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CGE Informatica Ltda. José Luiz Fiorin (org.) Prof dando, Ana Scher * Antonio Vicente Pietroforte Diana Pessoa de Barros + Esmeralda V. Negro Evani Viotti + Luiz-Tatit » Margarida Petter ’ Paulo Chagas * Raquel Santos + Ronald Beline _ 2 7 I. Objetos tedricos tut @ 2@ a tS .47, Disciphins. Fuurdarmontey ob. Sumac oak Cun ch beter Ueme / Lyng ES fade par coo stam: 1 Linge Td 410 A lingua como objeto da Linguistica Antonio Vicente Pietoforte Entre as muitas variagdes do tema de que contra a forga nfo h argumentos, en- contramos esta conhecida fabula de La Fontaine, taduzida pelo poeta Ferreira Gullar (La Fontaine,1999:12-14): Labo ¢ Cordero som Labo camise ‘Tia barign vai, 7B toto 8 Lingisica ‘um par de conceitos que devem ser definidos um em relaglo ao outro, de modo que um. 6 faz sentido em relagdo a0 outro, H& quatro dicotomias em Saussure: sincronia e diaeronia (1969:94- fala p. 26-28), significante e significado (p. 79-93) e paradigma e sintagma(p. ‘Vamos estudar uma de cada vez. inguistica na época de Saussure? Nto se deve pensar que Saus- efniu um objeto de estudos para a Linguistica ue desenvolvida de outro ponto de vst. Portant, responder 2 Linguistica na época de Saussure & investigaro que ele estudou em sua ue fez.com essa formago como linguist Durante o séeulo xix Linguistica estudou, basicamente, a mudange linguistica. A semethanga da éoca, a ponto de recorrer a uma nomenclaturaprépria dessa cidncia, Linguistica estudavaeclassifiava as inguas em grupos de familias, tratando-03 em termos de graus de parentesco, a fita nessa época costuma ser chamada de Lingufstiea Comparativa 1979:132-160), Chama-se comparativa porque sua metodologia de ta comparapto entre fendmenos lingusticos que se realizam em inguas dstintas. Observando as palavras em algumaslinguas modemasfaladas na Euro- Ps, percebe-se, por exemplo, uma semelhanca sistemtica entre palavras do portugues, do espanhol, do francés e do italiano Na fibula de La Fontaine, o Cordeiro argumenta com Lobo que no foi ele quem © ofendera; também nao fora seu imo, jé que ele nfo tem irmtos, Em sua réplica, 0 Lobo diz: No foi teu irmilo? Foto teu pai ou senfo foi teu av.” Os nomes dados aos taus de parentesco sto bons exemplos para mostrar, em aivel lexical, as semelhangas entre lingua distintas: portugués | espanhol [francés | italiano al padre pire pare is dessas as seme- Um exame mais minucioso de outras propriedades lexicais gram: linguas leva conclusto de que hé muitas semelhangas entre elas ¢ de qui Ihangas sto sisteméticas. Por isso, hi um “grau de parentesco” entre elas. Comparando 8s semelhangas ¢ as diferengas entre essas linguas, pode-se chegar @ uma lingua anterior, ‘base na qual essas diferentes linguas se originam. Essa lingua anterior & como se fosse sgua-mife” daquelas “linguas-filhas”. Assim, pelo trabalho comparativo, é possivel reconstruir o percurso histérico dessas linguas, ou sej, é possfvel determinar como uma ‘muda através do tempo, transformando-se em outras linguas. No exemplo dado, € a “lingua-mae” do portugués, do espanhol, do franc8s e do italiano que, entre otras linguas roménicas, sfo suas “linguas-filhas”. Atingue come obit de ‘Aputir dso, pode-echegara das conclusbes.A primeira diz respeito Acompetincainguisica 107 106 tnkoducto 8 ingusics sives, ne igumss delas, por si ss, com — ou denotar - um objeto do mundo. Algimas dela, para estabe ‘apresenga de um antecedente em potencial na mesma sentenca nto é exigids, endo elas cepazes de recuperar sua denotago no contexto situacional ou linguistico, Reparem nos seguintes exemplos: ito — as criangas ~ tem controle sobre a ago do, fungo no desencadeamento da ago. Diferentemente, interpretado como um elemento afetado pelo processo tra que o pronom¢ e/a, que nfo pode tomar i nunca ter aprendido nada disso na escola. icnan soe seeooedeaie oO atlea ordinada & qual pertence, pode tomar como 110 imadagte 0 Linguistica Se deslocamento