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| Unoioe1 | A flosofa Nem oriental, nem milagre queol6gicos, linguisticos, literérios e artisticos corrigiram os exageros das duas teses, {sto 6, tanto a redugio da filosofia& sua origem oriental quanto o “milagre grego” Retirados os exageros do orientalismo, percebe-se que, de fato, a filosofia tem dividas com a sabedoria dos orientais, no s6 porque as viagens colocaram os gregos em contato com os conhecimentos produzidos por outros povos (sobretudo os egipcios, persas, babil6- nios, assirios e caldeus), mas também porque os dois maiores formadores da cultura grega antiga, os poetas Homero e Hesiodo, encontraram nos mitos e nas religides dos povos orien tals, bem como nas culturas que precederam a grega, os elementos para elaborar a mitologia agrega, que, depots, seria transformada racionalmente pelos fil6sofos. ‘Assim, estudos recentes mostraram que mitos, cultos religiosos, instrumentos musi- cais, danca, miisica, poesia, utensilios domésticos e de trabalho, formas de hablitagao, formas de parentesco e formas de organizacao tribal dos gregos foram resultado de contatos pro- fundos com as culturas mais avancadas do Oriente e com a heranga deixada pelas culturas ‘que antecederam a grega nas regides onde ela se implantou, $sses mesmios estudos apontaram, porém, que, se nos afastarmos dos exageros da ideta de ‘um ‘milagre grego’, podemos perceber 0 que havia de verdadeiro nessa tese, De fato, os pregos {mprimiram mudangas de qualidade to profundas no que receberam do Oriente e das culturas precedentes, que até pareceria terem criado sua prépria cultura a partir de sl mesmos. Dessas ‘mudaneas, podemos mencionar quatro que nos dardo uma idela da originalidade grega: D esde o final do século XIX da nossa era e durante o século XX, estudos hist6ricos, ar- 4. Com eagio aos mitos: quando comparamos os mits orentals,cretenses, micnicos, minolcose os que aparecem nos poetas Homero eHesfodo, vemos que eles retiraram os Zspectosapavorantes e monstruoses dos deusese do inicio do mundo; humanizaram or deuses divnizaram os homens; deram racionalidade a narrativa sobre as origens das coisas. dos homens das institulgoes hurnanas (como trabalho ses, a moral 2. Com relagio aos conhecimentos: os gregos transformaram em ciéncia (isto é, num conhe- cimento racional, abstrato e universal) aquilo que eram elementos de uma sabedoria esiodo (culo vil 3¢) 42 PEEP eeee eee eee eee rece eee eee eee eee eee eee eee eee eee eee ee eee politica: palawra que ‘rem de pat. que-er ‘rego.sigifica ‘cidade ‘Stganizada porleise institulses" mito: palavra mito ver do grego,mythos.e deriva de dale verbos:mytheyo (eontar,"narar, fiat aiguma colsa pare alguém’)emytheo (onversae"cortar, signar') 43 Onascimentodatilosofla | Cavnuwo2 | pritica para o uso direto da vida, Assim, transformaram em matemitica (aritmética, geometria, harmonia) o que eram expedientes praticos para medir, contar e calcular; transformaram em astronomia (conhecimento racional da natureza e do movimento dos astros) aquilo que eram praticas de adivinhagao e previsio do futuro; transforma~ ram em medicina (conhecimento racional sobre o corpo humano, a satide e a doenga) aquilo que eram praticas de grupos religiosos secretos para a cura misteriosa das doen- as, Bassim por diante; 3: Com relacéo a organizacao social e politica: os gregos nao inventaram apenas a ciéncia ua filosofia, mas inventaram também a politica. Todas as socledades anteriores a eles conheciam e praticavam a autoridade e o governo, Mas por que nao inventaram a po- Iitica propriamente dita? Porque nao separaram o poder politico e duas outras formas ‘radicionais de autoridade: a do chefe de familia ea do sacerdote ou mago, De fato, nas sociedades orientais e nio gregas, 0 poder e o governo eram exercidos como autoridade absoluta da vontade pessoal e arbitréria de um sé homem (0 chefe) ou de ‘um pequeno grupo de homens (os chefes), que possufam o poder militar, teligioso € econ- ‘ico e decidiam sobre tudo, sem consultar nem justificar suas decisbes a ninguém. Os gregos inventaram a politica porque separaram o poder piiblico e o poder pr: ‘vado, assim como distinguiram o poder puiblico e o religioso, Em outras palavras, por- que instituiram priticas pelas quais as decisGes eram tomadas com base em discussdes, @ debates puiblicos e eram adotadas ou revogadas por voto em assembleias piblicas; porque estabeleceram instituicoes publicas (tribunais, assemblelas, separagao entre autoridade do chefe da familia e autoridade publica, entre autoridade politico-militar ¢ autoridade religiosa) e sobretudo porque criaram a ideia da lei e da justiga como ex- pressdes da vontade coletiva puiblica e nao como imposicdo da vontade de um s6 ou de ‘um grupo, em nome de divindades; Com relagio ao pensamento: diante da heranga recebida, os gregos