Professional Documents
Culture Documents
JUVENTUDE CIBORGUE
1
O Youtube1, desde sua criação em 2005, é o maior site de armazenamento e
compartilhamento de vídeos da web. Desenvolvido nos moldes culturais da web 2.02, o
Youtube, além de ter se tornado um ícone da cultura colaborativa na web, chama a atenção
pela facilidade desburocratizada que os/as usuários/as do site têm para hospedar e divulgar
seus vídeos. De acordo com Burgess & Green (2009), o Youtube foi fundado em junho de
2005, com a pretensão de ser um repositório de vídeos. Segundo os autores, ele foi comprado
pelo Google em outubro de 2006 e em pouco tempo evoluiu para um espaço onde os/as
usuários/as “se transmitem”3. A integração do Youtube com redes sociais, blogs e outros sites
que aderiram à cultura da web 2.0 tornou-o uma ferramenta ainda mais popular. Para o
Youtube, “a cultura participativa não é somente um artifício ou um adereço secundário, é seu
principal negócio” (BURGESS & GREEN, 2009, p.23).
Grande parte do sucesso do Youtube vem da exibição de vídeos produzidos para
fins de entretenimento e lazer, que são assistidos predominantemente pelo público jovem, que
assistem mais tempo de vídeos no Youtube que outras faixas etárias. De acordo com a
pesquisa realizada pela Comscore (2013), jovens brasileiros/as de 15 a 24 anos correspondem
a 18% dos/as usuários/as da internet e utilizam 22,3% do tempo total de conexão com a web,
quando comparados ao tempo de conexão de outras faixas etárias. Com relação à audiência
global no Youtube, jovens de 15 a 24 anos são responsáveis por 28% do tempo consumido
assistindo vídeos no site, que representa quase um terço do tempo total de visualização
(COMSCORE, 2013). Portanto, é possível perceber que os/as jovens representam uma parcela
importante dos/as usuários/as da internet e do Youtube.
Hoje a presença do Youtube e outras ferramentas da web 2.0, como as redes
sociais digitais, em programas televisivos, no rádio, em revistas e jornais impressos e no dia-
a-dia das pessoas não pode mais ser ignorada e sua participação na cultura, no comportamento
e nas ações dos indivíduos torna-se cada dia mais perceptível. Essa participação também
adentra o espaço escolar à medida que os/as jovens estudantes inserem a web 2.0 em sua
rotina diária.
Atualmente educadores/as, instituições de ensino e de divulgação do
conhecimento estão investindo tempo e recursos financeiros na produção e divulgação de
1
Disponível em: <www.youtube.com> Acesso em: 12 de Abril de 2015.
2
Web 2.0 foi o nome dado à web após a mudança cultural e social que alterou a forma de se utilizar a rede
mundial de computadores. Na web 2.0 os/as usuários/as podem ser, além de espectadores/as ativos,
produtores/as de conteúdo.
3
Tradução livre da expressão “Broadcast yourself” utilizada como slogan pelo Youtube.
2
vídeos de caráter educacional no Youtube. Tal fato ocorre a partir do momento que iniciativas
pioneiras como a da Khan Academy4 atingem grande repercussão e inspiram outros/as
educadores/as a divulgarem e popularizarem o conhecimento no Youtube. A Khan Academy é
uma organização sem fins lucrativos criada pelo norte americano Salman Khan em 2008. A
história da Khan Academy começou em 2004 quando Salman começou a gravar vídeos para
ajudar uma prima que tinha dificuldade para aprender matemática (TEMPLE, 2009). Em 2005
decide hospedar os seus vídeos no Youtube (TEMPLE, 2009). Hoje a Khan Academy se
mantém por meio de doações de pessoas, empresas e fundações que apoiam a educação5.
Existem também muitos canais6 brasileiros no Youtube que são dedicados à
divulgação e produção de vídeos de caráter educacional. Como exemplo podemos citar os
canais ‘O Kuadro’7, ‘Ponto Ciência’8 e ‘Me Salva!’9, que possuem centenas ou milhares de
acessos a cada vídeo postado. Atualmente existem dezenas de milhares de vídeos em
português que tratam de temas relacionados aos conteúdos curriculares no Youtube,
totalizando milhões de visualizações (YOUTUBE, 2015). O Youtube, motivado por este
grande número de vídeos produzidos por professores/as brasileiros/as, lançou em 2013 o
compilado de canais intitulado ‘Youtube Educação’10. Este espaço conta com mais de 12.000
vídeos de professores/as brasileiros/as, devidamente selecionados e organizados, sobre
diversos conteúdos curriculares (AGRELA, 2013). Tais investimentos na divulgação e
produção de vídeos de caráter educativo no Youtube mostram a importância dada ao potencial
educacional desta ferramenta na atualidade.
