se o conjunto

K = {x · y + z : y ∈ A, z ∈ J} ⊆ A.

É fácil ver que K é um ideal de A, porque

• J ⊆ K, e portanto K 6= ∅, porque se z ∈ J então z = x·0+z ∈ K.


• K é fechado para a diferença, porque (x · y + z) − (x · y 0 + z 0 ) =
x · (y − y 0 ) + (z − z 0 ) ∈ K.
• K é fechado para o produto por elementos arbitrários de A: se
y, t ∈ A e z ∈ J então t·(x·y +z) = (x·y +z)·t = x·y ·t+z ·t ∈ K.

Observamos também que x = x · 1 + 0 ∈ K, e portanto K 6= J. Como


J é maximal, temos necessariamente K = A, e portanto 1 ∈ K. Por
outras palavras, existe y ∈ A e z ∈ J tais que 1 = x · y + z, o que em
particular implica que x · y = 1.
80 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

3. Considere o grupo aditivo (e anel) Z900 .

a) Quantos subgrupos existem em Z900 ? Sendo n um qualquer divisor de


900, quantos destes subgrupos têm exactamente n elementos?
Resolução: Existe exactamente um subgrupo por cada divisor de
900. Como 900 = 22 × 32 × 52, existem 3 × 3 × 3 = 27 divisores de 900,
e 27 subgrupos de Z900 . Sendo n um divisor de 900, o único subgrupo
de Z900 com n elementos é exactamente o que é gerado por d, onde
d = 900/n.

b) Quantos elementos invertı́veis existem no anel Z900 ? Quantos auto-


morfismos do grupo Z900 existem?
Resolução: Pela fórmula de Euler, o número de elementos invertı́veis
em Z900 é dado por

1 1 1
ϕ(900) = 900(1 − )(1 − )(1 − ) = 30 × 8 = 240.
2 3 5
Os homomorfismos f : Z900 → Z900 são dados por f (n) = an, onde
a ∈ Z900 é arbitrário. Sabemos que f (Z900 ) =< a >=< d >, onde d =
mdc(a, 900). O homomorfismo f será sobrejectivo, e consequentemente
injectivo, se e só se d = 1, ou seja, se e só se a é um elemento invertı́vel
de Z900 . Existem por isso 240 automorfismos de Z900 .

c) Considere o homomorfismo de grupos f : Z900 → Z30 dado por f (x) =


24x. Determine o núcleo de f , e diga se f é sobrejectivo.
Resolução: Note-se que mdc(24, 30) = 6. Temos

24x = 0 em Z30 ⇔ 24x = 30y ⇔ 4x = 5y.

Como 4 e 5 são primos entre si, temos x = 5z, e N (f ) =< 5 > em


Z30 . Temos também f (Z900 ) =< 24 >=< 6 >6=< 1 >, portanto f não
é sobrejectivo.

d) Continuando a alı́nea anterior, resolva a equação f (x) = 18.


Resolução:

24x = 18 em Z30 ⇔ 24x + 30y = 18 em Z ⇔ 4x + 5y = 3.

É fácil encontrar soluções particulares, por exemplo x = 2 e y = −1.


A equação original tem por isso a solução particular x = 2, e a solução
geral é dada por x = 2 + 5k, onde 5k ∈< 5 >= N (f ).

4. Nesta questão, G é um grupo não-abeliano com 6 elementos.


4.1. 1o EXAME: 1/7/2002 81

a) Prove que nenhum elemento de G tem ordem 6, mas que existe pelo
menos um elemento ε ∈ G com ordem 3. Sugestão: Mostre que, caso
contrário, G seria abeliano.
Resolução: Se existe um elemento g ∈ G de ordem 6 então
< g >= {1, g, g 2 , g 3 , g 4 , g 5 } = G,
e G é um grupo cı́clico de ordem 6, ou seja, G ' Z6 , e G é abeliano.
Concluı́mos que os elementos de G só podem ter ordem 1, 2 ou 3. (A
ordem de um elemento de G é o número de elementos do subgrupo
gerado por g, e portanto tem que ser um factor de 6, pelo teorema de
Lagrange).
Se não existe nenhum elemento de G com ordem 3, então todos os
elementos g 6= 1 têm ordem 2, i.e., g 2 = 1 (⇔ g −1 = g), para qualquer
g ∈ G. Repare-se então que se g, h ∈ G temos (gh)−1 = gh, porque
gh ∈ G, e (gh)−1 = h−1 g −1 = hg. Portanto, gh = hg, e G seria
abeliano. Como G é não-abeliano, concluı́mos que existe pelo menos
um elemento ε ∈ G de ordem 3.
b) Sendo ε um elemento de G de ordem 3, e H = {1, ε, ε2 } o subgrupo
gerado por ε, mostre que H é normal em G. Sugestão: Qual é o ı́ndice
de H em G?
Resolução: O ı́ndice de H em G é [G : H] = #(G)/#(H) = 6/3 =
2. Portanto existem 2 classes laterais direitas e duas classes laterais
esquerdas de H. Note-se que uma das classes é sempre H, portanto a
outra classe é G − H. Em particular, temos sempre gH = Hg, e H é
normal em G. Mais exactamente, se g ∈ H então gH = Hg = H, e se
g 6∈ H então gH = Hg = G − H.
c) Suponha que α ∈6 H, e mostre que α2 = 1. Sugestão: No grupo
quociente G/H, a ordem do elemento α é 2. Qual pode ser a ordem
de α em G?
Resolução: Como vimos na alı́nea anterior, o grupo quociente G/H
tem 2 elementos, ou seja, G/H = {1, α} onde α é um qualquer dos
elementos que não pertencem a H. Claro que no grupo G/H só pode-
mos ter α2 = 1 (a ordem de α só pode ser 2). Note-se que se αn = 1
no grupo original então evidentemente αn = 1 em G/H, e portanto n
é múltiplo de 2, ou seja, a ordem de α em G só pode ser 2 ou 6. De
acordo com a conclusão de a), a ordem de α em G é 2.
d) Como αH = Hα, o produto αε só pode ser εα ou ε2 α. Conclua que
G é necessariamente isomorfo a S3 .
Resolução: Como αH = {α, αε, αε2 } = Hα = {α, εα, ε2 α}, é claro
que αε = α, ou αε = εα, ou αε = ε2 α. Como ε 6= 1, só podemos ter
αε = εα, ou αε = ε2 α.
82 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

G = H ∪ Hα = {1, ε, ε2 , α, εα, ε2 α}. Como α2 = 1 e ε3 = 1, a


tabuada do grupo G fica unicamente determinada pelo valor atribuido
ao produto αε. É claro que se αε = εα então o grupo G é abeliano.
Como G não é abeliano, só podemos ter αε = ε2 α, e a tabuada de
G só pode ser preenchida de uma forma. Concluı́mos que todos os
grupos não-abelianos com 6 elementos são isomorfos. Como S3 é um
grupo não-abeliano com 6 elementos, G é isomorfo a S3 . (A tı́tulo de
curiosidade, a tabuada poderia preencher-se como se segue)

1 α εα ε2 α ε ε2
1 1 α εα ε2 α ε ε2
α α 1 ε2 ε ε2 α εα
εα εα ε 1 ε2 α ε2 α
ε2 α ε2 α ε2 ε 1 εα α
ε ε εα 2
ε α α ε2 1
ε2 ε2 ε2 α α εα 1 ε

4.2 2o Exame: 24/7/2002


1. Neste grupo, K ⊆ H são subgrupos do grupo G. Para cada uma das
afirmações seguintes, mostre que a afirmação é verdadeira, com uma demon-
stração, ou falsa, com um contra-exemplo.

a) Se K é normal em G então K é normal em H.


Resolução: Verdadeiro. É claro que K ⊆ H é subgrupo de H, e
sendo x ∈ K, y ∈ H, temos y −1 xy ∈ K, porque y ∈ G, e K é normal
em G.

b) Se K é normal em H então K é normal em G.


Resolução:Falso. Considere-se G = S3 , e seja K = H um dos
subgrupos de S3 com 2 elementos. Sabemos que K não é normal em
G, mas é óbvio que K é normal em H.

c) Se G é um grupo cı́clico infinito então G é isomorfo a (Z, +).


Resolução: Verdadeiro. Existe x ∈ G tal que G = {xn : n ∈
Z}. Definimos f : Z → G por f (n) = xn , e notamos que f é um
homomorfismo de grupos sobrejectivo. Se o núcleo de f tem m >
1 elementos então G ' Zm (1o teorema de isomorfismo), o que é
impossı́vel, porque G é infinito. Logo f é também injectiva, e G ' Z.

d) Se K é normal em G e x ∈ G, então a ordem de x em G/K é factor


da ordem de x em G.
4.2. 2o EXAME: 24/7/2002 83

Resolução: Verdadeiro. Sejam n, m ≥ 0 tais que

< n >= {k ∈ Z : xk = 1}, e < m >= {k ∈ Z : xk = 1},

ou seja, n é a ordem de x em G, e m é a ordem de x em G/K. É claro


que < n >⊆< m >, e portanto n ∈< m >, i.e., m|n.

2. Nesta questão, A é um domı́nio integral com identidade 1 e zero 0, onde


1 6= 0. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é
verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.

a) A caracterı́stica de A é 0, ou um número primo p.


Resolução: Verdadeiro. Seja m a caracterı́stica de A, e suponha-
se que m é composto, i.e., m = nk, com n, k > 1. Notamos que
m1 = (nk)1 = n(k1) = (n1)(k1) = 0. Como m é a menor solução
positiva da equação m1 = 0, temos n1 6= 0 e k1 6= 0, e portanto n1 e
k1 são divisores de zero, e A não é um domı́nio integral.

b) O anel A[x] é também um domı́nio integral.


Resolução: Verdadeiro. Dados polinómios não-nulos p(x), q(x) ∈
A[x], tempos p(x) = an xn + · · · + a0 , e q(x) = bm xm + · · · + b0 , onde
an 6= 0, bm 6= 0 (n e m são, respectivamente, os graus de p(x) e q(x)).
É claro que p(x)q(x) = an bm xn+m + · · · + a0 b0 6= 0, e portanto A[x] é
um domı́nio integral.

c) Qualquer ideal em A[x] é principal.


Resolução: Falso. Z[x] não é um domı́nio de ideais principais.

d) Existe um corpo K com um subanel isomorfo a A.


Resolução: Verdadeiro. Basta considerar o corpo das fracções
Frac(A), e nesse corpo o subanel formado pelas fracções do tipo a/1,
com a ∈ A.

3. Considere o grupo aditivo (e anel) Z36 .

a) Quantos subgrupos existem em Z36 ? Quantos geradores tem Z36 ?


Resolução: 36 = 22 × 32 tem 3 × 3 = 9 divisores, e portanto Z36
tem 9 subgrupos. Os geradores de Z36 podem ser contados usando a
função de Euler ϕ(36) = 36(1 − 21 )(1 − 31 ) = 12.

b) Suponha que B é um subanel de Z36 , com identidade a, e n elementos.


Mostre que a caracterı́stica de B é um factor de 36, e que a ordem de
qualquer elemento de B é um factor da caracterı́stica de B. (sugestão:
se ma = 0, então mx = 0 para qualquer x ∈ B)
84 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

Resolução: A caracterı́stica de B é a ordem m do subgrupo de B


gerado pela identidade a, e portanto é a ordem de um subgrupo de
Z36 , donde m|36, pelo teorema de Lagrange.
Se x ∈ B, então mx = (ma)x = 0, donde m é múltiplo da ordem de a.

c) Conclua que a caracterı́stica de B é n, donde a é um gerador de B, e


d = mdc(a, 36) = 36/n.
Resolução: Como B é um grupo cı́clico com n elementos, podemos
supor que x é gerador de B. Segue-se da alı́nea anterior que n|m, e
sabemos que m|n pelo teorema de Lagrange. Logo n = m ea é também
gerador de B. É claro que m = n = 36/d, onde mdc(a, 36) = d.

d) Conclua finalmente que se B tem identidade a, então mdc(d, n) = 1.


Determine todos os subanéis de Z36 com identidade, e calcule essas
identidades.
Resolução: Seja a = dk, onde mdc(a, 36) = d, 36 = dn, e mdc(k, n) =
1. Como a é a identidade de B, temos a2 = a, ou a(a−1) ≡ 0 mod 36.
Notamos que:

• a(a − 1) ≡ 0 mod 36 ⇒ k(a − 1) ≡ 0 mod n,


• k(a − 1) ≡ 0 mod n e mdc(k, n) = 1 ⇒ a ≡ 1 mod n,
• a ≡ 1 mod n ⇔ dk ≡ 1 mod n ⇒ mdc(d, n) = 1.

