You are on page 1of 8
Cad.Est.Ling., Campinas, (15) 199-206, jul ./dez. 19%6 NNOTAS SOBRE OS POEMAS NEGROS DE JORGE DE LIMA Rodolfo Ilari (UNICAYP) 0. Pogras Negros é 0 name de uma das coleténeas que compen a Poesia Completa de Jorge de Lima, mas nessa coletanea nao estéo exatanente separados todos (OS poamas cujo assunto é 0 negro: ja havia posmas sobre o negro en Poatas (Pai Joao, Xango, Calabar) e en Novos posras (0 célebre Essa Negra Fuld, Serra da Barriga, Comi- das - talvez caiba acrescentar Madorna de laid); ha situagdes que evocan os Pogras ‘Negros em todas as coletneas. E inversamente, ha nos Poatas Negros alguras carposi- GOes poéticas que revelar un tipo de sensibilidade mais proximo dos Novos Poaras (é 0 caso de Bangue, que trata do velho nordeste da infancia sem dar ao negro uma posigao central). Nas 0 fato de intitular um livro Posnas Negros, @ parte o eventual Proposito de beneficiar-se do enorme sucesso obtido por Essa Negra Fuld, marca, por parte de Jorge de Lima, 2 consciéncia de ter descoberto um novo fildo tenatico na poesia brasileira: esse fildo é 0 do negro, dissociado dos cliches e do tan grandilo- lente do periodo abolicionista, e visto enquanto portador de uve contribuicao espe- cifica para a formacao da etnia e da cultura brasileira. Desaparecida a questo da aboligo, desaparecem quase por completo os Navios negreiros e as grandes descrigdes coletivas das cenas de cativeiro; e a0 des- crever situagdes individuals mais ou menos tipicas de escravos de nore corrente tra- tar-se-a_ menos de declarar er que grau essas situagdes representan ura vergonha na- cional, mais de compreender un drara anonimo. Tratar-se-a tarbén de reafimer, por varios meios, ura divida historica da naga para cam o negro, que a abolicao nao res- gatou. 1. Canecemos por essa divida historica. 1.1. Jorge de Lima credita antes de mais nada 20 negro o fato de ter sustentado can seu suor 0S principais ciclos econamicos que fizeran a historia do pais. E ura ideia nao inteirarente nova, mas que ganha uma forca surpreendente na carparacao de pal Jody car Fernéo Dias Pais Lene, 0 bandeirante das esreraldas, um dos naves-sinbolo da historia oficial: Pai Jodo cavou mais esreraldas Que Pais Lere. Conta-se que Pais Lene morreu de febre, depois de ter achado tunmalinas verdes sem valor. Essa lenda havia sido retanada por Olavo Bilac, o principal poeta do periado pamasiano, que a transpos poeticamente er 0 Cacador de Esmeraldas, descrevendo o bandeirante de maneira positiva. Jorge de Lima retara 0 fato de que Pais Lene nao en- controu esmeraldas; a0 invés da aventura, valoriza 0 trabalho hurilde e produtivo do negro. 1.2. Na realidade, todo 0 poara Pai Joao € un registro de dividas do branco para con africano. Na observacao de que 0 sanque de Pai Jodo se sumiu no sargue bom Comp un torrao de agucar bruto Nura panela de leite esta ura segunda contribui¢do do negro: a contribuigae étnica, sua presenga importan- te no Caldearento de racas que definiu ao longo dos séculos a etnia brasileira. No século XIX, durante a cenpanha abolicionista, houve quen defendesse o fim da escrava~ tura a partir de un argurento odioso: 0 negro teria abastardado @ raga portuguesa. Sem por a questao en termos de "abastardarento”, Jorge de Lima parece perceber 0 fe- noneno ad contrario: interessa-se sobretudo pelo fato de que o negro, no cruzanento cam 0 branco, vai perdendo aos poucos suas caracter{sticas. Varios poanas (Foi mudan- do, mudando, O14! Negro, Passarinho cantando; e talvez Exu carey taruba) rereten a esse inexpravel proceso de branqueamento, pelo qual @ negro perde aos poucos seus tracos somaticos mais tipicas, seus habitos e seus valores; nesse dissolver-se da ra- Ga negra - que desaparece no sangue branco sen predaminar, caro um torrao de agucar mescavo numa panela de leite - Jorge de Lima vé mais um motivo de divida, por tratar- se, mais ura vez, de un sacrificio inposto. 