Os resultados de pesquisa aqui apresentados confirmam que as mudanças culturais
produzidas pelos vídeos online alteraram a relação que a juventude ciborgue tem com o
conhecimento. Foi possível observar que os vídeos auxiliam nos estudos dos conteúdos
curriculares, pois possuem elementos comuns às características culturais da juventude
ciborgue. Os resultados também indicaram que há a necessidade do/a professor/a para orientar
os estudos daqueles/as que, mesmo assistindo aos vídeos, não conseguem compreender
plenamente o conteúdo. Concluímos, portanto, que os vídeos online, se inseridos na cultura
escolar, podem auxiliar alunos/as e professores/as no percurso educacional.
4
Disponível em: <www.youtube.com/user/KhanAcademyPortugues> Acesso em: 12 de Abril de 2015.
5
Informações disponíveis em <https://pt.khanacademy.org/> Acesso em: 12 de Abril de 2015.
6
Canais são páginas onde usuários/as ou organizações divulgam todos os vídeos de sua autoria. É possível para
um/a mesmo/a usuário/a ter mais de um canal, que geralmente vão apresentar temáticas diferentes.
7
Disponível em: <https://www.youtube.com/user/okuadro> Acesso em: 12 de Abril de 2015.
8
Disponível em: <https://www.youtube.com/user/pontociencia> Acesso em: 12 de Abril de 2015.
9
Disponível em: <https://www.youtube.com/user/migandorffy> Acesso em: 12 de Abril de 2015.
10
Disponível em: <https://www.youtube.com/educacao> Acesso em: 12 de Abril de 2015.
3
Para alcançar tais resultados ao investigar as relações entre os elementos culturais
que caracterizam a juventude ciborgue e a utilização do Youtube por este grupo para estudar
os conteúdos curriculares, a metodologia de investigação utilizada nesta pesquisa foi a
netnografia, que é derivada da etnografia11, mas que é utilizada em pesquisas aplicadas ao
“universo ciberespacial para a análise da cibercultura” (SALES, 2012, p. 116).
A fim de delimitar material a ser analisado do amplo universo dos vídeos
educacionais disponíveis no Youtube, foram investigados apenas canais que tratam
especificamente de conteúdos curriculares. De acordo com Pedra (1993), os conteúdos
curriculares são conhecimentos que atravessam e constituem parte de uma ou mais disciplinas
escolares. Eles compreendem um conjunto de conhecimentos que os/as alunos/as estudam no
percurso escolar, independente da disciplina que majoritariamente o aborda no currículo
escolar (PEDRA, 1993).
A partir do compilado de canais Youtube Educação, foram selecionados dois
canais com destaque dentro da plataforma gerenciada pelo Youtube: ‘Khan Academy em
Português’ e ‘Me Salva!’. A partir de ferramentas de busca e classificação do próprio site, em
cada canal foram selecionados, dentro da categoria ‘vídeos mais populares’, que são aqueles
com maior número de visualizações, os quatro vídeos mais assistidos de cada canal. Em cada
vídeo foram arquivados em forma de texto e imagem, dentro da categoria ‘principais
comentários’, cerca de 10% dos comentários dos/as usuários/as. Os comentários foram
organizados e classificados de forma a possibilitar uma análise crítica dos mesmos, como
apresentados nas próximas seções.
11
A etnografia pode ser definida como a construção de uma narrativa sobre uma cultura (SALES, 2012).
12
As inscrições são vínculos criados entre os/as usuários/as do Youtube e os canais, de forma que os/as
usuários/as passam a receber notificações sobre as principais atualizações e postagens dos canais em que se
inscreveram.
4
‘Me Salva!’ foi criado em 13 de Setembro de 2010 e no dia 12 de Março de 2015 ele
contabilizava 374.103 usuários/as inscritos/as, 1.073 vídeos publicados e 35.664.648
visualizações, que correspondem a uma média de aproximadamente 33 mil visualizações por
vídeo publicado. A relevância de tais canais pode ser percebida pelo número de acessos e de
inscrições, indicando que a audiência de vídeos que abordam os conteúdos curriculares não
pode ser ignorada.