Reciprocamente, se 36 = dn e mdc(n, d) = 1 então as congruências


x ≡ 0 mod d e x ≡ 1 mod n têm solução (teorema chinês do resto).
Neste caso,

• d|x e n|(x − 1) ⇒ 36|x(x − 1) ⇔ x2 ≡ x mod 36,


• x = dk e x ≡ 1 mod n ⇒ mdc(k, n) = 1, e
• mdc(x, 36) = mdc(dk, dn) = d mdc(k, n) = d ⇒< x >=< d >
tem 36/d elementos.

Neste caso o subanel < x >=< d > tem identidade x, porque qualquer
elemento b ∈< x > é da forma b = zx, e b · x = z · x2 = zx = b.
No caso presente, só podemos ter n = 4 e d = 9, ou n = 9 e d = 4, ou
seja, os subanéis unitários de Z36 são os que têm 4 e 9 elementos. As
respectivas identidades são as soluções de:

• n = 4, d = 9 : a ≡ 1 mod 4 e a ≡ 0 mod 9 ⇔ a = 9
• n = 9, d = 4 : a ≡ 1 mod 9 e a ≡ 0 mod 4 ⇔ a = 28

4. Nesta questão, G e H são grupos.


4.3. 1o EXAME: 4/7/2003 85

a) Prove que se f : G → H é um homomorfismo injectivo, o número de


elementos de G é factor do número de elementos de H. O que pode
concluir se f é sobrejectivo?
Resolução: f (G) é um subgrupo de H, e #(f (G)) = #(G). Pelo
teorema de Lagrange, #(G) é factor de #(H). Se f é sobrejectivo e
N é o núcleo de f , temos G/N ' H, pelo 1o teorema de isomorfismo,
donde #(H) = [G : N ]. Como #(G) = [G : N ]#(N ), cncluı́mos que
#(H) é factor de #(G).
b) Se G e H são os grupos aditivos Zn e Zm , onde n é factor de m, existe
sempre algum homomorfismo injectivo f : G → H? Se G = Z6 e
H = Z24 , quantos homomorfismos injectivos existem?
Resolução: Existe um homomorfismo injectivo f : Zn → Zm se e só
se existe um homomorfismo g : Z → Zm com N (g) =< n >. Sendo
m = nk, basta-nos tomar g(x) = kx, donde resulta f (πn (x)) = πm (x),
para qualquer x ∈ Z.
Se n = 6 e m = 24, notamos primeiro que g(Z) tem 6 elementos, ou
seja, g(Z) =< 4 >. Como g(x) = ax, segue-se que a é gerador de
< 4 >, e a = 4 ou a = 20. Em ambos os casos N (g) =< 6 >, e
portanto f (π6 (x)) = π24 (ax) é um homomorfismo injectivo. Existem
assim dois homomorfismos injectivos f : Z6 → Z24 .
c) Supondo que H = Z6 , e f : G → H é injectivo, classifique o grupo G.
Resolução: G tem 1, 2, 3, ou 6 elementos. Se G tem 1, 2 ou 3
elementos então é o (único) grupo dessa ordem. Se G tem 6 elementos
então f é um isomorfismo, e G ' Z6 . Todos os casos são possı́veis,
pela alı́nea anterior.
d) Supondo que G = Z6 , e f : G → H é sobrejectivo, classifique o grupo
H.
Resolução: Temos H ' G/N , onde N é o núcleo de f , pelo 1o
teorema de isomorfismo. Sabemos que N é um dos ideais < d >, onde
d|6. Pelo 3o teorema de isomorfismo, temos H ' Zd . Todos os casos
são possı́veis, bastando considerar os homomorfismos fk : Z6 → Z6 ,
onde fk (x) = kx.

4.3 1o Exame: 4/7/2003


1. Neste grupo, G e H são grupos, e N é um subgrupo de G. Para cada
uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é verdadeira, com
uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.
a) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, f (G) é um subgrupo
de H.
86 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

resolução: Verdadeiro. Escrevemos os grupos em notação mul-


tiplicativa, como (G, ∗) e (H, ◦). Como K = f (G) 6= ∅, basta-nos
mostrar que
u, v ∈ f (G) ⇒ u ◦ v −1 ∈ f (G).
Seja e a identidade de G. Então f (e ∗ e) = f (e) = f (e) ◦ f (e), e
portanto f (e) = e0 é a identidade de H, pela lei do corte. Se x ∈ G,
então

f (x) ◦ f (x−1 ) = f (x ∗ x−1 ) = f (e) = e0 ⇒ f (x−1 ) = f (x)−1 .

Temos então que u, v ∈ f (G) ⇒ u = f (x), v = f (y), x, y ∈ G, e


portanto

u ◦ v −1 = f (x) ◦ f (y)−1 = f (x) ◦ f (y −1 ) = f (x ∗ y −1 ) ∈ f (G).

b) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos, f (xn ) = f (x)n para


qualquer n ∈ Z.
resolução: Verdadeiro. Podemos verificar a identidade para na-
turais n ≥ 0 por indução, porque a identidade é óbvia para n = 0 por
definição, já que f (x0 ) = f (e) = e0 = f (x)0 .
Para n ≥ 0, temos f (xn+1 ) = f (xn ∗x) = f (xn )◦f (x) = f (x)n ◦f (x) =
f (x)n+1 .
Para n < 0, n = −m com m > 0, f (xn ) = f ((x−1 )m ) = f (x−1 )m =
(f (x)−1 )m = f (x)n .

c) Se f : G → H é um homomorfismo de grupos finitos, o número de


elementos de f (G) é um divisor comum do número de elementos de G
e do número de elementos de H.
resolução: Verdadeiro. Seja N o núcleo de f , e recorde-se do
1o Teorema de isomorfismo que G/N é isomorfo a f (G). Escrevendo
#(A) para o número de elementos de A, temos:

• #(f (G)) é factor de #(H), pelo teorema de Lagrange.


• #(G) = #(G/N )#(N ), pelo teorema de Lagrange, donde #(G/N )
é factor de #(G).
• #(f (G)) = #(G/N ), pelo 1o Teorema de Isomorfismo.

d) Se X = {xN : x ∈ G} e Y = {N y : y ∈ G} então X e Y têm o mesmo


cardinal.
resolução: Verdadeiro. Definimos f : X → Y por f (xH) =
Hx−1 . É evidente que f é sobrejectiva. Para verificar que é injectiva,
note-se que

Hx−1 = Hy −1 ⇒ Hx−1 y = H ⇒ x−1 y ∈ H ⇒ y ∈ xH ⇒ yH = xH


4.3. 1o EXAME: 4/7/2003 87

2. Nesta questão, D é um domı́nio integral com identidade 1 e zero 0, onde


1 6= 0. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é
verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.

a) Qualquer subanel B de D tem identidade.


resolução: Falso. Basta tomar D = Z e B o anel dos inteiros
pares.

b) Qualquer subgrupo de (D, +) é um subanel de D.


resolução: Falso. Tome-se D = Z[i] e B = {ni : n ∈ Z} (os
inteiros de Gauss com parte real nula).

c) Se D é finito então D contém um subanel B isomorfo a algum Zm .


resolução: Verdadeiro. Considere-se f : Z → D dado por f (n) =
n1, e B = f (Z). Sabemos que f é um homomorfismo de anéis, donde
B é um subanel de D. É claro que f não pode ser injectivo, porque
D é finito. Portanto o núcleo de f é < m >, com m > 0. Pelo 1o
teorema de isomorfismos, B é isomorfo a Z/ < m >, i.e., Zm .

d) Se D é um d.f.u., a equação mdc(a, b) = ax+by tem soluções x, y ∈ D.


resolução: Falso. O anel D = Z[x] é um d.f.u., porque Z é um
d.f.u. Tomamos a = 2 e b = x, notamos que os divisores de 2 são 1 e 2,
e os divisores de x são 1 e x. Portanto é claro que mdc(2, x) = 1. Mas
os polinómios da forma 2s(x) + xt(x) têm sempre termo independente
PAR, portanto 1 6= 2s(x) + xt(x).

3. Considere o grupo aditivo (e anel) Z833 .

a) Seja f : Z → Z833 o homomorfismo de grupos dado por f (n) = 357n.


Quantos elementos tem a imagem f (Z)? Qual é o núcleo de f ?
resolução: A imagem

f (Z) =< 357 >=< mdc(357, 833) >=< 119 >,

que tem 833/119 = 7 elementos. O núcleo N de f é o conjunto dos


inteiros n tais 833|357n, ou seja, 7|3n, ou 7|n. Portanto N =< 7 >.

b) Quais são os grupos Zm tais que h : Zm → Z833 dado por h(n) = 357n
está bem definido, e é um homomorfismo de grupos? Para que valor
de m é que h é um isomorfismo?
resolução: Sendo π : Z → Zm o usual homomorfismo π(n) = n, a
composição g(π(n)) = f (n) é o homomorfismo que referimos na alı́nea
anterior. Portanto, o núcleo de π está contido no núcleo de f , ou seja,
< m >⊆< 7 >, ou 7|m. São estes os valores de m para os quais o
homomorfismo h está bem definido.
88 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

Supondo m = 7k, seja x o número de elementos do núcleo de h. Então


7k/x = 7, donde x = k, ou seja, x = m/7. Em particular, o núcleo é
sempre < 7 >.
O homomorfismo g é injectivo exactamente quando N =< m >=<
7 >, ou seja, quando m = 7. Por outras palavras, o grupo f (Z) é
isomorfo a Z7 . No entanto, é evidente que g não é sobrejectivo, logo
não é um isomorfismo entre Z7 e Z833 !

c) f (Z) é também um anel? E se é um anel, é isomorfo a um anel Zk ?


resolução: f (Z) é também um anel, porque qualquer subgrupo de
Z833 é também um subanel e um ideal. Não é no entanto isomorfo a
nenhum anel Z. Podemos argumentar aqui de diversas maneiras:

(a) f (Z) não tem identidade para o produto, ou


(b) f (Z) tem 7 elementos, portanto só poderia ser isomorfo ao anel
Z7 . Mas Z7 é um corpo, e é fácil ver que f (Z) tem divisores de
zero.

d) Quais dos seguintes anéis são isomorfos entre si: Z1000 , Z2 ⊕ Z500 ,
Z4 ⊕ Z250 , Z8 ⊕ Z125 ?
resolução: 1000 = 8 × 125, e mdc(8, 125) = 1 ⇒ Z1000 ' Z8 ⊕ Z125 .
Analogamente, Z250 ' Z2 ⊕ Z125 , e Z500 ' Z4 ⊕ Z125 . Temos assim:

Z4 ⊕ Z250 ' Z4 ⊕ (Z2 ⊕ Z125 ) ' Z2 ⊕ (Z4 ⊕ Z125 ) ' Z2 ⊕ Z500 .

Observamos ainda que Z1000 e Z2 ⊕ Z500 NÃO são isomorfos, porque


Z1000 tem caracterı́stica 1000, e Z2 ⊕ Z500 tem caracterı́stica 500.

4. Nesta questão, K é um corpo, m(x) ∈ K[x], A = K[x]/ < m(x) >, e


q : K[x] → A é o usual homomorfismo de anéis π(p(x)) = p(x).

a) Prove que os ideais de A são da forma π(J), onde J é um ideal de


K[x]. Conclua que A é um d.i.p., ou seja, todos os seus ideais são
principais.
resolução: Consideramos a aplicação quociente

π : K[x] → K[x]/ < m(x) > .

Seja agora I ⊆ A um ideal de A, e J = π −1 (I) a respectiva imagem


inversa. Como π é sobrejectiva, temos π(J) = I. Queremos provar
que J é um ideal de K[x]. Notamos que, se a(x), b(x) ∈ J, então
π(a(x)), π(b(x)) ∈ I e

π(a(x)) − π(b(x)) ∈ I ⇒ π(a(x) − b(x)) ∈ I ⇒ a(x) − b(x) ∈ J.


4.3. 1o EXAME: 4/7/2003 89

Se a(x) ∈ J e c(x) ∈ K[x] então π(a(x)) ∈ I, π(c(x)) ∈ A e

π(a(x))π(c(x)) = π(c(x)a(x)) ∈ I ⇒ a(x)c(x) = c(x)a(x) ∈ J.

Logo J é um ideal. Como K[x] é um d.i.p., temos J =< p(x) >, e


I = π(J) =< p(x) >.

b) Mostre que os ideais de A são da forma < d(x) >, onde d(x)|m(x)
em K[x]. Sugestão: Mostre que < p(x) >=< d(x) >, onde d(x) =
mdc(p(x), m(x)) em K[x].
resolução: Dado p(x) ∈ K[x], e sendo d(x) = mdc(p(x), m(x)), é
evidente que

d(x)|p(x) ⇒ p(x) ∈< d(x) >⇒< p(x) >⊆< d(x) > .

Como d(x) = a(x)p(x) + b(x)m(x), temos ainda

d(x) = a(x)p(x) ⇒ d(x) ∈< p(x) >⇒< d(x) >⊆< p(x) > .