é, por assim dizer, uma propriedade geral das inguas, entlo seré in- ‘eressante observarmos os-exemplos em (75), que pretendem refletr a mesma propriedade: (5) eto de gu congo o cara ct 12 pac ens Por que tanto as extragées desujito e objeto quanto a sexo doshas set em periodos simples apenas as extragSes de sueito so aciliveis em poftuguts diferentemente de (75b/¢), se a palavia ind ativas quem {o qu's aplcaet 8 orto enceixada. Por suave, (761) naff quanto (77) & O.cera queo Juca compro en 12 pacelas mene ¢ zero, 1. “Quem qo o cae que comprow em 12 pues mensis #220? ©. *Como qe o caro que Tusa compro & er? paradigma anterior, nenhuma dels ¢ possivel em portugues se as palavras interrogatives Se aplcarem 8 or relative enctnad, Assn, quem lo pode remetr so yet da ‘2 Juca, € como no pode remeter & forma come o Ica parcelou o caro e nfo pom ucea vele mois coereyoge “Hi ainda mais alguns fatos relacionados &propriedade deslocamento, Passemos & escrito das sentengas em (78): (78) «0 Jen goede compe car zr 1 Oque quo luca gosta de compra! A sentenga (78a) é uma sentenga declarative ¢ a sentenga (780) & uma pergunta sobre seu objeto, Entretanto, a pergunta nfo & fita sobre ‘sua posigo original. Passemos agora aos exemplos em (79): (99). & Compra ca zero sgrada 0 Jue "0 que que comprar agrada to Juca? ‘Assentenga (79a) éuma sentenga declarativa ¢ (79) €tentativa de pergunta sobre parte de seu sujeito, De novo, a pergunta ndo ¢ feta sobre todo 0 sujeito comprar carro ‘zero. Se fosse assim, nfo haveria problemas, como se pode ver em (80): (40) O que que agiada no Js? problema se deu justamente porque a pergunta foi feta sobre parte do sujeito ‘Finalmente, considerem-se os exemplos de (81). (81) 4 Oca va comprar o caro da Mars ' O que o Jucevaicompen? ©. Oducavaleompraro gut? 4 Oque que o Sues val comprar? incansével dé redapfo, Essa hebilidade comega a ser desenvolvida na escola, e continua ser lapidada pelo resto da vida desses profissionais, Da mesma forma, qualquer um de n6s,falanes de portugués, tem o mesmo co~ ‘Assim, por exemplo, supomhamos: ceonsarsianse ia de finados, um amigo queperden o pai tecentementee que paroce também er perdido o gosto pela vida escrevao-neguinte bilhete: “Como smasht € dade andoe, ex queria peda voor ao cenit visiar omen ei Bu gor ae voce poten ns fresno tial dele equ ease, nfo por ee, mis po mim qu, por er tpardado a lembrana somente oe momenos de amargur, me sno to morte quinio ee” ‘Se esse amigo fosse, por ventura, Manuel Bandera, poderiamos receber um bihete em forma de poems, como 0 seguinte: (Manuel Bandra. Esa dvd intra Rio de Sei: ‘ea Olympiolinstino Nacional do Lio, 1970, p 1289) Qual 2 diferenga entre nosso amigo e Manuel Bandeira? Se pensartios em termos de competéncia, ou de conhecimento linguistico, como o ilustrado no item 2, podemos 118. tnodugte 6 Linguistica Chomsky, N. Language and Problems of Knowledge. The Managua Lectures. Cambridge, Mass.: wr, 1988. Dentre os livros e artigos de Chomsky sobre o programa de pesquisa da Gramitica erative e 08 principios que the servem de base, essa coletinea das conferéncias proferidas por ele em Managua 6, possivelmente, a obra de letura mais acessivel ‘Além de apresentar 03 fundamentos de sua teoria, Chomsky discute a natureza do tipo de conhecimento linguistico de que se ocupa a Gramatica Gerativa, por meio da andlise de dados como os que foram abordados aqui, nos itens 2.1 ¢2.3. ppenguntas erespostas que se seguiram As conferéncias. O conjunto dos textos fornece uuma visto geral das ideias de Chomsky sobre a lingua humana. Recomendamos, ‘de maneita especial, @ leitura do texto intitulado “Novos horizontes no estudo da Jinguagem”, que apresenta uma introdugdo as teorias sobre a faculdade da inguagem, ‘aquisigdo de lingua e sobre os prinefpios e pardmetros linguisticos. Macoewan, L. Lectures on Government and Binding. Cambridge, Mass.: Blackwell, 6, Te 10 relacionam-se & nossa segl0 2.4 Moro, C. M. C.; Fiaveieno-siiva; Loves. R. V. Manual