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ARTIGO ARTICLE 59

Análise de riscos tecnológicos ambientais:


perspectivas para o campo da saúde do
trabalhador

Analysis of environmental technological risks:


prospects for the worker’s health field

Marcelo Firpo de Souza Porto 1

Carlos Machado de Freitas 1

1 Centro de Estudos da Saúde Abstract The objective of this paper is to identify theoretical questions and challenges for the
do Trabalhador e Ecologia
public health field, especially the field of workers’ health, raised by technological and environ-
Humana, Escola Nacional
de Saúde Pública, mental risks related to the workplace but going beyond it. Using industrial chemical risks as an
Fundação Oswaldo Cruz. example, the authors show the vulnerability of contemporary societies in handling such risks
R. Leopoldo Bulhões 1480,
and the worsening situation in peripheral countries. The scope of risk analysis is presented ac-
Rio de Janeiro, RJ
21041-210, Brasil. cording to the engineering, toxicological, and epidemiological approaches as well as the critique
raised by the social sciences. Science alone cannot solve such complex problems as technological
and environmental risks. To overcome these limits, some theoretical and methodological propos-
als have been developed by the risk analysis and workers’ health fields. The authors emphasize
the discussions on the interdisciplinary, systemic, and participant approaches, incorporating the
interaction between knowledge and dialogue as fundamental conditions for the prevention and
control of technological and environmental risks.
Key words Environmental Technological Risks; Worker’s Health; Risk Assessment; Chemical
Contamination; Environmental Health

Resumo O objetivo deste artigo é trazer para o âmbito da saúde pública, particularmente para
o campo da Saúde do Trabalhador, questões teóricas e desafios colocados pelos denominados ris-
cos tecnológicos ambientais, os quais se relacionam e ultrapassam o universo dos ambientes de
trabalho. Partindo-se dos riscos químicos industriais, demonstra-se a vulnerabilidade das socie-
dades contemporâneas face aos mesmos e seu agravamento nos países de economia periférica.
Em seguida, apresenta-se o escopo das análises de riscos pelas vertentes da engenharia, toxicolo-
gia e epidemiologia, bem como a crítica que as ciências sociais vem realizando sobre as mesmas.
Conclui-se que a Ciência não é capaz de dar conta isoladamente de problemas complexos como
os riscos tecnológicos ambientais. Para se avançar sobre esses limites, diversas propostas integra-
doras do nível teórico-metodológico vêm sendo desenvolvidas nos campos da análise de riscos e
da saúde do trabalhador. Dentre estas, destacam-se aquelas sobre interdisciplinaridade, aborda-
gens sistêmicas e participativas, que incorporam o saber dos trabalhadores e comunidades, for-
jando a interação entre conhecimento e diálogo como condição fundamental da prevenção e
controle dos riscos tecnológicos ambientais.
Palavras-chave Riscos Tecnológicos Ambientais; Saúde do Trabalhador; Análise de Riscos; Con-
taminação Química; Saúde Ambiental

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Introdução cessidade de integrarmos as análises relacio-


nadas aos riscos internos e externos aos muros
O campo da Saúde do Trabalhador possui co- fabris, fortalecendo a interface do campo da
mo objeto de investigação, de acordo com Saúde do Trabalhador com a dimensão am-
Mendes & Dias (1991), o processo saúde e doen- biental mais geral. A necessidade desta inte-
ça dos trabalhadores na sua relação com o tra- gração é particularmente visível quando anali-
balho, ou ainda, segundo Machado & Gomez samos os problemas das indústrias químicas: a
(1995), a relação entre processo de trabalho e fragmentação entre políticas e ações institu-
saúde. Ao nosso ver, um dos seus principais de- cionais representada pelos órgãos ambientais
safios, enquanto campo recente de conheci- – responsáveis pelo “lado de fora” – e de saúde
mentos e práticas no interior da Saúde Pública do trabalhador em torno de riscos e causas co-
brasileira e que busca romper com as aborda- muns é absolutamente artificial.
gens fragmentadoras presentes na Medicina do Como resultado desse processo vem ocor-
Trabalho e na Saúde Ocupacional, é ser capaz rendo uma tendência de ruptura das aborda-
de construir uma abordagem teórico-metodo- gens disciplinares clássicas que analisam os
lógica integradora. Esta abordagem busca co- riscos e seus efeitos sobre a saúde e o meio am-
locar os trabalhadores enquanto sujeitos fun- biente através do paradigma científico da com-
damentais da transformação das suas condi- partimentação disciplinar, que fragmenta as
ções de trabalho e saúde. Desta forma, sua análises em função dos corpos (Ciências Bio-
conformação multiprofissional e a busca de médicas) e mentes afetadas (Psicologia), do
abordagens interdisciplinares deve possibilitar ambiente interno à fábrica (Engenharia, Admi-
não somente um aprofundamento das discipli- nistração e demais disciplinas envolvidas no
nas que podem compor o campo – provenien- projeto e gestão dos processos produtivos) e do
tes das áreas biomédica, tecnológica, sociais e ambiente externo, incluindo a esfera social
humanas –, mas também, e principalmente, (Geografia, Sociologia, Antropologia, Econo-
um diálogo entre as mesmas e os diversos ato- mia e Ecologia). A tendência à ruptura desse
res envolvidos, particularmente os trabalhado- paradigma expressa simultaneamente uma cri-
res, dentro de uma perspectiva transformadora se do conhecimento científico e um aumento
do conhecimento e da realidade social. da complexidade, no nível de análise, dos efei-
Nossas experiências institucionais e acadê- tos dos processos produtivos sobre a vida bio-
micas neste campo vêm revelando uma ten- lógica e social do planeta. Outra faceta dessa
dência à ampliação espacial, ecológica e social, crise se encontra nos limites das respostas so-
tanto dos efeitos como da percepção e temati- ciais e institucionais para levar a cabo tais pro-
zação pública dos riscos decorrentes dos pro- blemas. É neste contexto de crise e mudança
cessos produtivos, em particular envolvendo que vêm sendo desenvolvidos novos conheci-
questões como os desastres industriais, a de- mentos, áreas de pesquisa e práticas institucio-
gradação dos ecossistemas e os problemas de nais pautados em equipes multiprofissionais e
saúde das populações circunvizinhas aos sítios abordagens interdisciplinares, buscando, desta
industriais. Se num primeiro momento do pro- forma, gerar metodologias menos fragmenta-
cesso de industrialização, eram os trabalhado- das de análise e resolução dos problemas em
res os grandes atingidos pelo desenvolvimento questão (Porto, 1994; Tambellini, 1994; Garcia,
tecnológico, na atualidade os riscos tendem a 1994).
se universalizar, afetando moradores, consu- Trabalhar integradamente as questões rela-
midores e ecossistemas regionais ou mesmo cionadas à saúde do trabalhador e ao meio am-
globais. biente é um passo fundamental para se desen-
Nesse contexto, vem se firmando o concei- volver novas abordagens teórico-metodológi-
to de riscos tecnológicos ambientais, sendo as- cas que possibilitem avançar nos processos de
sociados às novas tecnologias químicas, radio- análise e intervenção sobre as situações e even-
tivas e geneticamente engenheiradas e seus tos de riscos que são colocados para trabalha-
perigos para a saúde e o meio ambiente. Esse dores, populações vizinhas às indústrias e o
processo vem dinamizando a análise científica meio ambiente como um todo. Abordagens
dos riscos industriais, pois discute-os num ní- teórico-metodológicas integradoras envolven-
vel mais abrangente – o da tecnologia em suas do questões ambientais surgem, segundo Gar-
diversas dimensões, como a técnica, cognitiva, cia (1994), como resposta à complexidade do
social, cultural e mesmo filosófica –, e não mais próprio objeto, não apreendido pelas aborda-
delimitando-o ao nível dos locais de trabalho. gens multidisciplinares, já que a realidade ana-
Repensar a questão do risco do ponto de vista lisada não é somente a soma dos estudos reali-
da tecnologia também nos coloca frente à ne- zados por especialistas de distintas disciplinas.

