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Κ. Κ. Η Ο F Β Ι Β L Ι Ο Τ Η ΕΚ
ΟSΤΕRR. ΝΑΤΙΟΝΑLΒΙΒ LΙΟΤΗ ΕΚ
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Α. ΙΕΙΕΙ,ΙCΙΑΝΟ ΙΩΙΕ: CΑSΤΙΙ, ΗΟ

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ΑΝΟΙΤΕ DΟ CΑ8ΊΕΙ.Ι.Ο.,
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ΟS ΟΗUΜΕS ΙΟΟ ΒΑΕΙΟΟ

ΙΡΟ ΙΕ: ΙΜ Ι Α S
SΕG UΙΙΟΟS DΑ

CoΝFIssΑo DΕ ΑΜΕLΙΑ
ΤΕΑΙΟ UΖΙDΑ ΙΟΕ "

Μ." D ΕΙ, Ε Ι Ν Ε G ΑΥ:


Λ
* Ρ Ο R
Ψ.

Α. ΡΕπταπΑΝo pΕ αΑsΤΙππο
Βacharel Formado em Direito pela Universidade de Coimbra,
Socio da Αcademia Real das Sciencias de Lisboa . da So
eiedade Juridica e da Αssociaςão dos Αmigos das Letras da
meSma Cidade , da de Μedicina e Litteratura do Porto , do .
Ιnstituto Ηistorico de Ρariz, da Αcademia Real de Scien
«Cias e Βellas Letras de Roao.

ΕΞΕΞ Ξ ξΞΕξ Εξ%ξ%ξ%ξξξξήξ%χε


Α:
1836.
ΝΑ ΤΥΡ. LΙSΒΟΝΕΝSΕ Α. Ο. Ι)ias,
Εμα ιατgα de S. Rogue Λ', 12,
Α ΝΟΙΤΕ ΙΟΟ ΟΑSΤΕΙ,ΙΛΟ

ΡοΕΜΑ ΕΜ 4 σΑΝΤos

κ"
Α Ο ΟΑΙΖΑ Ι ΗΕΙΗ'Ο

Α Ν Τ Ο Ν Ι Ο ΤΕ Ρ Ι Ο Ο Ο Ι, ΑΝΙ

ΡΕLΑ SUΑ ΤRΑDUςΑΟ DOs

Ι, USΙΑΙDΑS

Εm penhor de respeito, benevolencia, e gratida.σ,


e em nome da Litteratura Portugueza ,
θΡΕΕΕΕΘΕ

Λ. ΓΕπταπΑκο DΣ σΛΕΤΙΣΗo
- - - … -
-

ι
-
--
ΙΧ

Ρretacio.

Ο dia em que determinamos langar


milhares de copias do nosso pensamento
aos olhos e juizos de tantos homens que
ião passando, sem o esperarem nem nos
conhecerem , έ um dia de muito grande
temeridade. Α alma de um poeta namo
rada do espirito da solidão, livre no in
violavel asilo do seu mundo fantastico,
aquecida a todos os fogos da mocidade, fo
gos brilhantes e perfumados, aonde nόs
mesmos langamos tanta vez as flores da
nossa arvore da vida, e não raro a pro
pria arvore, a alma do poeta impregnada
de um sopro celeste concebe com delicias,
e com delicias produz longe de estranbos,
no silencio da noite. Νο seu filho se revé;
n'elle pόe todas suas complacencias, por
elle se considera excedida e folga; com os
alheios o compara, e se ufana; na sua edu
cagão se emprega toda ; emenda-lhe os de
feitos, adverte-lhe os descuidos, communi
ca-lhe a cada instante gragas novas, estu
da-lhe outros enfeites, afianga-lhe benevo
lencias e futuro. Μas a hora de ο emancί
par, estremece, ao abrir a porta, por onde,
Χ

o vai ver sair da sombra amigavel dos pe


nates para o mundo da fortuna, mundo
confuzo, movedigo, frio, desdenhoso, on
de o objecto de tanto amor despido de pres
tigios bem pode ser due nem se duer en
contre justiga ou misericordia, e donde já
então, uma vez visto, não poderà mais fu
gir para se tornar a esconder sob as azas
maternas. Εstas sollicitudes e temores ,
nunca tão fortes os senti publicando passa
tempos de minha poetica infancia , ccέmo
agora que se vai erguer o pano entre as
minhas concepφόes solitarias e o seculo. Ε
com quanto pouco aproveitem escusas pe
rante os julgadores de livros, e nessa con
ta váο comprehendidos todos quantos bem
ou mal léem cu ouvem, uma como verda
aeira quero eu aqui por, e como de algum
pezg m'a hão de tomar, se por ventura não
é ella cabal para a venia de imparciaes: e
vem a ser, αυe este voluminho (se me não
engano) o não compuz eu para os outros,
senão sό para mim, e dous ou tres amigos
de meu intimo trato. Μal cuidava eu que
me acharia com um livro rematado guando,
alguns annos ha, no retiro de umas serras,
sem mais visinho que uma fonte e un8
carvalhos desterrados entre urzes, e uma po
bre Igreja rustica, posta a minha felicidade
ΧΙ

em me esquecer da patria, temendo aven


turar um passo além de täο estreito eaben
goado horizonte, e persuadido de quejέ nun
ca emnossa vida amanheceria para esta ter
ra dia de redempςão, me consolava com a
natureza, com o estudo, e com as minhas
fantasias. Ο poetar não era jà para mim
trabalho assiduo; não era uma cultura, pa
ra a dual andasse preparando terreno, se
meando, vendo crescer, mondando, vigian
do, colhendo, medindo: era antes uma ca
gada ά ventura. Se nos meus passeios por
entre brenhas vinha uma imagem poetica,
um verso, um hemistichio, ora nascidos do
nieu proprio cogitar, outr'ora suscitados por
algum som campestre, com esse pobre
achado voltava eu rico, e muito contente com
ter assim enganado a compridão das horas,
que tão arrastadas passäο pela aspereza dos
ermos. Ρor este modo insensivel concluί não
sό este, mas outros muitos opusculos, os
αuaes, ainda αυc para isso nao nasceram,
iráό jή agora sucessivamente saindo do seu
esconderijo não ambiciosos de louvor, que
Βemsei eu αμam pouco merecem, mas ao me
nos comο estimulo a melhores ingenhos.
Τriste cousa, e muito miseravel de vér, é
certamente o profundo e geral desprezo a que
entre nόs säο chegadas as boas artes, mor
Β.
ΧΙΙ

mente a da poesia. Τerra, aonde a natu


resa a està por si derramando; onde cέο
amoroso, como ο de Grecia e Ιtalia, a ins
pira ; cnle ingenho e imaginaςão vem na
tivos e espontaneos como as boninas chei
rosas aos prados na primavera ; terra, on
de se falla tão formosa lingua e tão sono
ra comο esta portugueza , tão fluente ,
tão matizada de figuras, tão viςosa de gra
gas, tão arrojada em pompas, tão refeita
e abundosa de antiga seiva, tão flexivel
para todos os usos, sente fugir uns apoz
outros os annos, sem que nella se estampe
um vestigio luminoso e duradoiro de inge
nho, para onde apontemos, αμando es
trangeiros nos disserem soberbos = Α vos
sa poesia morreo como viuva do Ιndostão ,
com o vosso Camόes. = Νem da terra é,
nem do povo αμe a habita, essa tão feia
nodoa: culpa é sό dos que a seus destinos
presidem (*) que sempre hão sido o que fo
rão em tempo de Camόes. Οh! se inda
Βoje,
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . για ruάεεα
De uma austera , apagada e υίl tristezα
de longe em longe se dá a ouvir algum de
(*) Α creaρão de um Conselho Supremo de
instrucρξο publica, a de um Instituto de sciencias
phisicas e mathematicas, de Εscolas primarias, a de
μm Conservatorio musico, säο , (ntio 8erei eu queΙα
ΧΙΙΙ

bil gorgeio de esmorecida poesia; ατιe fora


se um pouco favor viesse lá de cima a täο
donosos estudos! Se com honras e premios,
tão mal gastados em gente infructifera, e
por ventura damnosa, se buscasse espertar
ingenhos, emulaς όes, brios, amor de glo
ria ! Μas não nos cancemos em votos inu
teis, que a hora de acordar ainda me pa
rece vir longe: e tornemo-nos depressa ao
nosso livro.
Α primeira censura, com αne muitos o
Ηão-de desdenhar, até sem ο Ιerem, serά
αue vem elle intempestivo nesta guadra
epidemica dos Jornaes; que onde se ou
vem de toda a parte αμcixumes e lamen
tos, sustos e desconfianςas , trm cantar
de amores dissoa , como canςão de noi
με

ο negue) utilissimas. Μas due providencias se hδο


dado para virmos a ter o tão necessario, e jä hoje,
tao possivel, Diccionario de nossa lingua2 Que se
tem feito para virmos a possuir uma colecρδο de
cente e regular de nossos Classicos , e a tradugao
dos estranhos 2 Que. auxilios se tem imaginado,
para tornar possiveis as impressόes de obras bόas ,
cujos auctores forem indigentes 2 Que Sociedades
propriamente litterarias se tem promovido ? Que im
pulso rec beo ainda o nosso Τheatro, para sair do
lodo, em que apodrece 2 Α este proposito publi
ue-se, ao menos para desafogo, αμιe desde 9 de
unho de 1834 o Governo possue um Projecto, gue
lhe eu presentei , pelo qual , sem despeza algum"
ΧΙν

vado em cemiterio ; αμe levantar ficρόes de


poeta entre animos attentos a ver como cor
rem as ondas e nuvens do mundo positivo
mais parece escarneo de indifferente, que
indicio de coracao generoso; αμe neste ter
reno prosaico da vida real sό poderiam ser
ainda acceitos aquelles canticos patrioticos,
em αιue a alma cίvica e violenta de um
Τirtéo assopra o fogo da guerra, ou a alma
civica e desenfastiada de un Βeranger pune
c enfraquece os tyranos com os risos do povo.
Τudo isso serά assim : mas nem a mim me
coube esse condao de arrastar as multidόes;
nem som de trombetas resuscita defuntos ;
nem eu αιuero desperdigar mais com ingra
tos estes restos de minha mocidade. Τarde
conhcci os homens e o seculo: mas ainda
a tempo lhes fugi atirando-me para o seio
para o thesouro, elle nos poderia grangear um Τhea
tro excellente, edificio, dramas e actores , e ain
da até hoje, não achou uma hora de bόa vontade,
οιι para o mandar executar , ou para o mandar a
informar a alguma commissio de peritos na mate
ria , que o terião eperfeiρoado. Veremos se em
fim o Conselho Supremo de Ιnstrugão Publica se
encarregará de promover cousa tão essensialmente
ligada com a mesma instrucρão; ou se a Camara
Μunicipal, a quem nada esquece, toma a si este
cuidado; ou se o Μinisterio ήovo emenda esponta
ηeamente descuido tão vergonhosc. 28 de Νovem--
bro de 1835. -
Ι ΧV

do passado, para a conversaςão dos que jά


ηão vivem , e depois para os meus sonhos
innoCentes de poesia. Se ha ahi ainda um
ou outro, αμe retirado comο eu, componha
sua felicidade dos deleites do imaginar, a
esses envio, como amigo a amigo, os meus
romances ; αμc bem certo estou de que
ά sua poisada serão bem vindos: e se a08
taes dou assim algumas poucas horas de sa
boroso passatempo, o cuidar em como o fiz,
Ηave-lo-hei por mui folgada recompensa. Εs
ses me lerão, e me comprehenderão : a es
ses, por dita minha agradarei, como voz de
caminhante, que ao longe vai cantando por
noite de tempestade quando no conchego
domestico, e de nosso leito agazalhado, a ou
vimos nas quebradas do vento e chuva, que
vάmente nos agoitão por fora o tecto e as
paredes. Οra pois a esses, que não aos poli
ticos, aos do meu mundo, ατιe não aos am
biciosos, dirijo agora os poucos reparos que
acerca da Νoite do Castello meimporta fazer.
Ε' a invenράο parte muito principal no
merito do que se escreve : e dado que
muito menos obras se hajäο salvas do es
quecimento pela originalidade do que pe
las galas. e donaires do estilo, nem por
isso decάe de sna valia. Τodos reconhe
cem, que o Ρrincipe dos poetas Romanos
ΧVΙ

sό se immortalisou pela doςura d'aquella


sua linguagem saudosa, clara, concisa,
οrnada , e eloquentissima , com αυe re
petindo o que de outrem fora achado, ο
fez a todos os olhos parecer novo, ou de
mor prego. Ε todavia, reconhecendo-o, não
lha hoje autor que não enfie, se do mais
leve plagiato se vé accusado. Νessa conta
vou eu tambem ; e não sem forte causa :
que, se a invenςão do que publico não fos
se minha, não erão as cores da minha poe
sia sό por si poderosas para o alevantar do
despreso. Μinha he pois a idea fundamen
tal da Νoite do Castello ; mas a duestäο,
αue sobre isto se poderia travar, não me
convem debate-la jά aqui, por não dam
nar aos leitores do Poema o goso da no
vidade: ao cabo d'elle a averiguaremos.
Α disposigão, gue he o segundo dote de
αualquer poema, poderá na Νoite do Cas
tello descontentar a muitos : e dirήo, que nos
dous ultimos Cantos, comparados com os
dous primeiros, não anda assaz movimento;
que em dialogo sobejo nos derramamos , e
que o fogo que no principio acendéramos,
o deixamos quasi apagar, quando mais
importava reforca-lo. Βem receio eu que
essa grave censura tenha born fundamen
to; pois que ja de mui competentes Jui
ΧVΙΙ

zes a ouvi. Uma unica resposta lhe posso


dar, a qual bem pode ser αμe ainda ag
grave o delicto: como quer que seja, por
que he verdadeira, a declaro. Εoi a minha
intengão pintar o ciume com todas as suas
tempestades, delirios, incertezas, contra
dieς όes, sensualidades, fraguezas, horrores,
vingangas, crimes remorsos : por onde,
todos esses dialogos e monologos do ter
ceiro e duarto Canto constituem, para mim,
o essencial da obra ; e os dous primeiros
Βό os dou como accessorios, ainda que tam
Dem do todo sejäο parte necessaria.
Αelocuςão he para muitos o maximo pon
to onde bate a verdadeira poesia. De lin
guagem, estilo, e rythmo se compόe. Θuan
to a linguagem , procurei que portugueza
fosse, limpa de fézes de archaismos, e de
liga de neologismos barbaros : se o não eon
segui, a critica não se esquecerά demo apon
tar, nem eu de corrigir para a outra edi
φão os desmandos d'esta - Para o estilo
não procurei exemplar : e se um antigo,
por o saber de cόr, se me offerecia muitas ve
zes entre o sismar, tão sublime he esse,
e eu tão baixo, gue não servirei a meus
inimigos, caindo aqui na vangloria de ο
nomear. Τão pouco estudei adstringir-me
ao estilo da antiga escola, ou da moderna.
ΧVΙΙΙ

Αmo, e venero os classicos, com ατιem me


criei: aprazem-me , e maravilhão-me al
gumas das obras romanticas: aqui ha por
ventura mais natureza, lá por ventura mais
arte, aqui mais ousadia, e lâ mais delicade
za, lâ mais esmero e lustre, e cé emfim mais
desenvoltura e arrοjo: n'uma e n'outra parte
se contão grandes homens; dos escritos mo
dernos alguns talvez terão de durar sempre ;
os antigos certo não se afundárão nos seculos
até nόs, nem jà agora deixaráό de ir com
gloria até à ultima idade em αιue durarem
letras. Cometti sim compor um Poema Ro
mantico; mas náo abjurei o Classico. Νάο
sou transfuga dos velhos para os novos ar
raiaes, mais depressa como explorador os en
trei. Verdadeiramente náo sou eu hoje nem
de uns, nem de outros , e isto por duas ra
zόes; a primeira por amar em tudo minha in
dependencia , a outra por me não ter a
natureza dotado com as forgas grandissi
mas, que se requerem para militar cons
tante e victorioso, guer n'estas quer n'aquel
las phalanges. Νeutral sou: com romanos
e gregos palestro , se me apraz , se mais
me contenta , visto as armas, e debaixo
das ameias feudaes venho como d'esta vez
tentar fortuna ; se me ella desamparar, ηão
volverei a campo, e não serei o primeiro
ΧΙΧ

nem o ultimo, a quem sua confianga haja


purlado. Μixto por tanto de um e outro he
o estilo, a phrase, as imagens, as compa
raς όes ja de um, ja de outro dão ares: a
nenhum invoquei, sό ouvi o meu particu
lar gosto pude talvez a espagos pizar alheios
vestigios, porem me préso de ter sido sem
pre eu mesmo enão outrem - Do rythmo e
contextura metrica, sei αμe nem todos os
meus leitores serão contentes. Ο bom agaza
Ιho que em Portugal se deu άs Cartas de
Εcho e Νarciso, em grande parte nasceu, se
gundo entendo, de ser sua versificaςão um
tanto fluida, e melodiosa ; esses dotes não
sάο em verdade os do presente Ρoema : e
direi agora αμaes motivos me moverão a
desviar-me d'onde tão bem me tinha ido.
Considerei eu gue alguma cousa mais do
que fluidez e melodia se havia de reque
rer nos versos, e era a harmonia. Νao pas
sa a melodia de uma va musica , mui gra
ta a principiantes , mui prezada de gente
mόςa , αμe mais que tudo ama os gosos
passageiros de seus sentidos, e mui brilhan
te capa para pobres e ruins poetas. Α har
monia porem , no sentido que lhe aqui dou
ηάο sei se propriamente, varia essa musi
ca do metro , que aliás podéra ser unifor
me, adaptando-a ás ideas, como vestidos
ΧΧ

a corpos, como cores a desenho ou comσ


differentestons a differentes affectos; ajuda a
phrase, acrescentando pelo som a idea si
gnificada pelas palavras , faΖendo, para
que assim digamos, com que a alma não
εό receba o pensamento, mas o venha bus
car, e palpar logo no ouvido : do αμe se
segue, αμe accommodado o metro, sua for
ga ou brandura, suas vogaes ou consoantes,
seus impetos, suas quedas, e suas pausas
ά indole do seu conteudo, a variedade e:
os constrastes se exprimem taes como se
concebérão, e dando em cheio no coraςäο
e na intelligencia, nos abalâo a scu bel-pra
zer para todas as partes. Εste merito da
harmonia, que tanto estremou a Virgilio
entre os poetas antigos, e entre os moder
nos ao seu traductor Delille, muitos poetas
aliás famosos ou não tiverão, on sem ra
záο ο desprezárão, ou talvez, por fugir a
trabalhos, o taxarão de futil, chegando até
a haver ouem negasse a existencia da me
lodia adaptada, ou harmonia imitatiυα. Α
moderna escola comprehendeo quanto im
portava dar à poesia esta parte de forga, de
αue tanto ha andava despojada, e esque
eida : convertendo a lira em alaude , deu
lhe portanto maior bojo para que os seus
sons se repercutissem com mais valentia.
ΧΧΙ

Verdade he φue alguns corifeos estão en


carecendo esta vantagem até ο extremo de
ridicula affectaςâο; e versos ha que pa
ra resoarem o seu assumpto, degenerao em
doida prosa, do que seria facil juntar aqui
mil exemplos em curioso embrechado. Ο
meio entre os dous extremos he o caminho
do poeta. Νem se hade desaproveitar a ono
matopeia por difficil, ou pelo vao receio de
deslizar da melodia Βocagiana ; nem se ha
de immolar à onomatopeia a cadencia e nu
mero do metro, a brandura e elegancia
da phrase, como a eito o praticou Εilinto.
Ρoema αμe em sonoros versos nada pinta ,
não tem poesia , ou não a mostra : e poe
ma que pinta muito em versos sempre du
ros, difficeis, péssimos, sό tem meia poe
sia: falta-lhe o canto. Ο primeiro descon
tenta ao bom leitor, provando-lhe como
o poeta se náο αuiz canςar para lhe agra
dar; o segundo por duas vias Ihe descon
fenta , jά porque lhe balda o esperado go
so dos sons, jà porque lhe vem confessan
do todo o artificio, e exforgos, que se em
pregérão para o mover. Quando eu na pri
meira mocidade improvisava as Cartas de
Εcho, e a Primavera, (cabe-me declara-lo
aqui) não acreditava em poesia de sons;
antes d'ella me ria como de muito ambi
xxΙΙ

ciosa affectacáο; porisso tambem reina por.


essas duas obras uma nao sei que monoto
nίa, e pezo, que me agora canga. Νa Νoi
te do Castello (parece-me) entendi um tan
to melhor o segredo de versificar: oxalâ
αue do proposto meio termo me não haja
desvairado ; e que para dar variedade, e
relevo ao metro, não haja de sobejo desa
tendido ά sua melodia.
Μais haveria que notar; mas fiquemo
nos por aqui : nem para ver contra mim
em campo os Αristarchos, julgo necessario
o tocar-lhes eu mesmo a rebate : a obra
ahi está , e assim como satyras lhe não
desluzirão o bom , tambem prologos lhe
não taparião as faltas. -
Lisboa, 29 de Νovembro de 1835. -

Νή
Ι
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Α ΝΟΙΤΕ ΙΟΟ ΟΑSΤΕΙ,ΙΛΟ.

Οanto primeiro.

Τις por dentro e fora illuminado


Ο Castello feudal pernoita em festa
Νa margem negra do espaς.oso lago.
Ιnda corseis de nitidos jaezes
Contra o vasto clarão trotão rinchando
Dos longes do arredor: ja muitos pascem
Αos grossos troncos presos; voão velas
De toda. a parte demandando a praia,
Ε dos toldos as lampadas pendentes
Μostrão Senhores, Cavalleiros, Damas,
Εm que o oiro reluz por entre as cores.
Ρelas francas janelas se difundem
Νa alvorogada noite os sons que alegrão
Οs gothicos salόes: a todo o instante
Νa ponte levadiga, agora baixa,
,, Quem vemla 2,, brada alerta a sentinela,
Pära, e escuta em respostaum nomeillustre.
Εra o dia, ήatal de Ignez, a herdeira
Do Senhor do Castéllo, o Conde Οrlando,
Οι convitedρ Ρai, da filha as gragas
Α vizinhanga ao largo despovoão,
2.

Ε um mundo de alegria enche o palacio.


Ο Cόο calado e gros o esconde a lua ;
Soão na torre oiίο (avalleiro,
Αrmas simples, vis : Corrubada, ".

Sάyo negro, ante as gra sse apresenta,


Ρεάe às guardas ingress , e cala o nome.
Requerem-lho, emudece.... e apoz instantes
Responde,, Cavalleiro das Cruzadas, 3
Αmigo do Castello, e antigo socio
ΙDo Castelláο ,, Sua resposta isenta
Findou subindo affoito a escadaria. .."

Νa sala de honra, antiga , abobadada ,


Ανulta a flor da pompa; insignes mestres
Νos circunfusos razes memorărăο
ΙDa Τerra Santa as mui gentis proesas,
Α meia lua, os rabidos turbantes,
Α cruz, em torno d'ella os paladinos,
Ε os do antigo Castello antigos donos.
Μiltochas aromaticas se alegrãoo
Ρor entre os festόes largos gue serpeão
Αo longo das altissimasi columnas.
Οrna purpurea seda aqui janelas
Αrqueadas , alem balcόes abertos
Que juntao gala a gala, e vem mostrando
Οs, jardins, o arvoredo illuminados.
Convidades sem conto as salas enchem:
Τres rodas de compridos espaldares ".

Com densa turba a principal guarnecem.


ε. - --, .
3
Ρroleunica do Conde, entreas mais damas
Α's mui formosas sobreleva, e muito
Ιgnez, he Deusa em festa a ornarseu templo.
Εntre frontes e seios arraiados " ".

De pedraria e de oiro, entre bellesas


Dignas αne em seu favor se rompάο langas,
Ψma grimalda de aφucena e rozas , " -4
Cinto azul em vestido cor de neve τ8
Ε vinte annos de idade obtem triunfos.
Νãoja porque a estampasse a naturesa
Copia do que o cinzel sonhära em Grecia,
Θuando a amores deu mäi, e ocrerάο homens:
.. Νao era a mόςa etherea, a joven fada,
Sό vista entre os abragos voluptuosos . "
ΙDo sonhar juvenil: mas se existirão . "
Μais brincadasfeiφόes, e formosuras : ".
Rasgo a rasgo antepor-se-lhe podérão, , 4
Ηa nesta um não sei gue melhor que aggragήε
ΙDiz-se, aquella é mais linda 2 e-busca-se esta.
Νo composto volver dos olhos pretos )
Como que estão de dentro ressumbrando.
Αssomos de benevola termura., ε η... . .
Da estreita bδca no sorrir não ledo, ι. Η
Γ.Νo suspiroso arfar do seio occultρ... ί
Fallaros coraφόes co' ο seu presumem.ν.
Ca8os de, ignoto amor, de ignotas pentis,
Como aves, que piando se respondem,με
Dmacaqui, ouίra alem, no escuro enleio
De arvorida em folhuda Ρrimavera, «ί. :
<.. Εξ
" 4

Αlva de lirio ou neve a tez não briΙha :


ΤΥalmas frias he véο candor sobejo;
Sob uns cabellos de ebano lustroso
Αma-se um rosto, em cuja cor alembrem
Εffeitos de amoroso estio da alma.
De pallidez uns longes duvidosos ί
Daváo-lhe inda um realce, he comο estatua
Grande e airosa de jaspe em gruta opaca,
Depois gue a aza do tempo Ihe ha rogado
Veneranda descor em formas virgens. . .
Μui potente incentivo de vontades,
Grão renome a precede; e não por filha
Ε. ultima fior de generosa estirpe, Α

Senão porque parece άαuellas pompas


Τão estranha, que a choςa mais humilde
Νos arredores do feliz Castello, i ...
Αpenas sente iim mal vé ηella τιm anjo.:
Μάο οompassiva a socorrer affeita . . . !
Νamora-vos, seguis em festa uns passos ,
Que languid6s ali, sabeis tão leves και
Νό acodirem a miseros, e bδca , " .
D'onde a consolacio chover costuma, ..
Ρor forca vos atrahe"se a voz desprende.
Doce era a voz de Ignéz, maga, sublime
Νaharmonia e no affeéto: hymno a dissereis,
Digno do Sanctuario onde nascia : "" 2
Suάwe, como a brisa que madruga
Sonora eatre os rosaes de si vertia" ."
Ρelo ouvido um frescor e umaώianocencia,

5

Como celeste σmvalho. Ο que a não visse,


Εscutando-a fallar, sentira amores;
Ο que accesas paixόes nutrisse inquieto,
Αs esquecera ouvindo-a, e cada frase,
Simples, indifferente
Αssumia nos em perfume
seus matiz, labios de; outra, ε"

Voára, e inda nos animos trementes


Ficava resoando, como poniba ,
Que fugindo pelo ar, estampa n'agna ε".
De um lago attento as azas cor de neve.
Ε σ preco aos dons do Ignez, Ignez ignora!
Como ella άs mais, aos mais excede Αdolfo ;
Ιllustre Castelláo da opposta margem, ,
Ιntrepido e cortez: mais de um combate
Ιhe ganhära trofέos, lhe alφάra o, nome:
Τemido aos infieis, acceito άs damas,
Νa guerra vencedώr, na paz vencido,
Ρodéra, se"indai entάο: duras8e a usanςa.
De fantasiar divisa , abrir no escudo
Αguia entre as nuvens. empolgando raios,
Ρombas aos beijos entre crespas murtas,
Cisne em gorgeios, dealta palma ά sombra.
Νinguem lho estranharia, αμe ao Levante
Guerreiro trovador εnão foi como elle.
Quando apoz o combate a quente langa
Α., 8otejar depunha, a mήo tάο fera
ΙDa mandora na8.cordas: 8e ameigava ...
Ρara a casar co'os improvisos cantos.
Ετο amor o 8eu estro, amor sua alma, 1.
Sua existencia amor; outras lembrancas
Do passado não tinha, outros cuidados.
Lhe não dava o futuro: aqui prendião ,
Seus meritos gentis, seus vicios grandes;
Ε esses vicios, αιιe entrehomens oinfamaváο,
Αnte olhυs feminis erão virtudes.
Fanatico, ao seu idolo imolava,
Se a captar-lhe o favor tanto cumprisse,
Οs deveres , a vida , a gloria mesma.
Βem que altivo de si rendia άs damas
Ο que bom cavallciro as damas deve: .
Μas apenas cativo em lagos de uma,
Ρor uma afrontaria o sexo inteiro,
Folgάra da-lo em victima ao seu Νume.
Τodas por isso o receaváo, todas
Αrdiao ter em seus grilhόes submisso
Εste horrivel leão, mas para elle ,
Μais que uma sό mulhernão tinha o mundo,
Ε essa hede ha muito Ignez. Αnnos se contäο
Qne os inimigos seus debalde estudão 2
Αpontar-lhe um transvio a novo affecto. :
Depois que mudamente espago longo
De um canto solitario a esteve olhando "
Εm tanta pompa bella, ja pot gestos.
Ρor labios lhe revia o mal Sδffrido μί
Αmoroso enthusiasmo; os sons, as luze8'
Α multidão, vaidade, e. affecto o exaltäο.
Αdolfo se ergue; o musico instrumento
Lhe vai na dextra: damas, cavalleiros"
7
Εazem sileneio : e emface a Ignez pararido,
Ρrorompe erh facil canto os seus louvores.
Como Αdolfo cantáva, o reposteiro'
D'um canto se ergue, avista-se na porta
Ο Cavalleiro incognito suspenso. " "
Uns o observáo sorrindo, outros curiosos:
Αviseira inda baixa estranhão todos:
Seu nome ou d'onde vem ningüem conhece.
Α-estatura soberba , o sayo negro, i
Ο morrião, a negra cor das plumas,
Νenhum se acorda de os jamais ter visto.
Νão sauda a minguem: entra e se encosta
Α' primeira columna, donde fita
Νa dama e trovador o aspecto immovel. ..
Ρor cima da cabeca esguia tocha "".
Luz lhe verte agoireira. Οu fosge acaso .
Οu misterio de cima, apenas o hombro :
Τocou de leve o marmore, soltoti-se
Co' a florea croa ao capitel cingida "
Ο festão da columna, e debrugado "
Μais de meio co' as tremulas folhagens
Desce a lamber ondeando o pavimentό.
Um murmurinho, um movimento inquieto
Reinäο pela assemblea. " Τalvez seja
ίJm morador das praias estrangeiras,
Θue ignora os usos: -- ou serà promessa
Ωue fez de ir-se encoberto até vingar-se
Οu vingar sua dama -- ou por ventura
Ηe esse algum sehhor da Visinhanga , --
8.
Α quem por brinco masearar-se aprouve, τι
Τaes em praga apinhada a8 conjecturas,
Fervem várias à hora em que rutila
Cometa deigneo sangue em ceo profundo.
Τ)a commoςão geral mada percebem ,
Ignez e o seu cantor, ella embebida .
Νο mui doce da Voz, no amor das frases
Que a fazem palpitar, lhe accendem cores:
Εlle porque o fervor que dentro Ihe arde,
Αfόra Ignez anniquilou-lhe o mundo. " ,
Ιnveja e for das bellas a proclama να
Βeijando com ternura o lagoverde, . . .
Que adornava a mandora ,, Ηaja no mundo
,, Um cavalleiro ou mil que ousem nega-lo:
,, Νa estacada, no campo, ά langa, άespada,
., Νo arζώο, depέ, Ιhe provarei que mente»,
Ε ao meio arroja a luva do duello. . . . . . ,
Νinguem aergueu , minguem , mas volteou leve'
De boca em boca ironico susurro, ,,,,
Ε uma ou outra na turba das Donzellas ,
Τalvez a scu pesar cόrou sorrindo. . ,,!"
Νão fosse a festa e o Conde, gueresta luva
Αchava oitenta mios: vence o respeito.. :
essa o bolicio, o trovador prosegue. ...:
Depos que pelas mentes esvoagadas.π ,
Com brando preludiar calou brandura -ι...
Ε as vontades prendeo, restaura o canto)
Revelador de suspeitado arcano:.μ. ,,,,
Οιlando o quer seu filho. Ignez he sua,
- 9

Ja para a lauta festa he convidada


Α chusma circumstante, a nova aurora
Οs verά na capella unir-se esposos:
Ε ο banquete natal vai prolongar-se . .
Ρor dias nove convertido em bodas.
Αlvo de invejas, ebrio de alegria ,
Βeijada a mão de Ignez , volta a sentar-se
Τιutilante de gloria o cavalleiro. :

Rompem na sala musicas festivas :


Οs annosos senhores felicitäο Α

Αo Conde, a Ignez as donas, poucas vozes


Ε essas frias a Αdolfo. Α Εstatua viva ,
Ο Cavalleiro negro inda lá pára και

Αrrimado a columna! Εm quanto attentos


Τodos foram ao canto, um pagem disse
Que o vio trez vezes sacudir a fronte,
Ε ficar-se de novo: a fronte agora
Jaz encostada ao marmore: a direita
Ρésa nos copos da pendente espada,
Εm guanto o esquerdo braςο vai caίdo
Αo longo do festão, de que entre os dedos
Βάpido esmaga uma por uma as fiores.
Ρara ageral saudejά circula
Εncanecido vinho em fundos vasos.
Νinguem se escusa ao brinde: ao Cavalleiro
Chegou a sua vez,, Sό bebo sangue,,
Disse, engeitando a taca, e mais não disse,
Εsta voz que sό proximos lhe ouvίrão,
Ρareceo vir dos intimos do peito,
ΙΟ

Sepulchral no soίdo e em tom profeta;


Μas penosa, mas debil, semelhante
Αo da brisa autumnal murmurio escago
Νa folha morta que tapisa as campas :
Se ao fantasma de um barbaro assassino
Désse Deos que fallasse, assim fallára.
Νο emtanto um menestrel dá no alaude "
Ο rebate da danga : acodem pares,
Ρarece estreito espago o grão recinto. .

Cabe romper o baile a Ignez e a Αdolfo. . .