Concluı́mos que < p(x) >=< d(x) >, onde d(x)|m(x), porque d(x) =
mdc(p(x), m(x)).

c) Supondo K = Z3 , e m(x) = x3 + 2x, quantos elementos podem ter


os ideais de A? Quantos ideais com n elementos existem, para cada
possı́vel valor de n? Quantos elementos invertı́veis existem em A?
resolução: A tem 27 elementos, portanto (pelo Teorema de La-
grange), os seus ideais só podem ter 1, 3, 9 ou 27 elementos. Existe
um ideal com 1 elemento, que é o ideal < 0 >, e um ideal com 27
elementos, que é o próprio anel A. Os outros ideais são gerados pelas
classes dos restantes divisores mónicos de

m(x) = x3 + 2x = x(x2 + 2) = x(x + 1)(x + 2),

que são x, x+1, x+2, (x+1)(x+2), x(x+2), x(x+1). Em particular,


A tem 8 ideais.
Se p(x) ∈ K[x], temos p(x) = q(x)(x + a) + b, donde K[x]/ < x + a >
tem 3 elementos. Pelo 3o teorema de isomorfismo, segue-se que
 
A K[x] A
' ,# = 3, e # (< x + a >) = 9.
<x+a> <x+a> <x+a>

Analogamente, K[x]/ < (x + a)(x + b) > tem 9 elementos, donde


!  
A K[x]
# =# = 9,
< (x + a)(x + b) > < (x + a)(x + b) >
90 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS
 
donde concluı́mos que # < (x + a)(x + b) > = 3.
Os elementos não-invertı́veis são os que pertencem aos ideais

I0 =< x >, I1 =< x + 1 > e I2 =< x + 2 > .

Se i 6= j, a intersecção Ii ∩ Ij é um dos ideais com 3 elementos, e a


intersecção I0 ∩ I1 ∩ I2 é o ideal que apenas contém o zero. Existem
por isso 9 + 9 + 9 − (3 + 3 + 3) + 1 = 19 elementos não-invertı́veis, e
27 − 19 = 8 elementos invertı́veis.

d) Supondo K = Z3 , e m(x) = x3 +2x, o anel A é isomorfo a Z3 ⊕Z3 ⊕Z3 ?


resolução: Sim. Considere-se o homomorfismo

f : Z3 [x] → Z3 ⊕ Z3 ⊕ Z3 , dado por f (p(x)) = (p(0), p(1), p(2)).

O núcleo de f é o ideal I =< x(x + 1)(x + 2) >, de acordo com o


Teorema do Resto (se p(0) = p(1) = p(2) = 0, então p(x) é divisı́vel
por x, por x−1 = x + 2, e por x − 2 = x + 1).
Concluı́mos do 1o Teorema de Isomorfismo que A = Z3 [x]/I é isomorfo
a f (Z3 [x]), e como A tem 27 elementos, f (Z3 [x]) tem igualmente 27
elementos. Dado que Z3 ⊕ Z3 ⊕ Z3 tem também 27 elementos, é claro
que f (Z3 [x]) = Z3 ⊕ Z3 ⊕ Z3 , e A ' Z3 ⊕ Z3 ⊕ Z3 .

4.4 2o Exame: 21/7/2003


1. Nesta questão, G e H são grupos multiplicativos, e f : G → H é um
homomorfismo de grupos. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre
que a afirmação é verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um
contra-exemplo.

a) f (x−1 ) = f (x)−1 para qualquer x ∈ G.

b) O núcleo de f é um subgrupo normal de G.

c) Se f é sobrejectivo, e G é finito, então |H| é factor de |G|.

d) Se G é um grupo cı́clico com n elementos, e k é factor de n, então


existe pelo menos um elemento de G com ordem k.

2. Nesta questão, p(x), q(x) ∈ Z[x] são polinómios com coeficientes in-
teiros. Para cada uma das afirmações seguintes, mostre que a afirmação é
verdadeira, com uma demonstração, ou falsa, com um contra-exemplo.

a) Se p(x) é irredutı́vel em Q[x], então p(x) é irredutı́vel em Z[x].

b) Se p(x) é irredutı́vel em Z[x], então p(x) é irredutı́vel em Q[x].


4.5. 1o EXAME: 9/7/2004 91

c) Se q(x)|p(x) em Z[x], e p(x) é primitivo, então q(x) é primitivo.


d) Se q(x)|p(x) em Q[x], então existe k ∈ Q tal que kq(x)|p(x) em Z[x].
3. Considere o grupo aditivo (e anel) Z300 .
a) Quantos subgrupos tem Z300 ?
b) Quantos homomorfismos sobrejectivos de grupo h : Z600 → Z300 ex-
istem? Quais destes homomorfismos são também homomorfismos de
anel?
c) Quantos homomorfismos de grupo f : Z600 → Z300 existem, tais que
f (Z) tem 100 elementos? Prove que f (Z) é um anel isomorfo ao anel
Z100 .
d) Quais dos seguintes grupos são isomorfos entre si: Z300 , Z6 ⊕ Z50 ,
Z100 ⊕ Z3 , Z10 ⊕ Z30 ?
4. Nesta questão, G é um grupo finito, e A e B são subgrupos de G.
AB = {xy : x ∈ A e y ∈ B}.
a) Prove que A ∩ B é um subgrupo de G. O conjunto AB é sempre um
subgrupo de G?
b) Prove que |AB||A ∩ B| = |A||B|. Sugestão: Mostre que a função
f : A/(A ∩ B) → G/B está bem definida por f (x(A ∩ B)) = xB, e é
injectiva. Mostre também que a união das classes em f (A/A ∩ B) é
exactamente AB.
c) Suponha que G é um grupo abeliano com 10 elementos. Prove que
G tem necessariamente um elemento x com ordem 5, e um elemento
y com ordem 2, e conclua que G é o grupo Z10 . Sugestão: Qual é a
ordem de xy?
d) Mostre que, se G é um grupo não-abeliano com 10 elementos, então G
tem um elemento x com ordem 5, e se y 6∈< x > então y tem ordem
2. Conclua que xy = yx4 , e portanto que existe apenas um grupo
não-abeliano com 10 elementos, que só pode ser D5 .

4.5 1o Exame: 9/7/2004


1. Diga se cada afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a sua resposta
com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão, G e H são
grupos, f : G → H é um homomorfismo de grupos, e N é o núcleo de f .
a) Se e é a identidade de G, então f (e) é a identidade de H.
resolução: verdadeiro. Temos f (e)f (e) = f (ee) = f (e), e pela
lei do corte em H segue-se que f (e) é a identidade de H.
92 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

b) Se K é um subgrupo de H, então f −1 (K) é um subgrupo de G que


contém N .
resolução: verdadeiro. K contém a identidade de H, e portanto
f −1 (K) contém N . Em particular, f −1 (K) não é vazio. Por outro lado,
se x, y ∈ f −1 (K) temos f (x), f (y) ∈ K, e f (xy −1 ) = f (x)f (y)−1 ∈ K,
i.e., xy −1 ∈ f −1 (K).

c) Se todos os elementos de G têm ordem finita então G é finito.


resolução: falso. Basta considerar o grupo aditivo dos polinómios
em Z2 [x].

d) Se |G| = 15 e |H| = 25, então f (G) é um grupo cı́clico.


resolução: verdadeiro. Pelo teorema de Lagrange, e como f (G)
é subgrupo de H, só podemos ter |f (G)| = 1, 5, ou 25. Analogamente,
|N | = 1, 3, 5, ou 15, e portanto |G/N | = 1, 3, 5, ou 15. Como pelo
1o teorema de isomorfismo temos G/N ∼ f (G), é óbvio que |f (G)| só
pode ser 1 ou 5. Só existe um grupo com 1 elemento e um grupo com
5 elementos, e ambos são cı́clicos.

2. Diga se cada afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a sua resposta


com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão, A e B são
anéis, A é um domı́nio integral, f : A → B é um homomorfismo sobrejectivo
de anéis, e N é o núcleo de f .

a) N é um ideal de A.
resolução: verdadeiro. Designamos o zero de B por 00 . temos
então:

• f (0) = 00 , donde 0 ∈ N , e N 6= ∅.
• x, y ∈ N ⇒ f (x − y) = f (x) − f (y) = 00 − 00 = 00 ⇒ x − y ∈ N .
• x ∈ N, y ∈ A ⇒ f (xy) = f (yx) = f (x)f (y) = 00 f (y) = 00 ⇒
xy, yx ∈ N

b) Se a é invertı́vel em A, então f (a) é invertı́vel em B.


resolução: verdadeiro. f (1) é a identidade do subanel f (A).
Como f é sobrejectiva, temos B = f (A), e f (1) é a identidade de B.
Se a ∈ A é invertı́vel existe a0 ∈ A tal que aa0 = 1, donde f (aa0 ) =
f (a)f (a0 ) = f (1), e f (a) é invertı́vel.

c) B é um domı́nio integral.
resolução: falso. Tome-se A = Z, B = Z4 , e f : Z → Z4 a usual
aplicação quociente f (x) = x.
4.5. 1o EXAME: 9/7/2004 93

d) Se B é um corpo, então N é um ideal máximo de A.


resolução: verdadeiro. Pelo 1o Teorema de Isomorfismo, temos
B ' A/N . Sabemos que A/N é um corpo se e só se N é um ideal
máximo.
3. Neste grupo, n designa a classe de equivalência do inteiro n em Z1800 .
a) Quantos subgrupos tem Z1800 ? Quais são os geradores do subgrupo
gerado por 1300?
resolução: Existe um subgrupo por cada divisor de 1800 = 23 32 52 .
Existem assim (3 + 1)(2 + 1)(2 + 1) = 36 subgrupos.
Os geradores do subgrupo gerado por 1300 são as classe dos inteiros n
que satisfazem mdc(n, 1800) = mdc(1300, 1800) = 100. Temos assim
n = 100k, onde mdc(k, 18) = 1, e 1 ≤ k ≤ 18. É óbvio que k ∈
{1, 5, 7, 11, 13, 17}, e os geradores em causa são 100, 500, 700, 1100,
1300 e 1700.
b) Considere os grupos Z25 ⊕ Z72 , Z20 ⊕ Z90 , Z200 ⊕ Z9 , e Z40 ⊕ Z45 . Quais
destes grupos são isomorfos entre si?
resolução: Sabemos que Zn ⊕ Zm ' Zd ⊕ Zl , onde d = mdc(n, m)
e l = mmc(n, m). Em particular, Zn ⊕ Zm ' Znm , quando 1 =
mdc(n, m). Temos assim:
• Z25 ⊕ Z72 ' Z200 ⊕ Z9 ' Z1800 = A.
• Z20 ⊕ Z90 ' Z10 ⊕ Z180 = B.
• Z40 ⊕ Z45 ' Z5 ⊕ Z360 = C.
O grupo A é cı́clico, de ordem 1800. A ordem de qualquer elemento
do grupo B é um factor de 180. A ordem de qualquer elemento do
grupo C é um factor de 360 e C contém elementos de ordem 360, por
exemplo (0, 1). É assim claro que A 6' B 6' C 6' A.
c) Quantos homomorfismos de grupo f : Z1800 → Z1800 existem, com
núcleo N (f ) =< 1300 >?
resolução: N (f ) =< 1300 >=< 100 > tem 18 elementos, e portanto
f (Z1800 ) ' Z1800 /N (f ) tem 100 elementos, i.e., f (G) =< 18 >. Temos
assim que f (n) = an, onde < a >=< 18 >.
Concluı́mos que a é um gerador de < 18 >, e existem tantos homo-
morfismos do tipo considerado como geradores de < 18 >.
Os geradores de < 18 > são as classes dos inteiros n que satisfazem
mdc(n, 1800) = 18. É claro que n = 18k, e mdc(18k, 1800) = 18, o que
é equivalente a mdc(k, 100) = 1. Temos assim de contar os naturais
k ≤ 100 que são primos relativamente a 100, o que é dado pela função
de Euler ϕ(100) = 100(1 − 12 )(1 − 15 ) = 40.
94 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

d) Supondo que g : Z → Z40 ⊕ Z45 é um homomorfismo de anéis, classi-


fique o anel g(Z).
resolução: Pelo 1o Teorema de Isomorfismo,

g(Z) ' Zm , onde < m >= N (g).

Notamos que g(n) = (g1 (n), g2 (n)), onde g1 : Z → Z40 e g2 : Z → Z45


são também homomorfismos de anéis, e N (g) = N (g1 ) ∩ N (g2 ).
Qualquer homomorfismo de anéis h : Z → A é da forma h(n) = na,
onde a ∈ A é um elemento que satisfaz a2 = a, e a é a identidade do
subanel h(Z) ⊆ A. Concluı́mos que

• g1 (Z) é um subanel de Z40 com identidade. Como 40 = 5 × 8,


os únicos subanéis de Z40 com identidade são os que têm exacta-
mente 1, 5, 8, ou 40 elementos. Neste caso N (g1 ) é respectiva-
mente Z, < 5 >, < 8 >, < 40 >.
• g2 (Z) é um subanel de Z45 com identidade. Como 45 = 5 × 9,
os únicos subanéis de Z45 com identidade são os que têm exacta-
mente 1, 5, 9, ou 45 elementos. Neste caso N (g2 ) é respectiva-
mente Z, < 5 >, < 9 >, < 45 >.