inventaram a ideia ocidental da razio como um pensamento sistemitico que segue necessariamente re- gas, normas ¢ leis universais, isto 6, as mesmas em todos os tempos e lugares, como vyimos ao examinar 0 legado da filosofia. Mito e filosofia ocupado muito os estudiosos. O novo problema pode ser assim formulado: a filosofia nnasceu realizando uma transformacio gradual nos mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos? (© que é um mito? {Um mitoé uma narrativa sobre aorigem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, ds plantas, dos animais, do fogo, da gua, dos ventos, do bem e do mal, da saide eda doenga, da morte, dos instrumentos de trabalho, das rags, as guerras, do poder etc) Para 0s gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que rece bem a narrativa como verdadeira porque conflam naquele que narra; é uma narrativa feita ‘em puibico, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. Bessa autoridade vem do fato de que o narrador ou testemunhou diretamente o que esté narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados ‘Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita- -se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentas passados ¢ permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmi- tila aos ouvintes. Sua palavra — o mito — é sagrada porque vem de uma revelagio divina. O mito 6 pois, incontestavel e inquestionavel. Re= © problema da origem da filosofia, agora temos um outro que também tem. [ Uumised | A filosofia Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? De tres maneiras principais; 4. Encontrando o pai e a mae das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de relagdes sexuais entre forcas divinas pessoals. Fssas relagdes geram os demais deuses: (8 titis (eres semi-humanos e semidivinos), os hersis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano),os humanos, os metas, as plantas, os ani- mais, as qualidades (como quente frio, seco e timido, claro e escuro, bem e mal, justo e injusto, belo e feio, certo e errado etc), Anarracio da origem 6, assim, uma genealogia, isto é, uma narrativa da geracao dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que sao seus pais ou antepassados. ‘Tomemos um exemplo da narrativa mitica. Observando que as pessoas apaixonadas esto sempre cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar ‘coma pessoa amada ou para secuzi-la e também serem amadas, o mito narra origem do amor, isto & o nascimento do deus Eros (que conhecemos mais com 0 nome de Cupido): Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa Peniiria, sempre miseravel e faminta. Quando a festa acabou, Pentiria apareceu, comeu ‘os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso}. Dessa relagdo sexual nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mie, esté sempre faminto, sedento e miserével, mas, ‘como seu pai, tem mil astticias para se satisfazer e se fazer amado, Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, ese alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento «de amor, inventa asticias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e desani- mado, ora rico e cheio de vida. 2. Encontrando uma rivalidade ou uma alianca entre os deuses que fazem surgir alguma coisa no mundo, Nesse caso, 0 mito narra ou uma guerra entre as forgas divinas ou uma alianga entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens, 0 poeta Homero, na iliada, que narra a guerra de Troia, explica por que, em certas, batalhas, os troianos eram vitoriosos ¢, em outras, a vitdria cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. A cada ver, 0 rel dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um dos ados — ou 0s troianos ou os gregos — vencer uma batalha. ‘A causa da guerra, ali, foi uma rivalidade entre as deusas. Flas apareceram em so- nnho para o principe troiano Paris, oferecendo a ele seus dons, ¢ ele escolheu a deusa do amor, Afrodite, As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu inicio a guerra entre os humanos. Greve de metal sicos no ABC, regito Industelal da Grande Sto Paulo, em 1979. Umaassembleia de trabalhadores emgreve eo que melhor se aproxima da politica exereida pelos cidadaos atenienses, ‘cosmogonias2 pala santa serigna do greg: do verbo gennao engen- fran gerar fazer maser ecrescer) edo substan ‘evo genos nascent”, "gprs descendénc igeneo’especle). Con, portant, quer dizer gera (0 "hascmento a partir Gaconcepraosexuale do part" cosmos. como js ‘imax, quer dizer mundo ‘rdenadoeorganizado” Assim, acosmogonia a narrative sabre onas ‘mento e3 organizacao ddomundo a partir de orcas geradoras (pale mae) dvinas, ‘teogonia:teagonioé ums palava composta fda gonize theo queer rego significa "as clas fivinas os sere dvinos”, "os devses” 8 teogonia portanta a narativa da ‘tiem dos proprios Geuses a patirde seus pulse antepassados, 45 Onascimentadafilosofia | Cwmuo2 | Encontrando as recompensas ou castigos que 0s deuses do a quem thes desobedece ou a quem Ihes obedece. Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens? Para os homens, © fogo é essencial, pois com ele se diferenciam dos animais, porque tanto passam a coz: nnhar os alimentos, iluminar caminhos na noite, a se aquecer no inverno, como podem fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra, Mas 0 fogo era posstuido apenas pelos deuses Um titi, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma cen- telha do fogo divino e a trouxe de presente para os humanos, Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu figa- do) €0s homens também. Qual foi o castigo dos homens? (Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas que nunca deveria ser aberta, Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa, Dela sairam todas as desgracas, doencas, pestes, guerras e, sobretudo, a morte Explica-se, assim, a origem dos males no mundo, ‘Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas,aliancas ere ages sextais entre forcas sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. ‘Visto que os mitos sobre @origem do mundo sio genealogias, diz-se que sio cosmogonias e teogontas “Ao surgi, a filosofia nao é uma cosmogonia e sim, como jé dissemos, uma cosmologia, cou seja, uma explicagao racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transfor- magdes e repetigées das coisas. A pergunta que os estudiosos fazem. entao, é a seguinte: a cosmologia nasce de uma transformacao gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com (0s mitos? A filosofia continua ou rompe com a cosmogonia ea teogonia? ‘Duas foram as respostas, ‘Apprimeira delas fol dada nos fins do século XIX e comego do século XX, quando reinava ‘um grande otimismo com relagao aos poderes cientificos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, entao, que a filosofia teria nascido por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicacao cientifica da realidade produzida pelo Ocidente, ‘A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos antropéloges e dos historiadores mostraram a importancia dos mitos na organizacio social ce cultural das sociedades e como os mitos estao profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, dos préprios mits, como uma racionalizagao deles ‘Atualmente, consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que a filosofia, per- cebendo as contradigées e limitagdes dos mitos, foi reformulando e racionalizando as nar- rativas miticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicagao inteiramente nova € diferente. Quais sao as diferengas entre filosofia e mito? Podemos apontar trés como as mais im- portantes: 1. Omito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, lon- .ginquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A filosofia, ao contrério, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente ¢ no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas so como sto; © mito narrava a origem por meio de genealogias e rivalidades ou aliangas entre for- ‘as divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia, ao contrério, explica a produ¢ao natural das coisas por elementos naturais primordiais (esses elementos sao: gua ou timido, fogo ou quente, ar ou frio, e terra ou seco) por meio de causas naturals e€ impessoais (agdes e movimentos de combinacio, composigao e separagdo entre os quatro elementos primordiais). Assim, por exemplo, o mito falava nos deuses Urano, | Uwoise1 | A fllosona Ponto e Gaia; a filosofia fala em céu, mare terra. O mito narrava a origem dos seres ce- lestes (0s astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A filosofia explica o surgimento do céu, do mare da terrae dos seres que neles vive explicando os movimentos e ages de composicao, combinacaoe separagao dos quatro elementos — timido, seco, quente efrio, 3. O mito nio se importava com contradigdes, com o fabuloso e 0 incompreensivel, nao 6 porque esses eram tracos proprios da narrativa mitica, como também porque a con- fianga e a crenca no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A filosofia, ao contrério, ndo admite contradigoes, fabulagao e coisas incompreensfveis, mas exige que «a explicacao seja coerente, logica e racional; além disso, a autoridade da explicacio no vvem da pessoa do fil6sofo, mas da razdo, que €a mesma em todos os seres humanos. Condiges histéricas para o surgimento da filosofia tornou possfvel o surgimento da filosofia na Grécia no final do século VII e no inicio do século Vi a.C? Quais as condicdes materials, isto é, econdmicas, sociais, politicas e histéricas que permitiram o surgimento da filosofia? Podemos apontar como principais condicdes histéricas para o surgimento da filosofia nna Grécia E sclarecida a relagio entre filosofia e