de sintaxe. Florianépolis: Insu- far, 1999, sse manual apresenta a versio da Gramética Gerativa conhecida como Teoria de Regéncia e Ligago para alunos de graduagio, e pretende levé-los a refletir sobre ‘0s aspectos formais de uma teoria Linguistica, Dados semelhantes aos apresentados em nossa segio 2,1 so discutidos em seu capitulo IIl. Os capitulos V e VI estio particularmente relacionados aos dados apresentados e discutidos em nossas sepSes 2.3 € 24, respectivamente. ‘Neono, E. V; Anaphora in Brazilian Portuguese Complement Structure. Tese de Doutora- ‘mento, Madison, Universidade de Wisconsin, 1986 CO objetivo dessa tese € dar um tratamento sintético e semdntico as categorias vazias de complementagio, a medida que essas estruturas sfo um contexto particularmente interessante para o comportamento dos sintagmas nominais em geral, dos pronomes ‘edas categorias vazias em particular. Esse trabalho é especialment compreensio dos dados aqui tratados nas segBes 2.1 €2.3.Aleitura da parte teérica nil & ficil, mas a apresentago dos dados é bastante clara e funciona como uma ‘excelente ilustragio das questdes relevantes ‘Raroso, E, Teoria da grametica: a faculdade da linguagem. Lisboa: Editorial Caminh« Um livro escrito com o objetivo de introduzir a Teoria de Regéncia e Li ‘estudantes de graduagdo e ao piblico em geral esse manual tem, em seu cap uma boa apresentago das nogaes de competéncia e performance, discutidas em: sepdo 3, Seus capitulos 4, Se 14 relacionam-se aos fatos apresentados ediscutido: iscutid 8 Be 15. Apesar de nfo trata cament seplo 2.2., seus capitulos 9 ¢ 10 cobrem os méd ame da questo. segl0 2.3, aparece em seus capi dados como 0s apresentados a bastante dificil, mas seré imprescindivel para o leitor que se inteessar pelos fatos iscutidas na sego 24 regras. Um desses conjuntos de ica das sentengas podem ser caracterizadas como de qualquer estudo sintético mais aprofundado. ‘Warraxer-raancin, R. As construgBes ergativas: Um estudo sintitico e seméntico. Dis sertagio de Mestrado, Campinas, rst-Unicamp, 1989. ‘A dissertagdo de mestrado de Whitaker-Franchi 0 trabatho-chave paraacompreensio na sepo 2.2 deste capitulo. As construgdes, _geradas por varios verbos lé exemplificados sfo explicadas por principios gerais que ‘operam em diferentes planos de representago, nomeadamente um sintitico ¢ um. fntico. Sua proposta é a de que uma teoria de papéis temiéticos e uma teoria de pela riqueza dos dados. 8B tnrodusso Paradigrr (Saussure, 19 Para: em dois domi Na fib 0s graus de ¢ igoada pelo estudo e anise de senvolvida na escola, e continua am ou tém de criar poesia a partir desse conhe im, por exemplo, suponhamos que, com a aproximagao do ntemente e que parece também ter perdido o gosto pela vida se arnigo fosse, por ventura, Manuel Bandeira, poderiamos receber um bilhete va de poema, como 0 seguinte: 19, . 128) 2? Se pensarmos em termos » Podemos ppimento das regras que constituem esse conheciment ‘moderno que seja, causa qualquer desvio do tipo dos qu ‘Ao contririo, como sempre dizia Carlos Franchi (¢.p.), falantes tém de manipulagio de seu conheciment uma construcio como & feita por Drummond dec 80 intros & Lingusce dois pontos de vista, diacrénico e sincrOnico. Diacronicamente, o verbo “comer” vern do latim edere, cujo radical ¢ ed-. Como no presente do indicativo suas formas se confun- iam com o verbo esse, no latim vulgar da peninsula Ibérica 0 verbo edere passou a se realizar acompanhado do prefixo cum, que dé spanhia. Assim, cum edere passow 8 cumedere e, a partir dessa realizagho, a “ lingua portuguesa. Do ponto de vista discrénico, 0 com- de comer nfo é um radical, mas um prefixo. ‘Sincronicamente, amedida que se deve portugués de seu processo de mu- danas historicas, essa informagao a respeito da origem latina dessa palavra deixa de set pertinente, j& que no ponto de vista sinctOnico, os eles i meiona como um radical, como em “comilanga”, ‘em relaglo aos radicais dos