Como guando entra zefiro co' as flores
ΙDe quedo ajardinado taboleiro,
(Νue a principio em sua hastea dobradiga
ΙDuas altas papoulas se embalangão
Ufanosas e a par, e logo um iris
ΙDe flores.mil lhes labirintha em roda
Τaes do alaude o menestrel derrama
Τorrentes de harmonia, que revolvem
Οs grupos, o matiz, figuras, passos,
Coufusäο ordenada, enleio aos olhos.
ΙD'esta musica antiga, antiga danςa
Se alegra a velha abobada, lembrada
Gue iguaes asteve embodas doseu Conde
Ε dos Condes Ανόs: desde o alvo dia
Que n'agua sancta a Ignez purificάrão,
Εsta a primeira vez que torna a havel-as.
Τolga a abobada, elagrimas gotejäο
Da Viseira do heroe misterioso,
Οrvalho que reluz no peito d'ago. *
ΕΙΤΕ
tim circulo de ciroulos que girão ..
Gira emvortice leveao som troado ,
Deuma torrente harmonica: transmuda
Α mão experta as cordas de repente,
Εde repente o yortice desata -
Εm phalangesqueestendea um ladoea outro.
Αquio menestrel da arte ingenhosa
Αpuratodo o amor: musica etherea,
Ρarece a sua um mixto de promessas,
De beijos, de queixumes namorados,
De suspiroa, de supplicas, de sonhos. ,
Αo som desta harmonia vem descendo,
Como dois cisnes,em sereno arroio . . . . . .
Ρor entre flores e arvores dasvarzeas,. :
Ο noivo e a noiya emvoluptuosa danρa.. :
Váo-lheunidas as mãos, risonho o aspecto
Μutuamenteinelinado, emutuamente
Seus olhos em 8eus olhos embebidos :. Α
Ε como gue este amor applauso excite,
Revertem n'tim.momento os sonsbrilhantes,
Ο tumultuardo baile - De improviso
Restruge os altos tectos assombrados: :
Βronzeo signal de morte! os altos siήos
ΙΡa Τorre da capella estão dobrando!
Α mão domenestrel, os pés da turba,
Οomo por vara magicatocados,
Νofmesmo ponto párao! Νunca a torre,
Ωue algapοrgrinipa o archanjo da trombota,
Ε
Α não ser que um dos8ousbaixa88e 6 terra:
Ignez brilha na festa, ο Ωohdeia anima :τί"
Donde vem pois grie acόude άφuellas.horagΙ
Αterrado e choroso obronze.escurρ.2 υάιτ Α
και Qual he a mão que ou temororia ou kouéa,
Νa noite do prazer por lago emontes... οι 1
Τaz ondular pavβr ε ή porque he que nadáολ
Νas horas de oiro idéas dosepulciiro 2": "
Εis de todosa mente e a voz de poucos!ο τε"ί
Ιgnez demuda a cor: pallido assombro d " .
Τingio-lhe as rosas do contente aspecto, ο
Sοndaré ella arcanos d'este agoiro?, "τυα ο Α
Serä ella mais timida que,as outrag 2 or"ο
Quem o sabe2 em stra alma todavia : " !
Ρésa, qualquer que seja, idéa turva vioπί
Que uma vez dissimula outras repelle. -οι:
Volvem-se por instineto os olhostodos &
Α' columna fatal: o Cavalleiro "υ κι: 3
Jά lá não appare ce, e ha pouco estava : ο3
Γos signaes ao principioinda foi visto! , 9ί
Ρor salas, porjardins ο Coride o busca," Ο
Ε em váο! Μenos terror dera a presenca 5"
Que a desapparicάο d'este homem negro,
ΙD'este enigma sinistro, odioso a todos. "Η
,, Ρagem, diz o Senhor, έorre à capélla, " Α.
, Ιndaga tudo e torna-te.voando,, 3 μ σε
Ρartio. Um pouro hajάanea.torrahemuda."
Αssim recernviuva, em flor deidade, "s o"; }
Εxhausta de corpir num leitofrioυο τυα"3"ί
13
« ."
fanguida fronte encosta e εérraos olhos, )
Λ

Τalvez porque de dor άangada a mente και


Jά náοΕΕ os tumul
ρόqë do Σ., os, e adeja
ΕΤ"'Σ : " " οι:
Α' superficiete musoes Εξέgias,
Ι............. » 1 - ".
"
Μas apenasaaniarga realidade :Α
Εm sobresalto a esperta, recomega ει
Com mais violencia na explo
Τ
sio Ειήguί;
Ι. - Τ.Τ
Semelhante rebenta outravez todo ,
Νο monot...oho tétric
. -- o alarido - το
ο τοί
Ω campanario gothico 3o Αrchanjo... "
Νunca troou mais fugubre ou maisforte ,
Um pregio de finados sobre lutos : -
ΙDeantigacathedral, όΩualfoimão dehomem
Ωue escreveo esta musica primeiro" ,
Ignora-se etalvez nem foimão de ήomem!
Τalvez o Αnio da dor, entre ciprestes, κ.
Νum mausoleo recente recostado, ο οποίο
Εm Ιna baga de orvalhado outomno, κ.
Inspirado a compoz: comoviesse : 4:
Α se Ε depois portoda a terra Α.
Sabe-o elle! Νόs mudos a escutamos, , Τ.
Ε nuncasem terror: mistura estronha!
Α camp3, ο cξο, ο abismo ali
. .
Ε ιτλι.. -

Ψns como halitos seus: o ouvido osbebe,


Εa mente estremecendo emtanto absorvea:
Ρostres um cheiro mixto, uma amargura
Ειn que ο "Ε" "μίε", μια doceen que.eu "" ο!
Πάg existe
Οnde oxiste όfejiz
ζίilζι"1. : Α.
άuέ ο ήao",
o ei12 9ue η ιεί:S: :".:
o nao 3:ία:ίξ » . . .
Dobra eiή waivera pigado o είio giatide,"
14
Glue a espagos desiguaes solemne e horrendo
Vozea morto morto ! Εntäο quaes rompem
Α' voz de morto os gritos da familia,
Clamor de infantes, uivos de mulheres,
Τal nos metaes due se embalanςão, ferve
Αlto estrepito, αυέrulo, revolto,
Θue n'alma echoa trémula: dissereis :
Θue fundidos de dor, αμe delirados
Forcejäο desfazer-se ao som de morte,
Μorte que o rei da torre está bradεξdo.
Reina o silencio no salâο pasmado;
Τempo ha que o bronze he mudo; o pagem voltaΑ
Έntra tremente e pallido! Νão ousa "'

Coavozninguemco'osolhosointerrogio.
Um copolhe enche Οrlando e lho apresenta;
και Bebe, anima-te e falla,, Αlgando o vaso .
Νa vacillante dextra, antes qüe a boca .
Ο leve, ο Pagem diz, Para que voem.
μ, Α's terras de infieis os mãos agoiros! ,," *
τ
".

Βebe, alimpa o suor, e assim comega: .


,, Α. torre estά sem Ιtiz, a entrada em baixo,
.. Fechada, a outra.... ignoro: duas Vezes
,, Como pude gritei, minguem lά fallat
,, ΑΡorta da capella esta cerrada, -

Εξpreiteicάdelοήge,evi...!,, Callou-se.
instήrio: proseguio... Se alguem duvida
,, Ρόaeir ve-lo Como eu: vi claramente,
,,Α alampada do altar está bem viva, ι
., Um guerreiro, uma campa olevantado : 4,
15

,, Ο guerreiro esté curvo sobre a cova Α.


,, Com o capacete, e por signal doirado .
,, Que luz como uma estrella, a cavarfundo:
,, Ρara quem não sei eu, Νο meu relance
,, Νao vilâmais ninguéné seimais nada. ,,
Αrdua, incrivel parece a infanda historia;
Μas os signaes... ouvirão-se, mas todos o
Virão na sala o cavalleiroignoto! ,τ,
ο Νάο cabe outro prodigio onde hajà estes?
,, Senhores, paladins, Αdolfo exclama, , Χ
,, Cadaqual diga oupen8e o quelheagrade; "
,, Οu eu me engano ou solapada astucia . . .
,, Νospreparatraiφάο: αμeumbrincoapenas
,, Seja tudo isto, he váo acredita-lo : -

,, Que n'uma forca occulta e sobre humana ..


,, Infernal ou celeste origem tenha - "..
,, Βem pόde ser, mas nao he certo ainda. ..
,, Segui-me, armas na mão, corramos tudo, ..
,, Cabe és damas tremer, e a nόs audacia. ..
,, De duantos aqui somos reunidos, a ",
,, Cavalleiros da Cruz, gual.ha gue aftoito..
,, Νão se arrojasse έs langas agarena82! ...
,, Ε os a quem mil exercitόs não turbáο, "..
,, Τremem de uns sons, de uma visäσ, deum homeήm! ..
,, Dado ofpasso primeiro o resto he facil; .
και Demol-o: cada qual tome ama dama : " .
,, De um anjo ao lado αμem teria sustos2 --
,, Longe receios váos: espada em punho -

,, Quemtemer! Vedealua, hebelloumgiro


16

,, Αgora pelo parque: em meia hora


,, Da noite no frescorse esvae a febre.
,, Demos o ex mplo, Ignez, -Τoma-lhe o braρο,
Ρartom, seguem-no os mais: bem quererião
Ficar d'elles gram parte e todas ellas,
Μas forca-os a vergonha, o medo as fόrga.
Fόrga-as o medo, hevasto,he denso o bosque,
Frio o ar, triste a hora, os mβchos pião,
Ρorém antes por lá com os cavalleiros ...
Que sόs nestes salόes abobadados, .
Vacaos, immensos, povoados de echos,
Ε inda ora impressos do soldado escuro.
Ρartirão pois: sό fica Οrlando e o pagem.
,, Senhor Conde, diz este apenas longe
,, Sentio dairhmensa turba ospés easvozes,
,, Ρerdoai, Senhor Conde ; hei-vos calado ..
,, Dosegredo uma parte, e a mais terrivel, ..
., Τerrivelbem quefalsa: ah! preparai-vos!..
,, Τende valor!... mas funestar-vos devo
,, Α alma paterna com iguaesabsurdos2!.
,, Νäο: de um pagem fiel não temaes nada...
,, Falleee em minha idade experiencia,
., Μas nunca se dirà que eu perturbasse . .
,, Οsvossos dias ultimοs!,, - ,, Αcaba ,
,, Clama o velho aterrado, acaba, pagem,
» Νέο me assassinem mais : guesabes! dize-o. »
-- ,, Sim:sim: mas... mãohenada. Gueterrivel
., 4 alludez vos demuda 2 oh! se ou soubera:..
4άνω-ιο disse he uma mentira, um nada,
Ι7

,, Uma pálavra s6.:ς Geos! por piedader


,, Α mim vos encostai..;;-,, Larga-me, falla,,
,, --Vossosjoelhos tremulos vacillâο! 5, 14 ..
,, --Falla,aemonio algozyoucaenoinferno .. ι

Gritaio Conde.furioso,, Οpagem chora,


Βeija-lhe aimão, sustenta-o nosseus bragos,
Ε diz, Jä eu voltava da capella . »". . . .
,, Quando ouvid'entre uns dentes due rangião,
., Μas nãoseidonde, έ8tas palavras roucas,
Chora Conde infalia, morreo-te αfiίha. : ..
,, Vedes yό82 ella vive! eu nada temo! η, Σ.,
,, Οufoialguem, ...ου medαem mim... αμeimporta :
.,, Ο αμe isto foi, seavossa filha existe2 .
,, Βomfoiqueeulhoocuitasse,eagoraosinto
,, Pelovosso terror., α-,, Εu não meaterro:
,, Vai, enche um copo, traze-mo: socega, ..
,, Νáo mefalies; mas fied-te comigo. " .
,, Εsperta-me essas toehas: fechatudo!,, Ε.
Αssim dizia o Conde, ea passo Ηargo ε"
Ρasseava inquieto, rapido: retumba " ". - ".

Seu pizo sό pelaerma galleria, .


Εsons do propridandarterror lheacrescem.
Senta-se: -,, Βagem, lembras-te de Ηenriφue!,,
-,, Μorreo na Τerra Santa hajά seis annos,
,, Lembra-mebems: não passa aima sό ήoite.
,, Queen não rezbίpor elle,, -,, Εra valente,
,, Ο meugρbrinho Ηenrigue!,,--,,Αos Ceos prouver.
ν Que ofossemeno!,,-3, hembras-te de συνίies.
., Contarda sua mυειθά, - : ΑΓπρmέζου 89'
18.

,, Longe dog seus no auge da batalha,"αι .


». Οhde mais apinhado andava,o turcάι: "...
,, Μergulhando em seu Εbano as espora8-..
,, Εaςoitando-o.com a langa, άredea sθlta..
,, Vρou, qual pé de vento, aό que diziâο; t)
,, Ρara traz em torrentes ondeaváο
,, Α cauda esparsa, as esvoagadas erinas. ."
» Εm quanto o virão, à direita, άesquerda ..
,, Ηia deixando um lastro ensanguehtado ..
,, De eadaveres e armas, veio escrito "υ
,, Que ao outro dia uns cavalleiros nossos'.
,, Junto ao cavallo morto, o achärão morto ..
., Com uma langa no peito e degolado: "
,, Εiso que ouvi. ,,--,,Εouviste o que hé verdade:
.. Ε dize-me, recordas-te que exequiasί
,, Lhe fizemos aqui 2 Τodoo castello, ο " ..
., Deiton luto, carpio, e orou porelie: οι "ι,
,, Τodos amaváo meu sobrinho Ηenriqtle, ..
» Νέο he verdade, pagem!,,-,, Senhor Conde,
,, Εlle era a fior dos nossos cavalleiros,
,, Ο prazer do castello, o nosso amigo:
,, Τodes nόs o adoravamost... agora
,, Νunca mais se ouvirános nossos pateos
,, Βelinchar o seulΞbano, já htanea : α. -
,, Subirà mais o heroe nosgas éscadas,, ί..
-,, Αssimo pego a Deos! Ηa gente sabia, ..
,, Οutraignorante: hunta otivistefallas ".
., De gente douta άcerea dos.finados2' ". " "
* Suppδas que voltemcά!,»-,,Diz-selqμε άevezes.
19:

,, Se viverão mä vida, e se hão deixado


,, Οa divida ou thesoiros enterrados . -
» Costumäο... -- ,, Βem o sei , não fallo n'isso ,
,, Fallo nos homens bons, nas almas nobres
,, Como era Ηenrique: os taes nao ereio, amigo,
,, Que tornem cé,, -- ,, Νem eu, mas Deos conhece
,, Οs segredos do tumulo,, - ,, Βom pagem
,, Fallas sabio ; mas senta-te ao meu lado,
,, Conversemos mais baixo. Ο que tu viste
,, Νa capώla a cavar, esse guerreirό
» Νάο era Ηenrigue, não.,, -- ,,Segundo entendo
,, Αté muito diverso em gesto e corpo.,
- ,,Ε entendes bem: nem era delle a falla,
,, Querouquejava entre orangerdosdentes2,,
-,,Creio... guenão: masn'uma vozcomoessa
», Quem pόae enιender nada! ! Εssas perguntas
., Μeaterrão, Sr.Conde!,,-,,Οh!nãohenada:
,, Ηe preciso entreter as horas mortas
,, De tão comprida noite: outra pergunta,
,, Ε nada mais: tu viste o cavalleiro
,, Que negrejava além2 . . Seu ar, seu todo,
,, Quando Ηenrique era vivo, era o de Ηenrique!,,
-,, Callai-vos, Sr. Conde, eudisscomesmo!,,
-,, Como! disseste o mesmo2! tu mentiste, -
,, Μentimos ambos. Illusόes do acaso,
.. Βrincos da natureza, engano de olhos....
,, Que sei eu2... jà là váo seis annos hoje!...
,, Impossivel! delirio!... Αtiga as luzes,
,, Εtoca no alaude alguma danga.

., Quehorassäο2,, -,,Vaibaterameianoite,,
-- ,,Μeia noite!!.hora má!!! gue importa! canta»
., Αté que eu adormega ou rompa o dia,,
Ρreza a voz na garganta, uma sό nota
Cantar não pβde o pagem: mas seus dedos
Εrrărăo longo tempo no alaude
Discordes sons, mas unicos na sala.
Α,

ΕΙΜ Do cΑΝΤo ΡRΙΜΕΙRo.

. . .. . . . .. "... ". * • - - -
21.

Α ΝοΙΤΕ Do CΑSΤΕLLo.
- - : : •ροαιξη»-- -- -
«Ganto Segundo
Η 7) Σ - ", f: "ν. Σ -

Ολι todos os lumes due alegraváο


δήατίας e arvoredo extinctos pendem. ..
Sό lé de longe a longe se embalanga . . . .
Ε retine da brisa ao solto embate ν!
Lampeao mortigo que perturba as treva8. "
Dorme submersa a lua em mar de nuvens. :
Cava-se o lago undisono, braveja, ,ο
Μuge na escuridão co'ossues, gue as solta8,
Αs chuvosas tormentas apregoáo. . . . . . . .
Τriste comoora vai, apraz άs damas . "
Μais que o castello o bosque: no castello
Sentirão-se os signaes, andou o espectro,
Οuvio-se o pagem!... cada uma agora i , οι
Leva um seu defensor e aperta um braς ο ί
Que fez morder a terra aos inimigos! ε ; "
Se o vento imita um grito, se despega ,
Do ramo onde pernoita ave aturdida, 1 : ""
Se um som confuso o ouvido ihe amedronta,
Αpplica-ο mais attenta;.. e sente a espada
Que nua em punho ahi vai riscando ociosa
Α terra ao lado seu: não ha nos labios "
Um 8ύ leve descuido, ou frase incerta,
Οs som devoz que d'alma indique σstranses!
Valor que a todos falta inculcáo todos.
Μutuamente enganados e enganando Α'.
Νo vao animo alheio o sen restaurao:
Falso commercio αμe enriquece a todos!
Ο medo igual a amor, igualao odio
Ηe como o fogo: se Ihe abris passagem και
Cobra forca, rebenta, arrasa estorvos, ... "
Ε a quanto o cerca em suas cores tinge;
Ρorém se eauto instinto o deixa occulto,
Μanso e manso enfraquece até que expira. Η
Εorca έ pois distrahir: razáo tãojusta !
Releva alguma audacia aos cavalleiros . .!
Ε do usualrigor dispensa as damas. : ο
Αmor pelo revolto, escuro bosque : :: -
ΙDisfargado em guerreira cortezia, . . . . . . . .
Vem dar soltura e novo assumpto as fallas.
Quanto he sagaz amor! extrae de tudo,
De veneno, de mel, de absinthio ou nectar
Sustento que scu faz, gue em si converte;
Εm triunfo os obstactalos transforma, .
Ε ao seu, todo o outro affecto escravo serve.
Νasce a conversagáo, recresce o intresse,
"Vai fugindo o pavor, já brota um riso.
Α occasião, as horas fagitiva8, . .
Α mercé do arvoredo, a noite umbrosa, " ".
Ε a seguranga co'o rugir dos ventos ι; " ,

Ε alto rumorejar das selvas amplas "


Väo dispersando aos que apinhava o susto. :
- 23 . . . .
Αdolfo audaή, ό temerario Αdolfo, Τ
Εncommendada aos mais de Ignez aguarda,
Τinha-8e ido sem lüz, sem companheiro
Contra a capella gothica, ronda-la . ".

Ε profundaro arcano: ao perto, ao longe


Τudo correo, sondou; socego he tudo. :
Νão se escuta alma viva, o templo, a torrε
Τacitos dormem, jaz fechada a porta,
Νegro o recinto, a alampada sem lume.
Volta portanto, e ά turba que o rodeia
Α boa ήρva dá; tão fero em vozes.... "
Τão seguro de si, que estas certezas
Εmbebidas os animos afagâο;
Μormente a Ignez, que mais afoita agora.
Ρelo braςο fiel doesposo invicto -
Jä soffre no aryoredo extraviar-se. .

ΙΟe alta espaςosa rua abre-se ao fundo .


Αmpla cabana de perenne folha, " , και
Α' lua, ao sol, aos zephiros vedada; . . . . . .
Correm-lhe emiroda assentos de cortiga;
ΙDevisinha cascata, due espadana
Βota, espumosa, vem-lhe todoo anno
Viφο, frescor, murmurio: as pombas amάου
Εste abrigo cheiroso; uma sό noite ,μι --
-Jämais esquece em Μaio a Filomela κι !
Vir d'alli gorgear ternura aos bosques: ί
Ιαυgar suave à mente, ao seio, aos olhos! Η
Como se busca a patria, os amadores και
Chorando ouledos procura-lo viήhäο;, υ"
24

Confidente, calado, conselheiro, .


Βenigno e protector, ha largos annos :
Que dos fastos de amor grão parte esconde.
Αcceito a mocidade, acceito aos velhos, ο
Οra σfterta σdeleite, ora as saudades. " "
Quantas vezes a Filha do Castello :
Αli vinha sem aia! ali usava . . .. .
Νaquella mais formosa parte do anno,
Εm que o amor paipita em cada veia,
Se exhala em cada voz e enfeita o mundo,
Vir, αμando o soljά cae, jά sobe a lua, Α.
Lua de amor bemquista medianeira, . :
Lua espreifada entre arvoredo ao longe,
Sentar-se livre a delirar, não vista, ι: "... "
Juvenis ancias d'alma! Οh! quem soubera
Εscrever as porfias solitarias . . . . . . .
Daquelle delirar! Seu dessocego, ε"
Seu a revezes cambiar de cores . . "
Jά pállida, jά rosa, orvalho de olhos υί
Sobro longo sorriso, e o mui penado to'
Suspirar cσm que a espaρos se encostava,
Daváο mostras de muito: e aquelle muito".
Queencher podera a châcara mais triste,
Νunca o soube ninguem: talvez memorias
De infausto amor, talvez tambem saudades
Damäique a tanto amou; sim porquejunta5. .
Εm quanto ella foi viva, alli se estaváο ί.
Séstas gastando em praticas de amigas"
Sobre os deveres de donzella e dona,
25

Deamante esposa emäi, nutrindo esprancas


Com due.inda mais no coraφάο da virgem
Ο filial amor fora crescendo. . . . ..
Αlitambem Αdolfo muitas vezes --

Sό, com a sua mandύra se entranhava . "


Ρagando ao sitio enlevos de ternura … "
Com louvores de Ignez; na ausencia della i
Sό esta solidao, gue a miudo a goza,
Completa lha debuxa a fantasia. " " .
Ρor gratidão e affecto ά mata escusa , " ..
Ρara ali sob a noite o forte Αdolfo .
Vai conduzindo Ignez: porque o não sinta,
Νem suspeite de amor subtil cilada,
Conversando a distrae, de amor não falla..
Εrάο junto da entrada: absorta a dama .
Ρára e emudece, ou timidez nativa . . . --
Ωue de um assalto proximo estremece, ..
Οu do frondoso alvergue.esquivo ao mundo
Sedugao tanta vez exprimentada, «.

Οu antes um presagio... um medo ás trevas


Ι.he grita dentro na alma ,, Ignez recua,, ..
-,, Εntremos,dizΑdolfo,eempazteassenta,,
-,, Νäο: he tarde, outro dia, meu amigo,
,, Οutro dia,, --,, Εm dezdegoas de redόhdρ
,, Sitionãoha maiscόmmodo!,, -,,Ρartamos:
2, Τemo.. --,, Que temes tu !! πάο sou cόmtigo!,,
- , Τornemos ao Castello, em todo o parque
., Jά talvez somos unicos... -,, Εhtromo8...
.. Um 5ό beijo... um 8ό beijo além colhίdo.
26
», Νesse duro sofä, jà leito brando
,, De teus favores ultimo8...,, -,, Αdolfo
,, Αmankä serei tua.,, - ,, Ε's hoje minha,
,, Ιgnez, o tempo νύa: um leve instante.....
Dizia , e parte a custo e parte à forga ,
Com pé tardio a timida beldade
Εntrava palpitando as trevas grossas,
Co' as mãos e ouvidos tenteando em torno.
Junto ao musgoso assento, ,, Αdolfo! Αdolfυ!
,, Que pretendes2! exclama, o beijo toma-ο;
,, Τornemos ao castello, as mais voltärão
,, Jä agora todas, αυe dirão se eu falto2
., Ρoupa emmim nao Ignez, mas tua esposa.
., Αlgumas horas mais... e tudo... e sempre...
,, Pära! escuta! senti..,, -,,Βaldada astucia!,,
--,, Päraemnome dos Ceos! cruel!meu pranto
,, Μονεr-te jά não pόde2 άs tuas preces ,
,, Νάο cedi aquimesmo honra e virtude2
., Ε ás minhashojeum teuprazer nãocedes2!
,, Οh! minha mäi, se vβs a tua filha, -

,, Semão gradoaomeu crime indame quere8,


., Lά dos Ceos me 86corre, ou tu meuΑnjo,-
,, Guarda invisivel que me Deos ha posto,
,, Vale-me neste aperto. Οh! Ceos, no dia ,,
,, Εm que purificada aos pés das Αras : ..
,, Recebina alma indigna o pao da Vida, ..
3, Μeus protestosa Deosdest'arte os cumpro!
ι, Dé credito a meu susto e a meus terrores,.
"Com taes queixas Ignez se debatia
Υ
Εntre osbragos de Αdolfo; o qual de acceso
Νada jà lhe escutava. Um grito agudo .
Da boca afflicta pela mata voa,
Ε apoz elle nem voz! Sentίra a tristo
Μuito perto uns anhelitos penosos,
Ε sons de um coraςão, batendo aos pulos.
Sem o querer, tocára um corpo e armado,
Frio, occulto, e a tremer. Αo toque, ao grito,
Ωual morto, a quem nocturna feiticeira
Εaz saltar de seu tumulo aturdido, ..., ι,
Subito surge o estranho e arranca aespada:
-"Levantoa luva, arma-te e morre,,-Αdolfo
Desnuda o ferro, Ignez cae fulminada, η
Ο amante esquece o prigo, a espada arroja,
Corre a salva-la. Um braρo irresistive! ::
Τrava do seu, o empuxa, Θ fόrga a rastosί.
Τ)a escura rua ao longo. Εntrado apenas
Ν'uma larga clareira entre a espessura, ..
Οnde um pouco de ceo branqueava a noite,
Αaolfo he solto: a espada lhe apresentäος
Οlha e conhece... o espéctro da columna!
Pasma, eriςa-se a coma, a voz lhe gela , .
Ε um frio estremegéό Ιhe abala osmembros!
Ρareceo-lhe sentir o Αnjoinvisivel . . . .
Dos cemiterios rei, tocar-lhe no hombro,41
Dar-lhe no repellâό fatal presagio. : 3. :
-,, Das bellas fior e inveja a proclamaste :
» Ιnveja e fior em que? no aspectoιού na alma ,,-
"
"» Νa alma e no aspecto, "ε γcsponde Αdolfo,2":
28

Que ao som da humana voz audacia cobra,


,, Disse-o, digo, e direi --"Μentiste,, -- Provo-o,, --
--,, Defende-te ,, - Εis a frase derradeira
Que entre elles houve. Οs bosques acordάrάο,
Ε amotinou-se a noite ao repentino
Cruzar de ferros, tropear de plantas,
Ranger de dentes, retinir de golpes.
Logo ao continuo horrisono fracasso
Seguiu silencio fundo. Αssim fenece
Ο som dos enxadόes n'um templo escuro
Depois de recalcada a ultima terra
"Do morto, que encarcera eterna lagea.
Ο agudo som do estrepito longinquo
Resoou no Castello - " Αrmas no bosque!
Βatalha-se! bradou primeiro Οrlando. ,,
Ja então pelas salas toda a turba
Εntrando vinha, e mais serena em rosto.
- " Α minhaΙgnez, lgnez! inda a nãovejo!
** Ιgnez, a minha Ignez, não veio ainda!
"Οrueis! porque a deixastes na fioresta
" Εm noite assim 2 Αminha espada e langa;
"Ρagens, a minha espada. Αccendãofachos,
"Corrάο! Voai, Sehhores Cavalleiros!
,, Μinha lgnez 1 minhafilha ! Ο' cás, όmorte!,, --
Diz, eaedusa deinerte ao pagem destro
Que despendura a apo8entada langa,
Α' ήmão em que foi brinco, agora carga.
Rapido andar, clamor femίneo, ameagas
Restrugemar tάρ ledotha poucas horas.
De toda a parte as laminas fulgentes
Lampejao morte ; arrancáo-se e divagio ,
Grossos brandόes a melhor uso accesos.. :
Destrancao-Sejanellas que revelâο. . . . .
Τodo o escuro da noite e horror da briga.
Οs lampeόes de escadas, corredρres, , ,
Girão nas mãos dos Servos perturbados; "
Ν'um volver de olhos a ululada estancia ,"
Εntregue άs damasfica. Εntrava oparque
Ο alumiado, armigero tumulto,- ε,
Quandooestrondodeu fim-«Convem que soltos
"Βatamos todo o bosque, Οrlando grita:.
"Se o teamerario outemerarios virdes, ί
" Com vida.ou morte os quero,, --" Α'φuella parte».
Εra o fragor, diz um. Junίο ά cascata ,,,
Cuido queera, outro diz..- Ιncerto he ο τμmo. .
Debandãorse, alumião, girão, correm
ΙΟo bosque os8eiosintimos- "Αcudão!" ..
Ηomemmorto!ω,-Um tropelacode. Ηeelle!
Αdolfo! enadaemsangue! Οh! quáodisforma
Ε duao mudado d'esse antigo Αdolfo ! --
Ο capacetee o craneo,estãofendidos, κτυο
Juncăρ a terra.aspégas da armadura, +ίον
Ο rosto, o peitooJam negros rios se abre:ί
3az emfim banfoamoxoeitantoorgulho!: 157'
Ρe dua8 horas.gέmaasjeatprimeira υ. -
Αo banquet8,da vida.oachou faig4ηde:ί"
Gheio democidade, ebrio de esperangas;"
Αoutra ziofexar se ena "εια", Ιω} Α
Ο

Sua doirada historia, e trοnco inutil
Ο deixa a compaixão e horror dos vivos!
Εundo silencio extatico domina .
Α turba espectadora: indifinivel,
Simpathicointeresse impressoaos mortos!"
Dor sem ais, dor sem lagrimas, dor negra
Μil insaciaveis torvos olhosprende
Sobre o quadro infernal, de autorignόto.
Sό ao geral torpor não cede Οrlando,
Sonha no mal gue observa um mal αυcignora :
Vε Αdolfo estendido e Ignez nao acha.
- " Ιde, correi, buscai a minha filha, ''
" Βuscai, ide, correi! Se a não achasseis...
" Αntes que a nova, remessai-me aslangas!
" Οh 1 se a encontrais, negai-lhe o que estais vendo.
" Αdolfo, ondeficou aminhafilha 2"
Ρorque a trouxeste &quit porοue a deixasto !
" Ρorque !. ... - ,, Dissera mais, se s etiste abrir-se
Οs olhos, se voltar-sea custo a fronte και
Do misero nãovisse. Αproximou-se:
- " Ιnda respira! agua depressa, he vivo!,,-
Corre-se aotanque a encherum capacete, "
Voltão voando, innundãρ-no: déspéga !... .
Εundo suspiroemfim! Αcorda e admira
Τanta luz, tanto rosto, um bosqueenoite!
-" Quefnfoitea matador? exclama Οrlando:
"Ignezhenossa oumorta? hed'étle ou viva 2
"Guem ma puba & ondeestάguatkaureamiήhoλι. -
Α tal claraorseabrio entreeortada s4u"ο Α
ΕΥ
31

Αvoz languida-- και Αlguem, se inda ha piedade,


"Salve Ignez se inda he tempo!... em quanto eu pude
" Defendi-a, e por isso me assassinäο,
" Αi! vamo-nos, a terra muge e treme!... .
"Εstes troncos desprendem-se!... apagai-me
"Εssasluzes...ΜeuDeos!fujamos! Vede-o...
" Ο Cavalleiro negro!... ,,--Αs mãos retorce,
Volve-se a um lado, e num solugo expira.
Βrandão na esquerda, na direita a espada,
Νuas as cás, o triste Ρai transvoa
Αdui e ali: vai, torna, sobe, desce,
Μultiplica-se, assoma em toda a parte,
Βradando ,, Ignez ,,,e pondo o ouvido aos echos. .
Sentio junto a cascata um ai dorido :
Corre ao visinho albergue: a luz e o ferro
Μette adeante, eavanga. Ηe ella!! he sonho"!
Ρor terrajaz, inanimada , immovel,
Submérsa em pallidez, féchada a vista:
Μas não lhemancha sangue o albor da veste.
Ja menos infeliz co' a filha em bragos,
Viva ou morta , elle a tem, e a aperta ao peito,
Τenta-lhe a medo o pulso, escuta a boca:
Α boca inda respira, o pulso bate, ν

Ja he Ρai! Remogado co' a esperanga,


Submette ά pia carga os hombros debeis:
Ε ora invocando auxilio, ora excitando-a,
Sό, curvado, anhelante, aolar se arrasta.
Como rosa em botão ceifada ά planta,
Εm quente mão de rustico definha,
c 3.
32

Ρepois recobra na agna o vigo, as cores:


Οίι como passarinho esmorecido . . . .
Νa rede que o tolheu , sea Μai pressente
Εstremece, renasce, esquece as malhas,
Pipilla, αυer voar, suppύe-se livre:
Α' doce voz, doce halito paterno . . "
Τal volve Ignez a si, ao mundo, a Αdolfo.
Αi d'elle! que onde estája lá não chega
Εsta voz meiga que encetou a vida
Chamando-o seu Adolfo! Αφui se aclara
Νa alma do velho o espirito do agoiro :
Foi profetica a voz due ouvira o pagem,
Choγα Conde infelis, morreo-te α filhα /
Sim, sim, diz em si mesmo, em 8eu eSpo80,
Εm seu amado, em seu Adolfo he morta!
Μas se amor no que he seu pόde illudir-Se,
Α certeza fatal ser-lhe-ha roubada,
Αo menos differida : a Τerra Santa...
Um chamamento ά Corte... amores noy08
Se tanto for preciso... e até repudio...
Ε até outro consorcio... arme-se tudo,
Creia-onão sen, mas nunca osaiba extingίο,
Ε maldiςão perpetua ao gue a desvende!
Com tão piedosointento se occupava
Α alma paterna, em quanto mudamente
Αbraga a filha, que lhe pede o esposo.
,, Cedo virã: que tremes tu 2 não temas,
,, Vé teu Ρai: olha os muros do Castello,
., Τudo està em socego! Εncosta όfilha ,
,, Ο teu rosιο ao meuhombro, evem tranquiΗa ;
,, Ο brago meu te sosteré,, - Ja sobem,
Ja do quarto de Ignez ά porta chegáο,
Οnde o horror dos salόesjuntara as damas.
Εntrão: furtivo dedo encosta aos labios
Οrlando, e αue se ausentem Ihes supplica.
Ignez as vé sair, senta-8e e pasma.
Αhi a deixa o velho : pressuroso
Correa chamar Leonor: por alto a horrenda
Catastrofe lhe narra, e impoem segredo. "
Μenos aia de Ignez que amiga 8ua, και "
Τremeu , vcoιι i eonor. Αia corno ella
Νunea servio Castello. Uma cabana
Visiaha a vio nascer, ha sό vinte annos.. "
Ηerdou dos pobres pais, gueja não vivem...»
Virtude: herdou da Μai ternura egragas,
Νο demais indigencia. Οrfä, menina,
Τomou-a o Conde: come o pάο alheio. . ."!
Μas como lar paterno ama o Castello, -

D'onde a choςa em ruina avista ao longe,


Corre pois assustada: e quem.como ella ,
Ρode avaliarda ama o estado e as penas,
Οu sentil-as mais dentro 2 Ιgnez ao vel-a
-- ,, Vem, vem, minha Leonor, fielamiga,
,, Αbraga-me, lhe diz, se te eufui cara ,
,, Νunca me deixes, nunca, o ceo negou-te
,, Uma irmä , da-ta em mim. Veso meu pranto ?
,, Αh! tem dό do meu pranto. Pelos restos
., Da tua cara mäi, pelo sepulchro.
** * * , α. 4 : : "
34,

,, Deum pai quete adorou; pelosteus filhos,


,, Se um dia os devester, onde esté elle 2
,, Μeu Αdolfo onde estâ2 Sabes se eu te amo,
., Se em ti mefio, não me enganes, falla.
Leonor.
Senhora, o Cavalleiro... mas sentai-vos
Ε Socegai. . . . .
Ιθnez.
Νάο ve-lo, e que socegue 2!
Leonor, Leonor, o peitomo adivinha,
Ε ο teu segredo mata-me. .
Leonor.
Segredo 2!
Εu segredo, Senhora 2! Ρois que à forga .
Guereis sabel-o... o Cavalleiro trota
Τalvezja agora para la das sérras.
Ιqnez.
Ρela primeira vez mentir-me dueres ;
Que foi fazer2 gue subito motivo
Ο arrancou a taes horas do Castello,
Εm tal.dia, emtal vespera 2
- Leonoν.
.." . " Vόs mesma " -

Lhe dareis não desculpa, antes louvores ,


Chegou-lhe a toda a brida um mensageiro
De suairma Βeatriz; seu Ρai n'esta hora
Τalvez não viveja.
-- Αlguns momentos
Ρensativa άjanella a dama esteve -.

Οlhando os ceos e os montes; inda inquieta


\ 35
Vaga desconfiangaarόe por dentro: "ης:
Duvidar, ah! nao ousa e erer naopόde. . . )
Uma a uma asidéas apagada8 . . . . . . .
Lhe vemsurdindo na alma, emfimlheavuita
Α mais confusa, a maisterrivel d'ellas. . .)
--,, Μentiste-me, mentirão-me, vogeia ; 'ι'
,,Αlguem queignoro moarraneou dosbragos,
,, Οανinãoseique ameaga e estrondo de arma",
., Depoisperdi-o, he morto!Αdolfo, és morto!
Leonor.
Νao, em nome do ceo, Αdolfo he vivo, ""
Νο duelo do estranho obtevea palma., η
Τendes de o ver, vivei para ser sua ;; . .
Νao estragueis com lagrimas uns olhos,
Οue tão caros lhe sáo, tão lindoseio : : 1. "
Νão firais αμe heja seu, ja nao hevosso.ε.,
Crede, Senhora, volverά; nao tarda ,
Que inda agora partio: e que tardasse 2" "
Suas letras de amornao tardariao.
Εxpellid'almaideias importunas.
Οlhai o nosso lago, olhai quefrota , 3
Vai do cάes do Castello abrindo as ondas!
Ρor hoje a vossa festa está desfeita.
Οuvi... ja se ergue a ponte levadiga:
Ρraza aos ceos vezes cem mandar tal dia.
Νao, a vossa Leonor e o vosso"Αdolfo ,
Νada mais pedem. Ρorfavor voltai-vos, -
Οlhai o pégo ao sul: comonosfogem
Α remoe à velaas barcasem cardume!!
Ο 5
36
Τantas luzes fervendo abaixo e aeima
Que reflexos tão tremulos, tão vivos
Dao pelas serras d'agua due rebentäο!
Νão pensaes νόs que he susto de tormenta
Que as faz voar tão rapidas 2 Εu vejo
Τodo fechado o ceo: se não me engano,
Αrma-se la por cima horrenda noite.
Οh!Deososleveembem, gue cheguembreve,
Que este lago ja tem bastantes mortes!
Ιqnez.
Μas o dobrar da torre 2 aquelles sinos .
Νão fallavάο comigo 2 Αh! minha amiga
Ρresinto que me espera um grão desastre !
« - Leonor. . .

Μui timida sois vόs, agora o vejo;


Ρorque um sino tocou ja säο desastres!
ι" Ιqne".
Μas quem o feztocar 2
Leonor.
- Uns montanheze8,
-Segundorouvi dizer. Α"

... αυ 5 Ιgne".
: -- Ε a causa 2
. Γ. Leonor. ζ,

... ". Οu vinho...


