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FUNDAMENTOS TEÓRICOS
E METODOLÓGICOS DA
ALFABETIZAÇÃO
2009
© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização
por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
ISBN: 978-85-387-0660-1
CDD 372.41
Concepção de letramento..................................................... 21
O que é letramento?.................................................................................................................. 23
Textualidade, código e
meios de produção da escrita.............................................. 29
Crítica aos métodos tradicionais de alfabetização......................................................... 29
A prática pedagógica do ensino da língua escrita
que articula textualidade, código e meios de produção da escrita......................... 32
Leitura e interpretação............................................................ 47
A prática pedagógica da leitura e interpretação ........................................................... 48
Seleção dos textos de leitura................................................................................................. 49
Relação de conteúdos.............................................................................................................. 50
A prática da produção de textos.......................................... 55
O texto oral................................................................................................................................... 57
Relação de conteúdos da produção oral........................................................................... 58
Referências.................................................................................119
Anotações..................................................................................123
Apresentação
Maria Auxiliadora
Desenvolvimento histórico do
processo de ensino e aprendizagem
da leitura e da escrita
Vamos iniciar nossa disciplina refletindo sobre o desenvolvimento his-
tórico do processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, apon-
tando-o como prática pedagógica essencial da escola moderna.
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Desenvolvimento histórico do processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita
Alfabetização ou letramento?
A prática pedagógica do aprendizado da leitura e da escrita por meio da car-
tilha perdurou durante o longo período que chamamos de ensino tradicional.
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Por fim, como decorrência da adoção de novos conteúdos dos processos edu-
cativos do ensino da leitura e da escrita, pressupõe-se também novos processos,
metodologias e estratégias para seu ensino-aprendizagem.
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Desenvolvimento histórico do processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita
Texto complementar
15
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
2.ª lição
va ve vi vo vu
ve va vo vu vi
vo vi va ve vu
vai viu vou
Vocábulos
vo-vó a-ve a-vô o-vo
vi-va vo-vo ou-ve u-va
ui-va vi-vi-a vi-ú-va
Exercícios
vo-vó viu a a-ve
a a-ve vi-ve e vô-a
eu vi a vi-ú-va
vi-va a vo-vó
a a-ve vo-a-va
Exemplo 1- página da Cartilha da Infância, de T.A.B. Gabardo. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
189?, p.11
(Centro de Referência para Pesquisa Histórica em Educação (Unesp-Marília))
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Desenvolvimento histórico do processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita
Atividades
1. Quais elementos da organização do trabalho pedagógico da escola moder-
na permanecem presentes até os dias atuais?
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
a) ensinados isoladamente.
c) desenvolvidos em conjunto.
d) trabalhados posteriormente.
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Desenvolvimento histórico do processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita
Dica de estudo
Para ampliar a compreensão da origem da concepção de alfabetização,
que herdamos do nascimento da escola moderna, recomendamos a seguinte
leitura:
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Concepção de letramento
Outro desafio que os educadores Klein (2003) e Soares (2003) propõem para
alfabetização escolar é de que não basta que os alunos saibam ler e escrever,
mas faz-se necessário o cultivo das atividades de leitura e escrita que respondem
às demandas sociais de exercício destas práticas. A essa ação pedagógica, que se
processa de forma complementar e simultânea à alfabetização, embora distin-
tas, chamamos de letramento.
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Concepção de letramento
O que é letramento?
Letramento, segundo Soares (2003) é uma palavra que foi incorporada no
vocabulário dos educadores e linguistas brasileiros, dedicados aos estudos da
alfabetização nas últimas décadas do século passado, e que vai aparecer pela
primeira vez nas publicações dos anos de 1986/1988.
O termo letramento é tradução da palavra inglesa literacy que, por sua vez,
vem do latim littera, que significa “letra”. Encontramos, aqui, a origem etimológi-
ca do termo, ou seja, adicionado o sufixo cy, que significa “qualidade, condição,
estado, fato de ser”, à palavra latina teremos littera + cy = literacy, cujo sentido
passa a ser “estado ou condição que assume aquele que aprende a letra”, ou “a ler
e a escrever” (SOARES, 2003, p. 17).