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Para tanto, a integração exigeria um enfoque considerada pequena, pois as novas tecnolo-
interdisciplinar e sistêmico, possibilitando a gias de processo industrial e armazenamento
geração sucessiva de sínteses integradoras ao permitiram que ultrapassassem a escala de 1
longo dos estudos, através de interpretações milhão de toneladas/ano (Theys, 1987; Weyne,
sistêmicas e diagnósticos integrados, permitin- 1988). A capacidade dos navios petroleiros
do articulações e proposições alternativas não passou de 40.000 toneladas no pós-guerra pa-
obtíveis por análises isoladas de especialistas, ra 500.000 toneladas nas décadas recentes. O
envolvendo desde soluções técnicas localiza- armazenamento de gás seguiu o mesmo ritmo,
das até propostas de políticas públicas mais passando de 10.000 m 3 para 120.000/150.000
globais. m3 (Theys, 1987). Este desenvolvimento da tec-
A evolução dos estudos com estas caracte- nologia química em processos e produtos vem
rísticas compreende um processo interativo e multiplicando bastante a circulação mundial
não linear de médio prazo, através de um mo- de substâncias químicas, sendo a comerciali-
vimento dialético entre as fases de diferencia- zação de substâncias orgânicas um exemplo
ção – onde estudos específicos são realizados disto, passando de 7 milhões de toneladas em
por especialistas – e integração, e entre as eta- 1950 para 63 milhões em 1970, 250 milhões em
pas de diagnóstico e geração de propostas al- 1985 e 300 milhões em 1990 (Korte & Coulston,
ternativas. A possibilidade de sucesso durante 1994).
as fases de integração e geração de alternativas Todo esse processo implica que as várias fa-
depende fortemente, além da escolha das áreas ses do ciclo produtivo – extração, produção, ar-
e especialistas que melhor respondem às ca- mazenamento, transporte, uso e descarte – têm
racterísticas do problema analisado, da capaci- contribuído para o crescimento das concentra-
dade dos membros da equipe de desenvolve- ções de substâncias químicas normalmente
rem um diálogo de interfaces entre os proble- inexistentes em ambientes não industrializa-
mas colocados por seu campo específico de dos. Segundo o Programa Internacional de Se-
conhecimento com os outros estudos realiza- gurança Química, existem mais de 750.000
dos no âmbito do projeto. substâncias conhecidas no meio ambiente,
Nessa perspectiva, as discussões que vêm sendo de origem natural ou resultado da ativi-
sendo colocadas no campo da Análise de Riscos dade humana (IPCS, 1992). Cerca de 70.000 são
para as questões relacionadas aos sistemas tec- cotidianamente utilizadas pelo homem, sendo
nológicos complexos, como o caso das indús- que aproximadamente 40.000 em significantes
trias presentes no complexo químico industrial quantidades comerciais (IPCS & IRPTC, 1992).
(Perrow, 1984; Wynne, 1987a; Freitas, 1996), e Desse total, calcula-se que apenas cerca de
seus riscos para a saúde e o meio ambiente, 6.000 substâncias possuam uma avaliação con-
servirão de referência para nos refletirmos so- siderada como minimamente adequada sobre
bre as possibilidades de desenvolvimento de os riscos ao homem e ao meio ambiente. Acres-
uma abordagem teórico-metodológica integra- cente-se a este quadro a capacidade de inova-
dora. ção tecnológica no ramo químico, que não só
vem complexificando os sistemas tecnológicos
de produção, como colocando disponível no
A vulnerabilidade das sociedades mercado a cada ano entre 1.000 e 2.000 novas
contemporâneas aos riscos tecnológicos substâncias.
ambientais: o caso dos riscos químicos A própria lógica de desenvolvimento indus-
trial e inovações tecnológicas no ramo químico
Principalmente a partir da II Guerra Mundial, vem possibilitando um crescimento dos riscos
a automação e complexificação dos processos numa velocidade bem maior do que a capaci-
químicos industriais, impulsionados pela con- dade científica e institucional de análisá-los e
corrência capitalista e a globalização da eco- gerenciá-los. Isso vem contribuindo ainda
nomia de escala, resultante das grandes plan- mais para a vulnerabilidade das sociedades
tas (Marshall, 1987), vêm possibilitando ope- contemporâneas aos riscos químicos, seja
rações cada vez mais sofisticadas em ritmos através de emissões contínuas como nos casos
cada vez mais intensos, resultando na expan- da Baía de Minamata no Japão e de Cubatão no
são da capacidade de produção, armazena- Brasil, seja através dos desastres industriais co-
mento, circulação e consumo de substâncias mo Seveso (Itália), Bhopal (Índia) e Vila Socó
químicas em nível mundial. Uma planta indus- (Brasil).
trial para craquear nafta e produzir 50.000 to- Nesse cenário, principalmente nos países
neladas/ano de etileno, que era considerada de industrializados, trabalhadores, moradores e
grande porte nos anos 60, passou nos 80 a ser grupos ambientalistas têm-se organizado e co-

