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1. INTRODUÇÃO
A concepção da estrutura de um edifício consiste no estabelecimento de um arranjo
adequado dos vários elementos estruturais do edifício (figura 1), de modo a assegurar que o
mesmo possa atender às finalidades para as quais foi projetado. Em virtude da complexidade das
construções, uma estrutura requer o emprego de diferentes tipos de peças estruturais
adequadamente combinadas para a formação do conjunto resistente.
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elementos de forma a respeitar a distribuição dos diferentes ambientes nos diversos pavimentos.
Evidentemente, a estrutura deve também ser coerente com as características do solo no qual ela
se apóia.
Na concepção da estrutura, uma das principais preocupações do projetista deverá ser a
interação com os demais projetos, em especial com o arquitetônico, o qual direcionará grande
parte das decisões tomadas; a escolha da forma da estrutura de um edifício depende
essencialmente do projeto arquitetônico proposto.
O projeto estrutural deve estar em harmonia com os demais projetos (instalações
elétricas, hidráulicas, telefonia, segurança, som, televisão, ar condicionado, etc.). Ou seja, deve
existir a compatibilização do projeto estrutural com os demais projetos da edificação, de modo a
permitir a coexistência, com qualidade, de todos os sistemas. Por esse motivo, as várias áreas
técnicas envolvidas no projeto costumam fazer anteprojetos que, posteriormente são analisados
em conjunto para que se estudem as compatibilizações necessárias.
A título de exemplo, pode-se citar o cuidado que se deve ter ao verificar a localização de
vigas nas regiões de banheiros e área de serviço, onde o projetista hidráulico, muito
provavelmente, procurou localizar pontos para passagem de tubos de esgoto e instalações de
água fria.
Outro exemplo que também pode ser citado refere-se ao posicionamento dos pilares nas
áreas destinadas a garagens. O projetista deve ter a preocupação de posicionar os pilares em
locais que não ocupe espaço das vagas e que ao mesmo tempo facilite a manobra dos veículos; a
integração entre projeto estrutural e arquitetônico é indispensável para o melhor aproveitamento
das garagens: maior número de vagas e espaço adequado para manobras. Em alguns casos, as
posições dos pilares na área destinada a garagens não são compatíveis com a distribuição de
pilares estudada para os demais pavimentos do edifício, sendo necessário projetar vigas de
transição.
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Figura 2 – Fluxo das ações nos elementos estruturais em edifícios (Fonte: Alva, 2007)
As ações atuantes na edificação devem ser transmitidas à camada resistente do solo por
meio dos elementos estruturais de fundação. Pode-se considerar dois grupos principais de
fundações:
Fundações profundas – Os tipos mais comuns são as estacas e os tubulões. As fundações
profundas são utilizadas quando não é viável economicamente o emprego de fundações diretas.
Em uma fundação profunda, a carga pode ser transmitida predominantemente pela base ou por
atrito lateral ou ainda por estas duas formas (figura 3).
Fundações superficiais – Constituída essencialmente pelas sapatas e radiers. São empregadas
quando o terreno apresenta um solo superficial com resistência relativamente elevada e baixa
compressibilidade. Nestes tipos de fundações, também conhecidas por fundações diretas ou
rasas, as ações são transmitidas ao solo predominantemente pela base (figura 4).
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Figura 4 – Fundações diretas
3. SISTEMAS ESTRUTURAIS
Segundo Corrêa (1991), os sistemas estruturais devem ser entendidos como disposições
adequadas e racionais de diversos elementos estruturais (vigas, pilares, lajes, paredes estruturais,
etc.). Os sistemas estruturais, portanto, consistem na reunião de elementos estruturais de maneira
que estes trabalhem de forma conjunta para resistir às ações atuantes no edifício e garantir sua
estabilidade.
No caso de edifícios de múltiplos pavimentos, quanto maior a altura e a esbeltez da
edificação maior será a responsabilidade de uma escolha apropriada para esse arranjo estrutural.
Para edifícios em concreto armado com no máximo 20 pavimentos, os sistemas estruturais mais
empregados no país são:
Estruturas de pórticos;
Estruturas de pórticos com núcleos de rigidez ou paredes estruturais.