1.3. £ ainda nura ampla perspective historica que Jorge de Lima situa a contribuicas negra através da danga e da musica: aqui, nao Se trata apenas de reconhecer que mi~ tos ritmos africanos entraran para a cultura "branca” no Brasil; a perspectiva é mais ampla: (a) insiste-se no fato de que a contribui¢ao musical do negro brasi- Jeiro tan un andlogo importante na contribuicae do negro arericano: o jazz eo blue estao para a Arérica do Norte como 0 lundy esta para 0 Brasil: canticos € ritmos can ~ 200 - longinquas raizes nos batuques religiosos, mas amadurecidos no novo continente, onde receberan as marcas da exploracao e do sofrimento. Jorge de Lima ro ten dividas quanto aos fato de a musical idade do negro ser ura caracteristica inata e ura espécie de dom a ser exaltado pelo poder de arrebatamento que 0 acatpanha: no poema em prosa "Para donde que vocé me leva”, ele reconstitui as impresses que suscita nele a melo- dia tocada por um saxofone de jazz band. 0 que mais inpressiona nesse poama é ver 0 misico, cujos tracos negros sao ressaltados a todo momento, fundir-se a0s poucos com © instrunento até formar un Unico corpo. Essa misica € capaz de despertar tada a sen- sualidade das senzalas e toda a magia dos rituais; € 0 pota reconhece nela a mesa forga misteriosa que anima a fé: misica, magia, crenga e fascinagao pela morte (mae gua de ura sO cacimba) séo formas apenas aparentenente distintas de uma mesma for- a que 0 poeta identifica cam a poesia. E curioso encontrar nesse poara um instrunento norte-enericano (0 sav xofone) associado a un misico de none tipicarente nordestino (Juliao), e um ritmo tipico dos EUA (0 jazz) despertario imagens de senzala e de xangd: essa superposi¢ao de culturas sublinha 0 elenento cotum e 0 fata de que a misica teve 0 mesTo papel pa~ ra OS negros arericanos e brasileiros. (b) Num mundo daminado pelos brancos, esse papel é sobretudo un. papel de redencao. A orden de apresentacdo dos poemas na Poesia Completa, lerbre-se, nao coincide com a ordem cronoldgica em que eles foram publicados, em particular Poeras Negros € posterior a Tempo e Eternidade; en Poaras Negros retornan aqui e acolé algu- mes idéias que ja havian sido tenatizadas em Terpo e Etemidade; ura dessas idéias é que “o século estd podre”, a espera de iniciativas de redencao: a misica negra, no sul camo no norte do novo mundo, traz un ingrediente de pureza e virgindade que a torna capaz de resgatar mamentaneamente do tédio a raga dos opressores. 2. Nan tudo, 20 longo dos Poeras Negros sao enfoques histdricos (se Por histria entendenros aqui o balanco global da contribuicao do negro en tres sécu- los de formaco étnica, cultural e econdmica do Brasil). Ha poatas en que se trata da historia en nivel mais pessoal, erbora as personagens que o autor suscita tenhan ser- pre caracteristicas tipicas. € 0 caso de Maria Diatba, Benedito Calunga e - néo cause estranheza este Ultimo titulo, pois a grande historia é sempre feita de ura porgao de pequenas historias individuais - Historia. 2.1. Um procedimento que Jorge de Lima erprega con grande frediencia pela obra afora e do qual ele tira efeitos variados serve-Ihe aqui para criar personagens tipicas. Trata-se de reduzir ao minino a carga de informacao presente no sujeito graratical da oracao, que se limita a um proname, ou mesmo a nada, como en Historia: Era une princesa ~ 201 - Acurulando races cujos predicados indica agdes en que 0 meso individuo participa temos, evidenterente, ure histéria; alias, tenos uma personagan que nada mais é do que sua propria historia. £ na medida en que essa historia se asserelha a tantas ou ‘tras, desaparece 0 individuo para deixar lugar ao tipo. Assim, essa princesa que pas- sa por tantas violéncias gratuitas, que os brancos desfiguran cam seus castigos sen conseguir apagar seu poder de seducao, que acaba por voltar-se para a magia e a pro- tecdo dos orixas, ten mais que uma historia pessoal: € ura personagem tipica por ter a histria de todas as outras escravas que passaram por vicissitudes parecidas. Mas seu drana nao se perde na visdo genérica de um painel coletivo. 