Observámos acima que N (g) = N (g1 ) ∩ N (g2 ). Os casos a considerar


reduzem-se a Z, < 5 >, < 8 >, < 9 >, < 40 >, < 45 >, e ainda
< 72 >=< 8 > ∩ < 9 >, e < 360 >=< 45 > ∩ < 40 >. Temos assim
que g(Z) é um anel isomorfo a um de:

Z1 , Z5 , Z8 , Z9 , Z40 , Z45 , Z72 , Z180 .

4. Considere o anel Z3 [x], e o polinómio p(x) = x3 + 2x + 1. Nesta questão,


quando m(x) ∈ Z3 [x], designamos por m(x) a correspondente classe no anel
quociente K = Z3 [x]/ < p(x) >.

a) Qual é o inverso de x2 + 1 em K[x]?


resolução: Aplicamos o algoritmo de Euclides ao cálculo de mdc(x3 +
2x + 1, x2 + 1).

x3 + 2x + 1 x2 + 1 x x+1 1 0 0 1
x2 + 1 x+1 x+2 2 0 1 1 2x
x+1 2 − − 1 2x x+1 x2 + 2x + 1

Temos 2 = (x3 + 2x + 1)(x + 1) + (x2 + 1)(x2 + 2x + 1), ou 1 =


(x3 + 2x + 1)2(x + 1) + (x2 + 1)(2x2 + x + 2), donde o inverso em
questão é 2x2 + x + 2.
4.5. 1o EXAME: 9/7/2004 95

b) Mostre que K é uma extensão algébrica de Z3 , e K[x] é um d.f.u.


resolução:

• O polinómio x3 + 2x + 1 é irredutı́vel em Z3 , porque é do 3o grau,


e p(0) = p(1) = p(2) = 1 6= 0, i.e., x3 + 2x + 1 não tem raı́zes em
Z3 .
• O ideal < x3 + 2x + 1 > é portanto máximo, e consequente-
mente K = Z3 [x]/ < p(x) > é um corpo, que é obviamente uma
extensão de Z3 . Segue-se que K é um espaço vectorial sobre Z3 .
• Os elementos de K são da forma ax2 + bx + c, porque qualquer
polinómio é equivalente ao resto da sua divisão por x3 + 2x + 1,
que é do 3o grau. Portanto K é um espaço vectorial de dimensão
3 sobre Z3 , com base {1, x, x2 }. Como a dimensão de K sobre Z3
é finita, K é uma extensão algébrica de Z3 .
• K é um corpo, e portanto K[x] é um d.i.p. Segue-se que K[x] é
um d.f.u.

c) Decomponha p(x) em factores irredutı́veis em K[x].


resolução: Para simplificar a notação, escrevemos os elementos de
K na forma a + bi + cj, onde a, b, c ∈ Z3 , i = x, e j = i2 . Note-se que
ij = x3 = −2x−1 = x + 2 = 2 + i, e j 2 = i(ij) = i(2 + i) = 2i + j.
Usando o algoritmo de divisão usual, obtemos:

x3 + 2x + 1 = (x − i)(x2 + ix + 2 + j)

Completamos o quadrado:

x2 + ix + 2 + j =x2 + 2(2i)x + (2i)2 − (2i)2 + 2 + j


(x + 2i)2 + 2 = (x + 2i)2 − 1
(x + 2i − 1)(x + 2i + 1).

A factorização completa de p(x) é:

x3 + 2x + 1 = (x − i)(x + 2i − 1)(x + 2i + 1).

d) Seja α ∈ K, α 6∈ Z3 . Prove que Z3 (α) é isomorfo a K, e em particular


α é raı́z de um polinómio irredutı́vel do terceiro grau n(x) ∈ Z3 [x].
resolução: Consideramos o homomorfismo de anéis φ : Z3 [x] → K,
dado por φ(m(x)) = m(α). Temos por definição que φ(Z3 [x]) = Z3 [α],
e Z3 (α) = Frac(Z3 [α]). Sabemos que α é algébrico, e o respectivo
polinómio mı́nimo n(x) é irredutı́vel. Concluı́mos que

L = φ(Z3 [x]) = Z3 [α] ' Z3 [x]/ < n(x) > é um corpo.


96 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

Em particular, Z3 (α) ' Z3 [α] = L. Consideramos agora os corpos


Z3 ⊆ L ⊆ K. Sendo n a dimensão de K sobre L, e m a dimensão de
L sobre Z3 , temos nm = 3. Como L 6= Z3 , só podemos ter n = 3 e
m = 1, i.e., L = K. Repare-se que neste caso n(x) tem grau 3.

4.6 2o Exame: 24/7/2004


1. Diga se cada afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a sua resposta
com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão, G é um
grupo, e K e H são subgrupos de G.
a) Se x, y ∈ G, então (xy)−1 = y −1 x−1 .
resolução: verdadeiro. Sendo e a identidade de G, temos

(xy)(y −1 x−1 ) = x[y(y −1 x−1 = x[(yy −1 )x−1 ] = x(ex−1 ) = xx−1 = e.

Concluı́mos que (xy)(y −1 x−1 ) = (xy)(xy)−1 , donde y −1 x−1 ) = (xy)−1 .

b) Se K é subgrupo normal de G, então K ∩ H é subgrupo normal de H.


resolução: verdadeiro. Sendo x ∈ K ∩ H e y ∈ H temos

• y −1 xy ∈ K, porque y ∈ H ⊆ G e K é normal em G.
• y −1 xy ∈ H, porque y ∈ H e x ∈ K ∩ H ⊆ H.

Concluı́mos que K ∩ K é normal em H.

c) Os automorfismos de G formam um grupo, com a operação de com-


posição.
resolução: verdadeiro. As funções bijectivas f : G → G formam
o grupo das permutações em G, que designamos SG . O conjunto dos
automorfismos de G é por razões óbvias um subconjunto de SG , e é
não-vazio, porque a função identidade é certamente um homomorfismo
de grupos.
Se f : G → G é um automorfismo, então tem inversa f −1 : G → G.
Dado x, y ∈ G, escrevemos u = f −1 (x), e v = f −1 (y), donde x = f (u)
e y = f (v). Como f é um homomorfismo, temos f (u)f (v) = uv,
i.e., xy = f −1 (x)f −1 (y), e f −1 é também um homomorfismo, e um
automorfismo.
Se g, f : G → G são automorfismos, observamos que g ◦ f −1 é uma
bijecção em SG , e

g ◦ f −1 (xy) = g f −1 (xy) = g f −1 (x)f −1 (y) = g f −1 (x) g f −1 (y) .


        

Por outras palavras, g ◦ f −1 é um homomorfismo, e os automorfismos


de G fromam um subgrupo de SG .
4.6. 2o EXAME: 24/7/2004 97

d) Se K é subgrupo normal de G, então existe um grupo L e um homo-


morfismo de grupos f : G → L tal que K é o núcleo de f .
resolução: verdadeiro. Como K é normal, o quociente G/K = L
é um grupo, e a função π : G → G/K dada por π(x) = x é um
homomorfismo de grupos. Sendo e ∈ G a identidade do grupo G, a
identidade do grupo G/K é e = K, e π(x) = e se e só se x ∈ K, i.e.,
N (π) = K.

2. Diga se cada afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a sua resposta


com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão, A e B são
anéis unitários, e f : A → B é um homomorfismo de anéis.

a) Se a é invertı́vel em A, então f (a) é invertı́vel em B.


resolução: falso. Tomamos A = Z, B = Z ⊕ Z, e f (n) = (n, 0). É
claro que f (1) = (1, 0) não é invertı́vel em B.

b) A imagem f (A) é um ideal de B.


resolução: falso. Tomamos A = Z, B = R, e f (n) = n. Então
f (Z) = Z ⊂ R, que não é um ideal de R, porque o produto de um
inteiro por um real não é sempre um inteiro.

c) Se A = Z, então f (n) = nb, onde b2 = b.


resolução: verdadeiro. Seja b = f (1) ∈ B. Para verificar que
f (n) = nb para qualquer n ∈ Z, observamos que:

• O caso n = 1 é evidente, porque 1b = b = f (1).


• Se n > 1, temos f (n + 1) = f (n) + f (1) = nb + b = (n + 1)b, o
que estabelece a identidade f (n) = nb para qualquer n ∈ N, por
indução.
• f é um homomorfismos de grupos, e portanto f (0) = 0 = 0b.
• Se n < 0 então n = −k, com k ∈ N, e f (n) = f (−k) = −f (k) =
−(kb) = (−k)b = nb.

Temos ainda que f (1)f (1) = f (1 · 1) = f (1), i.e., b2 = b.

d) Se B é finito e tem mais de um elemento, então B tem um subanel


isomorfo a algum Zm , onde m > 1.
resolução: verdadeiro. Sendo I ∈ B a respectiva identidade,
consideramos o homomorfismo de anéis f : Z → B dado por f (n) =
nI. O respectivo núcleo é N =< m >, onde m > 0, porque B é finito,
e m > 1, porque I 6= 0, já que B tem mais de um elemento. Pelo 1o
Teorema de Isomorfismo, f (Z) é um subanel de B isomorfo a Zm .

3. Neste grupo, n designa a classe de equivalência do inteiro n em Z990 .


98 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

a) Quantos subgrupos tem Z990 ? Quantos destes são anéis unitários?


resolução: 990 = 9·11·10 = 2·32 ·5·11 tem (1+1)(2+1)(1+1)(1+1) =
24 divisores, logo Z990 tem 24 subgrupos, que são igualmente subanéis
(e ideais).
Sabemos que se m = nd, o subanel de Zm com n elementos é unitário
se e só se mdc(n, d) = 1. Neste caso, n fica identificado conhecidos os
seus factores primos, e se m = 990 esses factores são p ∈ {2, 3, 5, 11}.
Basta-nos por isso contar os subconjuntos de {2, 3, 5, 11}, que são 16.
b) Quantos automorfismos de grupo f : Z990 → Z990 existem?
resolução: Qualquer homomorfismo de grupo f : Z990 → Z990 é da
forma f (x) = ax, e é óbvio que f (Z990 ) = hai. O homomorfismo é
um automorfismo se e só se é sobrejectivo (porque Z990 é finito), i.e.,
se e só se a é gerador de Z990 . O número de automorfismos de Z990
é assim o número de geradores de Z990 , dado pela função de Euler
ϕ(990) = 990(1 − 12 )(1 − 13 )(1 − 51 )(1 − 11
1
) = 3(2)(4)(10) = 240.
c) Quantos ideais existem em Z15 ⊕ Z66 ? Existem subanéis de Z15 ⊕ Z66
que não são ideais de Z15 ⊕ Z66 ?
resolução: Os ideais da soma directa A ⊕ B são da forma I ⊕ J,
onde I é ideal de A e J é ideal de B. Portanto o número de ideais de
A ⊕ B é o número de ideais de A a multiplicar pelo número de ideais
de B.
15 = 3 · 5 tem 4 divisores, e 66 = 2 · 3 · 11 tem 8 divisores. Por outras
palavras, Z15 tem 4 ideais e Z66 tem 8 ideais. Concluı́mos que Z15 ⊕Z66
tem 32 ideais.
A identidade de Z15 ⊕ Z66 é o elemento (1, 1). Consideramos o subanel
C gerado por (1, 1). A caracterı́stica de Z15 ⊕Z66 é mmc(15, 66) = 330,
ou seja, C tem 330 elementos. Se C é um ideal, então é óbvio que C
contém (1, 1)(1, 0) = (1, 0 e (1, 1)(0, 1) = (0, 1). Mas neste caso é claro
que C contém todos os elementos de Z15 ⊕ Z66 , o que é impossı́vel,
porque Z15 ⊕ Z66 tem 990 elementos. Existem portanto subanéis que
não são ideais, em particular C.
d) Determine os homomorfismos de anel g : Z33 → Z990 .
resolução: Os homomorfismos de grupo g : Z33 → Z990 são da forma
g(x) = φ(x), onde φ : Z → Z990 é um homomorfismo com núcleo
N =< m >⊇< 33 >. Como 33 ∈< m >, é claro que m = 1, 3, 11, ou
33, e m é o número de elementos da imagem φ(Z).
O caso m = 1 corresponde ao homomorfismo nulo, que é claramente
de anéis. Em qualquer caso, se φ é um homomorfismo de anéis então
φ(Z) é um anel unitário, e portanto φ(Z) não pode ter nem 3 nem 33
elementos, como vimos em a).
4.6. 2o EXAME: 24/7/2004 99

Resta-nos verificar o caso em que m = 11, i.e., φ(n) = an, e < a >=<
90 > é o subanel de Z990 com 11 elementos. Recordamos que φ é um
homorfismo de anéis se e só se a2 = a, que é o caso se e só se a é a
identidade do subanel em causa. Temos neste caso que

a≡0 (mod 90), e a ≡ 1 (mod 11)

Temos assim a = 90k ≡ 2kequiv1 (mod 11), donde k ≡ 6 (mod 11),


e a = 90(6 + 11s), i.e., a ≡ 540 (mod 990). Concluı́mos que existem
apenas dois homomorfismos de anel g : Z33 → Z990 , que são dados por
g1 (x) = 0 e g2 (x) = 540x.

