UNICNEC - CENTRO UNIVERSITÁRIO CENECISTA DE OSÓRIO
PSICOLOGIA
MARION RIBEIRO DE MEDEIROS
A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO ADOLESCENTE
Osório
2017 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é apresentar de forma sucinta a constituição do
adolescente como sujeito. Através de pesquisa realizada junto a artigos científicos e ao filme As Vantagens de Ser Invisível, buscar compreender a adolescência e o adolescente. Como vivencia as mudanças corporais, psíquicas e sua relações com o Outro. As dificuldades e os desafios diante das escolhas, rompimentos e dos novos laços. DESENVOLVIMENTO
O termo adolescência surgiu no final do século XVIII e início do século
XIX, por uma necessidade social em nomear uma determinada faixa etária, com a intenção de integrá-la na sociedade e de certa forma manter uma vigilância. Visto como um momento crítico, turbulento e de contestações. No século XX a adolescência se ampliou, cada vez mais se queria chegar a esta fase ou não a deixar para trás. O jovem carregava um perfil de alegria, espírito de aventura, idealismo, ditando moda, engajados em mobilizações sociais, levando a refletir sobre as transformações da relação do sujeito adolescente com o Outro. Em psicanálise, o sujeito, é o sujeito do desejo e a adolescência é um momento fundamental na constituição da subjetividade. O termo sujeito foi introduzido na psicanálise por Lacan. É o sujeito do desejo e do gozo. Ele se constitui a partir da linguagem, pela qual o inconsciente se estrutura. Segundo Cirino (2001) Lacan diz que “O efeito de linguagem é a causa introduzida no sujeito. Por esse efeito, ele não é causa dele mesmo, mas traz em si o germe da causa que o cinde. Pois sua causa é o significante sem o qual não haveria nenhum sujeito no real”. A adolescência traz consigo profundas transformações, a partir da puberdade o adolescente passa a ter uma nova relação com seu corpo e também busca se reconhecer como parte de um núcleo social. É a fase mediadora entre infância e vida adulta, tendo inúmeras transformações hormonais e corporais. Com as transformações biológicas e fisiológicas vem paralelamente as exigências sociais. Então, neste período deixa-se para trás a criança idealizada pelos pais, e há uma busca por uma identidade sexual e social. Acontecendo conflitos e crises, que segundo Cahn (1999) “O sujeito deixa o seu corpo infantil e passa a ‘habitar’ um corpo que se prepara para a vida adulta.” O sujeito adolescente irá passar por processos de luto, dolorosamente terá que se desligar dos pais, se posicionar sexualmente e fazer várias escolhas. Com a puberdade vem a perda da condição infantil e a perda da fantasia da onipotência parental. No decorrer da infância a criança percebe que a mãe não é onipresente. A ausência ou separação consequentemente se configurará num luto, o luto pelos pais da infância. Na infância os pais têm uma posição idealizada, que o adolescente terá que abandonar. Assim criando uma direção para si mesmo e investindo em suas próprias escolhas. Freud (1905/1972) afirmou que “O desligamento progressivo dos pais, um processo que sozinho, torna possível a oposição, tão importante para o progresso da civilização, entre a nova geração e a velha. “Junto a isso, está o luto pelo papel e pela identidade infantil, trazendo um certo medo pelas responsabilidades da vida adulta. Simultaneamente o adolescente percebe a perda do corpo infantil, é o luto pelo corpo infantil perdido. O sujeito se constitui a partir do Outro, que irá introduzi-lo no mundo simbólico formado por significantes. A princípio o sujeito reconhece seu corpo a partir da apresentação do Outro, depois se identifica no Outro. E na adolescência há um luto pela perda deste corpo diante das transformações. Então, ele busca identificações através dos grupos. Assim ao se deparar com o Outro o sujeito encontra a si mesmo, porém em um processo de separação. O Outro, então, não o protege, só o enriquecerá com algum recurso para enfrentar este desamparo sozinho. As mudanças corporais, efeitos da puberdade, trazem inúmeras dúvidas ao jovem. Enquanto criança não era necessário se posicionar quanto a sexualidade, já na adolescência além do próprio ato sexual, há uma preocupação ou até uma exigência social em se posicionar sexualmente. É na adolescência que há uma busca mais intensa de uma identidade, devido as influências culturais e sociais, o adolescente busca identificações com o meio até chegar a fase adulta, sendo fundamental para o sujeito e para o seu enlace social. Especificamente Freud não abordou o tema adolescência em seus estudos, mas a puberdade foi reconhecida por levar o sujeito a adolescer. “A adolescência, efeito da puberdade, é instigante, provocativa e embaraçosa.” Vista como uma “crise” a adolescência traz consigo uma ruptura. Mesmo sendo subjetiva influencia e se deixa influenciar pela sociedade e pela cultura de um tempo. O sujeito adolescente, na contemporaneidade está diante das transformações nas estruturas familiares, ao acesso intenso de informações e a erotização precoce. Tanto pessoas quanto objetos estão mais descartáveis e há uma fragilização das referências e dos enlaces sócio afetivos. Ao contrário da psicologia desenvolvimentista, o estudo psicanalítico sobre a adolescência considera o inconsciente constituído na infância, através do Complexo de Édipo. O funcionamento psíquico, é constituído de um primeiro tempo, em que há a estruturação psíquica do sujeito através do Édipo, passando pelo período de latência e seguida pela adolescência, que tem função de segundo tempo, tempo de revivência e de ressignificações. Será através da experiência vivida nesta fase do Complexo de Édipo que se dá “tudo.” O período que antecede a adolescência, entre 6 e 10 anos, é a latência, caracterizada como o período da vergonha e da moralidade, em que a libido sexual está adormecida. Retornando na adolescência intensamente. Para a psicanálise a adolescência é uma fase de elaboração de perdas, da falta do Outro, de escolhas. Bem como, o enfrentamento do desamparo e da responsabilidade sobre seus próprios atos. Então, o Outro perde a sua função salvadora. O sujeito irá investir além do meio familiar.
