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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

Instituto de Ciências, Comunicação e Arte


ESTÉTICA
JORNALISMO - NOTURNO

Luiz Claudio Barros dos Santos Junior

RESENHA CRÍTICA
CRÍTICA DA FACULDADE DE JUÍZO, DE IMMANUEL KANT

Maceió
2018
Na obra Crítica da Faculdade do Juízo, Immanuel Kant faz uma reflexão
intitulada de “Analítica da Beleza”, dividida em quatro momentos explicitados no
decorrer desta resenha. O autor aborda, no geral, questões estéticas e como
acontece o julgamento pessoal do que é belo.

O primeiro momento foca no “prazer desinteressado”. Todos os


julgamentos estéticos estão baseados neste prazer. O sujeito faz o julgamento
sobre determinado objeto e não sente o desejo de possuí-lo, apenas de
contemplá-lo. Os juízos de gosto estão ligados a uma ânsia de posse ou deleite,
enquanto os juízos de beleza têm como base os sentimentos agradáveis
distintos aos que possuem relação de desejo.

“Cada um tem de reconhecer que aquele juízo sobre beleza, ao qual


se mescla o mínimo interesse, é muito faccioso e não é nenhum juízo-
de-gosto puro. Não se tem que simpatizar minimamente com a
existência da coisa, mas ser a esse respeito completamente indiferente
para em matéria de gosto desempenhar o papel de juiz”. (KANT, 1995,
p. 50)

Kant distingue os juízos cognitivos daqueles que tem por base o


sentimento de beleza. O homem associa propriedades com substâncias, como
o verde à folha das árvores. Por outro lado, ao exaltar a beleza da cor ou da
própria folha, o sujeito não está fazendo qualquer associação, apenas
demonstrando um sentimento oriundo de uma sensação objetiva.

Os juízos estéticos (ou de gosto), então, se encaixam no segundo caso.


O homem é um mero contemplador do objeto e apresenta uma reação que se
torna conteúdo deste juízo estético, não de suas propriedades/substâncias e
consequentemente conteúdo de um juízo cognitivo.

Outra distinção destacável do primeiro momento é a que Kant faz sobre


os juízos do belo e os juízos de caráter moral e ético, aqueles que possuem um
interesse ao final. Não dá para se determinar um gosto quando existe uma
necessidade a ser saciada, porque isso influenciará a escolha do sujeito. O gosto
é o responsável pela formação de um conceito de um determinado objeto
mediante uma tendência (ou não) desligada de interesses. Este objeto analisado
é o que pode ser definido como “belo”.

O segundo momento provém uma retirada dos juízos de beleza do cenário


da subjetividade fornecendo uma dimensão mais universal e até paradoxal.
Quando um sujeito julga algum objeto como belo, este pretende que todos ao
seu redor também possuam um julgamento igual, que compartilhem do mesmo
sentimento que ele. No entanto, o juízo da beleza não é baseado em definições
ou conceitos. Diante disso, estes julgamentos não podem ser provados, pois as
estratégias de convencimento, ao fim, utilizam-se de associações de
propriedades e substâncias. Isso configura-os como juízos sobre o agradável.

Com o belo passa-se de modo totalmente diverso. Seria (precisamente


ao contrário) ridículo se alguém que se gabasse de seu gosto pensasse
justificar-se com isto: este objeto (o edifício que vemos, o traje que
aquele veste, o conceito que ouvimos, o poema que é apresentado ao
ajuizamento) é para mim belo. Pois ele não tem que denomina-lo belo
se apraz meramente a ele, com isso ninguém se preocupa; se ele,
porém, toma algo por belo, então atribui a outros precisamente a
mesma complacência: ele não julga simplesmente por si, mas por
qualquer um e neste caso fala da beleza como se ela fosse uma
propriedade das coisas. (KANT, 1995, p. 57)

Kant almeja explicar a universalidade sem conceito de um prazer


desinteressado, fazendo uma distinção do julgamento estético acerca do belo
daqueles que tem como base simplesmente o gosto ou prazer. A questão mais
complexa em seus textos é a de como pode existir um julgamento universal que
não é fundamento em algum conceito. Em sua visão, a universalidade dos
julgamentos sobre a beleza é um conceito indeterminado, diferente daqueles
apresentados nos juízos cognitivos.

Ariano Suassuna (1996, p. 70) afirma com base na obra de Kant que “é
natural que o sujeito, ao experimentar uma sensação de prazer diante de um
quadro ou de um romance, exija, para seu juízo, o assentimento de todos os
outros homens, a aprovação geral”.