4. Considere o anel Z3 [x], e o polinómio p(x) = x3 + 2x2 + x + 2. Nesta


questão, quando m(x) ∈ Z3 [x], designamos por m(x) a correspondente
classe no anel quociente K = Z3 [x]/ < p(x) >.

a) O elemento x2 + x + 1 tem inverso?


resolução: Usamos o algoritmo de Euclides para calcular mdc(x3 +
2x2 + x + 2, x2 + x + 1).

x3 + 2x2 + x + 2 x2 + x + 1 x+1 2x + 1
x2 + x + 1 2x + 1 2x + 1 0

Temos assim mdc(x3 +2x2 +x+2, x2 +x+1) ∼ 2x+1 ∼ x+2. A classe


x2 + x + 1 é invertı́vel se e só se existem polinómios a(x), b(x) ∈ Z3 [x]
tais que

a(x)(x3 + 2x2 + x + 2) + b(x)(x2 + x + 1) = 1.

Esta equação não tem solução, porque < x3 + 2x2 + x + 2, x2 + x +


1 >=< mdc(x3 + 2x2 + x + 2, x2 + x + 1) >=< x + 2 >. Portanto,
x2 + x + 1 não é invertı́vel.

b) Quais são os ideais de K?


resolução: Os ideais de K são da forma

< m(x) >=< mdc(m(x), p(x)) > .

Um cálculo simples mostra que p(x) = (x + 2)(x2 + 1), onde x + 2 e


x2 +1 são irredutı́veis. Segue-se que mdc(m(x), p(x)) = 1, x+2, x2 +1,
ou p(x). Existem por isso 4 ideais, que são

< 1 >= K, < x + 2 >, < x2 + 1 >, e < p(x) >=< 0 > .
100 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

c) Quantos elementos invertı́veis existem em K?


resolução: Os elementos invertı́veis em K são da forma < m(x) >,
onde mdc(m(x), p(x)) = 1. São portanto os elementos de K que não
pertencem a < x + 2 > ∪ < x2 + 1 >.
Os elementos de A =< x + 2 > são da forma:

(x + 2)m(x) = (x + 2)(q(x)(x2 + 1) + a + bx = (x + 2)(a + bx).

Concluı́mos que A tem 9 elementos. Analogamente, os elementos de


B =< x2 + 1 > são da forma:

(x2 + 1)m(x) = (x2 + 1)(q(x)(x + 2) + a) = (x2 + 1)a,

e B tem 3 elementos. Notamos que A ∩ B contém apenas 0, e o anel


K é formado pelas 27 classes a + bx + cx2 . Concluı́mos que K tem
27 − (9 + 3 − 1) = 16 elementos invertı́veis.

d) Quais são os ideais I de K para os quais o anel quociente K/I é


isomorfo a algum Zm ?
resolução: Os elementos não nulos do grupo K/I têm ordem 3,
porque todos os elementos não-nulos de Z3 [x] têm ordem 3. Excep-
tuando o caso “trivial” K = I, onde K/I ' Z1 , o grupo aditivo K/I
só pode por isso ser isomorfo a Zm se m = 3, caso em I deverá ter 9
elementos, i.e., I = A.
Se I = A, então K/I é um anel unitário com 3 elementos, e sabemos
que neste caso é isomorfo a Z3 . Recorde-se que a verificação deste facto
é muito simples. Sendo K/I é um anel unitário com 3 elementos,
K/I = {0, 1, α}, então 1 + 1 só pode ser α, e α + α só pode ser 1.
Portanto, α · α = (1 + 1)α = α + α = 1, e deve ser óbvio que K/I é
isomorfo a Z3 .

4.7 1o Exame: 1/7/2005


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(G, ∗) é um grupo, com identidade 1.

a) A equação x2 = x só tem uma solução x ∈ G.


resolução: verdadeiro. Como G é um grupo, para qualquer x ∈ G
existe y ∈ G, tal que x ∗ y = 1. Temos então:

x2 = x ⇒ x2 ∗ y = x ∗ y ⇒ x ∗ (x ∗ y) = 1 ⇒ x ∗ 1 = 1 ⇒ x = 1
4.7. 1o EXAME: 1/7/2005 101

b) Se H e K são subgrupos de G, então H ∪ K é um subgrupo de G.


resolução: falso. Suponha-se que G = Z é o grupo aditivo dos
inteiros, H =< 2 >, e K =< 3 >. Temos por exemplo 2, 3 ∈ H ∪ K,
mas 5 = 2 + 3 6∈ H ∪ K. Por outras palavras, H ∪ K não é fechado em
relação à soma, e portanto não pode ser um grupo.
c) Se G é finito e tem um número ı́mpar de elementos, então a equação
x2 = 1 só tem a solução x = 1.
resolução: verdadeiro. Temos x2 = 1 se e só se x = x−1 . Neste
caso, e supondo x 6= 1, é claro que H = {1, x} é um subgrupo de G
com 2 elementos. Pelo teorema de Lagrange, a ordem de H divide a
ordem de G, ou seja, 2 divide a ordem de G, que é assim um número
par. Concluı́mos que se a ordem de G é ı́mpar, não podem existir
elementos x 6= 1 que satisfazem a equação x2 = 1, e a única solução
desta equação é x = 1.
d) Se G é finito e tem um número par de elementos, então a equação
x2 = 1 tem soluções x 6= 1.
resolução: verdadeiro. Para cada x ∈ G, consideramos o con-
junto C(x) = {x, x−1 }. O conjunto C(x) tem 2 elementos se x 6= x−1 ,
e 1 elemento se x = x−1 . Seja n o número de conjuntos com 2 ele-
mentos, e m o número de conjuntos com 1 elemento. É claro que m
é o número de soluções da equação x2 = 1, e |G| = 2n + m é par,
por hipótese. Concluı́mos que m é par. É também claro que m ≥ 1,
porque C(1) = {1}. Temos assim que m ≥ 2.

2. Neste grupo, f : Z → Z180 é dada por f (n) = 63n.


a) Determine o número de subanéis, e de geradores, do anel Z180 .
resolução: 180 = 22 × 32 × 5 tem 3 × 3 × 2 = 18 divisores. Segue-se
que Z180 tem 18 subgrupos.
Existem ϕ(180) geradores de Z180 , que correspondem aos naturais 1 ≤
k ≤ 180 que são primos relativamente a 180. Temos
1 1 1
ϕ(180) = 180(1 − )(1 − )(1 − ) = 48.
2 3 5
b) Mostre que a função f é um homomorfismo de grupo. Qual é o núcleo
de f ? Determine as soluções da equação f (n) = 9.
resolução: f é um homomorfismo de grupos, porque:
f (x + y) = 63(x + y) = 63x + 63y = 63x + 63y = f (x) + f (y).
Sendo N (f ) o núcleo de f , temos:
x ∈ N (f ) ⇔ 63x = 0 ⇔ 180|63x ⇔ 20|7x ⇔ 20|x, i.e., N (f ) =< 20 > .
102 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

c) Mostre que o grupo f (Z) é isomorfo a Zm , para um valor apropriado


de m que deve calcular. Quais são os subgrupos de f (Z)?
resolução: Pelo 1o teorema de isomorfismo, temos Z2 ' f (Z), ou
seja, m = 20. Os subgrupos de f (Z) são as imagens dos subgrupos de
Z20 , que são igualmente as imagens dos subgrupos de Z que contém
< 20 >. A lista completa de subgrupos é:

f (< 1 >) =< 63 >=< 9 >, f (< 2 >) =< 18 >, f (< 4 >) =< 36 >,

f (< 5 >) =< 45 >, f (< 10 >) =< 90 >, f (< 20 >) =< 0 >

d) f será também um homomorfismo de anel? Os anéis Zm e f (Z) são


isomorfos?
resolução: Como f (Z) é um subanel com 20 elementos, e 180 = 20×
9, onde 9 e 20 são primos entre si, segue-se que f (Z) é um anel isomorfo
a Z20 . No entanto, o homomorfismo f não é um homomorfismo de
anéis, porque f (1) = 63 não é a identidade de f (Z) (63 × 63 ≡ 9
mod (180)).

3. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a


sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
A é um anel abeliano unitário, com identidade I.

a) Todos os subanéis de A são unitários.


resolução: falso. Considere-se o caso A = Z, e o subanel formado
pelos inteiros pares.

b) Todos os subgrupos de (A, +) são igualmente subanéis.


resolução: falso. Considere-se o caso A = Z[x], e o subgrupo
formado pelos polinómios de grau ≤ 1, que não é subanel, porque não
é fechado em relação ao produto.

c) Se A é um corpo finito, então a sua caracterı́stica é um número primo.


resolução: verdadeiro. Seja I a identidade de A, e m a carac-
terı́stica de A. Se m = nk é composto, então 0 = mI = nkI =
(nI)(kI), onde nI 6= 0 e kI 6= 0, porque m é a menor solução natural
da equação xI = 0. Por outras palavras, A tem divisores de zero, e
portanto não é um corpo.

d) Se A é finito, existe um subanel de A isomorfo a algum anel Zn .


resolução: verdadeiro. Considere-se a função f : Z → A dada por
f (x) = xI. Esta função não é injectiva, porque A é finito. Portanto
o seu núcleo N (f ) =< n >6=< 0 >, e pelo 1o teorema de isomorfismo
temos f (Z) ' Zn , onde f (Z) é um subanel de A.
4.7. 1o EXAME: 1/7/2005 103

4. Neste grupo, consideramos o anel quociente

A = Z3 [x]/J, onde J =< x3 + x2 + x + 1 > .

a) Quantos elementos existem no anel A? Quais são os elementos da


forma < x + a > que são invertı́veis?
resolução: Dado p(x) ∈ Z3 [x], temos

p(x) = q(x)(x3 + x2 + x + 1) + a + bx + cx2 ,

e portanto p(x) = a + bx + cx2 , onde a, b, c ∈ Z3 . Existem por isso


tantas classes de equivalência quantos os restos na divisão por m(x) =
x3 + x2 + x + 1, que são 27 = 33 .
< x + a > é invertı́vel se e só se mdc(x + a, m(x)) = 1, ou seja, se e
só se x + a não é factor de m(x). Como o resto da divisão de m(x)
por x + a = x − (−a) é m(−a), e m(0) = 1, m(1) = 1, e m(2) = 0,
segue-se que m(x) só é divisı́vel por x − 2 = x + 1, e as classes < x >
e < x + 2 > são invertı́veis.

b) Quais são os divisores de zero em A?


resolução:< p(x) > é divisor de zero se e só se mdc(p(x), m(x)) 6=
1. Como m(x) = (x + 1)(x2 + 1), e os dois factores em causa são
irredutı́veis (note-se que x2 + 1 não tem raı́zes em Z3 ), segue-se que
< p(x) > é divisor de zero se e só se x + 1|p(x), ou x2 + 1|p(x). Os
divisores de zero são assim:

(x + 1)x, (x + 1)2 , (x + 1)(x + 2), (x2 + 1),

2(x + 1)x, 2(x + 1)2 , 2(x + 1)(x + 2), e 2(x2 + 1)

c) Mostre que A é um domı́nio de ideais principais.


resolução: Z3 [x] é um anel de polinómios com coeficientes num
corpo, e por isso é um d.i.p. A é um anel quociente de Z3 [x], e portanto
os seus ideais são da forma J/ < m(x) >, onde J é um qualquer ideal
de Z3 [x] que contenha < m(x) >, i.e., J =< n(x) >, onde n(x)|m(x).
É claro que J/ < m(x) >=< n(x) > é um ideal principal.

d) Classifique os anéis quociente da forma A/K, onde K é um ideal de


A.
resolução: Segue-se da alı́nea anterior que K é um dos seguintes
ideais: K1 =< 0 >, K2 =< 1 >, K3 =< x + 1 >, K4 =< x2 + 1 >.
Notamos que A/K1 ' A, e A/K2 ' {0}. Pelo 3o teorema de iso-
morfismo, temos ainda A/K3 ' Z3 [x]/ < x + 1 >' Z3 , e A/K4 '
Z3 [x]/ < x2 + 1 >' CG(9).
104 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