ESTUDO DE CASO
Filme: As Vantagens de Ser Invisível (2012) de Stephen Chbosky
O filme conta a história de Charlie, adolescente de 15 anos, em seu 1°
ano do Ensino Médio, nos anos de 1990. O personagem é muito introspectivo e tem uma grande dificuldade em interagir socialmente. Escreve cartas, num tipo de diário, contando suas vivências. Acredita não ser notado, não excede limites e parece espera as coisas acontecerem. Em muitos momentos no colégio, os veteranos humilham os calouros. Charlie passa bom tempo se esquivando destas situações e não querendo ser notado. Suas tentativas de contato com outros adolescentes, muitas vezes são frustradas. No momento em Charlie se aproxima dos veteranos e meios-irmãos, Patrick e Sam, começa uma grande amizade. Os irmãos introduzem Charlie ao grupo, sendo solidários a sua dor de perder o melhor amigo há um ano e estar sozinho. Ao ser acolhido pelo grupo, nomeado por eles mesmos de”Os Desajustados”, Charlie encontra um referencial de identificação e um processo de transferências e adequações se dá início. Mesmo tendo uma família presente e preocupada, é no grupo que Charlie busca o apoio e a si mesmo. No decorrer do filme Charlie se vê apaixonado por Sam, porém não se declara. Sam, paralelamente continua sua vida, mantem uma relação abusiva. O que leva Charlie a questionar suas escolhas, quem lhe responde de forma fantástica é seu professor de literatura e mentor, a quem admira e respeita. Charlie lhe pergunta por que escolhemos certas pessoas, mesmo elas nos prejudicando. O professor responde “aceitamos o amor que imaginamos merecer.” Charlie acaba “ficando” com uma amiga, que pertence ao grupo, Mary Elizabeth. Mesmo estando apaixonado por Sam, ele permite que Mary estabeleça e conduza a relação, passa então para o estágio namoro. Ficando em uma situação um tanto desconfortável, pois não era o que queria e não sente nada além de amizade por Mary. Acaba rompendo da pior forma possível, por não saber lidar com a situação e seus sentimentos. Junto ao grupo, durante o jogo “Verdade ou Consequência”, ele rompe com Mary e se declara a Sam. Isso acaba deixando um mal-estar geral no grupo e aconselhado por Patrick, Charlie se afasta. O que faz Charlie retornar ao grupo, é uma situação envolvendo Patrick que exige que alguém o defenda, pois está apanhando. Charlie bate nos três garotos envolvidos e não lembra o que fez. Outro fato são os flashbacks que se repetem, relacionados a tia de Charlie quando tinha aproximadamente cinco anos. Durante o filme, Charlie demonstra carinho e saudade da tia. Ela faleceu, em um acidente de carro, nesse mesmo período. Na maior parte do filme, Charlie é quieto e retraído. Seu comportamento é reflexo do abuso sexual que sofreu na infância pela tia. Porém tal acontecimento está recalcado. Além de conter seus impulsos sexuais, ele se resguarda dos outros e do mundo, evitando uma maior aproximação. Próximo ao fim, os traumas de Charlie explodem, a separação dele dos amigos, que vão para a faculdade traz à tona sentimentos de abandono e solidão. Já experimentados com a morte da tia e do melhor amigo. Charlie tem uma crise, devido ao estresse, entre tantos sentimentos, vem a culpa por todos os acontecimentos que envolvem as pessoas que ama. Desnorteado, aparentemente, Charlie tenta o suicídio e é internado. Charlie conta a terapeuta sobre o abuso, com o apoio da família que tem papel fundamental, há uma busca de superação ao trauma. As consequências de um evento com carga traumática têm interferência direta no modo como o sujeito se relaciona com as pessoas e como se situa no mundo. Charlie consegue vencer seus aspectos traumáticos quando este, ao rememorar, pode, enfim, falar sobre o assunto e entrar em processo de tratamento. Na cena final o protagonista diz: “Esse momento que você sabe que não é uma história triste. Você está vivo. Você se levanta e vê as luzes no prédio e tudo que faz você se perguntar. E está ouvindo aquela música naquele passeio, com as pessoas que mais ama no mundo. E nesse momento eu juro, nós somos infinitos.” Neste momento, ao se referir aos prédios, Charlie expressa sua vontade de viver, acredita em novas possibilidades, tem esperança. REFERÊNCIAS
CAHN, R. O Adolescente na Psicanálise: aventura da subjetivação.
Rio de Janeiro. Companhia de Freud. 1999.
CIRINO, O. Psicanálise e Psiquiatria com Crianças: desenvolvimento
ou estrutura. Belo Horizonte. Autêntica. 2001.
FREUD, S. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Edição
standart brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro. Imago. 1972.
FESTUGATO, V.L. O Adolescente na Ótica da Psicanálise.
MONTEIRO, K.C.C.; LAGE A.M.V. A Depressão na Adolescência.
Psicologia em Estudo. Maringá. 2006.
SANTOS, E.G.; SADALA, M.G.S. Alteridade e Adolescência: uma
contribuição da psicanálise para a educação. Educação & Realidade. Porto Alegre. 2013.