ζuem sabe2 outalvez antes... Recordais-vos
Όe onvir a vosso Ρai, gue os das montanhäé
Εrão de seus vassallos os peiores, --

Ηebeldes ao tributo, indoceis, feros 2 . :


"
37.
Vil-o-hião fazer sό pelo gosto
De nog dar susto e perturbar a festa.
- Ι9ηβα.
και Ε o espέctro da columna, (inda estouvendo
Ο talhe, o rosto occulto, as armas negras)
Εoi tambera montanhez 2
Ιeonor.
Τalvez seria :
Μως fosse ou não, que importa um louco ? havemos
Μortes sonhar", ver um rosto occulto 2"
- - 7ίβ%,
Chamas-lheum ταώρcculto, e 8ό Deos sabe
Α gue veio, quem he, que mundo habita.
Lβ0nor. ,ο
Νão digais isso, não chameis os mortos!
», 1 Ι9nez.
Ο templo està cavado, a mão divina
Jariscou algum nome: o esse guerreiro
Co' ο capacete d'oiro, abrindo a cova,
Se Αdolfo o náρινίuja, o pagem vio-o)
ra algum montanhez 2 Leonor, existem
Μuito mais cousas do, que os livros resάο,
Leon0γ.
Ε νόs credes na historia perturbada
De uma crcanga tfmida 2 foi sombra
Ωue viuono templo: a alampada apagada,
Εronteira da que ardia, affigurοu-lhe
Όm capacete de oiro. Ωuantas vezes
Τenho eu tido de noite και ποια Ι
Ο
38
. *
Ιqnez. . . . . . . . . .
Βem, bem, tu nada temes; ingenhosa ,
Εxplicas tudo , e o rosto te desmente.
- : : : Leonor. * "ο .

Αfastemos, Senhora, estas conversas; . . .


Τoda a casa já dorme, as duas horas
Derão ha pouco, precisais descanςο.
Οuvi... la caήta ogallo; oh! como he tarde!
Quereis que eu vos destouque 2 """"""
"υ ι: Τι (destoucando-a) 3 ε" " .
« . . . Εsta grimalda
Μuito bem vos ficava : as acticehas ". "
São da pureza, as rosas da ternura, "ε"
Ο todo o vosso emblema.. - -

"οι υ" ο ο Ιηnez και ο 5ο "


"Αo lago atira
Εssa grimalda impropria, que me pésa : ο
Cothouma reprehensäος o abysinoa efigula
Ν'estanoite fatal, em que a alegria -
Ε as esperangas me desertä6 d'alma. ι , )
" Ι.e0η 01." " " ..." "
Volver-vos-häο com o solas esperangas,
Com Αdolfo a alegria. . . και "-

ε" : " Εθtiez. : : " " ". " :


": i. "". "Είs o meti einto;
Ο cavalleiro mo gaboti: se eu morro t».
Τu mo porás para ir comigo a cova. " " .
- " , Leonor. 3: "" .
Η -με και τη... διαφείαs einbrnnoaa, ιι.
υ "
39
Νa nossaidade a vidainda amanhece: " "
Ρorque uma nuvem lhe desfeia a aurora,
Τem de ser curto ou tenebroso o dia 2.
Οh! ηue inda νόs heis de cerrar meus olhos,
Ε eu guero viver mmito, ". Η ε ί (;
-

"... . .. . 1mez, " .


- " " Νο teu peito
Νao habita o remorso, e quando amares
Serά uma sό vez, seré sem crime. . α.
Ρara trocar com a tua a minha sorte :
Dera eu tudo e ametade da existencia, υ".
ΟΙha o mundo como he! minguem te inveja,
Νão tens um trovador, vives obscura , , " .
Μοrrerás ignorada : e tantas damas,
Ε et mesma a quem tu serves, nada somos
Comparadas comtigo ! Α consciencia . .
ΕDeos pésho deum modo, o mundo d'outro.
Ρura o mundo me cré, ea alma de Ηenrique
Μe aguarda ao Τribunal da Οmnipotencia,
Do meu perjurio accusadora horrivel. "
Εu to confesso: o espéctro, δu cavalleiro .
Οu montanhez, αμe hei visto, horrorisou-me,
Ε poz-me, nãosei como, Ηenrique aos olhos!
ό," . . . . . . . Ι.eom.0γ.." . " (;" " και " .
Come! sempre esse nome 2 amail-oainda 24:
Senhora , inda vos resta um sentimento ί
Ρara quemjά não vive2! Οs do outro mundo
Pedemnos oraφόes, mais nada guerem; :
Νem se ha de ήojardim plantar cipreste, 4
ν.

Νem roseira στη Sepulchro,


Ιqnez. -

Ο que ha ca dentro
Νão to sei eu pintar! Αmei Ηenrique
Com a abundancia, o extasi, ο delirio
De um virgem coraςão, immenso e ardente,
Glue ha muito sonha um Αnjo, acorda e o acha.
Ν'elle encontrei, confesso, iguaes extremos.
Εilhos de irmãos, e quasi irmãos na idade,
Νa educaςão, em habitos, em gostos,
Jurämos mutuamente amor eterno,
Sem restricρόes, sem clausulas, jurämo8
Αté viver leaes um do outro έs cinzas.
Μinha Μai, (bem podera dizer nossa,
Ωue hem sabes se o foi) madura em annos,
Αmava esta uniáo, temia extremos;
ΙDa promessa ametade Ihe aprazia,
Τemerario era oo mais:
Ε tempo longo razόesvencida
fez: porém lhe oppunha, και

Domuito amar de Ηenrique, annuiopiedosa,


Εoi testemunha da insensata jura, . . .
Αprovou-a, e nos ceos comsigo a guarda,
Αo partir para a guerra, no amargoso
-ΙDo ultimo abraco, em lagrimas rgando
Εuseu peito de ferro, elle o meu seio,
Renovámos solemne o antigo voto. ...
Ves este relicario, o companheiro
Do coracáo materno em toda a vida,
ΕΡor ella ao morrer a mim legado, ,
41

Ε doce escudo meu vedado aos olhρs 2


Ρois sobre elle, um e outro os labios pondo,
Τornámos a affirmar inteira inteira
Ρor vezes tres a sacrosantajura.
Ο cέο, a terra, o inferno em testemunhas
Ε em vingadores deprecémos : fez-se
Voto, ai de mim! que dentre nόs o morto,
Τrahido em seu amor, perseguiria
Νο mundo e eternidade o vivo ingrato,
Ρartio, ficou vasio este Castello,
Ε eu sem tino, sem luz, 8ό corpo errante
Cuja mente vagava estranhos climas!
Δeonor.
Por que vos affligis com taes memorias?
Νάο sei eu tudo 2 assidua no Castello
Νão vi eu dia e noite o τosso pranto 2
Νão vi com que alvorοςo recebieis
Αs cartas do Οriente 2 guantos beijos.
Ιhes daveis, αμantas vezes se reliáο 2 Α
Ωue digo! não vi mesmo o vosso ausente
Ρrevalecer a nόs2 a nύs, continuos.
Εm vos cercar de não menor affecto!
Τudo então vos canςava: aqui fugieis
Ωue eu vos fallasse: a passear no bosque
Descieis sό; passaváo-se as seminas
Sem que os vossos pavόes, cysnes, e fiores
Lograssem ver-vos.... perdoai Senhora,
Μas afé nas pousadas da indigencia
Vosso pao não falfava e Vύ8 falfaveis». . .
42

" . . . . . . Ιqnez,
Sim, por minha vergonha sabestudo.
Ηe para me humilhar que hoje o confesso
Αti, ao Deos que me ouve, e à sombrainulta
D'esseinfeliz trahido: ah! possáo elles
Como tu me perdoas, perdoar-me,
Ν'esta hora pavorosa, em αμe presinto... .
" Leonor. . . -

Senhora , basta jά. " .. . . . . . .


Ιqnez. " " .. *
-ε * ** Νάο, falta o resto
Despreza-me, Leonor, foge-me: virgem
Νão profanes em mim teus olhos puros.
ΙDe sua morte ά nova eu dei meu pranto,
Copiosissimo pranto, ignal, não menos
Do que oja dera aotumulo materno.
Devéra durar sempre, a mão de Αdolfo
Veio enxugar-mo. Αideia do meu voto και
Αterrou-me ao principio; e enfraqueceo-se!
De dia em dia, de hora em hora a imagem
De Αdolfo, a quem debalde repellia, ι
Νão sei como teimosa e seductora
Μe foi ganhando o peito! Εra primeiro
Α' de Ηenrique inferior, não me deo susto:
Cresceo sem o eu sentir: em pouco tempo :
Wi-as iguaes, tremi: mas foija tarde. Τ. :
Ο vencedor entrava triunfante. "

Ρor este coracao, donde ia expulso


Εm fuga Ηenrigue, as juras eos remorsos;
43

Ficou senhor do campo e eu fui perdida!


Μas que podia eu mais 2 d'aqui meinstaváο
Αs paternas razόes, o ardor do amante,
Οs planetas, d'ali me fallecia
Α antiga a tão chorada conselheira.
Τu que ignoravas meu solemne ajuste,
Μeinfluias na insania, o monge austero,
Ο queemnome de Deos me absolve asculpas,
ΙDos ceos em nome permutou meus votos
Εmjejuns longos e oblaφόes ao claustro.
Um genio inspirador e algoz dos crimes
Μe guia desde então, me observa os passos.
Céo, inferno, pudor, teu proprio exemplo
Calquei tudo, arrojei-me ao precipicio:
Αdormeci no fundo e acordo agora!
Νάο, nάο culpo a ninguem, ceguei-me eu mesma.
Santos restos dos Μartyres que adoro, * * ν

Μaterno dom, thesoiro do meu seio, - ".

Vόs o sabeis, meu coragão de todo, -

Μáο grado άs oblaςόes, esmόlas, preces,


Νunca perdeo de um voto a consciencia.
Αdolfo, Ηenrique, um e ρυtro adoro, offendo,
Αmbos sois meus, Εά ambos: repartio-se
Ρor milagre de horror minha alma em duag.
Uma toda paixάο, outra saudade: κ

Εscura mas ardente a que he de Αdolfo,


Α de Ηenrique serena, ingenua, casta.
Ο' de amor puro, imagem deleitosa,
Αmavel innocencia! a due te perde . -
\
44

Ρerde o perfume da alma , as harmonias


Reveladas do cέο! esses amores *
Rosas säο, αιue inda murchas embalsamiίο;
Τambem o crime as dá, talvez tão bellas,
Τalvez mais, mas veneno he seu effluvio,
Seus espinhos säο barbaros, e murchas
Τornáo-se em peste: passäο como um sonho
Οs prazeres do crime, e o crime fica!
Deos, apaga emminha alma estes dousfogos:
Νio sou nem deum nem deoutro, Ηenrique he mortό,
Ε eu ultrajei Ηenrique: Αdolfo ao crime
Μe arrastou, e a ser sua oppόe-se um voto,
Leonor.
Senhora, eu não alcango, mas tremendo .
Ρarece o vosso estado. Α και
*, Ι9nea. ί
Ε tanto e tanto .
Que se fora sem fim seria inferno. :
Leonor.
Μas por que não orais 2 Οpensamento
Voltado aos céos aclara-se, adormecem
Α8 penas, volve a paz, o somno, a espranga.
". 2β2, - -

Αssim he para ti!. Ja houve um tempo


Εm gue sentia o mesmo: era eutão virgem,
Τάο pura como tu: corria a solta
Como em largojardim na vida alegre:
Νem medo nem desejos me afanaváο,
Νem saudade ομremorso, em cada hora,
-4
«" -

"τ-, , ,
45
Τinha a existencia toda : olhava a terra
Com muito amor, os céos com alvorogo:
Viver aqui ou la, no meu Castello
Com meu Ρai, ou no Céo entre os mais anjos
Εrão dous bens, e eu não temia a morte. *
Ν'esses tempos orava: os meus affectos, -
Que inda entao erάο meus, minha pureza
ΙDaváο ά minha voz um certo encanto,
Εum voo affoito a Deos: era um commercio,
Εntre uma filha eum pai; deamorfervendo
Vcava o pensamento antes da frase.
Säe hoje a frase a custo, e desleixado : "
Οu timido ou profano o pensamento
De longe a 8egue, e em meio a deixa errante,
- Μ.e0nor. - : : .. .. .
Μas orai: a oraφάο frouxa ao principio
Ρόde-seir pouco a pouco afervorando:
Com Deos pedir-lhe a graga he tel-a certa. :
Ι9nez.
Sim, resarei: porém, Leoηor, tήo nova
Ιr da terra natal a um mundoignoto2... -
ο Deixar tudo, prazeres, esperangas, -

Corpo, sentidos.,... tudo: e desvalida


Ρobre alma ante o Juiz chegartremendo2...
Αh! que o trago he defel! Leonor, seeumorro
Εncommenda-me a Deos de dia e noite, ..
Ρromettes ? .
μ, Ιeonor. ι:

Sim prometto: mas lembrai-vρs


46

Que a noite e a solidao terror produzen,


Ε αue o terror delira.
Ιqnez.
Ιsto he delirio 2!
Οxalâ! säο avisos do meu Αnjo
Que me diz =Εis a noite derradeira =
Leonor. "

Vede o mal que fazeis fallando nisto:


Εis-vos ahi jà pallida . . . «

19ηe".
Βem sinto;
Νão importa. Αproxima-te, não quero
Contaristo em voz alta. Αssim . . . mais perιo. . .
Βem! Μas ouvee não falles. Αntes d'hontem
Εra sol posto, eu vinha do passeio...
Εspera . . . gue δuvi eu nos corredores 2!
Leonor.
Ηe vento a assoviar. "

Ι9nez.
. Ο' minha amiga,
Corre outra vezasportas do aposento,
V6 se estão segurissimas.
ε. Leonor
(Depois de ter eramϊnado tudo σ#α-
υer-se demorado αιηuns momentos fόrα dα
φονία ao corredor. " - -

Seguras
Θuanto he possivel: o rumor que ouvistes
Εrão no corredor pisadas leves
47

Do Senhor Conde, cauteloso vinha


Ver se dormieis ja: não quiz turbar-vos.
Sua benςão vos manda e sonhos ledos:
Εagora, eis-me outra vez, sou toda ouvidos.
Ιqmez.
Voltava do passeio, era sol posto:
Αo passar pelo templo namorou-me
Ο murmurio dos alamos, que em roda
Do adro quedo ehervoso se encrespaváο:
Ρarei para o gozar. Como o gozava, -

Lembrou-me Deos e minha Μai, ajoelho


Νa relva, contra a porta entäο fechada.
Levanto as maos, o pensamento, os olhos,
Ε torno a orar comjubilo, senti-me
Τransportada aos meus dias de innocencia!
Leonor, gue estrondo he este ?
Leonor.
«. . . . . Εubem dizia
Ωue se armava nos céos horrenda noite.
Οs tectos tremem: muito haia que ao longe
Senti este trováo andar rolando. . . .
Ωue
Ε relampago,: ",ό "Deos!
prosegui. . . ...
Τapai os ."olhos,
-", " .
ν. " "

" " " " και " Ιηnez. "3

ε" " . " Αbraga-te comigo:


Sβ meu Αnjo da guarda: eu temo o raio,
Τemo tudo, Léonor. . . .. . . . .
34,7"29ί: ". " οι Αeonor. . .. . . . ι,

ει" ο " " . Νάοtemaes nada. :


48

Ja cάe chuva em torrentes, foi-se o prigo:


Ρrosegui. Αnte o templo orando estaveis,
Ε depois 2
Ι9ne".

Vi a porta abrir-se, e um pobre


Sair co'os olhos humidos, saindo
Sumio num capuz negro guasi inteira
Α fronte e as faces pallidas. Τao claro
Comρtu me estás vendo, inda o esteu vendo!
"

Leonor. 4

- - * .

Μas gue disse ou que fez 2 -

- - ; -- . . και

. ., Ι9nez.
Logo que a porta
Como d'antes cerrou, sόlta um gemido,
Τoma o bordão que ali deixάra em terra,
Ε ia partir quando me vio: turbou-se ,
Οlhou-me fito, fito, e se eu não èrro
Τornou-se inda mais pallido! Chamei-οι
Ρara dar-lhe uma esmόla , a voz , ο aceno
Repeti, mas em vάο. Quiz retirar-me,
Ficou-se, e deixou-meir.Νão era eulonge,
Quando lhe ouvi bem claro estas palavra8,
Que o tom solemne me tornou mais negras:
= "Vai, voi, os dias tous estao contados,
Η
49

Αplaca o céo, gue o tumulo te chama,, Ξ


Julga ainda delirio os meus terrores!
Α idéa d'este pobre e d'estas frases
Μe assaltão de continuo, e me povoão
Α meza, o dia, a noite, o somno, a resa ;
Εm toda a parte o fujo, em todas o acho.
Ν Deonor.

Senhora, inda uma vez, encommendai-vos


Α' Μai de Deos, e aos Αnjos protectores,
Ε adormecei, que eu vélo os vossos sonhos.
- Βeijou-lhe Ignez, sorrindo ambas as faces,
Contemplou-a e sentio purificar-se:
Depois resou e adormeceo tranquilla.
Ο firmamento inteiro se desata
Εm torrentes horrisonas rojadas
Dos euros com fragor contra as janellas.
De altos tectos aos pateos espagosos
Vai sonoro, precίpite diluvio;
Ρelas velhas vidragas arrombadas
Do alto andar deserto entrão bramindo
Οs humidos tufόes, batendo as portas,
Αmotinando os ermos corredores,
Ε οs quartos somnolentos: noite acerba
Cerca todo o Castello. Εis dão tres horas !
ΙDonde vem que ao fragor dos elementos
Se misturou voz de homem 2 gritos, gritos,
Ε ao que parece naufragos! Foi barca

Τemeraria que ou deo sobre os rochedos,


Οu se afundou no encapelado abismo.
Αlgum triste, ludibrio da tormenta, -

Νadando implora auxilio à margem surda.


ΣΟecrescendo a distancia as vozes crescem:
Crescem ! Αlguem que as entre-ouvio n'um sonho,
Desperta em sobresalto e acorda a casa.

ΕΙΜ Do CΛΝΤo SΕστjΝDo. -

ξ
5Ι ".

Α ΝΟΙΤΕ ΙΟΟ ΟΑSΤΕΙ,ΙΛΟ.


•ooo &οοο»

σanto Τerceiro,
esoão portas , abrem-se janella8 ,
Väo e voltão reflexos, passos, vozes,
Ο portäο range, desce a ponte, ή margem
Corre luz ... boiâο soltos remos , taboas.
Dois pescadores, desiguaes na idade,
Βelutão contra a morte : a vaga escura
Οs enrola, os atira, ά praia os deixa.
Ρias mãos, pias fallas os levantao,
Lhes dão consolacόes, favor Ihe off recena.
Εxforgando a voz tremula - " Νόs somos
,, Ρescadores, um diz, e adormecemos
,, Νο batel fundeado ha poucas horas.
,, Rebentou-nos com os ventos o calabre,
,, Demos na rocha, o lenho espedagou-se,
,, Ε despertämos a brigar coas ondas.
,, Como a noite vai tal, e nόs molhados,
,, Se consentis que entremos no Castello,
,, Εntraremos; um tecto e poucas palhas
,, Sobrão para αμartel, e cama d'ambos,
,, Que logo que amanhega havemos de ir-nos. ,, -
Ja folgão sob a abobada hospedeira
Recebidos sem cusίο. Οbserva Οrlando,
ΙΟ
52 Α

Como religiao, costume antigo


Τransmittido de avόs: fechada e prompta
De seu palacio a dentro se reserva
Αos infelizes caridosa estancia ,
Refugio amigo a enfermo, a pobre, a velhos.
Luz, fogo, refeiςão, leitos, vestidos
Lά lhes mostrou benefica abundancia,
Ε recae tudo em seu primeiro somno.
Sό vigia Leonor! ja como a casa
Jaz mudo o céo e a terra , apenas se ouve
Μacia devoςão bolir-lhe os labios,
Ε como grão de mistica ampulheta ,
Α conta a espagos no cordão descendo.
Ρor não dormir, com a noite alonga as rézas,
Ε off rece-as por Ignez. Pancada surda
Como de mão defunta, eis bate à porta ,
Que dn torre do norte ao quarto desce.
Duas!.. tres!.. Que farά 2 não sentio passos,
Εalla náο ouve, e d'um clarão funereo
Reflexos nota. D'esta parte, ο Conde
Νao pόde ser, nem gente do Castello.
Εorgada a porta, de violento impulso ,
Cujo tom vai reboando escuro ao longe,
Εscancara-se, e hum vulto immoto assoma
Νο limiar! D'um facho a luz mortiga
Que lhe treme na dextra descarnada,
Um pallor cadaverico , ο medonho
Desconcerto do rosto claro abonáο
Αnnos bem largos de Sepulchro e inferno.
53 "

Sό parece reter da antiga vida


Ο sorrir mão da asperrima agonia ,
Ε olhosque umfogo estranho accende agora.
Εntrou!.. Jesus Μaria ! exclama exangue
Α triste , e sobre Ignez se arroja ao leito.
Vendo-a acordada e gue o pavor lhe ha presos
Οs sentidos e a voz, com o seio os olhos
Lhe venda, co' as mãos ambas os ouvidos
Subito. Μas num impeto expellida,
Ο que encobrio descobre. Ignez encara
"
Αquelle rosto guedo : horror a assombra,
Convulsa ondéa, géla, não se afasta ,
Μas com a mão repellindo a visao torva,
Diz em voz rouca e morta - "Ηe elle !.. o pobre!,, -
Μanso e manso chegando o rosto ao leito,
- Reconheces-me agora 2 - Ιhe pergunta
Sumida voz. .
- Ιqnez. -

Ηenrique! alma de Ηenrique!


Βem te conhego, deixa-me, recua :
Αh! da parte de Deos, torna ao teu mundo.
Ηunrique.
V6 , vé , como te punge a consciencia,
Que até te apaga o siso: o que estás vendo
Νada mais he que o cofpo vao de Ηenrique,
Α sua alma tu mesma a assassinaste!
Μulher, αμe he do teu voto2 gue fizeste
De tanto amor tão puro 2 Αnjo dos Αnjos,
Αi! quem tefez demonio 2 Ηe pois verdade 2
p 2
54
Νo exterior όsta infame inda he formosa.
Οh ! que se o que anda dentro andasse aos olhos ,
Caίra morto duem te olhasse ο aspecto!,,
Ν"isto, afastando a vista, deu com o cinto
Ε grinalda da festa : aos pés as flores
Calcou rugindo, o cinto espedagou-ο.
" Vόs vos perecereis , como os meus dias,
,, Εnfeites vis, que aos olhos d'outro a ornaveis. ,,
Disse, parou , e num silencio longo
Εicou fitando o châο; depois erguendo
Α vista frouxa a toda a casa em roda ,
- ,, Νada mudou , prosegue : aquella entrada,
Εstas janellas , estes quadros , todo
Εsse tapiz campestre a cujas folhas
ΙDiria o conto, e a cujas mil figuras
Ιdeavamos em ocio a historia , os nomes ,
Τaes os deixei, taes os sonhava ausente.
Como filho de Οrlando então vagava
Ρor todo este Castello, onde hoje a furto
Εntro como assassino ! Ηouve outro tempo
Quem me aqui suspirasse; a qualquer hora
Sempre chegava tarde: almo sorriso,
ΙDoce aperto de mão, palavras ledas
Νο meio ja da escada me aguardaváο;
Εra esperanga e prazer de amos e servos !
Ε agora ... ο αμe não sente existe intacto,
Μai tudo o mais passou! Τerror lheinfundo
Como fantasma de sinistro agoiro !
Εste leito, este leito que anciaváο
55

Como um cέο, meus affectos respeitosos,


Converteo-se em covil de atroz serpente.
Ε inda me lembra um tempo, em que eu corria
Α comtempla-lo a furto, e cά de longe,
Βergo em que amor e gragas abragados
ΙDormião branda paz, fraternos sonhos.
Εntão não sei due nuvem o envolvia
De religioso afécto e molle encanto!
Εra uma gruta mistica , exhalando /
Rosas e cedro : um não sei que divino
Ρé envόlta com o mais languido da terra.
Οh! que entreauras bem doces, bemfugazes
Ja boiei tão contente à flor da Vida !
ΙDesencantou-se tudo! Ε em sόs vinte annos
Cabe negrura assim , cruesa tanta 2
Εolga, empregaste assás tão curta idade ;
Τornaste Ηenrique o maisfeliz dos homens,
Τornaste-lo o mais misero ! Que paga
Ρόdeigualar teus meritos 2 - Ηe sonho 2!
Ignez corar ainda ! Ignez chorando !
Quem ensinou a faces prostitutas
Εsta cor 2! pranto cabe em olhos destes 2!
Se a falsa da fiel conserva um resto,
Se tu da minha Ignez έs sombra ao menos,
Οuve, estremece, estala de remorsos.
Εm seis annos de ausencia, um sό minuto
8em ti me não chegou : cai nos ferros
Ρorte amar, por te amar sofri-lhe o péso,
Ρor te amar os quebrei. Α quaiquer hora
p3
56

Θue me ultrajasse8 cά , meu pensamento


Ιmprόvido, fiado em teus protestos,
Νο altar do coragão te dava incensos.
De meu continuo algoz na mão cruenta
Βeijos continuos dava!.. " -
- Ignez regando
Com hum diluvio de lagrimas o seio,
Sem levantar a vista , assim murmura :
Ιqnez.
Γesditosa! Crueis que me illudirão !
Μaldita carta ! Ηenrique inda era vivo !...
Leonor, Leonor, no choro das exequias
Τu me ouviste em solugos ; retumbavάο
Νο templo os cantos funebres, presente
Sobre o tumulo váο lia o seu nome ...
Sim , tu mo ouviste , Ε Νao morreo , não pύde
Μοrrer sem mim : ninguem , minguem no mundo
Οusaria cortar dias tão bellos,
Um Deos, que he justo ebom , nunca o sofirera =
Leonor.
" Ε entretanto, Senhora, eternas se ião
Vossas noites veladas em lamentos,
Vossos dias em lagrimas, Μil cartas
Ο reputaváo morto: Αdolfo escreve,
Diz que viu, narra o como, a esp'ranρα acaba . . ! "
Ρouco a pouco entretanto ά cabeceira
Τinha, sem o cuidar, chegado Ηenrique,
Ε de Ignez junto ά mão pousava a sua.
ΟΙhando-a e commovido assim prosegue:
57

Ηenrique,
Πgnez! foi na minha alma a tua idéa -

Α maior do universo; obter-te esposa


Julgava-o d'entre os bens o bem supremθ.
Yi meus annos em flor, meu brago em ocio.
Ηe nullo herdado lustre onde outros faltάο,
Ηonra de meus avόs não suppre à minha :
Cόrei, e disse em mim Ξ fugir-lhe ousemos,
Ε para a merecer corra-se as armas Ξ
Sede de gloria tua arremegou-me,
Com teu nome na boca e a langa em punho,
Νο primeiro combate ao mais acceso
Do revolto brigar; voei ceifando
Εntre searas de inimigos ferros.
Quebrada a langa, o meu cavallo em terra,
Ρartida a espada, um numero sem conto
Μe cercou, meprendeu lavado em sangue:
Ηia por minhas mãos troncar meus dias,
Lembron-me Ignez, vivi! Μeus pés rojárão
ΙDespresados grilhόes, sofiri o insulto,
Comi o pio da dor, dormi na terra.
De um barbaro senhor tornado escravo,
Ρerdi o ultimo bem do captiveiro,
Ο prazer de fallar em terra estranha
Α propria lingua a socios de infortunio.
Resisti, tima espranga, não a espranςa
ΙDa patria, mas de Ignez me segurava,
Νο mar da horrenda vida anchora extrema.
Via-te a cada passo, e em cada objecto:
Ιο 4
58

Εra umo rosa 2 as rosas lhe säο gratas;


Μar ao longe 2 era o lago do Castello ;
Νa viraς άο do occaso, a voz te ouvia ;
Νa lua, os nossos olhos se encontraváο.
Se em longo, denso νέο sumido o rosto,
13ο airosas Τurcas, a saudade
Lhes prestava o teu nome e teus encantos ;
Τu sό me povoavas o Universo!
Λ9neα.
Αs tuas expressόes, acaba Ηeurique,
Lacerão-me.
Ηenrique.
Βem sei, mas he forgoso
Οue esgotes pouco a pouco até às féses
Εste calix amargo, bem o sabes,
Εs tu não eu quem Ihe empegonha o leite.
Οave, e em nome de Deos não me interrompas,
Que eu tremo do teu fim ; não me recordes
Gue a um seio outrora meujurei dar morte.,,
Depois de curta pausa recomega
Compondo aspectoe voz:
" Μilhόes de estorvos
Α fuga me tolhiáο. Νão me pésa
ΙDe os haver affrontado: não, mas dόe-me
Que Ihes não succumbisse. Para haver-te,
Μe expuz a tudo afoito, e ao dobro ainda,
Sό por lograr de longe e mal distinctos
Ο teu lago sequer, sequer teus montes,
Μie aventurara e a bom mercado o houvera.
" 59
*

Νão tens αιue agradecer-mo : se ousei tanto


Νão foi por ti, foi por um ente amavel,
De quem fui, αue foi meu, mas nao existe.
Αo fim de longos mezes perigrinos
Βeijei, cobri de lagrimas o cume
Remoto, em due de subito dei vista
Da tήo sabida estancia, envolta em nevoa.
Sό ali respirei! Desci as serras
Sempre cheio de ti, com os olhos longos
Sempre cά, impaciente quando as voltas
Do eaminho ou as matas invejosas.
Vinhão cegar-me: o obstaculo fogia,
Ε eujà mais perto ao mal bebia esprangas,
Οh! que visόes me namoravao a alma !
ΙDeixei-a flor crescente, acho-a pomposa,
Ηa seis annos due n'ella o céo se esmera,
Dobrou graςas que tinha e miltem novas.
Αprimorou-se Deos compondo o prémio
Αo guerreiro da cruz : purificou-me
Νο infortunίο, e aos de um Αnjo une os meus dias! --
Οutras vezes fingindo-te qual d'antes,
Julgando-te por mim, corria a miudo
Da tua ausencia a historia, e rasgo a rasgo
Γa minha a copiava : ahi meus olhos,
Εsquecidos do meu, teu mal choraváο:
Αh! choravao-te! em αμanto os teus ardião
Εbrios de novo incendio! Εspedacemos
Εste fio mesclado, αύe teimoso
Θluer tecer-se ao discurso, e em váο desvio.
- Ιο 5

Εntäο eu te suppunha as noites negras,
Α meza odiosa, os dias importunos:
Da saudade os espinhos julguei ver-te
Do coraςão com as fibras enlaςados,
Ε ο desconsolo enoitecer-te a mente.
Sob a chtιva das lagrimas, as gragas
Τe murchaváono aspecto, eera assim mesmo
Que me abrasavas mais: por cada encanto
Que te furtava a dor, te achava eu novos.
Οh! se duaes entre os ferros me nascerão
Lhe visse eu cas! se as rugas prematuras
Α sulcárao tambem! tudo amo n'ella!
Seinda existe sou seu, maisseu se he morta.
Αssim corria a ti. Ja claramente
Fronteiro αo sol no occaso purpurado
8e mostrava o Castello e o lago e o bosque,
Α saudar-me festivos : e eu correndo
Α3 filas das vidraςas incendidas,
Βuscava achar-te... ao menos o teu quarto.
Fechada era a janella. - Εstά sόsinha :
Ρensa em mim: talvez borde n'outra charpa,
Como esta αμe me deu na despedida,
Μotes de amor saudoso e emblemas tristes:
Suspira pelo instante em que ma entregue:
Résa por mim, etem que inda ha de ver-me.
Αi quando me ella vir!... - Ε aqui no seio
Um fogo doce e trémulo due o aperta,
Μe correu : palpitavάο-me as arterias ,
Senti cangasso insolito, Que planos
ε"
- 61
Fiz e desfiz! Que imagens me enxameavάο
Νa idéa susurrando! Οra fingia
Ιnexperado entrar, ouvir-tς um grito;
Οra temendo o jubilo imprevisto,
Μe occultava a principio: agora a um servo
Dava um recado, a charpa agora a um pagem ;
Μendigo ia encontrar-te, a um lado occulto
Fallava com Leonor. Qual foi o aspecto,
Qual frase houve de amor gue eu não tomasse 2 !
Compunha, destruia e recompunha
Νossa conversa inteira, e claro ouvia
Αvoz, as inflecφόes, a graςa, o tudo
Que eu em ti decorei para mil annos.
Ρobre Ηenrique! de tudo te lembravas
Μenos da ingratidão !.. Ρor senda obliqua
Τransviado entretanto, me entranhara
Νa ja deixada serra: acordo entre altas
Ε absorto, onde o caminho acaba :
Caiu-me a alma em terra ! Ja dos cumes
Descia noite: eu sό, perdido o rumo,
Οnde iria tomal-ο 2 grossa chuva
Saltava pelas terras; nem lembranga
De achar um guia !.. Revolvendo em roda
Ο consternado olhar, avisto ao longe
Luz : corro, era uma choga -- " Εntrai, me dizem,
Εnxugai-vos, ficai,, - " Como 2 Ιhes torno,
Seao Castellodo Lagoinda hoje heideir-me?
Μostrar-me-heis ocaminho2,,--"Οh! que hemui tarde,
Ρrigoso e longo σdtalho, diz um velho,
Ιο 6
62

Νa madrugada ireis,,-"Ρor Deos, lhe torno,


Εnsinai-mo e ficai,, -- Vendo-me firme
Cedeu, mandoι Seu filho a acompanhar-me;
Foi meu primeiro algoz esse innocente !
Calado ia ante mim a alumiar-me
Οs passos mal seguros, pelo crespo
ΙDorso ingreme de undosos precipicios.
Cem vezes tive os labios entre-abertos
Ρara inquirir de Ignez, tremi cem vezes
Quantos males conter seis annos podem!
- " Μenino, saberás se inda la vivem
Uns cisnes do Castello 2,,-- "Sim,,--"Ηavia
Βellos pavόes por lá antigamente,
-Ιnda osha 2,,-" Οh! bellissimos, responde.,,
Εeliz presagio, pensei eu calado!
Αs aves que ella amava inda lá durio!
Οusemos mais : -- " Ο Conde Οrlando he vivo 2,, --
- " Sim , torna o conductor. ,,--" ΕΙgnez 2 pergunto
ΙΕm vozsumida,,--«Igneztambem»--Τriunfo,
Μfe brada o coraςfio! Se he viva he nossa!
Corro chego-me a elle e fallo afoito.
-- " Βem : que sabes tu d'ella2,,--Εncolhe os hombros
Εdiz- Εu nada: contão pela aldeia,
Οue vai casar com um Cavalleiro rico,
Lindo e valente, nfio me lembra o nome ,, -
-- " Μas ella vai ά forca, ella o nio ama,, -
-- "Ρois quem a obriga 2 Ο Senhor Conde a adora.
Se ella dissesse niίο... olhai, he tanto,
Que diz meu Ρai, que se ella lho pedisse
63

Ο Senhor Conde mudaria os montes,, --


-- " Ρois sim, sim. Βoa noite: volta a casa,
Εu jásei meu caminho.,,-- Ιnstou, mostrando
Coa luz os precipicios -- "Νada temo,
Gritei-lhe: vai-te empaz.nem maisteeu veja...
Qual eu fiquei não mo ouvirás, sό podes
Εhas de entendel-o em sendojá do inferno,
Se o teu crime comtigo lá me arrasta,
Lá to direi bramindo, a revolver-me
Comtigo em fogo eterno, eternos ambos. ,,
Αssim diz, e um revérbero do raio
Que jά na alma lhe ardia, Ihe lampeja
Νο fixo, tοrvo olhar; com os dentes cerra
Ο labio desmaiado, e a fronte crespa
ΙDe vingancas fervendo lhe pululla.
Ignez conserva o estupido silencio,
Sem soluco, nem lagrima. Que Verso
Ρintaria jämais o estado de ambos 2
Ε ai de quem o entendesse! Α muda estancia,
Νada ouve mais que anhelitos penosos !
Εm pranto estrepitoso aos pés de Ηenrique
Se atira em fim Leonor, αυe horrorisada
ΙDa ultima frase, por Ignez treméra,
Ε pela alma de Ignez. Ιnda os ouvidos
Lhe estruge o ultimo assento: não diversos.
Αos ouvidos de Μai, αιue unico filho
Visse com o raio em cinzas, rebramärão
Desse trovao os tétricos rebombos.
3.
64
Leonor.
Cavalleiro do Céo, alma remida,
Τornai em vόs, que o espirito das trevas
Quer arrastar-vos cego. Ηaveis de ouvil-a
Ρara a julgar; não tem remedio a morte,
Μas semprehetempode arrancar-lhe avida.
Vede-a, sentai-vos, socegai, ouvi-nos.
,, Τem razao, diz Ηenrique, έ cedo ainda.
Jä αue é boca Ihe puz a taςa amarga,
Βeba-a toda primeiro. Εu sei due é ferreo
Εsmagar o infeliz, mas tive o exemplo:
Νao paro, ο coraςão murmure embora !
Ρarabens ! jà la dentro a dilacerao
Remorsos quasi iguaes aos meus ciumes !
Ρrosigamos - Curti delirios vastos
Βreve espago pasmado, immerso em noite,
Εntre tufόes e abismos. Οra em gritos
Βaios pedi aos céos, volcόes à terra ;
Caί-te aos pés as ver-te arrependida,
Ε suppliquei perdão no crime alheio ;
Οra a espada , arraneando-a do teu peito,
Μergulhei no meu peito; ora vibrava
Κocha voadora sibilando έs cegas,
Que em teu leito baqueando ia esmagar-te;
Ε tudo isto calado, immovel, morto !
Τornado em mim, corri com passos leves
Direito ή patria estancia, a ver se achava
Um coragão sequer, um sό no mundo !.. -
Ρela primeira vez sem sobresalto
\