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brado posições mais rigorosas de controle e desenvolveram-se e aprimoraram-se os testes


transformação social, em processos eventual- de laboratórios, métodos epidemiológicos,
mente fragmentados pela diversidade de inte- modelagens ambientais, simulações em com-
resses conflitantes e pela dificuldade de serem putadores e avaliações de riscos na engenha-
estabelecidas visões aglutinadoras das causas ria, possibilitando uma maior acurácia na
dos problemas e estratégias de ação para o identificação e mensuração dos riscos (Covello
controle e mitigação. De qualquer modo, pare- & Mumpower, 1985). Por outro, cresceu o nú-
ce que as críticas ecológicas globais colocam- mero de especialistas que passaram a ter como
se como possível elo de ligação entre os envol- foco principal do seu trabalho os riscos à saú-
vidos, formando a base ética para possíveis de, segurança industrial e meio ambiente, con-
alianças políticas e aproximando o tema risco tribuindo assim para a profissionalização e ins-
tecnológico à discussão ecológica mais ampla titucionalização da análise de riscos, sendo um
(Beck, 1992). marco desse processo a formação, em caráter
Conforme observa Theys (1987), o tema do internacional, da Sociedade para Análise de
risco tecnológico é cada vez mais importante Riscos em 1980 (Otway, 1985).
para analisarmos a vulnerabilidade das socie- O desenvolvimento dos métodos científicos
dades contemporâneas, pois revela diversas de análises de riscos tecnológicos ambientais
características de distúrbio e pane social nas foi norteado pela idéia de que as decisões re-
mesmas, tais como: perda de autonomia dos gulamentadores sobre riscos poderiam ser me-
cidadãos no controle dos riscos; a opacidade nos controversas se pudessem ser tecnicamen-
dos fatos ocorridos em casos de acidentes; a te mais rigorosas e baseadas em uma firme ba-
exposição a riscos múltiplos; a fragilidade da se “factual”. Esta base deveria ser construída a
sociedade frente às catástrofes; a ingovernabi- partir dos dados disponíveis suplementados
lidade das situações críticas; a rígida centrali- por cálculos probabilísticos, testes de labora-
zação dos sistemas tecnológicos, gerando efei- tório, extrapolações teóricas e julgamentos
tos “dominó” em múltiplas áreas interdepen- “objetivos”, oriundos de análises estatísticas,
dentes para o funcionamento desses sistemas; enfoques sistêmicos e da experiência de ex-
o enorme potencial de perdas e danos envolvi- perts. Desse modo, poderia chegar-se aos valo-
dos, entre outros. Nesse cenário, embora com a res esperados, correspondentes às freqüências
capacidade ainda limitada, a análise de riscos relativas de acidentes ou de emissões calcula-
tecnológicos ambientais vem cumprindo um dos sobre o tempo e a magnitude das conse-
importante papel nas sociedades contemporâ- qüências sobre as populações expostas (Starr
neas no que se refere tanto às respostas aos da- et al., 1976; Otway, 1985; Renn, 1985, 1992).
nos à saúde e ao meio ambiente, como tam- Nos anos 80, a emergência da Ciência da
bém aos problemas sociais que lhe são simul- Análise de Riscos, mais do que uma resposta
tâneos. Nos países de economia semi-periféri- técnica às preocupações coletivas, convertia-
ca, como o Brasil, aos riscos decorrentes da se também numa determinada resposta políti-
própria industrialização somam-se as fragili- ca à formação de consenso social nos proces-
dades sociais, institucionais e técnicas existen- sos decisórios. Nesse contexto, um objetivo
tes, caracterizando uma maior vulnerabilidade subjacente era, ao transformar determinadas
dessas sociedades frente aos riscos tecnológi- escolhas sociais, políticas e econômicas em
cos ambientais. problemas “puramente” técnicos e científicos,
despolitizar os debates envolvendo a aceitabi-
lidade dos riscos. Para os riscos químicos in-
A institucionalização da ciência dustriais, três campos do conhecimento técni-
da análise de riscos tecnológicos co-científico constituem o eixo desta resposta:
e ambientais nos anos 80 a Engenharia, a Toxicologia e a Epidemiologia.
Para melhor compreendermos esta resposta,
Desde os anos 70, o crescimento da consciên- apresentaremos de forma breve, a seguir, como
cia ecológica e do movimento ambientalista se estruturam as análises de riscos nestes três
vem imprimindo uma nova dinâmica social campos.
aos riscos tecnológicos ambientais. Essa mobi-
lização social em torno desses riscos tem sido Análises de riscos segundo a engenharia
responsável, em boa parte, pelo esforço da co-
munidade científica no desenvolvimento teóri- Dentro das engenharias existem classicamente
co e aplicação de novas metodologias para es- algumas áreas e corporações técnico-científi-
timar e avaliar os riscos de maneira quantitati- cas que trabalham com o tema dos riscos tec-
va e probabilística (Renn, 1985). Por um lado, nológicos. Para a engenharia, de modo geral, a