4.8 2o Exame: 18/7/2005


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(G, ∗) é um grupo, com identidade 1.

a) A equação x3 = x só tem uma solução x ∈ G.


resolução: Pela lei do corte, x3 = x ⇔ x2 = 1. A afirmação é falsa,
porque existem grupos onde esta equação tem múltiplas soluções, i.e.,
onde existem diversos elementos iguais ao seu inverso. Por exemplo,
no grupo multiplicativo G = {1, −1}, com o produto usual, os dois
elementos 1 e −1 satisfazem a equação em causa.

b) Se H e K são subgrupos de G, então H ∩ K é um subgrupo de G.


resolução: A afirmação é verdadeira. Notamos primeiro que H ∩
K 6= ∅, porque tanto H como K contém a identidade de G. Notamos
ainda que x, y ∈ H ∩ K ⇒ x ∗ y −1 ∈ H ∩ K, porque:

• x, y ∈ H ∩ K ⇒ x, y ∈ H ⇒ x ∗ y −1 ∈ H, e
• x, y ∈ H ∩ K ⇒ x, y ∈ K ⇒ x ∗ y −1 ∈ K.

c) Se H e K são subgrupos normais de G e K ⊇ H, então K/H é um


subgrupo normal de G/H.
resolução: A afirmação é verdadeira. Observamos que H é um
subgrupo normal de K, e portanto K/H é um grupo, e naturalmente
um subgrupo de G/H. Por outro lado, se x = xH ∈ G/H, onde x ∈ G,
e y = yH ∈ K/H, onde y ∈ K, então x−1 ∗ y ∗ x = x−1 ∗ y ∗ x ∈ K/H,
porque x−1 ∗ y ∗ x ∈ K, já que K é normal em G.

d) Se G tem 11 elementos então G ' Z11 .


resolução: A afirmação é verdadeira. Dado α ∈ G, α 6= 1, defi-
nimos f : Z → G tomando f (n) = αn , que sabemos ser um homomor-
fismo de grupos. Sabemos também que f (Z) é um subgrupo de G, e é
óbvio que f (Z) 6= {1}, i.e., f (Z) tem mais do que um elemento. Pelo
teorema de Lagrange, o número de elementos de f (Z) é um factor de
11, e como não pode ser 1, só pode ser 11, i.e., f é sobrejectivo. Fi-
nalmente, sendo < m > o núcleo de f , temos Zm ' G pelo 1o teorema
de isomorfismos, onde é óbvio que m = 11.

2. As questões seguintes referem-se a grupos ou anéis Zn . Os homomorfismos


e isomorfismos referidos são de grupo, excepto quando a sua natureza é
referida explicitamente.
4.8. 2o EXAME: 18/7/2005 105

a) Determine o número de subgrupos, e de geradores, do grupo Z495 .


resolução: 495 = 32 × 5 × 11, e portanto existem 3 × 2 × 2 = 12
divisores de 495, e 12 subgrupos de Z495 . O número de geradores de
Z495 é
1 1 1 2 4 10
ϕ(495) = (1 − )(1 − )(1 − ) = 495 × × × = 240.
3 5 11 3 5 11

b) Existe algum homomorfismo injectivo f : Z495 → Z595 ? Existe algum


homomorfismo sobrejectivo f : Z495 → Z395 ? Quantos homomorfismos
f : Z495 → Z295 existem?
resolução: Se f : Z495 → H é um homomorfismo injectivo, então
f (Z495 ) é um subgrupo de H com 495 elementos, e pelo teorema de
Lagrange 495 é factor da ordem de H. Como 495 não é factor de 595,
não existem homomorfismos injectivos f : Z495 → Z595 .
Se f : Z495 → H é um homomorfismo sobrejectivo, então pelo 1o
teorema de isomorfismo temos H ' Z495 /N , onde N é o núcleo de f .
A ordem de H é por isso igual à ordem de Z495 /N , i.e., é igual ao
ı́ndice [Z495 : N ], que é um factor de 495. Como 395 não é factor de
495, não existem homomorfismos sobrejectivos f : Z495 → Z395 .
Se f : Z495 → Z295 é um homomorfismo, então a ordem de f (Z495 )
é factor de 295, pelo teorema de Lagrange, e é factor de 495, pelo 1o
teorema de isomorfismo. Os divisores comuns de 495 e 295 = 5 ×
59 são 1 e 5, e portanto f (Z495 ) só pode ter 1 ou 5 elementos. O
primeiro caso (1 elemento) corresponde ao homomorfismo óbvio dado
por f (x) = 0 para todo o x ∈ Z495 . Para reconhecer que o segundo
caso (5 elementos) é possı́vel, observe-se que:

• O único subgrupo de Z295 com 5 elementos é < 59 >' Z5 , que


tem 4 geradores. Estes geradores são os elementos da forma 59k,
com 1 ≤ k ≤ 4.
• As funções fk : Z → Z295 dadas por fk (x) = 59kx são homomor-
fismos de grupos, e são os únicos homomorfismos f : Z → Z295
tais que f (Z) =< 59 >.
• O núcleo de fk é dado por

N (fk ) = {x ∈ Z : 295|59kx} =< 5 >⊇< 495 > .

• Concluı́mos que existem 4 homomorfismos gk : Z495 → Z295 tais


que gk (Z495 ) =< 59 >, e 5 homomorfismos g : Z495 → Z295 .

c) Quais dos seguintes grupos são isomorfos entre si?

Z3 ⊕ Z165 , Z9 ⊕ Z55 , Z99 ⊕ Z5 , Z15 ⊕ Z33 .


106 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

resolução: Sabemos que, se mdc(n, m) = 1, então Znm ' Zn ⊕ Zm .


Notamos assim que:

• A = Z3 ⊕ Z165 ' Z3 ⊕ (Z11 ⊕ Z15 ) ' (Z3 ⊕ Z11 ) ⊕ Z15 ' Z33 ⊕ Z15
• B = Z9 ⊕ Z55 ' Z495 ' Z99 ⊕ Z5

Dado um qualquer elemento z = (x, y) ∈ A, é claro que 165z =


(165x, 165y) = (0, 0), e portanto a ordem do elemento z é um di-
visor de 165. Como B é um grupo cı́clico com 495 elementos, tem
elementos com ordem 495, e não pode ser isomorfo a A.

d) Determine todos os homomorfismos injectivos de anel f : Z495 → Z990 .


Quantos homomorfismos sobrejectivos de anel f : Z495 → Zn existem?
resolução: Observamos primeiro que existe um homomorfismo in-
jectivo de anéis f : Z495 → Z990 se e só se existe um homomor-
fismo de anéis g : Z → Z990 com núcleo N (g) =< 495 >, onde
g(x) = f (π495 (x))1 . Neste caso, g(Z) = f (Z495 ) =< π990 (2) > é o
(único) subanel de Z990 com 495 elementos, e g(1) = f (π495 (1)) é a
identidade do subanel < π990 (2). (o subanel em causa tem identidade
porque 990 = 495 × 2, e 2 e 495 são primos entre si).
A identidade de < π990 (2) > é a classe de restos do inteiro x que
satisfaz x ≡ 0 (mod 2), e x ≡ 1 (mod 495). Temos assim

x = 495y + 1 ≡ 0 (mod 2) ⇔ y ≡ 1, (mod 2) ⇔

x = 495(1 + 2k) + 1 ⇔ x = 496 + 990k ⇔ π990 (x) = π990 (496).

Sendo g : Z → Z990 dado por g(x) = π990 (496x), temos N (g) =<
495 >, porque Z/N (g) '< π990 (496) >=< π990 (2) > tem 495 ele-
mentos. Concluı́mos que f : Z495 → Z990 , dado por f (π495 (x)) =
π990 (496x), é o único homomorfismo injectivo de anéis f : Z495 → Z990 .
Se f : Z495 → Zn é um homomorfismo sobrejectivo então como vimos
n|495, i.e., n é um dos 12 divisores de 495, e f (π495 (1)) = πn (1), donde
f (π495 (x)) = πn (x). Por outro lado, é claro que πn : Z → Zn é um
homomorfismo sobrejectivo de anéis, e o respectivo núcleo é < n >⊇<
495 >, donde f é igualmente um homomorfismo sobrejectivo de anéis.
Existem assim 12 homomorfismos sobrejectivos de anéis f : Z495 → Zn .

3. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a


sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Neste grupo,
D é um domı́nio integral.
1
Designamos aqui por πn a projecção canónica que transforma cada inteiro x na sua
classe de restos ( mod n)
4.8. 2o EXAME: 18/7/2005 107

a) Se C é um subanel unitário de D com mais de um elemento, então C


contém a identidade de D.
resolução: verdadeiro. Seja j a identidade de C, e i a identidade
de D. Como C tem mais de um elemento, seja x ∈ C um elemento
não-nulo. temos então jx = ix = x, e pela lei do corte (válida em D
porque D é um domı́nio integral), temos j = i.

b) Se D é um domı́nio de ideais principais, então D[x] é um domı́nio de


ideais principais.
resolução: falso. Z é um d.i.p., mas Z[x] não é d.i.p. (o ideal
< x, 2 > não é principal, porque os únicos divisores comuns a x e 2
são ±1, mas < x, 2 >6=< 1 >= Z[x].

c) Se os únicos ideais de D são os triviais ({0}, e D), então D é um corpo.


resolução: verdadeiro. Temos apenas que verificar que qualquer
elemento não-nulo de D é invertı́vel. Para isso, e sendo a 6= 0, notamos
que o ideal gerado por a é < a >= {ax : x ∈ D}. Como a = a1 ∈<
a >, temos < a >6= {0}, e por isso < a >= D. Segue-se que 1 ∈< a >,
ou seja, existe x ∈ D tal que 1 = ax.

d) Se D é um domı́nio de ideais principais, então qualquer elemento irre-


dutı́vel em D é primo em D.
resolução: verdadeiro. Seja p ∈ D um elemento irredutı́vel, e
suponha-se que p|xy, onde x, y ∈ D. Seja ainda < p, x >=< d > o
ideal (principal) gerado por p e x. Como d|p e p é irredutı́vel, temos
d ∼ p ou d ∼ 1. No primeiro caso, p|n, e no segundo caso, existem
elementos u, v ∈ D tais que 1 = pu + xv, donde y = puy + xyv é
múltiplo de p.

4. Este grupo diz respeito ao anel dos inteiros de Gauss Z[i].

a) Dado o natural n > 1, se a equação n = x2 + y 2 tem soluções x, y ∈ N,


é possı́vel que n seja primo em Z[i]?
resolução: Se n = x2 +y 2 = (x+iy)(x−iy), segue-se que x2 +y 2 > 1,
e os inteiros de Gauss x + iy e x − iy não são invertı́veis, donde n é
redutı́vel, e portanto não pode ser primo.

b) Se o natural n é primo em Z, e a equação n = x2 + y 2 não tem soluções


x, y ∈ N, é possı́vel que n seja redutı́vel em Z[i]?
resolução: Se n é redutı́vel então existem inteiros de Gauss z, w
tais que n = zw, donde n2 = |z|2 |w|2 . Como n é primo em Z, temos
necessariamente |z|2 = |w|2 = n. Concluı́mos que |z|2 = |w|2 = n, e
portanto a equação n = x2 + y 2 tem soluções x, y ∈ N.
108 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

c) Quantos divisores de 1105 existem em Z[i]? Determine todas as soluções


naturais da equação x2 + y 2 = 1105. (Nota: 13 é factor de 1105.)
resolução: A factorização de 1105 em inteiros de Gauss irredutı́veis
é 1105 = 5×13×17 = (2+i)(2−i)(3+2i)(3−2i)(4+i)(4−i). Existem
por isso 26 = 64 divisores de 1105 que se podem obter destes factores,
e qualquer um deles pode ser multiplicado por uma das 4 unidades de
Z[i]. Concluı́mos que 1105 tem 256 = 4 × 64 divisores em Z[i].
Se 1105 = n2 + m2 = (n + mi)(n − mi), então n + mi e n − mi são
divisores de 1105, e os factores irredutı́veis de n+mi são os conjugados
dos factores de n−mi. Em particular, n+mi tem 3 factores irredutı́veis
distintos. Consideramos os casos:

(a) n + mi = (2 + i)(3 + 2i)(4 + i) = (4 + 7i)(4 + i) = 9 + 32i


(b) n + mi = (2 + i)(3 + 2i)(4 − i) = (4 + 7i)(4 − i) = 23 + 24i
(c) n + mi = (2 + i)(3 − 2i)(4 + i) = (8 − i)(4 + i) = 33 + 4i
(d) n + mi = (2 + i)(3 − 2i)(4 − i) = (8 − i)(4 − i) = 31 − 12i

Os restantes divisores de 1105 com 3 factores irredutı́veis distintos são


conjugados destes, ou resultam de multiplicação dos factores acima por
uma das unidades ±1, ±i. Não conduzem por isso a soluções distintas
da equação 1105 = n2 +m2 . As únicas soluções naturais correspondem
aos conjuntos {4, 33}, {9, 32}, {12, 31}, e {23, 24}.

d) Quais são os naturais n para os quais o anel quociente Z[i]/ < n > é
um corpo?
resolução: O quociente Z[i]/ < n > é um corpo se e só se o ideal
< n >6= Z[i] é máximo. Como Z[i] é um domı́nio de ideais principais, o
ideal < n >6= Z[i] é máximo se e só se n é irredutı́vel. Como sabemos,
é este caso se e só se n é primo em Z, e n ≡ 3 (mod 4).