Para Soares (2003), portanto, a ideia de mudança (literacy) está implícita no con-
ceito de letramento. Como o letramento diz respeito às práticas sociais de leitura e
escrita, seu exercício traz importantes consequências para o próprio sujeito e para
o meio social em que está inserido. Assim, aprender a ler e escrever, alfabetizar-
-se, deixar de ser analfabeto, tornar-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler
e escrever e envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita altera as condições
linguísticas, cognitivas, psíquicas, emocionais, culturais, sociais e políticas que o
sujeito e a comunidade a que pertence tem sob o impacto dessas mudanças.
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Texto complementar
A invenção do letramento
(SOARES, 2004)
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Concepção de letramento
[...]
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Atividades
1. Observe a tabela abaixo:
O que os dados sobre a aprovação dos alunos na classe que inicia o processo
de escolarização no Ensino Fundamental, revelam a respeito do alfabetismo/
analfabetismo no Brasil?
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Concepção de letramento
Dica de estudo
Recomenda-se a leitura deste livro para que se possa ampliar a compreensão
da origem da concepção de letramento.
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Textualidade, código e
meios de produção da escrita
Conceber a escrita em uma perspectiva social implica, como vimos, en-
tendê-la como produção humana e compreender a forma que ela assume
sob determinada organização social e quais funções cumpre. Por esta razão,
o ensino da língua escrita – nem mesmo no período inicial de sua apren-
dizagem, que chamamos de alfabetização – se reduz ao mero domínio do
código, pois este é apenas um instrumento de realização de determinadas
funções, e como tal não esgota todas as possibilidades sociais da escrita.
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Textualidade, código e meios de produção da escrita
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Textualidade, código e meios de produção da escrita
Texto complementar
A respeito de alguns fatos do ensino
e da aprendizagem da leitura e da escrita pelas
crianças na alfabetização
(CAGLIARI, 1998)
33
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
34
Textualidade, código e meios de produção da escrita
um convite por parte da escola para ele se retirar ou ir para uma classe de
alunos de seu nível. Muitos eufemismos e hipocrisias.
Atividades
1. Dentre os métodos tradicionais, que privilegiam o ensino dos elementos
básicos do código, os fônicos ou silábicos são conhecidos como sintéticos,
porque
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
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Textualidade, código e meios de produção da escrita
Dica de estudo
Os métodos ditos tradicionais, mas que ainda estão presentes nas nossas es-
colas, podem ser estudados de forma mais aprofundada em:
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As quatro práticas da alfabetização
Vamos ler o que nos diz Klein (2003, p. 34-38) sobre a leitura e a
alfabetização.
Leitura e interpretação
A leitura deverá contemplar uma tipologia variada de textos: in-
formativos, narrativos, narrativo-descritivos, normativos, dissertati-
vos, de correspondência, textos argumentativos, literários, em prosa
e em verso, textos lúdicos, textos didáticos, textos publicitários, entre
outros, buscando promover o conhecimento da função social e dos
mecanismos constitutivos de cada tipo.
Produção de textos
A produção de textos pode envolver desde a simples denominação de
elementos do desenho do próprio aluno, até relatos que supõe textos nar-
rativos e narrativos-descritivos, textos informativos, de correspondência etc.,
até textos dissertativos. A composição poderá ser individual ou coletiva. No
início do processo de alfabetização – quando os alunos ainda não dominam
minimamente a escrita – o texto será produzido oralmente pelos alunos
e transposto para escrita pelo professor. Progressivamente o professor vai
transferindo essa atividade para os alunos, à medida que eles vão evoluindo
nas suas tentativas de escrita.
40
As quatro práticas da alfabetização
Análise linguística
A análise linguística é uma atividade paralela às atividades de leitura e
produção de textos. Essa prática objetiva apreender os mecanismos de cons-
tituição de sentido do texto, tais como: concordância, regência, organização,
ambiguidade, clareza, argumentação, entre outros. A atividade de reescrita
do texto é a forma mais fecunda de desenvolver a análise linguística, uma
vez que apreende contextualmente esses mecanismos.
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Texto complementar
O empinador de estrelas
(DIAFÉRIA, 2006)
A classe inteira ficou encarando dona Furquim como se ela fosse a mu-
lher-maravilha. Será que dona Furquim estava caçoando da gente?