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noção de risco estaria relacionada a uma ex- Os métodos sistêmicos de análises de riscos
pressão quantitativa que costuma ser expressa desenvolvidos vêm sendo aplicados nas indús-
através do resultado entre a probabilidade de trias de processos, como é o caso das químicas
eventos ou falhas vezes a magnitude das con- de transformação, basicamente como ferra-
seqüências sobre o tempo. A quantificação das mentas para a decisão acerca da aceitabilidade
conseqüências costuma também ocorrer mo- de uma nova planta industrial e para a melhoria
netariamente, demonstrando a influência eco- da confiabilidade dos sistemas técnico e orga-
nomicista e do modelo custo-benefício. Contu- nizacional existentes. Segundo a UNEP (1992),
do, devido às críticas morais e políticas relacio- os resultados de tais métodos servem para de-
nadas às tentativas de quantificação monetária cidir sobre: (a) a localização geográfica dos pro-
de vidas humanas ou meio ambiente afetados, cessos e operações industriais perigosas; (b) os
essas análises freqüentemente acabam por ser investimentos nos equipamentos voltados à
evitadas nas discussões públicas. prevenção de acidentes e limitação de suas con-
Com as diversas transformações que se in- seqüências; (c) os projetos tecnológicos de pro-
tensificaram a partir dos anos 70, tanto no ní- cessos de fabricação e sistemas de controle; (d) a
vel tecnológico, através do desenvolvimento de criação de rotinas operacionais e de manuten-
tecnologias complexas e cujas conseqüências ção; (e) a elaboração de documentos de segu-
econômicas e políticas dos acidentes – notada- rança para a organização.
mente nos setores aeroespacial, nuclear e, pos- Não é objetivo deste artigo detalharmos al-
teriormente, químico –, como no nível social, a guns dos vários métodos de análise de riscos
partir de uma maior organização e pressão por que vêm se difundindo nas indústrias de pro-
parte de trabalhadores, ambientalistas e certos cessos nos últimos 20 anos. Tais métodos vêm
setores industriais críticos, a engenharia de se- servindo de ferramenta para a identificação
gurança clássica passou a ser cada vez mais pres- dos perigos, probabilidades de ocorrência, de-
sionada a assumir um novo enfoque (Dwyer, senvolvimento de cenários e análise de conse-
1992). Sua abordagem fragmentadora na com- qüências dos acidentes industriais nas indús-
preensão do processo produtivo e culpabili- trias de processos, particularmente em instala-
zante dos trabalhadores pautada nos concei- ções de alto risco. A título de ilustração, apre-
tos de atos inseguros e condições inseguras, e sentamos na Tabela 1 algumas das técnicas in-
que ainda é amplamente utilizada por técni- dicadas na literatura internacional para a aná-
cos e engenheiros de segurança no Brasil, já lise de riscos, organizada de acordo com a clas-
não mais respondia às questões relacionadas sificação proposta pela UNEP (1992).
aos riscos tecnológicos cada vez mais comple- Os métodos apresentados possuem um ca-
xos. ráter preditivo, no sentido de buscarem avaliar
As tecnologias que ganham maior impulso os riscos de acidentes antes que esses ocorram,
a partir dos anos 70 caracterizam-se por serem com alguns resultando em valores probabilísti-
extremamente complexas – o que Perrow (1984) cos de riscos, por exemplo, através do número
denominou de sistemas complexos altamente de acidentes ou óbitos esperados ao longo do
interligados –, onde disfunções em certos sub- tempo. Contudo, a abordagem sistêmica tam-
sistemas podem, através do chamado efeito bém influenciou a análise de acidentes a poste-
dominó, levar a acidentes sistêmicos, onde to- riori, como na técnica da árvore de causas, si-
do ou expressiva parte do sistema é destruída, milar à análise de árvore de falhas, porém de
implicando prejuízos de enorme valor. Nessas caráter qualitativo. A realização de árvores de
tecnologias, a confiabilidade técnica do siste- causas em acidentes ocorridos vem sendo uti-
ma precisava ser profunda e extensamente lizada como uma interessante ferramenta, no
avaliada e controlada. Fica patente que a enge- sentido de revelar a teia de falhas técnicas e or-
nharia de segurança clássica não poderia dar ganizacionais que costumam se esconder por
conta dessa demanda, e uma série de novas detrás dos eventos finais (Paté-Cornell, 1993),
técnicas de análise de confiabilidade, incluin- sendo inclusive recomendadas pela Organiza-
do o cálculo probabilístico de falhas possíveis ção Internacional do Trabalho (OIT, 1991) e
de componentes a partir da lógica matemática tendo sua utilização no Brasil reivindicada por
booleana, foram criadas a partir dos anos 50. parte do próprio movimento sindical.
Posteriormente, essas técnicas foram e vêm Este avanço metodológico vem sendo fun-
sendo disseminadas para o conjunto dos ou- damental para a mudança de concepção sobre
tros setores industriais de menor complexida- as causas principais dos acidentes, que dei-
de tecnológica, conformando uma abordagem xam de culpar trabalhadores por falhas indivi-
técnica mais efetiva na compreensão, análise e duais, e passam a focalizar as falhas do geren-
controle dos acidentes industriais. ciamento de riscos desde o nível da concepção

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Tabela 1

Exemplos de métodos de análise de riscos utilizados na prevenção de acidentes químicos ampliados.

Métodos gerais

Checklists: Utilizados para identificar fontes de riscos e agravantes em processos e instalações já existentes,
através de listas de especificações técnicas e operacionais dos processos, equipamentos e procedimentos.

Análise preliminar de riscos: Método simplificado, é utilizado para identificar fontes de riscos, conseqüências
e medidas corretivas simples, sem aprofundamento técnico, resultando em tabelas de fácil leitura.

Análise “What if?”: Normalmente utilizada nas fases iniciais de projetação. Trata-se de um método especulativo
onde uma equipe busca responder o que poderia acontecer caso determinadas falhas surjam.

Matriz de riscos: Consiste numa matriz onde se busca verificar os efeitos da combinação de duas variáveis.
Um exemplo clássico é o das reações químicas, avaliando-se os efeitos da mistura acidental de duas
substâncias existentes.

Métodos mais detalhados

Análise de modos de falhas e efeitos: Analisa como as falhas de componentes específicos de um equipamento ou
subsistema do processo se distribuem ao longo do sistema, entendido este como um arranjo ordenado de compo
nentes inter-relacionados. A estima quantitativa das probabilidades de falhas é feita pela técnica de árvore de falhas.

HAZOP (Hazard and Operability Studies): É um dos métodos mais conhecidos na análise de riscos na indústria
química, onde uma equipe busca, de forma criativa, identificar fatores de riscos e problemas operacionais em
subsistemas do processo. Verifica-se, por exemplo, o que acontece quando se adiciona mais, menos ou nenhuma
substância num tanque de reação. Supostamente, além de se ter um amplo diagnóstico dos riscos existentes,
as instalações que passam pelo HAZOP aumentam seu nível de confiabilidade.

Dow e mond index: Métodos desenvolvidos pela Dow e ICI para identificar, quantificar e classificar as diferentes
seções do processo de acordo com o potencial de risco de incêndios e explosões, providenciando informações
para o projeto e gerenciamento de instalações perigosas.

Métodos de árvores

Análise de árvore de falhas: É um método dedutivo que visa determinar a probabilidade de determinados eventos
finais. Busca-se construir a malha de falhas anteriores que culminam no evento final, atribuindo-se uma taxa de falha
a cada item anterior que compõe a árvore, chegando-se então à probabilidade final, através da lógica tipo e/ou do
uso da álgebra booleana.

Análise de árvore de eventos: É um método similar ao anterior, porém indutivo, pois parte de falhas iniciais
buscando identificar as possíveis implicações nos estágios mais avançados do processo.

Análise de causa e efeito: É uma combinação dos dois métodos anteriores. Parte-se de um evento intermediário e,
então, busca-se chegar ao conjunto de eventos anteriores (causas) e posteriores (efeitos).

Análise de conseqüências: É considerada uma técnica final para se avaliar a extensão e gravidade de um acidente.
A análise inclui: a descrição do possível acidente, uma estimativa da quantidade de substância envolvida, e, quando
for do tipo emissão tóxica, calcular a dispersão dos materiais – utilizando-se de modelos de simulação computado-
rizados – e avaliar os efeitos nocivos. Os resultados servem para estabelecer cenários e implementar as medidas
de proteção necessárias.