65

Βosques entrei due o bergo me cercărăο:


Τudo era o mesmo, eu sό mudei comtigo!
Vi Jorge, ο servo anciao, que tantas vezes
Νos trouxe ao cόllo, nos beijou, fallando
Que Ηenrique era de Ignez, e Iguez de Ηenrique,
Quam bem te adivinhava o pobre velho !
Ρor meus rogos instado introduzio-me,
Αh! sem me conhecer, em sala antiga
Α' espera do Senhor. Αdmiro o luto
Das cortinas estranhas, leio acaso
Sob um quadro o meu nome, e o mesmo em todos!
Ν'estes paineis em cores verdadeiras
Vi meu bergo, encontrei a minha infancia,
Μeu caro irmão Fernando, e Ignez comigo
Βrincando descuidados pela margem
Do Castello de Οrlando: vi seguir-se
Do nosso amor toda a profusa historia;
Τeu pai sorrir-nos facil: em teu dedo
Εnfiar eu o annel: a tua charpa
Ρor tua mão cingindo-me de fogo:
Ο ultimo abraςο, ο adeos, o voto, o beijo
Da partida funesta ! Ιnda restaváο
ΙDuas pinturas; meditei um pouco
Ε olhei: rasgado o peito ensopo em sangue
Τerra infielentre infieis, que alegres
Α cabega minaz no pό me rodao:
Scenahorrivel, mascέοjunto άqueasegue!...
Um cavalleiro em face a Οrlando aperta
Α mão de Ignez , e Ignez aperta a sua,
ν"
66

Ε Ιgnez sorri, e o cavaileiro a adora,


Ε ovelho.infame aplaude, e o annel daboda
La estä no dedo d'ella : em baixo escripto
- Αdolfo acceita Inmez, Ιqmez e Ηenrique
Jurarάο ser.fieis um do outro άs cinzαs /// Ξ
Εm duanto assim mil furias apascento,
Εernando vem ; Fernando irmao e amigo ,
Que no fraternos titulos e heranga,
Como forgado entrára, ao caso acerbo
Lagrimas dera, e cultos a meus manes
Coa vinganga gue pode. Αlma celeste!
Se existe uma fiel, em prémio a gozes!
Τeu amor n'um momento desmentindo
Α antiga fama e um luto de seis annos,
Ηeconheceu-me logo -- Ηenrique és vivo 2!
Gritaste, e eu revivi entre os teus bragos.
Com que alegria ao teu lugar segundo
Voltavas, salvo o irmão! αμe atropeladas
Ρerguntas, choro e risote-alternavao !
Νόs, nόs sem a jurar constancia houvemos!
Como αιue em ti meu coraςão ficasse,
Τu viras com horror de Αdolfo a audacia,
Ο perjurio de Ignez, de Οrlando a insania.
Αnte a filha, ante o pai baldaste rogos,
Ηumilhaςόes, desprézo : ante o cobarde
Αmeaςas due os teus annos relevavao.
Vίras a teu pezar crescer o crime,
Ιr-se de todo a espranga: injuria longa
Εsgoίou-te a cangada paciencia.
κ.
67

Déste pepétuo adeos do sangue aos lagos,


Αouso antigo, aos muros do Castello,
Ε ή paz coa raga vil : por monumentos
Do nosso amor, seu crime, e meus desastres,
Τrouxeste à sala dehonra oluto eos quadros.
Choroso, e a mão cerrando-me solemne,
Ρor socio e vingador a mim se vota,
Seja qual for o intento, embora occulto,
Seja qual for o risco. Infeliz moςο ,
Νem com o morrer porti, posso pagar-te!
Ιnstei-lhe que abafasse inda alguns dias
Ο furor justo, e no intimo do peito
Calasse a minha volta. Εntão me escondo
Εm capuz negro, em manto remendado :
Τomo falso bordão, branqueio as barbas,
Ε entro mendigo aqui. Μeus pés tremerão
Ν'este châο amoroso; em cada pedra
Ηelia uma saudade, em cada folha !
Τudo onde entrar foi licito a um mendigo
Visitei, vendo em tudo a tua imagem,
Βebendo em febre os sonhos do passado:
Αo resto sό chegava o pensamento.
Οh! que se entio meus olhos deparassem
Co'o roubador algoz, fosse onde fosse,
Αrmado, entre esquadrόes, ao pé das aras,
Ε eu desvalido e inerme, cra eu bastante
Ρara purgar de um vil Αdolfo a terra.
Μas sua hora náo tinha inda soado!
Νunca o vinem te-vi, por mais que os sitios
68

Usados frequentei. Α' hora antiga


Ηia esperar-te occulto entre as ramadas
Da casa da cascata, entre as roseiras
Do albergue dos pavόes e ao pé dos cisnes:
Βati é porta supplicando esmola
Εm grande voz, por intenςão de Ηenrique,
Νem Leonor vi, chorei sobre mim mesmo.
Αssim ja perto, e ausente como d'antes,
Levei dias amargos: grande parte
Ν'esse pateo sentado aos sόes e és chuvas,
Τragando a compaixao, tragando o insulto,
Comendo um páo langado com desprézo,
Τé dos teus căes ludibrio : quanto fogo
Sob essa capa me accendeu as faces!
Que de lagrimas dei!... Ρortanta angustia
Quasi me achava pago, em tendo visto
Dentro d'esta janella um teu reflexo:
Quem isto faz que não faria amado ! !
8ό hontem, posto o sol, ao vir do templo,
Οnde fora implorar qual graga a morte,
Τe vi, e άduella vista as f'ridas todas
Νο coragão furioso me sangrărăο.
Ρartiste: vim sentar-me ao pé da ponte
Αnte o lago profundo e a lua triste :
Αhi me-teve a noite e achou-me o dia.
Α atroz confirmaςfio da atroz noticia,
Veio-me, ouvindo as fallas dos teus servos.
Corro a Fernando, armas revisto. " Ηe tempo,
Αrma-te e vem comigo, he hoje a festa
69

Da tigre desleal: vou por meus olhos,


Ο crime ver, por minha mão vingar-nos.,, -
Viemos. Θuiz tentar se ainda podia
Νao ser feliz nem teu, porem salvar-te.
Αchei na mente negra estranha industria,
Μas teu crime a venceu, e a tua estrella
Ja voava declive ao turvo occaso.
Εernando insinuou-se nao sentido
Νοtemplo, άsala eu vim: co'a mãonaespada,
Εui de meu mal gelada testemunha.
Ιnda esperei o agoiro: o horror do agoiro
Que produziu2 lembrarao-te os teus votos 2
Deixasteem meio o crime2os olhos d'ambos,
Οs teus ao menos, evitärão 2... basta.
Jä vés due tudo sei, αμe fui comvosco
Νa sombra escandalosa, ouvi-te, ouvi-ο !...
Levei minha vinganga ao meio apenas.
Ja pressentes o fim que em vil disfarce
Νέufrago aquime-traz! Ρor Deos, por tudo,
Ρor ti, falla e confunde-me se podes.,,
Com o silencio de Ignez, crescia o susto
Νa aia aftlicta, que a fria mão lhe aperta.
Ι.eonor.
** Fallai, fallai, Senhora, explicai tudo:
Ο que a mentira ordio dai-ο ά mentira,
Αo tempo o que foi d'elle, a amor a astucia,
Εrro e fraqueza aos annos inexpertos,
Αo paia autoridade, o resto ao fado:
Ε que vos fica entäο mais que a innocencia 2

Fallai, due onde houve amor, perdão vem facil.
Ιqmez. -

Βem to disse eu , Leonor, tu não me-creste :


Ja vés se presenti, se era o meu Αnjo,
Οu delirio da noite. -
Ο horror e o susto
Fallando assim, Ihe-treme em todo o corpo.
Μomento foi, mas foi momento eterno
Ο que a viu n'esse transe: abrangeo tudo ,
Ρorvir, passado, ceos, inferno e mundo!
Ο peso enorme das visόes terriveis
Μais veloz que relampago, a derruba
Αos pés que abraga e beija e lava empranto.
Do grão terror a subitas colhida,
Νao sabendo o que faz, guem he, quanto ouse,
Τal se arrojάra qual a tinha o leito.
Quem lhe ha de resistir2 o alvo do linho
Que unico a envolve, e mal, cede à nevada
Cega brancura dastraίdas fόrmas.
Ρor entre a chuva dos cabellos soltos
Realgado o candor transluz um collo
Digno de Leda, uns bragos de Αtalanta,
Ειum seio, um seio, oh Ceos! sό digno d'ella.
Νunca lampada em camara de amores
Μostrou pasto a desejos voluptuosos
Εm mais perfeitas perigrinas graςas.
Νunca de Ηenrique os sonhos temerarios
Α pintärão assim, pintando muito.
Τal se enleva cultor de rico arbusto,
71

Quando em rosea manha de inverno agreste


Ρela primeira vez o acha florido.
Ρorem quando prostrando-se mas lages,
Ο corpo e os bragos supplices erguendo,
Da roupa com os joelhos destendida
Quebrado o encantamento arfärão livres
Α palpitar os gemeos alabastros,
Αqui foi o abrazar-se, o ver-se a pique
De perdimento! Μas tudo isto he de outrem:
Vendo está do desterro o paraiso
Que perdeo formosissimo, eas espadas
De fogo que a vinganga ha posto em meio.
Ιsto lhe acode e o salva. Ignez, ousando
Τοmar-lhe a mão, guebrada a voz a espagos,
--" Ρor essa dextra, diz, guejά foi minha,
Ρor estas minhas lagrimas, portantos
Dias de esp'ranga e amor, se inda te lembras
Doqueeuteamei, se algumprazerteheidado,
Τem dό de mim, de meus crescentes annos,
De meu Ρai, de ti mesmo, e de minhalma,
Que inda te não merece o fogo eterno.
Se não vem tarde um rogo, ouve-me, expelle
Τenςão cruel, gue ia infamar teu nome,
Ε com meu mal perpetuo o teu comprära.,,-
Μais ia por deante: mas Ηenrique,
Que da hamilhada lgnez teme o triunfo,
Τodo o fel da memoria ao peito chama.
Desenlear-se do tenaz abrago -

Revolvendo-se busca: em vάο, qua a rastos


72

Ο abrago, o amor, as lagrimas o seguem.


Αpesar seu, seus olhos se amollecem,
Vai-lhe em fogo de amor morrer a injuria,
Vaisuccumbir...tremeu, salvou-seatempo!
Μais um momento... e aos pés de Ignez caia!
Αrrοjou-a, recua ao fim da estancia ,
Ε temendo-a, e temendo-se, procura
De odios subito mar langar entre ambos;
Ε diz-"Do due existiuja nada existe!
Εoi tempo em gue uma voz me-namorava.
Vede quem sois, ατιem sou : ré e offensora,
Εstaes ante o offendido, o testemunha ,
ΙDelator e Juiz: fallai, mas breve. ,, --
Μudo esperou vamente; a sem ventura
Εmbebia no leito o seio e o rosto
Ρara afogar mil tremulos solugos.
Leonor soltando iguaes, a afaga, a anima,
Coas maosfrias, sem voz: lida em beijal-a,
Ε erguel-a, porque falle e afaste oraio.
Βateumquarto! esegundo!.. Ηenriquetreme!
Que horas säο 2-- quatro e meia.-- Ιmpaciente
Que em demoras crueis lhe-escape a noite,
Comega interrogando-a-"Εm vossa crenga
Εxiste um Deos, e osjuramentos ligão 2,, --
Νova explosao de choro, eis a resposta.
Ρrosegue -- " Deve o Ceo dar ao perjurio
Α deprecada pena 2,, -- Igual resposta.
-- * Μente a fama 2 esses olhos não fallaváο
Α Αdolfo 2 nάο vi danga de assassinos
73

Α respirar ternura 2 foi mentira .


D'essa boca, ou delirio em meus ouvidos,
Ο αιue escutei no parque, e ouvirei sempre 2
Νão devia este leitounir-vos hoje2
Ηoje, hoje mesmo unir-vos! ,, Jaz, nem ouve
-Α dama fulminada : a serva acode,
Fiel por ella ao risco da defeza.
Ι.eonor.
Ο cavalleiro Αdolfo o-havia escrito,
Τodos vos-crião morto, he d'elle o engano,
Ε se ha traigao foi d'elle. Αdesgragada
Chorou mais queninguem, mais longoluto
Quiz trazer, sua mão langou cortadas
Suas trangas ao lago: foi preciso
De um Pai todo o rigor e todo o afiago
Ρara tolher-lhe asperrima clausura.
Quem pόde oppor-se ásleis da Providencia 2
Veio Αdolfo, adorou-a, instou, valeo-se
Do Senhor Conde mesmo; o Senhor Conde
Μaduro em annos, proximo ao sepulchro
Εavoreceu, instou a allianga illustre;
Α infeliz resistiu, mas foi vencida.
Αh ! milvezes Iho-ouvi, no cavalleiro
Um nao sei que de vόs no olhar, nos modos
Lhe-recordava Ηenrique: a não ser este
Jamais outrΘ prestigio a não movéra :
Αssim vos foi leal até na offensa !
Ιnvoco ο Deos que me-ouve, e se isto 6 falso
Νο livro eterno 9 assente. ,, --
74

+ Ηenrique a ouνίra
Εntre attentσe inquieto, e interrompendo-a:
Ηenrique.
- " Μas o altar dentro em pouco os-aguardava,
Εste le to ia ser do embuste o prémio.
Vai, desgraςada cumplice, vil manto
De vergonhas mais vis, cala-te. Dize,
Ε quando elle a gozou, chamou-lhe Ηenrique 2
Βasta: quero emfim crer, foi minha injuria
Crime alheio, não teu. Que nos merece
Lm traidor, não lhe chamo um cavalleiro,
Um bandido, sό forte em roubo e fraude,
Que um nό dado nos céos soltar-nos veio 2
Justo não he que aos olhos to conduza
Ja cadaver 2 tu juras-me calcal-ο 2
Juras-mo Ignez 2 Τu calas-te 2 desmaias 2!
Αh! perdόa, eu deliro, exijo muito.
Ιgnez! Ignez!... um véo sobre o passado!
Relevemo-nos tudo, refloramos
Αos dias do prazer ! Εu te conjuro,
Ρrostrado eu te conjuro, oh! vem ser minha!
Μinha sό, minhasempre: esquece omonstro,
Foi a visäo de um sonho aftadigado.
VoIta ao meucoraςdo, corre ameusbragos!...
Τπdo he tentado ens váο! asiras justa8
Μοstrei, fingi-lhe amor: corri sua alma
Ρortoda a parte, e em toda a parte he noite!
Fica-te pois com o teu silencioinfausto,
Εute perdido: pensa que este mundo
75

Ja passou, αμe outro sol não tem de ver-nos.


Volve ao teu Deos o espirito profano,
Εajusta as contas breve; eu não quizera
Dar-te um supplicio eterno. Sobre tudo
Μudez! gualquer de vόs chamando auxilio
Ρunhaes attrairia ao seio de ambas. ,, --
Νisto a fechada porta arranca a chave;
Corre à escada que o trouxe (espiraimmensa
Que do fundo Castello ao rez do lago,
Galga ά Τorre do Νorte). Αli mas treva,
Εernando o espera, ignaro dos successo8.
-- " Parte, Ηenrique Ihe diz: franca a saίda,
Fόra da selva te porá não visto,
D'onde guies caminho ao nosso alcagar.
Αgora adeos, abraga-me. Νão falles,
Τudo he composto. Um dia nos veremos:
Βreve serä. Νäο mais... Ο τltimo abrago,
Εobedece: urge o tempo um grãoprojecto.»-
Subito aqui, troncada a despedida,
Co' as escadas remette-" Οh desgragado!
Desgragado de mim!,, vai com voz surda
Βepetindo, e coas mãos serrando a fronte
Ρela atra, serpeante. esguia senda.
Já se engolfa no Céo, jά rege os ares
ΙDe pé sobre a esplanada. Αh! possa a noite
Α abrasada tencáo, fresca, apagar-lhe:
ΙDo Céο αue o tem visinho a paz Ihe desga.
Τanto acima da terra, esquega os homens,
Αs paixόes, oinfortunio, o horror
ν Ε
do mundo,
76
Οιι ο mundo imite emtão solemnes horas.
Τudo o que o cerca em trevas se mergulha,
Ρorém repousa e dorme: lago e bosques,
Ρlanice e montes, tacitos, desertos,
ΙDo movimento e luz se desfadigâσ
Α' mercé das estrellas, αμe esparsindo
Ο orvalho e o somno a froxo pelas terras,
Lά vάο boiando a se perder no occaso.

ΕΙΜ Βo CΑΝΤo ΤΕRCΕΙRo.


77

Α ΝΟΙΤΕΙΟΟ CΑSΤΕΙ,ΙΛΟ.
ι εοοοιξ-οοοο

Ganto Quarto.
σΜ o remanso geral da natureza
Sό contrasta essa Τorre, apresentando
Α' terra silenciosa o desesprado,
Como a estatua da Dor em base eterna.
Οbra do fausto de orgulhosos dias,
Soberba lhe pousära os fundamentos,
Έ hoje a c'roa a mais lugubre miseria :
Vaos pensamentos! vaos destinos do homem!
Εntendéreis que o fado a sustentáva
Como hastea de troféo n'aquella noite,
Ρara abater as tumidas vaidades.
Μas que interruptos sons espalha a brisa
De cima da esplanada 2 Νao he este
Seu fremito usual no antigo musgo,
Οu resequidas ramas balangadas
ΙD'entre as fendas do marmore: de Ηenrique
Ηe essa a voz. Αvoz de Ηenrique!... embora:
Μas para guem a sόlta, ou quem Iha escuta2
Quem 2 mui feliz se pόdes perguntal-o!
Ηenrique está n'esse auge de infortunio,
Εm αue a alma, ebria dedor, da dor precisa,
Τeme perder-lhe o alvo, e ao dom da falla .
Ε 2.
78

Αcode como a um fio, αμe a conduza


Fielde horror a horror, de escolho a escolho.
Ν'esse auge domartyrio em que trasborda
De angustia o coragao, guer, necessita,
Οu por se alliviar, ou porque o chorem,
Derramar uma parte: se lhe faltao
Οuvidos de amizade ao ar a entorna,
Ε ouvindo o proprio malseu malsacia.
Εm pé na alta varanda, Ηenrique ondéa,
ΟΙhos pela amplidao do undoso espago
Que abaixo de seus pés se desenrola
Ρrofundo. Α chave aperta, e assim profere.
--"Τudo que mais amei, que mais odeio,
Ο mais bello da terra e o mais corrupto,
Έecha-o isto!... Fosse unica esta chave,
Αo lago a dera, e em paz aqui morria.
"Lastimar eu(que opprobrio!)ocaptiveiro
Do musulmano harem! Εunucos, chaves,
Αlfanges, tudo he pouco; os que chamamos
Βarbaros, ao seu bem melhor consultao,
Μelhor a raga perfida conhecem.
Νem para umaΙgnez sό me bastaria
Ρrisáo de quanto marmore munida
De quanto ferro existe, occulta em cerco
ΙDemil montanhas, por leόes guardadas.
Ρόde agrilhoar-se o corpo, a mente he livre;
Ε ό essa a que assassina ! Οh! que sciencia
Que moral dictou leis na cega Εuropa ,
Que aoroubo dão a morte, e ao mais que roubos
79
Θue incendios e homicidio, a morte esquecgm !
Μas voto a Deos, due assim não Seja agora.
" Ε não poder eu mais ! ... da injuria em paga,
Ρresental-a ásinjurias do Universo,
Βem présa, ao sol, em praga populosa ,
Νa testa o crime e o nome, e em vil despojo
Ο embaίdor cabello entregue aos ventos!
Vέ-la assim e acabar !... Ε' bem verdade .
Que eusou eu 2 que ella he ella? ouque eu não sonho2!
Ηe ella que o merece, eu que o desejo 2!
"Ιnsensato, cem vezes insensato
Ο que arriscaum duéllo à va defesa
ΙDa honra da mulher! Αmais amavel, -

Α mais amante é isto !... Εu deveria ..


Fogir-te, abandonar-te à tua estrella,
Νäο te estorvar no lύbrico declive -
Queda apόs gueda , até cahir no abismo :
De gostos vis sempre ebria e sequiosa,
Deixar-te na abjecςão murcharteus annos,
Ε aehar pasmada as cás, e άs cas sem honra
Ver unidos a dor, o tardo pejo,
Ο remorso , e o terror da hora incerta.
" Εste meu coragão que me murmura 2
Quequerelle? gue αner 2 Μurmure embora:
Ηoje tinha eu constancia para vel-a
Εntre os bragos de barbara quadrilha
Soffrer-lhe o amor brutal: vel-a amarrada
Depois a um tronco: provocar-lhe nua
Ηiso ferόz e insultos ! Vira tudo !
- Ε 3

Vira-o, sem descravar da terra a langa.


" Que Vento este tao tepido, tao froxo!
Quem me dera tufόes, tufόes gelados,
Grossa pedra em torrentes ! talvez fosse
Um refrigerio à dor, sentil-as novas.
"Ρor terra e céo não vejo uma esperanga
Γe tormenta ! Sό nuvens inconstantes
Αlua assombrão ! Νunca mais te eu veja
Βello astro, due meus olhos envenenas
Com memorias saudosas de alvas noites,
Εm que nos viste unanimes ! agora
Μais negra que osnegrumesquete affrontao,
Quanta amargura ésta razao me apaga !
Ρenas, amor, prazeres, odios soltos
Dio-se aqui dentro bem cruel batalha !
" Οxalá due este siso atormentado
Μe expirasse detodo! Εu que perdia
Se fosse como féra unir-me άs féras 2 !
Sim, mas ai da mulher que na floresta
Ρassasse então ! com que ancia entre estas garras
Μοίa um coragao! como o trincava !
Ε Ιgnez !... Ignez, a barbara, veria
Se a quem foi mais que irmão, que amante e esposo
Se antepόe Μenestreis, de maos afteitas
Μais άs cordas que à langa! Ε todavia
Forão essas as mãos que se encantárão
Νο que as minhas vedei! que um apoz outro
Μe hão profanado virginaes thesoiros ! -- ,,
Αqui morreu-lhe a voz, serrοu com forςa
81.

Dentes e olhos; a fronte contrahida


Se abateo ; seus joelhos se apertaräο;
Βangeo-lhe o peito co' ο cruzar dos bragos;
Com tal furia os cruzou, que julgarias
Que sentίra uma serpe nas entranhas
Εia afogal-a, ou que temendo a angustia
Μais amplaja αμe o seio duς a continha,
Ρara nio rebentar o abrange e opprime.
Dao cinco horas; acorda em sobresalto :
Ηe noite : ,, Durarà perpetuamente
Ε'sta noite de outomno 2 !,, Α. alma de Ηenrique
Caiu no abatimento ; reclinou-se
Νa pedra o corpo: os olhos se-lhe-molhao;
Suspira e diz - " Deichemol-a. Finjamos
Ωue morreo, αιue jamais na terra a houve,
Θue nunca eu fui feliz, gue a vida inteira
Levei n'um sonho. Se adorava Αdolfo,
Viva, e estou bem vingado, se o detesta
Como um traidor, se torna a amar-me, viva
Ρara morrer cem vezes cada hora,
Ρensando em guem matou, gue tanto a amava.
Αssim não se dirã gue um Cavalleiro
Ferisse uma infeliz: basta gue eu morra.
Se o mundo esquece para lá das campas
Εsta dor grande expirarà comigo,
Se não esquece, lá me irao seus gritos
Οnde guerque la esteja. Ο meu cadaver
Serά jά pό , e as lagrimas da ingrata
Ιr-mo-hãoinda regar! hade ver sangue,
Ε4
82

Sangue meu, transsudando d'essa terra ,


Que ante ella hade bolir, porque a assassina
Foiella, armou-me o brago e deu-me o golpe,
,, Εu quedo !... eu mudo !.. eu préso sob a terra !...
Ε ella viva !... ella solta!... ella podendo
Dar-se a quem lhe aprouver!.. Ignez e Ηenrique
Εm dois mundos, e em meio o esquecimento 2!..
Τem de morrer: é forga. Iremos ambos.
., Que vinganρa me-aguarda ao fim dos tempos !
Αi do opprimido due nάο cré na tuba
Do Αnjo acordador, e nao appélla
De seus tirannos para o livro eterno!
Εsse dia é preciso: ό minha sede,
Νa confusao de lgnez fartar-te espero!
., Juraria ésta noite durartanto
Como a minha afiliegiίο2 Ρobre Fernando !
Deos sabe quanto a custo eu vou deixar-te
Νa desesperaφάο! Foi teu destino
Sobreviver-me em pranto duas vezes : .
Fosse a primeira certa , poupar-te-hia
Βastante dor, bastante a mim ; deveu-Se
Chorar quando voltei, não quando acabo.
Εm que derão tão ledas esperangas
ΙDe tão fraterna infancia ! Αos teus se ajuatem
Αnnos e bens, que o céo me tolhe avaro. ,, -
Εntao pela alma escura Ihe-acordárao
Μuitas saudades dos passados tempos.
ΙDe Imperio, αμe passou, taes fallao restos
Εm sécco areal dispersos: tal nos enche
83

Commogao, deparando em pâtrio monte


Co' as ruinas de antigo Paςο ignoto
De Castello Μourisco, ou templo grande,
De Romanos votado a Νume incerto.
Τalvez de um terremoto sacudidos ,
Vergando, a terra horrisonos vierão !
Reliquias sao formosas, mas contristão
ΟΙhos que as vem sem nexo , alma que as sente
De honra e vida privadas: entre as pedras
Saudosas cresce o mato, alga silvando
Αltivo cόllo a serpe, e os lobos uivao
Ρela alta noite, como reis do sitio.
Quem podesse a memoria escurecer-te,
Μisero cavalleiro 2 esse teu pranto,
Βem que a saudade o exprima, έ corrosivo;
Dobra teu mal o mui feliz que foste.
Νao mais compares tempos: se é possivel
Restaura o lasso espirito com o fresco
ΙDestas auras macias, volitando
Νeste ceo ainda noite, mas ja limpo :
Νao sentes como as lagrimas te furtão
Οu tas seccáo piedosas 2 Νem sό uma
Αve ainda acordou, não luz no oriente
Αlbor de novo dia : apenas voga
Calada barca ao longe, pelas agoas
Εspelhadas reflecte a mui formosa
Εstrella d'alva ά borda do horisonte ,
Α rir ά flor do lago. Νada sente
Ηenrique, mergulhadΘ em seus abismos..
Ε 5
84

ΟΙhando o campo undoso, αυe de vezes


Ρor dentro o coragão se lhe apertära
Ρara precipitar-se ! que de vezes
Τremeu do temerario pensamento !
Deos sabe ο αμe faria, se aura leve
Νão viesse os ouvidos distrair-lhe
Com os sons quebrados de um descante ao longe !
- ,, Νa terra muda e erma ainda ha φuem folgue!
Ιhe-exclama o coragao !,, e attento bebe
Α toada campestre. Semelhantes
Αo festão lá tecido em longes terras
Ρara um mimo de amor, que vive em parte,
Εm parte ja vem murcho, mas nas flores
Languidas αμe inda restao, se adivinha
Que foi de amor lindissima grimalda ;
Semelhantes a ella , alguns sons fracos
Lhe chegão sόs, mas doces ! Quem não ama
De um mão sonho acordar a ouvir um canto2
Ο infeliz alegrou-se um leve instante,
Ρorque na alma atenuada , essa harmonia
Ι.he apagou tudo. Αi ! se elle presumisse
Αtengão d'essa festa ! era o descante
ΙDos Vassallos que a fama alvoroφάra
Do casamento coa esperada nova.
Deixao no patrio monte aldéas ermas,
Μisturao sexo e idade , e vem mas sombras
Αs descidas atroadas inundando.
Graqas mil ά distancia, Ηenrique o ignora!
Cρ' a duvidosa luz mal comegavάο
85

Α clarejar os altos do nascente :


Vem feril-o outro som da opposta margem...
Εste conhece-o elle, έ da sineta
Que à missa chama na alva capellinha
Γa Μagdalena , o tintinar agudo
Οndula amor e céo pelo ar ao longe,
Ε filtra um como balsamo orvalhoso
Νο coraςão chagado. Α espranga é morta;
Μas revive a piedade, e bem que tarda
Νa borrasca intriorja luz bonanga.
Ιnfeliz, tem de ο ser em quanto viva,
Αssassino ja náο: de Ignez a morte
Νάο virã ja de mãos que se-ajuntärão
Α orar com tal fervor. Prolonga a vista
Ηumida, άs nevoas do sabido oiteiro,
Αjoelha e exclama da abundancia da alma:
- " Ο' tu, a cujo altarja n'outro tempo
"Τanta vez me prostrei, se te foigrato
" Μeu animo fiél, meus dons acceitos,
" Νο favor que te imploro em fim mo prova. .
"Οpranto abriu-te os céos, mova-te opranto.
" Se lá pόde haver lagrima, renova-as
" Α bem de uma infeliz, como tu bella,
" Perdida como tu no ardor dos annos.
"Τu que por muito amar ganhaste a graga,-
"Ιnflue-lhe igual amor, seus passos rege
" Νa άrdua via dos céos , pelos espinhos
"Saudaveis da virtuosa penitencia;
"Do mundo a8 illusόes n'um ermo enterre
Ε6
86

" Se é tempo, e eu morra em paz. Deos lhe perdoe,


" Comο eu perdόο, αιuanto mal me ha feito,
"Ε a salve, que a sua alma era bem digna.
« Εis meus ultimos ais, meurogoextremo!,,-
Cala-se, e perturbado da alegria
Da luz que medra , o envolve e acorda o valle ,
De tanta ave com cantico festivo
Εendendo o céo, de tanta voz due avanga
De instrumentos ao som cantando em chusma,
Desceu. Θue não daria por fugir-Ihe,
Ρodendo, sem a ver! ha tanto absinthio
Νoultimoadeos!... ofogo oppressohetanto!...
Ignez tάο infeliz , tao nova e meiga!...
1Demais, jά foi tão barbaro com elia !..
Αssim palpita : desce ao αιuarto, inclina
Ο ouvido explorador, αμe nada bebe
Μais que mudez soturna. Αpressa-se, entra ;
Ve-as aos pés da cruz, com o rosto occulto,
Submersas na oraφάο. Εstremecβrão
De ouvir passos, entre-olhão-se, conhecem,
Gritão, desmaião ; jaz Leonor por terra,
Ιgnez de Ηenriqueembraςos: n'esses brages
Οutro tempo tão seus, αμe por instincto
Ιnda quasi que a apertão mollemente!
De ambos os desditosos em fim correm
Αs represadas lagrimas , arquejäο
Εstes dois coraςόes outra vez juntos.
Jά ο beijo do perdão volteava a medo
Νos ultrajados labios: quem podia
87

Ver a face de Ignez e crer n'um crime 2


Sentir odio ou furor, unindo-a ao peito 2
Ηia . . . mas as religuias espalhadas
Viu da grimalda e cinto, as chagas fundas
De todo ο coraςão verterão sangue.
Αbre-a dos bragos e comega-- "Αmei-te
De mais talvez, de mais e o Céo me pune.
Νão tenho due increpar, nem due exigir-te,
Νada arguo nem pego: ο αμc me importa
Ηe saber da tua alma. Εsses encantos,
Da ruina de tres funesta origem,
São terra, a terra os deu, tem deir-se άterra.
Μas não assim o espirito : formoso
Saiu de Deos, a Deos formoso o deves. ,,
- "Ο'Ηenrique! bradou de Οrlando a filha,
Se lesses aqui dentro o entenderias,
Νãote merego a morte, e sei que intentas....
Ρorque heideeu illudir-me?intentas dar-ma!
Ve-me a teus pés, sόsinha, sem defeza :
Jä não invoco os titulos do sangue,
Ο jus do antigo amor, as leis severas,
Ωue professaste, entrando Cavalleiro:
Α humanidade invoco, os Céos, os dias
De umvelho, αμe teamou, duepor mim vive,
Ε morrerà comigo. Οdeio o mundo,
Μas a morte me aterra. Τu conheces.
Εsse mosteiro austero, povoado
Ρelas filhas de Βento, e as leis e os bosques,
Que as separão do resto do universo.
ΙDesde due para mim te cri perdido,
Αffiz-me ao nome seu, ganhei-lhe affecto.
ΙDά-me que ali meus dias se deslizem
Sό contados por Deos, que amadureςão
Μeus annos para o Céo na paz do ermo.
Se meu pai resistiο ά minha instancia ,
Vem, reforga-a com a tua : combatamos
Com supplicas, com ais seu brando affecto:
Οbrigo-me a vencél-o, e custe embora,
Dar-me-ha como uma graga o meu desterro.
Dir-me-has que protestaste a minha morte :
Como ! um perpétuo adeos aos meus e ao mundo,
Νão merece este nome 2 e se não dueres
Que me alumie o sol que te alumia,
Cedo os meus males cumprirãό teu gosto.,,-
Ηenriqueentäο:--"Μeu voto estά croado.
Νão me entendeste, eu não pedi teu sangue.
Αpraz-me o que propόes: quero ir eumesmo
Αo teu voto assistir, ver essa tranga
Cair-te aos pés cortada, olhar-te envolta
Νa mortalha entre os canticos da tumba,
Juntar com a tua a minha despedida
Αos prazeres e ao mundo, e ouvir tremendo
Ο estrondo dos portόes inexoraveis,
Αpoz o entrar fechados para sempre . . .
Νão importa: acharás serenidade,
Ε eu descango talvez: se delirämos,
Α razάο vem com o tempo; estarás livre
ΙDe seducφόes, extincta para a terra ,
89

Τeu proprio nome extincto. Εste segredo


Da nossa historia negra aqui se enterre:
Μaisint'ressa due à tua, ά minha gloria.
Vai pois, vaiser feliz, se inda he possivel;
Quanto a mim, Deos me ampare de mim mesmo,
Ν'este mundo, mais ermo que o teu ermo.
Vem, busquemos o Conde.,, - Väo-semudos
Αo remoto aposento, onde pernoita.
Αo primeiro raiartinha ido ao templo,
Lhes disse um servo, e não tornára ainda.
La vao: precede Ηenrique os vacillantes
Ρassos de Ignez, que o pranίο engole e o segue.
Ver para nunca mais ο due em mil annos
Viverá na saudade! olhar fugindo
Α casa paternal, o chão da infancia,
Ε aquelles moveis mesmos, testemunhas
ΙDe tanto gosto e dor, detanta vida ! . . .
Βronzeo due fosse um rosto achära pranto.
Εntrão no templo : um féretro enlutado
Feriu primeiro a dama, e logo ao lume
Das tocheiras nos angulos accesas,
Viu sangue, viu Αdolfo !... arranca umgrito,
Voa , abraga-se a elle , e jaz immovel. ,
Νο espectaculo atroz estuando Ηenrique,
Αrrebata-a, com ella ao velho corre,
Que a encontral-a corria atropellando
Οs pés senis. Leonor que o busca embrados,
Εntra e a cerca de amor. Ο ancião e a serva
Νos bragos fracos a sustentão fraca,

Sob as trevas da abobada, no meio


Da3 consternadas aras, ante o aspecto
Daquelleeterno Ηenrique-"Ηevinda ahora
Ρropicia, ahi tens teu pai, teu pai te abraga,
Ρede-lhe o ermo, cumprirà teus votos.
-" Gue hei de eu pedir exclama Ignez ! vinganga
Vinganga contra um perfido assassino!
Αquelle sangue a brada, aos Céos a imploro
Como ultimo favor. Vibora negra,
Vinda do inferno a empegonhar a terra ,
Ρrofana os olhos meus co'os restos mortos
Do que amei, do que adoro mais due nunca,
Οs de um pai com uma filha delirante,
Com teu aspecto hediοndo estes altares!
Μas por estes altares, pelas ancias
Que embebes n'este velho, pelos sustos
D'essa infeliz, pelos meus proprios transes,
Εinda mais por um sangue cavalleiro,
Θue à taigão derramaste, aqui te voto
Οdio maior que todo o amor antigo!
Ρara arrancar-me a vida due detesto,
Quehesitas2 αueres mais2! precisas ver-me
Cingir sobre este seio o esposo extincto2... ,,
Αqui morreu-Ihe a voz n'um grito agudo,
Ε ο péjà para o féretro voltado,
Deu a passada extrema . . . . n'um relance
Viu luzir o punhal na mão de Ηenrique,
Descer o golpe, traspassar-lhe o seio,
Que arroja em borbotόes o sangue e a vida.
911
-- Viva Ignez l Viva Αdolfo ! Αo Τemplo! Α' festa.
Soa de toda a parte. Ο châο retreme
Co'o tropel tumultuoso, gue là chega
Com toda a pompa rustica: jà largo
Se espraia o céo de musicas, de versos:
Lά vem a danga, os mascaras , as c'roas,
Οs arcos de verdura , as mil off rendas.
Já da primeira turba os passos trilhão
Ο limiar ovantes ! Como o raio
Que atravessa um jardim cegando as flores,
Vόa fendendo o attonito tumulto
Ο assassino com os olhos espantados,
Εrigado o cabello, as maos em sangue !
Μas gue sangue esparsiu 2 ! quem era este homem 2
Οuem Ihe viu as feiφόes2quefez no templo2
Νinguem o adivinhära. Ε αμalvereda
Τomou 2 porque razao não foi seguido 2
Εlle! ! e duem ousaria ir-lhe no alcance,
Νem encarak o em face 2! era terrivel,
Τerrivel sea olhar, mais de fantasma
Quedehomemvivo! Εaquelletodo, eafuga!
Εra Lusbel dos céos precipitado
Αnte a espada do Αrchanjo, entre coriscos.
Ρassou, sumio-se o horrendo meteόro,
Μas o estragoali jaz! Τodo o Castello
Νegreja em dor e em luto : a torre atroa
Chorosa este ar choroso, entre as pesadas
Αntίfonas de dor, austeros Psalmos.
Ο altar que ia sorrir, enviando ao mundo
92

Μais um par venturoso, assiste és preces,


Com que a religião conjura os Αnjos
Θue à alma solta acudão, conduzindo-a
Αo conspecto, do Αltissimo. Jά gragas,
Virtude, espranga, amor, audacia, brio,
Ν'uma sό hora aos olhos desparecem,
Αos olhos, αιue inda ά cova debrugados,
Vao dar-lhe o ultimo adeus, beber curiosos
Τoda a liςão da morte, e horror da campa.
Ρaz άguelles que opprime a ferrea noite!
Ρaz a seus restos! @uem dissera o mesmo
Com supplica efficaz a bem de um velho
Οrfao de tanto amor , we pai 8em filhos!
Pela vida espinhosa, ir-se-hao desde hoje
Semimortas, e soltas arrastando
Suas horas eternas: taes da Serpe
Que em ocio ao sol dormia , e foi talhada
De inopinado ferro em mão raivosa,
Languidos, palpitantes, desvειirados
Οs miserandos membros se procurão
Sem nunca mais se unir no chão das Sargas.
Quem, senão elle, saberà quaes noites
Lhe curtiu a amargura entre os fantasmas
ΙDo somnoinquieto emáο! Quem, senão elle,
Soube jämais o fundo ao sentimento
Com αμο os dias levava, ora abragado
Αo altar, ora à campa, ora perdido
Solitario nos bosques solitarios,
Jά meio nus, e pallidos do outomno!
93

Αi! αue vezes mais pallido do αμe elles,


Α calva fronte oppressa reclinava
De Leonor no regago, elhe pedia
Αlgum dito de Ignez, uma lembranga
Do seu genio benefico, um saudoso
Cantar dos seus, cantar entre solugos
Μal ordido, escutado entre solugos:
Ε cedendo ά illusäo de voz, de idade,
Α abragava gritando --" Οh! minha filha!
Filha! guerida filha, nao me fujas:
Νao me deixes na terra, ou vou comtigo!,,
Μiseros! eis seubem! carpir-se juntos
Ε apascentar a dor nos sitios d'ella!
Μas d'outra sorte aprouve a DeΘs! Οuviu-se. . .
(Εra uma antemanha chuvosa, escura ;
Α'hora em que maisfundo impera o somno)
Οuviu-se horrendo grito, unico, estranho !
Donde 2 de quem 2 pοrgue 2 ninguem o soube.
Ε viu-se apόs, ο Conde mal sustendo
Νa mão trémula a alampada nocturna,
Suado, a pino as căs, o andar incerto,
Αmarello, gual vindo do outro mundo,
Correr com surda voz chamando ά fuga.
Já do Ρago Feudal o espόlio immenso,
Ε a turba toda attonita, demandão
Do lago verde-negro a opposta margem.
Αdeos eterno aos muros do Castello,
Αos seculos de gloria, άs mil saudades
Ιmpressas por todo elle ! Αspecto humanό
94
Ηumana voz morrerão-lhe! silencio,
Solidio e terror váo de ora άvante
Serda ponte, em váo baixa, eabertas portas,
Unicas, invisiveis sentinellas !
ΙDo cão nocturno o atroador latido
Νãoirã mais nas salas espagosas
Αcordar um sό echo; esse relogio
Glueinda numéra as horas da viagem,
Vai deixar livre o tempo que adormega
Sobre o alto cume das marmόreas pompas,
Que o peso estragador Ihe irao sentindo.
Da antiga, illustre, extincta Dynastia
Α residencia inteira se abandona
Αos passaros da noite, άs plantas bravas.
Α razáο soube-a Οrlando, e se elle a disse
Εoi talvez a Leonor, αμe surda a preces
Jämais a não contou. Ο αμe foi certo, .."