– Vamos contar por escrito as coisas que acontecem todos os dias. O co-
tidiano de cada um. Mesmo que pareça um fato sem importância. Façam de
conta que é uma brincadeira. Em casa, vocês arranjam um tempinho, passam
para o papel um pouco de vida. Tanta coisa, não é mesmo? Sempre acontece
tanta coisa na vida da gente!
Assim foi o primeiro dia de aula de Dona Furquim. Ela nunca fez questão
das coisas muito na ponta da língua. Gostava de dizer que é bom aprender
42
As quatro práticas da alfabetização
para a vida. Como se aprende a andar. Foi por causa de dona Furquim que
desse dia em diante passei a rabiscar coisas que aconteciam em minha vida.
Enchi um caderno de redação e depois outro caderno de redação. Isto que
estou contando aqui não passa de folhas soltas desses cadernos. No passar a
limpo, procurei emendar os erros que dona Furquim havia corrigido. Emen-
dei os erros, mas não modifiquei os fatos.
Atividades
1. Que princípios pedagógicos norteiam o trabalho com as quatro práticas pe-
dagógicas da alfabetização?
43
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
b) O texto deve ser produzido oralmente e transposto para escrita pelo pro-
fessor.
c) Não devem ser produzidos textos escritos até que os alunos aprendam a
escrever.
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As quatro práticas da alfabetização
Dica de estudo
Para selecionar textos de leitura, com base nos quais as quatro práticas da
alfabetização possam ser desenvolvidas, você pode recorrer ao estudo do livro:
AGUIAR, V. T. Leituras para o 1.º grau: critérios de seleção e sugestões. In: ZILBER-
MAN, R. (Org.). Leitura em Crise na Escola: as alternativas do professor. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1993.
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Leitura e interpretação
As crianças pequenas, que ainda não sabem ler a língua escrita, mantêm
contato com material gráfico presente no ambiente cotidiano onde vivem
– pinturas, sinais e propagandas – e se apropriam de seu significado, ainda
que de forma limitada. Também manuseiam textos que circulam em seu
meio, e são capazes de antecipar o sentido que eles contêm a partir das
ilustrações que o acompanham. Dessa forma, embora não realizem ple-
namente a leitura, estabelecem interação com alguns elementos do texto
escrito.
muito importante porque nos possibilita pensar sobre a sociedade em que vive-
mos e sobre as condições de vida dos homens dessa sociedade. Trata-se, pois, de
um diálogo que envolve o porquê lemos, para quê, e como lemos.
Os textos literários, por sua vez, têm papel fundamental na alfabetização, prin-
cipalmente os poéticos, que, pela sonoridade e a musicalidade do ritmo e da rima,
têm finalidade de fruição, facilitando de forma lúdica a compreensão da relação
existente entre oralidade e escrita. Convém ressaltar que o texto literário com-
porta possibilidades de muitas interpretações de acordo com a sensibilidade, a
cultura e a visão de mundo do leitor. Entretanto, o professor deve orientar os
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Leitura e interpretação
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Relação de conteúdos
Interpretação de desenhos.
Uso do desenho para representar ideias: compreensão do desenho como uma forma de repre-
sentação gráfica de imagens visuais.
Distinção entre os símbolos da escrita e outros grafismos (desenho, logotipo, número etc.).
Distinção entre letras e notações léxicas (acentos, til, trema, apóstrofo, cedilha, hífen).
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Leitura e interpretação
Texto complementar
Fobias
(VERISSIMO, 2003, p. 97-98)
Não sei como se chamaria o medo de não ter o que ler. Existem as co-
nhecidas claustrofobia (medo de lugares fechados), agorafobia (medo de
espaços abertos), acrofobia (medo de alturas) e as menos conhecidas ailu-
rofobia (medo de gatos), iatrofobia (medo de médicos) e até treiskaidekafo-
bia (medo do número 13), mas o pânico de estar, por exemplo, num quarto
de hotel, com insônia, sem nada para ler não sei que nome tem. É uma das
minhas neuroses. O vício que lhe dá origem é a gutembergomania, uma de-
pendência patológica na palavra impressa. Na falta dela, qualquer palavra
serve. Já saí da cama de hotel no meio da noite e entrei no banheiro para ver
se as torneiras tinham “frio” e “quente” escritos por extenso, para saciar minha
sede de letras. Já ajeitei o travesseiro, ajustei a luz e abri uma lista telefônica,
tentando me convencer que, pelo menos no número de personagens, seria
um razoável substituto para um romance russo. Já revirei cobertores e len-
çóis, à procura de uma etiqueta, qualquer coisa.