Ao analisar individualmente os vídeos investigados na pesquisa, podemos
identificar na tabela 1 o número de visualizações, comentários e avaliações dos/as usuários/as
para cada vídeo. Inicialmente é possível observar que o número de avaliações positivas, para
todos os vídeos analisados, supera o número de avaliações negativas. Em termos numéricos,
ao calcularmos a porcentagem de usuários/as que ‘não gostaram’ em função dos que
‘gostaram’, o vídeo com menor reprovação foi ‘Me Salva! MDS06 - Multiplicação de
matrizes passo a passo!’, com 0,6%, e o vídeo com maior reprovação foi ‘Química -
Balanceando Equações Químicas (Khan Academy)’, com 3,0% de reprovação. Tais resultados
indicam que a aprovação dos/as usuários/as é muito maior que a reprovação, sugerindo que a
utilização e a aprovação dos vídeos do Youtube para estudar os conteúdos curriculares é uma
marca cultural da juventude contemporânea, um elemento que faz parte dos múltiplos modos
de ser jovem.
5
TÍTULO DO VÍDEO CANAL VISUALIZAÇÕES COMENTÁRIOS
Me Salva! Enem- As
questões de matemática que MS 464.481 5.253 113 666
você deve saber
Biologia - Anatomia de um
KA 446.612 3.316 22 972
neurônio (khan Academy)
Me Salva! MDS06 -
Multiplicação de matrizes MS 330.090 6.575 40 301
passo a passo!
Me Salva! Álgebra Linear -
Escalonamento de matrizes
MS 285.774 4.523 45 295
para solucionar um sistema
linear
Me Salva! Integração por
MS 243.196 1.903 24 165
Substituição udu
Química - Balanceando
Equações Químicas (Khan KA 170.681 1.492 45 284
Academy)
Biologia - Estrutura Celular
KA 140.161 1.178 21 171
(Khan Academy)
Biologia - Introdução à
seleção natural (Khan KA 131.742 1.412 13 325
Academy)
Figura 1: Comentários de gratidão, alívio e contentamento extraídos dos vídeos investigados. Fonte:
Youtube. <https://www.youtube.com/> Acessos entre 07 de Dezembro de 2014 e 12 de Março de
2015.
7
seu processo de aprendizagem, indicando a ciborguização do processo educacional. Tais
indícios de ciborguização são reforçados quando observamos afirmações como “agr e bom
estudar” (agora é bom estudar), “aprendi o que eu nunca iria aprender” e “Me fez entender a
matéria realmente”. Essas afirmações sugerem que somente com o suporte das videoaulas do
Youtube os/as jovens ciborgues que teceram os comentários acima foram capazes de
compreender o conteúdo curricular abordado pelo vídeo online, que é um dos elementos que
caracterizam a juventude ciborgue.
Analisando o fenômeno observado na figura 1, é possível refletir sobre o processo
de ciborguização da juventude contemporânea. Para este grupo, que já nasceu imerso nas
tecnologias digitais, as fronteiras entre o humano e o digital são ainda mais tênues. Por isso
ela pode ser considerada um ícone nesse processo de ciborguização, ou seja, neste processo de
fusão com o digital, com o tecnológico (HARAWAY, 2000). É ela que interage
crescentemente com as tecnologias e, nessa mistura, “se produz, orienta seu comportamento,
conduz a própria existência” (SALES, 2010, p.37). Portanto, a juventude está a cada dia mais
ciborguizada, pois, “ao se vincularem às tecnologias, as/os jovens se constituem como
híbridos tecnoculturais” (SALES, 2010, p. 37). Sales (2010) também afirma que “a juventude
ciborgue opera o próprio pensamento e conduz as suas ações constituindo uma certa simbiose
com as tecnologias” (p. 37). Neste contexto existem muitas possibilidades de orientação da
vida, em que o uso das tecnologias age sobre as ações da juventude ciborgue, interferindo na
maneira como este grupo atua sobre os espaços que frequenta, como o ciberespaço e a escola.
E a atuação da juventude não se resume apenas em absorver passivamente tudo o
que chega a ela por meio do Youtube. A partir dos dados da tabela 1, que nos mostram que até
3,0% dos/as usuários/as ‘não gostaram’ dos vídeos pesquisados, foram localizados e
agrupados, na figura 2, comentários com críticas aos vídeos que compõe o corpus da
pesquisa. Tais críticas evidenciam que não há unanimidade na opinião dos/as usuários/as
quanto aos vídeos analisados.
8
Figura 2: Comentários críticos extraídos dos vídeos investigados. Fonte: Youtube.
<https://www.youtube.com/> Acessos entre 07 de Dezembro de 2014 e 12 de Março de 2015.