Τoi que todo esse outomno e todo o inverno,


Se via divagar nas horas mortas, -

Uma luz no Castello. Ο Conde e os servos


Τremendo a olhärão da fronteira riba :
Das aldéas do monte os moradores
Derão a mesma fé. Correu boato
Que era a sombra de Ignez, ou que era Ηenrique
Vivo ou morto, que uivava no Castello.
Contava-se tambem que uns ais soaváο
Νa galeria e templo. Um veterano,
Costumado a affrontar sem medo a morte,
Curioso do prodigio, e à visinhanga
95

Querendo dar socego, e obter mais fama,


Βaldando dissuasόes, instancias, choros,
Sό das armas e audacia acompanhado,
Quiz ir là pernoitar ; foi: mas à volta
Νinguem o conheceu ! horas tao poucas
Lhe tinhão dado aspecto de cadaver,
Ε encanecida fronte. Ο que elle ha visto,
Οu perdeu a memoria ou juramento
Εez de eterno segredo, inda é mysterio.

ΕΙΜ DΑ ΝοΙΤΕ Do CΑSΤΕLLo,

Residencία Ραγochία! de S. Μαnιede dα


Castanheira do Vouqα 4 de Junho de 1830.
- - - - -- - -
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97
ΕΙΕΡΑΕ ΟS
Α' cerca da inυenφάο
ΓΑΝΟΙΤΕ DΟ CΑSΤΕLLΟ.
-εξεεει--
Ι). todas as presumpgόes vas , αμal mais vά
que a de um poeta due se préza hoje de ori
ginalidade ! Μuita cousa haverά nova debaixo
do sol, mas tantas sao as de que ja alguem por
esse mundo tem tomado posse, due nem ha es
tudo que as abranja , nem memoria aonde tal,
deposito coubesse, Diz-se e he verdade, que os
campos da fantasia nao tem horisonte conheci
do: succede comtudo a quem por elles corre,
por mais sό αμe emprehenda ir , por mais
transviados e virgens caminhos que julgue
romper , encontrar sempre agui ou acolά vesti
gios de outrem, antigos ou modernos, maisou
menos signalados.
Ρara a experiencia dos poetas e mais autho
res de litteratura appello agora , elles que di
gão que de vezes não deparão em livros que
não haviao lido, com as suas proprias ideas ,
com aquellas mesmas que mais lidadamente
havião produzido, gue tinhão por mais recon
ditas, e de αιue mais sua vaidade se pagava. Νa
escolla classica, dizem os modernos , ja não re
soavάο senão echos de echos : pois na romanti
ca , apesar de tiίο recente ainda , parece-me due
ja tambem quasi tudo que se cro ver sao refle
98
χos de reflexos : e se me he licito em cousa ena
que me dou por mui pouco sabido, aventurar
nlinha opinião , para mim tenho gue ά mina
romantica muito mais cedo se hade ver o fun
Φo do que se ja vio ά classica. Οs que niίο gas
tão sua vida no oficio de escrever sao sempre
prestes a taxar de roubo todo o pensamento que
de outro deu ares, se esse outro logrou a bδa
estréa de vir um dia mais cedo a lume. Νάο
ia assim os due por uso escrevem , αιιe muitas
vezes antes de terem publicado, nem sequer
mostrado suas obras, veem oseu thesoiro intel
lectual a brilhar por alheas mãos: e d'onde a
guardavao os applausos da descoberta , sό vcem
atirar as apupadas da gralha entre os pavόes.
Ρela minha parte confesso due este desar e in
fortunio, se em cousas taes cabe esse nome, mui
to pύde comigo, e tamanho dissabor me dά ο
encontrar até a mais leve parte de meus inedi
tos desbaratada em impressos de poetas, a quem
eu tao pouco conhecia como elles a mim, que
ja da poetica de Ηoracio risquei, por damnoso
e traidor, o preceito de arrecadar e corrigir ,
αuando menos por nove annos, os Ρoemas. In
ventai e escrevei hoje , imprimi d'aqui a nove
annos , e vos dou minha palavra de experimen
tado, gue o Ρoema, que da Vossa penna saio
original, sairá do prelo traducgao.
Um dos maiores pasmos que jamais em mi
nha vida senti, foidepois de ter creado, execu
tado e levado ao fim a Νoite do Castello em
1830, ir encontrar a sua idea fundamental em
μrna ballada que pela primeira vez ouvi no
Ρorto em margo de 1834. Recitava eu o Ρoe
99
rna ao meu bom Αmigo Αlexandre Ηercularo
ae Carvalho, mδgo no qual nao sei se mais he
para admirar sua ja copiosissima erudiςάο , se
a grandeza de seu poetico ingenho, duando es
te me interrompe e me pergunia se por ventu
ra tomei por assunto a Βallada Ιngleza de Αffon
so e Isolina (*) ! Respondi-lhe que nem sequer
jamais tivera d'ella noticia. Εntao una repetio,
por elle vertida em quadras : e segunda e ter
ceira vez o fez, sem que eu podesse alcangar co
mo em tão singular ponto do espaςο infinito eu
e Leισιs (ξ) Αuthor da Βallada, nos houvessemos
encontrado. Θuanta metaphisίca revolvemos pa

(*) Α Βallada acha-la-ha o Leitor no fim d'esta


ΤΟSa.

(S) Lemois forma na Litteratura Ingleza com Ιδα


άcliffa e Godmυικ a escola dos romancistas , a que
Ε chamar horibili-methaphisicos - Ο Μonk
e o romance (em prosa ) em quc vem inserido
ο rimance (como chama João de Βarros a estes
pequenos contos populares em verso) de .Αlonso
αnd Imogene. Lenυis parece ter usado n'este peque
no poema um novo genero de versos de sua inven
gao segundo diz Coleridge. Νο meu entender o
Μοnk he hum romance que nada vale e que nin
guem hoje leria se não fosse o terror due inspira,
sentimento que o homem procura por tima tenden
cia semelhante à da mariposa que procura a luz que
a destrόe. Ν'esta opinião que eu tinha άcerca de
Leκυis ful ha pouco tempo confirmado pelo meu Α
migo Ε. Ωμίllinan (author do Dunluce Castle) ακe
me disse tal era a opinião actual dos Litteratos Ιn
glezes - (Ευtracto de huna Carta qme em data de
Ι de Νooenιώro de 1835 me escreυco o meu .4mίγο
•ά/βίναηάre iίcrcμίμηο de Carυαίho.)
Τ
ΙΟΟ
ra soluςão de tão curioso problema, tanta des
perdiςάmos: até gue a final, não podendo eu
negar a Lcteis a preferencia deidade, nem dis
simular que o Ρoema vinha guasi tão contido
na Βallada comοuma arvore nasuasementinha,
tomei por melhor partido suppor que jaem al
guma outra parte e ha largos annos, devia eu
de ter ouvido ou a propria Βallada, ou alguma
relaςão d'ella , e due apagando-se-me com ο
tempoo mais d'aguellas memorias , aconteceria
que alguma sua amortecida idea se me apre
sentasse tão despida de accessorios de nomes
e lugares, gue podesse parecer creaςão espon
tanea da fantasia , a qualjulgando desenvolver
aquelle primeiro germen , pouco mais fizera
(ο que ja então não era difficil) do que avi
var algumas outras ideas associadas : e eisaguί
eomo άs vezes o innocente se vé tão completa
mente enredado em apparencias de criminoso ,
que elle proprio comega de si a desconfiar !
Comtudo, se novamente me ponho a bem
confrontar, e de espago, estas duastão parecidas
invengύes, e me recordo de que maneira a mi
nha a fui eu fabricando vagarosamente, parte
por parte, e entre o edificar mudando a miudo
o proprio desenho do edificio, cobardia me pa
τece que para arredar de mim uma suspeita
desmerecida , revalide com o meu consenso uma
accusagão gue sei me não assenta : e vejamos
se com pouco exame e reflexaω, posso inclinar
para a verdade os juizos torcidos pelas primei
ra8 apparenclas.
fundamento commum dos dous Poemas
he hum voto de perpetua constanoia amo

ξ
ΙΟΙ
rosa em vida e morte. Certo que até aguί
nem eu nem Lcubis inventämos cousa al
guma, e nem seria facil averiguar quem fosse
o creador de taes protestos due sempre e em to
dos os amores se fizerão , ainda gue raro e em
bem poucas partes se hajάο visto cumprir. Con
siderei eu, e considerou Louis, e outro qualquer
consideraria , gue o quebrantamento de tão so
lemnes promessas era a maior offensa gue a um
amante podia ser feita : e αυe se o amante as
sim trahido podesse aehar modo de se vingar,
não deixaria de com todas suas forgas o por por
obra και e um exemplo d'essa tarda , inutil , mas
muito natural vinganga, foi o que a ambos nός
nos occorreu escrever. Νecessario era pois que
em uma e outra parte apparecesse um par de
amantes bem amantes , votando-se mutua eper
petua fidelidade , que depois sobrevindo a au
sencia, ou elle ou ella, preferindo o presente ao
passado e ao futuro, caisse na fragilidade de
deixar ir o coragão para onde o chamassem ca
ricias. Ρara ellas atirάmos o peccado da incons
tancia , não porque n'ellas melhor caiba do gue
em nόs , antes bem do contrario me persuado
εu , mas porαue emfim emquanto o homem
for pintor sempre o leão hade ficar debaixo.
Cada um de nβs poz por tanto em segunda
mão a sua heroina , sem que para isso houves
se neeessidade de copiar nada de minguem. Se
guindo o progresso usual das cousas, indo cres
cendo os segundos amores das nossas heroinas ,
deviao chegar ao seu zenith, isto heao consor
cio, e isso se fez. Α cortezia de todo o poeta
αυe não fosse Selvagem, "4"Ε
tambem que
1Ο2
para honra da Dama se houvesse de dar toda
a possivel desculpa ao scu perjurio , a qualnão
podia ser outra senão a certeza de ter morrido
o a guem de primeiro se Gbrigάra , e essa cor
tezia ambos a tivemos. Importava αμe osoffen
didos wolvessem ά scena, quando menos espe
rados, a fazer o desenlace e a punir as ingra
tas, fim unico moral em que ambos nόs pozό
ramos o olho. Α occasião d'este repentino ap
parecimento nao devia ser outra senao a epoca
do noivado, porque então era due o crime se
achava maduro para ser colhido pela mão vin
gativa do ciume, e ainda nao consummado para
não langar nojusto do castigo uma nodoa maior
«le atrocidade : apparecem pois no Poema e na
Βallada os terriveis impedimentos quasi άhora
da uniáo. D'aqui por deante tudo he diverso.
Αffonso que devéras tinha morrido, apparece
fantasma e leva comsigo para o outro mundo
a sua traidora em corpo e alma , deixando vi
το ο Infangao seu rival; Ηenrique volta vivo,
e sobre o cadaver do competidor feliz dά morte
ά sua amada. Αté aqui , parece-me, não ha en
contro algum due por uma derivagao succes
siva e necessaria de idéas se nao explique suf
ficientissimamente. Ο αμc um pouco mais em
barago poderia causar he a coincidencia não de
serem formosissimas ambas as Damas, φue es
sa he condiςão infallivel em poemas e novellas,
nem tão pouco de serem ambas senhoras de al
ta linhagem , pois que a poetica ainda se não
tem dignado de authorizar a tragedia plebea ,
porem sim a coincidencia de serem ambos os
dous, Ηenrique e Αffonso, cavalleiros do tempo
1Ο3
das cruzadas , e ausentarem-se um e outro pa
ra a Ρalestina. Εsta mesma ja me não mara
νilha : emprehendendo-se escrever um Ρoema
romantico, vem forgosamente a idade media pre
sentar-se ά imaginaςão, como aquella a quem
sό cabe o nome de romantica. Com as ideas
essenciaes da idade media vem tambem forgo
samente a das guerras nos lugares sanctos: e
querendo-se um heroe d'esses tempos e haven
do precisao de o por por largo espago longe de
sua terra , nada he mais obvio e nenhuma in
vengão merece menos o nome deinvenςão, gue
a de ο mandar peleijar com os infieis άcerca
ao Sancto Sepulchro. .. "

Τemo gue me arguáo de gue em assumpto


de meu particularinteresse tanto detenha agui
os meus Leitores, mas ao mesmo tempo en
tendo que no ventilar esta questão algu
ma outra levanto geral, cujo exame e decisäο
ηão serião inuteis para a theoria ideologica da
Litteratura. Ε de mais, por pouquissima que
seja a ventagem que se pύde seguir do gue
n'este livrinho conversarmos eu e meus Leitores,
sempre cuido αμe mais vale determo-nos por
algum espago n'estas innocentes disputas littera
rias, do gue trazer sempre o espirito nos tratos
da politica , de que tao pouco se sabe e tanto
se falla : e assim continuemos ainda atratar, de
invengâο. -

Αs Βodas do Conde Rιαααri, gue adeante vao


estampadas , tem tambem sua tanta ou duan
ta semelhanga , posto due muito mais remota,
com. a Νoite do Castello. Conviria investigar
se andou ahi alguma cousa mais do que méro
Ε 3 "-
ΙΟ4
e muito possivel acaso , muito fiz por isso, mas
nada obtive. Εsse αμadro, não sem formosura ,
ainda que alias fraco e diffuzo em muitas par
tes , ahi appareceo pela primeira vez no Jornal
Francez Κοltigeur Ν." 21 de 19 d'Λbril de
1835, sob o titulo de Ηistoria Siciliαnα. Οs Re
dactores declarάrão no seu Ν.9 22 do dia 22
do mesmo mez e anno , haverem-no copiado
do Jornal de Pariz Le Τemps Ν." 1582 - 16
de Fevereiro 1834: o gual o tirära de outro
Jornal tambem Francez Le Μέtropoliίαιη. Se
de feito as Βodas do Conde Rιαααri säο uma
Inistoria, se as cousas apezar da inverosimilhan
ga , se passárão circumstanciadamente como se
ali referem , ο de gue nίnguem até hoje me
soube dar a minima nova , elaro estά αμe o seu
author , guem quer que seja , nada me deve.
Se porem o todo ou a maior parte he ficgάο ,
e se essa Folha do Μetropolitano , com que
bao pude deparar, he posterior ao anno de
1830, bem pόde ser que antes do author da
chamada Ηistoria Siciliana a ter escripta , hou
vesse conhecimento da Νoite do Castello, de
que ja entao corrião copias em Pariz , por mãos
de aiguns meus Αmigos , sendo até datada de
anno de 1830 a carta com que à cerca do
+al Ρoema me mimoseou o Senhor Βriccolani.
Que o citado Ν." do Μetropolitano não fosse
antigo guando d'elle o Τempo extrahia um
artigo, cousa me parece quasi certa , pols que
um Jornal como o Τempo não usa de se sus
tentar com o facil rabusco de antigos periodi
cos. Como quer que seja, o exame das datas,
que de certo ninguem farά , nem eu mesmo ,
ΙΟ5
provaria irrefragavelmente que, se aqui andou
algum plagiato, não fui euquem o Cometteu.
"Ρara rematar esta jά longa defeza com
ιum documento de minha sinceridade , vou
dizer o pouquissimo que sei e me lembra
sobre a maneira comο este Ρoema foi engen
drado. Νao he este uso de Poetas, e com razáο ο
não he, que se todos tivessem a demaziada
franqueza de dar a seus leitores conta ά9
como fabricάram cada obra, muitas vezes Ιά
onde mais os admirão por sublimes e inven
tores, os virião a acharpobres e ridiculos Que
de vezes para um ingenho fecundo não he se
mente dos mais opulentos rasgos o objecto mais
trivial, o dito mais insignificante , e não raro
ο desacerto mais rematado ! Jά se disse que ne
nhum heroe o era aos olhos do criado gue em
seu quarto o serve, a dama que mais triun
fa pelas salas e bailes não hade ser vista nas
eangadas horas em que se prepara ao toucador;
a comedia mais saborosa de ver e ouvir perde
metade de sua graςa para guem a ouve e vé
pelo avesso dos bastidores , e rematado um edi
ficio, o primeiro disvelo. de seu dono he fazer
desapparecer d'elle os andaimes e instrumen
tos. Αssim säο as laboriosas edificaςόes do en
genho : e quem houvesse sido amanuense e
confidente de Virgilio, nao entenderia o por
que tanto nos maravilha. Εisaqui vou eu ago
ra , depois de ter mostrado a minha Νoite do
Castello , descobrir aos circumstantes parte
dos meios com gue produzi aquellas illusόes
opticas, os vidrinhos pintados, e o mesquinho
Coίo da minha alanterna magica. -

r 4
1 Ο6
Ρasseava eu por um jardim em Lisboa no
fim de margo do anno de 1830, poucos dias
depois de ter.ouvido ler o primeiro tomo do
Γanlasma profeία de Schiller. Passeava sόsi
nho ruminando um soneto que me haviam en
εommendado de queixumes etalvez impreca
gόes contra uma perjura. Εra ao cerrar da noi
te , de umajanella sobranceira vinhão sons de
piano, o meu espirito estava mui bem n'a-
quella solidao, guando nas bafagens queba
«las da viragao se comegárão de ouvir uns si
nos que ao longe tocaváo a defuntos. Εsses
poucos elementos, e guasi todos pelo sό acaso
deparados e juntos, simpathisavao uns com os
outros , e todos com a corrente que entao le
vaváo minhas ideas : e pois due me elles mes
mos procuravao , de mais nao tratei senao do
modo por due faria um vinculo para prender
estas diversas flores do meu passeio em una
1amo concertado , e se possivel fosse duradou
ro : e o primeiro embrião do Poema se achou
concebido. Θue leituras ou que outras circuns
tancias d'ahi para deante o desenyolverao e am
pliάrão até sua cabal formaςάο , nem . o sei
nem jά isso importaria a ninguem ; e pordue
he razάο irmos jά pondo em terra a proa , di
rei sobre a Invengão em geral duas palavras
por despedida.
Ρarece-me que bem poucos serão os cases
em que o estro tire de sua propria substan
cia as artificiosas cousasque produz. Ηe quasi
sempre a caprichosa fortuna quem por alguma
νia nos atira aos sentidos os objectos, cujas ima
gens depois aproximadas na imaginagάο do
1Ο7
poeta, o convidão, como materiaes jάreunidos,
para d'ellas se serviremsuas edificagύes. D'es
ies ajuntamentos de imagens recentes pelas
quaes muitas vezes se nos depertão outras mais
antigas, de todos estes ajuntamentos digo ,
muitos säο inteiramente incoherentes , e esses
täο prestes os rejeitamos, gue nem leve cons
ciencia d'elles nos fica. Οutros , ainda que
não de todo incompativeis, tem comtudo mui
pouca affinidade, e a facilidade de os conhecer
e rejeitar constitue o que chamamos bom gos
to. Οutros emfim , com tanta forga ou graga,
se adaptão, due o toma-los assim como vem
casados , e compor-lhes digna roda e sequito
se ha por muito grande felicidade de ingenho.
Ρor aqui vem , gue para αμe se consiga o que
se chama inventar, nada contribue tanto como
rechear a fantasia jά com a leitura , jά com ο
variadotracto do mundo eformusuras da natu
za. Τem todavia cada uma d'estas cousas seu .
desconto : a leitura tenta-nos aos furtos : e he
o estudo dos homens e cousas pόstas fora de nός,
longo de si, cheio de confuz5es e aborrimento,
e tão azado para nos inspirar como para nos
apagar a inspiragάο e dissipar-nos a alma pelos
gostos das cousas frivolas e de nenhum pro
veito. Ο αιue portanto melhorse hade fazer,
Ηe temperar um pelo outro : a solidao refle
xiva da leitura com o bolicio e scenas move
digas de fora , e a agitagάο de fora com o ra
manso dos livros em que mais houvermos pβs
tos nossos amores. Μas nãυ se poderia idear
algum meio artificial , por onde estas duplices
vantagens se conseguissem reunidas e sem cus
?5 .
1Ο8
ιο! um meio de forgarmos todas as cσιusas do
τιniverso a virem procurar-nos em nossa cama
ra, e variarem aos nossos olhos, e velocissima
mente, todas suas possiveis combinaς5es até
as mais raras e disparatadas ! sim existe ; e com
quanto a muitos haja elle de parecer ridiculo,
ahi vai sem preambulos nem venias : provem-no
e talvez ο dem por bom. Νσme de Cérebro ar
tificial Ihe pozseu Inventor (κ) e com razao, por
que esta machina nao sό se occupa de represen
tar todas as ideas do universo, mas nos fόrra
ο trabalho de as associar por todas as manei
ras, submettendo-as ά authoridade do nosso
juizo, unico dote que lhe fallece , por não ser
possivel metter juizo em uma machina. Lan
gai em uma urna um grande numero de sortes,
em cada uma das quaes se haja escripto onome
«le uma cousa natural ou artificial, que pela

" (*) Τodas as mais maravilhosas cousas tem tido


pequeno e rude principio., Εsta fonte de invenρδο
φue aponto, podera ser ainda para o futuro e em mãos
de mestre, origem de algum methodo amplo e mui
ιftil : pelo que me compraso de deixar memorado ο
mome de quem produzio ésta preciosa idea, ά αυal
#odavia nunca elle deu importancia, não querendo
sequer gue para mais valesse que para invenρόes
barrativas , e em particular do genero dos contos
orientaes, ou dos poemas de cavallerias , taes como
os de Αriosto , e Fortiguerra. Ηe a meu Irmέο Αu
gusto Γrederico de Castilho due devo, entre outros
achados litterarios , este, do qual não sei porque
razέο me não tenho aproveitado, mas que nas tenta
tivas praticas αμc d'elle fizemos, achei ser de gran
de socorro.
" ΙΟ9
sua indole tenha bom cabimento no genero de
Ρoesia a que mais vos affeigoão vosso genio
e estudo. Εstes muitos nomes, αυdndo a refle
χάο vo-los nao suggerir ou a contemplaςão do
mundo , subministrar-vo-los-ha a leitura de
exemplares analogos. Revolvei as sortes e ti
rai, procurando por entre as differentes ima
gens que vos forem surgindo, o melhor nexo
que poderdes, Pasmareis de vercomo o acaso,
sό ajudado d'uma pouca fantasia vossa (sem
a qual em vao tentarieis ser poeta) vos offe
rece taes riquezas de originalidade , como tal
vez por nenhuma outra via chegarieis a encon
trar. Dirão que os partos d'esta urna menos
vezes serao achados para aproveitar, αυe de
sacertos para rir. Νάο ο nego, mas que mal
vos faz o rir! e pelo contrario, esses thesoirος
que a rir achareis de longe em longe, apre
cia-los-heis por mui boa riguesa , e porei uma
comparagao, ainda que de não subido objecto
a tire. Εsses chamados oculos multiplicadores,
os quaes com sό sacudi-los e alterar a dispo
εiςão das pedrinhas de diversas cores que an
dão lá dentro , vos amostrão figuras eterna
mente variadas , säo poderosissimo subsidio
para as imaginagύes exhaustas dos estampa
dores de télas ; nem todas suas vistas os con
tentão , mas com todas se divertem , até Viε
a que mais agradavelmentelhes encha os olhos,
Αo menos n'esta loteria do Cerebro artificial
as entradas sao gratuitas , as sortes pretas va
liosas , e ainda as brancas pela maior parte
vos divertem. Repito que , pordue esta pro
posta he nova e parece extravagante, a não
Ε, 6.
ΙΙΟ
εngeite cada gualsem a experimentar. Ρorgue
não haverά uma arte de inυcηςάο assim como
ha outra de memoriα (a) ! e se por meios mui
(a) Ο fazer levemenςão do αιue acerca da arte
άa memoria sabemos, não dirά muito com a
materia especial gue levamos tratada , mas
não lhe repugna tanto , gue muito bem não
caiba em uma nota , gue os curiosos de letras
se não desdenharάό de ler.
Εm gue lugares e tempos do mundo appa
recesse a primeira traga de tal methodo, cujos
fundamentos comtudo jazem em uma pro
pensäο natural a todos, cousa he gue ninguem
podéra affirmar. Volta de dous milannosha que
Ο Ρoeta Simonides fallando
Co' ο Capitam Τhemistocles um dia,
Εm cousas.de sciencia praticando ;
Ηum' arte singular Ihe promettia ,
Ωue então compunia, com quelhe ensinasse
. Α lembrar-se de tudo o que fazia; -

Οnde tão subtis regras lhe mostrasse,


Que nunca lhe passassem da memoria
Εm nenhum tempo as cousas que passasse.
Βem merecia , certo, fama e gloria ,
Quem dava regras contra o esquecimento
Que sepulta qualquer antiga historia.
Εsta arte de Simonides foi sempre depois
aconselhada e recommendada por bons inge
nhos, Αristoteles, Platão, Cicero., Quintilia
no, S. Τhomas , Leibnitz e varios outros : ο
αυe jά por si bastaria para resposta aos desasi
sados que sem a conhecerem a escarnecem.
Εm todos os seculos tem ella sido por filoso
111
tas vezes exφuisitos e até iocosos, conseguimos
decorar em uma hora o que em um anno nao

fos levantada do esquecimento e de novo en


terrada no despreso pela ignorancia , impostu
ra e mά cobίςa dos gue a tomάrão menos por
assumpto de ensino do que por mercancia
e trafico vergonhoso. Ηaviao-na os Filosofos
como chave a duasi todas as portas do alcacer
das sciencias : havião-na os corretores de in
genho e belfσrinheiros da litteraria republica
como gazύa para abrir os cofres dos curiosos e
enriguecer-se. Θuem bem reparar em αυe
passäo de quinhentos em numero os escriptos
sobre taes doutrinas, entenderά facilmente guao
credoras sejao de aprego, estudo e adopgâο.
Ο principio grandemente filosofico em due
esta arte estriba, na filiagão das ideas estά
posto e na potencia imaginativa , substitue ο
mnemόnico a nogύes simplices outras nogόes
variadas, gue vem a ser os instrumentos e meios
mecanicos de sua artificiosissimaindustria: en
volve e conserva o queignora dentro no que sa
be: asideas abstractas e desearnadas, e paraque
assim o digamos volateis , se lhe transformão
em positivas, sensiveis efaceis degravar, assim
como em um oleo se imbebe, pfende e para
largos annos se conserva o cheiro efugitivo es
pirito dasflores. Α memoria, faculdade de seu
natural quasi mecanica, remonta-se mais alta
e cresce arrimada ao.juizo, do qual omnemό
nico mai e filha a pάde a um tempo chamar.
Αo mnemόnico pozerão nome os sabedores
ρmnidico, Αs mais subidas leis do entendimen
Η 2
podéramos aprender, porque razάο despresa
to , e seus extravios mais desordenados , tem
igual applicaςão ptatica e bom prestimo nas
confeigύes mnemόnicas-Α simplificaςão das
sciencias, e especialmente da sua linguagem, he
ο passo mais alentado que ellas sabem dar
para se irem ά perfeiςäο.
Οutra cousa nao he a mnemόnica senão a
εlgebra da memoria. Sendo a memoria rapi
da como o pensamento cuja ella se faz traduc
tora, um oceano de ideas se entremette mui
tas vezes do primeiro ao φuarto termo de suas
proporς"es , essa associagão de ideas he o seu
fio. Ο fruto caindo da arvore de Νewton Ihe
revela a gravidade : generalissima leido univer
εο era essa , mas discorrião longos estadios de
raciocinios desde lá da grande lei até cά ao
tao pequenino exemplo, gue pela primeira vez
se encontrărăο fronte a fronte e maravilhados,
na alma de Νewton - Α muita simplicidade
a αυe jά hoje esta arte ou sciencia mnemόni
ca he chegada , abre e franqueia ao estudo
amplidao de campo sem horizonte para alem
das antigas metas , e concede άs retentivas
mais tardas e rebeldes, varinha para tama
nhos prodigios, como nunca as maisfelizcs οι
fizeram. Λtinai agora kά com decifrar-me a
razάο pordue sendo tão curta a vida, n'ella
curtissimo o quinhão para os estudos , pouco
ο αμe o homem sabe, infinito o gue ignora
τά sempre, sem numero o gue importάra que
εoubesse, se desprésao meios que suavizao e
abrevião o caminho, estradas de ferro e car
113
riamos com täο Ιeve fundamento a receita de
crear com facilidade novos quadros !

ruagens de vapor para a intelligencia ! Pre


juizos, interesses, imercia ! Τudo tem concor
τido, mas n'este caso e-pecial outros motivo"
Ιnouve, cujos principaes cuido que a dous se
haode reduzir : culpa dos apostolos da mnemό
nica, e falta de necessarios elementos. Θuan
to a esta segunda parte, em consequencia de
ιum laborioso Diccionario Μnemόnico Fran
cez por meus Irmãos Αlexandre Μagno de
Castilho, e José Feliciano de Castilho, mais
aplanadas andão , senão de todo destruidas ,
as principaes difficuldades. Νinguem fez ja
mais tamanho damno ά mnemόnica como os
roprios seus professores n'este nosso tempo.
Ε a quem muito ella deve, reque
ria dos discipulos espantosos juramentos de se
gredo , com ο αμe mui ruim fama deitou da
sciencia , a qual em animos de quem a não
conhecia, bem devia parecer indigna de lograr
a luz. Um Αimé Pariz αμe a hojeprofessa em
Εranga e jά em um pleito judicialfoi por meus
Irmãos convencido perante um dos mais autho
rizados Τribunaes de Ρariz de ter saido ά pra
ga litteraria com alheas galas que mal cosidas
ε mal trajadashia chamando suas , esse Αimé
Ρariz , digo, gue a si se assoalhava despeja
damente por author de um sistema em o qual
nem um sό principio havia inventado, tanto
encareceo e tão sem consciencia nem pejo, as
vantagens d'esta sciencia, e com ensina-la, täο
longe andava de bem Ihe alcangar a filoso
114
Ο peor inimigo que por deante d'esta novi
dade se alevanta , he a vaidade. Τodo o au
thorzinho mui presumido de si, cuidarά αυe
em a nao combater com o escarneo , dά mos
tras de se querer d'ella utilizar , e gue se isso
fizesse , provaria como o seu proprio cabedal
Ιhe não era bastante. Νao heide eu responder
a este sofisma , por não repetir cousas gue jά
atraz ficão ponderadas: mas para satisfazer a
esses escrupulos gue mais me cheirão a fra
queza φue a valentia, recordar-lhes-heium afo
rismo que certo não he novo, e vem a ser que
não tanto consiste a originalidade no gue se
diz, ατιanto na maneira por que. Βem anciam
cousa he o descrever a madrugada ou o luar,
fia e forga essencial de seus elementos, que
mais que Fenaigle a abateo no conceito de
muitos. Seis diversos Τratados hão sido na
Franga e em lingua Franceza publicados por
meus Irmãos sobre a mnemόnica, suas appli
caςδcs, e sobre os meios de facilitar a com
posiςão de suas formulas. Εspero eu que ο
mui particular e longo estudo gue em tal
materia tem feito , não venha a sό valer en
1re Εstrangeiros como até agora, mas que em
fim, d'elles algum plante catambem em nos
sa terra esta arvore, αμe não da sciencia po
rem das sciencias poderemos chamar, porque
se tomada sό por sό não alardea mais que
εsteril formosura, quasi que nao ha com tu
do ramo de humano conhecimento que enxer
*ado n'ella não pegue, não vingue, nao se
αττoje, e todo se não desate em ricos frutυs. .
ΙΙΙ 15
e com tudo tal estillo e cores se podem ainda
empregar n'isso, gue grangeem a outros pin
tores e poetas os gabos de inventores και ο αμε
portao sem duvida o tenho, que não temeria
affirmar, gue alguns poucos traductores se
avantajäο em originalidade a muitos authores
originaes. Ε aqui me cerro para dar ja passa
gem ά Βallada e Ηistoria Siciliana αμe dean
te de si me vierão trazendo a tão longes ro
deios e desvios. Α.
1Η Ι7

ΑΡΡΟΝSo Ε ΙSΟLΙΝΑ,
" Βalladα ίιυremente traduzida do Ιnglez de
- Lewis, pelo Sr.
Αlexandre Ηeroulano
de Carvalho.
4 Α"

- 1
De Ιsolina a mui formosa
Jä se parte o seu guerreiro.
- " Α Palestina me chama,
" Αdeos que sou Cavalleiro.
" Sinto, Senhora, os teus choros,
" Ε n'essas lagrimas creio:
" Μas hei medo a novo amante,
" De inconstancias me arreceio.,, -
3
- " Αffonso não te arrecβes
" Νάο tens que te arrecear:
"Juro amar-te vivo ou morto,
" Μais ninguem me ha de gozar.
"Τua sombra me apparega
" Se eu quebrar ojuramento,
" Comigo se ponha ά meza
" Νo dia do casamento.
ΙΙ.8
5
" Αli declare em voz alta
" Que o seu direito requer:
" Ρara o sepulchro me arraste,
" Gritando - έs minha mulher. ,, -
6

Largos annos säο passados,


Quando estremadΝ Infanção
De Ιsolina a mui formosa
Se aftoita a pedir a mäο.
7
Gracas e amores sao prendas,
Ν'elle Isolina as vé todas :
Εinezas αμebrărăο juras:
Grande turba acode άs bodas.
-" 8

Rompem co'o banquete applausos,


Αpplausos à noiva bella,
Quando entra desconhecido
Que vem sentar-se ao pé d'ella.
9 - Ν

Seu ar de agoiro, armas negras,


Αltura descommunal,
Ιntimão geral respeito,
Ιnfundem terror geral.
ΙΙ.19
ΙΟ
Νinguem conhecél-o pode
Que o elmo bem o encobria ;
Voltado contra Isolina ,
Ιmmovel, nada dizia.
ΙΙ

Ιsolina , a mui formosa ,


Convulsa esta falla fez:
- " Εrguei, Senhor, a viseira,
" Deixai a triste mudez.
Ί2

" Εm dia de regozijos


" Que vindes vόs agoirar 2
" Cavalleiro αμe assim usa
* Νäo sabe as armas honrar. ,, -
13

Γez-lhe o incognito a vontade,


Τoda a sala absorta pasma !
Ωue levantada a viseira,
Se vio medonho fantasma.
13 -

Ρallido, em pé, e crescendo,


Diz ά trémula Isolina : -
* Lembrada estarás de Αftonso
" Que morreu na Palestina.
12Ο
15
" Fugir de novos amores
* Οutrora lhe promettias,
"Juravas gue, vivo ou morto,
" Leal te conservarias.
16

" Τu me convidaste a boda,


" Ο teu convite acceitei:
" Ρalavras que me has dictado
"Ρalavras sao que eu direi.
17

" Μeu fantasma aqui declara


" Que o seu direito requer:
" Ρara a cova me acompanha,
"Vem, vem, que és minha mulher.»,-
18

Com a torpe mão arrasta


Α infiel gue em vao bradava :
Νenhum d'elles jà se via,
Seu clamor inda soava.
19

Εm prantos de noite e dia


Βreve o Ιnfanςão se finou:
Lά no Castello deserto
Νinguem depois habitou.
121
20

Salvo αυe nas longas noites


Νoiva em pranto ali se via,
Ε traz ella hediοndo espectro
Que nas garras a prendia.
123'

- Αs ΒoDΑs
do
σ ο Ν ΙΟ Ε: Η Ι Ζ Ζ Α Η Ι.
. . .κ.
. . ΗrsΤoRΙΑ sΙcILΙΑΝΑ.
( Δrtino trαduzido do Voltigeur Ν." 21.)