demais verbos da mesma lingua, co: (04) langa mfo de uma metéfora para fazer a relagdo entre |comporta-se como o tronco de uma érvore em crescimento, de modo que um corte transversal em seu lenho revela uma relagdo sinct6nica entre o$ elementos que o compéem e um corte longitudinal revela um desenvolvimento diacrénico esses estados sincrOnicos. A pur da dicotomia sincronia e diacronia, Saussure determina ume distingo entre fatos sincrénicos e act dizer que os fatos sincr6r por exemplo, todo verbo indicativo, tem a forma “coméram: de segunda conjugario, 0 -ra é 0 morf modo indicativo e.0-mos 6 0 morfema de obos, por exemplo, tem com radical € 0-8 como morfema de niimero plural. ‘Trata-se de um fato geral, mas ndo imperativo, o que quer dizer que essa regulai- ade pode ser modificada em uma mudanga de lingua. Os substantivos do lati, a partir dos quais se originou boa parte dos substantivos do portugués, possuem em sua morfologia marcas de género, nimero e caso. Em latim, lobo é lupus, de modo que lupus tem gé- nero masculino, nimero singular ¢ caso nominativo, o que significa que lupus 6 a forma empregada para expressar 0 sueito da orapao em que essa palavra ocomre. Para a fungao de objeto direto, por exemplo, emprega-se a forma lupum. Ao passar para o portugués, 0 como morfema de género masculino portanio, os substantvos latinos conservaram as inarcas morfologeas de generoe nme. ‘To, mas vonservaram as de caso. Assim, na mudanga do latim para o portugués, essa regulzidade dos substantvos latinos é modificada para uma ouraregulardade dos subs. tantivos do portugués. A regularidade,sincrOnica ¢, portanto, geal, mas nfo é imperativa, Ji que pode ser modificada na diacronia. Alingve ome cio Os fats diserénicos sto imperatives, é-que se impdem & lingua. Contiauando com o exemplo dos substantivos em laim e em portugués, constatase a perda da marca ‘morfolégica de caso, Esse fto de lingua € um fato de mudanga linguistica que se refer a ‘una marea morfolégica que est presente em uma lingua mas nfo esté mais presente em outra do mesmo modo. Como as linguas também tm um carter sstematico, esse fat se ‘ealiza em todo o sistema, por iso ele ¢ imperativo. Nenhum substantivo do portugues tem caso ¢ todos os substantives latinos otém, pois, quando se dé a mudanca, ela realiza. seem todo o sistema, recobrindo tudo o que € classficado como substantivo nessas duas linguas. Assim, 0 fto diacrOnico é imperatvo. Nilo se deve pensar que Saussure acrescentou um ponto de vista sincrénico 4 outro ponto de vista jé existente, 0 diacrOnico, Saussure, a0 definir a lingua como sistema e 20 pensar a sincronia cotmo o estudo de um sistema num dado momento do ‘tempo, sbre camino para a redefinigto também do conceito de diacronia, que vai ser entendida como a suoessdo de diferentes sistemas ao longo do tempo. exemplo, que, em cada séeulo, haj do portugués do século xu, do portugués do século xrv, ete. A diacronia &, entio, ‘sucesso dessas sincronias A defiigao de um ponto de vista sincrdnico nfo estérestrita somente & proposta de uma metodologia de trabalho em Linguistica. A parti: dela, define-se um novo objeto de estidos que € lingua como um sistema. Os alcances dessa definislo, porém, sio mais ‘bem compreendlidos na dicotomia lingua e fala Lingua e Fala (Saussure, 1969:26-28) 1No item anterior, hé uma definigao importante que foi comentada muito rapida- ‘mente, Trata-se dx defnigdo da lingua como sistema. Ela é importante porque ¢ a partir dela que Saussure define um novo objeto deestudo para a Linguistic. Ela foi comentada Sumariamente porque o que interessava, eno, era discutir a8 orientagdessincrGnica ¢ dlinerdnica do estudo da ingua. As dicotomiassaussurianas, emborapossam ser estudadas uma de cada vez, 86 fazem sentido quando relacionadas urnas com as outs. ‘Na fibula de La Fontaine, hé um didlogo entre o Lobo e o Cordero. justamente pela argumentario do Cordeiro e pelas replicase acusagdes do Lobo que se demonstra © tema de que