4.9 1o Exame: 7/7/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(G, ∗) é um grupo.

a) Qualquer subgrupo de G contém a identidade de G.

resolução:verdadeiro.Seja H um subgrupo de G, e x ∈ H a sua


identidade. Então x ∗ x = x, e pela lei do corte temos x = 1, onde 1 é
a identidade de G.
4.9. 1o EXAME: 7/7/2006 109

b) Se H e K são subgrupos de G, então H ∪ K é um subgrupo de G.

resolução:falso.Suponha-se por exemplo que G é o grupo aditivo


dos inteiros, H é o subgrupo dos inteiros pares, e K é o subgrupo dos
múltiplos de 3. Então 1 = 3 − 2 6∈ H ∪ K, apesar de 3, 2 ∈ H ∪ K.
Logo H ∪ K não é um subgrupo de G.

c) Se G tem 17 elementos, então G ' Z17 .

resolução:verdadeiro.Seja α ∈ G, α 6= 1, e considere-se o homo-


morfismo φ : Z → G dado por φ(n) = αn . É claro que φ(Z) é um
subgrupo de G com mais do que um elemento, e |φ(Z)| é factor de
17, pelo teorema de Lagrange. Logo |φ(Z)| = 17, ou seja, φ(Z) = G.
Sendo < m >= N (φ), segue-se do 1o teorema de isomorfismo que
Zm ' G, onde é óbvio que m = 17.

d) Os grupos Z4 ⊕ Z18 e Z6 ⊕ Z12 são isomorfos.

resolução:falso.Sabemos que Znm ' Zn ⊕Zm quando mdc(n, m) =


1. Temos portanto que

G = Z4 ⊕ Z18 ' Z4 ⊕ Z2 ⊕ Z9 ' Z2 ⊕ Z4 ⊕ Z9 ' Z2 ⊕ Z36

G contém elementos de ordem 36 (note que (0, 1) ∈ Z2 ⊕ Z36 tem


ordem 36). Por outro lado, se (x, y) ∈ Z6 ⊕ Z12 então 12(x, y) =
(6(2x), 12y) = (0, 0)), ou seja, a ordem dos elementos de Z6 ⊕ Z12 não
pode exceder 12. É portanto claro que Z4 ⊕ Z18 6' Z6 ⊕ Z12 .

2. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a


sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(A, +, ×) é um anel unitário, com identidade 1.

a) Qualquer subanel unitário de A com mais de um elemento contém a


identidade de A.

resolução:falso.Seja A = Z ⊕ Z, com identidade (1, 1), e considere-


se o subanel B = Z ⊕ {0}, que tem identidade (1, 0).

b) Qualquer subgrupo de (A, +) é um subanel de (A, +, ×).

resolução:falso.Seja A = Z[x], e B = {a + bx : a, b ∈ Z}. é claro


que B é um subgrupo que não é um subanel, porque não é fehado para
o produto.

c) O anel Q[x]/ < x3 − 1 > tem exactamente 4 ideais.


110 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

resolução:verdadeiro.Como x3 − 1 = (x − 1)(x2 + x + 1), e os


polinómios x − 1 e x2 + x + 1) são irredutı́veis em Q[x], é claro que
os factores de x3 − 1 são da forma d(x) = a(x − 1)n (x2 + x + 1)m ,
com 0 ≤ n, m ≤ 1, e a 6= 0. É assim evidente que qualquer divisor
de x3 − 1 é associado de um dos 4 polinómios 1, x − 1, x2 + x + 1, e
x3 − 1. Como os ideais de Q[x]/ < x3 − 1 > são do tipo < d(x) >,
concluı́mos que o anel tem 4 ideais.

d) O anel Z[i]/ < 37 > é um corpo.

resolução:falso.O inteiro 37 = (6 + i)(6 − i) é redutı́vel em Z[i], e


portanto o anel Q[x]/ < x3 − 1 > tem divisores de zero, e não pode
ser um corpo.

3. Considere o anel Z1325 .

a) Quantos geradores e quantos divisores de zero existem em Z1325 ?

resolução:1325 = 52 × 53, logo

1 1 52 × 53 × 4 × 52
ϕ(1325) = 1325(1 − )(1 − ) = = 1040.
5 53 5 × 53
Existem por isso 1040 elementos invertı́veis em Z1325 , que são gerado-
res do anel, e 285 = 1325 − 1040 elementos que não são invertı́veis,
incluindo o 0. Existem por isso 284 divisores de zero.

b) Quais são os homomorfismos de grupo φ : Z505 → Z1325 ?

resolução:Os homomorfismos de grupo φ : Z505 → Z1325 são da


forma φ(n) = f (n), onde f : Z → Z1325 é um homomorfismo de grupo,
dado por f (n) = an, e N (f ) =< m >⊇< 505 >. Em particular, m é
factor de 505.
Por outro lado, como φ(Z505 ) = f (Z) ' Zm é um subgrupo de Z1325 ,
temos pelo teorema de Lagrange que m é igualmente factor de 1325,
donde é evidente que só podemos ter m = 1 ou m = 5.

c) Quais são os subanéis de Z1325 que são corpos?

resolução:Os subanéis de Z1325 que são corpos são em particular


anéis unitários. Sabemos que Zm tem um subanel unitário B com
n elementos se e só se m = nd, onde mdc(n, d) = 1, e neste caso
B =< d >' Zn .
Como 1325 = 25 × 53, os subanéis unitários de Z1325 são, além dos
triviais, que certamente não são corpos, os subanéis que têm 25 e 53
4.9. 1o EXAME: 7/7/2006 111

elementos, que são

< 53 >' Z25 e < 25 >' Z53 .

Como 25 é composto e 53 é primo, é claro que apenas < 25 >' Z53 é


um corpo.

d) Determine os homomorfismos de anel φ : Z → Z1325 .

resolução:São funções da forma φ(n) = an, onde a = φ(1) é nec-


essariamente a identidade do subanel φ(Z), que é por isso um anel
unitário. Temos portanto 4 casos possı́veis:

(1) φ1 (Z) = Z1325 , φ1 (n) = n.


(2) φ2 (Z) =< 0 >, φ2 (n) = 0.
(3) φ3 (Z) =< 25 >, φ3 (n) = an, onde a é a identidade de < 25 >.
(4) φ4 (Z) =< 53 >, φ4 (n) = bn, onde b é a identidade de < 53 >.

Para calcular a e b, temos a resolver os sistemas de equações


 
a ≡ 0 (mod 25) b ≡ 0 (mod 53)
e
a ≡ 1 (mod 53) b ≡ 1 (mod 25)

 
1 + 53k ≡ 0 (mod 25) b = 53s
e
a = 1 + 53k 53s ≡ 1 (mod 25)

3k ≡ −1 (mod 25) e 3s ≡ 1 (mod 25)

24k ≡ −8 (mod 25) e 24s ≡ 8 (mod 25)

k≡8 (mod 25) e s ≡ −8 ≡ 17 (mod 25)

Concluı́mos que a = 1 + 53(8 + 25y) = 425 + 1325y, e b = 53(17 + 25z) =


901 + 1325z, i.e., a = 425 e b = 901, φ3 (n) = 425n e φ4 (n) = 901n. 4.
Suponha que G é um grupo com 2p elementos, onde p 6= 2 é um número
primo. Recorde que G tem pelo menos um elemento α com ordem 2.

a) Prove que G contém pelo menos um elemento ε de ordem p

resolução:Seja K =< α >, que é um subgrupo de G com 2 elemen-


tos. Notamos que a ordem dos elementos de G só pode ser 1, 2, p, ou
2p, e consideramos separadamente dois casos:
112 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

• G é abeliano: G/K é um grupo com p elementos, e contém ele-


mentos x, com x ∈ G, tais que a ordem de x é p. A ordem de
x é múltiplo da ordem de x, e portanto só pode ser p ou 2p. No
primeiro caso tomamos ε = x, no segundo caso ε = x2 .
• G não é abeliano: recordamos que os grupos onde todos os ele-
mentos x 6= 1 têm ordem 2 são abelianos, e concluı́mos que existe
ε ∈ G com ordem superior a 2, portanto com ordem p ou 2p. A
ordem de ε não pode ser 2p, porque nesse caso G seria cı́clico,
logo abeliano. Segue-se que a ordem de ε só pode ser p.
b) Prove que x ∈ G tem ordem p se e só se x ∈ H =< ε >= {1, ε, ε2 , · · · , εp−1 }
e x 6= 1.

resolução:H ' Zp , porque H tem p elementos. Logo, se x ∈ H e


x 6= 1 é óbvio que x tem ordem p. Por outro lado, [G : H] = 2, donde
H é normal em G, e G/H ' Z2 é um grupo com 2 elementos. Se
x 6∈ H, então x 6= 1 tem ordem 2, e portanto x tem ordem 2 ou 2p,
não podendo ter ordem p.
c) Os elementos de G são da forma x = αn εm , com 0 ≤ n < 2, e 0 ≤
m < p. Qual é a ordem de cada um destes elementos? sugestão:
a resposta depende de G ser abeliano ou não, portanto os dois casos
devem ser analisados separadamente.

resolução:G/H = {1, α} = {H, αH}, donde


G = {1, ε, ε2 , · · · , εp−1 , α, αε, αε2 , · · · , αεp−1 }.
Vimos já que a ordem dos elementos ε, ε2 , · · · , εp−1 é p. A ordem dos
elementos α, αε, αε2 , · · · , αεp−1 , que como vimos só pode ser 2 ou 2p,
depende de G ser ou não abeliano.

• Se G não é abeliano, então G não é cı́clico, e portanto todos os


elementos x 6∈ H têm ordem 2. G tem assim
– Com ordem 1: a identidade,
– Com ordem 2: Os elementos αεk , 1 ≤ k < p,
– Com ordem p: Os elementos εk , 1 ≤ k < p.
• Se G é abeliano, temos que recalcular a ordem dos elementos da
forma x = εk , 1 ≤ k < p. Notamos que
1 = (αεk )n = αn εkn ⇒ α−n = εkn .
Como αn só pode ser 1 ou α, e α não é uma potência de ε,
concluı́mos que α−n = εkn = 1, donde 2|n e p|kn. Como 1 ≤ k <
p, temos p|kn ⇒ p|n, e portanto 2p|n, i.e., αεk tem ordem 2p. G
tem neste caso:
4.9. 1o EXAME: 7/7/2006 113

– Com ordem 1: a identidade,


– Com ordem 2: o elemento α,
– Com ordem p: os elementos εk , 1 ≤ k < p,
– Com ordem 2p: os elementos αεk , 1 ≤ k < p.

d) Suponha que G não é abeliano e φ : G → N é um homomorfismo so-


brejectivo. Classifique o grupo N . sugestão: quais são os subgrupos
normais de G?

resolução:Para determinar os subgrupos normais de G, notamos que


os subgrupos de G não triviais (i.e., distintos de {1} e de G) só podem
ter 2 ou p elementos.

• Se K é um subgrupo com p elementos, então K contém elemen-


tos de ordem p. Como vimos, todos os elementos de ordem p
pertencem a H, e é portanto óbvio que este é o único subgrupo
de G com ordem p. Como também já notámos, segue-se de [G :
H] = 2 que H é normal.
• Se K = {1, β} tem 2 elementos, então podemos supor sem perda
de generalidade que β = α, dado que nos argumentos acima
apenas usámos o facto de α ter ordem 2. Observamos que se
K = {1, α} é normal, então εαε−1 ∈ K, e neste caso εαε−1 = 1
ou εαε−1 = α.
(a) εαε−1 = 1 ⇒ εα = ε ⇒ α = 1, o que é absurdo.
(b) εαε−1 = α ⇒ εα = αε ⇒, o que é absurdo, porque implica
claramente que G é abeliano.

Concluı́mos que G tem 3 subgrupos normais, a saber {1}, H, e G, e


N (φ) é necessariamente um destes 3 subgrupos, e pode ser qualquer
um deles. Segue-se agora do 1o Teorema de Isomorfismo que:

(a) N (φ) = {1} ⇒ N ' G.


(b) N (φ) = G ⇒ N ' Z1 , porque é um grupo com 1 elemento.
(c) N (φ) = H ⇒ N ' G/H ' Z2 , porque é um grupo com 2 ele-
mentos.