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Nada como um best-seller numa hora dessas. A Bíblia tem tudo para acom-
panhar uma noite de insônia: enredo fantástico, grandes personagens, ro-
mance, o sexo em todas as suas formas, ação, paixão, violência – e uma men-
sagem positiva. Recomendo Gênesis pelo ímpeto narrativo. O Cântico dos
Cânticos pela poesia e Isaías e João pela força dramática, mesmo que seja
difícil dormir depois do Apocalipse.
Mas e quando não tem nem a Bíblia? Uma vez liguei para a telefonista de
madrugada e pedi uma Amiga.
— Você não entendeu! Eu quero uma revista Amiga, Capricho, Vida Ro-
tariana, qualquer coisa.
— Tricô!
— Com manual?
— Não.
Danação.
— Manda!
Atividades
1. Que tipo de leitor a prática de leitura e interpretação de texto pretende pro-
duzir?
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Leitura e interpretação
Dica de estudo
Para ampliar a seleção de textos da literatura infantil, destinados à prática de
leitura e interpretação, você pode recorrer ao estudo do livro:
BRAGATTO FILHO, P. Pela Leitura Literária na Escola de 1.º Grau. São Paulo:
Ática, 1995.
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A prática da produção de textos
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A prática da produção de textos
O texto oral
As crianças, mesmo as menores, quando chegam à escola, já apresentam su-
ficiente domínio da linguagem oral para produzirem textos, comunicarem-se e
interagirem verbalmente com os outros. É claro que esse domínio da capacida-
de de uso da linguagem oral varia conforme as experiências anteriores de cada
criança. De qualquer forma, são falantes de sua língua nativa e cabe ao trabalho
escolar levar em consideração as diferentes formas de expressão que trazem
de sua comunidade. Entretanto, não se pode perder de vista que o domínio da
Língua Portuguesa requer que o ensino escolar ofereça ao aluno a possibilidade
de aquisição da linguagem-padrão também na oralidade. Vale lembrar que tal
objetivo pode ser alcançado mantendo-se respeito pelos valores culturais da co-
munidade da qual o aluno é oriundo. A incorporação de expressões, pronúncias
e construções alheias à sua variedade dialetal podem se processar de forma não
agressiva, pelo contato reiterado do aluno com a variedade padrão.
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Pronúncia correta das palavras conhecidas (eliminação de erros de ortoépia (ex.: tó/cs/ico em
vez de tó/s/ico; de prosódia (ex.: rubrica em lugar de rúbrica) e de hipercorreção (ex.: sorvete
em lugar de solvete).
Riqueza de ideias:
– acréscimo de detalhes e informações necessárias;
– distinção entre informação e ideias essenciais e acessórias no discurso oral;
– originalidade.
Argumentação:
– desenvolvimento de argumentos com coerência e consistência.
Estilo:
– eliminação de expressões viciosas (repetições, gírias, jargões, lugares-comuns, termos de
baixo calão), salvo quando a narrativa assim o exigir;
– emprego de figuras de linguagem como recurso de enriquecimento do texto oral.
Conjugação verbal.
Prática da oralidade
Narrar falas em sequência temporal e/ou casual.
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A prática da produção de textos
59
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Texto complementar
[...]
[...]
60
A prática da produção de textos
Creio, por outro lado, que é possível utilizar, em todos os níveis, exercícios
de expressão escrita e falada em que se visem especificamente os objetivos
de coesão textual e controle da informatividade.
Por fim, acredito que será supérfluo lembrar que a orientação aqui sugeri-
da é uma maneira de insistir nos “fatos” e de garantir situações motivadoras,
coerentemente com alguns princípios já bastante assentados nas discus-
sões sobre redação [...] e que, uma vez aceita a procedência dos objetivos
aqui propostos, o principal critério de avaliação não pode ser o de maior ou
menor correção gramatical, mas sim o de um maior domínio da variedade
de usos da língua.
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Atividades
1. A produção do texto requer a definição prévia dos elementos essenciais
que o compõem. Marque a alternativa que contém esses elementos.
