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léo ramos
Marcos Pivetta
T
oumai, Lucy, um neandertal e outros coordenador do Laboratório de Estudos Evolu-
hominídeos do passado distante es- tivos Humanos da Universidade de São Paulo
tão chegando a São Paulo. Ou melhor, (USP), a exposição traça um panorama de uma
réplicas fiéis de seus esqueletos e re- longa e intrincada história, cujo início não se sa-
presentações artísticas de seus pro- be ao certo, mas que hoje contabiliza ao menos
váveis traços faciais são as estrelas de uma nova 7 milhões de anos.
exposição permanente sobre a evolução humana. Essa é a idade estimada de Toumai, apelido de
Intitulada Do macaco ao homem, a mostra entra um crânio da espécie Sahelanthropus tchadensis,
em cartaz entre o final deste mês e o início de encontrado em 2001 no Chade, centro-norte da
fevereiro no Catavento Cultural, espaço para África. Trata-se do mais antigo hominídeo conhe-
difusão da ciência e do conhecimento mantido cido, uma linhagem provavelmente evoluída de
pelo governo do estado de São Paulo no centro parentes dos chimpanzés. Toumai pertenceu ao
da capital paulista. Concebida em parceria com primeiro grupo de hominídeos a caminhar em pé.
o arqueólogo e antropólogo físico Walter Neves, Durante um bom tempo, a primazia do bipedalismo
Réplicas de
esqueletos de gorila,
do homem moderno
e de chimpanzé: o
Homo sapiens e seus
parentes próximos
dentro da ordem
dos primatas
N
um H. sapiens e
o Catavento Cultural, que se inte- reconstituição de um
ressou prontamente pelo projeto, sepultamento
humano de 28 mil
Do macaco ao homem inaugura anos na Rússia.
um novo espaço didático no interior do Riqueza de detalhes
Palácio das Indústrias, o prédio históri- das peças é o ponto
co da instituição: as arcadas no subsolo. alto da exposição
Reproduções
do esqueleto de
Lucy e do Garoto
de Turkana (um
Homo erectus de
1,6 milhão de anos),
de crânios
de hominídeos
e da dentição
de antepassados
do homem moderno
U
ma cena instigante da exposição é a mostra para acompanhar as informações Complementam ainda esse pequeno
reconstituição de um sepultamento passadas em uma de suas partes. “Quando passeio pela evolução humana dois bre-
de um humano moderno ocorrido se está em um módulo, não é possível ver ves documentários: um de três minutos
28 mil anos atrás no solo gelado do que ho- o conteúdo da etapa seguinte”, diz o bió- sobre como os ancestrais do homem mo-
je é a Rússia. Os organizadores da mostra logo Murilo Reginato, do Catavento, que derno lascavam a pedra para dar forma
cavaram um buraco no chão, dentro do auxilia na montagem da mostra. “Dessa a seus artefatos, outro de sete minutos a
qual foi colocada a ossada, e fecharam a forma, o visitante não dispersa sua aten- respeito do trabalho de campo e de labo-
cova com um vidro transparente. Dessa ção.” Dentro da cada módulo, os temas são ratório dos arqueólogos e antropólogos
forma, o visitante pode andar sobre a se- explorados de acordo com uma sequên- que lidam com ossos humanos. Ao deixar
pultura e ver os restos de seu ocupante. cia cronológica de eventos. A posição do as arcadas subterrâneas do Palácio das
Um desenho de como pode ter sido en- homem no reino animal; a evolução da Indústrias, o visitante tem a chance de
terrado esse exemplar de Homo sapiens se locomoção, da dentição, do cérebro e da ouvir trechos de Magnificat de Bach, um
encontra ao lado do sepultamento. aparência física; o uso das tecnologias de belo exemplar da criatividade de nossa
A exposição é dividida em oito módu- pedra lascada; o surgimento do conheci- espécie. Para montar Do macaco ao ho-
los autocontidos, cada um com temática mento simbólico e de produção artística mem, foram gastos aproximadamente R$
independente dos demais pontos de pa- – todas essas questões figuram em alguma 1 milhão, dos quais R$ 140 mil vieram do
rada. Não é necessário percorrer toda a das paradas da exposição. CNPq e o restante do Catavento. n