Ao ler comentários como “entendi nada”, “Vc complica bastante”, “sua voz me dá
agonia” e “isso irrita muito” e compará-los aos comentários da Figura 1, somos levados a
refletir sobre a multiplicidade do ‘ser jovem’, inclusive no que se refere aos processos de
aprendizagem. Silva & Silva (2012) e Sposito (1994) afirmam que ser jovem não significa
viver experiências de maneira uniforme, uma vez que o cotidiano está marcado pelas
condições sociais, econômicas e culturais, tornando as vivências dos/as jovens bastante
heterogêneas, permeadas por diferentes culturas juvenis. Neste contexto, a diversidade das
culturas juvenis têm demonstrado, de forma bem marcante, o quanto é equivocada a visão
homogeneizadora da juventude, uma vez que esta categoria, desde o século XX, passou a ser
percebida em sua pluralidade (SILVA & SILVA, 2012). Analisando sob esta ótica as críticas
aos vídeos investigados, é possível inferir que as diferentes vivências juvenis produzem
nos/as jovens, diferentes efeitos sobre o uso do Youtube no percurso educacional, sugerindo
que nem todos/as irão se apropriar da mesma maneira deste processo de aprendizagem
ciborgue.
9
Nogueira e Padilha (2014) ampliam a discussão acerca das tecnologias digitais na
escola ao afirmarem que tais tecnologias já fazem parte da vida dos/as jovens. Assim, as
tecnologias não podem ser vistas como concorrentes dos métodos de ensino tradicionais, mas
compreendidas como as “novas demandas da Cultura Digital da qual os jovens estão
incluídos" (NOGUEIRA & PADILHA, 2014, p. 73). E o Youtube, de acordo com os dados da
pesquisa, já faz parte deste processo de ciborguização juvenil. Uma vez que tais elementos da
cultura juvenil façam parte da cultura escolar, os conteúdos curriculares podem fazer mais
sentido para os/as jovens ciborgues, como discutiremos a seguir.
13
Anime é o nome das séries de animação japonesas, muito populares em todo o mundo. Nestas animações os/as
personagens possuem olhos maiores e cabelos exóticos, com cores incomuns e vibrantes.
10
Figura 3: Comentários do vídeo “Biologia - Anatomia de um neurônio (khan Academy)”. Fonte:
Youtube. <https://www.youtube.com/> Acesso em 12 de Março de 2015.
11
de massas, homogeneizante, com tempos e espaços rígidos, numa lógica disciplinadora, em
um contexto em que a juventude é dinâmica, marcada pela flexibilidade e fluidez, de
individualização crescente e de identidades plurais. Parece-nos que os/as jovens alunos/as, nas
formas em que vivem a experiência escolar, estão dizendo que não querem tanto ser
tratados/as como iguais, mas, sim, reconhecidos/as como jovens, na sua diversidade, em um
momento privilegiado de construção de identidades, de projetos de vida, de experimentação e
aprendizagem da autonomia (DAYRELL, 2007). Ainda segundo o autor, se a escola se afasta
da cultura juvenil, mais ela fica sem sentido para os/as jovens. O resultado da pesquisa mostra
que a compreensão sobre a anatomia de um neurônio fez mais sentido para os/as jovens
quando a voz de um personagem que permeia a cultura juvenil foi utilizada na videoaula. Isso
demonstra a possibilidade de produção de sentidos para um conteúdo curricular por meio da
inserção de elementos da cultura juvenil no processo de ensino-aprendizagem desse conteúdo.
APRENDIZAGEM CIBORGUE
Além do conteúdo curricular fazer sentido para os/as jovens nas videoaulas do
Youtube, as aulas online ainda podem produzir uma fusão entre a cultura escolar e a
cibercultura, que é uma marca cultural da juventude ciborgue. Para chegarmos a esta
conclusão é importante estarmos atentos a um elemento comum também observado nos
comentários que acompanham os vídeos, que é o significativo número de perguntas e
solicitações de maiores esclarecimentos, referentes aos conteúdos curriculares abordados nas
videoaulas. Em todos os vídeos investigados os/as usuários/as fazem perguntas ou expressam
dúvidas quanto ao conteúdo. Parte das dúvidas pode estar associada a conhecimentos que
os/as jovens ainda não construíram e os vídeos não abordem. Tal fenômeno, que ocorre no
Youtube, está em aberto para futuras investigações em educação.