mito, temos ainda duas questdes a elucidar: 0 que o-} as viagens maritimas, que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, tits e heréis eram, na verdade, habitados por outros seres, humanos; e que as regides dos mares que os mitos diziam habitados por monstros seres fabulosos nao possuiam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produ- ziram 0 desencantamento ou a desmitificago do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicagio sobre sua origem, explicagao que o mito ja nao podia oferecer; s-} ainvencao do calendério, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estagdes do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma ca- pacidade de abstragio nova ou uma percep¢ao do tempo como algo natural enocomo ‘uma forga divina incompreensivel; } a invengdo da moeda, que permitiu uma forma de troca que nao se realiza como escam- bo ou em espécie (isto 6, coisas trocadas por outras coisas) e sim uma troca abstrata, ‘uma troca feita pelo célculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, por- tanto, uma nova capacidade de abstracao e de generalizacao; “} osurgimento da vida urbana, com predominio do comércio e do artesanato, dando de- senivolvimento a técnicas de fabricacao ede troca,e diminuindo o prestigio das familias da aristocracia proprietarias de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder ede prestfgio para suplantaro velho poderio da aristocracia de terrase de sangue (as linhagens constituidas pelas familias), fez com que essa nova classe social procurasse 0 prestigio pelo patrocinio e estimulo as artes, as técnicas e aos conheci- mentos, favorecendo um ambiente onde a filosofia poderia surgir } ainvengdo da escrita alfabética, que, como a do calendério ea da moeda, revela o cresci- ‘mento da capacidade de abstragao e de generalizacao, uma vez que a escrita alfabética ou foneética, diferentemente de outras escritas — como, por exernplo, os hierSglifos dos egipcios ou os ideogramas dos chineses —, supde que nao se represente uma imagem, da coisa que est sendo dita, e sim se ofereca um sinal ou signo abstrato (uma palavra) dela. Além disso, enquanto nas outras escritas, para cada sinal corresponde uma coisa ‘ou uma ideia, na escrita alfabética ou fonética as letras so independentes e podem ser combinadas de formas variadas em palavras e estas podem ser distributdas de formas 4 ee te cater gic aed se fue os sinals ou 0s slgnos Sao 3 coisas sssnaladas teque neles se encarnam {orga dvnase demeonia CGndemaneia que quem "nai tem pode sob 35 cosas e sobre os utr, Ruinas da égora ‘rege, na Acropole, fem Atenas, 47 Onascimente dafilosofia | Cento? | varladas para exprimir Idelas. Ou seja, nas outras escritas, o signo representa @ coisa assinalada, enquanto na escrita alfabética a palavra designa uma coisa ¢ exprime uma idela, Nas outras escritas, hd a tendéncia a sacralizar os sinais ou os signos, ou aIhes dar ‘um cardter magico, enquanto a escrita alfabética ¢ inteiramente leiga, abstrata, racional ce usada por todos, a invengio da politica, que introduz.trés aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia ‘Aideia da lei como expressio da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definira suas relagdes internas. 0 aspecto legislado e regulado da cidade — da pélis — servird de modelo para a filo sofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como um mundo, racional, 2. Osurgimento de um espago pliblico, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou, de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um poeta-viden- te, que recebia das deusas ligadas a memeria (a deusa Mnemosyne, mae das Musas ‘que guiavam o poeta) uma iluminagao misteriosa ou uma revelacio sobrenatural, dizia aos homens quais eram as decisOes dos deuses a quem eles deveriam obede- cer. Agora, com a pdlis, isto 6, a cidade politica, surge a palavra como direito de cada cidadio de emitir em puiblico sua opiniao, discuti-la com os outros, persuadi-los @ ‘tomar uma decisao proposta por ele, de tal modo que surge o discurso politico como palavra humana compartilhada, como didlogo, discussao e deliberacio humana, isto 6, como decisio racional e exposi¢do dos motives ou das razdes para fazer ou nd0 fazer alguma coisa. A politica, ao valorizar 0 humano, o pensamento, a discussio, a persuasio e a decisio racional, valorizou o pensamento racional e criou condicoes para que surgisse o discurso ou a palavra filosofica, 3. Apoliticaestimula um pensamento e um discurso que nao procuram ser formula- dos por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, a0 contrario, ser puiblicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A ideia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que todos podem ‘comunicare transmitir,é fundamental para a filosofla,

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