2.2. Um outro procedimento que cria tipos esta ligado a0 uso de nares proprios: names caro Maria e Benedito séo nomes extrerarente comuns de pretos; calunga e diatba, alér ce seran palavras africanas que guardan a sonoridade tipica de sua origen, rameter a hébitos africanos: 0 de usar bonecos nas magias de “envultarento”, e 0 de furar maco- nha; 20 juntar esses nomes numa mesma expresso, chegamos a formes que nao séo exata- mente nares prdprios: € impossivel ser un Benedito, mas @ possivel ser un Benedito Calunga ou ume Maria Diatba. Personagens tipicas na intengdo que se declara no seu nore, Benedito Calunga e Maria Diarba terdo tarbén ura existéncia tipica: vencer os medos e as abusdes para afundar-se no bao; criar calo para as judiarias do branco e entregar-se a0 desejo de aniquilarento. E sabido que, para desespero dos proprieta- rios, sobretudo com proprietarios bons, era extrenarente frequente 0 suicidio de ne- gros doninados pelo desanim. 2.3. Camo a questo do banzo apontou no Ultimo paragrafo, convem tocar aqui num poera cujo ton € muito mais pessoal e autobiografico, falando de un episodio marcante da infancia do poeta: Ancila Neara, en que 0 poeta evoca a menina negra Celidnia, que foi sua babd, e que morreu afogada no rio da infancia, o Mundau. Falando das recorda~ Bes que associa a essa menina, 0 poeta penitencia-se varias vezes por nao t calcado. 0 verbo recalear aparece ai como un problema, porque as recordagdes so, por outro lado, extrenanente agradaveis e afetuosas. Com explicar esse estranho uso do verbo recalcar? Ha um depoimento de José Fernando Carneiro, que acotpanhou como amigo, confidente e médico Jorge de Lima durante sua doenga, dando conta de que a imager de Celidonia e de seu afogarento perseguiran Jorge de Lima camo ura obsessao durante to- da a vida, en particular no final, nas insonias trazidas pela doenca. Esse depoimento mostra até que ponto foi real o desejo do poeta de desfazer-se de sua obsessé0, ndo a explica. 0 poena contém varias referencias a Celidonia no papel de despertar a sexual 1dade/sensual idade do menino. ‘tuas méos negras me alisando, teus lébios roxos me bubuiando, ~ 202 - ‘quando eu era pequeno, muito pequeno resto. Talvez seja esse 9 sentido de tentar recalcar as recordacdes, e alguma pesquisa bi- bliografica cuidadosa podera até confirmé-lo. Mas no conjunto dos Postas Negros (e da obra - veja-se 0 titulo do romance Calunga e sua significacao segundo Jorge de Souza Araijo, Jorge de Lima e 0 idiara postico afro-nordestino), ganha credibilidade ura outra leitura; a de que a morte da menina Celidonia representa ura fuga na morte condigao de escrava; Celidonia seria assim mais ura “negra fugida na morte”, que se atirou as gues nun contexto en que a aqua éo0 caminho natural para a antiga patria, Aceitar esta explicagao (que nao contradiz a outra) € aceitar que Jor- ge de Lima, tocado pelo afogamento da criadinha, assume enquanto branco e patrad a culpa por tantos casos analogos. € a morte desfazendo a cunplicidade das duas crian- Gas e revelando ao poeta, na forma da auséncia da aniga e privacao de seus carinhos a diferenga das condiges de arbos. 