Na conversa observada na figura 4, usuários/as interagem nos comentários do
vídeo “Me Salva! Integração por Substituição udu”. Nesta interação fica clara a necessidade
do/a usuário/a 1 por maiores esclarecimentos para a compreensão do conteúdo curricular
abordado no vídeo. Após o/a usuário/a 2 responder à pergunta, o/a usuário/a 1 agradece e
informa que o seu professor já havia lhe esclarecido a dúvida.
12
Figura 4: Comentários do vídeo “Me Salva! Integração por Substituição udu”. Fonte: Youtube.
<https://www.youtube.com/> Acesso em 07 de Dezembro de 2014.
Esta conversa permite a reflexão sobre um fenômeno que permeia as salas de aula
da atualidade: os/as alunos/as demandam orientação e conhecimentos que vão além dos
vídeos para os compreenderem completamente e, em alguns casos, eles/as levam as suas
dúvidas sobre os conteúdos curriculares abordados nos vídeos para a sala de aula. Na figura 4
é possível perceber que o professor do/a usuário/a 1 esclareceu a dúvida a respeito do
conteúdo abordado pelo vídeo, promovendo a aprendizagem do aluno. Tal situação pode
oferecer a professores/as, a partir das videoaulas assistidas pelos/as jovens, novas formas de
interação e aproximação com a construção cognitiva do/a aluno/a no processo de ensino-
aprendizagem.
Além disso, tal fenômeno indica um processo de hibridização entre a cultura
escolar e a cibercultura, processo que é desencadeado no contato entre os/as professores/as e a
juventude ciborgue. A cultura escolar, que é entendida como “um conjunto de normas que
definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar”, além de “práticas que permitem a
transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos” (JULIA, 2001,
p. 10), sofre a influência das relações entre as pessoas que transitam no ambiente escolar. Essa
influência é mútua e mediada pela tradução cultural, que é o processo de negociação entre
novas e antigas matrizes culturais (HALL, 2003). O destaque da conceituação de hibridização
para Hall (2003) encontra-se no seu entendimento dos processos hibridizadores como formas
potenciais de fontes criativas, isto é, formas criadoras de novas percepções de mundo. Estas
novas percepções de mundo podem minimizar os desajustes, ainda presentes na escola
(NOGUEIRA & PADILHA, 2014), entre a cultura juvenil e a cultura escolar, favorecendo as
13
relações e produzindo sentidos capazes de reduzir a incompatibilidade existente entre a escola
e os/as jovens ciborgues.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados da pesquisa, podemos perceber que utilizar o Youtube para
estudar os conteúdos curriculares é um dos múltiplos elementos que caracterizam a juventude
contemporânea. Assim, a certeza de que parte dos/as alunos/as se valem dos recursos
oferecidos pelo Youtube para estudar pode trazer contribuições para o percurso escolar,
ampliando o interesse e a motivação no aprendizado dos conteúdos curriculares dentro e fora
da sala de aula.
Os resultados da pesquisa indicaram também que inserir elementos da cultura
juvenil nas aulas presenciais pode ampliar a motivação e a atenção dos alunos, assim como
ocorreu no vídeo com a voz do personagem de animação Goku. Também foi possível
observar que os/as jovens demandam presencialmente dos/as professores/as um auxílio no
processo de estudar assistindo a videoaulas no Youtube. Tais fenômenos demonstram que o
hibridismo entre cultura escolar, cultura juvenil e cibercultura é uma realidade que não pode
mais ser ignorada.
Neste contexto, o uso do Youtube pelos/as alunos/as no percurso educacional se
insere em um processo de mudança cultural que permeia as atitudes e comportamentos da
juventude ciborgue. Tais mudanças podem alterar de maneira significativa a ecologia das
relações entre as culturas juvenis e a cultura escolar, que precisa se alinhar às expectativas e
aos anseios de uma juventude sempre em mutação e que assimila as inovações tecnológicas
da atualidade a uma velocidade que a escola, de modo geral, ainda não consegue acompanhar.
6 REFERÊNCIAS
14
COMSCORE. Pesquisa sobre o perfil do usuário da internet no Brasil, 2013.
DAYRELL, J. T. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, n. 24, p. 40-
53, 2003.
SILVA, C. R. & SILVA, P. C. Juventude e cultura: Reflexões acerca das culturas juvenis no
currículo escolar. Artifícios, v. 2, n. 3, 2012.
15
TEMPLE, J. Salman Khan, math master of the Internet. SF Gate, 2009. Disponível em:
<http://www.sfgate.com/business/article/Salman-Khan-math-master-of-the-Internet-
3278578.php>
16