conta a forga nfo hé argumentos. Na fabula, a argumentagdo¢ init por- «que contra a forga nto ha argumentos e ndo porque o Lobo nio entenda os argumentos do Cordeiro. Suas réplicas mostram que ele entende o que o Cordeiro diz, jé que, para cada defesa do Cordeiro, o Lobo encontra uma acusagdo diferente, Assim, o que as duas personagens compartilham, ao dialogar, é@ mesma ling, embora cada uma delas tena ‘uma fala diferente, Se na dicot ronia e diacronia se estabelecem duas maneiras de estudar lingua, na dicoto e fala bi a definigio do conceito de lingua, Para Saussure, lingua opte-se ue a lingua é coletiva ca falaé particular, portanto, a lingua & ‘um dado social © a fala ¢ um dado individual. Além disso, a lingua 6 sistemética ea fala 118. nvodugte 8 Linguistica Cuonesry, N. Language and Problems of Knowledge. The Managua Lectures. Cambridge, Mass: arr, 1988, ‘Neorko, EV. Anaphora in Brazilian Portuguese Complement Structure. Tese de Doutora- ‘mento, Madison, Universidade de Wisconsin, 1986. semintico ds categorias vazias, >, explora amplamente as estruturas . Assim, no enunciado foj teu avi, no lugar de © sentido do enunciado fosse outro, os termos seu, meu, nosso, >. Esses elementos constituem um paradigma, do qual o falante seleciona um figurar no enunciado. Por outro lado, no sintagma nfo se combinam quaisquer ‘paradigma com lingua ¢ sintagma Soe Tanto um quanto our pertencem ao sistema, aque estabelecer os elementos que podem figurar num dado ponto da cadeia falada e est ‘obedecer & um padrio rigido de combinagao, A diferenga entre as relag6es sintagmiticas e as paradigméticas no que existe entre lingua e fala ( tanto as relag6es paradigmaticas quanto as sintagméticas ‘fo da fala, porque dizem respeito as relag6es entre os element dda lingua, Como a fala ¢ uma tealizarao do sistema linguistico, ccombinardo determinadas por esse sistema, (O segundo equivoco diz respeito ao estatuto dos elementos relacionados, Se signo for confundido com palavra, as relagdes paradigmiticas se do entre as palavras de uma lingua e as relagdes sintagmiticas slo as relagSes sintéticas dessa lingua. Contudo, cconfusio entre signo ¢ palavra nfo deve ser feita. Embora uma palavra seja um (que a lingua é forma e no substincia. Esse conjunto de diferencas estabelece os conceitos ‘um valor diferencia, pasando a distinguir signos diferentes: mala versus math; mana ‘erst mana. Em ceriasregites do pas, algumss palavras com /l/ perderam a palatalizao. Pronuncia-se muléem lugar de mulher, Nem, pot tinguistco,retoms-#e a0 estudo cexamiado na dicotomia significant ele € defnido, Significante e Significado (Saussure, 1969:79-93) ‘para designar essa coisa; por. isso, como uma nomenclatura, & ra é entendida como ‘uma relaggo entre palavras e coisas. Com a definigfo de signo, Saussure demonstra que a relapo nlo é este, entre préprio, pois, como.um reflexo das coisas do mundo, é entendida apenas como coleso de nomes. ‘No ponto de vista de Saussure isso nfo acontece. Antes de tudo, ao afirmar que a ‘com os outros e ndo a relagdo entre as palavras ¢ as coisas do mundo. 80 nro 6 Lngustce {ia cor verbo sen nn aga dn peta Tea 0 veto dere psu aso ania. Assim, cum edere passou lingua portuguesa. Do ponto de dos demais verbos da mesma lingua, co: langa mio de uma metéfora para fazer a relagto entre ‘Trata-se de um fato geral, mas nfo imperativo, o que qi ‘dade pode ser modificada em uma mudanea de lingua, Os sul dos quais se originou boa parte dos substentivos do portugués, Alingus come ej de estudos que € lingua como um sistem. Os alcarces dessa definisdo, porém, so mais + bemn cotnpteendidos na dicotorhia lingua e fala, Lingua e Fala (Saussure, 1969:26-28) sumariamente porque 0 que interessava, enti, era discutir a8 oriet diacrénica do estudo da lingua. As dicotomias saussurianas, embora possam ser estudadas 2,56 fazem sentido qundorelacionadas mas com as outras. de La Fontaine, hé um dislogo entre o Lobo e o Cordeiro. E justamente pela