Dica de estudo
Para aprofundar seu estudo sobre a produção de textos, leia o artigo:
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Produção do texto escrito
66
Produção do texto escrito
apresentem muitos erros. A ideia de que elas só deverão escrever textos quando
forem capazes de não cometer mais erros traz consequências negativas para o
processo de alfabetização: a) retardar-se-á demasiadamente o exercício da es-
crita em situações de real exigência, de modo que as crianças provavelmente se
desinteressarão pelo seu aprendizado e desconsiderarão a noção dos usos reais
da escrita; b) os alunos tenderão a valorizar mais a forma que o conteúdo dos
seus textos, do que resultarão textos estereotipados, cujo conteúdo não é rele-
vante, e textos sem originalidade, com vocabulário pobre, pois tenderão a usar
somente as palavras e estruturas frasais que já dominam perfeitamente. Possi-
velmente, irão distorcer o conteúdo pensado, pois terão que se limitar às ideias,
às palavras e frases das quais conhecem a escrita.
Reconhecimento das letras do alfabeto como sistema de representação gráfica de sinais sono-
ros, referenciada na linguagem oral.
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Reconhecimento da grafia fixa das palavras, mesmo quando se utilizam letras de valor arbitrário.
Leitura:
– identificação global de palavras;
– decodificação das palavras;
– leitura fluente de textos.
Coesão: utilização de elementos coesivos para articular os elementos do texto (palavras, frases,
períodos e parágrafos), buscando maior clareza e eliminando repetições desnecessárias.
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Produção do texto escrito
Distinção entre prosa e poesia, com reconhecimento das características que as diferenciam.
Argumentação:
– coerência argumentativa;
– consistência argumentativa.
Estilo:
– identificação e eliminação de expressões viciosas (repetições, gírias, jargões, lugares-comuns,
termos de baixo calão), salvo quando a narrativa assim o exigir;
– emprego de figuras de linguagem como recurso de enriquecimento do texto oral.
Concordância verbal:
– uso adequado dos tempos verbais e das formas verbais adequadas às pessoas do discurso e
à situação narrativa ou descritiva.
Modalidades de citação:
– uso adequado dos recursos de citação, nas formas do discurso direto e indireto.
Prática de escrita
As atividades de escrita decorrem naturalmente das atividades da prática
da oralidade já descritas. Cabe ao professor julgar a pertinência ou não
de dar continuidade a um exercício de produção de texto oral com uma
atividade de exercício escrito desse texto. Ele definirá, com os alunos, os
critérios de escolha de qual ou quais textos serão registrados.
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Texto complementar
Breve parêntese: e a letra?
(KLEIN, 2003, p. 36-37)
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Produção do texto escrito
Atividades
1. A produção do texto escrito exige que seja realizada uma discussão prévia
para que se possa refletir sobre os elementos da organização do texto. Quais
elementos serão objeto de reflexão?
71
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Dica de estudo
Para aprofundar o estudo sobre a produção do texto escrito, leia o artigo:
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Prática da análise linguística
que, com base nas apropriações já realizadas, possa perceber questões ainda
não compreendidas e não incorporadas. Esse processo de ensino e aprendiza-
gem favorece eficientemente a aquisição de conteúdos que possam melhorar o
domínio do aluno com relação à língua escrita.
Texto complementar
A língua na literatura brasileira
Machado de Assis (1830-1908)
(Escrito em 1873, mas ainda com atualidade)
Entre os muitos méritos dos nossos livros nem sempre figura o da pureza
da linguagem. Não é raro ver intercalados em bom estilo os solecismos da
linguagem comum, defeito grave, a que se junta o da excessiva influência da
língua francesa [hoje, inglesa]. Este ponto é objeto de divergência entre os
nossos escritores. Divergência digo, porque, se alguns caem naqueles defei-
tos por ignorância ou preguiça, outros há que os adotam por princípio, ou
antes por uma exageração de princípio.
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Prática da análise linguística
Atividades
1. Quais são os objetivos da análise linguística?
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Dica de estudo
Para o estudo sobre análise linguística, leia o pequeno livro no qual o autor
aprofunda a reflexão sobre o ensino do Português na escola, retomando a polê-
mica sobre a questão da gramática:
POSSENTI, S. Por que (Não) Ensinar Gramática na Escola. Campinas, SP: Mer-
cado Aberto, 2003.
