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CRÍTICA

ATTILA MARCEL


Leveza e encanto. Essas são duas das principais características do filme Attila Marcel, de
Sylvain Chomet. Esse filme me chamou a atenção por tratar de assuntos sérios, mas de
uma forma muito sutil e até cômica. É difícil encontrar bons filmes que entrem no
âmbito trágico sem que fiquem sobrecarregados de sentimentalismo. Attila Marcel
consegue colocar em pauta assuntos tristes, traumáticos e tensos de um jeito
impressionante, pois não deixa de transmitir leveza ao espectador, que se sente
envolvido pelo pequeno mistério que ajuda a tecer o filme.

Paul (Guillaume Gouix) é um homem que ainda vive com suas duas tias. Ele perdeu seus
pais quando era jovem e, desde então, sua vida tem sido um mar de monotonia. Paul
segue sempre a mesma rotina, suas atividades são um reflexo do que suas tias querem
para ele, limitando assim sua liberdade para tomar suas próprias decisões sobre o que
o faz feliz. Fechado em seu próprio mundo, ele traz consigo vestígios de um trauma
causado pela perda dos pais: desde criança, Paul não diz uma única palavra e, pelas suas
poucas memórias nebulosas, não tinha boas lembranças de seu pai, apenas de sua mãe.
Querendo ter mais contato com o assunto, pede ajuda a Sra. Proust (Anne Le Ny), que
acaba ajudando a resgatar lembranças mais completas e menos distorcidas da realidade
de Paul quando criança. Assim, os pequenos mistérios de sua vida antes de seu grande
trauma vão aos poucos sendo desvendados, e ele acaba tendo algumas surpresas ao
longo deste processo.

É um filme doce, agradável. Discute a relação de pai e filho, navega pelo mundo da
psicologia e ainda constrói uma narrativa secundária emocionante em torno da Sra.
Proust, uma mulher já de idade que luta para que seus ideais não sejam apagados pela
mão humana da modernidade. A leveza está no modo como a história é contada, está
na iluminação sempre clara e colorida dos cenários e está no encanto de cada
personagem. Mesmo leve, Attila Marcel incomoda, mas de um jeito bom e útil: faz a
gente refletir nossa própria vida, nossos valores, encantos e tormentos. Filme bom para
ver e rever.

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