Na realidade, existe apenas um grupo não abeliano com 2p elemen-


tos(2 ), que é o grupo diedral Dp , e portanto no caso (a) temos que
2
A tabuada de G fica determinada calculando o produto εα, que é um elemento de Hα.
Como Hα = αH, e todos os elementos de αH têm ordem 2, é claro que εα tem ordem
2, i.e., (εα)−1 = εα. Mas é óbvio que (εα)(αεp−1 ) = 1, donde (εα)−1 = εα = αεp−1 .
A tabuada resultante só pode ser a do grupo Dp , que é como sabemos um grupo não
abeliano com 2p elementos. Recorde-se de passagem que os elementos em H são rotações,
e os elementos em αH são reflexões.
114 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

N ' Dp . Concluı́mos finalmente que N é isomorfo a um dos 3 seguintes


grupos: Z1 , Z2 , Dp .

4.10 2o Exame: 21/7/2006


1. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a
sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(G, ∗) é um grupo, com identidade 1, e H e K são subgrupos de G.

a) Se x, y ∈ G então (xy)−1 = y −1 x−1 .

resolução:verdadeiro.Como

(xy)y −1 x−1 = x(yy −1 )x−1 = x1x−1 = xx−1 = 1, e

y −1 x−1 (xy) = y −1 (x−1 x)y = y −1 1y = y −1 y = 1,


é claro que (xy)−1 = y −1 x−1 .

b) H ∩ K é um subgrupo de G.

resolução:verdadeiro.H ∩ K 6= ∅, porque qualquer subgrupo de


G contém pelo menos a identidade de G. Notamos que

x, y ∈ H ∩ K ⇒ x, y ∈ H ⇒ xy −1 ∈ H,

x, y ∈ H ∩ K ⇒ x, y ∈ K ⇒ xy −1 ∈ K,
É portanto claro que x, y ∈ H ∩ K ⇒ xy −1 ∈ H ∩ K, e H ∩ K é um
subgrupo de G.

c) Se |G| = 100, a equação x7 = 1 só tem uma solução x ∈ G.

resolução:verdadeiro.A equação x7 = 1 tem sempre a solução


x = 1, e qualquer outra solução x 6= 1 é um elemento de G de ordem
7. Como a ordem de qualquer elemento de G é factor da ordem de G,
que é 100, e 7 não é factor de 100, segue-se que G não tem elementos
de ordem 7, e a equação x7 = 1 só tem a solução x = 1.

d) Se |G| = 15 e G é abeliano então G ' Z15 .

resolução:verdadeiro.Seja α ∈ G, α 6= 1, e H =< α > o subgrupo


gerado por α. A ordem de α é factor de 15, e portanto só pode ser
15, 5, ou 3. Em qualquer caso, e como G é abeliano, sabemos que H é
normal em G, e recordamos que a ordem de x em G/H é um divisor
da ordem de x em G.
4.10. 2o EXAME: 21/7/2006 115

(a) Se a ordem de α é 15 então G = H é cı́clico e tem 15 elementos,


logo G ' Z15 .
(b) Se a ordem de α é 5 então o grupo G/H ' Z3 , porque G/H tem
3 elementos, e G/H contém por isso um elemento β de ordem 3,
donde se segue que β tem ordem 3 ou 15 no grupo G.
(c) Se a ordem de α é 3 então o grupo G/H ' Z5 , porque G/H tem
5 elementos, e contém por isso um elemento β de ordem 5, donde
se segue que β tem ordem 5 ou 15 no grupo G.

Notamos que em qualquer caso G contém pelo menos um elemento x


de ordem 3, e um elemento y de ordem 5. Tomando A =< x > e
B =< y >, então A e B são subgrupos normais de G, |A ∩ B| = 1,
porque 3 e 5 são primos entre si, e |AB| = |A||B|/|A ∩ B| = 15, donde
AB = G, e G ' A ⊕ B ' Z3 ⊕ Z5 ' Z15 .

2. Diga, em cada caso, se a afirmação é verdadeira ou falsa, justificando a


sua resposta com uma demonstração, ou um contra-exemplo. Nesta questão,
(D, +, ×) é um domı́nio integral, com identidade 1.

a) Qualquer subanel unitário de D com mais de um elemento contém a


identidade de D.

resolução:verdadeiro.Seja i a identidade do subanel unitário de


D. Como D não tem divisores de zero, temos

i2 = i ⇒ i(i − 1) = 0 ⇒ i = 0, ou i = 1.

É claro que i = 0 não pode ser a identidade de um anel com algum


elemento x 6= 0, porque xi = x 6= 0, logo temos necessariamente x = 1.

b) Qualquer subanel de D é um ideal de D.

resolução:falso.Basta considerar D = R, e o seu subanel Z, que


não é um ideal de R, porque é óbvio que podemos ter x ∈ R, y ∈ Z, e
xy 6∈ Z.

c) Se os ideais de D são apenas os triviais ({0} e D) então D é um corpo.

resolução:verdadeiro.Se x 6= 0 então I = {xy : y ∈ D} é um ideal


de D, e I 6= {0}, porque x = x1 ∈ I. Segue-se que I = D, e portanto
1 ∈ I, i.e., existe y ∈ D tal que 1 = xy. Por outras palavras, qualquer
x 6= 0 é invertı́vel, e D é um corpo.

d) Se D é um d.f.u., então todos os seus elementos irredutı́veis são primos.


116 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

resolução:verdadeiro.Suponha-se que p é irredutı́vel, e p|ab. Temos


a provar que p|a ou p|b. Observamos que ab = pc, e como D é um d.f.u.,
existem elementos irredutı́veis pi , qj e rk tais que
Y Y Y Y Y Y
a= pi , b = qj , e c = rk , donde pi qj = p rk .
i j k i j k
Q Q Q
Como D é um d.f.u., as duas factorizações i pi j qj = p k rk
são idênticas, a menos da ordem dos factores e da multiplicação por
unidades, ou seja, cada um dos factores irredutı́veis à direita é as-
sociado de pelo menos um dos factores irredutı́veis à esquerda. Em
particular, p é associado de um dos factores pi ou qj . É portanto factor
de a ou de b.

3. Considere o anel Z775 .

a) Quantos subanéis tem Z775 ? Quantos divisores de zero existem em


Z775 ?

resolução:775 = 52 31 tem 6 factores, e portanto Z775 tem 6 subanéis.


O anel tem ϕ(775) = 775(1 − 15 )(1 − 311
) = 5 × 4 × 30 = 600 elementos
invertı́veis, e portanto 775 − 600 − 1 = 174 divisores de zero.

b) Z775 tem um subanel B com 155 elementos. Quantos geradores tem o


subanel B?

resolução:Como 755/155 = 5, é claro que B =< 5 >, e por-


tanto os geradores de B são as classes dos inteiros da forma 5x, com
mdc(5x, 755) = 5, ou mdc(x, 155) = 1. Por outras palavras, existem
tantos geradores de B como elementos invertı́veis em Z155 , ou seja,
existem ϕ(155) = 155(1 − 15 )(1 − 31
1
) = 4 × 30 = 120 geradores de B.

c) Resolva a equação x2 = 0, com x ∈ Z775 .

resolução:Seja x = k, com k ∈ Z. Temos então que 775|k 2 , donde


5|k e 31|k. Segue-se que k = 155z, e é óbvio que neste caso 775|k 2 .
Concluı́mos que x2 = 0 se e só se k = 155z. Existem por isso 5
soluções da equação, a saber x = 155, x = 310, x = 465, x = 620, e
x = 775 = 0.

d) Quantos homomorfismos de grupo φ : Z775 → D31 existem? (Recorde


que D31 é o grupo diedral formado pelas simetrias do polı́gono regular
de 31 lados.)

resolução:Notamos que:
4.10. 2o EXAME: 21/7/2006 117

• O grupo D31 tem 62 = 2 × 31 elementos. Como φ(Z775 ) é sub-


grupo de D31 , segue-se que a sua ordem só pode ser 1, 2, 31 ou
62 elementos.
• A ordem de φ(Z775 ) resulta também de dividir 775 pelo número
de elementos do núcleo de φ, núcleo esse que é um subgrupo de
Z775 . Consequentemente, a ordem de φ(Z775 ) é também factor
de 775 = 52 31
Concluı́mos assim que a ordem de φ(Z775 ) só pode ser 1 ou 31, sendo
que o primeiro caso corresponde ao homomorfismo trivial dado por
φ(x) = 1 para qualquer x ∈ Z775 .
O caso em que φ(Z775 ) tem 31 elementos é igualmente possı́vel, e ocorre
sempre que φ(1) é um dos geradores r do subgrupo R31 de D31 com
31 elementos, caso em que φ(n) = rn . Como 31 é primo, sabemos
que R31 ' Z31 , e portanto R31 tem 30 geradores (cada um dos quais
é uma das rotações não triviais em D31 ). Existem assim 1+30 = 31
homomorfismos possı́veis.
4. Considere o anel K = Z5 [x]/ < p(x) >, onde p(x) = x3 + 2x2 + 2x + 1.
Note que p(4) = 0.
a) Determine o número de elementos do anel K, e verifique que K não é
um corpo.

resolução:Os elementos de K são da forma a + bx + cx2 , com a, b, c ∈


Z5 . K tem portanto 53 = 125 elementos. Como p(4) = 0, sabemos
que p(x) é divisı́vel por x − 4 = x + 1, e na verdade temos p(x) =
x3 +2x2 +2x+1 = (x−4)(x2 +x+1), donde (x − 4)×(x2 + x + 1) = 0,
ou seja, é claro que K contém divisores de zero, e por isso não pode
ser um corpo.
<α(x)>
b) Mostre que os ideais de K são da forma <p(x)> , onde α(x)|p(x).

resolução:É claro que qualquer conjunto da forma <α(x)>


<p(x)> é um
ideal de K. Supondo que J é um qualquer ideal de K, consideramos
I = π −1 (J), onde π : Z5 [x] → K é a aplicação quociente canónica,
dada por π(a(x)) = a(x). É imediato verificar que I é um ideal de
Z5 [x], e Z5 [x] é como sabemos um d.i.p., ou seja, I =< α(x) >. Por
outro lado, e como π(p(x)) = 0 ∈ J, é óbvio que p(x) ∈ I, i.e.,
α(x)|p(x). Concluı́mos que J = π(I) = <α(x)>
<p(x)> .

c) Quantos ideais existem em K? Quantos subgrupos existem em K?

resolução:De acordo com a alı́nea anterior, os ideais de K são gera-


dos pelos factores de p(x). Notamos que p(x) = x3 + 2x2 + 2x + 1 =
118 CAPÍTULO 4. EXAMES RESOLVIDOS

(x − 4)(x2 + x + 1), e que x2 + x + 1 é irredutı́vel (é fácil verificar pr


cálculo directo que não tem raı́zes em Z5 ). Como p(x) tem 2 factores
irredutı́veis, tem 4 divisores que não associados entre si, e portanto K
tem 4 ideais.
O grupo aditivo (K, +) é isomorfo a Z5 ⊕Z5 ⊕Z5 . Além dos subgrupos
‘’óbvios” com 1 e 125 elementos, tem 3 subgrupos A, B, C de 5 ele-
mentos, e 3 subgrupos com 25 elementos, que correspondem a A ⊕ B,
A ⊕ C, e B ⊕ C.

d) Sendo a(x) e b(x) factores irredutı́veis de p(x), mostre que

Z5 [x] Z5 [x]
K' ⊕ .
< a(x) > < b(x) >

sugestão: Determine um homomorfismo de anéis apropriado


Z5 [x] Z5 [x]
φ : Z5 [x] → ⊕
< a(x) > < b(x) >

Z5 [x] Z5 [x]
resolução:Sendo πa : Z5 [x] → <a(x)> e πb : Z5 [x] → <b(x)> os
homomorfismos canónicos dados por

Z5 [x] Z5 [x]
πa (c(x)) = c(x) ∈ e πb (c(x)) = c(x) ∈ ,
< a(x) > < b(x) >
Z5 [x] Z5 [x]
tomamos φ : Z5 [x] → <a(x)> ⊕ <b(x)> dado por

φ(c(x)) = (πa (c(x)), πb (c(x)))

O núcleo de φ é dado por

N (φ) = {c(x) : a(x)|c(x) e b(x)|c(x)} =< p(x) > .

Pelo 1o teorema de isomorfismo para anéis temos então que

Z5 [x] Z5 [x] Z5 [x]


' φ(Z5 [x]) ⊆ ⊕ .
< p(x) > < a(x) > < b(x) >
Z5 [x] Z5 [x] Z5 [x]
Como tanto <p(x)> como <a(x)> ⊕ <b(x)> têm 125 elementos, é claro
que φ é sobrejectivo, e portanto

Z5 [x] Z5 [x] Z5 [x]


' φ(Z5 [x]) = ⊕ .
< p(x) > < a(x) > < b(x) >

You might also like