80
Prática da análise linguística
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Prática de reescrita do texto
correção ortográfica;
pontuação adequada;
Minha irmã Rosa ficou doente. Quando minha irmã Rosa ficou doente, minha
Daí minha mãe levou ela para o médico, daí mãe a levou ao médico.
o médico perguntou onde dói, menina. Então ele perguntou:
Daí, né, ela disse dói a barriga. – Onde dói, menina?
Então ele disse pra minha mãe comprar re- Ela respondeu:
médio na farmácia. – Dói a barriga.
Então ela ficou boa. Assim que terminou o exame, o médico disse à mi-
(Suzana) nha mãe para ir à farmácia comprar o remédio.
Minha irmã ficou boa depois de tomar o medica-
mento.
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Prática de reescrita do texto
Vejamos o exemplo:
Júlia mora com seus pais e com seus avós. Júlia mora com seus pais e seus avós.
Júlia viu que seus pais e seus avós não tinham No dia de Natal, ela ganhou, de sua professora,
nada para comer. uma caixa de chocolates.
O dono do mercado ficou com pena e deu pra Júlia viu que seus pais e seus avós não tinham
Júlia um pouco de arroz e feijão. Todos ficaram nada para comer.
felizes. Então foi até o mercado e pediu para o dono
No dia de Natal ela ganhou de sua professora trocar a caixa por um pouco de comida.
uma caixa cheia de chocolates. O dono ficou com pena de Júlia e lhe deu um
Ela foi ao mercado e pediu para o dono trocar a pouco de arroz e feijão.
caixa por um pouco de comida. Sua mãe fez uma deliciosa comida e todos
Sua mãe fez uma deliciosa comida. ficaram felizes.
(Pedro)
Substituição de redundâncias
Deve-se mostrar às crianças que a repetição de palavras, frases e/ou informa-
ções precisam ser evitadas quando elas forem desnecessárias, ou substituídas
pelo pronome, por sinônimos e assim sucessivamente.
No parquinho, Zélia comprou doces. Zélia comeu No parquinho, Zélia comprou doces. Ela co-
os doces sozinha e não deu nem um pedaço dos meu-os sozinha, sem dar nenhum pedaço
doces para sua irmã. para sua irmã.
(Suzana)
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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Pontuação adequada
Deve ser explicado aos alunos que o emprego dos sinais de pontuação é
muito importante, pois, ao separar as ideias que compõem o texto, confere-lhe
maior expressividade, contribuindo para maior precisão do sentido, como se ve-
rifica no exemplo abaixo.
Minha mãe foi no supermercado comprou me- Minha mãe foi ao supermercado e comprou
lancia muitas laranjas muitas coisas pra limpar melancia, muitas laranjas e muitas coisas para
a casa ela trouxe balas pirulitos e chocolate pra limpar a casa.
mim e para minha irmã nós ficou muito conten- Ela trouxe balas, pirulitos e chocolates para
te. mim e para minha irmã.
(Roberto) Nós ficamos muito contentes.
Expansão de ideias
A ampliação e o enriquecimento dos textos podem ser obtidos por meio de
comentários e debates provocados pelo professor para que os alunos reflitam
sobre novas possibilidades de expansão de suas ideias. Ao efetuar o questiona-
mento sobre os textos das crianças, o professor faz com que elas percebam a ne-
cessidade de reestruturá-los, buscando superar o vocabulário restrito, eliminar
chavões e lugares-comuns.
Texto da criança
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Prática de reescrita do texto
Texto reescrito
Eu o Zeca e o irmão do Zeca fomos no sítio do Eu, o Zeca e seu irmão fomos ao sítio do seu
seu Afonso. Chegamos no sítio já era quase Afonso. Quando lá chegamos já era quase
meio-dia. A gente já tava com fome. A gente co- meio-dia. Nós estávamos com fome e come-
meu os sanduíches que tinha levado. De tarde a mos os sanduíches que tínhamos levado.
gente ficou com fome de novo e não tinha mais À tarde, ficamos com fome novamente e,
comida. A gente voltou. como não tínhamos mais comida, voltamos.
(Osvaldo)
87
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Vejamos o exemplo:
Eu sou fanático por futebol. Eu nunca vou Eu sou fanático por futebol, mas nunca vou aos
aos jogos. jogos porque tenho medo da violência que to-
mou conta dos estádios.