argumentarao do: Cordeiro e pelas réplicas e acusagdes do Lobo que se demonstra © tema de que contra a forga nfo hé argumentos. Na fabula, a argumentagio é imitil por- que contra a forga nfo hé argumentos e nfo porque o Lobo nfo entenda os argumentos do Cordeiro, Suas réplicas mostram que ele entende o que o Cordeiro uum dado social e a fala & um dado individual. Além disso, a lingua & sistemitica e a fala 76 inodusto 8 Linguistica ‘ou sent fo teu 8 - ‘iseeo Labo cariceio. Eo Cordeiro devoro, (Onde a endo existe, 0 gue parece, do mais forte prevalece. € a tartaruga, Os dois amigos € 0 urso ¢ rauits ‘tempo. Contadas por muitos poetase prosadores, “A cigarrae as formigas, por exemplo, tem unta as personaggns podem mudar. Numa verséo indiana do tema de que 0 ‘vencer uma corrda, quem perde a corrida & Garuda, o péssaro magico ‘Narradas hé muito tempo e em muitos Iu foram as linguas dessas narrativas. Na india antiga, foram contadas em. as contou em grego, Fe: sressar as demais ciéncias ‘Alingve cme objeto da Linguistica 77 leitura atenta do texto em francés mostra que essa Lingua apresenta varias ‘o portugués: vous e vds, vos € vossas, an & ano, raison e razdo, fort € entre francés e portugues for levada mais adiant,analisando aticamente ¢ considerando seus momento historicos, ¢ possivel iveram como origem comurn 0 latim, o que explica as semelhancas, lexicais¢ gramaticais entre elas. Esse modo de fazer Lingufstca, comparando as linguas na busca de semelhangas verifcando a historia de cada uma delas & procura de ori gens comuns, foi o método dominante da Linguistica do século xrx, 0 chammado método histrico-comparativo. ‘Um dos tebricos mais importantes dessa época¢, sem dtivida, Ferdinand de Saus- sure, que, além de contribuir para os avancos da Linguistica histérica e comparativa com importantes trabalhos nesse campo de pesquisa, definiu, no inicio do século xx, um novo ‘objeto de estudos para a Linguistica. Em seu Curso de Linguistica geral, ao tatar dessa questio da definigio de um objeto de estudos, ele afm: verifcar que ‘vts cidacias tabalam com objeto dads prevamente ¢ quest podem considera, ex spud, ‘nancirasde consider flo em questo se anterior ou superior ds outa. (Souseue, 19615) Quando Saussure comenta que a palavra nu corresponde to latin nudum, esti analisando a lingua em suas mudangas bistrica,j& que, a partir de uma semielhanga f0- nica entre nudum e nu da informagao histérica da antecedéncia do latim, ele estabelece uma relagdo entre elas. No entanto, quando analisa a palavra nu como som ou como & expressio de uma ideia, o ponto de vista histrico deixa de ser pertinente, Como som, ‘tornam-se pertinentes informag6es fontticas, e, como expressio de uma ide, toram-se pertinentes informap6es semfnticas. Assim, dependendo do enfoque com o qual se tata ‘um dado linguistico, temos um objeto de estudo diferente (© Curso de Linguistica geral teve sua primeira edigdo em 1916, tré anos depois dda morte de Saussure, em 1913. Ao contério do que se poderia imaginar, tratando-se de una das obras mais importantes da Linguistica, o volume ndo foi escrito por Saussure ‘Trata-se de uma edigfo elaborada a partir de anotagbes de aula de seus alunos. Saussure rminjstrou trés cursos na Universidade de Genebra. © primeiro data de 1907, o segundo, de 1908 e oterceiro, de 1910, Os editores do Curso de Linguistica geral foram Ch. Bally, A. Sechehaye e A. Riedlinger. ‘Embora nfo haje mengo ao termo dicotomias no texto do Curso, &assim que se ‘costuma chamar os quatro pares de conceitos, que fazem uma sintese das propostas de Saussure para a criaglo de um novo objeto tedrico para a Lingulstica. A pelavra dicoto- ‘mia deriva do grego dichotoma, que quer dizer “visto em partes iguais”, Nio se deve ‘pensar, no caso de uma dicotomia presente no texto saussuriano, que se trata de algo que é dividido em dois, deve-se pensar de outro modo. Uma dicotomia em Saussure diz respeito

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