ο
"... -
-"απελ
Ε. τιm Castello antigo, gue entre Sy
racusa e Catana, não longe da aldéa de
Βruca , está formosamente situado, cincσen
ta annos haverά aconteceo uma lastimosa
tragedia que vos ora contarei. " ,

Τinha o Duque de Βruca uma sua fi


1ha donzella de dezoito annos, formosa em
todo o extremo, futuxa herdeira de seus
avultados cabedaes.
*, Τodos os mancebos mais bem acondi
cionados d'aquelles arredores, a requestá
rão e pedirão em casamento: todos os filhos
de casas principaes, que por seus , teres
e nobreza podiáo abalancar-se a tão alta
pretengao, contenderão fervorosos pela mão
de Leonor de Βruca, que esteera oseu no
me. Οutοrgou o Duque a filha que a seu
proprio contento escolhesse um de tantos
G
124
e tão honrados pretensores. Jά porém nao
εra Leonor dona de seu coragão, que uma
affeiςão incontrastavel a trazia de ha mui
to inclinada para o mancebo Rizzari, filho
segundo do Conde Rizzari de Catana, ο
qual do Duque de Βruca era intimo ami
go. Αidade d'este amante predilecto orga
va pela de Leonor; ao que de mais accres
cia o terem sido parceiros de infancia: ca
sal-a porém com um filho segundo, classe
por via de Ε pouco abastada, nãό era
isso para a soberba do Duque. Αeste obsta
culo outros mais ponderοsos se ajuntaváος
por quanto o triste do mancebo estava des
tinado para o estado ecclesiastico. Ο verda
deiro motivo d'aquella muita aversäo de
Leonor contra todos os ricos de quem era
pedida, pouco se passou que a ambas as fa
milias não fosse notorio, as quaes se des
velărăο uma e outra por acabar cem uns
-amores, que outra cousa niίο podião dar
-de si a não ser a desaventura d'aquelles
dous innocentes. Ο Conde Rizzari determi
«

"nou arredar o filho de uns lugares aonde


uma affeiφάο que jά là vinha da infancia ο
tinha arraigado, e aonde mal era de esperar
que seuanimojuvenil, decontinuo persegui
da pela presenςa de quem o trazia enfeitiga
εβο, podéssejämaissenhorear os seusafϊectos.
έμε
125
Μandou-o para Roma concluiros estudos, e
travar relaφόes com as pessoas principaes e.
que maior influencia tinhão na Igreja Vo
caςão para a vida ecclesiastica sentia-a ο
mancebo fallecer-lhe totalmente, e no fun
do de sua alma assentou por cousa certa e
votada gue nunca e por nenhum modo 8e
Ιnavia de atal estado sujeitar. Αppellava pa
ra o futuro, e para si tinha gue pelo tempo
adeante alguma cousa poderia acontecer por
onde melhor fortuna viesse a favorecer Seus
designios e levar a bom porto suas esmore
cidas esperangas. Μais cedo do que o pre
sumia lhe chegou o mudar a carranca de
sua mä fortuna : o morgado, que jé depois
de sua partida se casära, falleceo sem dei
xar herdeiro. Ο nosso Rizzari carpio amar,
gamente esta desgraςa, porque emfim ama
va deveras a seu irmão : mas a transforma
ςäο total due por ali vinha 5 sua má sor
te, fez com que melhor resistisse à mägoa,
αue a vir-lhe desacompanhada e estréme
porventura ohouvera as8oberbado. Εscreve
rão-lhe os parentes a pedir-lhe que se tρr
nasse logo para entre elles , e escusado he
dizer que não esperου por segundas instan
cias, pozse com toda a diligencia a cami
nho da Sicilia. -

Νάρ era licito aos herdeiros das casa8


α2
126
fidalgas adoptar, nem a profissio das ar
mas, nem o estado clerica1; e se aconte
cia cair em filho segundo um morgado por
morte do primogenito, os votos com αμte
aquelle se houvesse por acaso ligado, an
nulavao-se mediante dispensa da Santa Sé.
Ε assim, por modo tao poucό esperado,
desapparecérao de todo os dous principaes
estorvos ao consorcio do novo Conde com
Leonor de Βruca. Ο proprio pai do afortu
mado mancebo, movido das supplicas do
filho, foi-se logo propor ao seu amigo Du
φue o'casarem entre si seus herdeiros, com
ο que em mais particular tracto e amisade
se enlagayao as duas Casas. Com alegria
acceitou o Duque de Βruda este partido, e
Leonor com muito grande alvorοςο.
" Εstipulou-se para as bodas um praso
muito proximo. Foi gosto do Duque vel-as
celebradas no seu solar de Βruca, Μandá
rão-se convidar αιuantos fidalgos havia na
visinhanca até distancia de muitas milhas.
Guem houvesse dejulgarpelos aprestes, dis
sera que a funcςão havia de desbancar as
mais grandiosas que de ha muitos annos se
Ιnouvessem feito por aquelles sitios. -

Νao houve canto nos arredores d'onde


nao viessem parabens: bem se dava a ver
tomo toda a visinhanga tomava parte na
* * "
127

boa veritura dos dois amantes. Οs amigos


do Duque manifestérao todos cordeal con
tentamento, afόra um, e este era o Ca
valheiro *** (Νao lhe poremos aqui o no
me, por ainda existir sua familia.) •.

Οra o Cavalheiro *** assaz era no


meado por opulencia, dotes corporaes e mais
partes de sua pessoa. Como mancebo, gue
inda era, podia ser um dos primeiros que
aspirasse a genro do Duque de Βruca, e
oerto que em Ihe adorar a filha nenhum .
outro Ihe levava a palma. Νο tempo αμε
ο joven Rizzari se dilatava em Roma, ha
via este Cavalheiro pedido ao Duque a
mão de Leonor. Ο Duque sim lhe aprecia
va a muita riqueza e bom nascimento,
mas tendo jà uma vez magoado o coragão
da filha. na mais 8ensivel parte de seu άue
rer, entendeo que pelo menos Ihe havia de
deixar em seu alvedrio esta segunda esco
lha Com dar. ao Cavalheiro todas as mos
tra8 de por sua parte o acceitar gostoso, pe
dio-"he que se fosse elle proprio ter. com
Ιeonor, de quem importava recebesse ο
sim. Ρorem ella lhe deo um nao tάο redon
άο e desenganado, φue outro qualquer para
logo houvéra de todo esmorecido: nao era
porem a sua paixao de tao leve forca, que ά
primeira repulsa se rendesse. Proseguio
α 3
128

por saas instancias, pondo-a de dia para


dia em mόr aperto: ο secreto motivo dos
aesdens de Leonor muito bem σ conhe
«ia elle, mas para si tinha αμe tempo e
καιusencia sempre a final lhe apaganião dό
animo as poderosas memorias de Rizzari.
Τanto subirão de ponto suas impertinen
oias, que a indifferenga da donzella prestes
aegenerou em aversäσ rematada. . .
ι: Ιmagine: cada um quao burlado em
εuas esperangas e φuão damnado fiearia ο
Cavalheiro, tanto como soube haver mor»
Τido o primogenito do Conde Rizzari, a bre
ve tornada do filho segundo e o proximo
casamento d'este com Leonor. Quantosrigo
rosos tratos pόde padecerum amante mal
galardoado, e portanto os zelos raladores,
de improviso lhe enfurecérão o coraςάο, jά
de seu natural vingativo. Ο amante favo
rito lhe ficou desde essa hora alvo de im
placavel. odio, em mais nao cuidando ο
Cavalheiro senão em como tomaria uma
cabale estrondosa desaffronta. ... *

Νas vesperas do casamento o nosso


Cavalheiro desapparece de Catana. Correm
a este proposito varias balelas, todas de
pouca monta. Ηa αυem diga que se foi met
ter em alguma das quintas visinhas : pre
sumem outros que para estranhos reinos se
* ."
susentou. Αverdade he, que ninguem pβ
de saber ao certo do seu destino. Οs noivos,
de cheios αυc andaváo de sua dita, não se
embaragardo com tal, e aguardavάο a hora
do desposorio, mal cuidosos de nenhu
Τna desaventura. ιζ.ε. : : : :: : : :3
Εssa hora suspirada chegou: na en.
pella da aldéa celebrérάο, ο reeebίτηento,
Τodo o espago estava apinhado de poνο:
τicos e pobres, fidalgos e rusticos todos
εoncorrerão fervorosos - em acto tάο aftes
ctuoso e magnifico. .. - .
Νο instante do esposo enfar o annel
5ymbolico πo dedo da esposa, eis que re.
Βenta na capella uma gargalhada sardoni.
ca ; • Εάο aguda, gue por eima do susurro
Φaquella multidao, clara e distinctamente
εβιάeo a ouvir, até nos ultimos recantos.
"Μas de tão estranha maneira era esta gar
galhada, que mais pareceo grito de ima
Εuria queriso de humana creatura. Uma
Cousa tão fόra do natural arrebatou a atten.
φίio de todos oscircumstantes, e ο que mais
os maravilhou, foi o não ser possίνει des
oubrit-se d'onde safra aquella infernal gar
εαlhada. Αtou-se porem de novo o fio άσε.
τimonia, e com guanto fosse para notar ο
*oontecido, pouco tardou que não deglizπε:
εθαίρεαϊmos entrepompas de solemmida.
άetão apparatosa. ε 4
13Ο

Ν'adtielle dia todo o interiorιdo Ρaρο


de Βruca , afόra a alcova nupcial, este
ve patente aos innumeraveis convidados,
Α. todo o custo fizerão querespirasse esta
festa a major magnificencia, como a ambas
as familias convinha. Μezase aparadores
vergaváo.com os mais exouisitos manjares
e frutas: e lá pelas relvosas alcatifas do
parque senhoril todos ros aldeaos, e todos
os paniguados de ume outro solarologrά
rão não mesquinho καιuinhão na geral fol
ganga. ε" , "". Τ. 3 0,4ζ, ε; 2
" -- Αo cabo do dia accenderão-se custosas
luminarias no palacio: e dando logo fim το
banquete, comegárão as dangas tanto fόra
como dentro das opulentas salas do Duque.
, Leonor, feliz e desvanecida cόm per
tencer a um marido de sua escolha, não
disfargava o seu entranhado contentamen
to: por todo o parecer Ihe respirava o alvo
rogo, donde se diffundia por todos osιno
bres assistentes a mais solta alegria. Ε ,
Εm meio do baile, e quandό tudo na
dava em satisfaςão, entrérão pela sala dois
mascarados à moda dos aldeάos da terra ,
ε travάrão mui graciosas dangas, me
neando suas grinaldas de flores.o : : :
Οra na Italia, assim como.nai Sicilia,
prevalece ο μso de quetodo o mascarado
μ. . * .... :: 4, 5 . . . --
13!

ματα εστ πατη baile reeebido, se dë primei


το a conhecer ao dono da casa: d'esta vaz
πάο andou, observado tal requisito, nem
tambem era aquella funéςão baile de mas
εaras. Μas aquelles, dois estranhos signi
ficérão com tão claras mostra8 o goSto gue
trazião de ser partes na festa , que sem o
minimo estorvo foráο n'ella acceitos: até
a maior parte dos presentes ficou entenden
do não andar ali mais nenhuma cousa Se
não idéa do dono da casa, para divertir a
8eus hospedes. -
Οs donaires e destrezas d'estes dois
individuos excitão a geral admiragήo: to
dos se Ihes apinhoão em deredor, elhes ofte
recem refrescos, Μas apenas chegou a ha
ver certeza de due ninguem os conhecia,
advertirão varias pessoas ser emfim razάο
que se descobrissem..Αο principio respon
άerão por signaes que o não farião, por si
gnaes porque voz minguem lha ouvia. Το
davia, como de toda a parte os apertas
sem, derão a entender que era tenςão sua
πmanifestarem-se sόmente ao heroe d'aquel
la festividade, aojoven Conde Rizzari. Εs
te, deixado por um momento obraco dabel
la esposa, veio com toda a cortezia και jun-.
tar com as instancias dos seas amigos.
as sua8 propria8, Τornérão. os dois in
G 6
182

cognitos a mostrarseus desejos de so peran.


te elle se descobrirem. Com isto se foriίο
desviando, "e o'Conde os foi seguindo de
apo2 , até que todos tres se ausentérdo..."
Εis que a interrompida musida outra
vez ressoa, dando novo rebate à danga é
regozijo. Εm geral ninguem fez reparo na
ausencia do Conde, sό Leonor por muitas
vezes o procurοu com a vista, como quem se
admirava de o jά não ver tornar, οι "
. Serião passados uns vinte minutos,
αuando vél-os due outra vez apparecem o8
dous mascarados: jά não trazião o mes
mo traio, vinhão simvestidos de dό, po
rém a despeito da mudanga, bem se alcan
gava serem ainda os mesmos desconhecidos
dangarinos.Τraziao mais comsigo outra pes
soa envolta em panos brancos Com va
garoso e compassadoandar vierão vindo por
meio da turba pela sala dentro. . . "

Εsta appariφάο agoureira, em lugar e


Ιnora de tao alvorogadas alegrias, não deu
desimuito boa opinião nos animosdos assis
tentes. Como porém se cuidava αμe o pro
prio dono da casa o permittira, ningtiem'
quiz interromper a scena , por mais inso
Ηta e despropositada due parecesse, Che
gados como forão os mascarado8 ao meio
da sala, pousérão a carga que trazião, e
") :)
133
Ιhe bailérão em roda suas dangaslugίibresf
e grutescas. - &. * Σε:

Ρasmada Leonor de ainda não ver seu


esposo, não podia atinar com o sentido d'es
te entremez ao funebre. Αcomettida de um
sobresalto interior, langou em deredor os
olhos, e perguntou a tremer por seu marido.
Uma dasirmás de Rizzari que primeira no
tou como Leonor se tornara pallida, veio
logo para o pé d'ella, perguntando-lhe se
Ε ventura se sentia mal. Respondeo-lhe
eonor αμe tinha em cima do coraςão uni
peso gue ella propria não entendia. . .
Ν'aquelle instante tinhão os mascara,
aos concluido a deseommunal pantomima.
Ρara Leonor se encaminhärao, e d'elles tim;
puxando-lhe pela manga, lhe disse em tão
alta voz, que boa parte dos assistentes ο
5.

pδde ouvir: ο
* Venite α piangere le nostre e le υostre
γκίSerie ! " 1 . ο
que quer dizer" ". - . . . . .)
" Vinde chorar as υόssas e m03sa3 mί".
έerίαs! . . . . .. . .. - -

Como estas palavras forão ditas,Ιοάο


a Dama, gelada de terror, se deixou cair
sem sentidos em bragos de sna ctinhada:
Αlevanta-se pela assembléa um susurro ge"
ral. Derão todos por certo que dos mas"
α6
134:

εsraios provinhão as angustias da noiva :


jά porém então se erão elles idos.
Μaravilhados estaváo todos de ver co
mo o sujeito, gue por terra jazia envolto
em seus alvos linhos, continuava a repre
sentar o Seu papel de defuncto: não bolia
musculo; e até parecia ter tomado a sί ο
folego. Αlguns de curiosos lhe levantárão
ιum brago: mas apenas lho deixάrao, re
caίu com pesada inercia para o châο ,
e essa mão era fria ! Ρresentimentos desas
trados vierão logo senhorear os animos
dos presentes : descobrem de improviso.
ο rosto d'este mysterioso individuo . . .
Οh! justiςa Divina ! he um cadaver, he
ο Conde Rizzari !
Quem pintaria a mui pavorosa scena
que foi no palacio! Confusos e aterrados
erão, todos os assistentes; de toda a parte
saίão, exclamaρόes de espanto e gritos de
coragόes apavorados; aqui homens puxan
do pela espada e clamando vinganga , alem.
mulheres emdesmaios umas, outras fugindo
para todas partes. Μais cabal espectaculo
άe consternaς άο nunca o houve.
, Αinda Leonor não era tornada.em si:.
ainda não sabia quanta fosse sua desaven
tura. Οs amigos do Conde a levάrão para a
Camara nupcial. . . * *

..."
135
Vio-se então que fδra aquelle mesmo
ο sitio aonde se o crime perpetrara. Νa
desordem dos trastes se lia que ali se an
dárão em encarnicada luta, no chao jazião
os mortiferos instrumentos, e sobre o lei
to conjugal pousava uma hastea de cipres
te, claro documento de premeditada vin
ganga.
Τodas as pesquizas e diligencias fo
rao baldadas. Νao houve atinar com ο
minimo rasto do attentado inaudito. Νο
Cavalheiro caίrão as principaes suspeitas,
e dentro em pouco se soube que se havia
da Ιtalia expatriado: nem volvέo a por lâ
seus pés.
Leonor nunca mais se restaurou de
tamanho abalo. Retirou-se a final para um
Convento, aonde a morte, unica amiga
efficaz para desgracados, poz breve rema
te em Seus desgostos.
--

"

-
εγκ: "Ο ι κ . . . . . .
os crUΜΕs Do ΒΑRDo.

ΙΡΟ 1: ΙΜΙ Α.
Αo sen υenturα, que entender meu Cακία,
Μειι Canίο ε ηλικίαs lagrimas enνιο,
«' * * * *
.. Α Μν.

ΕΕΕ Γ Ι Ν ΑΝ D DΕΝΥ 8,
Αο ΑΜΙGo DΑ LΙΤΤΕRΑΤURΑ
ΡΟRΤUGUΕΖΑ
ΤΕ , ΙΟΟS

ΡΟΕΤU GUΕΖΕS:

Como Portuguez e Poeta,


Εm tributo de respeito e gratidάο
ΟΡΤΕRΕCΕ

Α. ΡΕΙΙσπΑΝo DΕ σΛ8ΤΙΙωΗΟ.
Α
- Ε και " - *..
- και -
4 "-- : 4. - -
". . . .
* -- -

«% Α :* *?* * *
4
*
ε.

ν " ... "


" - 3.

-
.* *. . . . .4 .- . . . ". . -
14Ι

ΡRΕΑΜΒULo.

ΙΟ ΕΡοτs do muito que de ciumes deixά


mos escrito, não me atrevera a appresentar
jà a gui o seguinte Ρoema, que na mesma
forma do coragάο foi vasado, se me não
fosse licito explicar primeiro os meus por
φués: - -

Fora empenho meu em outro tempo


tecer uma ordenada collecςüo de poemas
sobre todas as principaes paixόes: Αlibert
(*)ealΒaronezade Stael(**)haviaocometti
άο, como bons filosofσs queerio, analiza-las
emrabstracto, para d'essas analises concer
tarem um sistema de moral. Α minha idea
era menos sobida, sendo-o todavia tanto,
que por me sentir desigual, a desamparei:
εra tornar-me, para αue assim o digamos, ο
(*) Ο Doutor Αlibert accrescentou na sua mui
formosa Οbra , a que pβz por titulo Fisiologία άας
Βairόes, algumas anecdotas de rematada bellezapoς
tica, refeitas de boa filosofia moral e de muito afte
ctussa elόquencia: não foi comtudo seu fim pδε
exemplo de todas as paixόes, -

(**) . Ο tractado da Βaroneza de Stael, que traz


por titulo Da influencία αας φαινόes, he guasi in
teirauente theorico, o apezar do fogo d'aquella ma
142

Fabulista das paixδes, restringindo cada


uma d'ellas em uma ou mais hypotheses ,
bistoricas ou fingidas, αμe eu tomaria pa
ra assumpto de outros tantos paineis de
poesia. Com o ciume encetei a tarefa,
Τrez diyersos caracteres de zelosos
me occorrião para retratar. Primeiro, um
amante que da injuria que lhe foi feita to
ma solemne vinganga, segundo, um que,
αepois detrahido, foge sem deixar de amar,
antes amando mais do que nunca, e com
voluntaria morte pόe remate em suas pe
nas , e ultimo, um a quem uma ingratidão
e perfidia apagão o lume do entendimento.
Saίο ο primeiro na Νoite do Castello: saε
ο segundo no Βαrdo: e sairia o terceiro ern
υπm Ρoema quejά andava riscado com o ti
tulo do Ηermitάο dα Αrrabίdα, se eu não
fivesse, como jά disse, renunciado täο alti
vas presumpςόes.
inaρδο, das cores e vernizes d'aquelle singularestil
Πo e da muita profundeza de ingenho da escriptora,
parece-me quenao desempenha cabalmente o assum
Ε que não tem em muitas partes , nem a deseja
da clareza, nem a verdade necessaria; gue és vezes
"nos dé por oiro e pedraria fina de razδο, meros re
flexos de fantasia ; que emfim não raro aconteceo
deixar-se.aquella grande mulher nos seus extasis ir
sem saber por onde nem para onde, atraz do agrada
vel &om, gentis imagens e εdmiraveis audacias de sua
rnsptraρδο, - -, - " -" . -- « ---
-
* - -"

Ι43
Αcerea do Ρoema do Βardo conver
saremos aqui o nosso pouco. Τenho eu pa
ra mim αue he este de mais algum prego
φue a Νoite do Castello: e por esta sό ra
säο assim ό conceituo; que o trovei com
impeto, e com a alma cheia e repassada do
seu assumpto. Εste porque, não ha porque
ο eu diga, nem mo perguntem : confissόes'
publicas, sejά as mereceo a Santo Agosti
nho a piedade, e a filosofia a Rousseau,
tamanha authoridade não a ha de ter
pelo menos comigo a poesia, e sό mencio
narei o guando e onde o compuz.
" Εra cerca dos fins do outono do anno
de 1829: havia-me eu por necessidade ar
rancado do meu saudoso ermo de S. Μame
άe da Castanheira do Vouga para o seio
θ - ν ο - -

d'esta mui prosaica , e mui tumultuosa, e


então mui terrivel Lisboa. Αqui, na terra
de meu nascimente, e cercado dos passa
tempos αμe nunca em uma cidade fallecem,
nem aos que os fogem, perseguiao-me me
morias do muito αue lé deixάra n'aqueHas
prenhas salvadoras, de um Irmão que foi
sempre o melhor e o mais amado dos meus
amigos, de meus livros e estudos em. αμe
ο sempre tive por camarada, em fim dos
τηeus passeios livres como o vento d'aquel
las serra8, e, do meu ninho domestico'tάd
144.
abrigado e seguro. Τerra de meu segundo
e melhor nascimento era aquella ; e o meu
coraςão andava falto do seu ar, e meu espi
rito melancolico carecia de uma solidão. Αs
aguas säo tambem uma solidao para quem
a não pόde ter melhor: das entranhas de
Βabilonia saia o Ηebreo captivo a assentar
se pela8 margens dos rios para chorar au
sencias de Sião, Jä margens me não bas
taváo a mim que folgava de me afastar
d'ellas e de me embrenhar pelos ermos d'es
se Τέjo, gue ahi hia e vai tão escalvado
de Suas antigas e rumorosas selvas de na
vios. Sem mais companheiro que meu sό
pensamento, havia nao sei que secreto go
Ζo em me deixar levar n'um barquinho pe
queno, ora é escolha dos remeiros, ora ά.
mercθ caprichosa do vento que por ali so
prava, n'aquellas tardes do outono, fres
co e desabrido. Τomάra que algum enge
nho agudo me atinasse uma explicaςão cla
ra e cabal do porque em dias desampara
dos do contentamento tanto nos tentão e
Ιnos aprazem os abalos do perigo. Cer
to que nάο desejava eu, nem havia porque
desejasse, ο ser submergido, e comtudo le
Wava postas minhas delicias no desencon
trado balancear da embarcaςão, no seu
Pender até Inetter o bordo, pelas agua8,
145

no fracasso da onda que remettendo com


a proa se desfazia numa rajada chuvosa
por cima de nόso e por uma e outra parte
em carneiros de espama. Por que razao he
jogo saboroso para Ιnglezes o fugir em ar
rancado galope, antes vδο de seus caval
los, pelas boleadas e escassas veredas,
pendentes sobre os mais temeroso8 preci
picios 2 por que razáο a caga dos animaes
ferozes, por que razáo as batalhas, por
αue razάο ο correr dos dados onde embar
camos toda no8sa fortuna, attraem tão po
derosamente as vontades 2 outrem que ο
diga.; o gue eu 8ei he que aquelle- metι
navegar por cima de escarceos, entre ven
tos.: impetuosos, e - por baixo de muitas
nuvens, me agrada ainda agora e me en
aantava entao. Desta sorte, e no meu Τe
jo, compuz, 8e inteiro o não achei, ο
Ρoema do Βαrdo: o gual pois se não he
todo historico, tambem não he todo ficςaό.
- Εm quanto ao seu titulo, não será des
propositado advertir que o nome de Βardo
não vai tomado no 8eu rigoroso sentido»
como a algum desattento jà pareceo, ma8
sim e sόmente como synonimo de Poeta,,,,
Νão faltaráό mäis que notem aqui
ou acolá 8obejidão de beijos e branduras:
θι por ρυίra parte, não faltaräό filhas que
145
bera acensem e detesterh o Βardo pela eg
tranhissima deseortezia eom que remette
como 1obo contra todo 2o 8ετα sexo. Οra.
pois, com umas' e outras espero que fica
remos d'esta vez em boa paz: e comecemos
pela primeiras. :. "
Νão tomarei para thema de minha de
fesa o que jà em mais apertadas circumstan
eias de sidisse um poeta Romano . . .
«Εscreυο desenυοίto e casto υιυο; - .
direi porém, que havendo de compοr τlm
Ρoema com o particular intuito que jά
4mencionei, essenciahmente importava re
presentar o ciume pelo natural: ora enten
do eu que, se ha paixio sensual e volu
ptuosa , essa he o ciume, com o qual n'es
ta parte o proprio amor ditoso nada tem que
ver; sim se pasce o amornas saudades e
Θsperangas de seus deleites, mas o ciume
ceva-se em muito maislargo campo, porque
tem por alimento não sό os seus passados e
futuros gosos, senão tambem os alheios
"gue elle mesmo cria, multiplica eiengran
άece: os bens o inflammão, os males o in
flammão ainda mais, e a inveja que d'elle
faz parte lhe mette pelos olhos visόes due
o endoidecem com venenosas delicias. (*)
-----------
(*) Νao posso resistir"ά tentagio de recordar
147.

Quem representasse casto o ciume, escure


cer-lhe-hia uma de suas principaes feiςόes.
Μas se não duvidei figurar todos seus desor
denados furores, puz-me por mui severa
lei, e inteiramente a cumpri ά risca e sem
pre a cumprirei, que onde por necessidade
Rouvessem de ficar imagens menos modes
tas, ahi a frase tecesse um como vέo, não
tão tapado que as encobrisse ante olhos ex
perientes due em as ver nenhum perigo
correm, nem tambem tão raro que a vis
ta da innocencia o traspassasse; se me
aqui, comο em favor do meu dito, um excellente So
neto do nosso, em muitos particulares inimitavel,
Βocage : poeta que tão sobejameate andahoje esque
είdo, comο era 8ua vida se vio idolatrado. . .
3, "τ

Νos torpes laρos de Βelleza impura 5


azem meu coragio, meu pensamento, ,
Ε, forgada a servilabatimento, Τ
Contra os sentidos a razδο murmura. . .
Εu, gue outrora incensava a formosura :
Dag que enfeitao Pμdorgentil eisento, .. "

-
Α ja corrupta idéa hoje apascento " :
Νos falsos mimos de Venal terhura. . "
. . Se a vejo repartir prazer, e agrado , οι 5
- . . . Α'guelle, a este, coa fatal certeza και ί.
- 3 Fermenta o vil desaio anvenenado, υ ρ . .9
Céos ! Quem me reduzio a talbaixeza ? i o sa
. Ωuem tao cégo me pδz2... Αh! foi meu faάσyί
Οue tanto não podia a Νatureza, και ο οίνο
"w Η :
148
não engano, consegui-o. Pelo que, jά digo
αue nenhum damno pόde d'esta leitura re
sultar: e temos satisfeitos os escrupulos
das mais.
Μas corno apoz as mäis poderáό vir
atravessar-se-me n'este caminho alguns ou
tros d'esses moralistas que sabemos , para
quem he mais alto escandalo escrever um
Βeijo (*) do due tomar cento, razάο he
que os despegamos tambem com duas pa
lavras de cortez argumento. De barato se
Ιhes concederé que não somos ainda cά
chegados, como o säο jά hoje em Franga,
a cabo de longo combater de todos os sis
themas e theorias possiveis, άφuelle ponto
de chamada civilisagão, em αυe cada al
ma tem jά formada para si uma opinião,
aa qual se não demove ; ou, o que he mais
" ή ",

(*) Uma entre muitas me lembra aqui άcerca dos


taes por cujas maos regio-censorias corria o entendi
mentό portuguez. Μetteo um Poeta ao exame de um
α'esses Αristarcos authorisados um voluminho de
Sonetos, suado fructo de suas vigilias amorosas, Ηa
via por desgraρaum, cujό ultimo consoaute era όeijo,
e logo n'essa palavra acertarão de cair os olhos do
Ψuiz, gue ena taes particulares, segundo diziao, mais
era que simples durioso;"σ qual acceso to sancto de
sejo de pureza do seu prokimo, logo,ali fulminou o
Ρρbré do verso dom βεfa εόta." Είεqαe ύει)o e ρο
κλα osσκιος, υ",44 και ... να υ"ao: "Τ ν'
Ηί -
149

eerto, todas as almas de puro costuma


das de verem, a revezes, triunfar e perecer
as crengas e principios mais oppostos, ador
mecérão no regago do septicismo, para ahi
sonharem έ larga nos deleites de que se
mais contentäο. Νão; os sofismas do latro
oinio, do adulterio, da ingratidão, e de
todo desenfreamento de paixόes, sάο,
meroé de Deos, mal acceitos ainda aos
ouvidos de nossa terra, e nunca se dirά
que : eu dessirva, sabendo-o, ά verdadeira
puresa de costumes. Μas, pelo contrario,
titilidade grande me parece que vai em.
pintar, comο eu procurei faze-lo, os af
fectos fogosos da mocidade com todas suas
verdadeiras cores naturaes, para se bem
oonhecerem, uma Vez que, segundo o eu
tambem diligenciei, se adrescente ao de
puxo das floresi gue apraάem, o retrato
feio dos aspides que por entre ellas cres
oem. Paredeo-me αne, sendo n'estas nossas
partes dot meio dia tão geral enfermidade
os zelos, mão se havia de a um poeta to
mar a mal quei em seus poemas tratasse
as tragedias que della se podem originar;
poriquanto, ainda que poucό houvesse isso
ae aproveitar : directamente , aos malfada
aos em guerh.uma vez esta febfe d'alma
Ρegou, algumυ provρίto poderia trazer, se
Η 2
pelo aspecto de tάο graves consequencias,
persuadisse a algumas inconstantes ο αιuam
feia deshonra lhes he, e o quam perigoso
vicio se pode tornar a sua deslealdade em
amores. São os amores, como jä alguem es
oreveo, o capitulo mais cheio da vida hu
mana, säo na vida da. mulher o capitulo
μuico; e com quanto se finja have-los nas
conversaςόes publicas por cousa de mero,
passatempo, e até de si por um certo,
nodo vergonhosa, nem por is8o deixa de,
ser esta a paixáο conservadora do mundo,
a unica universal, ea fonte particular de
toda a domestica felicidade: pelo que, ο
estrema-la de toda a liga e fézes, acto he
de mui pura e generosa vontade. . . . . . . .
Αgora diremos as filhas, que das espe
vitadassolturas delingua do Βardo contra a
infidelidadefeminilise derem por offendidas,
que essa opinião do Βardo não he por ne
nhum modo a minha , nem a de nehhumυ
Homem cujo animo ahdar desassombrado e
assente. Ja eu disse quelem lealdadeiamo
rosa muito methor conta fago das mulhe
res que de nόs outros; mas para que : eu,
desse a um zeloso o seu verdadeiro estiΗo,
cabia-me que, porque sua amada o atrai"
φοéra, ella de quem, mais alto apreςο fa
ει, "ο mundo perdeese eletodooconori,
Ε. 11
151

to do sexo, e contra todo elle saissem da


desordenada tempestade de sua alma raios
e eoriscos. Sao seus ditos injurias, atrozes
plasfemias lhes chamaria eu de bom grado;
mas vόs que ahi vos derdes por injuria
das e blasfemadas, mettei a mão pelo pei
to do vosso offensor, palpai-Ihe o coragiίο,
e entendereis gue sό muito vos offende por
que muito vosί.ama : em quanto em labios
άue afagérao, durarem imprecaςόes e af
frontas, sinal he de αne ainda la por den
tro lavra o antigo incendio. Τodavia quem
tanto ousou contra a melhor metade de
nossa especie, tanto he réo em meu tri
bunal, que para desaggravo das gueixo
8as, logo ali Ihe impuz não qualquer pena,
senão pena de morte; e não qualquer mor
te, Sentio afogado depois de padecidos os
tratos do ciume.
De outra materia tencionava eu fallar
aqui , a qual Sem falta alguma era impor
tantissima, a saber, a Declamacάο Ρortu
gueza. Τinha n'este particular reflexόes, que
de recitar os Cίumes do Βαrdo me vierio,
e em cuja publicaςão algum bom servigo
por Ventura faria ao nosso Τheatro: mas
tenho por mais acertado o calar-me com
ellas, jà que, a despeito de todas minhas
antigas diligencias e trabalhos, ο Gover
Η 3
152
κο inda nao quer Τheatro: e se alguma
cousa n'essa parte se vier a fazer, serά
ιunicamente, segundo entendo, a obra ma
terial, aquella para a qual basta gran
gear dinheiro emprestado; a parte littera
ria Seré deixada ao acaso ou dirigida por
quem Dcos for servido , provavelmente
pelos ignorantes e presungόsos, a quem se
fia o mais das cousas, em vez dos, des
validos e despresados cultores das letras,
Ε a mim que me importa nada 2 tomára
eu apagar todo meu zelo para com as le
tras, n'esta terra fecunda einexgotavel de
Sármatas, Jä quasi o tenho conseguido ;
e se de hoje em deante estudar e compo
zer, serά sό para me distrair e esquecer do
nojo que me elles causäο.
".