Fontes: Greenberg & Cramer, 1991; UNEP, 1992; OIT, 1991; Flohtman & Mjaavaten, 1993;
Fantazzini & De Cicco, 1988.

tecnológica até as estratégias de treinamento, Análises de riscos segundo a toxicologia


manutenção e produção que as empresas ado- e a epidemiologia
tam. Já a magnitude dos possíveis efeitos à
saúde provocados pela emissão de substâncias A Toxicologia – através de testes de laboratório
perigosas é calculada através de modelos de com animais e humanos, medições biológicas
análise de conseqüências, sendo para esses e ambientais – e a Epidemiologia – através de
casos as informações provenientes da Toxico- estudos onde são comparadas populações ex-
logia e Epidemiologia de fundamental impor- postas às substâncias perigosas com as popu-
tância. lações não expostas – buscam estabelecer as

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ANÁLISE DE RISCOS TECNOLÓGICOS AMBIENTAIS 65

relações causais entre a exposição a determi- causar efeitos adversos como resultado de um
nados agentes e os danos causados à saúde dos trabalho específico, manuseio ou emissão am-
seres humanos e outros organismos vivos, de biental, sendo usados dados provenientes de:
modo a subsidiar os processos decisórios so- exposição (intensidade, freqüência e duração);
bre riscos e o estabelecimento de estratégias de rotas de exposição; toxicidade e ecotoxicidade.
gerenciamento dos mesmos. Isso é realizado A caracterização do risco pode ser inferida
através de um conjunto de procedimentos for- quantitativamente a partir da relação entre ex-
mais, tal como podemos verificar na Figura 1 posição e parcela da população afetada.
nas fases de pesquisa e avaliação (Canter, 1989). Embora a Toxicologia e a Epidemiologia ve-
Smith (1992) sistematiza os procedimentos nham exercendo um importante papel para o
de avaliação de riscos em quatro etapas. A pri- desenvolvimento do campo de análises de ris-
meira é a identificação do perigo, onde a subs- cos de substâncias químicas, vem se discutin-
tância química e suas inerentes propriedades do cada vez mais uma série de questões sobre
perigosas são identificadas pelo conhecimento seus limites, colocando-se a necessidade de se-
de suas propriedades químicas e físicas tais co- rem repensadas, de modo a aumentarem sua
mo: toxicidade; ecotoxicidade; persisitência no capacidade de respostas para os problemas
meio ambiente; bioacumulação; mobilidade e que vêm sendo colocados nos ambientes inter-
destino ambiental. A segunda é a estimativa de nos e externos às indústrias químicas. Para a
risco, na qual há a quantificação da dose-efeito Toxicologia, por exemplo, alguns autores ques-
e da dose-resposta, do efeito adverso, sua re- tionam a relevância dos testes de laboratório
versabilidade ou irreversabilidade, dose limite em animais ou sistemas biológicos isolados,
e níveis de efeitos não-adversos, usando dados uma vez que podem ser bastante limitados por
provenientes de estudos in vivo e in vitro; estu- conta da diferenciação na absorção, metabo-
dos de biota ambiental sobre condições de la- lismo e suscetibilidade entre as espécies, além
boratório; e estudos de campo. A terceira é a de outras restrições (Nelson, 1988; Barnes, 1994).
avaliação de exposição, onde ocorre a quantifi- O mesmo vem acontecendo com a Epide-
cação da exposição de alvos ou sistemas alvos, miologia. Quando a relação dose-resposta é
tais como populações humanas, espécies am- claramente observada em casos de exposição
bientais e/ou ecossistemas, sendo baseada em de seres humanos, a associação causal entre o
medições das concentrações ambientais, sua agente químico e as conseqüências sobre a
distribuição, rotas, destino, ambientes receptá- saúde é fortalecida. Porém, muitas vezes a re-
culos e populações alvo. A última etapa é a ca- lação dose-resposta não é observada, não pos-
racterização do risco, onde são estabelecidas as sibilitando uma clara associação, tal como pre-
probabilidades de uma substância química visto a partir dos testes de laboratórios com

Figura 1

Elementos da avaliação de riscos e gerenciamento de riscos.

Pesquisa Avaliação de risco Gerenciamento de riscos

Observações em laboratório e Identificação dos perigos Desenvolvimento das opções


de campo de efeitos adversos (o agente causa efeitos regulamentadoras.
na saúde e exposições a adversos?).
agentes particulares.

Métodos de informação e Avaliação de dose-resposta Caracterização de risco (qual


extrapolação de altas doses (qual a relação entre a dose a incidência estimada dos
em animais para baixas e a incidência em humanos?). efeitos adversos em uma
doses em humanos. dada população em estudo?).

Medidas de campo, estimativa Avaliação da exposição (que Decisões das agências


de exposições, caracterização exposições são frequentemente regulamentadoras e ações para
das populações. experimentadas ou antecipadas o controle e prevenção.
sob diferentes condições?).

Fonte: Canter, 1989.

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66 PORTO, M. F. S. & FREITAS, C. M.

animais. Entretanto, isso não necessariamente cos desta substância –, superar a abordagem
evidencia o enfraquecimento da associação que se detém em um único agente químico ou
causal em seres humanos, já que diversos fato- poucos agentes que colocam grandes riscos
res influenciam bastante o resultado final, co- para os expostos em uma dada situação, consi-
mo as hipóteses prévias, os modelos teórico- derar em conjunto os problemas ambientais
metodológicos, a propriedade dos desenhos de mais amplos e seus efeitos, através de uma
estudo para a questão a ser resolvida e dos ins- abordagem mais holística, são algumas das
trumentos desenvolvidos para o mesmo, assim mudanças que vêm se colocando como neces-
como a qualidade dos dados coletados, as me- sárias (Abelson, 1990; Hart & Jensen, 1992; Bar-
dições das exposições e seus resultados, con- nes, 1994).
tribuindo para fortalecer ou não determinadas
associações causais (Checkoway, 1993). A es-
truturação de todos esses fatores, associada A critíca das análises de riscos
aos interesses sociais, políticos e econômicos tecnológicos e ambientais pelas
que se encontram em jogo, tende a direcionar Ciências Sociais
os resultados finais desses estudos (Freitas &
Mello, 1993). De acordo com Wynne (1992), a raíz dos limites
Outras questões importantes referem-se à e incertezas nas análises de riscos tecnológicos
susceptibilidade e à especificidade. A suscepti- ambientais se encontra na própria origem do
bilidade dos seres humanos pode ser configu- campo. Suas origens intelectuais e metodológi-
rada por fatores genéticos e/ou sociais, sendo cas se encontram relacionadas aos sistemas de
estes últimos o resultado de precárias condi- riscos intensivos, onde os problemas eram rela-
ções de vida, contribuindo para que certos in- tivamente bem estruturados, tais como os ris-
divíduos possuam uma maior susceptibilidade cos à segurança nas tecnologias adotadas em
ao desenvolvimento de doenças causadas pe- plantas químicas e nucleares, aviões e aeroes-
las substâncias químicas (Mercier, 1990; WHO, pacial. Nesses sistemas, os processos tecnoló-
1992; Jeyaratnan, 1993; Ong et al., 1993). Nes- gicos e os parâmetros são, de modo geral, bem
tes casos coloca-se a questão do que devemos definidos e a confiabilidade dos componentes
considerar como fator causal, a susceptibilida- isolados pode ser testada e relativamente con-
de ou a substância química. A questão da espe- trolada. As análises de riscos são, nesses casos,
cificidade é outra importante, pois um agente parte integral do projeto tecnológico, de modo
químico pode causar não só uma, mais diver- que não devem ser desenvolvidas após o proje-
sos tipos de doenças, enfraquecendo a relação to, exercendo o papel de influenciar os critérios
causal (OMS, 1993). No acidente de Seveso, por e as escolhas de um modo normativo. Entre-
exemplo, esperava-se que a dioxina viesse a tanto, é importante observar que mesmo nes-
causar uma maior incidência de câncer na po- ses sistemas de riscos intensivos, em que a En-
pulação exposta, tal como havia sido identifi- genharia exerce um papel preponderante, os
cado nos testes de laboratório com essa subs- problemas têm se mostrado bem menos estru-
tância. Porém, os estudos epidemiológicos co- turados, definidos e controlados do que acre-
brindo 10 anos de acompanhamento da popu- ditavam os analistas de riscos e projetistas de
lação exposta não identificaram, até hoje, uma tecnologias. Por vezes, mostram-se bem mais
maior incidência de câncer e sim de mortalida- complexos e exibem propriedades surpreen-
de por problemas cardiovasculares, hipoteti- dentes e não previstas – sistematicamente co-
zando-se que mecanismos de toxicidade da mo observaria Perrow (1984) –, indicando se-
dioxina e o estresse a que a população foi sub- rem tais sistemas bem menos determinados
metida por conta do evento podem estar con- pelas forças de controle do que os analistas de
tribuindo independente ou interdependente- riscos e projetistas de tecnologias reconhecem
mente (Bertazzi, 1991; Bertazzi et al., 1993). (Wynne, 1992).
Todas essas questões vêm colocando a ne- Quando se trata de problemas extensivos,
cessidade de se repensar o atual paradigma tais como os riscos ambientais nos níveis glo-
que orienta as avaliações de riscos provocados bal e local provocados pelos riscos industriais,
por substâncias químicas na Toxicologia e na a complexidade e uma série de incertezas se
Epidemiologia (Barnes, 1994; Abelson, 1990), agravam e se ampliam. Assim como nos siste-
exigindo-se que algumas mudanças ocorram. mas tecnológicos, encontramos interações
Romper com a atual separação entre a avalia- não-linerares de partes que são altamente in-
ção – o que se deseja saber acerca dos riscos de terligadas, possibilitando múltiplas e inespera-
determinada substância – e o gerenciamento das interações que se tornam muitas vezes im-
de riscos – o que se deseja fazer acerca dos ris- compreensíveis e invisíveis aos seres humanos.