Texto complementar
Era um tipo magro, tenso, e parecia nervoso. Usava chapéu branco e finos
bigodinhos cinzentos.
Pertético prosseguiu:
– Não se trata disso. Peço desculpas porque sempre que digo língua
pátria... pétria, pítria..., sou levado a repetir pétria, pítria. Não entendo a razão.
88
Prática de reescrita do texto
– Me parece curioso.
– Parece-me curioso.
– Ao senhor também?
– Não. Refiro-me à sua frase. Não se deve dizer “me parece”. O certo é
“parece-me”.
– Com. Acho.
– Reclamação?
– Um B. O.
– Não. Mas acho que este troço pega. Lembro de uma frase de...
Pertético o interrompeu:
89
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
– Qual? espantou-se.
– Me passe o açucareiro.
– Eu?!
– Viu? Não repeti pétria, pítria! Não repeti! Língua pátria! Estou curado!
90
Prática de reescrita do texto
Atividades
1. Quais os procedimentos pedagógicos que a reescrita do texto comporta?
Dica de estudo
Para manter-se atualizado sobre questões linguísticas, tanto gramaticais
como discursivas, é importante recorrer a fontes acessíveis como o caso de Lin-
guasagem – Revista Eletrônica de Popularização Científica em Ciências da Lin-
guagem – publicação do Departamento de Letras e Programa de Pós-Graduação
em Linguística da Universidade Federal de São Carlos.
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Procedimentos pedagógicos para sistematização do domínio do código
Texto complementar
Famílias silábicas:
trabalha-se com elas ou não?
Em que sequência? Como organizá-las?
(KLEIN, 2003)
95
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
padrão sonoro da articulação de uma consoante com as cinco vogais (ba, be,
bi, bo, bu, na, ne, ni, no, nu etc.); c) memorizar os valores fonéticos de todas
as vogais e de todas as consoantes; d) aplicar, dedutivamente, a partir de um
cabedal de sílabas já conhecidas, a regularidade do padrão sonoro da arti-
culação da consoante com as vogais (exemplificando: se m com u, faz mu, d
com u faz du). Ora, à compreensão da relação oralidade-escrita deve seguir-se
a memorização do valor fonético das letras (vogais e consoantes) e a memo-
rização dos padrões silábicos. O aluno não necessitará memorizar todas as
formas silábicas da língua porque, reconhecendo o valor fonético das letras,
poderá, por simples generalização, descobrir outras formas.
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Procedimentos pedagógicos para sistematização do domínio do código
com trans ou gue. Não há, aqui, a preocupação de distinguir entre sílabas mais
simples e mais complexas, com o fito de deixar para um segundo momento
as famosas dificuldades. Essas dificuldades de fato não existem, ou melhor,
elas só são reais quando se trabalha de forma parcelarizada e etapista con-
forme é o modelo proposto pelas cartilhas. Nas atividades de aquisição do
gráfico, o importante é promover a identificação da relação oralidade-escrita,
ora partindo da pronúncia das palavras em busca de sua representação escri-
ta; ora da escrita da palavra em busca de sua sonorização. Nessas atividades,
o professor deixará patente o princípio alfabético da língua e o seu contrário
que é o princípio da memória etimológica. Em outras palavras, que há fone-
mas que sempre são registrados da mesma maneira, enquanto há outros que
podem admitir diferentes registros, dependendo do vocábulo em que apa-
recem (exemplos: /d/ = d, enquanto /z/ = z, s, x). É importante, ainda, que o
professor acentue que a variedade de possibilidades de registrar não impli-
ca poder utilizar indiscriminadamente esses registros, mas que cada palavra
admite uma única forma de fazê-lo.
97
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
za – zé – zi – zo – zu ca – co – cu
cha – che – chi – cho – chu
sa – se – si – so – su que – qui – qua – quo
xa – xe – xi – xo – xu
xa – xe – xi – xo – xu ka – ke – ki – ko – ku
98
Procedimentos pedagógicos para sistematização do domínio do código
Atividades
1. Quais os procedimentos para as atividades de sistematização do código, re-
alizados a partir das tentativas de produção de texto dos alunos?