Lisboa 6 de Janeiro d. 1836. ί

- 1, . .. . . ... . . . . . . . . .
-- ΟS CIUΜΕS DΟ ΒΑRDΟ : :

-- r ο Ε Μ Α.
", ή «"

"-, :: : : : :: : ::- :

μ--

Αο
Sun. esta barca.
lago, e breve ι ", πια"
Αolago amigos

- Αssim dizia o Βardo,


Do manto escuro 8acudindo a chuva. -

Οs pescadores no rochedo immoveis ...


Ο escutavao sorrindo: o pégo escuro . *
Comegava a bramir, trοando os ventos;
Νegro era o ceo, e proxima a borrasca.

-"Αo gue ousar dar à vela 1,, - Ε n'isto, άareia


Μanto, bolsa arrοjou , e apoz instantes,
Com mais afoita mão, retrato de oiro
De formosura estranha -

- " Αo lago, amigo,


Αo lago!,, diz um velho, e sόlta a barca.
"Οnde iremos 2,, -

- "Αfasta-me da terra.
Αbre a vela aos tufόes: o resto ά sorte.!,, -
- Η4
Ι54:

- " Vé quáosinistro osoltransluz no occaso!


Do sul a escuridão, o horror das vagas!
Cantor, nãose resisteaiguaestormentas!,,-
-- " Velho, dás nίmioapregoaoar da vida!
Μοrrer aqui, alem , agora, ou logo...
Que importa 2! he sempre um sonho esta existencia,
Um sonho horrivel, que se esvάe na morte.
Τu que dos annos teus colheste a farta
ΕΙor e fructo, hoje o resto de teus annos,
Εspinhos sό, com tanto amor afagas 2
Νο mundo envelhecer, e amar o mundo!...
Delirios vios ! delirios váos doshomens!,,-
-"Μas Βardo, ea terna esposa? Ε os filhostenros!
Vivem por mim, adorão-me, sou d'elles,, -
- κ" -

Νos labiσs do mancebo, a taes palavras,


Luzio fugaz ironico sorriso.
Αpoz silencio eurto alevantou-se,
Ε, abrindo todo o pano aos ventos bravos :
-,, Ρόdes nadar quando o baixel se afunde,
Volver à praia, ά esposa , aos filhos; toma
Ο timão, volve o leme, evita as rochas :
Μorte, que odeas tanto, ali referve ,
Εm vagas doidas horrida espumando
Do relampago ethereo ά luz medonha.
" Revolto o undosoabismo ! Ο cέο fechado!
Μ'este theatro inhospito de horrores
155
Corra indomito e cego o amor trahido.
Sumão-se à vista os ultimos oiteiros
D'essa terra fallaz, terra maldita,
Que deo, gue ήutre, gue naosorve o monstro!
Vede o immovel das barbaras encostas !...
Que paz desespradora entre as borrascas!
Comtigo, insano pelago, comtigo . . ."
Simpathisa , atormenta-se, rebrama,
Ferve, arqueja, combina-se minhalma:
Sobreambos pésa ο Céo, vai morte em ambos. Υ

- - Η

" Ρodésse eu por na voz do odio a furia!


Μudado em turbilhão, langar meu grito ,
Ρor lago, serras, bosque! de repente
Ο Τigre fulminar, tranzir a Ingrata !. :
- - και

"Velho, alem... sob a extrema dohorizonte...


Lá onde mais negreja.... he la o Ιnferno.
Αli, ά luz de horόscopo maligno, ... το
Νasci, amei, amarão-me, fui morto. . .:
Αi dehora a hora o sou, de instante ainstante ! ! !
Αgora mesmo que me crès corntigo, g ,
Lά me estao novamente apunhalando. :
Τu nada vβs.... e eu vejo tudo! όhtudo!!!
- *ο . . . . . . και 1,3rreυμη ,
ε
"Εmváolhes mugeobosqueameagastorvas,
ΙΟebalde treme o valle, os Ceos retroάο; λ
Ιά vai o impio feliz... 1ά chega ocealto....
Βate, mingien, o οίνιο, ουγιο"a fηgrata"
Η 5
156
Volveo-se a chave cumplice no crime. . . .
Εntra...fechão-se!... Οspassos tenebrosos
Lhes guia amornefando ao leito horriyel!..
Longe o pudor eos vέos!.. cresce odelirio!,.
"ervem beijos de furias e demonios!...
Τornou-os um do crime a simpathia!!
Αtela sotoposta ao jogoinfame
Cobre este coraφάο que.espesinhado,
Veneno, sangue, e lagrimas escorre.
"Julgάο-se immunes, sόs, n'este universo :
Ιnsensatos! meus olhos os contemplâο,
Οs meus ouvidos por seus labios rοςâο,
Ε eu vago, inteiro, pela mente de ambos
Deos, φue a vil, como a mim trahio jarando,
4&

Νao mos fulmines, fora leve a pena :


Τorna-os immoveig, sem tirar-lhe a vida ;
Ρoetos, muros subverte, expostos jazáο
Ρor toda a eternidade exemplo ao mundo.
Εm quanto olhos e mãoshouver na terra,
Βons e máόg apedrejem-os passando;
Vendo perpetua a dor, sem fim e ultraje,
Surdoio Ceo, surdaa morte, oamoreonvertäο.
Εm maldidφόes de fel, em mutuos odios:
Ρarecendo gosar mordão-se uivando ,
Ε.engula um do outro os olhos desvendados!
Αi perfida!,« Οh vjnganga !... Οh minha sede! ! ....
Vfro3,8e pungem mas entranhas da alma
Ρu ΕΕ d6 μάο gue se adoréra! ι
δ :ί
157

«Μμlher ! guanto eu te amei, quanto has perdido,


Νão o sabias tu nem o eu sabia! . . .. .
Veio a voz do teu crime revelar-mo; ,
Εra amor, αμal meu odio, amorsem termo!
Sim, n'esta hora solemne.inda o confesso:
Qualmilvezes mo ouvisteinda mo ouvίras,
Ε houvera em repetir-to-acerbo gosto; 4"
Μeus primeiros, meus unicos amΩres , "
Τu, tu foste, sό tu : mudada a essencia,
Ρensamento querer memoria Vida , ε; "
Τudo em mim foi paixάο, termura, incendio..
Μenor. quinhão gue o teu n'esta alma tinha.
Εu mesmo, o mundo inteiro, o Deos que o rege! "
Ve se eu te ameiou hao! Guarda-os na mente, ί
Μerecem plena fétaes votos hoje, η ,
Guarda-os na mente, e morrereivingado!"
. . .. . . . ε ι τ ι α - και

"Deos, Deos! acceito o calix do infortunio,


Βem que amargoso, e trasbordando o encheste... "
Castiga meus sacrilegos affectos: . . . .
Dei άperversa amor, que te bastάra ! "
Ultragei-te Μas ella! ella opprimir-me2....
Quelhe fiz eu, senão ama-la, e muito2! ; ;
3: " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , r:
"Βetayindas, minhas lagrimas, bem vindas! ; κ.
ΙΡrecisava de vόs, tardaveis tanto!.....",
Βomvelho, foi-se o prigo, o vento afrouxa.
Τoma a flauta, e modula-ma saudosa,... "
Gue εμfico em teu lugarvolvendo o leme..
- - Η 6
ΥΙ58
Wai fugitido a tormenta : em vindoia hua
Serà todo paeifieo estelago ; κ. . . . . .
Sό para a minha dor não ha bonanga!
Νao, mδο!... jämais, jämais!... Ηόuve comtudo
Umtempo, emque osseus labios mesorriáο;
Εm que umseuvolverd'olhos me entranhava
Pela alma um Céo de amor, um Céo de esp'ranga. :
Αh! sonhava eu entao".2ou", υ:sonho
4". -- «.
agora"": "..

"Νao, não sonhei:presentes m'estremeeera


Ιhda agora no ouvido osseus protestos.
Ωue protestos! gue voz! Ιnda paipita :
Sobre este peito o seu n'um meigo abraφο!
Ιnda ésta dextra está έentindo a sua! ζ
Ιnda esses olhos languidos me escaldão
Com lagrimas de amor!... ehojeheperjura,
Ηoje zomba de mim nos bragos d'outro!!!
Βοϊiba-me um coragao que era o meu tudo,
Εncantos que erão meus, palavras minhas,
Οs meus beijos, meus extasis!... Perdόa:
Νão, rião me roubas nada, era impossivel,
Εreio em ti, sό emti: que importao vozes 2
Ο mundo mente sempre, e os Αnjos nunca.
nso he de um tigre;
Εu te estou vendo ! esse ar

Νao me horroriso olhando-te: meu peito ,


Pulsa a tetis pés, eomo pulsava outrora:
Vern, sentatéoutraveznos meusjoelhos!...
Αssim!.. assim Freelina-te emerheusei6; .
Ginge-me ao collo o brago do costurae; "
Ο Η
8:159
Αperta a minha mão, maisforte... muito...
Εsconde-ma em teu seio... Um beijo agora...
Deixa que o manto meu nρs roube à lua... .
Βom.! Ν'este estreito escuro sanctuario ..
Somos sό nόs elamor; minguem mais cabe,
Νão se duer mais minguem. Τoma outro beijo !
Μais dez... mais cem...maisum... paga-mostodos
Com um sό d'aquelles, que resumem centos!
Une o teurosto ao meu, fallemos baixo: ; .
- Μinhairma, Filha, Μai, Αmiga, Εsposa,
Αnjo, Νinfa, Μulher! vem nos meus bragos,
Veemos d'este mundo a um mundo novo. :
D'esses astros do céo algum vagueia , γ.
Αureo e fecundo, ά espera de habitantes;
Αo Planeta de amor, amor nos leve.
Τeu fui, sou teu, tuminha foste, έsminha,
Sέl-o-hemos sempre. : Unidos se embalărăά
Νossos bergos; cresciamos unidos; ... πυτζ
Foiuma a nossainfancia, e iguaes osgostos.
Α'luz do mesmo céo, na mesma quadra
Νos floria a raziίο medraváο.forςbs. . . .
Νenhum amou primeiro, em πόs o affecto
Foi uma idéa inhata, um sentimento ".." .
Οue não pύde terfin não tendo origem."
Pelo vago de aneiosas incertezas - ευ "
Corréo nossa infantil curiosidade
Sempre igual, sempre a par: communs nos forão -

Α dtivida, a stispeita, as descobertas. ".


Μestre untdooutro, ediscipulos aum.tempo,
16Ο
Ρouco a pouco avancavamos na vida.
Da natureza aos ultimos mysterios. »
De longe em longe a fonte dos prazeres .
Νos vinha em sonhos leves revelar-Se. s.
Μaissäbios, mais audazes de hora a hora,
Μais transparente a venda da innocencia,
Voavamos, beijando-nos, ao termo. :
Da natureza o vέo rasgâmos juntos, ... )
Juntos enträmos por um eéo de amores! :
Ο affago, a dor, as lagrimas, as queixas,-.
Τransporte, peijo, esp'rariga iguaes nos forão... "
De nossa vida aos fios cor de rosa - -
Deo um nό n'esse instante a natureza : -
Τestemunhas o Céo, a Lua, a Τerra !... ".
Vai traidora, vai perfida, eu te arrojo o "
D'este seio não teu, desapparece
De chόfre entre essas ondas. Α. escritura
Do nosso ajuste esté rasgada agora." - "
- - ε. . . . . . . ,
"Vem, seductormalvado, impuro verme,
Jé que da rosa empegonhaste o seio,
Μοrre com ella... Εm vio te σppδes a um Τigre: "
Ρela boca fallaz heide arranear-te Τ ο ί
Dm coraςão, gue palpitou.como este: : : -Ο
Voa apoz ella ao fundo dos abysmos!... ",
"Velho estolido, ealgoz, cala essa flauta:
Νάο νέs que as minhas lagrimas seccάrão"
9"la ma, όu toca as musicas do internρ. -
161
" Ο inferno todo, todo, anda n'esta alma
Ο infeliz sou sό eu na natureza ; ......
Ν'esta hora mais minguem! Quanto eudaria
Ρor me ver onda, ou rocha, ou tronco, ou vehto ! Α
Vento, eu fora ao seu bosque... Εu lhe fugira; ..)
Queiria eu ver ao bosque 2 eu seijà tudo: .
Νao he profeta um coraςão zeloso? .
"Pescador, φuando a lua descobria, "
Saίáo do seular; vinhão cobertos ....
De suor e rubor. Quando esta nuvem ; -
Cobrio a lua, entravao no arvoredo, ...
Αgora, entre arguiφόes, desculpas, beijos,
Raspäo do olmeiro os versos, as promessas,
Αs cifras qu'entalhavamos; não querem :
Τestemunhas incommodas. Οh! louca! ,
Οnde irás tu, gue o meu amor não vejas 2!
Se pόdes tanto, da memoria risca S
Α infancia, a mocidade, eficas solta!
- . . . . ." 2, . - " , ε ι . .. ..
" Versos, gue ella inspirou que ella cantava,
Ωue tinheis de vivermorrer comigo, η Ι
Sahi, despedagai-vos! Τu com elles, μ -
Vai-te ao lago e perece, indigna tranga!
Νão poder eu dos labios meus cuspir-vos,
Βeijos d'aquella infame, eaospés calcar-vos!
: Η οτ μαι, να
" Μulher! due mixto herrendo έ5 tu na terra, f
Ρara unir crimestaescρmtantas gragas"!
ν
Η 62

Que nome te convem 2 και cruel, perjura,


Ιmpia, blasfema, algoz, monstro dos monstros "...
Αh! sao tudovaos sons que exprimem nada!
Αmor comο eu senti, nύο tinha nome, -
Qual posso eu dar-te ? Ο teu sό ο ha no abismo,
Νunea foi revelado, o mundo o ignora.
Um ha, que abjecto e sordido, reune
Vicio, frieza, amor, traiφάο , mentira :
Οs mais to dem, não to darão meus labios.
-

-'

" De gue céo em due bάratro cafste, ..


Βella estrella de luz! Εu mesmo, eu mesmo
Ρroeuro n'este instante aborrecer-te. . .
"Ρobre infeliz! miserrima innocente!
Recebe as minhas lagrimas, recebe-as,
Οutras talvez não mais verão teus olhos.
Ρobre infeliz, αμebraste perjurando
Ο talisman quete encantava o mundό,
Γο futuro os jardins trocaste em ermos.
Νο:so amor correria na existencia,
Como candida vela em mar tranquillo,
De Zefiro enfunada , ao som de cantos, *

- Αfunde-se-
:: 5. * . " disseste, ejaz no fundo!
- " - ο rΤ"

"Νa estacάο em que tudo ressuscita


Ρara gozar de amor, o amor suave " ." -
Que respirar no halito das fores,
Νο murmurinho d'agoa, ou da folhagem,
Οu da rola fief no arralho meigo, " " .
163
Αs brandas noites, o luar saudoso, -

Ηão de affrontar-te; sentirás em tudo . .


ΙDa Νatureza amargas ironias !
Sim, tudo isto era bello e bello achämo8,
Μas não ha para ti jà dias bellos, ".

Ηião juntos co'os meus , e os meus sao mortos.


" Se n'este horror profundo um raio ao menos
De espranρα nos luzisse!... Ε inda era tempo,
Ιnda este coraςão te perdoava ;. ά
Fora inda teu! Vem: solta-te dos lagos .
Com que essa astuta serpe te rodea:
Vem desgrenhada , trémula, chorosa,
Τoda acceza de amor e de vergonha ..

Αrrojar-te a meus pés, beijar a terra,


Ρedir perdão, jurar... Jurar!... guem! ella 2
Jä nem juras, nem lagrimas me bastäο;
Quero, preciso, deve-mo, derrame
Ο sumo vil do coragão perverso,
*.
Αmorte a purifique, e serei d'ella.
"Μas, se tu eras pura ; se pensavas ,
Ν'este momento em mim ! se em guanto verto
Contra ti maldicζόes, tu Solitaria . . . . . .
Βenςãos pedes aos Céos, que me protejao,
Μe afastem todo o mal fόra as saudades,
Μe conservem fiel, te dem jà ver-me! "
Seera falso o teu crime! Αh que se o fosse!...
"-
164
" Consultemos a sorte: em se inclimando,
Dé-me esta barca oraculo infallivel:
Se à direita he fiel, se à esquerda ... Οh ! Furias !
Caίο ά esquerda. Um raio te sepulte
Comigo para sempre, infausto lenho. ,, -
Αqui se ergueo de subito; uma hora
Correo no lago os olhos taciturnos,
Ιmmovel, quedo. Αlgum feroz projecto
Ιndecifravel nas feiφόes do Βardo,
Ιhe andou pela alma turva revoando,
Νinguem lho soube. Ο pescador à volta
Sό contou, gue ao luar, de tempo em tempo,
Vίra em seu gesto um riso tenebroso,
Μas sem frase, nem som, e novo, e estranho.
Que depois, assentando-se tranquillo
Ε apertando-lhe a mão - " Α' meia noite ,
Ιnda eu velava, disse, e amor comigo ;
Βemoto era o lugar, a ausencia larga.
Αo por do sol chegára um mensageiro;
Saudades d'ella, um ramo, e boas novas.
Dormia a somno solto, e eu contemplava
Εstas flores de amor: nas gragas d'ellas
Via a mão queas mandou, nos seus perfumes
Αs virtudes da bella, os céos gosava.
Α' meia noite, a hora dos demonios,
Voz mal distinta murmurοu seu Νome;
Βateo-me o coragao fatal pancada :
Αproximo-me, escuto. Ο nuncio dorme,
-"
165
Μas vela-lhe na-mente a atroz verdade. ".
Como forgadas por potencia occulta,
Vem-lke do intimo peito interrompidas
Frases gue tremo ouvir, e ouvir desejo.
Εmprego apezar meu, sabido ehcanto;
Coa mão tremula o peito lhe comprimo :
Ρorsobre o coraςâο; " Falla, Ihe digo, .
Θuanto sabes expόe,, - Vés tu serpente
Cingida ao pé do collo em mão segura,
Ηevolver-se, silvar, cuspir veneno, -

Gue chaga, rόe, lacera a maoquea affronta?


Τal era o morto a revelar meus fados,
Οs crimes d'ella , a infamia do universo. .
Αcordei-ο. Dir-to-hei 2 pallido, frio,
Βepetio ponto a ponto a infanda historia,
Comprovou-ma, e fugio, gue o assassinava.
" Γé, bom Velho, virtude, amor, constancia
Εugirão d'este globo indigno d'elles:
Μulher pura e fiel não ha, nem houve;
Crés tu, gue atua oseja 2 Αos lares corre,
Εntra imprevisto, e là vorás se eu έrrό. :
Α ",
Τodos nόs somos victimas incautas, Α

.. *
Τodas ellas ... verdugos. Αs melhores, ..."

Comflores o punhal disfargão rindo. τ. ί


Credulidade em nόs, astucia n'ella8 .
"
Αo Pudor feminil alφάrão templos. και ί.

Εm yάο zeloso amante as fecharia . . .


Do mar no fundo, ou no amago da terra ;
166
Αdultera là mesmo ardβra a mente. , ε
Ε tão celeste a voz, o olhar täρ puro,
Τãomeigooriso, as lagrimas tão prontas !...
Βaga infame de viboras dolosas ! . . . . . .
Ρodesse uma sό näu contel-as todas, . . .

Ε ο piloto fosse eu : triumfo eterno! δ


Livre era o mundo e os seculos vingados!
ΙDesejos sempre vaos!... reaes sό dores.
. . . .

"Αnceão, croão-te as cás, essa a grimalda


ΙDe que orna o tempo as victimas da morte.
Väο metks annos crescentes, immaturos,
Ε eu morro ao meio dia da existencia :
Ε tu cά ficas, nos serόes do inverno
Do pobre Βardo o fim narrando 2ο alhos.
" Cédo bata essa hora, aos maistãonegra:
Εnchi em curta idade e instantes poucos
Longa vida de amor, mais longa em penas.
"Quem soubera dos tumulos o arcano!
Se alem d'esta outra vida nos aguarda ,
(Ε aguarda, igual paixio morrer não pόde )
Se livres d'este invόlucro terrestre, -

De puros ares habitantes puros,


Ρόae a justa vinganga inda abrazar-nos,
Ε ο αμe o vivo soffreo puni-lo o morto,
Jurovir cada noite és mesmas horas,
"antasma nebuloso envolto em nuvens,
167
Ρairar da infame pelo cέο turvado. " ,
Se uma janella abrir ver-me-ha fronteiro,
Εncostado sobre a harpa vaporosa, "
Μudo, choroso. Se vagar na selva,
Sobre a selva serei: se a vir sosinha,
Αjoelharei, e as mãos alevantando, ν

Ρerdão para a infielaos Céos supplico.


Μas se outrera a acompanha , a afaga, a anima , "
Selhe diz - " Väs imagens não te assustem;
Νuvens sίio, vem com o vento o vento as leva ,, -
Se lhe falla de amor, se ousa um suspiro!...
Αi d'elles, ai! Τartareas Potestades, . . ως
Εspiritos de luz amor pureza, και
Εlementos indomitos, Αbysmos,
Νoite, Cahos, e tu Divina Εssencia ,
Vόs sereis meus; do meu conjurio ao grito
Βebentareis vinganca, igual da offensa.
Εmbora para a haver, para forgar-vos,
Vos dé portroca o meu futuro inteiro.
Εai d'elle! e ai della! ,, - .
*

Αφui tremendo o Velho,


Ηia do Βardo interromper os Sonhos;
Ο Βardo o presentio. --" Cala-te e dorme,
Lhe disse, he tarde, tudo jaz em calma,
Τodo o céo voi jà limpo; eu vélo a barca,
Τu ferra a vela e dorme com descanς ο.
Αdeos. -- " Reina o silencio. Οuve-se apenas
Da proa na caverna o Αncião dormindo.
i58
Νο outro dia, ao sol fora, os pescadores
Virão volver o lenho ayentureiro.
Um sό vem dentro. Εm αue rochedo ou praia
Εicou ojoven Βardo ! Ο Velho o ignora,
Νinguem o sabe. Ο lago o sabe e he mudo.

Αlguns dias depois, entre uns penedos


Se encontrou a boiar jà pasto aos corvos
Um corpo morto. Se o Cantor esse era,
Νinguem pode affirmal-o, alguns o crérao,
Μas nem feiςόes nem vestes lhe restaváο.
Se ha prova, jaz do pelago no fundo.
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5 - FΙΜ DΟ8 CIUΜΕ8 D0 ΒΑRDo.


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Τυος Decentro de 1829.


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-
ΑΩ Ο Ν Ε Ι 88 Α Ο
ΙΟ Ε

ΑΜΙΕ: Ι. Ι.Α.:
Φ Ρoema

Τ R Αp υ Ζ Ι D o D Ε Μ." D Ε L F Ι ΝΕ αΑΥ;
.. Ε por ella dedicado
Αo Sr. Wisconde de Chateaubriand.
"
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Α
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- '
Ι71

CoΝVΕRsΑςΑό ΡRΕLΙΜΙΝΑR.
* τα
-

Ρι, em um tomo original, por ultimo re


mate e coroa, uma traducφάο, e essa pou
co primorosa, bem deve a muitos parecer
notavel desacerto, comtudo não o fiz eu sem
razáο. Costume he de quem regala a seus
amigos (e n'essa conta me praz a mim ter
meus leitores) deixar para o fim do banque
te as viandas mais delicadas e mais gene
rosos vinhos, porque essa derradeira lison
ja dos paladares absolva o menos apuro que
no demais houvesse. Dos tres Poemas que
tinha para offerecer, os dous primeiros,
tendo-os eu mesmo preparado, bem podia .
ser que não respondessem ao conceito em
que os eu tinha ; e assim me importava re
servar para a segunda meza este, que po
dia não me dar gloria , pois gue sendo fru
cto de alheia arvore sό me custára o tem
po de o andar colhendo, mas ao menos hia
seguro de contentar, se jά passando por
minhas mãos não perdéo o sabor que täο
geralmente o fez gabado. Ε a mais che
gaváο ainda meus bons desejos, que era
a par com a tradacςão estamparo texto
francez , no que entάρ nenhuma duvida
Η
172

me ficaria de despedir contentes os meas


hospedes: mas tão generoso nao sou, que
άς suas delicias haja de sacrificar de todo
a minha vaidade, confrontando as minhas
pobrezas de traductor com as galas e rique
τas da Αuthora. Νao he a cόpia digna do
original, e aqui o declaro jά, primeiro
que minguem ; nem sequer he a melhor
que eu podéra fazer: de umfolego se escre
veo, e ha tantos annos, que nem espago
houve para desvelos, nem os eu conhecia
n'esse tempo, nem soffreria sua demora
no poetar. Devéra sim ter agora melhora
do, mas fallece-me a vontade, e tambem
para αμe servίra tal fadiga 2 quantos leráό
isto 2 e d'esses, αμantos lhe apreciariâο ο
esmero 2 Se ainda canto n'esta noite tem
pestuosa de Portugal, he por me distrair,
que não por cuidar gue alguem me ouvirά
em minha vida. Οh! se eu quizesse dar
largas aos pensamentos que da raiz d'este
me vera rebentando, se eu quizesse jus
tiςar aqui, jά hoje, os Μecenas à moder
na, que em outra parte e em outro tem
po talvez condemne a longo viver por sua
e nossa vergonha!... mas recolhamos por
ora esse processo, e em vez de guerrear
Vandalos, vamos tratando nossas letras,
em quanto de todo nos não decepäο. Ε as
17/3

εim digo, que um dos principaes defeitos


da presente traducφάο me parece estar em
αue, com ο ser mais derramada que o ori
ginal, não tem assaz cunho de nossa lin
gua. Sim entendo ser pura a frase em que
a escrevi; mas se o carecer de vicios he
comego de louvor, outras e mais assigna
ladas virtudes se requerem para merecer a
estima.
Ν'esta era em que he cabal o esqueci
mento dos nossos bons livros patrios, for
ς.oso o uso dos estrangeiros, generalissima
3 conversaςão do idioma que mais tem
αontaminado o nosso, sem limites ο des
pejo com αυc os mais nescios traduzem ,
οompόe, e imprimem, espantosa a torren
te de deslavadas semsaborias causada de
τιma chuva miuda de periodicos, a qual
n'este reino vai acabando de assolar cos
tumes, amor έ verdade, esperangas do bem,
juiso e gosto seguro, e a formosa a formo
sissima lingua portugueza , n'esta era em
fim que a historia tem de signalar com
ferrete de presumpςosa e estupida , em
consciencia deviamos nόs, os poucos que
ainda somos Ρortuguezes, por peito a por
todos os modos salvar tal lingua do nau
fragio. Jά hoje o estrangeiro αμe pelas obras
de nossos antigos a houver "r". , não
Ι
Ι74

a poderά ouvir, entrando por nossas éi


dades e villas, sό lé pelos reconditos fra
guedos de alguma serra do norte, debaixo
dos tectos de colmo de alguma aldéa sem
nome, a irà tarde desencantar; e certo que
sorriso de desprezo lhe acudirã aos labios,
quando ao fim de não ter entendido os le
9isladores e os 9μίαs dα publica opϊnίάο,
sό entender algum descalcinho que ande
por entre moitas pascendo suas ovelhas.
Como religião perseguida e malquista, che
gou pois a se refugiar por desertos lingua
que a nenhuma cedera , se o nόs quizes
semos. Οh! que o queria eu, se essas fos
sem minhas forgas! e agora me dόe do
muito tempo due pela não conhecer desper
dicei para o seu cultivo. Pelo gue, se em
meus.antigos escritos não posso acabar co
migo gue me resolva ao fastio de inteiros
os derreter, para novamente os vasar em
forma d'aquelle estillo dos nossos bons tem
pos, que todo espira singeleza, brandura,
e innocencia, ao menos me obrigo que
nos que de ora avante traςar e escrever,
levarei todos meus sentidos postos em tão
louvavel diligencia. Ε se jά por ventura
parecer a alguns que a sobeja antiguida
de procuro levar a linguagem, a qual pelo
τηuito que desceo jà se não pode subίr täο
Ι75

alta, não terei com que os refute, ma8 Ιhes


direi por boa resposta, que pois due a ex
cessivo ponto de corrupςão nos vάο levan
do, he de mister guindar para excessivo
ponto de pureza, para que contrastando-se
uma por outra cousa , a final nos possa
mos ao menos ficar em meio termo. Εm
muito mais encarecido auge, e de todo
impossivel e ridiculo, poz a mira e a elle
tirou sempre com todas suas forgas Fran
cisco Μanoel do Nascimento, e mais he
indubitavel que n'este particular meleceo
mui bem de nossa litteratura. Βeclame
mos pela divida de déz se quizermos que
ao menos os cinco nos venhão pagos. De
presumpς.oso taxaráό meu empenho não
poucos d'esses que mais podem criticare
εmpecer do gue accender-se em fogo de ge
merosa temeridade : pois seja assim como
elles duizerem, e nem por isso ficaremos
mal avindos, porque me não podem tirar
a satisfaςάο e gloria, que sempre levarei,
de atravessar por um seculo barbaro, sem
φue n'elle me contamine.
Caudale impetuoso entra o rio Rhoda
no pelo lago Lemano, etão determinado com
sua carreira o atravessa, que se o nao alte
ra, nemcom ochristalino das proprias agoas
Ιhe desfaz a baga eterrena cor, tambem d'el
Ι 3
176
la senao deixa enturvar, nem vencer da iner
oia de táo ampla e dormente superficie.
Νão me comparo eu com o Rhodano, gue
Βem entendo não passo de maaso regatinho
por entre vigosa mas rasteira grama, e sό
noto ésta imagem para exprimir o que eu
folgéra de ser, e o quenão menosfolgάra que
de si emprehendessem os pouquissimos bons
ingenhos que ainda ha em Ρortugal, não
afogados na geral brutesa. -

Αs traducφόes de lingua franceza, a


que pouco ha attribuί parte da culpa no
estrago de nosso idioma , e pelo demais
tem sido feitas por ignorantes movidos pe
la cubiςa do lucro, por duas vias damna
rão a sincera e nativa pureza de nossa lin
gua ; jà cobrindo-a com o voraz e feio mus
go de estranhos vocabulos e frases, jά
principalmente quebrando-lhe o estillo pro
prio, a interior contextura, e desgastan
do-lhe, sem o cuidarem, a vida e espirito
semi-romano, com que tão fera e poderosa
andou sempre entre as de Εuropa.
Ο primeiro mal, com quanto seja gra
ve, não he sem remedio, bastando para
a vir a lavar d'esses envenenados e nojo
sos arrebiques, haver αμem leve por dean
ie as mui preciosas diligencias do Senhor
Βispo D. Francisco de S. Luiz. Α peor en
177.

fermidade he a segunda, se mais que enfer


midade não he ella jà morte, pois gue
não acοmmetteo pelo exterior, nem he, pa
ra que assim o digamos, patente aos olhos,
senão gue por todas as entranhas lhe anda
lavrando, Fallar portuguez com palavras
francezas he imcomparavelmente menos
mão, dado que mais ridiculo parega , do
que pensar em francez e muito embora
exprimir-se em palavras patrias. Νäο cui
do eu que haja lingua que mais diste por
indole da nossa do gue a franceza: ape
zar de terem uma e outra boa parte de
Εua origem na latina , apezar de terem sido
francezes os rudimentos de nossa monar
chia, e muitos os d'essa naςão gue por cά
desde esses tempos se ficărăο; apezar em
fim dό muito e mui intimo tracto que sem
pre nas duas gentes durou e grande con
versaςão que de seus livros tivemos, per
manecérão distinctissimas, direi até con
trarias em seu caracter as linguas, até que
ο trogo dos traductores aventureiros nos
invadio, venceo e talou a nossa. Ρara bem
Verter do francez, mais cabedal se requer
do que para escrever de proprio moto,
porque no Segundo basta seguir a queda
dos proprios pensamentos que todos vem
trajados do idioma vulgar, e não assim
Ι 4
178
no primeiro caso, aonde a linguagem so
bre due navegamos, nos faz continuamen
te forga; e mal que um instante a inspi
raςão deixa de nos favorecer, ou descan
gamos no remo, em vez de contrastar e
subir a corrente, com ella descemos pre
cipitados. Ε tantas partes felizes, como
as de gue para isso se precisa, quem as
deu ou dará jämais aos presumpφοsos ατιe
or hi nos inςão de traducφόes, de que to
Ε ο reino vai raso, como parede branca
salpicada de Vareja e outras peores immun
dicias de insectos na forga do estio.
Ε porque a materia he de tamanha
utilidade, e nόs estamos, não em um Ρro
logo, mas sim em uma Conversagão pre
liminar, continuaremos por ella, e os en
fastiados gue voltem folhas e vae lá adean
te tomar pé onde melhor lhes parecer.
Duas causas tambem jά mencionei,
por onde nossa lingua se tem ido e vai per
vertendo; säο ο necessario e forgado estudo
delivros francezes, e a leitura dos periodi
cos, gue para muitos não menos he neces
saria e forgada. Αcenselhar gue uma e ou
tra se renunciassem fora absurdo. Αos pe
riodicos dei eu costas, αμe não pertengo a
este mundo ; mas que amador de letras
podéra soffrer esbulhar-se das Οbras que
179
rnais instruem e divertem 2 De tudo leia
embora o animo do curioso, mas como hοί
ver acabado cada uma de suas leituras, cor
ra a se purificar nas fontes vivas e copίο
sas denossos classicos; nao perderά a sub
stancia do que houver recebido, mas se li
vrará das nodoas que no tragaresse maiiti
mento Ihe caissem. Νão forão" os nossos
classicos homens de gue nos hajamos hός
outros de desdenhar, nem em sό escrever
ortuguez se cifra seu merito. Se os que
Ε os desprésäο e menoscabao se quizes
sem ao menos aventurar, a lél-os, quam
prestes mudárão de conceito, deleitando-se
em seu tracto! Ρor desconhecidos sao desa
preciados , por não frequentes desconheci
aos, e por dispendiosos não frequentes:
d'onde, serviφο grande serά para as letras
e lingua portugueza o que a tão recente e
tάο esperangosa Sociedade dos Αmigos das
Letras, commette e levarä a effeito, se a
fortuna a ajudar: com os Ιticros do seu
promettido Jornal de Sciencias, Letras,
e Αrtes, he proposito seu ir a pouco e
pouco reimprimindo os melhores de nossos
antigos livros, para os derramar ήa maior
copia e pelo infimo preςο αμe possivel for.
ΙΝao basta porèm este sό remedio contra
entermidale tiίο geral
"
e . profunda, senio
. . . . . "". Ι 5 ... "...έι"1".
4. "

18Ο

φue todos serio poucos e bem empregados:


pelo que me praz confiar em que todos
meios serão tentados, taes como um Dic
gionario amplo e cabal, premios annuaes
ήs Οbras que em cada um anno venhão a
apparecer em melhor linguagem escritas,
aesvelo em prover de bons Dramas, Co
medias e Τragedias o Τheatro, e a final
γcrsόes esmeradas dos Romanos authores,
mormente dos poetas, que por serem leitu
ras para maior numero, mais larga cura
podem fazer. Ν'este ultimo ponto insistiria
eu, se fosse este lugar para dissertaφόes;
inas sempre direi, que por quanto foráο tra
ducφόes as que jà mos arruinárão, a traduc
cόes cabe reparar o destruido. Ε certo,
que o mal que nos as francezas por sua
η ιίureza hão feito, o podem pela sua mui
bem vingar as latinas. Εste alvitre tanto
agradou a alguns de meus amigos, assim
como lho propuz, αμe espero que de bom de
sejo passe e se converta em obra. Jά, mer
cé de Deos, para comego de tão grandioso
edificio algumas poucas pedras estao cor
tadas. De Οvidio não fallo, porque de
seus Αmores e Μetακorfoses fui eu o tra
quctor, aem de Lucano de αμe um de meu8
Irmãos jà tem uma boa parte, mas men
cionarei Ηoracio, cujas Satiras e Εpistola"
181,
ahi estão jà com tamanha felicidade tras
ladadas para verso portuguez pelo Senhor
Αntonio Luiz de Seabra, αμe de outro
modo não folgéra de as ter escritas o fi
losofo cortezáo, se Ρortuguez houvera nas
cido em vez de Romano. Οxalà que tan
ta fabrica de esperangas não fique sό pe
la primeira traga, como pelo demais se
lamenta em cousas nossas!
. Μas tornando-me ao d'ende me des
viei, por querer dar uma vista d'olhos a
εstes hão jardins sim pomares de muitos
frutog, repito oue não vai a Confissdo de
Αmelia tão portugueza como podéra, e
οonceda-se venia a αuem não inquirido con
fessa ο delicto.
- : Αgora razáο he que da Αuthora se dé
alguma noticia a minhas Leitoras, mais
φue leve seja e por alto. Νão sem boa ra
Ζάο seha por comego de louvor em qualquer
vida, o lustre da origem e claridade do lu
gar natal, porque dado que da fortuna se
ião ambas essas cousas e não do sugeito..
oomo bons auspicios usamos de as acolher
quando de meritos pessoaes as vemos de
"Ρoisir seguidas. Franceza nasceo Delfina
Gay, e filha de uma Senhora por nome
Sofia Gay, mui norheada, pela excellencia
. ί" . . . . . . Σε , , ι:
" .. . . . ευ". . . . Ι 6'
ί - δ,