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ANÁLISE DE RISCOS TECNOLÓGICOS AMBIENTAIS 67

Só que, para o caso dos problemas ambientais, que envolvem a geração e as conseqüências
esta complexidade é acentuada, tanto pela bio- das situações e eventos de riscos, bem como a
diversidade, como pela grande variabilidade sistemática subjetividade dos experts como
genética encontrada entre os seres vivos de parte objetiva do processo científico. Essa inte-
uma mesma espécie, além das diferenças entre ração, que é por vezes bastante sutil e comple-
as composições químicas dos solos, águas e at- xa, é freqüentemente assumida pelos analistas
mosferas, o que muitas vezes é agravado pelas de riscos como inexistente, ou no mínino sepa-
condições sociais em que se encontram as po- rada por uma quase intransponível barreira
pulações e o meio ambiente. As limitações do entre os mundos físicos e sociais. Esquecem-se
conhecimento científico disponível são, nesses de que a tecnologia e o meio ambiente são
casos, particularmente para a Toxicologia e a continuamente construídos e desconstruídos
Epidemiologia, potencialmente mais sérias através de processos sociais, sendo o risco um
porque, como observa Wynne (1992), os siste- produto desta constante interação ( Jasanoff,
mas em questão, não sendo artefatos tecnoló- 1993). Considerar a tecnologia, o meio ambien-
gicos, não podem ser projetados, manipulados te e o risco como resultantes de processos so-
e reduzidos dentro dos limites do conhecimen- ciais conduz à formulação de uma nova visão
to analítico existente. de gerenciamento de riscos, onde são conside-
Nas últimas décadas assistimos a um gran- rados aqueles que percebem os riscos (popula-
de incremento das técnicas de análise de ris- ções vizinhas às indústrias e trabalhadores), as
cos. Entretanto, é importante salientar que es- instituições públicas e privadas envolvidas –
te ocorreu ao custo de se ignorar serem os ris- entendidas enquanto porta-vozes de interesses
cos fortemente determinados por processos sociais, políticos e econômicos estruturados na
sociais, seja nos casos das análises de sistemas sociedade – e os contextos sociais e culturais
tecnológicos e seus riscos (Wynne, 1987a; Per- em que o risco é analisado e gerenciado (Brad-
row, 1984), seja nos casos das análises ambien- bury, 1989).
tais (Wynne, 1989, 1992). Além do mais, não le- A tecnologia, o meio ambiente e os riscos
vavam em consideração o fato de os riscos não enquanto construções sociais evidenciam que
se limitarem somente aos danos físicos men- o gerenciamento de riscos, o qual não pode ser
suráveis, sendo constituído por outros mais su- separado de suas análises, não depende so-
tis, tais como os danos psicossociais sobre as mente da promulgação de estratégias formula-
populações expostas, além de suas implicações das pelos experts. Como observa Rappaport
nas relações institucionais e sociais estabele- (1988), a análise de risco pós-moderna deve to-
cidas (Soderstrom et al., 1984; Otway, 1985; mar o sistema sócio-ecológico como um todo
Wynne 1987b; Duclos, 1987; Bertazzi, 1989). em seu domínio, incorporando a natureza das
As análises técnicas de riscos, ao ignorarem percepções em suas análises, não somente co-
ou subestimarem a dimensão social, a qual mo fonte externa de má compreensão das in-
inevitavelmente interage com os próprios ris- formações probabilísticas construídas pelos
cos e suas análises, acabam por deixar de lado analistas de riscos, mas como parte integrante
uma questão fundamental, ou seja: os riscos das mesmas. Otway (1992), numa severa crítica
tecnológicos ambientais não podem ser anali- aos analistas de riscos que não consideram a
sados somente enquanto entidades físicas – dimensão social e a questão da subjetividade,
sistemas tecnológicos nos processos de produ- embora estejam permanentemente embrenha-
ção ou susbstâncias perigosas enquanto maté- dos nas mesmas, considera importante não so-
ria prima e produto – que existem independen- mente incorporar as percepções e atitudes da-
temente dos seres humanos que os analisam e queles que se encontram expostos aos riscos,
vivenciam, sendo simultaneamente constituí- mas também desenvolver estratégias de análi-
dos por processos sociais (Bradbury, 1989). O se e decisão que possibilitem uma efetiva par-
risco e a tecnologia como somente atributos fí- ticipação desses atores sociais, como trabalha-
sicos existem como realidade apenas no micro- dores e comunidades vizinhos às indústrias.
mundo criado pelos analistas de riscos ( Jasa- Uma perspectiva participativa pressupõe a
noff, 1993). contextualização dos riscos em suas várias di-
Para as Ciências Sociais, a completa dimen- mensões, além da análise de suas conseqüên-
são dos riscos tecnológicos ambientais não po- cias. Estes dois aspectos buscam ser apreendi-
de ser capturada somente pelas análises reali- dos pelas noções de situações e eventos de ris-
zadas pela Engenharia, Toxicologia e Epide- cos, que são originalmente provenientes do tra-
miologia, já que qualquer ideal de objetividade balho de Kasperson et al. (1988) e tentam su-
científica seguramente deverá reconhecer a perar as visões mais estáticas de riscos crônicos
inevitabilidade dos processos e relações sociais e agudos. A noção mais geral de situação de ris-