Conforme Alva (2007), os sistemas em pórticos podem ser entendidos como a associação
de pórticos planos, os quais são constituídos por vigas e pilares conectados rigidamente. A
estabilidade global do edifício é conferida por pórticos planos dispostos nas duas direções
ortogonais, constituindo um pórtico tridimensional (figura 5)
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Além dos pórticos, o sistema pode apresentar um núcleo estrutural rígido - composto por
pilares de grande inércia das caixas de escadas e ou de elevadores (ver figura 6) – ou por pilares-
parede colocados em posições adequadas para melhor enrijecimento lateral do edifício (ver
figura 7).
Figura 7 – Exemplo de planta de formas de edifício com sistema estrutural constituído por
pórticos associados a pilares-parede (Fonte: Alva, 2007)
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Ao lançar a estrutura de um edifício deve-se ter em mente vários aspectos básicos:
O posicionamento dos elementos estruturais pode ser feito com base no comportamento
primário dos mesmos. Assim, as lajes são posicionadas nos pisos dos compartimentos para
transferir a carga dos mesmos para as vigas de apoio. As vigas são utilizadas para transferir
as reações das lajes e o peso das alvenarias para os pilares em que se apóia (ou,
eventualmente, vigas de apoio), vencendo os vãos entre os mesmos. E os pilares são
utilizados para transferir as cargas das vigas para as fundações.
A transferência de carga deve ser a mais direta possível. Desta forma, deve-se evitar, na
medida do possível, apoiar vigas importantes sobre outras vigas (chamadas apoios indiretos),
bem como o apoio de pilares em vigas (chamadas de vigas de transição).
Os elementos estruturais devem ser os mais uniformes possíveis, quanto à geometria e
quanto às solicitações. Desta forma, as vigas devem, em princípio, apresentar vãos
comparáveis entre si.
As dimensões contínuas da estrutura, em planta, devem ser limitadas a cerca de 30m para
minimizar os efeitos da variação da temperatura e da retração do concreto. Assim, nas
construções com dimensões em planta acima de 30m, é desejável a utilização de juntas de
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dilatação separando a estrutural original em um conjunto de estruturas independentes entre
si.
Conforme já mencionado, as ações horizontais atuantes em uma edificação são normalmente
resistidas por pórticos planos ortogonais entre si, os quais devem apresentar resistência e
rigidez adequadas. Para isso, é importante a orientação criteriosa das seções transversais dos
pilares (em planta).
Posicionar os pilares, de preferência, nos cantos da edificação, nos cantos das escadas, em
torno do poço dos elevadores, nos cantos dos prismas de ventilação e iluminação e nos
cruzamentos de vigas (não necessariamente em todos os cruzamentos). Procurar distanciar os
pilares entre 2,5m e 6m. Sempre que possível, adotar pilares com seção transversal
retangular.
Escolher regiões não muito nobres no pavimento tipo para o posicionamento dos pilares
(cantos dos armários embutidos, atrás das portas, etc.) evitando que os mesmos fiquem
aparentes em salas e dormitórios. Sempre será necessário verificar se as posições lançadas no
pavimento tipo são aceitáveis aos demais pavimentos (térreo, subsolo, etc.).
Em edificações baixas, manter a seção transversal do pilar constante ao longo de toda a
altura. Nas edificações mais altas pode-se variar a seção dos pilares, adotando-se dimensões
menores nos andares de cima.
Procurar, sempre que possível, o posicionamento das vigas de tal forma que as mesmas
formem pórticos com os pilares, a fim de enrijecer a estrutura frente às ações horizontais
(vento), principalmente na direção da menor dimensão em planta do edifício.
Procurar lançar vigas onde existam paredes, evitando que as mesmas fiquem aparentes,
contribuindo para o aspecto estético. Entretanto, não é obrigatório lançar vigas sob todas as
paredes. Eventualmente, uma parede poderá apoiar-se diretamente na laje, devendo-se fazer
as devidas verificações na laje em virtude do carregamento introduzido pela parede. Quando
existirem paredes leves (paredes de gesso acartonado) ou divisórias, a tarefa do lançamento
de vigas torna-se mais flexível.
Preferencialmente, apoiar as vigas em pilares. Em determinados casos, entretanto, é preciso
projetar uma viga apoiada sobre outra tendo em vista que nem sempre é possível colocar
pilares em todos os cruzamentos das vigas.
Na medida do possível, deve-se evitar vigas com vão livre máximo acima de 6m. Também
não é interessante usar vãos livres pequenos e distribuição desigual de vãos para as vigas.