3. Jorge de Lima atribui 20 negro ura outra forma de fuga, que é a0 mesmo tenpo resisténcia e sobrevivencia cultural: a magia. E da magia, na medida en que ela se faz pela invocagao de divindades africanas, em rituais parcialmente sene- Inantes aqueles que se utilizaran tradicionalmente para a adoracao dessas mesTas di- vindades, passa-se insensivelnente a religido. As divindades a que recorrem os africanos de Jorge de Lima em seus pe- didos de protecao sao as do Xened de Maceié, que € uma variante do Candarblé da Bahia (sobre 0 qual @ mais facil encontrar material informativo). Camo era de esperar de un ‘texto que ten Intengoes poeticas e nao didaticas, nen todas as situagdes que Jorge de Lira descreve coincidan exatanente cam as descrigdes que os socidlogos da religiao tém feito das sessoes de Candarble; na referéncias que lerbran mais de perto a Urban- da popular; @ os trabalhos de que Exu é encarregado por vezes fazen pensar nao no Da dé de Exy, 0 sacrificio propociatorio can que conegan as sessGes de Candarblé, mas fas fungdes de executor de maleficios e mandingas que Exu deserpenha na Quinbanda. Seja qual for a orierttagao des religides afro-brasileiras que mais fortemente acabou sendo representada nos Posiras Negros, € possivel perceber que, a par de certo numero de poanas que se apresentan coro ‘“descricds de divindades’, ha gutras que descreven rituais de magia ou de propiciagao, e outros ainda que se_refe- ren @ adoracéo dos orixés, teratizando 0 marento mais importante dessa adoragdo, a ncorporagao do orixa na filha-de-santo, o transe mistico. A essas quatro classes atribuo - sob reserva de possiveis erros de interpretaca0-os posmas seguintes: 1. Descrigao dos orixas: Rel 6 Oxala, rainha é Ieranja Jenaina 2. Propiciacao: Poema de encantagao - 03 - 3. Rituais de magia negra: Xango Ura historia 4. Incorporacao do orixa: Exu comeu taruba Obama é batizado Quanto ele vem Semelhante & descrigéo dos orixds € Quichinbi sereia negra, provavelmente mais uma descrico de Janaina, que por sua vez é Ieranja. 3.1. Na descricao dos orixas, quem ocupa posico central sao as divindades da agua; essas descrigoes mobilizan a sinbologia que costura aparecer nas estatuas e sobretudo nos quadros das lojas de utbanda, e traduzen com igual eficacia uta analoga impressao de insolito. Enbora os dois names sejan intercarbiaveis er alguns contextos, Jorge ce Lima retém o nome de Ieranja para a divindade das dguas quando representada en seu papel de rainha, e 0 de Janaina para a mesra divindade no papel de moca vaidosa e se~ rela. Separat-se dessa forma dois conjuntos de atributos que na mitologia africana no serian mutuarente exclusivos: brejeiros e sensualidade de un lado e majestade de Outro. Iemanjé pode assim ser aproximada de Oxalé, representado camo rei: Rei € Oxala... Rainha e leranja... mas € mais Ou menos inevitdvel identificar essas cuas divindades com Cristo € can Nossa Senhora, en particular Nossa Senhora da Concei¢ao quando se atenta para os pre~ dicados de arbos: .-. Oxalé que nasceu sen se criar -++ Temanjé que pariu Oxala sem se manchar. Em oposicao @ mitologia africana, onde Ieranja da a luz os orixas através de un parto incestuoso, 0 que se afinra nesses dois versos sdo os dognas cristéos da eternidade a Segunda pessoa da sentissima trindade, € da virgindade de Maria. £ sabido que mi- tas divindades africanas, cultuadas pelos escravos no Brasil, foram assimiladas a en- tidades crists, por ura tendéncia conhecida coro “sincretismo’. Certamente ha algun tipo de sincretigm nesse poara de Jorge de Lima, mas é 0 caso de perguntar se se trata do sincretisto que seria normal encontrar na fala do negro. Isto levanta, de maneira mais geral, a questao de saber até onde teria chegado Jorge de Lima en seu esforco por identificar-se cam 6 negro. € claro que falar de realidades cristas uti- lizando 0 vocebulario negro vale por ura identificacdo menos perfeita do que recolo- car as palavras no seu proprio contexto e universo de valores; a pergunta que nossa observacao sugere, @ que vale para cada un dos pogtas nearos € se a negritude fornece un enfoque, um objeto de descricgo ou simplesrente um omato. Aqui, penso que teria~ mos tendéncia a optar pela Ultima alternativa. 