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68 PORTO, M. F. S. & FREITAS, C. M.

co busca caracterizar os riscos como necessa- As abordagens que integram a perspectiva so-
riamente existentes em contextos espaciais e cial – Psicologia, Sociologia e Antropologia –
temporais, envolvendo dinâmicas simultanea- caracterizam-se por serem multidimensionais,
mente sociais, técnicas e biológicas, e onde se tendo como objetivo compreender e subsidiar
situam aqueles que os vivenciam no seu coti- os processos decisórios e a regulação de riscos,
diano. Já a noção de evento de risco refere-se procurando contribuir para a resolução dos
às manifestações mais diretas dos próprios ris- conflitos sociais e para um processo de comu-
cos, expressando alterações mais ou menos ra- nicação de riscos mais efetivo em termos de
dicais das situações vigentes, seja ao nível da proteção à saúde e ao meio ambiente. As dife-
produção, saúde e meio ambiente. Exemplos rentes perspectivas, agrupadas ou tratadas in-
de eventos de risco podem se situar desde a re- dividualmente, demonstram que para as análi-
velação de vazamentos acidentais ou de rotina ses de riscos existem conceitos, modos de
considerados perigosos, acidentes diversos, ou abordagem e objetivos bastante diferenciados,
mesmo o tornar público o diagnóstico de doen- revelando serem isoladamente insuficientes
ças e outras conseqüências adversas decorren- para dar conta de problemas complexos.
tes de certos riscos industriais. O avanço na análise e no gerenciamento de
A incorporação da percepção de riscos e de riscos torna necessária a integração das diver-
formas de incorporação do saber daqueles que sas perspectivas que integram o campo da
vivenciam as situações e eventos de riscos vem Análise de Riscos, na busca de uma abordagem
constituindo um importante avanço no campo mais abrangente do fenômeno dos riscos tec-
da Análises de Riscos, podendo ser um dos pas- nológicos ambientais. A disputa isolada entre
sos para o que Jasanoff (1993) considera inter- as diferentes perspectivas, onde cada uma se
ligar as duas culturas – a técnica-quantitativa e vê como mais importante do que as outras, não
a social-qualitativa – que o compõem. Porém, vem contribuindo para o avanço do campo na
um maior avanço fica condicionado a se consi- resolução de problemas de natureza e dinâmi-
derar tanto a percepção de riscos, como as si- ca complexas. Nem somente as abordagens
tuações e eventos de riscos, enquanto constru- técnicas, através da Engenharia, Toxicologia e
ções sociais, evitando-se assim cair na armadi- Epidemiologia, ou as abordagens das Ciências
lha de se reificar o conceito de risco, de tecno- Sociais – Psicologia, Sociologia e Antropologia
logia e de meio ambiente, impossibilitando – podem definir sozinhas processos decisórios
uma participação mais efetiva não somente e estratégias de gerenciamento, necessitando
das Ciências Sociais nas análises de riscos, mas não só considerá-las em conjunto, mas ir além,
também, e principalmente, do saber daqueles através de uma abordagem interdisciplinar,
que se encontram expostos no seu cotidiano de onde cada perspectiva seja não só capaz de
vida e trabalho (Freitas, 1996). dialogar com a outra, mas também de transfor-
mar-se através do diálogo entre elas e os atores
sociais envolvidos.
Perspectivas da análise de riscos Embora a discussão sobre a análise de ris-
tecnológicos ambientais para o campo cos tecnológicos ambientais esteja bem desen-
da saúde do trabalhador volvida nos países que ocupam um papel cen-
tral na economia mundial, particularmente os
Conforme podemos observar na Figura 2, re- da Europa e os E.U.A., ainda se encontra inci-
produzido de Renn (1992), as diversas perspec- piente em países como o Brasil, particularmen-
tivas que compõem o campo de Análises de te no campo da Saúde do Trabalhador. Acredi-
Riscos possuem conceitos de riscos bastante tamos que um campo recente e vigoroso como
diferenciados, sendo isso o resultado da sele- vem sendo o da Saúde do Trabalhador na Saú-
ção da unidade básica para a apresentação dos de Pública brasileira, pode avançar em sua ca-
resultados, da escolha das metodologias, dos pacidade de pensar-se e atuar incorporando
riscos que são avaliados e sua complexidade – novos elementos aos seus marcos conceituais.
unidimensional ou multidimensional –, das Neste sentido, os enfoques sistêmicos e inter-
funções instrumental e social das perspectivas disciplinares que vêm sendo colocados para as
de risco, e dos seus objetivos em termos de análises de riscos tecnológicos ambientais po-
aplicação. As abordagens da Engenharia, da dem vir a contribuir, tanto no fortalecimento
Toxicologia e da Epidemiologia caracterizam- de seu rigor científico – o que é necessário e
se por serem unidimensionais, tendo como ob- fundamental em um mundo onde a técnica e a
jetivo proteger os sistemas tecnológicos, a saú- ciência convertem-se cada vez mais em instru-
de e o meio ambiente através da detecção de mentos políticos –, como na sua capacidade de
riscos e, quando possível, alertas antecipados. diálogo com outros campos próximos, particu-

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ANÁLISE DE RISCOS TECNOLÓGICOS AMBIENTAIS 69

Figura 2

Classificação sistemática das perspectivas de risco.