Evitar o uso de vigas invertidas (vigas que ficam no lado de cima das lajes), sempre que
possível, pois a construção das mesmas é mais trabalhosa.
Verificar cuidadosamente a real necessidade de rebaixamento de uma laje em relação à outra.
Às vezes o rebaixamento é necessário quando se tem que embutir as tubulações de esgoto
nas lajes (lajes de banheiro ou das áreas de serviço). Atualmente, para esconder as tubulações
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de esgoto, há a preferência pela utilização de forros falsos; essa opção se deve
principalmente à facilidade de eventuais consertos nas tubulações.
Em lajes maciças armadas em uma direção, adotar 2m a 5m para o menor vão da laje. Nas
lajes armadas em duas direções, por sua vez, adotar 3m a 6m para o maior vão da laje.
Se as lajes forem do tipo pré-moldadas, deve-se posicionar as vigotas (trilhos ou treliças) na
menor direção da laje.
O reservatório superior e a casa de máquinas dos elevadores, localizados em um piso acima
do último pavimento, devem ser posicionados de modo que, de preferência, se apóiem nos
pilares existentes ou, em casos excepcionais, em vigas de cobertura. O reservatório enterrado
deve ser independente da estrutura do edifício e estar convenientemente localizado para não
interferir nas fundações.
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Figura 8 – Vãos de laje maciça para o pré-dimensionamento da espessura h
nervuras com espessura menor que 8cm não devem conter armadura de compressão.
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5.3. Vigas
Em geral, a altura da seção transversal da viga (h) pode ser estimada por:
L L
h a
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onde L é o vão da viga. Para fins de pré-dimensionamento, L pode ser tomado como sendo a
distância entre os eixos dos pilares em que a viga se apóia.
Algumas considerações adicionais sobre a escolha das dimensões devem ser destacadas:
No caso de vigas contínuas com vãos comparáveis (relação entre vãos adjacentes entre 2/3 a
3/2), costuma-se adotar uma altura única estimada a partir da média dos vãos (figura 9). No
caso de vãos muito diferentes entre si, deve-se adotar uma altura própria para cada vão como
se fossem independentes.
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Figura 10 – Vigas em relação à laje: a) Normal. b) Semi-invertida. c) Invertida.
Quando a viga ficar embutida em paredes de alvenaria, sua largura deve levar em conta o
tipo de tijolo, o revestimento utilizado e a espessura final definida pelo arquiteto. Normalmente,
os tijolos cerâmicos e os blocos de concreto têm espessuras de 9cm, 14cm e 19cm.
Como recomendação prática para definir a largura das vigas, pode-se considerar uma
espessura de 3cm para o revestimento (em cada face da parede) em paredes de 25cm de
espessura e 1,5cm de espessura de revestimento em paredes de 15cm de espessura.
Segundo a NBR 6118:2014, a largura mínima para vigas é de 12cm e para vigas-parede
15cm. Estes limites podem ser reduzidos, respeitando-se um mínimo absoluto de 10cm em casos
excepcionais. É importante destacar que a largura mínima de uma viga também está
condicionada ao bom alojamento das armaduras, devendo-se respeitar o espaçamento mínimo
livre ( a h ) entre as barras e o cobrimento mínimo (c) em função da classe de agressividade
ambiental prescritos pela NBR 6118:2014 (figura 11).
5.4. Pilares
O pré-dimensionamento de pilares pode ser realizado com base no processo das áreas de
influência. Este processo consiste em dividir a área total do pavimento em áreas de influência,
relativas a cada pilar e, a partir daí, estimar a carga que eles irão absorver. Conforme indica
Pinheiro (1995), a área de influência de cada pilar pode ser obtida dividindo-se as distâncias
entre seus eixos em intervalos que variam entre 0,45ℓ e 0,55ℓ dependendo da posição do pilar na
estrutura, conforme o seguinte critério (ver figura 12):
0,45ℓ: pilar de extremidade e de canto, na direção da sua menor dimensão;
0,55ℓ: complementos dos vãos do caso anterior;
0,50ℓ: pilar de extremidade e de canto, na direção da sua maior dimensão.
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Figura 12 – Áreas de influência de pilares (Fonte: Pinheiro, 1995)
A força normal ( N k ) atuante no pilar pode então ser estimada multiplicando-se a área de
influência do mesmo por uma um valor médio de carga considerada distribuída uniformemente
no pavimento. Nos edifícios de múltiplos pavimentos usuais, essa carga pode ser adotada entre
10 kN/m² a 12 kN/m².