3.2. Provavelmente, serenos levados a conclusao oposta se nos perguntarmos por que Jorge de Lima teria feito constar na obra completa ure “segunda versio” do poera xan- 0, entre os Poamas Negros, em seguida a versdo que constava dos Poamas. Houve quen quisesse ver nesse segundo poara ure tentativa de apagar alguns tracos de sujeira e animalidade que parecen derasiado fortes na primeira: para isso, teria bastado subs- tituir uma pela outra. Atentou-se menos para o fato de que a primeira versao corporta alguns desenvolvimentos draniticos que faltan na segunda, e sobretudo que desta Ulti- ma foram retirados todos aqueles elementos que fariam da magia un espetéculo, quando 0 autor quer representé-la camo um clima, Na segunda versao de Xango, a maior parte do texto e ocupada pelo que verossimilmente ven a ser a fala de uma negra, a invocar desgracas sobre um casal de futuros noivos, representados por bonecos ("envul tanen- to"). Nessa fala se misturan expressdes pronunciadas @ maneira popular, names de ob- jetos e animais, € distorgos ou arremedos de names de santos, formando uma parddie diabolica. Pode-se recusar que essa tentativa de criar um clima seja ben sucedida, mas € forcoso admitir que a fala do negro ten ai un papel constitutivo e nao de orna- to. 3.3. Wb ponto de vista estético - mas tarbém do ponto de vista do desenvolvimento posterior da poesia de Jorge de Lima - € extrenamente interessante observar as tenta- tivas que ele faz no sentido de reconstituir 0 contato cam a divindade, o transe. Ha tres tentativas de reconstituir a experiéncia do transe vista por dentro: (a) em Exu come taruba, que reconstitui um ritual de iniciacao de fi- Iha-de-santo, teros ura evocagao de antepassados que motiva uma série de cenas suces- sivas er que se apresenta em flashes o que poderia ser ura sintese da historia do Brasil. 0 transe é representado camo visdes (no sentido en que se poderia dizer que QS Santos ou profetas tem visdes, sao visionarios) ; Quando ele ven insiste na forga com que o orixa (ou Exu?) tora conta da pessoa en quen encarna. Aqui 0 transe e scbretudo presenga de Deus ou, se quisentos usar mais ura vez 0 term da tradicao grega, entusiasro. (c) E en Obatba e batizado, quan fala parece estar-se defendendo con- tra as sedugdes de ura Oxum, ou mais provavelmente de ura Parba-gira da Urbanda. 0 transe € visto agora como tentacao e agresséo. 4, Nao cabia a Jorge de Lima expor a historia do negro, seus rituais, seus hébitos, € seus valores, e sim transpd-los poeticanente. Muito estudo seré ainda - 205 - necessdrio para decidir até que ponto essa transposicao foi feliz. Mas um resultado € ébvio e merece ser apontado. E @ incorporacao ao portugues literdrio de ure série de tenmos de ori- gem africana que vinhan sendo registrados peles socidlogos, mas que eran ainda assim pagdos numa literatura ainda fortenente preocupada com a nonma graratical. Sob esse aspecto, Jorge de Lime {e 0 outro Jorge, 0 Arado) fizeran pelas linguas africanas o que Alencar tinha feito pelo tupi. Num poeta en que o ritm , a sonoridade e 0 inte- resse religioso $80 preocupagdes constantes, a incorporacao se faz de maneira natu- ral, toda vez que 0 poeta veifica tratar-se de palavras sonoras, que podem ser tama- das como partes de uma descrigao de ritual, marcado pelo ritro. Gr contextos assim, até coisas geralmente aridas e pouco poéticas camo as enumeragdes ganhan as vezes eficacia e efeito. Lima, Jorge de. Poesia Completa, 2 ed., 2 vols. RJ, Nova Frontera, 1980.

You might also like