Abordagens integradas

Abordagem Epidemiologia Análise probabilística Economia Psicologia Teoria social Teoria cultural
atuarial e toxicologia de risco do risco do risco do risco do risco

Seleção da unidade Valor Esperado Valor Modelado Valor Esperado Utilidade Utilidade Esperada Eqüidade & Valores
básica (VE) Sintetizado Esperada (UE) Subjetivamente Competência Percebidos
Compartilhados

Escolha das Extrapolação Experimentos Análises de Árvore de Análise de Métodos Surveys Análise de
metodologias Falhas e de Eventos Risco-Benefício Psicométricos grade-grupo

Surveys em Saúde Análises


Estruturadas

Complexidade das Universal Saúde & Segurança Universal Percepções Interesses Padrões
medidas de risco Meio-Ambiente Individuais Sociais Culturais

Unidimensional Unidimensional Undimensional Unidimensional Multidimensional Multidimensional Multidimensional

Função instrumental da Média sobre o Espaço, Tempo e Contexto Agregação de Preferências Relativismo Social
perspectiva de risco

Poder Preditivo Transferência Modo Comum Denominador Relevância Complexidade Validade


para Humanos de Falha Comum Social Empírica

Variáveis
Inrvenientes

Objetivo da perspectiva Seguro Saúde Engenharia Processo Processo Decisório e Regulamentação


de riscos de Segurança Decisório

Proteção do Resolução de Conflitos (Mediação)


Meio Ambiente

Comunicação de Risco

Função social das Divisão de Alerta Antecipado Alocação de Avaliação do Justiça e Identidade
perspectivas de risco Riscos Recursos Comportamento Eqüidade Cultural
na sociedade Individual dos Grupos

Estabelecimento Melhoria dos Aceitabilidade


de Padrões Sistemas Política

Redução de Risco e Seleção para Processos Decisórios


(Confrontando-se com Incertezas)

Avaliação Legitimação Política

Fonte: Renn, 1992.

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70 PORTO, M. F. S. & FREITAS, C. M.

larmente o da Análise de Riscos, e mesmo com institucional. Essa nova prática é marcada pelo
outros atores sociais, principalmente trabalha- reconhecimento dos limites e incertezas do co-
dores e comunidades expostos aos riscos. Um nhecimento científico e pela busca de um diá-
importante exemplo de contribuição da análi- logo interativo na busca de incrementar sua
se de riscos para a saúde do trabalhador con- qualidade. Como nos colocam Funtowicz & Ra-
siste na reorientação dos paradigmas, ainda vetz (1984, 1993), ao argumentarem sobre a ne-
hegemônicos no país, que analisam os aciden- cessidade de uma nova ciência, por eles deno-
tes a partir de suas causas imediatas, centran- minada como Ciência Pós-Normal, “as metas
do nos trabalhadores a origem principal das fa- do novo conhecimento científico já não mais
lhas. As modernas técnicas de análise de aci- residiriam na busca de verdades instrumentais
dentes colocam o gerenciamento como foco da e na conquista da natureza, mas sim na neces-
análise, tanto em seus aspectos tecnológicos sidade de uma relação harmoniosa entre a hu-
como organizacionais. manidade e a natureza”. Esta proposta caracte-
Dentro de uma visão sistêmica, a investiga- riza-se pela busca de uma interação mais ativa
ção interdisciplinar é requerida na medida em entre conhecimento e ignorância – definida
que o problema analisado insere-se dentro de como uma situação onde não se sabe nem o
um sistema complexo, caracterizado pela con- que não se sabe –, e a aceitação de outras abor-
fluência de múltiplos processos cujas inter-re- dagens que não as científicas e de igual impor-
lações constituem a estrutura do sistema (Gar- tância, através do que denominam de comuni-
cia, 1994). Diversos problemas ambientais e de dade estendida de pares, vem se constituindo
saúde do trabalhador caracterizam-se pela in- como elemento central das novas estruturas
ter-relação de processos sociais, econômicos, intelectuais e práticas sociais de uma nova
tecnológicos, produtivos, biológicos e físicos, ciência, onde o saber e a participação dos tra-
de tal forma que o fracionamento do problema balhadores e comunidades passam a ser efeti-
em áreas parciais, correspondentes ao domí- vamente incorporados (Backström & Döös,
nio de disciplinas específicas, impede a análise 1995; Brown, 1995). Este processo vem gerando
e proposição de políticas alternativas somente novas estratégias de resolução de problemas e
possíveis pela visão integrada deste conjunto invertendo o domínio clássico dos fatos objeti-
de processos. Um importante desafio consti- vos por cima dos valores subjetivos. Do ponto
tui-se na capacidade de se pensar integrada- de vista institucional e político, tais premissas
mente aspectos quantitativos e qualitativos implicam a capacidade dos processos de ava-
existentes dentro de sistemas complexos, e as liação e decisão acerca de os riscos tecnológi-
discussões sobre interdisciplinaridade, assim cos ambientais incorporarem, de forma efeti-
como as experiências no campo da Análise de va, o conjunto de grupos e pessoas envolvidas
Riscos, vêm propiciando inúmeros approachs no problema, especialistas ou não, buscando,
para que a Saúde dos Trabalhadores melhor desta forma, garantir a qualidade ética do pro-
sistematize seus referenciais e práticas. Nesse cesso decisório.
sentido, a proposta de Machado & Barcellos A inserção política e institucional do cam-
(1994) de pensar a investigação da relação en- po da Saúde do Trabalhador, através do seu
tre processo de trabalho e saúde como objeto de diálogo com atores sociais historicamente rele-
estudo central da área a partir da integração de gados a um segundo plano nas práticas institu-
três elementos estruturais principais – o social, cionais do país, caracteriza um passo na dire-
o epidemiológico e o tecnológico – caminha na ção do que Funtowicz & Ravetz (1993) conside-
direção das perspectivas interdisciplinar e sis- ram como uma Ciência Pós-Normal. Torna-se
têmica apontadas. necessário, entretanto, que seja aprofundado o
Outra consideração importante envolve o debate sobre a integração das diversas pers-
diálogo com os diversos atores sociais, em par- pectivas que compõem o campo, particular-
ticular os trabalhadores e demais populações mente a Engenharia, a Toxicologia, a Epide-
atingidas pelos riscos tecnológicos ambientais, miologia, a Psicologia, a Sociologia e a Antro-
tendo por premissa, além de aspectos éticos, a pologia, em abordagens efetivamente interdis-
própria incapacidade da ciência de produzir ciplinares de problemas específicos, através de
verdades absolutas e controlar processos deci- proposições teóricas e metodológicas nessa di-
sórios. A percepção dos limites teórico-meto- reção. É também importante que o desenvolvi-
dológicos e do potencial destrutivo dos riscos mento dessas abordagens interdisciplinares re-
tecnológicos ambientais fazem da estratégia de conheça, como necessária, a incorporação do
definição e encaminhamento de problemas saber e da participação dos que se encontram
elementos particularmente importantes na expostos aos riscos, tanto nas avaliações como
construção de uma nova prática científica e nos processos decisórios. Qualquer proposta

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ANÁLISE DE RISCOS TECNOLÓGICOS AMBIENTAIS 71

de avanço, ao não considerar esse aspecto, po-


derá cair na armadilha de representar mais
uma sofisticada perspectiva de legitimação dos
interesses vigentes, da exclusão social e do
ocultamento dos inevitáveis limites e incerte-
zas que caracterizam as análises das situações
e eventos de riscos.

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