Após avaliar a força nos pilares pelo processo das áreas de influência, é determinado o
coeficiente de majoração da força normal () que leva em conta as excentricidades da carga.
Bacarji (1993) recomenda adotar os seguintes valores para :
= 1,8 para pilares internos;
= 2,2 para pilares de extremidade;
= 2,5 para pilares de canto.
Logo, a força normal utilizada para o pré-dimensionamento dos pilares é dada por:
Nd β n Nk
onde n é o número de pavimentos acima da seção do pilar analisada.
Por fim, a área da seção transversal do pilar ( A c ) na fase de pré-dimensionamento pode
ser calculada por meio da seguinte expressão:
Nd
Ac
0,85 f cd ρ σ s
onde:
f cd é a resistência de cálculo à compressão do concreto ( f cd f ck 1,4 );
ρ é a taxa de armadura longitudinal total no pilar. Para efeito de pré-dimensionamento, pode-se
adotar valores em torno de 2%;
σ s é a tensão de compressão nas barras das armaduras para uma deformação de 0,2%. Em se
tratando de aço CA-50, essa tensão corresponde a 42 kN/cm².
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A menor dimensão permitida pela NBR 6118:2014 para pilares é de 19cm. Em casos
especiais, permite-se a consideração de dimensões entre 19cm e 14cm, desde que se
multipliquem as ações a serem consideradas no dimensionamento por um coeficiente adicional
n , de acordo com o indicado na tabela 1. Entretanto, em nenhum caso, não se permite pilar com
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seção transversal de área inferior a 360 cm .
sendo:
n 1,95 0,05 b
b é a menor dimensão da seção transversal do pilar.
O coeficiente n deve majorar os esforços solicitantes finais de cálculo nos pilares, quando de
seu dimensionamento.
5.5. Escadas
Um bom projeto de uma escada deve possibilitar que se gaste pouca energia ao subi-la e
garantir um conforto mínimo. Dessa maneira, além das normas, certas relações de geometria, já
consagradas, devem ser obedecidas.
A partir de um determinado número de degraus, recomenda-se 19, deve existir um plano
horizontal (patamar) que permita ao usuário descansar durante a subida. As dimensões dos pisos
e espelhos devem ser constantes em toda a escada, atendendo às seguintes condições:
25cm p 32cm; onde (p) é o piso do degrau
16cm e 19cm; onde (e) é o espelho do degrau
60cm ≤ p + 2e ≤ 64cm
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A largura mínima recomendável para escadas fixas em rotas acessíveis é de 1,50m. Sendo
o mínimo admissível 1,20m para escadas em edifícios de apartamentos, de hotel e escritórios, e
0,80m para escadas de serviço. As escadas fixas devem ter no mínimo um patamar a cada 3,20 m
de desnível e sempre que houver mudança de direção. Entre os lances de escada devem ser
previstos patamares com dimensão longitudinal mínima de 1,20m.
A espessura (h) da laje da escada deve ser adotada de modo que não conduza à situação
de armadura dupla ou flechas excessivas (espessura insuficiente), e nem de armadura mínima
(espessura exagerada). O pré-dimensionamento pode ser feito em função do vão (L) da escada,
usando as informações indicadas na tabela 2 abaixo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVA, G. M. S. Concepção Estrutural de Edifícios em Concreto Armado. Santa Maria: UFSM,
2007.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014. Projeto de
Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
BACARJI, E. Análise de Estruturas de Edifícios: Projeto de Pilares. Dissertação de Mestrado.
EESC-USP. São Carlos, 1993.
CORRÊA, M. R. S. Aperfeiçoamento de Modelos Usualmente Empregados no Projeto de
Sistemas Estruturais de Edifícos. Tese de Doutorado. EESC-USP. São Carlos, 1991.
GIONGO, J. S. Concreto Armado: Projeto Estrutural de Edifícios. São Carlos: EESC, 2005.
LONGO, H. I. Projeto de Estruturas de Edificações de Concreto Armado. Rio de Janeiro: UFRJ,
2003.
PINHEIRO, L. M. Noções Sobre Pré-dimensionamento de Estruturas de Edifícios. São Carlos:
EESC, 1995.
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