99
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Dica de estudo
Para aprofundar o estudo sobre procedimentos para a sistematização do
código, os alfabetizadores podem buscar um valioso livro que resultou da con-
tribuição de um linguista da Universidade Federal do Paraná para alfabetizado-
res das escolas de Ensino Fundamental:
100
Procedimentos pedagógicos para sistematização do domínio do código
101
Reescrita do texto com o objetivo
de sistematização do domínio do código
Inicialmente, é importante ressaltar que, embora o exemplo a seguir
enfoque a reescrita do texto ressaltando aspectos da reflexão sobre o
código, trata-se de uma explanação com objetivo didático, pois, como
temos enfatizado, o procedimento pedagógico de reescrita do texto com-
porta a reflexão sobre o código simultaneamente à análise das questões
discursivas. Assim, relembrando a importância de não negligenciar nenhu-
ma das práticas pedagógicas da alfabetização indicadas, vejamos como o
professor pode desenvolver a análise do texto do aluno, cujas considera-
ções permitirão sistematizar procedimentos pedagógicos que ensejem o
domínio do código.
A análise deste texto revela, no que diz respeito à produção textual, que
é possível considerar que o aluno atingiu os objetivos essenciais do primei-
ro momento da alfabetização, estando em franco processo de domínio da
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
tem noção de segmentação, pois faz tentativas, embora ainda não seg-
mente corretamente;
segmentação;
104
Reescrita do texto com o objetivo de sistematização do domínio do código
pontuação;
acentuação.
Cabe ainda lembrar que os vocábulos cujo registro contém relações arbitrá-
rias necessitam ter sua grafia memorizada. Daí a importância de variadas ativi-
dades de leitura e escrita.
Omeo bigo edi pelusia eonomi de li e xiqino eli O meu bichinho é de pelúcia e o nome dele é
e brãqo. Chiquinho. Ele é branco.
domínio da escrita;
105
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
BIGO Troca de sílaba CHO A referência do valor fonéti- Compreensão da relação orali-
por GO. co do GI/GE pela proximida- dade-escrita. Compreensão do
de fonética: valor fonético do G /J/.
BICHO = BIJO.
106
Reescrita do texto com o objetivo de sistematização do domínio do código
Conhecimento
Registro Erros Causa provável
implícito no erro
107
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Texto complementar
As sílabas
(TATIT, 2000)
Cantiga diga lá
A dica de cantar
Ia indo ao Piauí
Vox populi
Que despenca
Rola a escada
E no caminho
Só se ouve
Aquele boi-bumbá
Tem sílaba de ar
108
Reescrita do texto com o objetivo de sistematização do domínio do código
Atividades
1. Que aspectos são avaliados na tentativa de produção escrita do aluno e que
podem ser objeto de reflexão para o domínio gradativo do código e domínio
das questões discursivas?
109
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Dica de estudo
O dicionário é um meio de estudo imprescindível para produção de um leitor e
escritor competente, em língua portuguesa. Para isso, indicamos um bom, atualizado
e acessível dicionário:
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Reescrita do texto com o objetivo de sistematização do domínio do código
111
Gabarito
3. C
Concepção de letramento
1. Os dados revelam que embora se verifique maior expansão de oferta
de ensino pela escola pública brasileira, permanece os mesmos per-
centuais elevados de reprovações na primeira série ou primeiro ciclo
do Ensino Fundamental – que é a classe de alfabetização, no que de-
corre, portanto, a permanência do analfabetismo.
3. A
2. B
3. B
Leitura e interpretação
1. A prática de leitura e interpretação de texto tem como objetivo produzir um
leitor capaz de compreender a riqueza de possibilidades e os limites da in-
terpretação do texto; de interagir com os mais diversos textos em situações
significativas e diferenciadas e de assumir uma postura crítica, realizando um
estudo aprofundando do texto.
2. C
3. B
114
Gabarito
2. A
3. D
3. A
115
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
2.
Texto reescrito
Quando saí de casa hoje de manhã muito cedo, estava chovendo. Como tinha perdido
o guarda-chuva e o ônibus custasse a chegar, fiquei todo molhado e apanhei um bruto
resfriado.
2. C
3. A
116
Gabarito
2. A
117
Referências
POSSENTI, S. Por que (Não) Ensinar Gramática na Escola. Campinas, SP: Mer-
cado Aberto, 2003.
120
Referências
TATIT, L. As sílabas. In: O Meio. Rio de Janeiro: Verde Edições Musicais, 2000.
(GRA6978824-4).
121
Anotações