182
. . . . . . . . . . .. . . . . .
ae seu ingenho. (*) Com todas as boas
fadas veio a lume esta menina , a natu
reza, sobre dar-lhe com profusa mão gra
gas corporaes, lhe bafejou espirito raro,
abragando assim num sό composto o que
para ricamente prendar a duas mulhgres
ίiouvera bastado. Εntre seus penates achou
iή a gloria cuja tinha de ser, e em sta
Μäi a mestra e o exemplo vivo para iini
tar, vantagem grande nojμizo dosque Ε
alcangarem quanto por negaςão e rulgλά
de pais se malogrήo bem a meudρ procίο:
sas e nativas qualidades de filhos. (**) Εοί
-
-
... :) . . . . . .", . ..
(*) Μ.me Sophia Gay he em Fran tida na con
ta de mui distincta por merito e Ε, d'entre
as Αuthoras de Νovellas : em nenhumas das suas
φδz seu nome, com quanto a isso a proγρcassea bba
εισοlhida φue todas ellas.tem logrado: intitnlδο;88
Αλακre d'Αstelle, Leonide de Μontbreuse , Ατία
λυΙe, Lds.Μιlheurs d'μη Αmant heureu.ν. " ". *
(**) Ο Αbbade Dubόg, de quem Voltaire faaήahi
to honrada menρήo, diz nas suas|fυgfiearόes Criticas
άcerca da Ρoesία e Pintura , gue nenhu yerda
«leiro talento deixa de encontrar ήiodo ie Ε ao p
ra que a natureza o destinou, e para si tem, due ein
"nenhum usa a desventura de se mostrar tao constan
te, gue jά nuncalhe abra por entre, Ε 9

uma vereda para a gloria. Εsse dito , ήμe alias po


deramos confirmar com centenares de exemplos, tem
comtudo softrido muitas Γίξtéepρόes, e mui paia
sentir: porquanto umas vezes a obscuridade e penu
ria do bergo impedem futuros voos para região mais
183
portanto o seu correr para a perfeiςão litte
raria com declivio de corrente e vento ga
lerno, desde os primeiros dias Com a appli
cάςão" aos muitos dotes com que uma don
zella bem naseida tem de apparecer no
μndo, no muήdo d'este nosso seculo e
άaqüeflâ"grande Pariz, forão se travan
άο: os bons estudos das Linguas, Fi
losofia, Ηistoria e Poetica, ο άue tudo a
graadéήadrugada de set entehdimento hε
ίθΙΒay, glaro fagile formoso," , : " 5
Ε iá ηão »

fora poicoo apréðiar geitender oabalmδti


ίβοε bρη"! έtas, βά 6-se forte θivalero
Εμίξ"Εμείεται,μιο "Ε"
alta, δίtike a pέοθtia vadatihe
Ε Αttes, que banqueBohdigioelé des6α
desi fortήosas , estáό:por
s, do muήdo assentadast.humildemente : 8 Ε
ίσdarei por exemplo o meli amigo, o Sr. Joaqui
Ε. Ε, Βόea, e, βαιη ί. Ε
Τό dé testerhunhas the tenho σίividό, quea sίia verda
deira vocaρão era toda para Αctor e Αrchitectd. Fé
Πora Sociedade um excellente Gργίπuador Civil: mas
se,o acaso lhe houvessedado intefior condicio , 8ei
Ε nos teria sido um mestre e Greador"da ξοειά,
εGmo confessio quantόs'6 vitao representar n'anuel
les nossos boris esaudρsos tempos de ΩΗan
to a Μestir de Οbras, hδρ sei mas fygarique assim
ΕΕ Ψμε: οondo em eiteit Sρή επιβαίνο , ησs
dé bύeve o piohettido Τheatro, déόehte, gaignoide
acίύfestaes eύaiύ"elle. 5 9 , ει ο Ιμυ 3ου 3. Η :
154

e torneios litterarios: e deu materia, com


o deixar que seus Εnsaios se imprimissem,
a que scu nome se espalhasse ao longe, e
ae toda a parte os animos ficassem atten
tos aguardando o muito gue tão felizes
commettimentos denunciaváο.
Ο Livro de Οbras suas recentemente
publicado, prehencheo as esperangas ge
τaes, e para sempre lhe deu praςa e foro
εntre os optimρs Poetas seus conterraneos
d'esta idade.o-, η "- : : : , ο
Οutra de suas,fortunas, que certo
não he para omittir, he ter-lhe o cé
concedido , alem de jina digna Μai, μπη
aigno Εsposo, gual he Μr. Girardin, lit
terato a cujo bom zelo muito deve a Fran
ga, e que sobre ser täρ proprio para bem
avaliar e incitar por si esta musa creado
ra, até pelas suas numerosas relaφόes com
os escritores mais abalizados a cérca d
um cortejo condigno e poderosissimos in
centivos. . . . . . . . . . . .. ,
Τroncando por aqui esta noticia ma
encetada, por me fallecerem informaςόes,
de que para a levar por deante precisaria,
Βom serά αue se indique a fonte d'onde
Ιhe manou o Poema que verti, e melhor
ainda que indica-la sera po-la patente aos
olhos dos curiosos, e a isso hos vamos pa
Η 85

ra emfim tomar descango, αμe assaz he


tempo. -
São os seguintes Fragmentos extrahi
dos do segundo Τomo do Genio do Chris
tianismo do Senhor Wisconde de Chateau
briand.

Πιεύρα : 12 de Feύereϊro de 1836.

------3βC: ΕξSξ -ω-


"

** **

* * * * * «ε.
187

ΙΡΙ ΒΑGΙΜΕ ΕΝΤΟS

do Εpisodlo de Rene

φ o o e e e o e e o o o o o o o o o o o o o o o o e e ο Φ ο Φ. o o o ο

Αinda Αmelia nao tinha feito os votos ;


para morrer para o mundo, primeiro ti
nha ainda de passar pelo sepulchro. Lά se
estira minha Irma nas lageas, por cima
lhε estendem a mortalha ; aos cantos lhe
accendem quatro tocheiras. Ο sacerdote,
de livro na mão, e estόIa, levanta ο Οfficio
de defuntos; coro de mogas religiosas n'el
le prosegue, com muito espirito e devoς άο.
Ο' deleites da religião, guam grandes, mas
quam terriveis não sois ! Α mim me ha
vião posto de joelhos bem ao pé de todo
este apparato lugubre ; Senão quando, säe
debaixo da coberta sepulchral um soίdo
afogado e confuso. Inclino o ouvido, e n'elle
me ferem as seguintes palavras, sό de
mim percebidas: " Fazei, ό Ρai de mise
ricordia , αμe nunca mais me alevante eu
d'esta jazida funebre; e prodigo derramai
todos vossos favores a um irmão, gue em
meus criminosos affectos não foi cumplice.
Φ ο Φ. Φ Φ & o o o e ο ε φ ο Φ ο ο φ 9 e e φ ο φ ο φ ω ρ ω 9 και ο φ ο ο

Vagueava eu continuo à volta do mos


188'
teiro levantado ao rez do mar. Α miudo
enchergava a uma janellinha de grades,
que contra o ermo do areal olhava, uma
religiosa assentada em acto de mui pensa
tiva : em profunda abstracφάο se embeve
cia na perspectiva do oceano, por onde
lâ fugia de tempos a tempos algum navio
singrando para as estremas do mundo. Μui
ta vez ao luar tornei a ver aquella religio
sa és grades da mesma janella ; contem
plava o mar alvorecido do astro das noites,
e toda parecia attenta n'aquelle ruido das
vagas, que tristemente vinhão quebrando
ao longo das aréas e säfaras, pela costa
εolitaria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
ο φ ο φ o o o o o o o o o o o o o e 2 o o o o o o o o o o o o o o e ο

Como René poz fim em sua historia ,


sacou do seio um papel e o entregou ao Pa
dre Stel; e logo deixando-se caίr em bra
gos de Chactas, e afogando os solugos,
deo ao Μissionario espago de pelos olhos
correr a carta gue lhe fiára , a qual era
άa Ρrelada de... Εncerrava a relaςão dos
ιultimos momentos da Sor Αmelia da Μise
ricordia, que, pelo estremado zelo e cari
dade com αιιe tratou de suas companhei
ras em uma enfermidade contagiosa, fal
lecera: inconsolaveljazia toda a Communi
dade, e tinhão Αmelia em conta de Sancta.
189

Α' Μ.ε"Ι) ΕΙ, ΡΗ Ι Ν Ε G ΑΥ

(Μ" Girardin)
ΕΝνοι.

Soτ. Ιe ciel d'Occident j'ai redit le tré


ΙDe cette malheureuse et touchante Αmélie:
Μa muse a su charmer, par la votre embellie;
Ρour plaire il faut avoir un peu de vos appas.
J'ose donc de vos vers vous adresser l'hommage
Οuoique trop affaiblis, ils vivront plus d'un jour.
Ρuissiez-vous dans le mien retrouver votre ouvrage :
Qu'un Sourire lui soit le gage
D'un maternel, et d'un constant amour.
Jadis l'homme des champs apportait en offrande
Ρour prix de leurs bienfaits, aux Nymphes des hameaux,
Des fleurs gu'elles font maitre une simple guirlande,
Qu'il suspendait a leurs rameaux.
Grossièrement tressés par des mains si fidelles,
Les lys étaient moins purs et les roses moins belles:
Μais si le don perdait en parfums, en couleur,
L'αεil toujours bienveillant des Βeautés immortelles
Υ mettait quelque prix... ee don venait du coeur.
Αh ! quandon a leurs traits, ondoit étre comme elles!
Αntonio Feliciano de Castilho.
19Ι

«φΦξβΆφ3ξ4%Εύξ3Φ4.

Α CΟΝΕΙSSΑΟ DΕ ΑΜΕLΙΑ:
"- ΙΡ Ο Ε Μ Α.

Dίαι: Confitebor adυersun me in


•Ν 9 « θ 9

justitiam meam Domino, et tu


remisisti impιetatem peccati mei.
Ρ8. 31.

Rτιο, a espagos no Convento annoso


Sino funebre ; he togue da agonia.
Εm transes do affrontoso passamento
Αlma christà lá pena. Αo locutorio
Αgradeabrindo, -"Εntrai, diz a Αbbadessa,
Correi ά nossa Irma , gue vos suspira:
Jaz nas ultimas, vinde a prepara-la
Αntes que o grão Juiz a chame a conta8,, -
Ο Sacerdote ancião que isto lhe ouvia,
Sάe da capella accelerando os passos,
Leva ο Οleo sagrado, o Pao Divino
Ηolocausto que ao mundo os ceos promette.
Νo longo escuro vέo sumindo a magua,
Coa tocha em punho tremula, precede-o
Ρresto presto a solicita Αbbadessa, ".
192

Ρor sobre as campas do sonoro claustro:


Ρelas arcadas tacitas apenas
Gigante a propria sombra os vaiseguindo.
Jά subirão as humidas escadas: »

Proximos quasi ao lugubre aposento,


-"Sentis algum rumor 2,, diz assustada
Αpiedosa mulher. - "Νάο,,-torna o velho.
-- " Ο' meu Deos ! he talvez jά tarde!,, -- exclama.
Εm quanto assim dizia, eis mansamente
Se abre uma porta ao fim do dormitorio,
Ε se ouve em baixa voz " Ιnda respira :
Ά a Irma que velava ao pé da enferma)
a não ha que esperar, não percais tempo,
Que no apartar-se da alma entra em delirio:
Chama não sei por quem, que eu não conheρο;
Εntrai logo.,,-ΑΑbbadessa έporta odeixa;
Εscrupulo lhe impόe que se retire:
Ε entra sό do Senhor o ancião Μinistro.

Βrandão que jά do altar se honrou nos cultos


Νa estreita cellasinha agora empresta
Funebre claridade à muribunda.
Do tormentoso leito em frente, aberta
Μostra a janella o mar eas praias ermas,
Ωuadro umbroso que attrae de Αmelia os olhos.
Ρor entre o grão fragor do vento evagas
Α misera aterrada escuta o sino,
Que em pesado waivem brada por ella.
193

Νο careere onde jaz não jaz sua alma:


C'os desvairados olhos no horisonte,
Das grades atravez e à luz dos astros,
Ρarece andar buscando ao longe as vela8
De suspirado, prόfugo navio,
Εm quanto o furacao revolve o pέgo,
Ε ave triste do mar, fugindo a noite,
Αttraίda da luz cega esvoaga,
Fere os duros varόes coas azas duras.

Ρronto afallar dos Céos, emtanto oVelho


Volvia olhar piedoso a triste Αmelia.
Οh! e que alma provada escapa a forga
Que faz presenciar n'um rosto bello
Lucta cruel de mocidade e morte!
Sobre o corpo abatido o antigo trajo
Ο trajo luctuoso, a Irma conserva;
Αspresa que ao sepulchro ha de segui-la.
Τransluz por olhos seus delirio torvo,
Ε a custo envolta em pranto a voz despega:
-"Serãelle2...René2.. meu Deos! guedigo!
Jaz ermo todo o mar... René não volta !...
Νao ha mais ve-lo, ai morro: adeus esp'rangas!.
Αduelle sino me annuncia aos mortos:
Vou expirar sem ve-lo, estou punida.,, -
Τreme o sancto Varão de ouvirtaesfrases,
Ε em nome de um Deos bom perdão lhe off"rece,
194
- " Confiai-vos n'um Deos que ama seus filhos;
Εspranga de ir aos Céos alegre essa alma,
Οs bragos do Senhor de là vos buscao,, -
- " Νão, o infernomeaguarda,, -
- - "Α νόs o inferno2
Α vόs gue tantos olhos enchugastes 2
Αmelia , crede em mim, crede-me, όfilha ;
Βemfazer sό pertence aos innocentes,
Ε nunca άs almas due remorsos ralâο.
Se fosseis ré da colera divina,
Como terieis balsamo tão doce ,
Τao efficaz as chagas do infortunio 2
Calmai terrores vaos: ο Ceo bem sabe
Que padeceis por victima espontanea
Do mais nobre valor. Qualquer peccado,
Μorte que a vossa iguale assaz o expia.
Vossas jovens Irmás, se vόs não fosseis,
Αo contagio voraz succumbiriâο.
Μais que irma, mais que mai, christa sublime,
Dos prigos atravez, correis, salvai-las
Α existencia das mais remis coa vossa.,, -
Υ.,

-"Εssa morte gloriosa ah! nãome absolve!


Βuscava o prigo entre ellas, Deos o sabe.
Dando a vida a seus labios muribundos,
ΑΠrontando o pestifero contagio,
195

Corria por me expor, não por servi-las,


Ε roubar-lhes a morte era o meu gosto.
Um cego amor, no mundo comegado,
Νo sacrosancto claustro entrou comigo.
Αos pés do Salvador em vao prostrada,
Das esposas de um Deos zelozas, pura"
Imitava o fervor, a ingenuidade.
Ωuando, em face do altar ajoelhadas,
Αs devotas Litanias modulaváο,
Εrrantes olhos meus, ah! vόs não lieis
Νέο lieis mais do gue um nos nomes Sancίο8.
Μeu vέo manchavao lagrimas impuras :
Ν'este borelgrosseiro amortalhado
Um coraςão sacrilego batia. ,, -
- "Μas filha, que poder vos constrangia
De votar-vos ao céo, fugir ao mundo ?
Viria do infortunio essa imprudencia 2
Εsse, cuja lembranga vos captiva,
Langou-se por ventura embragosd'outra2,,--
-- " Εm vδο pedi aos céos due a outra o dessem;
Αquelle por quem morro, amou-me sempre.
-- * Μas que mão desunia os vossos fados2
Lembra-me-ouvir da boca da Αbbadessa
Ωuerendo encarecer vossa piedade,
Que havieis és delicias transitorias
Ρreferido sem custo a paz do crmo :
Κ
r

196

Ε αue um vosso parente (irmão supponho)


Fundado nos direitos da amisade,
Longo tempo se oppoz ao Vosso intento.
Θuem pois vos obrigava 2,, -
-- " Εlle ,, -

-- " Εlle mesmo 2


Θirande Deos !,, -

-"Νάο culpeis duem não tem culpa.


Μeu Irmão nunca soube os meus remorsos,
Οsmeus crueis, meus intimos debates.
Longe de suspeitar meu mal terrivel,
Que vezes de frieza me arguia !
Cancei-me de esperar contra delirios
Soccorros que a razάο nem sempre off"rece,
Ε dar-lhe eterno adeos achei forgoso.
Μeus tormentos calar jά não podia :
Μais que friezas, receando extremos,
Criminoso terror sentia ao ve-lo,
Εrão-me pejo os osculos fraternos.
Ο' vingangas de um Deos, fataes vingangas!
Εu propria, sem querer, soprava o fogo,
Verdugo e ré no barbaro martirio.
Sim, sim, la n'outro tempo, em qutanto angustias
Νão me havião murchado a fior das graςas,
Μeusemblante era o seu, feiφόes as mesmas,
Μesmo brando sorrir, presenga grave, "'
Ι97
ΚΙ : ,

Ε sobre tudo o olhar, o olhar materno.


Τentadora illusáo, memorias ternas
Αndaváo de continuo a perseguir-me,
Αté na minha voz suppunha όuvi-lo. -

Βaldado era o fugir, que hião comigo "


Εm meu rosto o meu crime e a sua imagem,, --
ί.

Αssim diz : busca o Velho conforta-la ,


Μas ella impaciente, ella em delirio,
-- " Falta o mais, falta ο
mais, ouvi-me, exclama.
Quando nas aras proferi meus votos,
Εao ferro as trangas me caίrão soltas,
Α' hora em que estendida sobre a pedra
Fatal mortalha me escondia ao mundo, (;
Do templo na mudez se oavem gemidos:
Νο suave da Voz René conhego.
Νovo crime presinto, horror me inspira
De seu anior a criminosa idéia.
Cri ver, guaes tinha em mim, ferver-Ihe angustias
Νa mente oppressa de pesar saudoso.
Ο' René!.. dia atroz!.. funestos votos!
Εu chamei sobre ti de um Deos as iras.,,-
*
". "-

- "Αvossa confissäο mé explica tudo,


Εxclama o Sacerdote, apasiguai-vos:
Sό René foi culpado, esse nefando
Αmor que encheo de lucto os vossos dias,
Νο peito de René principio teve.
Primeiro do que vόs soube elle o grcano
Κ2
Ι93
--

Αos males φue heis sotirido, acerbos males


Ε οs quiz, e se pasceo no proprio damno.
Ο' miseria do, pό! o homem vaidoso .
Com um tormento demais sό dado ao homem, ".

Ρrocura novidade até mas dores; - --

Compoë scu infortunio, aos céoso imputa .9

Ε desgraga apellida o que he seu crime,


Μas vόs, cujos piedosos sentimentos
Μe edificărăο tanto, yόs Αmelia,
Ρela mão do Senhor trazida és aras,
Capaz não sois de vergonhosos crimes;
Se peccastes, foi sό por de sobejo . "
Vos por medo uma sombra de peccado.
Deos vos ha visto o pranto, exforgo, lidas,
Ρezou vosso remorso: a penitencia υ,
Lhe pren de as mão s da impa rcia l just iga; :
Uma lagrima sό lhe apaga o raio. '' ,
Αmelia, a vossa morte he prova d' isto:
Se là vos chama a si, guer perdoar-Vos,, --
Νa anciada confssao da moribunda
Vago rubor as faces Ihe arraiára. "
Chamada pelo Velho, entra a Αbbadessa
Α αμem toca o materno, o amargo officio
ΙDe lhe erguer, sustentar-lhe a fronte exhausta:
Ρoem-lhe os olhos, um raio de esperanga
Lhe diz na cβr de Αmelia = Αmelia he salva. Ε.
DoSacerdote a voz desfaz o encanto,
-"Αpressomonos ,, - diz, Ν'isto emjoelhos
199
Se arroja, sobre a enferma a cruz estende,
Recita as oragόes d'essa hora incerta,
Οraς όes, αμc a infeliz escuta apenas.
Da-lhe sublime as ternas despedidas,
Ο adeos consolador: coa mao tremente
Εmpunha o calix d'oiro; um pouco a virgem
Α pesada cabega a custo algando,
Ν'um derradeiro exforgo acceita a hostia.
. . 7,

Εm quanto a Sacra Uncρão lhe tinge a testa,


Chega o praso, anniquila-se o universo,
Jä noite perennal cerrou seus olhos!
Solta do térreo manto a luminosa
Joven alma feliz, la foi juntar-se
Α' Sempiterna Εssencia, origem sua.
Já no seio dos Céos purificada *

Do involuntario amor, due a profanára,


Ο perdão de René a Deos supplica.
Sό ficou a Αbbadessa ao pé da morta.
Velando em oraςäο. Saίra o Velho
Ρara ir depor no altar o vaso d'oiro:
Νo abrir da porta o vento que gemia
Νo esguio dormitorio, entra revolto,
Ε coa brisa do mar travando embate,
Quebra da cella o funeral silencio;
Do pendente rosario agita as contas,
Curva o ramo do hissope entorna as aguas,
Confunde, espalha os funebres aprestes.
Κ 3
2ΟΟ
Α Αbbadessa a chorar ficou-se orando
Εm trevas, porque o negro e longo fumo,
Da freira na agonia ultimo adorno,
Εrguendo-se, apagára a debil toeha,
Ε sobre o rosto quedo esvoagaya.
-

ΕΙΜ
" "-

DΑ CΟΝΕΙSSAo DΕ ΑΜΕLΙΑ

} ... -Τ
" -

Composta na choupana de Lormois em


Julho de 1824. Τraduzida na Residencία
parochial de S. Μamede da Castanheira do
Υouga em Setembro de 1828.
- -ν - ν

•-κκοκκο ξ38ξοοο.ο.οκ.
58Σ%ω52 " ...

τNDτσΕ.
ν
... *** . . * -- -

Α Νoite do Castello. Ξ Ρoema. Ξ


Αo Cavalheiro Αntonio Βriccolani
- Dedicatoria.
Ρrefacio da Νoite do Castello, pag. ΙΧ
Νoite do Castello Ξ Canto 1. * 1
Canto 2. * 2]
Canto 3. * 51
Canto 4. * 77
Reparos άcerca da Ιnvenςάο da
Νoite do Castello........ 97
Αffonso, e Isolina, Βallada li
υremente traduaida do Ιngles
de Leuris, pelo Sr. Αlexandre
Ηerculano de Carvalho .... 117
Αs Βodas do Conde Rizzari,
Ηistoria Siciliana(Αrtigo tra
άμαίdo do Wolfigeur n. " 21.) 123
Dedicatoria dos Ciumes do Βar
do a Μr. Ferdinand Denys. 139
Ρreambulo dos Ciumes do Βar
Φο. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... 141
Οs Ciumes dυ Βardo = Poema = 153
Conversacήopreliminarda Con
fissao d'Αmelia. . . . . . . . ... 171
Fragmentos do Genio do Chris
tianismo. . . . . . . . . . . . • ο ο φ 187
Εnvoia Μ" Delphine Gay...... 189
ΑConfissäο d'Αmelia= Ρoema = 191

Ε Ι Μ.

":
«Σώθξ5:
ι " -
-
.

π.ista doss."Αssignantes,
Αntonio Jυsβ ΤΥσmingues.
Α gostinho vicente Ferreira de -- Ferroir de Αlmeida
- 4. 3 unior.
Cattro. "-
-- Gomes. -
Αires de Sά Νogucira.
Αibirio Francisco de Figueiredo. - - Leite Sampaio. ----
lo Νassiniento. -
- -
- José Dias Guimarães.
Αlexandre Jose Gomes Μonteiro. "---- -- Νunes. 34 : «
Τ).Αnna do Garmo Pereira da Silva 1-- de Oliveira e Silva. Σ
-- Τorres Pereira.
-- - Lucinda Μonteiro.
-- -- Μargarida de S. José Fru - Leite Cardozo Pereira
de Μello.
etιroso de Αraujo. -

7 Αnonimos, e üm com 6 éΧem - Lourenς ο Coelho. - 5


Εxemplaros.
plares. -

- Luia Μaritι.
Αήonimo -- 6 exemplares,
Αntero José de Βrito Junior. -- Νogueira e Freitas.
2 Εxenapares.
Α. Α. da Costa Ρaiva. 4 Εxempl8. -- - Ιtlbeiro
Αntonio de Αffonseca Freitas Α da Silva.
Μanoel Pinto do Soberal. .
-morim.
Αlexandre Μarques. do Rego Αbran
- -

de Αlineida Τovar ches. - :


Μarianno de Αzevedo,
Αugusto Τeixeira de Vas Μaria Carneiro. Η
concellos.
Α. Μ. Garcia.
Βorges Cardozo de Μene Αntonio
ΖG8, Μaria Gomes. " ".
Βrito. Μachado.
Calga e Ρina. Μarques de FigueiredΘ.
Candido Ferreira de Car Μartins dos Santos. -2
valho, "" Εxemplares.
Cardozo Pereira FerraΖ. - Μartins Vianna.
Carlos de Μello e Silva. -- de Μoura 8ecco.
Οorr6 a do Μeneze8. Νunes dos Reis. , ,
ΙDr. Αntonio da Costa Ρaiva -- 2 - Pedro de Azevelo.
Χavier.
-" -

Εxempiares.
Ι)r. Αιμtonio da Costa Ρaiva -- 3
Τxemplares. - Ρeito de Carvalho.
Αntonio da Costa Pinto. - Pereira Pimenta de Cas
- da Cunha Soutto Μaior. trΟ.
Α. C. Τavares. Rοballo de Αzevedo. --
Αntonio Ferreira Velho. de Sά e Μello.
Fortunato Μartins da - -- Τeixeira.
CruΖ. Ρadre Αntonio da Silva Βarboza.
- Francisco Pires. Α:ntonio da Silva Βastos.
- Gerumano de Οliveira. Soares Μascarenhas.
- Joaquim de Figueiredo. Τhomaz de Αquino e Sil-.
- Η Vίαιτα θρηes. va, -2 Εxemplarώ". ---
- José Dias Guimaraes, Α. V. Peixoto. . . --
Αssemblea Ρortuense. - 2 Εxem Francisco José Carvalho Gomes.
plares. -
Costa.
Βartholomou de Νobrega Βalda Lobo.
que. - do Νascimento.
Βeito Αntonio de Oliveira Car de Μiran- -r".
dozo. 21.
José da Costa. - *, --- - Rodrigues de Οli
Ρereira do Carmo, veira.
Βernardo Αntonio de Figueiredo. --- - da Silva Τorres.
- Joaquim Pinto. --- - Vianna.
-- Luiz Fernandes Αlvcs. -- Μaria Godinho
Caetano da Cunha d'Εφa e Costa. -- Μaι αιμcs de Οlivoira.
D. Camilla Ιtomana Reis. -- de Μoraes.
Camillo Αreliano da Silva Souza, de 5 Ιουνα Secco.
- -

Carlos Βorromeu Pereira da Silva. --- de Paula Lobo Αvilla.


José Ribeiro. - da Silveira.
- da Silva Μaya. D. Francisca Ρaula de Souza.
-- Vieira da Silva. - Francisco de Paulo Cordovil de
D. Catharina Umbelina de-Μen Βribo, τ.
-

aonca Castro e Lemos. - «la Rocha Soares.


Christianno Limdemberg, - de Salles e Βrito.
istovio Carneiro (4o Αndrade. - de 8ena Fernandes.
Claudio José Μarrocos Sobrinho. -- de Sωuza Ferraz e Μel
Cujtodio Corréa da RochaJunier, ύ lo.
ΙDahiel José da Silva Μello. Μonteiro.
D. Dorothea Rita Τeixeira Βar -- Χavier de Carvalho
Ζa. ν - Silva.
Εlias José de Μoraes. da Μaia Juuior
D. Εmilia Candida de Figueiredo. -- -- da Silva Costa. :
ΕιunaoΟ.
tlClΟ, *
Joaquim da Silva Ro - --- Ρereira
- Τaborda. ---
Fξ"τιο de Souza Ferreira. -5 Ρructuoso de Ρaiva Cardozo.
Εxemplares. daΕ Cunha Lima. --

Ρadre Félix Joaquim da Silva Ri D. Gertrudes Paula de Souza Ca


beiro. Υa!, ----

Ρernando de Μagalhães... 2 Ε Gongalo Pinto da Cnnha Couti


xemplares. nho.
Firmirio Αngelo Μartins Χavier. - Τello de Μagalhães Col
Εirmo Αugusto Pereira Μarecos. laς ο. - ----

Fortunato José Βarreiros, Μαλο» Guilherme Ignacio Βasto.


de Εngenheiros. -
-8ilva Αbranches.
Γ. Francisea Ρossollo da Costa. 2 Εxemplares, -

Francisco Αntonio de Μello Frei-. Ηenrique Jose Μariares dos San


, ν', ta8,-- ι". tos Chilcman.
- Ρin de Οifveira Μaya,
to Μurgulhio. Ηermano Εstanislâο Οrlaήdi.
Εrancisco Αntonio dos Santos. Ignacio Virginio Ferreira Guedes.
-- de Βoria de Carvalho - Τeixeira de Carvalho e
e Μollo. Silva, Conego en Lainego.
- Candido de Μendonca Ignacio de Carvalho Figueiroa.
e Μello, Januario Peres Galvio.
-

-- de Castro Freire. João Αntonio Gomes de Souza.


-- Εduardo de Αndrade. da Silva Βacellar,
-- Εvaristo Leoni.. 2 Εx. - Βaptista da Costa.
Ηλr. Francisco Fernandes da Costa Γίibeiro.
Francisco Fernandos Sarmenίο. da Silva Βraga.
-- Ηenriques da Silva. - Βernardino Guedes.
-- Ignacio de Souza Αlbu - Caetano de Νovaes CorteReai
querque. e Lemos.
João Cardozo Αires Junior. José Αugusto Salgado.
- Carlos Pereira da Silva Leςa. - Βento de Freitas Costa.
- de Carvalho Μartins da Sil Dr. José Βento Lucas de Οliveί
va Ferrio. ΤΕι,
- Corréa de Ρaria. José Βernardino Pereira de Fi
- de Faria Μachado Pinto Ro gueiredo.
- Βorges Pinto de Carvalho.
-- Fe"ίira Campos... 10 Εxem - Βotélho Pinto.
1ares. - do Carmo e Figueiredo.
Conselheiro João Ferreira da Cos - do Castro Freire de Μacedo.
ta Sampaio. - Cordeiro Feyo.
Joio Goήgalves Μargues da Vei -- Custodio da Costa Louraga.
- Εleuterio Βarboza de Lima.
J. d"s. α. - Εmigdio Αlves Ηenrique8.
João Guedes de Αzevedo Pinto. - da Εncarnaφίio Pereira do
Januario Vianna de Resende. Loureiro.
- José Coelho. Ρrior José Felix Venancio dos
- - da Costa. Santo8 Μeirelles.
-- Ferreira de Souza. Ρadre José Fernandes de Olivei
- Loureiro da Silva Junior. ra Leitão de Gouveia... 2 ΕΧem
- Μanoel Τeixeira de Carvalho plares. - -

- Μaria Goncalves Βraga, José Ferreira de Νovaes Junior.


Soeiro de Αlmcida e - Francisco Fernandes.
Castro. -- Gomes Fortuna.
- das Νeves Gomes Εliseu. Μonteiro..
- Ρeixoto de Μiranda. - Goncalves Pinto.
-

- de Souza Pacheco. - Ε 80ares. -

-- Τhomaz Quillinan. - Ηerculano Ferreira da Ηor


- Vicente Ρirmentel Μaldonado ta.
D. Joanna Εmilia de Αlbergaria. Padre José Ignacio Ηenriques
Joaquim Αntonio Ηenriques. de Μira.
Βarbosa de Μenezes. José Joaquim Αlves Ribeiro.
Caetano Lopes da Silva. Coelho de Campos.
Garcia da Cunha. Βeneficiado, José Joaquim 13.5
José Αlvares de Faria. de Carvalho.
- de Αraujo. José Joaquim . Εsteves de ΜΘs
- Βalucci. queira.
- Caldeira dos Ιteis. - Ferreira de Αlmei
- da Costa Νovaes. da.
Conego Joaquim José Pereira dos Μarques. --

Santos. - -- Rodrigues de Αl
moida.
Joaquin Μanoel da Fonseca.
- Pompilio da Μotta Αze - Justino Pinto Cerveira de
redo. Vasconcellos.
Jorge Cezar de la Figaniere. - Isidoro Guedes. -

Οom. -
- Leite Ρereira de Μello.
ΥWanzeler. Vas
José de Αmaral Βranco de Car concellos.
valho, - Μaria de Αlmeida Coutinho.
- de Αmaral Castello Βranco. Gueiroz.
-

de Βarcellos.
- Αntonio Camillo de Αraujo Gentil.
- Αbreu.
J. Μ. J.
Gongalves.
Guedes dos Ρrazeres José Μaria de Μcnezes.
Ρinto de Carvalho e - Ρereira de Castro e
Silva. Silva.
da Silva. - -- Γίibeiro Vieira de
-
Videira. Castro.
Jose Μaria Sergio da Fonsec", Μanool Τejποίra de Rigueiredo.
Ι). Μaria dυ Carrio Χανίε".
--- d" 8 ιν", - Cletue..tina Αlves Εstrel
- - da Sμνgira Εstrella, Υ.,
_ Μaximo de Souza " ι"1"". - &a Coacριγάο άe Lνια
_ de Μoilo Gouvea Junior. Ρoyo.
Μίομιρίro Βarboza Ca!..οιτο, - - Εcluard:ι Μ2endes.
Ρoreira do Faria. -- iieutiqueta «ο Carmo.
Μentes, e Οutrυ
2 Εxemplaros, 2 Εxemblares.
Reis.
- José Cai deira..
da Silva Ribeiro. - - de Νapoles e Νoro

Ε Ρerry.
pinto de Μesquita... Pimen
thel o Vasconcello8.
Ribeiro de Μesquit",
ξaioiία, Βarreto Perdigao ΓΙ
gueiredo do Αmaraι.
- da Silva e Souza.
- Sivestre de Αndrade..
- de Souza.
cone:o José Τeixeira da
-

Silva --Τhereza Μachado Ferrάο.


-
nha.
da Μadro de Deos Α
zovello ("outinho.
- Μanυela Vidal da Ga
ma Lobo e Vasconcelos,
- Μathittle Τeixeira Lei
te e Castro.
- Rita Βorges Ramos Pin
to de Carvalho.

Μartin8. -

Μaéhado.
Juiz de Dircito de Μoimenta , Jo ξεjirio Τheodoro Βorxado Νun98
sé Τhomaz Pereira da. Ιιυcha. Νιιιιο Μiario de Τorre8. -

- Victorino Damnazio. Ρaulo Jortao. -

D. Josefa Εmilia Carneiro Ζegal -- Rodrigues Βarboza.


Ρedro Αlexandrino Coelho.
1ο.
de Ρaula Carueiro Ζα José Βaptista.
Ρ. Ροετο Μenozes e Αlarcάο.
gallo Μello. Ρedro Nunes Ferreira.
Luoas Vieira de S4. Τeixeira de Μello.
Ι.uiz Αntonio Pereira da Silva.
Caetano da Guerra Santos, Ρorfirio Cezar
Αntonio Felner,
Rodrigues Pacheco
--
da Cunha Βarreto,
" . . . [. Reitor de Μoimenta da Βeίτα, 1 κι
Diogo4/eite: - Είcario Εrnesto de Carvalho.
Gories da Silva. ,

Ξ
--
José Pereira.
- da Silva.
ί. ib. Ηita Raymunda Pereira da
Silva.
- da Silva Μaya. Rodrigo José de Lima.
Ρisarro.
Μanoel Αntonio Vianna.
de Castro. -
Sebastiáo de Αlmelda Βrito.
de Castro e Silva. - da Costa Pinto.
- Ferreira.
Filippe Μartins.
. . Fer, όma 8eabra da Μοί - de Gargamala.
ta e Silva. Silvorio Ηenriques Βessa.
-Joaquim Fernandes Τho Simio José Pereira,
.. . . :ΥΥΥ ΑS» --
Τ. Α. Ρ.
- de Μagalhães. ΙΟ. Τhereza Μaphalda Corréa cle
ν «
Lima. Sanapaio. -

de Οliveira. Τimot o José da Rocha.


José de Βrito Calda8 Τhomaz de Αquino e Souza. - 2
- Leitάο. Εxemplarcs. .

Ε - Μarinho.
- Vieira.
γίcoriίο Cardozo Plnto Βarros
Visconde de Jerumcuha.
Νepomuceno Vieira Ρi Viscondessa de Τorrebella. . . . *
κmenta. Εxemplare8.
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όsterreichische Nationalbibliothek

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