Enquanto o ser humano faz um juízo estético ele está exemplificando uma
sensação de prazer ou desprazer pela qual ele passou, não um conceito
derivado da forma, cor, brilho e afins do objeto.

O terceiro momento busca discernir mais profundamente os julgamentos


acerca do belo dos julgamentos acerca do bem. Juízos de beleza não
pressupõem um fim que o objeto deva satisfazer/alcançar. Não se almeja que
este objeto atinja qualquer que seja o bem.

O juízo de gosto se fundamenta a priori e se descobre a posteriori por se


tratar de uma ligação da causa com seu efeito percebida através da experiência.
Este juízo necessita de imparcialidade para ser puro, pois interesses geram
comoção, atrativos e o viciam, consequentemente os tornando inválidos para
demandar qualquer complacência universalmente válida. O belo só pode ser
puro se determinado sem conceitos.

Há duas espécies de beleza: a beleza livre (pulchritudo vaga) e a


beleza simplesmente aderente (pulchritudo adhaerens). A primeira não
pressupõe nenhum conceito do que o objeto deva ser, a segunda
pressupõe um tal conceito e a perfeição do objeto segundo o mesmo,
Os modos da primeira chamam-se belezas (por si subsistentes) desta
ou daquela coisa; a outra, como aderente a um conceito (beleza
condicionada), é atribuída a objetos que estão sob o conceito de um
fim particular. (KANT, 1995, p. 75)

Os juízos de gosto devem ser fundamentados no sentimento estético, não


em conceitos de gosto. O sentimento da Beleza não busca satisfazer qualquer
que seja a inclinação ou é turvado por algum desejo. Logo, buscar um princípio
com conceito universal seria algo infrutífero, de acordo com a visão do autor.

“Para Kant, o prazer estético não se assemelha aos outros. Há uma


diferença, não só de grau, mas de natureza. Duas das nossas
faculdades intelectuais, habitualmente divergentes, estão de acordo
aqui: a imaginação e o entendimento. Essa coincidência inabitual
causa-nos prazer”. (BAYER, 1995, p.201)

O quarto momento explicita a diferença entre o “dever” e o “ser”, entre o


fim e a finalidade. Quando um sujeito emite um julgamento sobre o quão belo é
um determinado objeto, ele espera que outra pessoa aprove este juízo. Este
indivíduo não almeja uma validade universal, mas pretende que todas as
pessoas percebam a mesma beleza que ele está a se referir. Ele não quer que
alguém concorde com ele, mas acha que deve concordar. Este “dever-ser” pode
não estar presente no ser. Isso configura os juízos acerca da beleza como
possuidores de uma densidade pública, não tão somente como subjetividades
pertencentes a cada indivíduo.

O fim se liga às destinações de cada objeto, logo, qualquer julgamento


sobre ele ter uma carga de interesses, enquanto a finalidade está ligada à forma
e ao sentimento de prazer ou desprazer gerado no sujeito, sentimento decorrente
da apreensão da forma do objeto.

Portanto, somente sob a pressuposição de que exista um sentido


comum (pelo qual, porém, não entendemos nenhum sentido externo,
mas o efeito decorrente do jogo livre de nossas faculdades de
conhecimento), somente sob a pressuposição, digo eu, de um tal
sentido comum o juízo de gosto pode ser proferido. (KANT, 1995, pp.
83-84)

O ser humano ao fazer seus julgamentos sobre o belo funda seu juízo em
cima de conceitos, mas que pertencem apenas ao seu próprio sentimento. O
sentido comum acaba sendo uma norma ideal proposta por nós sob a qual
poderia deduzir-se um juízo, provando nossa pretensão natural de expressar
juízos de gosto.

Infere-se, então, que o belo é tudo aquilo que se toma conhecimento sem
conceito como objeto de uma complacência fundamental. A harmonia entre as
faculdades e o seu “jogo livre” nos proporciona o prazer sem interesses. Uma
visão polêmica e até contraditória, porém, não é considerada uma das mais
importantes para os estudos da Estética à toa. Com o perdão de fazer um juízo
estético com a natural tendência de juízo sobre o agradável que há em uma
resenha, a obra de Kant é bela.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAYER, R. História da Estética. Lisboa, Editorial Estampa, 1995. (pp. 196-206).

KANT, I. Crítica da Faculdade do Juízo. Rio de Janeiro, Forense Universitária,


1995. (pp. 47-89).

SUASSUNA, A. Iniciação à Estética. Recife, Editora da UFPE, 1996. (pp. 67-


75).

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